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A cidade do prazer: arte e entretenimento urbanos
o ambiente urbano como espaço de sociabilidade e de produção artístico-imagética
A cidade como galeria
“Estamos transitando de uma forma-cidade como coração da
modernidade, com regulares contornos espaciais, perspectivas
geométricas e divisões em classes precisas a uma forma-metrópole
que dissolve tudo isso: uma metrópole comunicativa, que fragmenta
tudo o que é sólido, do qual emergem novos e incontroláveis
conflitos.” (CANEVACCI, 1999, p. 120)
É indiscutível a profunda importância das cidades de nosso tempo quanto à vivência
coletiva e à produção das manifestações artísticas e culturais pelos mais distintos indivíduos
e grupos. Tendo em vista esta constatação, este texto privilegiará as manifestações de cunho
imagético dado o seu poder em diversos níveis. Imagens que surgem como componentes
cumpridores de um importante papel na organização e na condução da lógica urbana. A
urbe se fundamenta nelas em boa medida, elementos que são de socialização do ser urbano
e promotoras de um processo de educação visual essencial.
A paisagem urbana pode se afirmar em torno de certa cultura visual, relacionando
urbanidade e visualidade, fazendo-se, ao mesmo tempo, um capítulo da história da imagem e
da história da cidade (KNAUSS, 2001). Deste modo, os indivíduos que convivem com tais
manifestações efetuam apropriações desse espaço plural. Saber efetuar uma leitura e
entendê-la como pertencente a esta complexidade significa compartilhar suas versões de
domínio público, não abrindo mão, entretanto, de seus sentidos particulares. Isto é, uma
imagem não contém somente um significado, mas sim múltiplos e condicionados por
subjetividades e formas de olhar.
As imagens urbanas são, em alguma medida, resultados de um processo social
básico, tendo o seu entendimento compartilhado, numa relação de afinidade, por
determinados agrupamentos sociais. Tornam-se, com o passar do tempo e as sucessivas
mudanças cognitivas do gênero humano, um processo comunicativo entre coletividades
diferenciadas em muitas características que comungam códigos mediatizados pelo aspecto
prático de suas funções.
Ao refletirmos sobre nossa época, vemos uma manipulação dos processos
imagéticos de produção nunca antes observada. Atualmente, diversos interesses vinculam-se
a esta produção no sentido de estabelecer formas de comunicação e de diálogo com públicos
que dominam códigos cada vez mais mundializados, que perpassam os mais variados
segmentos constituintes das sociedades.
Tendo sido proclamado a “era da imagem”, o século XX, e agora o século XXI,
emergem como o período do apogeu da vida urbana. As cidades aparecem como locais
de propagação de hábitos e de costumes compartilhados em maior ou menor intensidade
pelos mais diversos aglomerados populacionais. Seus aspectos específicos (religiões,
ideologias etc.) são relegados ao segundo plano frente a uma massificação muito veloz e às
transformações em franco e acelerado curso num mundo regido por um acentuado
processo de globalização. As cidades tornam-se, então, espaços por excelência das
manifestações visuais de maior vulto e abrangência. Elas corporificam um curioso e essencial
paradoxo: a coexistência de uma expressiva pluralidade cultural, social etc., e uma
singularidade igualmente inerente.
Nossa aula-texto tem o objetivo de abordar aspectos do horizonte imagético do
espaço da cidade no mundo ocidental na construção da realidade contemporânea, aportando,
para tanto, uma perspectiva deliberadamente heterogênea de posições e de autores.
Cidade, cultura e espaço imagético
Nas últimas décadas, a cidade transformou algumas das funções que predominavam
em outras épocas. Ao invés de assegurar proteção, de ser lugar de mercado etc., transforma-
se em um aparato de comunicação e para o qual “nove décimos da nossa experiência [nela]
transcorrem” e que por isso “a cidade é a fonte de nove décimos das imagens sedimentadas
em diversos níveis da nossa memória” (ARGAN, 1995, p. 235).
No cenário da cidade contemporânea, uma perspectiva de interpretação visual
tende a abrir possibilidades de conquista da experiência de sua complexidade. Nesse sentido,
portanto, tais condições fazem da cidade um “lugar que autoriza as diferenças e que encoraja
sua concentração, construindo pertencimentos díspares e experiências cada vez mais
complexas” (PESAVENTO, 1995, p. 285). A cidade é o lugar do olhar, onde a
multiplicação da exposição e da comunicação via imagens parece destruir, num certo
sentido, a distinção tradicional entre cultura de elite e cultura de massa.
Do ponto de vista desse olhar do qual a cidade é o locus privilegiado, é interessante
notar, como nos mostra Robert Pechman (1995), o caráter de “invenção do urbano”,
enquanto busca da construção de uma ordem. Para ele, a história da cidade está
geneticamente dissociada da história do urbano, devendo este último ser visto como
ruptura, como propositor de articulações e de conceitos que pretendem nomear uma
“nova” ordem. Assim, o urbano não é exatamente um “lugar”, um espaço, mas sim um
ambiente de representação, um espaço abstrato.
A dimensão plural da constituição da cidade, seu caráter dialógico e multicultural por
excelência, potencializa a participação e a expressão dos mais diversos sujeitos e
heterogêneos grupos urbanos. Essa pluralidade cultural urbana prefigura a existência de
“arenas culturais”, condicionadas e condicionadoras de um conjunto múltiplo de ação
coletiva, de muitas dimensões e significados.
Num clássico texto sobre a cultura brasileira, Fernando de Azevedo afirma que “as
cidades exerceram sempre um papel importante no desenvolvimento das artes, das
letras e das ciências, [e por isso] não é possível separar a cultura da vida urbana”
(AZEVEDO, 1996, p. 38). Deste modo, as cidades atuais figuram como os lugares que se
caracterizam pela velocidade de circulação e pela forma da organização de suas imagens.
No tocante a essa circulação das imagens, podemos ter, é claro, tipos diferenciados de
suportes. Móveis ou fixos (como no caso dos muros em que incidem as pinturas dos grafites),
eles podem variar, por exemplo, dos transportes coletivos, como ônibus ou metrô, até o
conjunto de monumentos públicos, geralmente históricos e alguns outdoors.
Há quem sustente, por exemplo, ser a própria cidade, seu espaço e suas
referências, a obra de arte por excelência (PEIXOTO, 1998). Para este autor, mesmo o
caráter em grande medida insatisfatório da construção da cidade para o ser humano - que,
humanamente, quer sempre mais! - apresenta-se como essencialmente artístico. Como é
propalado no livro Arte & Cidade, a arte é “modo de habitar a cidade. E, nesse sentido, a
arte não existe na cidade”. E segue dizendo, “ela é a cidade enquanto a cidade reflete
a si mesma: a experiência da cidade passa a ser constitutiva do fazer arte.” (PEIXOTO,
1998, p. 31).
Como alude Massimo Canevacci, em A cidade polifônica, a comunicação urbana é
dialógica e não unidirecional (1993, passim). Não há unicamente espectadores na
cidade, mas sim atores que continuamente dialogam com seus aspectos, reconstruindo a cada
momento os seus significados, tão mutantes quanto a realidade global que a cerca. Pois
bem, se a cidade tem discursos, se é um discurso, como defende BARTHES (1987), a
relação dialógica se estabelece, multi-interpretativa e polissêmica, onde nós falamos à
nossa cidade, assim como ela também nos fala. Conforma-se então um processo
construtivo nessa relação, poder-se-ia mesmo dizer simbiótica, entre a metrópole e seus
metropolitanos (DIÓGENES, 1998).
As ruas são o espaço privilegiado para que as manifestações ao ar livre tenham um
alcance espetacular, onde tais manifestações estão imbuídas de um julgamento estético.
Certo tipo de julgamento visual, de apreciação estética, é necessário como dado básico de
“sobrevivência” no multifacetado ambiente da cidade.
É incontestável, no debate acadêmico e científico, o papel e o poder das imagens e de
sua sedução sobre o homem contemporâneo. Mesmo aquelas imagens que em sua primeira
aparição poderiam “causar irritação e descontentamento, ao fim de poucos meses
convertem-se em manifestações apreciadas e buscadas” (ALMEIDA JUNIOR, 1994, p.
75, grifos meus). Ainda de acordo com o autor, há uma constatação cada vez mais
plausível sobre a crescente “iconização da sociedade contemporânea”, em praticamente
todos os setores culturais, com a intensificação da comunicação por meio de imagens
(ALMEIDA JUNIOR, idem, p. 67).
Como nos recorda NEIVA (1999, p. 8), a “representação da realidade não é o primeiro
item da produção de imagens”. Elas, as imagens, possuem dois espaços determinantes
para a sua percepção: o olhar de quem as produz e o outro de quem as recebe. Face a isto,
pode-se afirmar que as percepções aproximadas ou equivalentes podem ser provocadas
pela contemporaneidade dos sujeitos, “aqueles que compartilham de seu programa de
produção”. Portanto, a aproximação com os sentidos das imagens, por si sós múltiplos e
variantes de acordo com o olhar, confere ao analista o estatuto de autor de novas
interpretações.
Ambas, cidade e imagem, apresentam um ponto comum: devem se fazer ver,
provocar uma visibilidade total. As imagens são sempre percebidas por espectadores, pois a
“verdade” requer testemunhas. Este é o paradigma de um mundo midiático: o mundo nunca
se parecerá com uma imagem, mas uma imagem pode se parecer com o mundo. A
sedução exercida pelas imagens é uma sedução multiplicada quando envolve o nosso
lugar vivido, o agenciamento de nossa memória com partilhada, as expectativas do futuro
vivenciadas no nosso lugar de referência.
Nunca é demais atentar para o caráter de formação cultural e simbólica da
imagem. Sua interpretação deve ser resultado de uma imbricação analítica que
pressupõe lançar mão da relação com a cultura, a história e com a formação social dos
sujeitos enredados na análise. Nessa perspectiva, a imagem é um discurso e deve-se atribuir-
lhe um sentido do ponto de vista social e ideológico, e não proceder à descrição (ou
segmentação) dos seus elementos visuais. Na qualidade de produto de um aprendizado
cultural e histórico, as imagens acabam por obedecer, em sua constituição, mais a uma
subjetividade da autoria sempre ideologizada e imbuída de múltiplos interesses, do que
a uma objetividade concernente à “realidade”. Na imagem visual, poderíamos dizer, é
possível vislumbrar o que não é dito e que de alguma forma escapa, escamoteia.
Juventude e produção cultural na cidade
A juventude contemporânea particulariza-se por ter múltiplos gostos em termos de
suas formas de entretenimento e de contato social. Dentre estas, as manifestações musicais
aparecem como um ponto nodal de sociabilidade e de interação.
Numa discussão teórica, autores (ABRAMO 1994; HERSCHMANN, 1997) que se
debruçaram na temática da juventude enquanto categoria social, concordam que ela reflete o
tempo que vive. E não é diferente com a juventude que produz os grafites. Como afirma
HERSCHMANN (1995, p. 90), “os jovens vêm encontrando nas representações associadas
aos universos musicais e à sociabilidade que eles promovem, o estabelecimento de novas
formas de representação social”. Tais representações funcionariam como liames de
associação, no sentido de se formarem grupos de simpatizantes das mais variadas e
disponíveis linguagens artísticas de nosso tempo.
Nesse sentido, a cidade inteira se constitui em objeto de impugnação nas práticas e
comportamentos juvenis. Uma vez que eles avançam sobre ela, tendem a efetuar-lhe uma
(re)apropriação, a partir de uma ressemantização e de uma reafirmação de um domínio
simbólico a que a submetem. Poderíamos dizer que esses mesmos universos musicais e
sociabilidade compartilhados promovem também novas formas de autorrepresentação social,
sendo uma dessas, na ordem do simbólico, o grafite.
Mesmo sendo a categoria jovem problemática, uma vez que a divisão entre as idades é
arbitrária (ver, para isso, os trabalhos de BOURDIEU, 1983), ainda assim os jovens e a
juventude aparecem, já no século XX, como categoria e como “depositária[s] de valores
novos, capazes de reavivar uma sociedade velha e esclerosada”, conta Philippe Ariès
(1981, p. 46, grifos meus). Em nosso tempo, os grupos juvenis constituem espécies de
“grupos espetaculares”, na expressão de Helena Abramo (1994, p. xiv), produzindo uma
intervenção crítica no espaço público através de suas manifestações urbanas.
O estilo jovem, suas práticas e suas representações, podem ser pensados como
“marcas da atualidade”, conforme argumenta Eloísa Guimarães (1997, p. 199). Aparecendo
como atores por excelência dessas novas dinâmicas urbanas, os jovens adotam o movimento,
a velocidade e a superexposição como referenciais centrais nas encenações protagonizadas
nesses espetáculos urbanos. Assim, eles criam um código visual diferenciado e se fazem
reconhecer por tal ou qual estilo, seja por suas roupas, que seguem determinadas marcas,
incluindo-os, como jovens, num nicho específico da cultura de massa, seja por suas
posturas, gírias, gestos e pelas imagens de si que passam. Esse conjunto de traços se
apresenta como forma de comunicação visual, montando uma coreografia em que a
gestualidade e a visibilidade do corpo promove um reconhecimento individual e/ou grupal
(os “funkeiros”, os “metaleiros”, os “skatistas” etc).
Nessa produção cultural jovem no contexto urbano, atualmente parece haver um
“consumo” da cidade da qual não participam “legalmente” de maneira ativa. Isto é, eles não
desfrutam dos canais de comunicação e expressão mais comuns, tais como as emissoras
de rádio, os jornais, as revistas, entre outros, como mecanismos habituais de veiculação de
discursos. A cidade funciona aí como uma espécie de vitrine que extrapola a
dimensão local, possibilitando, ao contrário das vitrines tradicionais, ver e ser visto em
perspectiva ampliada, seja no seu andar pela rua, na exposição plena de sua figura, seja na
sua produção imagética. Ainda segundo DIÓGENES (1998, p. 103), “observar as vitrines
e ser vitrine através de „corpos panoramáticos‟ postos em constante movimento nos
locais de intensa visibilidade pública” configura o ser jovem no atual contexto urbano.1
Sem dúvida, a busca da diferença, o desejo de causar impacto, de provocar contrastes,
marcas definidoras de existência social, é o que parece mobilizar a juventude das últimas
décadas.
A produção dessas posturas envolve a elaboração crítica de questões relativas à
sua condição e ao seu tempo. Significa também um esforço de expressão dessas
elaborações no espaço público, esforço que implica em uma intenção de intervir nos
acontecimentos. Como diz ABRAMO (op.cit., p. XV), em seu trabalho sobre punks e
darks, esses grupos produzem uma intervenção crítica no espaço público, em um
sentido dialógico. A ênfase em certas questões e a busca de respostas sobre,
simultaneamente, a sua condição juvenil, sobre a ordem social e sobre o mundo que os cerca
anima estes grupos urbanos. A partir da “montagem de uma encenação, da articulação de
uma fala, com suas figuras carregadas de signos, com sua circulação pelas ruas das cidades,
[pelas] suas músicas...”, eles demonstram a importância destes instrumentos na
construção de uma auto-imagem e de um ambiente para o compartilhamento de
atitudes e práticas.
Dentre os grupos urbanos, a música como manifestação de entretenimento e de lazer
é uma necessidade que cresce com a urbanização e a industrialização. A linguagem
musical é hoje um dos códigos mais importantes, sendo em torno dela que se formam as
1
Corpo panoramático é uma noção criada por CANEVACCI (1999) que se refere à intensa exposição do ser
urbano, aqui especificamente os jovens, pela visibilidade plena de suas roupas, tatuagens, piercings etc.,
“tribos”, as gangues e os grandes grupos. A importância da música reflete o comportamento
e as atitudes que, no conjunto, ou lhes são de uso estritamente grupal ou lhes transcendem
espalhando-se para o conjunto maior da sociedade, não se restringindo à dimensão do local e
atingindo níveis regionais e nacionais.
Estas manifestações de comportamento e de atitudes formam um determinado
estilo de vida, aqui entendido como conjunto de comportamentos e de atitudes que
conformam a postura, as preferências em vários níveis e as ações dos sujeitos
encerrados numa dada cultura e coletividade social, econômica, política etc. Estes não são
fixos e imutáveis, pelo contrário, metamorfoseiam-se de acordo com as condições existentes.
Esse estilo de vida não possui uma essência, no sentido de uma estrutura estática e sem
maleabilidade, pois depende do quanto se transformam os projetos pessoais, conforme
variam os gostos e os posicionamentos perante as circunstâncias que se apresentam.
Os estilos de vida e os gostos de grupo são importantes pois influenciam a
produção das imagens, emprestando-lhes seus temas e suas projeções culturais,
visceralmente associados aos seus universos reais e simbólicos. O estilo, sendo uma
fundamental maneira de ser do indivíduo no mundo, implica num sistema de uso. Esse uso
define o fenômeno social através do qual um dado sistema de comunicação se manifesta de
fato. Assim, tanto o estilo quanto o seu uso tem a ver com um modo de operar (de falar,
de andar etc.), desenvolvendo um processo simbólico que procura expressar uma maneira
de ser que busca se singularizar.
Retomando a questão da encenação, Abramo lembra (op.cit.) que a ideia de encenação
também permite compreender a questão de artificialidade do estilo, ou do estilo como uma
máscara ou fantasia que se veste e se desveste. O estilo não é uma representação do ser
jovem, que o exibe, ou do seu modo de vida, mas das ideias que ele quer expressar, que
ele quer comunicar através do que a autora chama de espetáculo (isto é, formas
extraordinárias de manifestar suas posturas e comportamentos, que se fazem ver através das
roupas, gestos, gírias etc. sendo apresentados de maneira massiva ao olhar). Ainda nesse
sentido, da criação de um espaço estilístico para si, é importante considerar as ideias de
HERSCHMANN (1997, p. 8ss), em que a principal relevância das expressões culturais
juvenis parece ser a de se oferecerem como “espelhos de seu tempo”, por formarem um
conjunto de códigos e de estilos híbridos, com referências locais e internacionais.
A rapidez e a volatilidade da assunção e descarte de posturas entre os grupos
demonstrando simbolicamente uma forma de identidade pessoal como um sujeito social que está na
vanguarda.
jovens é um dado de fundamental importância no mundo contemporâneo. Os estilos de
roupas, os gêneros musicais, a participação em grupos, funcionam como linguagens
temporárias e provisórias com as quais o indivíduo se identifica e manda sinais de
reconhecimento para outros. Estes jovens pertencem a uma pluralidade de redes, de grupos
e de relações identitárias. Entrar e sair dessas diferentes formas de participação é mais rápido
e mais frequente do que em épocas anteriores e a quantidade de tempo que se investe em
cada uma delas é reduzida. Mas adotar um estilo pela imitação, por mais efêmero que seja o
caráter dessa adoção, não deixa de lado a capacidade de interpretar e de ressignificar o que
é imitado. Os jovens da modernidade (entendida aqui simplesmente como o tempo
cronológico atual) podem assumir posições originais e criativas, seja nos hábitos e nas
vestimentas, seja nos projetos e ideais.
É notável que, ao atribuírem novos sentidos aos espaços da cidade, os jovens os
transformam em espaços de acentuada simultaneidade cultural e simbólica. Partindo do
postulado de que diferentes âmbitos de experiência conformam diferentes juventudes, é
possível perceber as plurais possibilidades de abordagem desta temática no horizonte de uma
multiplicidade e complexidade cultural.
É certo que as práticas de lazer proporcionam aos jovens os espaços indispensáveis à
constituição autônoma das suas identidades individuais e coletivas. Suas práticas culturais
no espaço urbano, longe de serem somente atividades comprometidas com uma finalidade
“séria”, “funcional”, constituem-se também em atividades de entretenimento e lazer.
A experiência social contemporânea fez da identidade juvenil algo profundamente
associado à expressividade cultural, tanto no âmbito das práticas individuais e coletivas de
lazer, como nas práticas religiosas e/ou políticas, que são, em seu conjunto, marcas
expressivas das cidades e da época contemporâneas. Enfim, na produção cultural juvenil nas
cidades, além da já enfatizada pluralidade e heterogeneidade, há que se considerar também,
e em função disso, a habilidade que este grupo possui de alinhavar os retalhos ou pedaços
disponíveis. Estes são fragmentos de sua experiência urbana, que possibilitam a criação de
produtos culturais novos, tendo uma ideologia ou visão de mundo de autoconhecimento.
Julgamento visual e perspectiva artística no ambiente urbano
Trabalhar com a noção de arte, ampla e complexa, implica considerações
múltiplas sobre uma grande diversidade de fenômenos que nos circundam. Interessa-nos,
aqui, contemplar questões sobre arte e artista no mundo contemporâneo, por serem duas das
mais importantes categorias que compõem o grafite eleito por nós.
É certo que a categoria arte possui uma complexidade inerente. Isto causa um
problema teórico difícil de resolver nas diferentes organizações sociais: o que é arte? E,
nesse sentido, a discussão envolvendo grafite urbano significa a apreciação de uma temática
que não goza unanimemente da “chancela oficial” de expressão artística.
Numa definição possível desta categoria, uma obra pode estar, a princípio, fora do
circuito oficial da história da arte, mas se o “mundo artístico” a coopta, fazendo-a
circular como arte, então ela é arte. São os representantes desse tal mundo artístico, ou seja,
artistas, críticos, comerciantes e colecionadores, e não a história em si, que detêm o poder
de decidir essas questões.
Diversas são as teorias que tentam dar conta da definição do(s) campo(s) da(s)
arte(s). Como um produtivo teórico do campo, Argan, em sua obra Arte Moderna
(1992, p. 509), sustenta que o que conhecemos historicamente como arte é um conjunto de
coisas produzidas por técnicas diferenciadas, mas tendo entre si afinidades pelas quais se
constituem em sistemas. Para ele, o forte teor de experiência estética conforma igualmente a
nossa experiência da realidade, que, por sua vez, constitui-se num componente necessário da
experiência global.
O espaço urbano costumeiramente credita o estatuto de artístico à diversidade
expressiva de suas particularidades e formas de apresentação estética e visual. Já que o
espaço urbano comporta tantas e tão distintas linguagens, classificá-las taxonomicamente
constitui uma violação do direito à pluralidade.
Clifford Geertz, em sua obra Saber local (1997), defende a perspectiva de uma
construção de discursos e conceitos sobre a arte e o objeto artístico baseados em
construções inerentes à própria cultura, às suas estruturas locais de funcionamento.
Nestes termos, a arte e suas expressões só poderiam ser definidas a partir de conceitos
locais e válidos para aquela formação cultural. O contexto, a configuração espacial e
histórica e a situação social comporiam então o cenário cultural de uma coletividade. Estes
fatos podem se transformar de acordo com mudanças internas e externas, levando a toda
uma diferenciada releitura - às vezes usando, inclusive, instrumentos completamente
diferentes e até mesmo opostos àqueles primeiros utilizados. Estas, mesmo que subvertam
as primeiras impressões, consideram sempre e antes de mais o movimento local da mudança
cultural, econômica, política, social etc.
Assim, o artista nasce numa configuração sempre específica e sua condição é regulada
por estas condições, visto que o que ele faz será arte de acordo com as leituras que se
puderem fazer de sua produção (esta produção é muitas vezes enquadrada como artística por
uma chamada “teoria institucional” da arte.). Os “mundos da arte” diferem quanto à maneira
como atribuem o título honorífico de artista e quanto aos mecanismos por meio dos quais
escolhem quem entra nele ou não.
Em seus verbetes Artes e Artista, DAMISCH (1984) chama a atenção para a
pluralidade das manifestações concernentes ao campo da arte. Propõe também que o valor e
o domínio das artes não se pautam apenas no critério da utilidade social das obras. Ele
defende que para encarar o problema da arte, e das várias artes, seria preciso
“desligarmo-nos do ponto de vista da nossa cultura, a fim de as apreciarmos em termos de
valor, e segundo a sua „dignidade relativa‟, mas não necessariamente para conhecê-las”
(DAMISCH, idem, p. 15, grifo no original).
Tal discussão sobre o que é arte ou sobre o que pode ou não ter o estatuto
artístico envolve questões que vão além da categoria de belo, interessante ou da
categoria de apuro estético. Partindo desta certeza e dos debates em torno de sua
inserção no universo das artes visuais, a obra, no mundo contemporâneo, precisa ser
reconhecida como “de arte” para consagrar-se. A legitimação do produto como de
grande alcance simbólico é caracterizada arte a partir do olhar de uma subjetividade
capacitada para o seu reconhecimento: em outras palavras, é considerado arte e artístico o
que é eleito como tal, o que é consensualmente estabelecido como portador de
atributos estruturantes de uma obra de arte – o mesmo é afirmado por DAMISCH (op.cit., p.
22), que defende que “um objeto de arte é, por definição, um objeto definido como tal por
determinado grupo”.2
A arte do grafite de muros, imagens de impacto em uma profusão de cores que se
expandem em dimensões avantajadas em vias públicas, alcança as ruas e rouba a
atenção do ser urbano cada vez mais sem tempo para contemplar as obras confinadas em
galerias e museus.
Entende-se, como sustenta ARGAN (Arte..., op.cit., p. 507), que não há mais um
núcleo e uma periferia para a arte. Visto que os ambientes (urbanos) modificados pelos
“artistas” tornam-se diferentes e esteticamente interessantes, se justificaria a discussão do
grafite urbano como uma modalidade artística contemporânea. Essas pinturas promovem
2 2
Assim, também GELL (2001, p. 117) diz ser arte “tudo aquilo que não apenas eu mas também outras
pessoas que pensam do mesmo modo classificam como tal” e, a título de alargamento do campo
comparativo sobre quem estabelece o que é arte, considerar também a célebre frase de Piotr Kowalski (apud
MORAIS, 1998, p. 33): “A arte é um conceito estatístico. Se há gente suficiente que decide que uma coisa é
arte, então é arte.”
uma ressignificação, no plano do simbólico, da rede de relações que compõem a cidade e
que afetam diretamente os seus usuários no processo de sua fruição da mesma.
Parece também apresentar, a partir de suas formas e ideias, tanto no real
empírico quanto no imaginário da figuração, a possibilidade de formular de novo, ou ao
menos de outro modo, essas relações sociais, na sua plena diversidade. Isso tudo sem
perder de vista a possibilidade de ser agradável e até mesmo de ser persuasivo, dando
prazer ao olhar. Talvez por isso o âmbito público seja um espaço diferencial para um
trabalho de arte, sendo essencialmente um espaço de conflito contínuo. Isto reforça a
emancipação do produtor diante dos sistemas estabelecidos de dominação cultural e
política.
Finalizando, em concordância com o caráter relativizado dos conceitos aqui
discutidos, abertos por excelência, a reflexão sobre cidade, imagem, juventude e arte
por intermédio da inserção do grafite de muros no espaço urbano pode gerar um instigante
debate e, para tanto, a construção de olhares e definições confere ao indivíduo uma
autonomia que, por assim dizer, possibilita uma autoralidade.
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Arte Urbana e Cultura Visual

  • 1. A cidade do prazer: arte e entretenimento urbanos o ambiente urbano como espaço de sociabilidade e de produção artístico-imagética A cidade como galeria “Estamos transitando de uma forma-cidade como coração da modernidade, com regulares contornos espaciais, perspectivas geométricas e divisões em classes precisas a uma forma-metrópole que dissolve tudo isso: uma metrópole comunicativa, que fragmenta tudo o que é sólido, do qual emergem novos e incontroláveis conflitos.” (CANEVACCI, 1999, p. 120) É indiscutível a profunda importância das cidades de nosso tempo quanto à vivência coletiva e à produção das manifestações artísticas e culturais pelos mais distintos indivíduos e grupos. Tendo em vista esta constatação, este texto privilegiará as manifestações de cunho imagético dado o seu poder em diversos níveis. Imagens que surgem como componentes cumpridores de um importante papel na organização e na condução da lógica urbana. A urbe se fundamenta nelas em boa medida, elementos que são de socialização do ser urbano e promotoras de um processo de educação visual essencial. A paisagem urbana pode se afirmar em torno de certa cultura visual, relacionando urbanidade e visualidade, fazendo-se, ao mesmo tempo, um capítulo da história da imagem e da história da cidade (KNAUSS, 2001). Deste modo, os indivíduos que convivem com tais manifestações efetuam apropriações desse espaço plural. Saber efetuar uma leitura e entendê-la como pertencente a esta complexidade significa compartilhar suas versões de domínio público, não abrindo mão, entretanto, de seus sentidos particulares. Isto é, uma imagem não contém somente um significado, mas sim múltiplos e condicionados por subjetividades e formas de olhar. As imagens urbanas são, em alguma medida, resultados de um processo social básico, tendo o seu entendimento compartilhado, numa relação de afinidade, por determinados agrupamentos sociais. Tornam-se, com o passar do tempo e as sucessivas mudanças cognitivas do gênero humano, um processo comunicativo entre coletividades diferenciadas em muitas características que comungam códigos mediatizados pelo aspecto prático de suas funções. Ao refletirmos sobre nossa época, vemos uma manipulação dos processos imagéticos de produção nunca antes observada. Atualmente, diversos interesses vinculam-se a esta produção no sentido de estabelecer formas de comunicação e de diálogo com públicos que dominam códigos cada vez mais mundializados, que perpassam os mais variados segmentos constituintes das sociedades.
  • 2. Tendo sido proclamado a “era da imagem”, o século XX, e agora o século XXI, emergem como o período do apogeu da vida urbana. As cidades aparecem como locais de propagação de hábitos e de costumes compartilhados em maior ou menor intensidade pelos mais diversos aglomerados populacionais. Seus aspectos específicos (religiões, ideologias etc.) são relegados ao segundo plano frente a uma massificação muito veloz e às transformações em franco e acelerado curso num mundo regido por um acentuado processo de globalização. As cidades tornam-se, então, espaços por excelência das manifestações visuais de maior vulto e abrangência. Elas corporificam um curioso e essencial paradoxo: a coexistência de uma expressiva pluralidade cultural, social etc., e uma singularidade igualmente inerente. Nossa aula-texto tem o objetivo de abordar aspectos do horizonte imagético do espaço da cidade no mundo ocidental na construção da realidade contemporânea, aportando, para tanto, uma perspectiva deliberadamente heterogênea de posições e de autores. Cidade, cultura e espaço imagético Nas últimas décadas, a cidade transformou algumas das funções que predominavam em outras épocas. Ao invés de assegurar proteção, de ser lugar de mercado etc., transforma- se em um aparato de comunicação e para o qual “nove décimos da nossa experiência [nela] transcorrem” e que por isso “a cidade é a fonte de nove décimos das imagens sedimentadas em diversos níveis da nossa memória” (ARGAN, 1995, p. 235). No cenário da cidade contemporânea, uma perspectiva de interpretação visual tende a abrir possibilidades de conquista da experiência de sua complexidade. Nesse sentido, portanto, tais condições fazem da cidade um “lugar que autoriza as diferenças e que encoraja sua concentração, construindo pertencimentos díspares e experiências cada vez mais complexas” (PESAVENTO, 1995, p. 285). A cidade é o lugar do olhar, onde a multiplicação da exposição e da comunicação via imagens parece destruir, num certo sentido, a distinção tradicional entre cultura de elite e cultura de massa. Do ponto de vista desse olhar do qual a cidade é o locus privilegiado, é interessante notar, como nos mostra Robert Pechman (1995), o caráter de “invenção do urbano”, enquanto busca da construção de uma ordem. Para ele, a história da cidade está geneticamente dissociada da história do urbano, devendo este último ser visto como ruptura, como propositor de articulações e de conceitos que pretendem nomear uma “nova” ordem. Assim, o urbano não é exatamente um “lugar”, um espaço, mas sim um ambiente de representação, um espaço abstrato.
  • 3. A dimensão plural da constituição da cidade, seu caráter dialógico e multicultural por excelência, potencializa a participação e a expressão dos mais diversos sujeitos e heterogêneos grupos urbanos. Essa pluralidade cultural urbana prefigura a existência de “arenas culturais”, condicionadas e condicionadoras de um conjunto múltiplo de ação coletiva, de muitas dimensões e significados. Num clássico texto sobre a cultura brasileira, Fernando de Azevedo afirma que “as cidades exerceram sempre um papel importante no desenvolvimento das artes, das letras e das ciências, [e por isso] não é possível separar a cultura da vida urbana” (AZEVEDO, 1996, p. 38). Deste modo, as cidades atuais figuram como os lugares que se caracterizam pela velocidade de circulação e pela forma da organização de suas imagens. No tocante a essa circulação das imagens, podemos ter, é claro, tipos diferenciados de suportes. Móveis ou fixos (como no caso dos muros em que incidem as pinturas dos grafites), eles podem variar, por exemplo, dos transportes coletivos, como ônibus ou metrô, até o conjunto de monumentos públicos, geralmente históricos e alguns outdoors. Há quem sustente, por exemplo, ser a própria cidade, seu espaço e suas referências, a obra de arte por excelência (PEIXOTO, 1998). Para este autor, mesmo o caráter em grande medida insatisfatório da construção da cidade para o ser humano - que, humanamente, quer sempre mais! - apresenta-se como essencialmente artístico. Como é propalado no livro Arte & Cidade, a arte é “modo de habitar a cidade. E, nesse sentido, a arte não existe na cidade”. E segue dizendo, “ela é a cidade enquanto a cidade reflete a si mesma: a experiência da cidade passa a ser constitutiva do fazer arte.” (PEIXOTO, 1998, p. 31). Como alude Massimo Canevacci, em A cidade polifônica, a comunicação urbana é dialógica e não unidirecional (1993, passim). Não há unicamente espectadores na cidade, mas sim atores que continuamente dialogam com seus aspectos, reconstruindo a cada momento os seus significados, tão mutantes quanto a realidade global que a cerca. Pois bem, se a cidade tem discursos, se é um discurso, como defende BARTHES (1987), a relação dialógica se estabelece, multi-interpretativa e polissêmica, onde nós falamos à nossa cidade, assim como ela também nos fala. Conforma-se então um processo construtivo nessa relação, poder-se-ia mesmo dizer simbiótica, entre a metrópole e seus metropolitanos (DIÓGENES, 1998). As ruas são o espaço privilegiado para que as manifestações ao ar livre tenham um alcance espetacular, onde tais manifestações estão imbuídas de um julgamento estético. Certo tipo de julgamento visual, de apreciação estética, é necessário como dado básico de
  • 4. “sobrevivência” no multifacetado ambiente da cidade. É incontestável, no debate acadêmico e científico, o papel e o poder das imagens e de sua sedução sobre o homem contemporâneo. Mesmo aquelas imagens que em sua primeira aparição poderiam “causar irritação e descontentamento, ao fim de poucos meses convertem-se em manifestações apreciadas e buscadas” (ALMEIDA JUNIOR, 1994, p. 75, grifos meus). Ainda de acordo com o autor, há uma constatação cada vez mais plausível sobre a crescente “iconização da sociedade contemporânea”, em praticamente todos os setores culturais, com a intensificação da comunicação por meio de imagens (ALMEIDA JUNIOR, idem, p. 67). Como nos recorda NEIVA (1999, p. 8), a “representação da realidade não é o primeiro item da produção de imagens”. Elas, as imagens, possuem dois espaços determinantes para a sua percepção: o olhar de quem as produz e o outro de quem as recebe. Face a isto, pode-se afirmar que as percepções aproximadas ou equivalentes podem ser provocadas pela contemporaneidade dos sujeitos, “aqueles que compartilham de seu programa de produção”. Portanto, a aproximação com os sentidos das imagens, por si sós múltiplos e variantes de acordo com o olhar, confere ao analista o estatuto de autor de novas interpretações. Ambas, cidade e imagem, apresentam um ponto comum: devem se fazer ver, provocar uma visibilidade total. As imagens são sempre percebidas por espectadores, pois a “verdade” requer testemunhas. Este é o paradigma de um mundo midiático: o mundo nunca se parecerá com uma imagem, mas uma imagem pode se parecer com o mundo. A sedução exercida pelas imagens é uma sedução multiplicada quando envolve o nosso lugar vivido, o agenciamento de nossa memória com partilhada, as expectativas do futuro vivenciadas no nosso lugar de referência. Nunca é demais atentar para o caráter de formação cultural e simbólica da imagem. Sua interpretação deve ser resultado de uma imbricação analítica que pressupõe lançar mão da relação com a cultura, a história e com a formação social dos sujeitos enredados na análise. Nessa perspectiva, a imagem é um discurso e deve-se atribuir- lhe um sentido do ponto de vista social e ideológico, e não proceder à descrição (ou segmentação) dos seus elementos visuais. Na qualidade de produto de um aprendizado cultural e histórico, as imagens acabam por obedecer, em sua constituição, mais a uma subjetividade da autoria sempre ideologizada e imbuída de múltiplos interesses, do que a uma objetividade concernente à “realidade”. Na imagem visual, poderíamos dizer, é possível vislumbrar o que não é dito e que de alguma forma escapa, escamoteia.
  • 5. Juventude e produção cultural na cidade A juventude contemporânea particulariza-se por ter múltiplos gostos em termos de suas formas de entretenimento e de contato social. Dentre estas, as manifestações musicais aparecem como um ponto nodal de sociabilidade e de interação. Numa discussão teórica, autores (ABRAMO 1994; HERSCHMANN, 1997) que se debruçaram na temática da juventude enquanto categoria social, concordam que ela reflete o tempo que vive. E não é diferente com a juventude que produz os grafites. Como afirma HERSCHMANN (1995, p. 90), “os jovens vêm encontrando nas representações associadas aos universos musicais e à sociabilidade que eles promovem, o estabelecimento de novas formas de representação social”. Tais representações funcionariam como liames de associação, no sentido de se formarem grupos de simpatizantes das mais variadas e disponíveis linguagens artísticas de nosso tempo. Nesse sentido, a cidade inteira se constitui em objeto de impugnação nas práticas e comportamentos juvenis. Uma vez que eles avançam sobre ela, tendem a efetuar-lhe uma (re)apropriação, a partir de uma ressemantização e de uma reafirmação de um domínio simbólico a que a submetem. Poderíamos dizer que esses mesmos universos musicais e sociabilidade compartilhados promovem também novas formas de autorrepresentação social, sendo uma dessas, na ordem do simbólico, o grafite. Mesmo sendo a categoria jovem problemática, uma vez que a divisão entre as idades é arbitrária (ver, para isso, os trabalhos de BOURDIEU, 1983), ainda assim os jovens e a juventude aparecem, já no século XX, como categoria e como “depositária[s] de valores novos, capazes de reavivar uma sociedade velha e esclerosada”, conta Philippe Ariès (1981, p. 46, grifos meus). Em nosso tempo, os grupos juvenis constituem espécies de “grupos espetaculares”, na expressão de Helena Abramo (1994, p. xiv), produzindo uma intervenção crítica no espaço público através de suas manifestações urbanas. O estilo jovem, suas práticas e suas representações, podem ser pensados como “marcas da atualidade”, conforme argumenta Eloísa Guimarães (1997, p. 199). Aparecendo como atores por excelência dessas novas dinâmicas urbanas, os jovens adotam o movimento, a velocidade e a superexposição como referenciais centrais nas encenações protagonizadas nesses espetáculos urbanos. Assim, eles criam um código visual diferenciado e se fazem reconhecer por tal ou qual estilo, seja por suas roupas, que seguem determinadas marcas, incluindo-os, como jovens, num nicho específico da cultura de massa, seja por suas posturas, gírias, gestos e pelas imagens de si que passam. Esse conjunto de traços se
  • 6. apresenta como forma de comunicação visual, montando uma coreografia em que a gestualidade e a visibilidade do corpo promove um reconhecimento individual e/ou grupal (os “funkeiros”, os “metaleiros”, os “skatistas” etc). Nessa produção cultural jovem no contexto urbano, atualmente parece haver um “consumo” da cidade da qual não participam “legalmente” de maneira ativa. Isto é, eles não desfrutam dos canais de comunicação e expressão mais comuns, tais como as emissoras de rádio, os jornais, as revistas, entre outros, como mecanismos habituais de veiculação de discursos. A cidade funciona aí como uma espécie de vitrine que extrapola a dimensão local, possibilitando, ao contrário das vitrines tradicionais, ver e ser visto em perspectiva ampliada, seja no seu andar pela rua, na exposição plena de sua figura, seja na sua produção imagética. Ainda segundo DIÓGENES (1998, p. 103), “observar as vitrines e ser vitrine através de „corpos panoramáticos‟ postos em constante movimento nos locais de intensa visibilidade pública” configura o ser jovem no atual contexto urbano.1 Sem dúvida, a busca da diferença, o desejo de causar impacto, de provocar contrastes, marcas definidoras de existência social, é o que parece mobilizar a juventude das últimas décadas. A produção dessas posturas envolve a elaboração crítica de questões relativas à sua condição e ao seu tempo. Significa também um esforço de expressão dessas elaborações no espaço público, esforço que implica em uma intenção de intervir nos acontecimentos. Como diz ABRAMO (op.cit., p. XV), em seu trabalho sobre punks e darks, esses grupos produzem uma intervenção crítica no espaço público, em um sentido dialógico. A ênfase em certas questões e a busca de respostas sobre, simultaneamente, a sua condição juvenil, sobre a ordem social e sobre o mundo que os cerca anima estes grupos urbanos. A partir da “montagem de uma encenação, da articulação de uma fala, com suas figuras carregadas de signos, com sua circulação pelas ruas das cidades, [pelas] suas músicas...”, eles demonstram a importância destes instrumentos na construção de uma auto-imagem e de um ambiente para o compartilhamento de atitudes e práticas. Dentre os grupos urbanos, a música como manifestação de entretenimento e de lazer é uma necessidade que cresce com a urbanização e a industrialização. A linguagem musical é hoje um dos códigos mais importantes, sendo em torno dela que se formam as 1 Corpo panoramático é uma noção criada por CANEVACCI (1999) que se refere à intensa exposição do ser urbano, aqui especificamente os jovens, pela visibilidade plena de suas roupas, tatuagens, piercings etc.,
  • 7. “tribos”, as gangues e os grandes grupos. A importância da música reflete o comportamento e as atitudes que, no conjunto, ou lhes são de uso estritamente grupal ou lhes transcendem espalhando-se para o conjunto maior da sociedade, não se restringindo à dimensão do local e atingindo níveis regionais e nacionais. Estas manifestações de comportamento e de atitudes formam um determinado estilo de vida, aqui entendido como conjunto de comportamentos e de atitudes que conformam a postura, as preferências em vários níveis e as ações dos sujeitos encerrados numa dada cultura e coletividade social, econômica, política etc. Estes não são fixos e imutáveis, pelo contrário, metamorfoseiam-se de acordo com as condições existentes. Esse estilo de vida não possui uma essência, no sentido de uma estrutura estática e sem maleabilidade, pois depende do quanto se transformam os projetos pessoais, conforme variam os gostos e os posicionamentos perante as circunstâncias que se apresentam. Os estilos de vida e os gostos de grupo são importantes pois influenciam a produção das imagens, emprestando-lhes seus temas e suas projeções culturais, visceralmente associados aos seus universos reais e simbólicos. O estilo, sendo uma fundamental maneira de ser do indivíduo no mundo, implica num sistema de uso. Esse uso define o fenômeno social através do qual um dado sistema de comunicação se manifesta de fato. Assim, tanto o estilo quanto o seu uso tem a ver com um modo de operar (de falar, de andar etc.), desenvolvendo um processo simbólico que procura expressar uma maneira de ser que busca se singularizar. Retomando a questão da encenação, Abramo lembra (op.cit.) que a ideia de encenação também permite compreender a questão de artificialidade do estilo, ou do estilo como uma máscara ou fantasia que se veste e se desveste. O estilo não é uma representação do ser jovem, que o exibe, ou do seu modo de vida, mas das ideias que ele quer expressar, que ele quer comunicar através do que a autora chama de espetáculo (isto é, formas extraordinárias de manifestar suas posturas e comportamentos, que se fazem ver através das roupas, gestos, gírias etc. sendo apresentados de maneira massiva ao olhar). Ainda nesse sentido, da criação de um espaço estilístico para si, é importante considerar as ideias de HERSCHMANN (1997, p. 8ss), em que a principal relevância das expressões culturais juvenis parece ser a de se oferecerem como “espelhos de seu tempo”, por formarem um conjunto de códigos e de estilos híbridos, com referências locais e internacionais. A rapidez e a volatilidade da assunção e descarte de posturas entre os grupos demonstrando simbolicamente uma forma de identidade pessoal como um sujeito social que está na vanguarda.
  • 8. jovens é um dado de fundamental importância no mundo contemporâneo. Os estilos de roupas, os gêneros musicais, a participação em grupos, funcionam como linguagens temporárias e provisórias com as quais o indivíduo se identifica e manda sinais de reconhecimento para outros. Estes jovens pertencem a uma pluralidade de redes, de grupos e de relações identitárias. Entrar e sair dessas diferentes formas de participação é mais rápido e mais frequente do que em épocas anteriores e a quantidade de tempo que se investe em cada uma delas é reduzida. Mas adotar um estilo pela imitação, por mais efêmero que seja o caráter dessa adoção, não deixa de lado a capacidade de interpretar e de ressignificar o que é imitado. Os jovens da modernidade (entendida aqui simplesmente como o tempo cronológico atual) podem assumir posições originais e criativas, seja nos hábitos e nas vestimentas, seja nos projetos e ideais. É notável que, ao atribuírem novos sentidos aos espaços da cidade, os jovens os transformam em espaços de acentuada simultaneidade cultural e simbólica. Partindo do postulado de que diferentes âmbitos de experiência conformam diferentes juventudes, é possível perceber as plurais possibilidades de abordagem desta temática no horizonte de uma multiplicidade e complexidade cultural. É certo que as práticas de lazer proporcionam aos jovens os espaços indispensáveis à constituição autônoma das suas identidades individuais e coletivas. Suas práticas culturais no espaço urbano, longe de serem somente atividades comprometidas com uma finalidade “séria”, “funcional”, constituem-se também em atividades de entretenimento e lazer. A experiência social contemporânea fez da identidade juvenil algo profundamente associado à expressividade cultural, tanto no âmbito das práticas individuais e coletivas de lazer, como nas práticas religiosas e/ou políticas, que são, em seu conjunto, marcas expressivas das cidades e da época contemporâneas. Enfim, na produção cultural juvenil nas cidades, além da já enfatizada pluralidade e heterogeneidade, há que se considerar também, e em função disso, a habilidade que este grupo possui de alinhavar os retalhos ou pedaços disponíveis. Estes são fragmentos de sua experiência urbana, que possibilitam a criação de produtos culturais novos, tendo uma ideologia ou visão de mundo de autoconhecimento. Julgamento visual e perspectiva artística no ambiente urbano Trabalhar com a noção de arte, ampla e complexa, implica considerações múltiplas sobre uma grande diversidade de fenômenos que nos circundam. Interessa-nos, aqui, contemplar questões sobre arte e artista no mundo contemporâneo, por serem duas das
  • 9. mais importantes categorias que compõem o grafite eleito por nós. É certo que a categoria arte possui uma complexidade inerente. Isto causa um problema teórico difícil de resolver nas diferentes organizações sociais: o que é arte? E, nesse sentido, a discussão envolvendo grafite urbano significa a apreciação de uma temática que não goza unanimemente da “chancela oficial” de expressão artística. Numa definição possível desta categoria, uma obra pode estar, a princípio, fora do circuito oficial da história da arte, mas se o “mundo artístico” a coopta, fazendo-a circular como arte, então ela é arte. São os representantes desse tal mundo artístico, ou seja, artistas, críticos, comerciantes e colecionadores, e não a história em si, que detêm o poder de decidir essas questões. Diversas são as teorias que tentam dar conta da definição do(s) campo(s) da(s) arte(s). Como um produtivo teórico do campo, Argan, em sua obra Arte Moderna (1992, p. 509), sustenta que o que conhecemos historicamente como arte é um conjunto de coisas produzidas por técnicas diferenciadas, mas tendo entre si afinidades pelas quais se constituem em sistemas. Para ele, o forte teor de experiência estética conforma igualmente a nossa experiência da realidade, que, por sua vez, constitui-se num componente necessário da experiência global. O espaço urbano costumeiramente credita o estatuto de artístico à diversidade expressiva de suas particularidades e formas de apresentação estética e visual. Já que o espaço urbano comporta tantas e tão distintas linguagens, classificá-las taxonomicamente constitui uma violação do direito à pluralidade. Clifford Geertz, em sua obra Saber local (1997), defende a perspectiva de uma construção de discursos e conceitos sobre a arte e o objeto artístico baseados em construções inerentes à própria cultura, às suas estruturas locais de funcionamento. Nestes termos, a arte e suas expressões só poderiam ser definidas a partir de conceitos locais e válidos para aquela formação cultural. O contexto, a configuração espacial e histórica e a situação social comporiam então o cenário cultural de uma coletividade. Estes fatos podem se transformar de acordo com mudanças internas e externas, levando a toda uma diferenciada releitura - às vezes usando, inclusive, instrumentos completamente diferentes e até mesmo opostos àqueles primeiros utilizados. Estas, mesmo que subvertam as primeiras impressões, consideram sempre e antes de mais o movimento local da mudança cultural, econômica, política, social etc. Assim, o artista nasce numa configuração sempre específica e sua condição é regulada por estas condições, visto que o que ele faz será arte de acordo com as leituras que se
  • 10. puderem fazer de sua produção (esta produção é muitas vezes enquadrada como artística por uma chamada “teoria institucional” da arte.). Os “mundos da arte” diferem quanto à maneira como atribuem o título honorífico de artista e quanto aos mecanismos por meio dos quais escolhem quem entra nele ou não. Em seus verbetes Artes e Artista, DAMISCH (1984) chama a atenção para a pluralidade das manifestações concernentes ao campo da arte. Propõe também que o valor e o domínio das artes não se pautam apenas no critério da utilidade social das obras. Ele defende que para encarar o problema da arte, e das várias artes, seria preciso “desligarmo-nos do ponto de vista da nossa cultura, a fim de as apreciarmos em termos de valor, e segundo a sua „dignidade relativa‟, mas não necessariamente para conhecê-las” (DAMISCH, idem, p. 15, grifo no original). Tal discussão sobre o que é arte ou sobre o que pode ou não ter o estatuto artístico envolve questões que vão além da categoria de belo, interessante ou da categoria de apuro estético. Partindo desta certeza e dos debates em torno de sua inserção no universo das artes visuais, a obra, no mundo contemporâneo, precisa ser reconhecida como “de arte” para consagrar-se. A legitimação do produto como de grande alcance simbólico é caracterizada arte a partir do olhar de uma subjetividade capacitada para o seu reconhecimento: em outras palavras, é considerado arte e artístico o que é eleito como tal, o que é consensualmente estabelecido como portador de atributos estruturantes de uma obra de arte – o mesmo é afirmado por DAMISCH (op.cit., p. 22), que defende que “um objeto de arte é, por definição, um objeto definido como tal por determinado grupo”.2 A arte do grafite de muros, imagens de impacto em uma profusão de cores que se expandem em dimensões avantajadas em vias públicas, alcança as ruas e rouba a atenção do ser urbano cada vez mais sem tempo para contemplar as obras confinadas em galerias e museus. Entende-se, como sustenta ARGAN (Arte..., op.cit., p. 507), que não há mais um núcleo e uma periferia para a arte. Visto que os ambientes (urbanos) modificados pelos “artistas” tornam-se diferentes e esteticamente interessantes, se justificaria a discussão do grafite urbano como uma modalidade artística contemporânea. Essas pinturas promovem 2 2 Assim, também GELL (2001, p. 117) diz ser arte “tudo aquilo que não apenas eu mas também outras pessoas que pensam do mesmo modo classificam como tal” e, a título de alargamento do campo comparativo sobre quem estabelece o que é arte, considerar também a célebre frase de Piotr Kowalski (apud MORAIS, 1998, p. 33): “A arte é um conceito estatístico. Se há gente suficiente que decide que uma coisa é arte, então é arte.”
  • 11. uma ressignificação, no plano do simbólico, da rede de relações que compõem a cidade e que afetam diretamente os seus usuários no processo de sua fruição da mesma. Parece também apresentar, a partir de suas formas e ideias, tanto no real empírico quanto no imaginário da figuração, a possibilidade de formular de novo, ou ao menos de outro modo, essas relações sociais, na sua plena diversidade. Isso tudo sem perder de vista a possibilidade de ser agradável e até mesmo de ser persuasivo, dando prazer ao olhar. Talvez por isso o âmbito público seja um espaço diferencial para um trabalho de arte, sendo essencialmente um espaço de conflito contínuo. Isto reforça a emancipação do produtor diante dos sistemas estabelecidos de dominação cultural e política. Finalizando, em concordância com o caráter relativizado dos conceitos aqui discutidos, abertos por excelência, a reflexão sobre cidade, imagem, juventude e arte por intermédio da inserção do grafite de muros no espaço urbano pode gerar um instigante debate e, para tanto, a construção de olhares e definições confere ao indivíduo uma autonomia que, por assim dizer, possibilita uma autoralidade. Referências bibliográficas ABRAMO, Helena Wendel. Cenas Juvenis - punks e darks no espetáculo urbano, SP: Página, Aberta, 1994. ALMEIDA JUNIOR, João Baptista de. “A aceitação ou condenação da imagem”. In: Comunicarte - Revista do Instituto de Artes, Comunicação e Turismo da PUC, ano XII, nº 19, Campinas: 1994. ARIÈS, Philippe. “As idades da vida”. In: História social da criança e da família, RJ: Guanabara, 1981. ARGAN, Giulio Carlo. “A crise da arte como „ciência europeia‟”. In: Arte Moderna, SP: Cia. das Letras, 1992. _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ . “O espaço visual da cidade”. In: História da arte como história da cidade, 3ª ed., SP: Martins Fontes, 1995. AZEVEDO, Fernando de. “Introdução”. In: A cultura brasileira, RJ: Editora UFRJ, 1996. BARTHES, Roland. O óbvio e o obtuso, RJ: Nova Fronteira, 1990. ________________. “Semiologia e urbanismo”. In: A aventura semiológica, Lisboa: Edições 70, 1987. BOURDIEU, Pierre. “A juventude é apenas uma palavra”. In: Questões de Sociologia, RJ: Marco Zero, 1983. CANEVACCI, Massimo. A cidade polifônica: ensaio sobre a antropologia da comunicação urbana, SP: Studio Nobel, 1993. ____________________. “Diversidade nômade e mutação cultural”. In: SANTOS, Rafael dos & TRINDADE, Azoilda. Loretto da (orgs.). Multiculturalismo: mil e uma faces da escola, RJ: DP&A, 1999. DAMISCH, Hubert. Artes, Enciclopédia Einaudi, vol. 1, Lisboa: Imprensa Nacional- Casa da Moeda, 1984.
  • 12. DIÓGENES, Glória. Cartografias da Cultura e da Violência: gangues, galeras e movimento hip hop, SP: Annablume, 1998. GELL, Alfred. “A rede de Vogel: armadilhas como obras de arte e obras de arte como armadilhas”. In: Arte & Ensaio, vol. VIII, nº 8, 2001. GUIMARÃES, Eloísa. “Juventude(s) e periferias(s) urbana(s)”. In: Revista Brasileira de Educação, Número Especial: Juventude e Contemporaneidade, SP, nº 5 (mai.- ago. 1997) e 6 (set.-dez. 1997). HERSCHMANN, Micael. “Música, juventude e violência urbana: o fenômeno funk e rap”. In: Mídia, drogas e criminalidade. Comunicação & Política, nova série, vol.1, nº 2, CEBELA, dez.1994/mar.1995. KNAUSS, Paulo. “Grafite urbano contemporâneo”. In: TORRES, Sônia (org.). Raízes e rumos, RJ, 7 Letras, 2001. MORAIS, Frederico. Arte é o que eu e você chamamos arte: 801 definições sobre arte e o sistema da arte, RJ: Record, 1998. NEIVA, Eduardo. “Redefinindo a imagem - mimesis, convenção e semiótica”. In: COMUM, revista do Departamento de Letras da Faculdades Integradas Hélio Alonso, vol. 4, nº 13, RJ, jul./dez. 1999. PECHMAN, Robert Moses. “A invenção do urbano: a construção da ordem na cidade”. In: PIQUET, Rosália. e RIBEIRO, Ana Clara Torres (orgs.). Brasil, território da desigualdade: descaminhos da modernização, 2ª ed., RJ: Zahar, 1995. PEIXOTO, Nelson Brissac. “Arte & Cidade”. In: SZAJMAN, Abram (org.). Arte Pública, SP: SESC, 1998. PESAVENTO, Sandra Jatahy. “Muito além do espaço: por uma história cultural do urbano”. In: Estudos Históricos, vol. 8, nº 16, RJ, 1995.