SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  3
Télécharger pour lire hors ligne
Terras Indígenas no Brasil: um direito constitucional
Por Vanessa Caldeira
O princípio do direito indígena ao seu território, embora
sistematicamente desrespeitado, está na lei desde pelo menos a Carta Régia
de 30 de julho de 1609. No entanto, de acordo com a antropóloga Manuela
Carneiro da Cunha, esse direito foi histórica e recorrentemente burlado e a
principal forma encontrada para tal desrespeito foi a negação da identidade
indígena desses povos (Carneiro da Cunha,1995: 134).
No entanto, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu um avanço
significativo no que diz respeito aos direitos indígenas. Foi apenas através
desse marco jurídico que o Estado brasileiro passou a reconhecer aos povos
indígenas o direito de serem quem são.
De acordo com o artigo 231 do Capítulo VIII da referida Constituição, o
Estado brasileiro reconhece aos povos indígenas sua organização social,
costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as
terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las,
proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), a Constituição de
1988 consagrou o princípio de que os povos indígenas são os primeiros
habitantes desse território, sendo então o seu direito à terra, um direito
primário, anterior a qualquer outro.
Estima-se que no século XVI existiam no Brasil entre 2 e 4 milhões de
indígenas pertencentes a mais de 1.000 diferentes povos. Nesse contexto,
estima-se também que a densidade demográfica da várzea amazônica na
época era comparável à da península ibérica: 14,6 habitantes por km2
na
primeira (de acordo com Denevan, 1976:230), contra 17 habitantes por km2
em Espanha e Portugal (Braudel, 1972:42).
Atualmente, de acordo com o último censo do IBGE, realizado no ano
de 2010, aproximadamente 890 mil pessoas se autodeclaram indígenas,
perfazendo aproximadamente 0,4% da população total do país, pertencentes
a 305 etnias, falantes de 274 línguas.
De acordo com o painel de monitoramento do Instituto Socioambiental
(ISA) – De olho nas Terras Indígenas – atualmente no Brasil existem 696
terras indígenas demarcadas e 126 terras em processo de identificação.
A definição de terras indígenas ou de terras tradicionalmente
ocupadas por povos indígenas apresenta-se no primeiro parágrafo do já
citado artigo 231 da Constituição Federal e consiste em 4 critérios: a) aquelas
por eles habitadas em caráter permanente; b) aquelas utilizadas para suas
atividades produtivas; c) aquelas imprescindíveis à preservação dos recursos
ambientais e ao seu bem-estar; d) e aquelas necessárias à sua reprodução
física e cultural, de acordo com seus usos, costumes e tradições.
Para a identificação então de uma terra indígena no Brasil faz-se
necessário a conjugação desses quatro critérios constitucionais.
O processo de identificação e delimitação das terras indígenas é
regido pelo Decreto 1775 de 1996, expedido pelo Ministério da Justiça. Tal
decreto estabelece 7 fases para esse processo e que o ISA resume da
seguinte forma:
a) Estudos de Identificação, regido por Grupo Técnico (GT) nomeado pela
Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão vinculado ao Ministério da Justiça.
Tais estudos possuem prazo determinado para serem concluídos. O grupo
técnico deve ser coordenado por um(a) antropólogo(a), contar a colaboração
de profissional da área ambiental e sobretudo, garantir a participação do povo
indígena.
b) Aprovação da Funai do relatório de identificação: após concluído e entregue,
o Relatório de Identificação e Delimitação de Terra Indígena (RCID) deve ser
aprovado pelo presidente da Funai, que, no prazo de 15 dias, deve publicar
seu resumo no Diário Oficial da União e no Diário Oficial do estado em que a
referida terra foi identificada. Tal resumo deve ser ainda fixado na(s)
prefeitura(s) onde incide o território.
c) Contestações: após publicação do resumo do RCID, no prazo de 90 dias,
todo interessado, inclusive estados e municípios, poderá manifestar-se junto
à Funai contrário a tal relatório. Deve apresentar as razões, acompanhadas
de provas pertinentes no intuito de pleitear indenizações ou demonstrar vícios
existentes no relatório. Isso posto, a Funai terá o prazo de 60 dias para
elaborar pareceres e encaminhar o procedimento ao Ministro da Justiça.
d) Declaração dos limites da Terra Indígena: após receber o procedimento, o
Ministro da Justiça terá o prazo de 30 dias para avaliar e emitir um parecer,
que pode ser: i) publicar os limites da terra indígena em acordo com o RCID;
ii) solicitar diligências para complementações de informações no RCID; ou iii)
desaprovar o RCID, publicando decisão fundamentada.
e) Demarcação Física: declarados os limites da terra indígena (TI), a Funai
promove sua demarcação física (fixação de marcos nos limites da TI), e o
INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), em caráter
prioritário, realizará o assentamento de eventuais ocupantes não indígenas.
f) Homologação: o procedimento deve, por fim, ser submetido ao(à) Presidente
da República para homologação por decreto (confirmação, aprovação por ato
oficial).
g) Registro: a terra indígena demarcada e homologada, como um bem da
União, um bem público e não uma propriedade privada, deve ser, no prazo
de até 30 dias após a homologação, registrada no cartório de imóveis da
comarca correspondente, bem como na Secretaria de Patrimônio da União
(SPU).
Essas sete fases demonstram o quão complexo, rigoroso e extenso se
configuram os processos de demarcação de terras indígenas no país no
âmbito do poder executivo.
Pensar que demarcar uma terra indígena constitui tarefa simples ou
fácil, é um grande equívoco. Se pensarmos que somado ao trâmite executivo
há a histórica disputa fundiária dos tradicionais setores agrários de nosso
país, podemos minimamente dimensionar o quão moroso, sofrido e violento
ainda se constituem tais processos. Cada demanda indígena por
regularização de seu território tramita por anos, muitas vezes, por décadas no
executivo, e muitas vezes também no judiciário, até ser finalizado. Nesse
longo percurso, conflitos fundiários, ameaças e assassinatos de lideranças
são cometido.
A negação histórica ainda presente do direito dos povos indígenas aos
seus territórios tradicionais revela a permanência de uma postura colonialista
de dominação e expropriação territorial, que inauguramos ainda no século
XVI, quando europeus invadiram as Américas. Resta nos questionarmos até
quando manteremos tal postura.

Contenu connexe

Similaire à Terras indígenas no Brasil: um direito constitucional

A Evolução dos Direitos Indígenas e os Conflitos Pós Normativos.docx
A Evolução dos Direitos Indígenas e os Conflitos Pós Normativos.docxA Evolução dos Direitos Indígenas e os Conflitos Pós Normativos.docx
A Evolução dos Direitos Indígenas e os Conflitos Pós Normativos.docxJoseaneFerreira24
 
Aquisição e arrendamento de imóveis rurais por estrangeiros
Aquisição e arrendamento de imóveis rurais por estrangeirosAquisição e arrendamento de imóveis rurais por estrangeiros
Aquisição e arrendamento de imóveis rurais por estrangeirosIRIB
 
Projeto de Lei de iniciativa Popular sobre o Território Pesqueiro
Projeto de Lei de iniciativa Popular sobre o Território PesqueiroProjeto de Lei de iniciativa Popular sobre o Território Pesqueiro
Projeto de Lei de iniciativa Popular sobre o Território PesqueiroMª Arméle Dornelas
 
Cartilha: Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre Território Pesqueiro
Cartilha: Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre Território PesqueiroCartilha: Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre Território Pesqueiro
Cartilha: Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre Território Pesqueirocppcomunicacao
 
Os direitos constitucionais dos povos indígenas
Os direitos constitucionais dos povos indígenasOs direitos constitucionais dos povos indígenas
Os direitos constitucionais dos povos indígenasPOTYRA TE TUPINAMBÁ
 
Dir. constitucional direito social compressed (1)
Dir. constitucional   direito social compressed (1)Dir. constitucional   direito social compressed (1)
Dir. constitucional direito social compressed (1)Alexandre Bento
 
Direito ambiental reta final
Direito ambiental   reta finalDireito ambiental   reta final
Direito ambiental reta finaledgardrey
 
Reta final direito ambiental
Reta final direito ambientalReta final direito ambiental
Reta final direito ambientalAntonio Moreira
 
1 - Os índios.pptx
1 - Os índios.pptx1 - Os índios.pptx
1 - Os índios.pptxbenazech1
 
Direito ambiental _aula_5__slides
Direito ambiental _aula_5__slidesDireito ambiental _aula_5__slides
Direito ambiental _aula_5__slidesLuis Olavo
 
ARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdf
ARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdfARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdf
ARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdfSimoneHelenDrumond
 
ARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdf
ARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdfARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdf
ARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdfSimoneHelenDrumond
 
Direitos indígenas: entrave ao desenvolvimento ou parte da riqueza nacional? ...
Direitos indígenas: entrave ao desenvolvimento ou parte da riqueza nacional? ...Direitos indígenas: entrave ao desenvolvimento ou parte da riqueza nacional? ...
Direitos indígenas: entrave ao desenvolvimento ou parte da riqueza nacional? ...Fundação Fernando Henrique Cardoso
 
593484 (3).pptxmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm
593484 (3).pptxmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm593484 (3).pptxmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm
593484 (3).pptxmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmHelenaSaitoAutuori1
 

Similaire à Terras indígenas no Brasil: um direito constitucional (20)

A Evolução dos Direitos Indígenas e os Conflitos Pós Normativos.docx
A Evolução dos Direitos Indígenas e os Conflitos Pós Normativos.docxA Evolução dos Direitos Indígenas e os Conflitos Pós Normativos.docx
A Evolução dos Direitos Indígenas e os Conflitos Pós Normativos.docx
 
Humanas beckhausen
Humanas beckhausenHumanas beckhausen
Humanas beckhausen
 
Aquisição e arrendamento de imóveis rurais por estrangeiros
Aquisição e arrendamento de imóveis rurais por estrangeirosAquisição e arrendamento de imóveis rurais por estrangeiros
Aquisição e arrendamento de imóveis rurais por estrangeiros
 
Projeto de Lei de iniciativa Popular sobre o Território Pesqueiro
Projeto de Lei de iniciativa Popular sobre o Território PesqueiroProjeto de Lei de iniciativa Popular sobre o Território Pesqueiro
Projeto de Lei de iniciativa Popular sobre o Território Pesqueiro
 
Cartilha: Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre Território Pesqueiro
Cartilha: Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre Território PesqueiroCartilha: Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre Território Pesqueiro
Cartilha: Projeto de Lei de Iniciativa Popular sobre Território Pesqueiro
 
Os direitos constitucionais dos povos indígenas
Os direitos constitucionais dos povos indígenasOs direitos constitucionais dos povos indígenas
Os direitos constitucionais dos povos indígenas
 
Demarcacao de terras
Demarcacao de terrasDemarcacao de terras
Demarcacao de terras
 
Dir. constitucional direito social compressed (1)
Dir. constitucional   direito social compressed (1)Dir. constitucional   direito social compressed (1)
Dir. constitucional direito social compressed (1)
 
Direito ambiental reta final
Direito ambiental   reta finalDireito ambiental   reta final
Direito ambiental reta final
 
Reta final direito ambiental
Reta final direito ambientalReta final direito ambiental
Reta final direito ambiental
 
1 - Os índios.pptx
1 - Os índios.pptx1 - Os índios.pptx
1 - Os índios.pptx
 
Cordoba
CordobaCordoba
Cordoba
 
Direito ambiental _aula_5__slides
Direito ambiental _aula_5__slidesDireito ambiental _aula_5__slides
Direito ambiental _aula_5__slides
 
ARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdf
ARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdfARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdf
ARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdf
 
ARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdf
ARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdfARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdf
ARTIGO + PODCAST SAL 2 GRUPO 13.pdf
 
Direitos indígenas: entrave ao desenvolvimento ou parte da riqueza nacional? ...
Direitos indígenas: entrave ao desenvolvimento ou parte da riqueza nacional? ...Direitos indígenas: entrave ao desenvolvimento ou parte da riqueza nacional? ...
Direitos indígenas: entrave ao desenvolvimento ou parte da riqueza nacional? ...
 
593484 (3).pptxmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm
593484 (3).pptxmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm593484 (3).pptxmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm
593484 (3).pptxmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm
 
Tcc 9 27.11
Tcc 9 27.11Tcc 9 27.11
Tcc 9 27.11
 
DIREITOS HUMANOS.pdf
DIREITOS HUMANOS.pdfDIREITOS HUMANOS.pdf
DIREITOS HUMANOS.pdf
 
DIREITOS HUMANOS.pdf
DIREITOS HUMANOS.pdfDIREITOS HUMANOS.pdf
DIREITOS HUMANOS.pdf
 

Plus de Paola Prandini

Transformação Radical - Kátia Gonçalves e Karina Zorzam
Transformação Radical - Kátia Gonçalves e Karina ZorzamTransformação Radical - Kátia Gonçalves e Karina Zorzam
Transformação Radical - Kátia Gonçalves e Karina ZorzamPaola Prandini
 
Largo da Matriz da Freguesia do Ó: uma viagem na História - Ligia Gimaiel e ...
Largo da Matriz da Freguesia do Ó: uma viagem na História - Ligia Gimaiel e ...Largo da Matriz da Freguesia do Ó: uma viagem na História - Ligia Gimaiel e ...
Largo da Matriz da Freguesia do Ó: uma viagem na História - Ligia Gimaiel e ...Paola Prandini
 
Horta - Luis Izzo e Mônica Mendonça
Horta - Luis Izzo e Mônica MendonçaHorta - Luis Izzo e Mônica Mendonça
Horta - Luis Izzo e Mônica MendonçaPaola Prandini
 
Rio São Francisco - Luis Izzo e Mônica Mendonça
Rio São Francisco - Luis Izzo e Mônica MendonçaRio São Francisco - Luis Izzo e Mônica Mendonça
Rio São Francisco - Luis Izzo e Mônica MendonçaPaola Prandini
 
Afinal, o que é ser indigena?
Afinal, o que é ser indigena?Afinal, o que é ser indigena?
Afinal, o que é ser indigena?Paola Prandini
 
Nilce Oliveros dos Santos
Nilce Oliveros dos SantosNilce Oliveros dos Santos
Nilce Oliveros dos SantosPaola Prandini
 
Eliane Bernardes de Souza
Eliane Bernardes de Souza  Eliane Bernardes de Souza
Eliane Bernardes de Souza Paola Prandini
 
Apresentação fabíola
Apresentação fabíolaApresentação fabíola
Apresentação fabíolaPaola Prandini
 

Plus de Paola Prandini (20)

Transformação Radical - Kátia Gonçalves e Karina Zorzam
Transformação Radical - Kátia Gonçalves e Karina ZorzamTransformação Radical - Kátia Gonçalves e Karina Zorzam
Transformação Radical - Kátia Gonçalves e Karina Zorzam
 
Largo da Matriz da Freguesia do Ó: uma viagem na História - Ligia Gimaiel e ...
Largo da Matriz da Freguesia do Ó: uma viagem na História - Ligia Gimaiel e ...Largo da Matriz da Freguesia do Ó: uma viagem na História - Ligia Gimaiel e ...
Largo da Matriz da Freguesia do Ó: uma viagem na História - Ligia Gimaiel e ...
 
Horta - Luis Izzo e Mônica Mendonça
Horta - Luis Izzo e Mônica MendonçaHorta - Luis Izzo e Mônica Mendonça
Horta - Luis Izzo e Mônica Mendonça
 
Rio São Francisco - Luis Izzo e Mônica Mendonça
Rio São Francisco - Luis Izzo e Mônica MendonçaRio São Francisco - Luis Izzo e Mônica Mendonça
Rio São Francisco - Luis Izzo e Mônica Mendonça
 
Afinal, o que é ser indigena?
Afinal, o que é ser indigena?Afinal, o que é ser indigena?
Afinal, o que é ser indigena?
 
Indígenas
IndígenasIndígenas
Indígenas
 
Silvia Paula
Silvia Paula Silvia Paula
Silvia Paula
 
Patrícia Miranda
Patrícia Miranda   Patrícia Miranda
Patrícia Miranda
 
Nilce Oliveros dos Santos
Nilce Oliveros dos SantosNilce Oliveros dos Santos
Nilce Oliveros dos Santos
 
Milena Brito
Milena Brito Milena Brito
Milena Brito
 
Isabel
IsabelIsabel
Isabel
 
Ludmilla Mignaco
Ludmilla MignacoLudmilla Mignaco
Ludmilla Mignaco
 
Flavia Houck
Flavia HouckFlavia Houck
Flavia Houck
 
Rosana Capela
Rosana CapelaRosana Capela
Rosana Capela
 
Eliane Bernardes de Souza
Eliane Bernardes de Souza  Eliane Bernardes de Souza
Eliane Bernardes de Souza
 
Bianca
BiancaBianca
Bianca
 
Passos
PassosPassos
Passos
 
Miriam
MiriamMiriam
Miriam
 
Fabíola
Fabíola Fabíola
Fabíola
 
Apresentação fabíola
Apresentação fabíolaApresentação fabíola
Apresentação fabíola
 

Dernier

Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Expansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XV
Expansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XVExpansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XV
Expansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XVlenapinto
 
3 2 - termos-integrantes-da-oracao-.pptx
3 2 - termos-integrantes-da-oracao-.pptx3 2 - termos-integrantes-da-oracao-.pptx
3 2 - termos-integrantes-da-oracao-.pptxMarlene Cunhada
 
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º anoCamadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º anoRachel Facundo
 
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.docGUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.docPauloHenriqueGarciaM
 
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfatividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfAutonoma
 
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...PatriciaCaetano18
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxMarcosLemes28
 
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmicoPesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmicolourivalcaburite
 
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdfTCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdfamarianegodoi
 
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...azulassessoria9
 
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM POLÍGON...
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM  POLÍGON...Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM  POLÍGON...
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM POLÍGON...marcelafinkler
 
Renascimento Cultural na Idade Moderna PDF
Renascimento Cultural na Idade Moderna PDFRenascimento Cultural na Idade Moderna PDF
Renascimento Cultural na Idade Moderna PDFRafaelaMartins72608
 
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptxOs editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptxTailsonSantos1
 
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...AnaAugustaLagesZuqui
 
Cópia de AULA 2- ENSINO FUNDAMENTAL ANOS INICIAIS - LÍNGUA PORTUGUESA.pptx
Cópia de AULA 2- ENSINO FUNDAMENTAL ANOS INICIAIS - LÍNGUA PORTUGUESA.pptxCópia de AULA 2- ENSINO FUNDAMENTAL ANOS INICIAIS - LÍNGUA PORTUGUESA.pptx
Cópia de AULA 2- ENSINO FUNDAMENTAL ANOS INICIAIS - LÍNGUA PORTUGUESA.pptxSilvana Silva
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfTutor de matemática Ícaro
 
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxResponde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxAntonioVieira539017
 
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de LedAula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de LedJaquelineBertagliaCe
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfcomercial400681
 

Dernier (20)

Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
Expansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XV
Expansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XVExpansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XV
Expansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XV
 
3 2 - termos-integrantes-da-oracao-.pptx
3 2 - termos-integrantes-da-oracao-.pptx3 2 - termos-integrantes-da-oracao-.pptx
3 2 - termos-integrantes-da-oracao-.pptx
 
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º anoCamadas da terra -Litosfera  conteúdo 6º ano
Camadas da terra -Litosfera conteúdo 6º ano
 
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.docGUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
 
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdfatividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
atividade-de-portugues-paronimos-e-homonimos-4º-e-5º-ano-respostas.pdf
 
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
 
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmicoPesquisa Ação René Barbier Livro  acadêmico
Pesquisa Ação René Barbier Livro acadêmico
 
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdfTCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
TCC_MusicaComoLinguagemNaAlfabetização-ARAUJOfranklin-UFBA.pdf
 
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
 
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM POLÍGON...
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM  POLÍGON...Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM  POLÍGON...
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM POLÍGON...
 
Renascimento Cultural na Idade Moderna PDF
Renascimento Cultural na Idade Moderna PDFRenascimento Cultural na Idade Moderna PDF
Renascimento Cultural na Idade Moderna PDF
 
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptxOs editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
Os editoriais, reportagens e entrevistas.pptx
 
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
 
Cópia de AULA 2- ENSINO FUNDAMENTAL ANOS INICIAIS - LÍNGUA PORTUGUESA.pptx
Cópia de AULA 2- ENSINO FUNDAMENTAL ANOS INICIAIS - LÍNGUA PORTUGUESA.pptxCópia de AULA 2- ENSINO FUNDAMENTAL ANOS INICIAIS - LÍNGUA PORTUGUESA.pptx
Cópia de AULA 2- ENSINO FUNDAMENTAL ANOS INICIAIS - LÍNGUA PORTUGUESA.pptx
 
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdfCurrículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
Currículo - Ícaro Kleisson - Tutor acadêmico.pdf
 
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptxResponde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
 
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de LedAula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
Aula 67 e 68 Robótica 8º ano Experimentando variações da matriz de Led
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
 

Terras indígenas no Brasil: um direito constitucional

  • 1. Terras Indígenas no Brasil: um direito constitucional Por Vanessa Caldeira O princípio do direito indígena ao seu território, embora sistematicamente desrespeitado, está na lei desde pelo menos a Carta Régia de 30 de julho de 1609. No entanto, de acordo com a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, esse direito foi histórica e recorrentemente burlado e a principal forma encontrada para tal desrespeito foi a negação da identidade indígena desses povos (Carneiro da Cunha,1995: 134). No entanto, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu um avanço significativo no que diz respeito aos direitos indígenas. Foi apenas através desse marco jurídico que o Estado brasileiro passou a reconhecer aos povos indígenas o direito de serem quem são. De acordo com o artigo 231 do Capítulo VIII da referida Constituição, o Estado brasileiro reconhece aos povos indígenas sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA), a Constituição de 1988 consagrou o princípio de que os povos indígenas são os primeiros habitantes desse território, sendo então o seu direito à terra, um direito primário, anterior a qualquer outro. Estima-se que no século XVI existiam no Brasil entre 2 e 4 milhões de indígenas pertencentes a mais de 1.000 diferentes povos. Nesse contexto, estima-se também que a densidade demográfica da várzea amazônica na época era comparável à da península ibérica: 14,6 habitantes por km2 na primeira (de acordo com Denevan, 1976:230), contra 17 habitantes por km2 em Espanha e Portugal (Braudel, 1972:42). Atualmente, de acordo com o último censo do IBGE, realizado no ano de 2010, aproximadamente 890 mil pessoas se autodeclaram indígenas, perfazendo aproximadamente 0,4% da população total do país, pertencentes a 305 etnias, falantes de 274 línguas.
  • 2. De acordo com o painel de monitoramento do Instituto Socioambiental (ISA) – De olho nas Terras Indígenas – atualmente no Brasil existem 696 terras indígenas demarcadas e 126 terras em processo de identificação. A definição de terras indígenas ou de terras tradicionalmente ocupadas por povos indígenas apresenta-se no primeiro parágrafo do já citado artigo 231 da Constituição Federal e consiste em 4 critérios: a) aquelas por eles habitadas em caráter permanente; b) aquelas utilizadas para suas atividades produtivas; c) aquelas imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais e ao seu bem-estar; d) e aquelas necessárias à sua reprodução física e cultural, de acordo com seus usos, costumes e tradições. Para a identificação então de uma terra indígena no Brasil faz-se necessário a conjugação desses quatro critérios constitucionais. O processo de identificação e delimitação das terras indígenas é regido pelo Decreto 1775 de 1996, expedido pelo Ministério da Justiça. Tal decreto estabelece 7 fases para esse processo e que o ISA resume da seguinte forma: a) Estudos de Identificação, regido por Grupo Técnico (GT) nomeado pela Fundação Nacional do Índio (Funai), órgão vinculado ao Ministério da Justiça. Tais estudos possuem prazo determinado para serem concluídos. O grupo técnico deve ser coordenado por um(a) antropólogo(a), contar a colaboração de profissional da área ambiental e sobretudo, garantir a participação do povo indígena. b) Aprovação da Funai do relatório de identificação: após concluído e entregue, o Relatório de Identificação e Delimitação de Terra Indígena (RCID) deve ser aprovado pelo presidente da Funai, que, no prazo de 15 dias, deve publicar seu resumo no Diário Oficial da União e no Diário Oficial do estado em que a referida terra foi identificada. Tal resumo deve ser ainda fixado na(s) prefeitura(s) onde incide o território. c) Contestações: após publicação do resumo do RCID, no prazo de 90 dias, todo interessado, inclusive estados e municípios, poderá manifestar-se junto à Funai contrário a tal relatório. Deve apresentar as razões, acompanhadas de provas pertinentes no intuito de pleitear indenizações ou demonstrar vícios existentes no relatório. Isso posto, a Funai terá o prazo de 60 dias para elaborar pareceres e encaminhar o procedimento ao Ministro da Justiça.
  • 3. d) Declaração dos limites da Terra Indígena: após receber o procedimento, o Ministro da Justiça terá o prazo de 30 dias para avaliar e emitir um parecer, que pode ser: i) publicar os limites da terra indígena em acordo com o RCID; ii) solicitar diligências para complementações de informações no RCID; ou iii) desaprovar o RCID, publicando decisão fundamentada. e) Demarcação Física: declarados os limites da terra indígena (TI), a Funai promove sua demarcação física (fixação de marcos nos limites da TI), e o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), em caráter prioritário, realizará o assentamento de eventuais ocupantes não indígenas. f) Homologação: o procedimento deve, por fim, ser submetido ao(à) Presidente da República para homologação por decreto (confirmação, aprovação por ato oficial). g) Registro: a terra indígena demarcada e homologada, como um bem da União, um bem público e não uma propriedade privada, deve ser, no prazo de até 30 dias após a homologação, registrada no cartório de imóveis da comarca correspondente, bem como na Secretaria de Patrimônio da União (SPU). Essas sete fases demonstram o quão complexo, rigoroso e extenso se configuram os processos de demarcação de terras indígenas no país no âmbito do poder executivo. Pensar que demarcar uma terra indígena constitui tarefa simples ou fácil, é um grande equívoco. Se pensarmos que somado ao trâmite executivo há a histórica disputa fundiária dos tradicionais setores agrários de nosso país, podemos minimamente dimensionar o quão moroso, sofrido e violento ainda se constituem tais processos. Cada demanda indígena por regularização de seu território tramita por anos, muitas vezes, por décadas no executivo, e muitas vezes também no judiciário, até ser finalizado. Nesse longo percurso, conflitos fundiários, ameaças e assassinatos de lideranças são cometido. A negação histórica ainda presente do direito dos povos indígenas aos seus territórios tradicionais revela a permanência de uma postura colonialista de dominação e expropriação territorial, que inauguramos ainda no século XVI, quando europeus invadiram as Américas. Resta nos questionarmos até quando manteremos tal postura.