O documento descreve os problemas enfrentados em Salvador e na Bahia, incluindo transporte público precário, greves de professores que afetam a educação, falta de estrutura para a cultura e lazer, e um sentimento geral de letargia na cidade.
1. Bahia: Mais do Mesmo a Pior
Sabemos da notoriedade que Salvador desfruta da opinião pública
(leia-se turistas) no que diz respeito aos seus “cantos, encantos e
axé”. Vislumbra pelo sincretismo religioso, pela batida dos atabaques,
pelas baianas de acarajé, pelo carnaval (ah, “o baiano é
carnavaaaal!”), pelo gingado e pelo berimbau. E só! Entretanto, quem
de fato identifica as deficiências que a cidade - primeira capital do
país - carrega, é o povo soteropolitano. Esse sim é ciente de que o
período que estamos passando é de total descrença no que se vê e se
escuta. Mas até quando?
Enumerar os dissabores, mais gritantes, pelos quais vivenciamos
cotidianamente é tarefa fácil, chegando a ser trágico ver o quanto a
Bahia padece.
TRANSPORTE PÚBLICO
O metrô arrasta-se para conclusão da obra por nada menos do que
12 anos. Devido ao tempo, quem não conhece, caberia pensar que
certamente trata-se de uma obra faraônica, que abrangerá toda a
cidade e que passaremos a ter o melhor serviço de transporte público
do país. Mas, pelo contrário, são somente 6 km regados a muito
superfaturamento e imprevisão.
Sofremos à poucos dias com a greve dos rodoviários (4 dias). Suas
reivindicações foram em parte atendidas - reajuste de 7,5%, bem
aceitos -, porém o soteropolitano sofreu duplamente. Primeiro pelo
transtorno e segundo pelo reajuste da tarifa de 12% - agora R$ 2,80
- realizada estrategicamente na última sexta, à tarde, a fim de evitar
a “revolta do buzu”. Com o reajuste, compensará o aumento dado
aos rodoviários. Acreditem: os ônibus são de péssimo estado de
conservação, sistema desorganizado, frota insuficiente à demanda,
terminais enferrujados, enfim, descaso total. E para espanto,
Salvador poderá ter a primeira, digo a primeira, licitação para
regulamentação do transporte público. Há mais de 50 anos, que se
tenta, mas não consegue devido à reticência dos empresários. Uma
vergonha!
EDUCAÇÃO
54 dias. Sim, é o tempo pelo qual os professores da rede estadual
estão em greve. Aguardam com afinco a retomada das negociações
para selar o aumento de 22,22% que fora acordado com o governo
do Estado. Se o caso já era grave, acrescente ao grupo de
reivindicação os professores das escolas particulares de Salvador. Em
greve há mais de uma semana. E, apesar de ser um movimento
nacional, a Universidade Federal também está em greve. A educação
já não é o ponto forte, imagina agora. Todos os alunos de férias
forçadas. Triste Bahia!
2. Se não bastasse a greve dos rodoviários e professores, por efeito
cascata, outros setores da sociedade baiana e soteropolitana
aproveitaram para se manifestar (com total razão). Os comerciantes
da Baixa dos Sapateiros realizaram passeata, fecharam as lojas,
colocaram barricadas nas avenidas, como medida de chamar a
atenção dos governantes e verem a situação pela qual sofrem. Foi,
em décadas passadas, um dos principais centros comerciais da
cidade. Hoje, é uma avenida negligenciada sob todos os aspectos. O
principal motivo da manifestação foi o fato de que os ônibus não
passarão mais pela avenida. Ou seja, aniquilará de vez o movimento
das lojas!
CULTURA
Escritores e artistas de outrora ficam marcados em nossas memórias.
Tempo que não volta mais. Servem para nos referenciar perante o
mundo, mas que na prática estamos esfalecendo. Digo isso porque
não se faz mais Caetanos, Amados, Ubaldos, Caymmis e Betânias
como antes. Período áureo que nos fez um Estado parâmetro de
mentes brilhantes. E hoje? Pelo contrário, acostumamos a ouvir e
idolatrar Parangolés e Psiricos. À medida que o tempo passou,
obtivemos um retrocesso e uma inversão de valores culturais na
nossa querida Salvador (claro que com resquícias exceções), pois o
conteúdo, aquele texto, música ou poesia bem elaborada, passa a ser
renegados. A dinâmica cultural de hoje é: O povo se habituou a
comprar o simples e descomplicado. Então, qualquer coisa é fácil de
ser vendido (ex. “sou eu negro lindo, sou eu, sou eu”). O que importa
é o lucro.
Salvador carece de boas casas de shows - porque tudo que se tem
aqui é desorganizado e, principalmente, improvisado! Parando para
refletir: qual o artista de renome desembarcou em nossa capital para
uma apresentação? Poderiam responder Beyonce. ok! Mas, e artistas
como Paul McCartney, Elton John, U2, Madonna...? Não veem por
falta de estrutura e expressão da nossa cidade. Infelizmente, essa é a
mais pura verdade.
Portanto, teremos de nos contentar com Batifun, Claudia Leite,
Estakazero. Não desmereço os mesmos, mas estamos de fato nos
nivelando muito por baixo!!
Nem tudo é tristeza, pois temos uma das mais importantes escolas
de teatro do Brasil (da UFBA). Pelo menos sob esse aspecto estamos
exportando muito bem, é verdade.
LAZER
Qual o local de lazer dos soteropolitanos? O shopping. Vergonhoso,
porque não temos parques estruturados para as crianças brincar e se
divertir ao ar livre. Condicionaram-se a contentar com visitas a lojas
e praças de alimentação. Esse não é o caminho certo e coerente.
Cidades como Curitiba, Recife, Rio de Janeiro, têm praças e parques
3. organizados e que despertam o interesse da população. Já em
Salvador, temos os parques da Cidade, Pituaçu, porém abandonados
e inseguros. De fato, nos resta tão somente visitar shoppings centers.
Que fique claro o amor que tenho pela Bahia e por Salvador. Sou um
soteropolitano que luto pela melhoria da minha cidade e do meu
Estado. Mas, como se diz: “Roupa suja se lava em casa”. Porque
diante das circunstâncias, fico cético em acreditar que é possível,
apesar de ter latente esse sentimento.
O estado de letargia que vive nossa cidade é motivo de vergonha!
Precisamos de medidas enérgicas e perceptíveis para fazer desse
povo um povo mais feliz.
Sei também dos avanços alcançados, o que é natural com o
desenvolvimento e a impulsão do país, todavia ainda é muito, mas
muito pouco para um estado como a Bahia.
Temos de resgatar a cidadania e esperança desse povo baiano,
“sagrado e profano!”.
Tiago Fonseca Nunes
E-mail: tiagofonsecanunes@gmail.com