1. Uma visão mais humanística
de preservação cultural e ambiental
janeiro/fevereiro . 2009 . ano 6 . nº 46
Uma visão mais humanística
de preservação cultural e ambiental
Estabelecida pela Unesco, a nova
ordem mundial é proteger e, ao mesmo tempo, fazer
uso do patrimônio histórico e ambiental de modo
sustentável. O conceito de economia criativa
é um dos alicerces desta nova visão.
O acordo que
unifica a ortografia da
Língua Portuguesa
Entrevista
com
Ruth Rocha
2. 02
cidadania Fundação Bunge
Jacques Marcovitch
Presidente
Carlo Lovatelli
Vice-Presidente
Adalgiso Maia Telles e Souza
Adib Jatene
António Carlos Rodrigues
Carlos Henrique de Brito Cruz
Celso Lafer
Crodowaldo Pavan
João de Scantimburgo
José Julio Cardoso de Lucena
José Roberto Mendonça
Maria Bonomi
Mário Alves Barbosa Neto
Milton Notrispe
Milú Villela
Roberto Rodrigues
Sérgio Roberto Waldrich
Ruy Martins Altenfelder
Superintendente Geral
Renato Wenter
Secretário Executivo
Cláudia Calais
Gerente
Anna Barcelos
Coordenadora de Comunicação
Cecília Carvalho
Coordenadora de Projetos
Juliana Santana
Coordenadora de Projetos
Marilúcia Bottallo
Coordenadora do Centro de Memória Bunge
Publicação da Fundação Bunge,
entidade sem fins lucrativos mantida
pelas empresas Bunge.
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Edição: Graziela Silva
Reportagens e textos:
Graziela Silva e Denise Ribeiro
Edição de arte: Eduardo Matsuda
Pré-impressão e impressão: Landgraf
Tiragem: 15.400 exemplares
08
Toques de Cidadania: eventos e ações
que mobilizam o terceiro setor.
Cidadania quer ouvir suas
opiniões e sugestões.
Veja como falar com a gente:
fundacao@bunge.com
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Bloco D, 5º andar
Jd. São Luiz
São Paulo – SP
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Telefone: (11) 3741-1288
Um novo Cidadania
O Cidadania chega ao seu sexto ano de publi-
cação com uma nova identidade gráfica e edi-
torial. As propostas são fortalecer o papel da
Fundação Bunge como entidade comprome-
tida com a disseminação do conhecimento,
encorajar o debate sobre questões essenciais
à formação e à memória do país, dar visibili-
dade a experiências bem-sucedidas no cam-
po da sustentabilidade e difundir iniciativas
de representantes do terceiro setor que vêm
contribuindo para traçar um novo cenário so-
ciocultural para o país.
Sob esses múltiplos prismas, quero fazer um convite especial a você:
gostaríamos de contar com a sua participação e as suas sugestões para
melhor identificar as percepções e expectativas diante do princípio que
governa este mundo diferente, onde todos respondem por todos: o
desenvolvimento sustentável.
Acreditamos que a soma de esforços como este pode contribuir, no
mínimo, para a construção de um país e de um planeta factíveis para
as gerações que terão como herança vital o que a gente faz em prol da
sustentabilidade.
Carlo Lovatelli
Vice-Presidente da Fundação Bunge
C a i x a Pos t a l
Ne s t a Ed iç ã o
04
Uma visão mais
humanística de
preservação cultural
e ambiental.
06
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: além
de aproximar culturas, confere maior ressonância
às vozes de oito países, habitados por 250 milhões
de pessoas.
07
ONGs trabalham em
parceria com o Ministério do
Meio Ambiente para conter a
chegada ao país de espécies
exóticas invasoras.
Ilustração da capa: Luc Imagens
Imagens: janela, Fotolia/Franck Camhi;
igreja em São Gonçalo do Rio das
Pedras, MG, Katsuyoshi Tanaka/Acervo
Instituto Estrada Real; flor, borboleta,
Luc Imagens.
Ed it or i a l
3. 03
janeiro/fevereiro . 2009 . ano 6 . ed. 46
Ruth Rocha comemora, em 2009, 40 anos dedicados à literatura infanto-juvenil. São mais de 130 livros publi-
cados, histórias traduzidas para 25 países e o reconhecimento do público e da crítica (venceu cinco vezes o
Prêmio Jabuti). É a escritora de maior sucesso em seu segmento no Brasil. Apenas Marcelo, marmelo, martelo,
a obra mais conhecida, vendeu três milhões de cópias. Para ela, só não se lê mais no país porque a alfabetiza-
ção é falha. “Eu acredito que há um contingente enorme de crianças e adultos que não lêem porque não sabem
ler. É o analfabetismo funcional levado às últimas conseqüências. Gente formada, que não decifra a leitura”,
lamenta. Ruth conversou com o Cidadania e falou sobre carreira, educação e, claro, literatura.
dona da história
T r oc a ndo Idéi a s
RuthRocha
Quem tem medo de
ridículo? e Uma história
de rabos presos fazem
parte da extensa obra
da autora, que inclui
ainda livros didáticos
e paradidáticos,
um dicionário e
adaptações de clássicos
da literatura mundial,
como Ilíada e Odisséia.
Quando e por que você decidiu se de-
dicar à literatura infanto-juvenil? Foi por
acaso. Fui convidada pela editora da revista
Recreio (editora Abril), Sonia Robatto, para
escrever um conto. Mas eu achava que não
sabia, demorei um pouco para aceitar. Mas
ela insistiu e acabei escrevendo. Ela gostou
muito e pediu mais. A Sonia queria um tipo
de texto que não existia ainda na litera-
tura brasileira. Ela queria histórias que
falassem do cotidiano das crianças,
não aquelas coi-
sas fantasiosas,
de princesas. Deu
tão certo essa
idéia que originou
uma nova escola
de literatura infantil
brasileira. Foi a So-
nia quem descobriu
autores como a Ana
Maria Machado.
Você declara Monteiro Lobato sua gran-
de influência. Por que a obra desse au-
tor merece ser lida e relida, sempre? Uma
grande obra literária dura muito tempo. Acon-
tece no Brasil uma coisa triste: o ensino foi pio-
rando e hoje as crianças de sete anos, que de-
viam estar lendo Lobato, não conseguem, por-
que ainda aprenderam pouco. A gente lia Loba-
to com essa idade. Hoje, a criança só vai ler cor-
rentemente ali pelos nove anos, e aí as histórias
do Lobato já são infantis demais para ela.
Você foi orientadora vocacional duran-
te 15 anos (no Colégio Rio Branco, na
capital paulista). Por que a escola bra-
sileira tem tantas carências? Em primeiro
lugar, há uma atitude da sociedade brasileira
de menosprezar a infância. Não estou cul-
pando só o governo, estou culpando a socie-
dade. Em segundo, a formação do professor.
É preciso dar mais valor ao ensino do pro-
fessorado, criar boas faculdades, estimular os
profissionais. Falta no Brasil uma grande va-
lorização da cultura, do ensino, do professor,
do próprio conhecimento.
Qual o papel da literatura na formação da
criança? A literatura tem que ser ensinada de
uma maneira muito especial. Tem que ser ensi-
nada como arte. Muitas, vezes, ela é ensinada
como se o objetivo fosse apenas a gramática.
Isso precisa mudar. As pessoas precisam saber
ensinar literatura: valorizar o texto, o conteú-
do. E não se pode achar que história infantil é
qualquer historinha. Tem que escolher muito
bem o que dar para a criança ler.
Como você define a atual geração de lei-
tores? Foi feita alguma mudança na sua
obra,visandoadaptarashistóriasaoper-
fil do público? Nenhuma adaptação. As
crianças não mudaram nada. São as mesmas.
O que as crianças de hoje têm mais é informa-
ção. Apesar de estar furiosa com a qualidade
da educação, posso dizer que ela mudou um
pouquinho, no sentido de dar mais atenção
para as crianças. Os adultos conversam com
elas, querem saber o que pensam. Isso au-
menta os horizontes da infância e é o que faz
parecer que elas mudaram, mas essencial-
mente continuam as mesmas.
Marcelo, marmelo, martelo já vendeu
três milhões de cópias. O que explica o
sucesso do livro? Ninguém sabe. Você não
vê o que acontece com o Harry Potter (da es-
critora J. K. Rowling)? Cada livro segue uma
carreira. Mas eu não vou dizer que acho o
Marcelo um livro comum.
Você leu algum livro da série do Harry
Potter? Eu li alguns trechos. Não é muito o
meu estilo. Mas é excelente do ponto de vista
que desperta o interesse das crianças para a
leitura. Elas adoram, lêem. Isso é ótimo.
divulgação/IaraVenanzi
IMAGENS:
divulgação
4. A Unesco ampliou o conceito de patrimônio da humanidade por entender que
só com políticas de incentivo e vigilância internacional é possível proteger o meio ambiente.
De forma similar, uma visão mais humanística de preservação cultural está em curso.
A demanda por sustentabilidade deu a medida da nova política.
04
cidadania Fundação Bunge
Os patrimônios da humanidade, tombados pela Organiza-
ção das Nações Unidas, Unesco, são tão abrangentes quan-
to são os povos e as forças naturais que os produziram.
Para a entidade, que define as áreas a serem internacional-
mente protegidas, tem o mesmo valor, do ponto de vista
da preservação, o Campo de Concentração de Auschwitz
(Polônia), a cidade de Havana e suas fortalezas (Cuba) e as
nossas Cataratas do Iguaçu.
Da lista da Unesco fazem parte 878 propriedades sediadas
em 145 países: 679 qualificadas como culturais, 174 como
naturais e 25 que estão nas duas categorias – Ibiza, na Es-
panha, é uma delas: abriga ruínas fenícias e fortificações
do século XVI e, em sua costa, há espécies marinhas só
encontradas no Mediterrâneo.
No Brasil, além dos barrocos e coloniais centros históricos
de Ouro Preto (MG), Olinda (PE), Salvador (BA) e São Luís
(MA), fazem parte do acervo 17 patrimônios universais,
entre eles a Chapada dos Veadeiros (GO), o arquipélago
de Fernando de Noronha (RN), o Pantanal (MS) e o Com-
plexo de Conservação da Amazônia Central, considerado
uma das regiões mais ricas do mundo em matéria de bio-
diversidade.
“Antes, o foco da proteção era o antigo, o institucional do
ponto de vista estilístico e artístico, como, por exemplo, a
casa grande de uma fazenda vinculada ao ciclo de açúcar”,
explica Dalmo Vieira Filho, diretor do Depar-
tamento de Patrimônio Material e Fiscaliza-
ção do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, Iphan. Hoje, além desses bens, prega-
se o convívio com os monumentos. O ritmo pulsante dos
centros urbanos ditou essa tendência de se apropriar dos
espaços históricos, usando o monumento arquitetônico
para a circulação de idéias, os festivais de cinema, as viradas
culturais que movimentam a capital paulista, por exemplo.
“Nessas áreas, o conceito de patrimônio foi atrelado aos
conceitos de qualidade de vida”, confirma Dalmo.
Paisagem cultural
No Brasil, uma região de Santa Catarina foi a primeira a
ganhar o aval do Iphan de paisagem cultural, com a inau-
guração, em agosto de 2008, do projeto Roteiros Nacionais
de Imigração. Quem passeia pelas estradas rurais do Estado
consegue identificar as marcas culturais deixadas pelas le-
vas de italianos, alemães, poloneses e ucranianos que aju-
daram a colonizar a região a partir do século XIX. Foram
preservadas 59 casas e dois núcleos rurais espalhados por
cerca de 30 municípios catarinenses.
O roteiro Caminhos de Pedra, criado em 1992 na cidade de
Bento Gonçalves (RS), foi pioneiro nesse segmento. Levado
de volta ao tempo e ao lugar onde se fixaram os primeiros
imigrantes italianos no campo, o visitante é convidado a
conhecer o folclore e os costumes da época. Segundo o se-
cretário executivo da Associação Caminhos de Pedra, Nes-
tor Foresti, o programa beneficia, com os recursos gerados
pelo turismo, mil moradores de sete comunidades.
Já a Estrada Real, maior roteiro turístico do país, que re-
cria momentos da exploração do ouro no Brasil Colônia,
pre ser v a ç ã o e s u s t ent abi l id a de
patrimônio da humanidade
ma nova visão de
lucimagens
KATSUYOSHITANAKA/ACERVOINSTITUTOESTRADAREAL
fotolia/franckcamhi
www.fundacaobunge.org.br
Saiba mais no site:
5. tem outra dimensão. Abrange 198 municípios (168 deles
em Minas Gerais), em 1,4 mil quilômetros de percurso, e
tem previsão de gerar 178 mil empregos. Deve receber
por ano 2,5 milhões de turistas. O casario colonial, as
edificações barrocas, as tradições culturais, a natureza
exuberante e a rica culinária permitem a prática de dife-
rentes tipos de turismo: gastronômico, cultural, religioso
e o ecoturismo. A Secretaria de Turismo de Minas Gerais
estima que a Estrada Real venha a render R$ 1,25 bilhão
por ano para as cidades envolvidas.
Uma delas é Diamantina (MG), rota dos diamantes no
século XVIII, onde foi implementada a primeira parceria
com o Movimento Brasil de Turismo e Cultura, ONG que
apregoa a união do turismo com a preservação da cultura
local. O movimento, além de promover o intercâmbio de
tradições e costumes, se propõe a estudar a hospitalidade
do brasileiro, identificada como um dos patrimônios in-
tangíveis do país. Disposta a definir cientificamente esse
jeito de receber, a ONG fundou, em 1997, o Instituto de
Hospitalidade.
O Instituto desenvolve cursos de treinamento para quali-
ficar pessoas e empreendedores a receber o turista com
excelência. Mas a administradora pública, economista e
professora da Fundação Getúlio Vargas, FGV, Ana Carla
Fonseca Reis pondera: “A hospitalidade não é garantia
de desenvolvimento sustentável. Para que as comunida-
des envolvidas nos projetos em curso possam sobreviver
é preciso buscar a singularidade do espaço e sua vocação
econômica, um dos requisitos para a sustentabilidade”.
05
janeiro/fevereiro . 2009 . ano 6 . ed. 46
Conceito inovador, que ganhou
visibilidade no Reino Unido
nos últimos anos, a economia
criativa envolve setores que
unem, em diferentes graus,
cultura e tecnologia. Mais
do que riquezas, a economia
criativa gera empregos e
ajuda a preservar tradições
culturais, modos de produção
e o meio ambiente. O Brasil
ainda engatinha no desafio de
transformar bens criativos em
matéria-prima. Porém, em um
fórum internacional sobre o
tema, realizado em Salvador
(BA), em 2005, o país elegeu
o Monumenta, programa do
Ministério da Cultura, como
ponta de lança da economia
criativa no país.
Parceria com o Banco
Interamericano de
Desenvolvimento, BID, e a
Unesco, o Monumenta prevê
a restauração de 168 bens em
26 cidades de 16 estados. No
caldeirão dos US$ 125 milhões
investidos entram recursos
federais, estaduais, municipais
e privados. Também ganharam
direito a obter financiamentos
os proprietários de 929
imóveis selecionados para a
recuperação. A modernidade
do programa está no fato dele
ser complementado com ações
voltadas à sustentabilidade
da preservação, ligadas ao
incremento de atividades
econômicas.
O mundo, portanto, começa
a dar alguns passos em
direção à preservação como
irradiadora do desenvolvimento
sustentável. Mas ainda é
preciso sistematizar ações
para multiplicar a adesão da
sociedade à nova visão de
patrimônio histórico. O Brasil
tem recursos suficientes para ser
transformado em protagonista
dessa nova visão: diversidades
ambiental, geográfica e de
manifestações culturais são
ativos preciosos. A preservação
dessa herança, associada
ao turismo, pode ser um dos
eixos de desenvolvimento. “É
necessário, contudo, identificar,
divulgar e fazer uso dos ativos
culturais e naturais para
atrair o turista”, diz Ana Carla
Fonseca Reis, da FGV, também
consultora em Economia
Criativa da ONU. Ou seja,
diversidade, por si só, não atrai
desenvolvimento. É preciso
saber gerir esses recursos de
maneira sustentável.
A Economia Criativa como fonte de sustentabilidade
As rotas histórico-turísticas vêm ganhando
impulso desde o final dos anos 80. Elas dão
concretude a uma outra vertente da preser-
vação, baseada no conceito de paisagem cul-
tural, criado pela Unesco em 1972 para desig-
nar locais em que a intervenção do homem na
natureza criou identidades singulares.
Agora, a ordem é
proteger e, ao mesmo
tempo, fazer uso do
patrimônio histórico
e ambiental de
modo sustentável. A
concepção de preservar
sem envolver, capacitar
e gerar renda para
a sociedade está
ultrapassada.
lucimagens
KATSUYOSHITANAKA/ACERVOINSTITUTOESTRADAREAL
6. Até 31 dezembro de 2012, as novas regras
estabelecidas pelo acordo, em vigor no Brasil
desde o início de janeiro, irão conviver com as
antigas. Isso significa que ambas serão acei-
tas em exames escolares, vestibulares, con-
cursos. Também poderão aparecer em dicio-
nários, livros, jornais e revistas. O Ministério
da Educação prevê para 2010 a atualização
dos livros didáticos distribuídos para a rede
pública de ensino do Brasil. “De seu lado, a
Academia Brasileira de Letras está toman-
do providências para que possamos dispor,
ainda neste primeiro semestre, de um novo
Vocabulário Ortográfico da Língua Portugue-
sa”, comenta o professor José Carlos de Aze-
redo, do Instituto de Letras da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro. Enquanto isso,
editoras, empresas de software e até a enci-
clopédia digital Wikipedia se preparam para
colocar as novas regras em prática.
Além do estreitamento de vínculos, os espe-
cialistas prevêem desdobramentos diplomá-
ticos e comerciais. Azeredo destaca: “A prin-
cipal motivação das autoridades é de alcance
internacional. Os certificados de proficiência
na língua portuguesa não poderão mais ter
versões diferentes segundo o país que os
emita. Os documentos produzidos em portu-
guês na esfera dos organismos internacionais
terão uma só versão”.
maior poder político
“A unificação ortográfica também abre ca-
minho para que a Comunidade de Países de
Língua Portuguesa, CPLP (que reúne os sig-
natários do acordo), possa pleitear o reco-
nhecimento do idioma como língua oficial da
ONU”, avalia o professor licenciado da Uni-
versidade Federal do Paraná, Carlos Alberto
Faraco. No final de 2008, durante a I Reunião
Extraordinária de Ministros de Educação e
Cultura, promovida pela CPLP, a ascenção
dos signatários do acordo no cenário inter-
nacional pautou o discurso do primeiro-mi-
nistro de Portugal, José Sócrates: “Uma nova
geopolítica está em andamento, em que ha-
verá uma divisão maior de poder no mundo.
Nossos países têm de estar preparados para
ocupar esse novo espaço. Aquilo que temos
de mais comum, a língua, tem de ser um ati-
vo para o nosso desenvolvimento”.
A essência das mudanças
As alterações mais significativas são as relati-
vas ao uso de hífen e ao emprego dos acen-
tos agudo e circunflexo, segundo o professor
Azeredo. O alfabeto brasileiro recebe mais
três letras – W, Y e K – e o hífen foi eliminado
em boa parte das palavras compostas com
prefixos. Seguindo as novas regras, vamos
pular de paraquedas, fazer autoescola e co-
nhecer uma pessoa antisocial. Alguns acen-
tos terão que ser desaprendidos. Entre eles, o
acento agudo usado nos ditongos abertos ei
e oi das paroxítonas (platéia, jóia, por exem-
plo) e o circunflexo em palavras terminadas
com hiatos (caso de enjôo e vôo). Somem
ainda o trema e, no português lusitano, as
consoantes mudas (em Portugal se escreve
acto, adopção, embora não se pronuncie o c
e o p). Azeredo destaca: “As mudanças não
são profundas e, em certa medida, o idioma
está mais simples agora”.
m marco
na unificação
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa aproxima as culturas dos
países signatários – Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, São Tomé e
Príncipe, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor-Leste. Além disso, a con-
solidação da ortografia comum fomenta discussões em torno da oficia-
lização do idioma na ONU, ao lado do árabe, chinês, espanhol, francês,
inglês e russo. A língua portuguesa é falada por 240 milhões de pesso-
as, das quais cerca de 190 milhões vivem no Brasil. Isso a coloca entre
as dez mais faladas no mundo e entre as cinco do Ocidente.
www.fundacaobunge.org.br
Confira o bate-papo com o professor José Carlos de Azeredo,
em chat promovido pela Fundação Bunge.
06
cidadania Fundação Bunge
A c ordo O r t og rá f ic o
José Carlos de Azeredo
“A ortografia não é uma
parte da estrutura da língua,
é apenas uma convenção.
Pode ser comum a vários
países que falam um mesmo
idioma, sem influir no modo
de usá-lo em cada uma das
regiões. O Português falado
no mundo tem características
comuns, ou não seria mais
Português. Mas as diferenças
gramaticais e de vocabulário
continuarão a existir.”
DIVULGAÇÃO
Livros que ajudam a
entender as novas regras:
• Escrevendo pela Nova
Ortografia, do Instituto Antônio
Houaiss e coordenação de José
Carlos de Azeredo.
Editora: Publifolha.
• O Que Muda Com o Novo
Acordo Ortográfico,
de Evanildo Bechara.
Editora: Nova Fronteira.
ilustração: LUC IMAGENS / alexandre
7. 07
janeiro/fevereiro . 2009 . ano 6 . ed. 46
contra espécies
O levantamento, realizado para o Ministério
do Meio Ambiente/Probio (Projeto de Con-
servação e Utilização Sustentável da Diversi-
dade Biológica Brasileira), é uma tentativa de
gerar informações sobre espécies que, intro-
duzidas no país ao acaso – como foi o mos-
quito da dengue –, ou de forma intencional,
conseguiram se estabelecer, passando a
ameaçar a biodiversidade de ecossistemas
nacionais. “As espécies invasoras não convi-
vem com as demais, elas tendem a dominar,
porque, ao serem retiradas de seu habitat,
deixam para trás predadores e parasitas na-
turais”, explica a engenheira florestal Sílvia
Ziller, coordenadora do Programa de Espé-
cies Exóticas Invasoras da TNC.
Estão no levantamento animais como o cara-
mujo gigante africano, peixes de estimação,
como o beta, gramíneas, como o capim ano-
ni. Este último é de origem africana e passou
a ser usado como pasto no Rio Grande do Sul
na década de 50. Hoje, ocupa cerca de dois
milhões de hectares, tendo expulsado espé-
cies nativas dos pampas. E mais: é ineficiente
para alimentação do gado. Sílvia revela: “As
perdas para a pecuária na região chegam a
R$ 30 milhões por ano”.
Segundo a engenheira, no geral, os controles
biológico e químico ajudam a inibir a bioin-
vasão terrestre. A conservação ambiental é
muito importante, pois áreas degradadas têm
mais facilidade de serem invadidas. A miti-
gação do problema passa ainda pelas vias
educativa e institucional. Por isso, a TNC vem
ministrando cursos pelo país e firmando par-
cerias com entidades públicas para formular
um plano nacional sobre o tema.
Bioinvasão nos mares
Outra ONG disposta a encarar a questão é
a Água de Lastro Brasil, criada em 2008 por
pesquisadores do Centro de Inovação em Lo-
gística e Infra-Estrutura Portuária, Cilip, ligado
à Universidade de São Paulo. A água de lastro,
captada do mar ou dos rios e armazenada em
tanques, é usada para dar estabilidade aos
navios quando estão navegando sem cargas.
Uma embarcação que sai da Austrália, por
exemplo, capta a água de lastro em um por-
to daquele país e, antes de chegar ao desti-
no, ainda no oceano, deve realizar a troca da
água. O procedimento evita a transferência de
espécies aquáticas ou de organismos patogê-
nicos e tóxicos de uma costa para a outra.
Segundo estimativas, em torno de 40 milhões
de toneladas de água de lastro são lançadas
anualmente no Brasil. Foi ela a causa de uma
grande bioinvasão: a do mexilhão dourado,
molusco originário da Ásia que se multiplicou
livremente em bacias do centro-sul do país.
“Embora haja uma lei obrigando os navios a
fazerem a troca da água de lastro a 200 milhas
da costa, muitas embarcações não cumprem
o procedimento”, diz o presidente da Água de
Lastro Brasil, Newton Narciso Pereira.
A ONG prepara uma cartilha sobre o tema,
que será lançada no primeiro semestre. “O
foco é educativo. A proposta é evitar que ou-
tras espécies – tão ou mais agressivas que as
já estabelecidas aqui – cheguem pela água de
lastro.” Também está em curso o planejamen-
to de parcerias com os setores público e pri-
vado para sugerir ações capazes de conter a
contaminação da costa brasileira por espécies
não-nativas e organismos patogênicos.
invasoras
Idéi a Cid a d ã
luta
As ONGs responsáveis pelo le-
vantamento Nacional das Espé-
cies Exóticas Invasoras esclare-
cem que apenas uma pequena
parte das espécies introduzidas
em uma região se tornam inva-
soras. Mesmo assim, a base de
dados nacional mostra que o
número de invasões aumenta a
cada dia. Esta base está dispo-
nível nos sites:
www.nature.org/brasil
www.institutohorus.org.br
TNC e Hórus pedem à popula-
ção que envie informações so-
bre possíveis novos registros.
Durante o verão, o país permanece alerta para conter o aedes aegypti,
vetor do vírus da dengue. O mosquito, que, segundo pesquisadores,
veio da África nos navios de escravos, é uma espécie exótica invasora.
Por aqui, encontrou clima adequado, água parada à vontade, mas ne-
nhum predador capaz de conter sua proliferação. Além dele, outras
385 espécies estão listadas no Levantamento Nacional de Espécies
Exóticas Invasoras, coordenado pela The Nature Conservancy Brasil,
TNC, e pelo Instituto Hórus.
Sapo cururu é
problema na Austrália
Nativo das Américas do Sul e
Central, o sapo cururu (bufo
marinus) chegou à Austrália em
1935, como agente no controle
biológico de um besouro da cana.
Não só falhou nessa missão,
como se tornou um invasor. O
sapo alimenta-se de pequenos
animais e envena possíveis
predadores, como o crocodilo.
Em algumas áreas, segundo o
Departamento de Meio Ambiente
e Patrimônio do país, a invasão
avança cerca de um quilômetro
por ano. Cientistas australianos
vêm buscando formas de conter
o cururu, que se reproduz
durante o ano todo.
ilustração: LUC IMAGENS / Alexandre (imagem aedes aegypti: fotolia/vinicius tupinamba)
8. TV brasileira vai ao ar
Memór i a
Toque s de Cid a d a n i a
08
cidadania Fundação Bunge
No dia 18 de setembro de 1950, às 22 h, em São Paulo (SP), foi
ao ar o primeiro programa da televisão brasileira. Éramos
o quarto país do mundo a ter televisão, inventada havia 14
anos. O autor do milagre: Francisco de Assis Chateaubriand
Bandeira de Melo, proprietário dos Diários Associados,
cadeia de jornais e emissoras de rádio. Para financiar seu
empreendimento, Chateaubriand conseguira, em 1947, con-
tratos com a seguradora Sul América, a Antarctica, a lami-
nação dos Pignatari e o Moinho Santista.
Essas empresas pagaram adiantado um ano de publicidade
à cadeia dos Associados, fornecendo parte dos 16 milhões
de cruzeiros pagos à RCA Victor norte-americana pela
compra de uma estação de TV. Chateaubriand importou
300 televisores. Em meados de 1950, chegou o equipamen-
to da TV Tupi, Canal 3, de São Paulo. No dia 28 de julho, foi
feito um teste no prédio dos Diários: a primeira imagem
desse circuito fechado foi a do frade-cantor José Mojica.
O primeiro programa a ser transmitido chamava-se TV na
Taba e ficou marcado para o dia 18 de setembro, às 21 h, em
estúdio montado na sede da Rádio Tupi, no bairro do Su-
maré. Na noite seguinte à inauguração da Tupi, foi levado
ao ar o primeiro telejornal, Imagens do Dia, escrito por Rui
Resende minutos antes da transmissão.
Fontes: Centro de Memória Bunge; Nosso Século 1945/1960 – São Paulo: Abril
Cultural, 1980.
Plataforma do Unicef para Centros Urbanos
Trata-se de uma iniciativa que busca assegurar que cada criança e adolescente de co-
munidades populares tenha seus direitos respeitados. Desde o ano passado, o Fundo
das Nações Unidas para a Infância, Unicef, vem implementando o programa em São
Paulo (SP) e no Rio de Janeiro (RJ), por meio da realização de encontros com gesto-
res públicos, lideranças comunitárias, organizações sociais e grupos de adolescentes,
para apresentação da proposta. A participação das comunidades está atrelada à for-
mação de um Grupo Articulador, que deve se comprometer a participar ativamente
da iniciativa no período de 2009 a 2011. A plataforma do Unicef foi constituída a par-
tir de experiências em outras regiões do Brasil, de análises de situação e de consultas
a organizações governamentais, não-governamentais e empresariais.
A V Cúpula de Chefes de Estado e Governo das Américas, a ser realizada em Port
of Spain, capital de Trinad e Tobago, em abril de 2009, colocará em discussão a
situação de 106 milhões de jovens que podem estar diante de um mercado de
trabalho no qual impera o desemprego e a informalidade. Mais de 20 milhões
deles estariam desistindo de sair em busca de um emprego diante dessas pers-
pectivas. Encontrar alternativas capazes de atenuar a projeção é um dos propó-
sitos da reunião.
O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Eco-
nômicas, Ibase, lançou o relatório da pesqui-
sa Repercussões do Programa Bolsa Família na
Segurança Alimentar e Nutricional das Famílias
Beneficiadas. Com este trabalho, será possível
fornecer subsídios para uma reflexão mais pre-
cisa sobre o programa e para a estruturação de
políticas públicas. O levantamento está dispo-
nível no portal www.ibase.br.
O movimento Todos pela Educação divulgou
o seu primeiro relatório de acompanhamen-
to da qualidade do ensino no país, a partir
de cinco metas propostas pela organização:
toda criança e jovem de quatro a 17 anos na
escola; toda criança plenamente alfabetizada
até os oito anos; todo aluno com aprendizado
adequado à sua série; todo jovem com ensino
médio concluído até os 19 anos; investimento
em Educação ampliado e bem gerido. Os re-
sultados estão disponíveis no site
www.todospelaeducacao.org.br.
Em discussão, o trabalho para jovens na América Latina Todos pela Educação
Segurança
alimentar e nutricional
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Para saber mais, consulte o Centro de Memória Bunge.
Nos primeiros anos da TV, garotas-propaganda
apresentavam ao vivo os produtos dos patrocinadores.