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ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE
PROF. ODAIR TUONO
KITSCH
ARTE POPULAR VERSUS ARTE ERUDITA
Termo de origem alemã ligada à
palavra verkitchen que significa “tra-
pacear” ou “vender uma coisa no
lugar da outra”.
Nos estudos de estética o Kitsch
esta relacionado a uma categoria de
objetos considerados de mau gosto,
vulgares, baratos, sentimentais, que
copiam referências da cultura erudita
sem critério ou nível de qualidade de
seus modelos, destinados ao consu-
mo de massa.
KITSCH
Kitsch é um fenômeno derivado dos
avanços na industrialização e tecno-
logia, ascensão da classe média, da
crescente urbanização, afluxo em
massa dos camponeses às cidades,
da dissolução das culturas tradicio-
nais e dos folclores, da maior educa-
ção do proletariado, maior tempo
para o lazer e do surgimento da cha-
mada cultura de massa enfatizada
por Theodor Adorno (filosofo ale-
mão).
KITSCH
Entretanto, o kitsch é um fenômeno
de largo alcance, movimentando
uma indústria milionária e para gran-
de número de pessoas constitui mais
do que uma simples questão de
gosto, todo um modo de vida, tendo
para este público todos os atributos
da legitimidade.
O público consumidor dos objetos
Kitsch pode contextualizá-los com
nível de "profundidade", "valor artís-
tico", "importância" ou "emoção".
KITSCH
Características: falsificação de ma-
teriais (madeira pintada como már-
more, objetos de zinco dourados co-
mo bronze, aparentando algo no-
bre); preferência pela cópia de
modelos eruditos; distorções em
relação ao modelo original; uso de
cores vivas ou combinações exóti-
cas; tendência ao exagero e senti-
mental; funcionalidade deslocada ou
minimizada pela ênfase no elemento
decorativo; tradução de um código
complexo para um mais simples.
Instituto Itaú Cultural (São Paulo)
KITSCH
O essencial ao conceito do kitsch é
sua carga emotiva, ele precisa ser
narrativo e facilmente compreensí-
vel. Objetos kitsch desencadeiam
uma resposta emocional automática
e irrefletida no observador.
Gatinhos de porcelana, bonecos de
pelúcia, anões de jardim, paisagens
tropicais estereotipadas, representa-
ções de mães com bebês ou de
crianças chorando, postais de vilas
nevadas, essas imagens recorrentes
no mundo kitsch são descritas como
belas, simpáticas, doces.
KITSCH
Francis Frascina (critico americano)
"O kitsch não se confinou às cidades
onde nasceu, sendo um produto da in-
dustrialização ocidental, saiu em uma
turnê triunfante ao redor do mundo,
desfigurando culturas nativas e folclóri-
cas.
Chineses, índios, hindus, polinésios,
preferem capas de revista, estampas
em série e garotas de calendário aos
produtos de sua arte nativa. Como esta
atração irresistível pode ser explicada?
O kitsch é mais barato do que um arte-
fato feito à mão, porque tudo pode ser
copiado de forma mais barata".
KITSCH
Calendário Pirelli 2010, Terry Richardson
Segundo Walter Benjamin (filósofo
alemão)
Kitsch era uma abordagem que dis-
solvia a distinção entre arte e objeto
utilitário, tendo características que
anulavam o distanciamento respeito-
so invocado pela arte e favoreciam
um senso de intimidade sentimental,
apelando para a gratificação imedia-
ta do público e para o consumo fácil,
sem exigir um esforço de elaboração
intelectual a respeito do objeto.
KITSCH E ARTE
Alexis de Tocqueville (historiador
francês)
A democracia moderna impôs um re-
baixamento estético nos critérios de
produção, o número de consumido-
res aumentou, mas a elite culta dimi-
nuiu. Artistas e artesãos se viram
compelidos a produzir com rapidez
uma grande quantidade de bens im-
perfeitos, onde a imitação e a falsifi-
cação assumiam um novo significa-
do: "Já incapazes de se elevar ao
que é grande, os artistas cultivam a
aparência que atrai mais do que
realidade...”
KITSCH E ARTE
A qualidade deturpada da arte foi
notada por outros escritores nos últi-
mos dois séculos, atribuída em gran-
de parte ao desejo da classe média
pela ostentação e cultura que ela
não possuía, sendo de um lado inca-
paz de adquirir arte de qualidade
elevada e de outro inábil para distin-
gui-la da arte de má qualidade (apu-
ramento estético e social). No entan-
to, parece existir um elemento legiti-
mador em termos humanos, o de
tentar uma aproximação a um mun-
do melhor e bem-aventurado.
KITSCH E ARTE
Hermann Broch (escritor austríaco)
considerou o kitsch como um filho do
Romantismo, compartilhando com
ele traços como sentimentalismo e
amor ao drama e ao exagero, e defi-
nindo beleza como uma característi-
ca intrínseca ao objeto.
Mesmo que algo como o kitsch pos-
sa de fato ter existido antes do sécu-
lo XIX, foi a partir deste período que
ele passou a assumir um papel de
destaque no mundo da cultura.
KITSCH E ARTE
Detalhe da obra de Caspar David Friedrich
Romantismo movimento firmado entre
o final século XVII e meados do XVIII,
valendo se da imaginação individual e
a criatividade sem amarras do artista.
O artista solitário vivência o mundo de
uma forma particular enfatizando as
emoções e a força da natureza na bus-
ca pelo sublime.
As obras retratam o desafio do ho-
mem frente a realidade interior e exte-
rior que o apaixona e assombra ao
mesmo tempo.
KITSCH E ARTE
Caminhando sobre um mar de nuvens,
1818. Caspar David Friedrich, AL.
A Balsa da Medusa, 1819. Theodore
Géricault. Louvre, FR.
Vapor numa tempestade de neve, 1842.
William Turner. LDN.
KITSCH E ARTE
Matei Calinescu (crítico romeno)
assinalou que o kitsch pode apare-
cer somente na dependência de
contextos específicos, sem que seus
objetos constituintes o sejam, reme-
tendo ao princípio de inadequação
estética como característica do kits-
ch e dando como exemplo hipotético
a instalação de um autêntico quadro
de Rembrandt no elevador de uma
residência milionária.
KITSCH E ARTE
O rapto de Perséfone, Rembrandt.
A arte de vanguarda no século XX pri-
mou pelo uso de uma enorme varie-
dade de procedimentos heterodoxos
(não tradicionais) no intuito de derrubar
todas as tradições e questionar as
bases da própria arte, emprestando-os
diretamente do kitsch por suas virtudes
irônicas e iconoclastas (desrespeito as
tradições). Neste processo a produção
da arte acadêmica, se tornou sinônimo
de kitsch, acusada de artificial, previsí-
vel, estereotipada, banal, sentimental,
mercantilista e insensível às demandas
da nova sociedade.
KITSCH E ARTE
O Amor Observando (1890)
William Adolphe Bouguereau
Dadaísmo foi um movimento van-
guardista criado em Zurique (1916),
por iniciativa de artistas descrentes
da sociedade que a consideravam
responsável pelos estragos da I
Grande Guerra. A proposta era a
ruptura de qualquer valor ou princí-
pio com as artes tradicionais.
O dadaísmo foi um movimento com
grande quantidade de conteúdo
anárquico, além de um forte debo-
che a burguesia. O nome do movi-
mento deriva de um termo infantil:
dadá, que é brinquedo, cavalo de
pau.
Marcel Duchamp.O Violino, Man Ray - Ingres
KITSCH E ARTE
Surrealismo foi um movimento ar-
tístico e literário nascido em Paris
(1920), reunido artistas anteriormen-
te ligados ao Dadaísmo.
Fortemente influenciado pelas teo-
rias psicanalíticas de Sigmund Freud
(1856-1939), o surrealismo enfatiza
o papel do inconsciente na atividade
criativa. O poeta e crítico André
Breton (1896-1966) foi líder e mentor
deste movimento.
KITSCH E ARTE
Telefone Lagosta, Salvador Dalí.Peras, s.r.Os Amantes, Rene Magrite.
Quando a vanguarda afinal entrou
na moda, o kitsch passou a ganhar
um prestígio negativo entre os cír-
culos intelectuais mais sofisticados.
Então ele foi incorporado pela cultu-
ra camp, onde o mau gosto era culti-
vado deliberadamente como se fos-
se um refinamento superior. Susan
Sontag (crítica americana) cristali-
zou esta filosofia na frase "é belo
porque é feio", que veio a se tornar
uma corrente de grande peso na cul-
tura norte americana do pós-guerra.
KITSCH E ARTE
Cultura Camp é um termo utilizado
para se referir aos adoradores de
produtos culturais que são atraentes
devido ao seu mau gosto e valor irô-
nico.
O conceito de camp é estreitamente
ligado ao kitsch, e as coisas camp
são geralmente referidas como sen-
do "campy" ou "cheesy" (bregas).
Quando o termo apareceu pela pri-
meira vez, em 1909, denotava osten-
tação, exagero, afetação, teatralida-
de e comportamento efeminado.
KITSCH E ARTE
O cinema camp foi popularizado por
cineastas como George e Mike
Kuchar, Ed Wood e John Waters,
principalmente por Pink Flamingos,
Hairspray e Cry Baby do último.
Celebridades associadas com a
cultura camp incluem drag queens
como Dame Edna Everage, Divine,
RuPaul e Liberace. A cultura camp
foi adotada como parte da defesa
anti-acadêmica da cultura popular na
década de 1960.
KITSCH E ARTE
KITSCH E ARTE
Arte Pop também tomou o kitsch
como referência importante, num pe-
ríodo em que a massificação da cul-
tura começava a se tornar um fenô-
meno global. Vários artistas desta
escola, como Andy Warhol, Roy
Liechtenstein e Richard Hamilton,
incorporaram, como crítica social ou
como humor, ícones populares em
suas obras, tais como fragmentos de
história em quadrinhos e imagens de
astros do cinema, contribuindo para
tornar a arte culta mais acessível.
Andy Warhol (1928 -1987, EUA)
No final dos anos de 1950, já utilizava
em suas obras motivos oriundos da pu-
blicidade. Nos anos de 1960, escolheu
como tema artigos de consumo; ídolos
populares e imagens da história da ar-
te, reproduzindo-as em série com varia-
ções cromáticas.
Produziu filmes underground em seu
ateliê nova iorquino, onde trabalhava
com amigos e colaboradores. A partir
de 1970, empreendeu diversas experi-
ências multimídia com o grupo de rock
Velvet Underground. Baseando-se no
dadaísmo, Warhol desenvolveu novas
formas de integração entre os conceitos
plásticos e a realidade.
KITSCH E ARTE
Roy Liechtenstein (1923 -1997, EUA)
Trabalhou como desenhista, vitrinista e
professor de arte. Em 1956 realizou a
litografia de uma nota de dólar que se
tornou o protótipo da Arte Pop. Desen-
volveu nos anos 60 a imagem que o tor-
nou conhecido: motivos da publicidade e
da sociedade de consumo, fazendo uma
crítica irônica ao capitalismo.
Um de seus temas preferidos foi à
guerra. Lichtenstein usou a história em
quadrinhos, simplificou os contornos e
escolheu para superfícies azul, vermelho
e amarelo. Na década de 70, recriou mo-
tivos e estilos inspirados na história da
arte para forçar uma nova perspectiva.
KITSCH E ARTE
Richard Hamilton (1922 – 2011, ING)
Designer, Ilustrador, curador, Profes-
sor, Pintor. Hamilton proclamou seu
“Entusiasmo por uma relação relaxa-
da com a arte, em oposição à séria
tradição cultural da Europa“. Assim,
suas obras apresentam vários pontos
de conexão com o cotidiano.
Hamilton toma emprestadas imagens
do dia-a-dia, para através delas refletir
fenômenos sociais. “Onde está a
fronteira que separa produto e obra de
arte?”. Tão numerosos quanto as refe-
rências são os materiais empregados
pelo artista.
KITSCH E ARTE
Nelson Leiner (1932, BR)
Estudou engenharia têxtil nos EUA
(1947 e 1952). Fundou o Grupo Rex
(1966) com outros artistas. Em 1967,
realiza a Exposição-Não-Exposição,
happening de encerramento do gru-
po. Envia ao 4º Salão de Arte Mo-
derna de Brasília um porco empalha-
do. Em 1974, expõe a série A Rebe-
lião dos Animais, trabalhos que criti-
cavam duramente o regime militar.
De 1977 a 1997 lecionou na FAAP,
paralelamente continuou sua produ-
ção tendo o humor e contestação
com base conceitual.
KITSCH E ARTE
Romero Brito (1963, BR)
O artista começou seu interesse pelas
artes na infância, usava sucatas e pa-
pelões de jornal. Eram tempos de po-
breza e limitações em Recife.
Foi influenciado pela estética cubista,
seu estilo vibrante e alegre, com cores
vibrantes fez com que sua obra tivesse
forte ligação com a publicidade.
Alcançou admiradores entre as celebri-
dades Schwarzenegger, Madonna, Bill
Clinton entre outros. Romero Britto foi
homenageado pela escola de samba
carioca Renascer no desfile de 2012.
KITSCH E ARTE
Devido a grande expansão nos vare-
jos e a consolidação da "estética das
redes de supermercado", onde pri-
mam o princípio da uniformidade e o
da obsolescência dos bens de com-
sumo, estimulada pela criação de
necessidades artificiais e pela intro-
dução de processos de extinção pro-
gramada daqueles bens. Entra em
cena um elemento lúdico, populari-
zam-se o plástico e os gadgets,, e o
discurso oficial ostenta "conforto e
felicidade para todos".
KITSCH E ARTE
Objetos de desejo. Adrian Forty
Esgotando-se as vanguardas moder-
nistas, que haviam assumido a res-
ponsabilidade de destruir a tradição,
consolidou-se a partir dos anos 80 a
pós-modernidade, desenvolvendo uma
ampla, flexível e pluralista revisão do
passado artístico da sociedade ociden-
tal e questionando se toda aquela des-
truição teria valido a pena. Aqui o
fenômeno kitsch adquiriu foro de verda-
de artística, o que para os modernos
era mau gosto e tradição foi rein-
corporado como citação positiva.
KITSCH E ARTE
Biscuit Porcelana Francesa,
Século XIX.
A situação se tornou tão complexa
ao ponto que os limites da arte se
tornaram atualmente fluidos e vagos
ficando extremamente difícil o jul-
gamento crítico mesmo para os peri-
tos no assunto. Assim como o kitsch
sempre dependeu da referência cul-
ta, a sua apropriação pela cultura
erudita continua sendo uma tendên-
cia forte, a exemplo da influente obra
de artistas como Jeff Koons,
Damien Hirst, Mariko Mori, que
transformam-no em vanguarda esté-
tica.
KITSCH E ARTE
Jeff Koons (1955, EUA)
Artista conceitual que utiliza várias ide-
ias e materiais para concepção de suas
obras, transformando o que é kitsch em
obra de arte. Nessa diversidade estão:
Puppy cachorro formado por flores (16
m), Brancusi coelho de plástico es-
pelhado, imitando aço inoxidável,
Objetos de Porcelana - ícones popul-
ares (Michael Jackson, Pantera cor-de-
rosa). “Made in Heaven” – série de
fotos gigantes dele mantendo relações
sexuais com a atriz-pornô Cicciolina.
KITSCH E ARTE
Puppy, Jeff Koons. Bilbao, ESP.
Pink Panther.“Made in Heaven”
Damien Hirst (1965, ING)
Durante os anos 90 constituiu-se co-
mo líder dos “Young Britsh Artists” –
YBAs.
A morte é o tema central de suas
criações, evidenciadas na série Na-
tural History (animais fatiados e com-
servados em formol). Em 2007 vem-
deu por 100 milhões de dólares sua
obra Pelo Amor de Deus – um crânio
com 8 mil diamantes incrustados.
KITSCH E ARTE
Mariko Mori (1967, JP)
Iniciou sua carreira como designer e
modelo. Em suas instalações inclui ví-
deos, fotografias, performance, moda,
tecnologia e desenhos inspirados na
arte e religião do oriente e ocidente,
utilizando até sua imagem como mo-
delo.
De forma fantástica e as vezes ingê-
nua Mori procura conciliar em seus
trabalhos o espírito com a ciência.
KITSCH E ARTE
UFO, Mariko MoriOneness, Mariko Mori.
Link of the Moon, Mariko Mori
Ao contrário da arte contemporânea,
que pretende a subversão do siste-
ma criando novos parâmetros cultu-
rais, perceptivos e ideológicos, o
objetivo do kitsch não é criar novas
expectativas, nem desafiar o status
quo, mas sim agradar ao maior nú-
mero de pessoas, explorando impul-
sos humanos básicos relativos à
família, à raça, à nação, ao amor, às
crenças religiosas, às posições polí-
ticas, podendo tornar-se um estilo de
vida.
KITSCH E ARTE
Para Abraham Moles (crítico fran-
cês), o kitsch é "a arte da felici-
dade".
Outra faceta disso é a infantilização
do imaginário popular, com exem-
plos óbvios na estética da Disneylân-
dia e na proliferação dos cartoons
japoneses (animes e mangas), am-
bos dinamizando mercados riquíssi-
mos.
KITSCH E ARTE
Bert Olivier (filosofo americano) en-
tendeu que a cultura contemporânea
é seduzida pelo kitsch, saturada de
imagens e virtualidade, onipresente
nos produtos "viciantes" como litera-
tura cor de rosa, séries ou novelas
açucaradas, subprodutos de Holly-
wood e videogames excitantes, que
oferecem intensidade emocional na
ausência de objetos reais, eliminan-
do a necessidade do observador
identificar os opressores no mundo
real, funcionando como uma catarse
vicarial.
KITSCH E ARTE
Barbara CartlandBatman & Robin, Anos 60Devil may cry, Game.
Roger Scruton (filosofo inglês)
Considerou o kitsch sinal de uma
deficiência emocional, uma estética
cruel que "transforma o ser humano
em uma boneca, que num momento
cobrimos de beijos e no outro despe-
daçamos".
Porém, ignorando as censuras, tor-
nou-se um fenômeno global e um
gigantesco sucesso comercial, e
neste ponto está em grande vanta-
gem em relação à arte culta.
KITSCH E ARTE
A influência do kitsch é tão pene-
trante porque ele anda paralelo ao
processo moderno de educação das
massas, presente em escolas e na
propaganda na forma de simbologias
e iconografias a respeito da pátria,
família, moralidade, criando uma
consciência coletiva alienada da
realidade, sendo notórios os casos
das campanhas de Hitler, Stalin e
Franco que usaram sua estética
para alcançar objetivos totalitários.
KITSCH E IDEOLOGIA
We Can Do It! – J. Howard Miller
Catherine Lugg (escritora america-
na)
“O kitsch é uma poderosa cons-
trução cultural planejada para colo-
nizar a consciência do receptor.
Como tal, o kitsch é a bela mentira.
Ele conforta o receptor através da
exploração de mitos culturais e de
um simbolismo rapidamente compre-
ensível, nunca desafia nem subverte
a ordem social maior, porque ele
deve pacificar, e não provocar".
KITSCH E IDEOLOGIA
Campanhas eleitorais, que se valem
de símbolos patrióticos, imagens do
povo sofrido, oradores carismáticos,
slogans e jingles sedutores, promes-
sas que nunca serão cumpridas e
profecias sobre uma brilhante utopia
social, bombardeando o público atra-
vés de propaganda em veículos de
comunicação contribuindo para a
manipulação da opinião pública mi-
nando o exercício da cidadania
consciente. Neste sentido, o kitsch
equivale a um instrumento de lava-
gem cerebral e à política do pão e
circo.
KITSCH E IDEOLOGIA
A modernidade exauriu os mitos reli-
giosos que perderam apelo popular,
ao mesmo tempo em que as
mudanças da sociedade desencade-
aram o nascimento de um senti-
mento de ansiedade diante da muta-
bilidade das coisas e da instabilidade
das tradições.
O kitsch serve como um sedativo
para as dores do mundo, e o imagi-
nário cristão transborda de represen-
tações adocicadas da promessa de
recompensa pós-morte.
KITSCH E RELIGIOSIDADE
Entretanto, a análise do kitsch em
relação à arte sacra é delicada e
dependente de uma ampla varieda-
de de determinantes, há quem consi-
dere a qualidade da arte, no que to-
ca à religião, um assunto de menor
relevância, levando em conta os
objetivos espirituais legítimos que
ela almeja. Mesmo quando cristãos
admitem que a arte que preferem
contemplar é kitsch, encontram ra-
zões teológicas ou humanísticas pa-
ra defendê-la, minimizando assim a
questão estética.
KITSCH E RELIGIOSIDADE
O triunfo da Providência, CortonaSão Sebastião, Relicário Kitsch
David Morgan (historiador america-
no)
Declara que a legitimidade de senti-
mentos como doçura, amor e ternu-
ra, centrais na religiosidade popular,
é fator indispensável para a compre-
ensão do fenômeno kitsch na esfera
da arte sacra associada também a
prática de devoção, oração, cultivo
de tradições antigas que entrelaçam
um todo complexo, organizado e
coerente.
KITSCH E RELIGIOSIDADE
Na Tailândia recentemente foi criada
uma imagem gigante do Buda com o
aspecto de um super-homem, que-
brando uma arraigada tradição ico-
nográfica, o que desencadeou uma
grande polêmica a respeito da irre-
verência do artista. O governo che-
gou a recomendar que ela fosse
destruída.
KITSCH E RELIGIOSIDADE
No Japão, Sri Lanka e China nova-
mente o budismo, bem como outras
tradições imemoriais, vêm sofrendo
uma massificação devido à popula-
rização vulgar dos mitos, cresci-
mento de interesse pelo turismo e
uma banalização da espiritualidade
através do aparecimento de artigos,
artes e práticas pseudo-religiosos
como roupas íntimas zen, músicas,
estátuas, incensos afrodisíacos, te-
rapias alternativas e outros produtos
de apelo exclusivamente comercial.
KITSCH E RELIGIOSIDADE
Fenômenos semelhantes são obser-
vados no hinduísmo contemporâneo,
devido a produção de legiões de
simpáticos Ganeshas e doces Krish-
nas com circulação no oriente e
ocidente, desvirtuando ao mesmo
tempo as tradições musicais, icono-
gráficas e literárias, transformando
templos seculares em locais de
entretenimento e transportando ima-
gens sagradas para as histórias em
quadrinhos, brinquedos e outros ob-
jetos de consumo de massa.
KITSCH E RELIGIOSIDADE
A popularização do ícone religioso
pode desvirtuar o verdadeiro sentido
da devoção e culto ao sagrado, bar-
reiras estabelecidas se rompem de
uma forma inconsciente pelo desejo
da idolatria ou ornamentação reves-
tida nos objetos kitsch com caracte-
rísticas e figuração espiritual.
KITSCH E RELIGIOSIDADE
KITSCH E RELIGIOSIDADE
Karsten Harries (professor america-
no)
"O anseio pelo kitsch surge quando
a emoção genuína se torna rara,
quando o desejo adormece e precisa
de estímulo artificial, sendo uma res-
posta ao tédio. Assim como o kitsch
religioso busca despertar a emoção
religiosa sem um encontro com
Deus, o kitsch erótico busca dar sen-
sações de amor sem a presença do
outro amado. O kitsch cria uma ilu-
são com o objetivo de dar prazer in-
dividual".
KITSCH E EROTISMO
Permanece a ideia de que o kitsch
erótico aparece quando o confronto
com o outro é evitado, eliminando a
possibilidade do conflito.
A transformação do erotismo em
objeto kitsch também é clara na
pornografia em sua versão soft-core,
presente no cinema, televisão, inter-
net, publicidade, artes plásticas e mí-
dias impressas, oferecendo a visuali-
zação de corpos de homens e um-
lheres que seduzem em atmosferas
romantizadas, fantasiosas e às
vezes "inocentemente" infantilizadas,
mas sempre picantes.
KITSCH E EROTISMO
Esta abordagem cultiva o voyeuris-
mo e suaviza qualquer possível cul-
pa pelo desfrute do corpo alheio sem
sua presença física ou seu consenti-
mento explícito. Como disse Ugo
Volli (professor italiano de semiolo-
gia), "no momento em que o homem
transforma o sexo em um objeto es-
tético ou científico já não existe
razão para envergonhar-se dele", no
que concorda Thorsten Botz-
Bornstein (filosofo alemão) ao afir-
mar “a pornografia como arte é ino-
cente porque se torna pornokitsch".
KITSCH E EROTISMO
A publicidade contemporânea, usa a
imagem de forma erótica da mulher
e do homem como atrativo para ven-
der qualquer tipo de coisa, evidenci-
ando uma tendência à exploração e
manipulação do ser humano para
fins comerciais. Herman Bruce (pro-
fessor americano) acredita que o
kitsch também é aparente na atual
"cultura do corpo", com suas manias
por dietas, cirurgias plásticas, aca-
demias de ginástica, cosméticos,
criando um universo imagético que
apresenta modelos estereotipados
como ideal de beleza.
KITSCH E EROTISMO
Nem só a pornografia soft-core é
considerada kitsch, ele se manifesta
também na forma de produtos
“utilitários” com adornos sexuais,
como bules com bico em forma de
pênis, pias em forma de vulva,
almofadas em forma de seios,
calcinhas comestíveis, camisetas
com estampas de sexo e palavrões,
havendo mercado para todo esse
aparato relacionado ao imaginário
sexual.
KITSCH E EROTISMO
A proliferação de reproduções bara-
tas de virtualmente tudo tem um
grande apelo econômico para a po-
pulação desfavorecida, sendo limita-
do apenas pelas possibilidades e
disponibilidades do mercado.
Os produtos ganham em afetividade
mais que em seu valor próprio e prá-
tico, desenvolve-se o dever inconsci-
ente do consumo de objetos que os-
tentam um falso glamour.
KITSCH E SOCIEDADE
A hierarquia de valores é estabeleci-
da somente pela demanda, em répli-
cas tiradas em série em materiais
comuns como gesso, plástico, resi-
na, cerâmica, impressão gráfica, de
obras que em sua origem eram res-
paldadas pela qualidade, preciosi-
dade e raridade, que não poderiam
ser imitadas por seu caráter único.
KITSCH E SOCIEDADE
A maioria das pessoas não pode se
dar ao luxo de adquirir uma obra de
arte ou se dirigir a um grande museu
para vê-la, então é muito mais fácil
comprar uma estatueta imitando a
obra de um escultor famoso para
colocar numa prateleira na sala,
onde ela poderá ser contemplada
diariamente com todo o conforto.
KITSCH E SOCIEDADE
Artistas ligados a mídia criam per-
sonagens de grande apelo popu-
lar interpretando músicas de gosto
duvidoso, jurados exóticos, humo-
ristas caricatos.
Não preocupados com o rotulo de
“bregas” alguns seguem sua car-
reira enquanto a formula do su-
cesso imediato não entediar a
grande platéia.
KITSCH E SOCIEDADE
Milan Kundera (escritor tcheco)
afirma que:
"Ninguém é super-homem o bastan-
te para escapar completamente ao
kitsch... Não importa o quanto o
desprezemos, ele é uma parte
integral da condição humana".
KITSCH E SOCIEDADE
FINISH – POR ENQUANTO!
KITSCH
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BELL, Julian. Uma Nova História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
FARTHING, Stephen. Tudo Sobre Arte. Rio de Janeiro: Editora Sextante,
2011.
GRAHAM, Andrew. O Guia Visual Definitivo da Arte: da Pré História ao
Século XXI. São Paulo: Publifolha,2011.
JANSON, H.W.; Anthony E. Iniciação à História da Arte. 3ª ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2009.
MACKENZIE, Mairi. Ismos para Entender a Arte. São Paulo: Editora Globo,
2010.
PAREYSON, Luigi. Os Problemas da Estética. São Paulo: Martins Fontes,
2011.
Visite: https://www.facebook.com/art.connect.people/

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Arte, Kitsch e a cultura de massa

  • 1. ESTÉTICA E HISTÓRIA DA ARTE PROF. ODAIR TUONO KITSCH ARTE POPULAR VERSUS ARTE ERUDITA
  • 2. Termo de origem alemã ligada à palavra verkitchen que significa “tra- pacear” ou “vender uma coisa no lugar da outra”. Nos estudos de estética o Kitsch esta relacionado a uma categoria de objetos considerados de mau gosto, vulgares, baratos, sentimentais, que copiam referências da cultura erudita sem critério ou nível de qualidade de seus modelos, destinados ao consu- mo de massa. KITSCH
  • 3. Kitsch é um fenômeno derivado dos avanços na industrialização e tecno- logia, ascensão da classe média, da crescente urbanização, afluxo em massa dos camponeses às cidades, da dissolução das culturas tradicio- nais e dos folclores, da maior educa- ção do proletariado, maior tempo para o lazer e do surgimento da cha- mada cultura de massa enfatizada por Theodor Adorno (filosofo ale- mão). KITSCH
  • 4. Entretanto, o kitsch é um fenômeno de largo alcance, movimentando uma indústria milionária e para gran- de número de pessoas constitui mais do que uma simples questão de gosto, todo um modo de vida, tendo para este público todos os atributos da legitimidade. O público consumidor dos objetos Kitsch pode contextualizá-los com nível de "profundidade", "valor artís- tico", "importância" ou "emoção". KITSCH
  • 5. Características: falsificação de ma- teriais (madeira pintada como már- more, objetos de zinco dourados co- mo bronze, aparentando algo no- bre); preferência pela cópia de modelos eruditos; distorções em relação ao modelo original; uso de cores vivas ou combinações exóti- cas; tendência ao exagero e senti- mental; funcionalidade deslocada ou minimizada pela ênfase no elemento decorativo; tradução de um código complexo para um mais simples. Instituto Itaú Cultural (São Paulo) KITSCH
  • 6. O essencial ao conceito do kitsch é sua carga emotiva, ele precisa ser narrativo e facilmente compreensí- vel. Objetos kitsch desencadeiam uma resposta emocional automática e irrefletida no observador. Gatinhos de porcelana, bonecos de pelúcia, anões de jardim, paisagens tropicais estereotipadas, representa- ções de mães com bebês ou de crianças chorando, postais de vilas nevadas, essas imagens recorrentes no mundo kitsch são descritas como belas, simpáticas, doces. KITSCH
  • 7. Francis Frascina (critico americano) "O kitsch não se confinou às cidades onde nasceu, sendo um produto da in- dustrialização ocidental, saiu em uma turnê triunfante ao redor do mundo, desfigurando culturas nativas e folclóri- cas. Chineses, índios, hindus, polinésios, preferem capas de revista, estampas em série e garotas de calendário aos produtos de sua arte nativa. Como esta atração irresistível pode ser explicada? O kitsch é mais barato do que um arte- fato feito à mão, porque tudo pode ser copiado de forma mais barata". KITSCH Calendário Pirelli 2010, Terry Richardson
  • 8. Segundo Walter Benjamin (filósofo alemão) Kitsch era uma abordagem que dis- solvia a distinção entre arte e objeto utilitário, tendo características que anulavam o distanciamento respeito- so invocado pela arte e favoreciam um senso de intimidade sentimental, apelando para a gratificação imedia- ta do público e para o consumo fácil, sem exigir um esforço de elaboração intelectual a respeito do objeto. KITSCH E ARTE
  • 9. Alexis de Tocqueville (historiador francês) A democracia moderna impôs um re- baixamento estético nos critérios de produção, o número de consumido- res aumentou, mas a elite culta dimi- nuiu. Artistas e artesãos se viram compelidos a produzir com rapidez uma grande quantidade de bens im- perfeitos, onde a imitação e a falsifi- cação assumiam um novo significa- do: "Já incapazes de se elevar ao que é grande, os artistas cultivam a aparência que atrai mais do que realidade...” KITSCH E ARTE
  • 10. A qualidade deturpada da arte foi notada por outros escritores nos últi- mos dois séculos, atribuída em gran- de parte ao desejo da classe média pela ostentação e cultura que ela não possuía, sendo de um lado inca- paz de adquirir arte de qualidade elevada e de outro inábil para distin- gui-la da arte de má qualidade (apu- ramento estético e social). No entan- to, parece existir um elemento legiti- mador em termos humanos, o de tentar uma aproximação a um mun- do melhor e bem-aventurado. KITSCH E ARTE
  • 11. Hermann Broch (escritor austríaco) considerou o kitsch como um filho do Romantismo, compartilhando com ele traços como sentimentalismo e amor ao drama e ao exagero, e defi- nindo beleza como uma característi- ca intrínseca ao objeto. Mesmo que algo como o kitsch pos- sa de fato ter existido antes do sécu- lo XIX, foi a partir deste período que ele passou a assumir um papel de destaque no mundo da cultura. KITSCH E ARTE Detalhe da obra de Caspar David Friedrich
  • 12. Romantismo movimento firmado entre o final século XVII e meados do XVIII, valendo se da imaginação individual e a criatividade sem amarras do artista. O artista solitário vivência o mundo de uma forma particular enfatizando as emoções e a força da natureza na bus- ca pelo sublime. As obras retratam o desafio do ho- mem frente a realidade interior e exte- rior que o apaixona e assombra ao mesmo tempo. KITSCH E ARTE Caminhando sobre um mar de nuvens, 1818. Caspar David Friedrich, AL.
  • 13. A Balsa da Medusa, 1819. Theodore Géricault. Louvre, FR. Vapor numa tempestade de neve, 1842. William Turner. LDN. KITSCH E ARTE
  • 14. Matei Calinescu (crítico romeno) assinalou que o kitsch pode apare- cer somente na dependência de contextos específicos, sem que seus objetos constituintes o sejam, reme- tendo ao princípio de inadequação estética como característica do kits- ch e dando como exemplo hipotético a instalação de um autêntico quadro de Rembrandt no elevador de uma residência milionária. KITSCH E ARTE O rapto de Perséfone, Rembrandt.
  • 15. A arte de vanguarda no século XX pri- mou pelo uso de uma enorme varie- dade de procedimentos heterodoxos (não tradicionais) no intuito de derrubar todas as tradições e questionar as bases da própria arte, emprestando-os diretamente do kitsch por suas virtudes irônicas e iconoclastas (desrespeito as tradições). Neste processo a produção da arte acadêmica, se tornou sinônimo de kitsch, acusada de artificial, previsí- vel, estereotipada, banal, sentimental, mercantilista e insensível às demandas da nova sociedade. KITSCH E ARTE O Amor Observando (1890) William Adolphe Bouguereau
  • 16. Dadaísmo foi um movimento van- guardista criado em Zurique (1916), por iniciativa de artistas descrentes da sociedade que a consideravam responsável pelos estragos da I Grande Guerra. A proposta era a ruptura de qualquer valor ou princí- pio com as artes tradicionais. O dadaísmo foi um movimento com grande quantidade de conteúdo anárquico, além de um forte debo- che a burguesia. O nome do movi- mento deriva de um termo infantil: dadá, que é brinquedo, cavalo de pau. Marcel Duchamp.O Violino, Man Ray - Ingres KITSCH E ARTE
  • 17. Surrealismo foi um movimento ar- tístico e literário nascido em Paris (1920), reunido artistas anteriormen- te ligados ao Dadaísmo. Fortemente influenciado pelas teo- rias psicanalíticas de Sigmund Freud (1856-1939), o surrealismo enfatiza o papel do inconsciente na atividade criativa. O poeta e crítico André Breton (1896-1966) foi líder e mentor deste movimento. KITSCH E ARTE Telefone Lagosta, Salvador Dalí.Peras, s.r.Os Amantes, Rene Magrite.
  • 18. Quando a vanguarda afinal entrou na moda, o kitsch passou a ganhar um prestígio negativo entre os cír- culos intelectuais mais sofisticados. Então ele foi incorporado pela cultu- ra camp, onde o mau gosto era culti- vado deliberadamente como se fos- se um refinamento superior. Susan Sontag (crítica americana) cristali- zou esta filosofia na frase "é belo porque é feio", que veio a se tornar uma corrente de grande peso na cul- tura norte americana do pós-guerra. KITSCH E ARTE
  • 19. Cultura Camp é um termo utilizado para se referir aos adoradores de produtos culturais que são atraentes devido ao seu mau gosto e valor irô- nico. O conceito de camp é estreitamente ligado ao kitsch, e as coisas camp são geralmente referidas como sen- do "campy" ou "cheesy" (bregas). Quando o termo apareceu pela pri- meira vez, em 1909, denotava osten- tação, exagero, afetação, teatralida- de e comportamento efeminado. KITSCH E ARTE
  • 20. O cinema camp foi popularizado por cineastas como George e Mike Kuchar, Ed Wood e John Waters, principalmente por Pink Flamingos, Hairspray e Cry Baby do último. Celebridades associadas com a cultura camp incluem drag queens como Dame Edna Everage, Divine, RuPaul e Liberace. A cultura camp foi adotada como parte da defesa anti-acadêmica da cultura popular na década de 1960. KITSCH E ARTE
  • 21. KITSCH E ARTE Arte Pop também tomou o kitsch como referência importante, num pe- ríodo em que a massificação da cul- tura começava a se tornar um fenô- meno global. Vários artistas desta escola, como Andy Warhol, Roy Liechtenstein e Richard Hamilton, incorporaram, como crítica social ou como humor, ícones populares em suas obras, tais como fragmentos de história em quadrinhos e imagens de astros do cinema, contribuindo para tornar a arte culta mais acessível.
  • 22. Andy Warhol (1928 -1987, EUA) No final dos anos de 1950, já utilizava em suas obras motivos oriundos da pu- blicidade. Nos anos de 1960, escolheu como tema artigos de consumo; ídolos populares e imagens da história da ar- te, reproduzindo-as em série com varia- ções cromáticas. Produziu filmes underground em seu ateliê nova iorquino, onde trabalhava com amigos e colaboradores. A partir de 1970, empreendeu diversas experi- ências multimídia com o grupo de rock Velvet Underground. Baseando-se no dadaísmo, Warhol desenvolveu novas formas de integração entre os conceitos plásticos e a realidade. KITSCH E ARTE
  • 23. Roy Liechtenstein (1923 -1997, EUA) Trabalhou como desenhista, vitrinista e professor de arte. Em 1956 realizou a litografia de uma nota de dólar que se tornou o protótipo da Arte Pop. Desen- volveu nos anos 60 a imagem que o tor- nou conhecido: motivos da publicidade e da sociedade de consumo, fazendo uma crítica irônica ao capitalismo. Um de seus temas preferidos foi à guerra. Lichtenstein usou a história em quadrinhos, simplificou os contornos e escolheu para superfícies azul, vermelho e amarelo. Na década de 70, recriou mo- tivos e estilos inspirados na história da arte para forçar uma nova perspectiva. KITSCH E ARTE
  • 24. Richard Hamilton (1922 – 2011, ING) Designer, Ilustrador, curador, Profes- sor, Pintor. Hamilton proclamou seu “Entusiasmo por uma relação relaxa- da com a arte, em oposição à séria tradição cultural da Europa“. Assim, suas obras apresentam vários pontos de conexão com o cotidiano. Hamilton toma emprestadas imagens do dia-a-dia, para através delas refletir fenômenos sociais. “Onde está a fronteira que separa produto e obra de arte?”. Tão numerosos quanto as refe- rências são os materiais empregados pelo artista. KITSCH E ARTE
  • 25. Nelson Leiner (1932, BR) Estudou engenharia têxtil nos EUA (1947 e 1952). Fundou o Grupo Rex (1966) com outros artistas. Em 1967, realiza a Exposição-Não-Exposição, happening de encerramento do gru- po. Envia ao 4º Salão de Arte Mo- derna de Brasília um porco empalha- do. Em 1974, expõe a série A Rebe- lião dos Animais, trabalhos que criti- cavam duramente o regime militar. De 1977 a 1997 lecionou na FAAP, paralelamente continuou sua produ- ção tendo o humor e contestação com base conceitual. KITSCH E ARTE
  • 26. Romero Brito (1963, BR) O artista começou seu interesse pelas artes na infância, usava sucatas e pa- pelões de jornal. Eram tempos de po- breza e limitações em Recife. Foi influenciado pela estética cubista, seu estilo vibrante e alegre, com cores vibrantes fez com que sua obra tivesse forte ligação com a publicidade. Alcançou admiradores entre as celebri- dades Schwarzenegger, Madonna, Bill Clinton entre outros. Romero Britto foi homenageado pela escola de samba carioca Renascer no desfile de 2012. KITSCH E ARTE
  • 27. Devido a grande expansão nos vare- jos e a consolidação da "estética das redes de supermercado", onde pri- mam o princípio da uniformidade e o da obsolescência dos bens de com- sumo, estimulada pela criação de necessidades artificiais e pela intro- dução de processos de extinção pro- gramada daqueles bens. Entra em cena um elemento lúdico, populari- zam-se o plástico e os gadgets,, e o discurso oficial ostenta "conforto e felicidade para todos". KITSCH E ARTE Objetos de desejo. Adrian Forty
  • 28. Esgotando-se as vanguardas moder- nistas, que haviam assumido a res- ponsabilidade de destruir a tradição, consolidou-se a partir dos anos 80 a pós-modernidade, desenvolvendo uma ampla, flexível e pluralista revisão do passado artístico da sociedade ociden- tal e questionando se toda aquela des- truição teria valido a pena. Aqui o fenômeno kitsch adquiriu foro de verda- de artística, o que para os modernos era mau gosto e tradição foi rein- corporado como citação positiva. KITSCH E ARTE Biscuit Porcelana Francesa, Século XIX.
  • 29. A situação se tornou tão complexa ao ponto que os limites da arte se tornaram atualmente fluidos e vagos ficando extremamente difícil o jul- gamento crítico mesmo para os peri- tos no assunto. Assim como o kitsch sempre dependeu da referência cul- ta, a sua apropriação pela cultura erudita continua sendo uma tendên- cia forte, a exemplo da influente obra de artistas como Jeff Koons, Damien Hirst, Mariko Mori, que transformam-no em vanguarda esté- tica. KITSCH E ARTE
  • 30. Jeff Koons (1955, EUA) Artista conceitual que utiliza várias ide- ias e materiais para concepção de suas obras, transformando o que é kitsch em obra de arte. Nessa diversidade estão: Puppy cachorro formado por flores (16 m), Brancusi coelho de plástico es- pelhado, imitando aço inoxidável, Objetos de Porcelana - ícones popul- ares (Michael Jackson, Pantera cor-de- rosa). “Made in Heaven” – série de fotos gigantes dele mantendo relações sexuais com a atriz-pornô Cicciolina. KITSCH E ARTE Puppy, Jeff Koons. Bilbao, ESP. Pink Panther.“Made in Heaven”
  • 31. Damien Hirst (1965, ING) Durante os anos 90 constituiu-se co- mo líder dos “Young Britsh Artists” – YBAs. A morte é o tema central de suas criações, evidenciadas na série Na- tural History (animais fatiados e com- servados em formol). Em 2007 vem- deu por 100 milhões de dólares sua obra Pelo Amor de Deus – um crânio com 8 mil diamantes incrustados. KITSCH E ARTE
  • 32. Mariko Mori (1967, JP) Iniciou sua carreira como designer e modelo. Em suas instalações inclui ví- deos, fotografias, performance, moda, tecnologia e desenhos inspirados na arte e religião do oriente e ocidente, utilizando até sua imagem como mo- delo. De forma fantástica e as vezes ingê- nua Mori procura conciliar em seus trabalhos o espírito com a ciência. KITSCH E ARTE UFO, Mariko MoriOneness, Mariko Mori. Link of the Moon, Mariko Mori
  • 33. Ao contrário da arte contemporânea, que pretende a subversão do siste- ma criando novos parâmetros cultu- rais, perceptivos e ideológicos, o objetivo do kitsch não é criar novas expectativas, nem desafiar o status quo, mas sim agradar ao maior nú- mero de pessoas, explorando impul- sos humanos básicos relativos à família, à raça, à nação, ao amor, às crenças religiosas, às posições polí- ticas, podendo tornar-se um estilo de vida. KITSCH E ARTE
  • 34. Para Abraham Moles (crítico fran- cês), o kitsch é "a arte da felici- dade". Outra faceta disso é a infantilização do imaginário popular, com exem- plos óbvios na estética da Disneylân- dia e na proliferação dos cartoons japoneses (animes e mangas), am- bos dinamizando mercados riquíssi- mos. KITSCH E ARTE
  • 35. Bert Olivier (filosofo americano) en- tendeu que a cultura contemporânea é seduzida pelo kitsch, saturada de imagens e virtualidade, onipresente nos produtos "viciantes" como litera- tura cor de rosa, séries ou novelas açucaradas, subprodutos de Holly- wood e videogames excitantes, que oferecem intensidade emocional na ausência de objetos reais, eliminan- do a necessidade do observador identificar os opressores no mundo real, funcionando como uma catarse vicarial. KITSCH E ARTE Barbara CartlandBatman & Robin, Anos 60Devil may cry, Game.
  • 36. Roger Scruton (filosofo inglês) Considerou o kitsch sinal de uma deficiência emocional, uma estética cruel que "transforma o ser humano em uma boneca, que num momento cobrimos de beijos e no outro despe- daçamos". Porém, ignorando as censuras, tor- nou-se um fenômeno global e um gigantesco sucesso comercial, e neste ponto está em grande vanta- gem em relação à arte culta. KITSCH E ARTE
  • 37. A influência do kitsch é tão pene- trante porque ele anda paralelo ao processo moderno de educação das massas, presente em escolas e na propaganda na forma de simbologias e iconografias a respeito da pátria, família, moralidade, criando uma consciência coletiva alienada da realidade, sendo notórios os casos das campanhas de Hitler, Stalin e Franco que usaram sua estética para alcançar objetivos totalitários. KITSCH E IDEOLOGIA We Can Do It! – J. Howard Miller
  • 38. Catherine Lugg (escritora america- na) “O kitsch é uma poderosa cons- trução cultural planejada para colo- nizar a consciência do receptor. Como tal, o kitsch é a bela mentira. Ele conforta o receptor através da exploração de mitos culturais e de um simbolismo rapidamente compre- ensível, nunca desafia nem subverte a ordem social maior, porque ele deve pacificar, e não provocar". KITSCH E IDEOLOGIA
  • 39. Campanhas eleitorais, que se valem de símbolos patrióticos, imagens do povo sofrido, oradores carismáticos, slogans e jingles sedutores, promes- sas que nunca serão cumpridas e profecias sobre uma brilhante utopia social, bombardeando o público atra- vés de propaganda em veículos de comunicação contribuindo para a manipulação da opinião pública mi- nando o exercício da cidadania consciente. Neste sentido, o kitsch equivale a um instrumento de lava- gem cerebral e à política do pão e circo. KITSCH E IDEOLOGIA
  • 40. A modernidade exauriu os mitos reli- giosos que perderam apelo popular, ao mesmo tempo em que as mudanças da sociedade desencade- aram o nascimento de um senti- mento de ansiedade diante da muta- bilidade das coisas e da instabilidade das tradições. O kitsch serve como um sedativo para as dores do mundo, e o imagi- nário cristão transborda de represen- tações adocicadas da promessa de recompensa pós-morte. KITSCH E RELIGIOSIDADE
  • 41. Entretanto, a análise do kitsch em relação à arte sacra é delicada e dependente de uma ampla varieda- de de determinantes, há quem consi- dere a qualidade da arte, no que to- ca à religião, um assunto de menor relevância, levando em conta os objetivos espirituais legítimos que ela almeja. Mesmo quando cristãos admitem que a arte que preferem contemplar é kitsch, encontram ra- zões teológicas ou humanísticas pa- ra defendê-la, minimizando assim a questão estética. KITSCH E RELIGIOSIDADE O triunfo da Providência, CortonaSão Sebastião, Relicário Kitsch
  • 42. David Morgan (historiador america- no) Declara que a legitimidade de senti- mentos como doçura, amor e ternu- ra, centrais na religiosidade popular, é fator indispensável para a compre- ensão do fenômeno kitsch na esfera da arte sacra associada também a prática de devoção, oração, cultivo de tradições antigas que entrelaçam um todo complexo, organizado e coerente. KITSCH E RELIGIOSIDADE
  • 43. Na Tailândia recentemente foi criada uma imagem gigante do Buda com o aspecto de um super-homem, que- brando uma arraigada tradição ico- nográfica, o que desencadeou uma grande polêmica a respeito da irre- verência do artista. O governo che- gou a recomendar que ela fosse destruída. KITSCH E RELIGIOSIDADE
  • 44. No Japão, Sri Lanka e China nova- mente o budismo, bem como outras tradições imemoriais, vêm sofrendo uma massificação devido à popula- rização vulgar dos mitos, cresci- mento de interesse pelo turismo e uma banalização da espiritualidade através do aparecimento de artigos, artes e práticas pseudo-religiosos como roupas íntimas zen, músicas, estátuas, incensos afrodisíacos, te- rapias alternativas e outros produtos de apelo exclusivamente comercial. KITSCH E RELIGIOSIDADE
  • 45. Fenômenos semelhantes são obser- vados no hinduísmo contemporâneo, devido a produção de legiões de simpáticos Ganeshas e doces Krish- nas com circulação no oriente e ocidente, desvirtuando ao mesmo tempo as tradições musicais, icono- gráficas e literárias, transformando templos seculares em locais de entretenimento e transportando ima- gens sagradas para as histórias em quadrinhos, brinquedos e outros ob- jetos de consumo de massa. KITSCH E RELIGIOSIDADE
  • 46. A popularização do ícone religioso pode desvirtuar o verdadeiro sentido da devoção e culto ao sagrado, bar- reiras estabelecidas se rompem de uma forma inconsciente pelo desejo da idolatria ou ornamentação reves- tida nos objetos kitsch com caracte- rísticas e figuração espiritual. KITSCH E RELIGIOSIDADE
  • 48. Karsten Harries (professor america- no) "O anseio pelo kitsch surge quando a emoção genuína se torna rara, quando o desejo adormece e precisa de estímulo artificial, sendo uma res- posta ao tédio. Assim como o kitsch religioso busca despertar a emoção religiosa sem um encontro com Deus, o kitsch erótico busca dar sen- sações de amor sem a presença do outro amado. O kitsch cria uma ilu- são com o objetivo de dar prazer in- dividual". KITSCH E EROTISMO
  • 49. Permanece a ideia de que o kitsch erótico aparece quando o confronto com o outro é evitado, eliminando a possibilidade do conflito. A transformação do erotismo em objeto kitsch também é clara na pornografia em sua versão soft-core, presente no cinema, televisão, inter- net, publicidade, artes plásticas e mí- dias impressas, oferecendo a visuali- zação de corpos de homens e um- lheres que seduzem em atmosferas romantizadas, fantasiosas e às vezes "inocentemente" infantilizadas, mas sempre picantes. KITSCH E EROTISMO
  • 50. Esta abordagem cultiva o voyeuris- mo e suaviza qualquer possível cul- pa pelo desfrute do corpo alheio sem sua presença física ou seu consenti- mento explícito. Como disse Ugo Volli (professor italiano de semiolo- gia), "no momento em que o homem transforma o sexo em um objeto es- tético ou científico já não existe razão para envergonhar-se dele", no que concorda Thorsten Botz- Bornstein (filosofo alemão) ao afir- mar “a pornografia como arte é ino- cente porque se torna pornokitsch". KITSCH E EROTISMO
  • 51. A publicidade contemporânea, usa a imagem de forma erótica da mulher e do homem como atrativo para ven- der qualquer tipo de coisa, evidenci- ando uma tendência à exploração e manipulação do ser humano para fins comerciais. Herman Bruce (pro- fessor americano) acredita que o kitsch também é aparente na atual "cultura do corpo", com suas manias por dietas, cirurgias plásticas, aca- demias de ginástica, cosméticos, criando um universo imagético que apresenta modelos estereotipados como ideal de beleza. KITSCH E EROTISMO
  • 52. Nem só a pornografia soft-core é considerada kitsch, ele se manifesta também na forma de produtos “utilitários” com adornos sexuais, como bules com bico em forma de pênis, pias em forma de vulva, almofadas em forma de seios, calcinhas comestíveis, camisetas com estampas de sexo e palavrões, havendo mercado para todo esse aparato relacionado ao imaginário sexual. KITSCH E EROTISMO
  • 53. A proliferação de reproduções bara- tas de virtualmente tudo tem um grande apelo econômico para a po- pulação desfavorecida, sendo limita- do apenas pelas possibilidades e disponibilidades do mercado. Os produtos ganham em afetividade mais que em seu valor próprio e prá- tico, desenvolve-se o dever inconsci- ente do consumo de objetos que os- tentam um falso glamour. KITSCH E SOCIEDADE
  • 54. A hierarquia de valores é estabeleci- da somente pela demanda, em répli- cas tiradas em série em materiais comuns como gesso, plástico, resi- na, cerâmica, impressão gráfica, de obras que em sua origem eram res- paldadas pela qualidade, preciosi- dade e raridade, que não poderiam ser imitadas por seu caráter único. KITSCH E SOCIEDADE
  • 55. A maioria das pessoas não pode se dar ao luxo de adquirir uma obra de arte ou se dirigir a um grande museu para vê-la, então é muito mais fácil comprar uma estatueta imitando a obra de um escultor famoso para colocar numa prateleira na sala, onde ela poderá ser contemplada diariamente com todo o conforto. KITSCH E SOCIEDADE
  • 56. Artistas ligados a mídia criam per- sonagens de grande apelo popu- lar interpretando músicas de gosto duvidoso, jurados exóticos, humo- ristas caricatos. Não preocupados com o rotulo de “bregas” alguns seguem sua car- reira enquanto a formula do su- cesso imediato não entediar a grande platéia. KITSCH E SOCIEDADE
  • 57. Milan Kundera (escritor tcheco) afirma que: "Ninguém é super-homem o bastan- te para escapar completamente ao kitsch... Não importa o quanto o desprezemos, ele é uma parte integral da condição humana". KITSCH E SOCIEDADE
  • 58. FINISH – POR ENQUANTO! KITSCH
  • 59. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BELL, Julian. Uma Nova História da Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2008. FARTHING, Stephen. Tudo Sobre Arte. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2011. GRAHAM, Andrew. O Guia Visual Definitivo da Arte: da Pré História ao Século XXI. São Paulo: Publifolha,2011. JANSON, H.W.; Anthony E. Iniciação à História da Arte. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009. MACKENZIE, Mairi. Ismos para Entender a Arte. São Paulo: Editora Globo, 2010. PAREYSON, Luigi. Os Problemas da Estética. São Paulo: Martins Fontes, 2011. Visite: https://www.facebook.com/art.connect.people/