Análise dos elementos básicos de visualização de dados
1. Análise dos elementos básicos de visualização de dados
Analysis of basic elements used for data visualization
Prado, Patricia; Visualização Análise dos elementos básicos de visualização de dados; Facul-
dades Barddal
prbprado@gmail.com
Resumo
Atualmente a informação on line é apresentada de forma não linear, ou seja, o pró-
prio internauta constrói a navegação em busca da informação. Além da liberdade destinada ao
internauta constata-se que ele mesmo pode criar sua rede de associações inteligentes interli-
gando sua rede de informação particular. Portando, observando essas questões busca-se
compreender a abstração, o comportamento da informação visual traduzindo seus sentidos
semióticos.
Ao focar as especificidades da informação on line essa pesquisa é definida como
qualitativa, de caráter exploratório delineado através de um levantamento bibliográfico. Com o
estudo pode-se averiguar os novos conceitos e formatos da visualização de dados.
Palavras Chave: visualização de dados; associações inteligentes; linguística.
Abstract
Currently the online information is presented in a non-linear, other words, the surfer
builds own navigation in search of information. Besides the freedom intended for netizen
finds that he can create his network of associations intelligent interconnecting its network of
private information. Porting observing these issues we seek to understand the abstraction, the
behavior of visual semiotic translating your senses.
By focusing on the specifics of the information on this research line is defined as a
qualitative, exploratory delineated through a literature review. With the study can investigate
new concepts and formats of data visualization.
Keywords: data visualization; intelligent associations; linguistic.
2. Faces do design
Campos e Silva (2008) levantam uma indagação em seu estudo sobre a
personalidade estética das interfaces do mundo digital e consideram que há um tempo o
conteúdo da web era apenas textual, estruturado com links, hiperlinks que se conectavam com
outro conteúdo textual. Entretanto, a tecnologia avançou oferecendo novos navegadores
permitindo que mais informações fossem disponibilizadas e a velocidade inserida na navegação
também cresceram podendo melhorar e muito a interface.
Campos e Silva (2008) afirmam que:
As tecnologias surgidas a partir daí permitiram que uma página da web se tornasse
tão elaborada quanto uma página de revista ou de jornal impresso. A metáfora de
página de livro cedeu lugar à metáfora do conteúdo de publicação diária. A
biblioteca acadêmica cedeu lugar à banca de jornal, o jogo de papel e o cartão
impresso foram substituídos pelos videogames. (CAMPOS E SILVA: 2008, p.14):
Observa-se, portanto, que esse movimento foi um divisor de águas no sentido de
ferramenta, mas para questões de linguagens estéticas e de interações a apropriação das mídias
anteriores. Hoje, segundo Campos e Silva (2008) a estética de internet na verdade é uma
herança de jogos eletrônicos, da mídia impressa jornalística e dos CDs ROM.
Esta, por sua vez, ao reunir esses e outros elementos, implementou uma linguagem
própria, ao incorporar também a interatividade. O leitor espectador deixou de ser um
receptor passivo, podendo agora, até mesmo interferir no conteúdo acessado, seja
acrescentando comentários, seja personalizando páginas que, amiúde, altera,
gerando conteúdos inéditos, algo que as outras mídias apenas faziam − ou tentavam,
indiretamente, fazer – com o uso de duas mídias em paralelo (televisão e telefone,
rádio e e-mail etc.). (CAMPOS E SILVA: 2008, p.15)
Percebe-se, então, que é nesse ponto que a internet se diferencia e mostra a sua
principal característica a interação de pessoas por meio de uma interface que pode possibilitar a
transição de informações. Podem-se fazer analogias:
nas páginas da web se percebe que os ícones possuem uma função análoga à dos
sinais de trânsito. Assim como estes têm por finalidade orientar o fluxo de
automóveis e pedestres, aqueles têm por função orientar a navegação dos
internautas. Mas a analogia poderia parar aí, pois, no meio ‘físico’, os sinais se
relacionam com o espaço tridimensional, articulando-se como uma referência e um
referente, diversamente do (atual) espaço bidimensional da web. Não há como
relacionar elementos nesse espaço da maneira como se costuma fazer no mundo
real. (CAMPOS E SILVA: 2008, p.15)
Portanto, buscamos compreender melhor esses ícones e símbolos para dar sentido a
eles e orientar melhor o fluxo de navegação em uma interface gráfica. Outro objetivo deste
estudo é facilitar a descoberta de novos caminhos por parte do usuário, permitindo que as
informações analíticas sejam visualizadas naturalmente.
Princípios básicos do design gráfico
O design visual pode interpretar informações e transpô-las em conceitos visuais
como: cor, forma, contraste, luz entre outros e que permite construir uma composição visual
clara e objetiva.
Conhecer e examinar, com afinco, os elementos visuais básicos, pode oferecer uma
estratégia de composição criativa de uma linguagem visual para qualquer plataforma ou
suporte.
2
3. Carol Holfmann (2010) afirma que o foco do desenvolvimento de uma infografia é
“tornar algo compreensível e não apenas fácil de olhar, é função do design gráfico, design de
interface e infografia. Todos têm por objetivo principal transmitir informações e dados.” Na
figura 1, Holfmann constrói um gráfico exemplificando sua visão para a construção de um bom
infográfico.
Figura 1 - Processo de formação de um infográfico
Fonte: abcDesign. Infográficos: da essência ao clichê na era da Informação Digital. Disponível em
http://bit.ly/JGB9Mp
Em um workshop, no Malofiej 20 International Infographics, Alberto Cairo lançou
o desafio da construção de um infográfico, em um prazo muito curto. Cairo concluiu o
workshop impressionado com o resultado e comentou: “observe os desenhos bonitos e
as toneladas de canetas e papel sobre as mesas”. Cairo finalizou seu workshop ressaltando a
importância de planejar e compartilhar as ideias antes de tocar um teclado de computador.
Figura 2 - Sketch de um infográfico no workshop do Malofiej 20.
Fonte: The funcional art: Information Graphics Workshop in Spain. Disponível em http://bit.ly/I4Ri9y
Segundo Teixeira (2005, p.5) os quatros itens mais importantes para a composição
do infográfico são:
“Agrupamento: a proximidade, segundo as leis da percepção, é um forte fator no
estabelecimento de uma relação entre os elementos visuais (...). Podemos conduzir
nosso leitor.
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4. Adequação dos elementos visuais à informação: a capacidade de passar
mensagens subliminares, as imagens atuarão como elementos coadjuvantes na
leitura e compreensão dos infográficos (...). Toda informação visual quando lida, é
analisada e interpretada por um conjunto de parâmetros culturais individualizados na
experiência de cada leitor (...). A imagem informa para além da organização
racional. Ela busca também a harmonia estética e o ritmo neural.
Poluição visual: equilíbrio, contraste e harmonia são inconscientemente buscados
pelo leitor.
Exploração dos recursos estéticos: formas, cores, ilustrações, fotos, efeitos, tons,
composição, harmonia, ritmo e tantos outros - são um conjunto de detalhes voltados
à necessidade de beleza do ser humano (...).”
Os elementos citados por Teixeira (2005) podem ser analisados à luz das teorias da
Gestalt que utiliza “pontos, linhas, planos, volumes, cores, sombras, brilhos, texturas, e outros
atributos – isolados ou combinados entre si”. Gomes Filho (2008, p.27).
O conceito de unificação, segundo os preceitos da Gestalt, e o agrupamento, citado
por Teixeira, são nomenclaturas diferentes, mas podem ter uma relação. A unificação, citada
pela teoria da forma, pode ter uma gama de elementos ou ser apenas um só. Já na visão de
Teixeira o agrupamento é a unificação formada por vários elementos.
Na figura 3, a teoria, se apresenta verdadeira. No primeiro quadrado composto por
outros quadrados são a harmonia perfeita, todos tem o mesmo tamanho e formam um quadrado
maior com a mesma proporção e concorda com outras leis da Gestalt como “proximidade,
semelhança, fechamento e boa continuidade”.
No segundo quadrado, a continuidade e interrompida pela diferença de cor, causando
um “ruído” ou evidenciando algo específico. Na terceira, o mesmo acontece não se encontra a
continuidade pela falha de alguns quadrados e em outra o circulo não deixa a leitura coerente.
Finalmente no último é o caos, pelo movimento dos quadrados e cores se perde a
harmonia e continuidade na legibilidade visual.
Suassuna referencia-se a harmonia das partes de um todo que assume como
unidade e totalidade quando afirma “que consiste na grandeza e na ordem.” (SUASSUNA:
2011, p.53)
Figura 3 - Unificação.
Fonte: Filho (2008, p.31).
Na figura 14 são apresentadas as leis mais importantes da teoria Gestaltiana como:
semelhança, proximidade, continuidade, pregnância, fechamento sendo empregadas na figura
anterior mostrando seu funcionamento, entre outros. A figura também mostra a conceituação
sensível da forma, seus aspectos metafísico, lógico, epistemológico, estético e formal.
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5. Figura 4 - Leis da Gestalt.
Fonte: Gomes Filho (2000).
A teoria da Gestalt pode fornecer ao designer o embasamento científico ao sistema
de leitura visual, que solidifica as diretrizes para construção de infográficos podendo
ultrapassar os elementos técnicos, permeando os anseios da forma e tateando o campo estético.
A forma, como é descrita na figura 5, é definida por Filho (2000, p.41):
“como os limites exteriores da matéria de que é constituído um corpo e que confere
a este um feitio, uma configuração. A percepção da forma é o resultado de uma
interação entre o objeto físico e o meio de luz agindo como transmissor de
informação, condições e imagens que prevalecem no sistema nervoso do observador
que é, em parte, determinada pela própria experiência visual.”
Wong (1998) divide a forma em quatro grupos básicos: elementos conceituais,
elementos visuais, elementos relacionais e elementos práticos.
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6. Figura 5 - Elementos da forma.
Fonte: Wong (1998).
Wong (1998) relata a união dos conceitos da teoria da forma e sugere funções a ela,
adaptações que e se apresentam como o principal suporte do mecanismo de estruturação e
organização de um infográfico. Um exemplo prático é oferecido por Munari apenas utilizando
a textura para mostrar o funcionamento da teoria de Wong:
Figura 6 - Elementos da forma com textura.
Fonte: Bruno Munari (2006, p.11).
6
7. A interpretação desses elementos básicos e o contexto do meio onde se está
inserido ou suporte, segundo Dondis (1997, p.5), atuam como “cenário para as decisões
relativas ao design”, estruturando os elementos conforme seus significados.
O sistema de elementos organizados sistematicamente pela Gestalt e Wong, se
apresentam como refinamentos do que foram percepções humanas em relação aos objetos. Essa
estrutura é chamada por Dondis (1997, p.16) de “alfabetismo coerente com regras sintáticas
básicas”. Seguindo as concepções de Dondis (1997) toda a percepção, das definições acima,
pode também ser influenciada pela psique formada pelo seu grupo social.
Sartre (2009, p.39) comenta que “toda criação imaginativa exige um princípio de
unidade” e que toda unidade passa por um processo de desmembramento de “dissociação
externa e interna” sendo que:
1) a seleção tendo em vista a ação; 2) causas afetivas “que governam a atenção”; 3)
razões intelectuais, “designando por esse nome a lei de inércia mental ou lei do
menor esforço”. As causas externas são as “variações da experiência” que apresenta
tal objeto, ora provido, ora privado de certa qualidade: “O que foi associado ora a
uma coisa, ora a outra, tende a se dissociar das duas”.
Aparentemente uma informação apresentada a um indivíduo ocidental pode ser
interpretada de uma forma diferente de um indivíduo oriental, que não tem acesso aos mesmos
costumes, ou seja, um indivíduo que mora no Sul do país tem uma palavra para identificar um
objeto, para o que no Norte a mesma palavra pode significar outra coisa.
Um bom exemplo é o símbolo da suástica, figura 7, que traz mensagens com mais
de três mil anos, segundo dados do site Brasil Escola, seu nome era “cruz gamada” e era
gravada em moedas da antiga Mesopotâmia. Seu primeiro significado nasceu dentro do
hinduísmo como “aquilo que traz sorte” e, para os chineses, a suástica representava o número
10.000; na maçonaria representação de uma constelação próxima à estrela Ursa Maior; e os
bascos representam por meio da suástica a imagem de uma dupla espiral. Porém o significado
mais conhecido foi como símbolo do nazismo.
Figura 7 - Suástica.
Fonte: Brasil Escola. Disponível em http://bit.ly/KBWjLl. Acesso em 21/06/2012
Nesse contexto, Ramos e Zago (2007, p.7) argumentam que:
todo ato perceptivo subordina um fenômeno em conceitos visuais [...] é o
conhecimento sensorial das formas ou de totalidades organizadas e dotadas de
sentido e não a soma de sensações elementares. Sensação e percepção são o mesmo.
7
8. É o conhecimento de um sujeito corporal, uma vivência corporal. O mundo exterior
não é uma coleção ou soma de coisas isoladas. É organizado em formas e estruturas
complexas, dotadas de sentido.
Aprofundando, percebe-se que os elementos sistematizados ficam a priori dos
juízos empregados pela pessoa que recebe a informação, sendo assim, a percepção “não é uma
propriedade do objeto, algo que se encontra no objeto, e sim uma construção do espírito do
contemplador colocado diante do objeto” (SUASSUNA: 2011, p.30).
Ramos e Zago (2007) concluem que:
A percepção é uma relação do sujeito com o mundo exterior e não uma reação fisico
fisiológico (empiristas) e nem uma idéia formulada pelo sujeito (intelectualistas). A
relação dá sentido ao percebido e aquele que percebe - um não existe sem o outro.
Uma experiência é dotada de significação. O percebido é dotado de sentido, faz
parte do nosso mundo e de nossas vivências. (RAMOS E ZAGO: 2007, p.7)
Portanto, com a percepção definida pretende-se explorá-la com os conceitos de
comunicação que, segundo Júnior (2005), não importa o suporte a comunicação se dá de corpo
para corpo, cada um interpretando a informação conforme seu conhecimento intrínseco.
Visualização da informação com bases de dados
Sunagawa (2010) apud Betin (1983) introduz os níveis de organização de um
gráfico que são “divididos em quatro propriedades perceptivas ou níveis de organização:
associativo, seletivo, ordenado ou quantitativo”.
Percebe-se que a autora aprofunda os elementos apresentados pelas leis da Gestalt e
de Wong, e converte para uma linguagem infográfica transformando em três níveis de
interpretação como modos de implantação, variáveis visuais e organização visual de dados.
Sendo, segundo a Sunagawa (2010), os modos de implantação estão relacionados
aos quesitos visuais, relacionais e práticos dos elementos das formas apresentado por Wong
(1998), sendo que os elementos conceituais, de Wong, se relacionam com as variáveis, e
finalmente os níveis organizacionais apresentados pela autora.
Portanto, Sunagawa (2010) apresenta, na figura 8, um exemplo prático que utiliza
os elementos da forma e transforma em visualização de dados.
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9. Figura 8 - Modos de Implantação X Váriáveis Visuais X Niveís de Organização
Fonte: SUNAGAWA: 2010, p.59.
Cairo (2008) articula sobre a implantação dos dados variáveis do Google maps que
se tornou uma ferramenta importante para o desenvolvimento de mapas interativos, por ter seu
código de programação aberto e oferecer possibilidades de manipulação dos dados. Alguns
sites jornalísticos já estão utilizando recursos oferecidos pelo Google que usa as variáveis
visuais apresentadas por Sunagawa (2010).
Na figura 9, o NYT apresenta uma forma interativa os lugares onde realiza, a cada
ano, uma inspeção sanitária. Em cada ponto do mapa é apresentado o nome do
estabelecimento, o grau de violação e, se clicado, apresenta todo o relatório do local. Além
disso, tem um sistema de busca na parte superior do infográfico.
Percebe-se que as variáveis visuais tornam-se gráficos mostrando o grau de
reincidência do estabelecimento nas inspeções, transforma-se informação numérica em dados
visuais.
Figura 9 - Ferramenta do Google aplicado em infográfico do New York Times.
Fonte: Interactive Map. Disponível em http://nyti.ms/IrST9z
Cairo (2008) afirma que a ferramenta elaborada pela Google, em 2005,
condicionará o futuro da infografia na web, pois definem “a hibridação de serviços de diversos
provedores para criar um novo produto.” (CAIRO: 2008, p.7) Continua em sua afirmação de
que os dados são recombinados de maneira que responda as necessidades de cada infografia e
que oferecem o suporte para a arquitetura da informação e que possam ser compartilhadas,
modificadas e distribuídas e por fim utilizando os conceitos de inteligência compartilhada.
Após discorrer sobre como os elementos visuais podem auxiliar a compor uma
interface que analise dados numéricos transformando em gráficos, apresentados por Sunagawa
(2010), prospectando a utilização das ferramentas oferecidas pelo Google Maps, que foi
apresentada por Cairo (2008) como uma ferramenta de alta qualidade.
Percebe-se que a interface pode ser manipulada conforme os dados inseridos,
segundo Cairo (2008) é necessário, uma ferramenta com alto desempenho para administrar
esses dados graficamente.
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10. Portanto, observa-se que, apenas conhecer a ferramenta e saber como navegar por
ela pode não ser suficiente para enviar uma informação visual.
Interpretação da informação
Percebe-se que a visualização da informação depende também dos conhecimentos
de comunicação, portanto conhecer apenas a aplicabilidade dos elementos da forma pode ser
insuficiente na comunicação de uma mensagem. Dondis (1997) acredita que a forma é pode ser
modificada ou interpretada de forma diferente por pessoas diferentes.
“O resultado final de toda a experiência visual, na natureza e, basicamente, no
design, está na interação de polaridades duplas: primeira as forças do conteúdo
(mensagem e significado) e da forma (design, meio e ordenação); em segundo lugar,
o efeito recíproco da articulação (designer, artista e artesão) e do receptor (público).
Em ambos os casos, um não pode se separar do outro. A forma é afetada pelo
conteúdo; o conteúdo é afetado pela forma. A mensagem é emitida pelo criador e
modificada pelo observador.” (DONDIS: 1997, p.131)
Santaella acrescenta de uma forma mais filosófica que:
de todas as aparências sensíveis, o homem — na sua inquieta indagação para a
compreensão dos fenômenos — desvela significações. E no homem e pelo homem
que se opera o processo de alteração dos sinais (qualquer estímulo emitido pelos
objetos do mundo) em signos ou linguagens (produtos da consciência).
(SANTAELLA: 1985, p.7)
Percebe-se que os infográficos podem agregar informações textuais com
representações visuais que sofrem influências objetivas e subjetivas. “Compreender a
engendrarão do infográfico, suas relações com o interpretante e tornaram evidente seu poder
simbólico e de produção de sentido.” (SILVA: 2010, p.10).
Dias e Carvalho apud Freitas (2011) afirmam que a visualização de dados é:
“uma área da Ciência que tem por objetivo o estudo das principais formas de
representações gráficas para apresentação de informações, a fim de contribuir para o
entendimento delas, bem como ajudar a percepção do consumidor a fim de deduzir
novos conhecimentos baseados no que está sendo apresentado. É uma ciência que
combina aspectos de computação gráfica, interação humano-computador, cartografia
e mineração de dados.”
Toda a visualização de uma informação pode ser abstrata, o que se vê no papel ou
na tela de um computador seria uma representação do real, uma interpretação de fatos e dados.
Cairo (2008) confirma que “um diagrama é uma representação abstrata de uma realidade.” Ou
seja, ele representa números em forma de gráfico podendo assim, ser comparado visualmente.
Quanto maior o poder de abstração de uma infografia maior o grau de compreensão
de uma informação, veja na figura 11, em um lado um quadro com vários números e, no outro
quadro é destacado apenas os números necessários.
Figura 11 - Fragmentação e minimalismo na informação.
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11. Fonte: Cairo (2008, pg.21)
Dias e Carvalho, seguindo a mesma concepção de Cairo, propuseram a dois
profissionais das áreas de matemática e desenvolvedor de games, o teste presente na figura 12,
no teste foi proposto quatro formas de visualização de uma informação e depois foi
questionado aos profissionais o que eles identificavam no resultado do desenho e, cada um
deles, interpretou a informação conforme a sua compreensão.
Figura 12 - Teste visual.
Fonte: CARVALHO e DIAS (2007)
11
12. A abstração é um componente importante para a composição de informações em
um mapa. Para exemplificar essa ideia Cairo (2008) utiliza o mapa do metrô de Londres, na
figura 13, muitos mapas costumavam mostrar o trajeto exato percorrido.
Figura 13 - Mapa antigo do metro de Londres.
Fonte: The Guardian. Disponível em http://bit.ly/IrIuOs. Acesso em 20/09/2011.
Beck utilizou a linguagem e a sintaxe para desenvolver o mesmo mapa do metrô de
Londres, figura14, que dispensava a geografia do solo, distância entre as estações, trajeto e
muitos outros detalhes que o usuário de metrô não necessita saber. Na realidade o usuário
precisa saber onde está e para onde quer ir e a partir disso observar um mapa simples.
Figura 14 - Plano do metro de Londres por Henry Beck, 1933.
Fonte: The Guardian. Disponível em http://bit.ly/IrIuOs. Acesso em 20/09/2011.
Cairo (2008) cita outros exemplos como: montanhas e vales em um mapa estático
não são relevantes para mostrar um roteiro ou uma ilustração é uma representação abstrata de
objetos físicos.
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13. Para compreender a abstração em sua plenitude os aspectos da fenomenologia
podem ser significativos, segundo Santaella (1983, p.2), principia em conhecer como o
“homem opera no processo de alteração dos sinais (qualquer estímulo emitido pelos objetos do
mundo) em signos ou linguagens (produtos da consciência).” O termo linguagem se estende,
também, a linguagem binária da qual as máquinas se utilizam para se comunicar com o
homem. Sendo assim, o homem se vale de signos para interpretar algum objeto.
Percebe-se então, que para o homem entender ou interpretar alguma informação ele
tem a lógica, os aspectos sensíveis e o social como aliados para formular uma ideia, concepção,
compreensão, entre outros.
A fenomenologia tem por tarefa “dar a luz as categorias mais gerais, simples,
elementares e universais de todo e qualquer fenômeno, isto é, levantar os elementos ou
características que pertencem a todos os fenômenos e participam de todas as experiências”.
(SANTAELLA: 1985, p.7).
A concepção de Santaella (1985) sobre os fenômenos são baseados nas teorias de
Pierce que agiam em três campos:
1) a capacidade contemplativa, isto é, abrir as janelas do espírito e ver o que está
diante dos olhos; 2) saber distinguir, discriminar resolutamente diferenças nessas
observações; 3) ser capaz de generalizar as observações em classes ou categorias
abrangentes (SANTAELLA: 1985, p.7).
Para fins científicos Pierce resolveu fixar na terminologia de primeiridade,
secundidade e terceridade, por serem palavras livres de outros significados ou associações.
Segundo Santaella, baseada na teoria perciania:
Primeiridade: é a categoria que dá à experiência sua qualidade distintiva, seu frescor,
originalidade irrepetível e liberdade
Secundidade: é aquilo que dá à experiência seu caráter factual, de luta e confronto.
Ação e reação ainda em nível de binariedade pura, sem o governo da camada
mediadora da intencionalidade, razão ou lei.
Terceridade: que aproxima um primeiro e um segundo numa síntese intelectual,
corresponde à camada de inteligibilidade, ou pensamento em signos, através da qual
representamos e interpretamos o mundo (SANTAELLA: 1985, p.11).
Para Messa (2005, p.15):
A primeiridade refere-se a todo aspecto de qualidade que você vivenciar nessa
experiência, a secundidade é a reflexão envolvida nesse processo e a terceiridade é a
representação que você fará.
Na figura 15 é apresentada, graficamente, a tríade pierceana
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14. Figura 15 - Tríade de Pierce.
Fonte: SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1985
Perante os fenômenos, ou seja, para conhecer, compreender e reagir a “consciência
produz um signo” (SANTAELLA: 1985, p.11), isto é, um pensamento.
Observa-se que intenção do signo é representar as formas e simbolizar ideias da
percepção do mundo e das coisas. Para isso existe a necessidade de abstração de imagem, mas
não de conteúdo. Como verificado nos exemplos das páginas anteriores.
Cabe ressaltar que a semiologia, que posteriormente viria ser semiótica1, “de
Ferdinand de Saussure, é a ciência com origens na linguística que estuda vida dos signos como
parte da vida social. A relação entre as duas semiologias refere-se à estruturação do
pensamento e as leituras das relações significante-significado.” (SUNAGAWA: 2010, p.70)
Santaella (1983, p12) assume a idea, originalmente de Pierce, que:
“o signo só pode representar seu objeto para um intérprete, e porque representa seu
objeto, produz na mente desse intérprete alguma outra coisa (um signo ou quase-
signo) que também está relacionada ao objeto não diretamente, mas pela mediação
do signo.”
Niemeyer considera que a união dos signos constitui a linguagem:
O signo tem o papel de mediador entre algo ausente e um interprete presente.
Pela articulação dos signos se dá a construção do sentido.
Os signos se organizam em códigos, constituindo sistemas de linguagem. Esses
sistemas constituem a base de toda e qualquer forma de comunicação.
Além da tríade apresentada existem outras explorações de Pierce que é a relação do
signo consigo mesmo, do signo com seu objeto e, finalmente, do signo com seu interpretante,
assim podemos observar outra tríade:
1
Semiótica. A semelhança e afinidade da Semiologia à Semiótica. Ambas tratam do estudo dos signos e
surgiram em momentos muito próximos (início do século XX). A semiologia teve suas origens na Suíça e
estendeu seus domínios aos países de língua francesa, enquanto a Semiótica, iniciou-se nos Estados Unidos
através do filósofo Charles Sanders Peirce (1939-1914). Por força de novas posturas metodológicas, os
semiologistas criaram outro movimento, chamados estruturalismo. Em 1969, o comitê fundador da Associação
Internacional de Estudos Semióticos, resolveu que as duas ciências fossem fundidas, passando a designar-se
somente Semiótica. (SUNAGAWA: 2010, p.70).
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15. Figura 16 - Desmembramento do signo.
Fonte: SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1985
Esses conceitos discursados podem ser aplicados a estrutura da comunicação
humana pode-se dizer, segundo Watzlawick (2011, p.18 e 19):
O estudo da comunicação humana pode ser subdividido nas mesmas três áreas de
sintaxe, semântica e pragmática para o estudo da semiótica (a teoria geral de sinais e
linguagens). [...] a primeira dessas três áreas abrange os problemas de transmissão
de informação [...]. O seu interesse reside no problema de código, canais,
capacidade, ruído, redundância e outras propriedades estatísticas da linguagem.[...]
para que seja perfeitamente possível transmitir séries de simbolos desprovidos de
significado se o emissor e o receptor não tivessem antecipadamente concordado
sobre sua significação. Nesse sentido, toda a informação compartilhada pressupõe
uma convenção semântica.
Percebe-se que surge outra tríade considerada o núcleo da teoria da comunicação2:
a trilogia emissor-receptor-mensagem – repetindo, assim, muitos séculos depois, o
modelo da Retórica de Aristóteles, de acordo com a qual as “provas de persuasão”
residem seja “no carácter moral do orador [ethos]”, seja “no modo como se dispõe o
ouvinte [pathos]”, seja, finalmente, “no próprio discurso, pelo que este demonstra ou
parece demonstrar [logos].
O grande desafio de comunicar uma mensagem com mais precisão é “decodificar
elementos e a linguagem proporcionada pelo objeto, sobretudo no campo analógico (a
linguagem não-verbal)” (SILVA: 2010, p.11).
Ferrara (2004, p. 53) afirma que para o desenvolvimento de projetos em design “o
ver semiótico é uma arma imprescindível ao designer, que incorpora a dimensão cultural à
competência técnica e isso lhe permite aliar o uso funcional do objeto à sugestão informativa
de outros valores culturais.”
Busca-se a abstração de forma com uma grande quantidade de conceitos e
informação e sem ruídos para que os dados sejam interpretados rapidamente, os elementos
estéticos funcionam como uma massa de modelar a realização de uma interface.
2
História, resumidamente, por Serra (2007, p.78) principais elementos da comunicação, o comunicador
(emissor), o conteúdo (da mensagem), o canal, a audiência (o receptor) e os efeitos (sobre os receptores). Outro
desses modelos, formulado por Roman Jakobson nos anos 60, procura descrever a comunicação verbal a partir
de seis elementos essenciais, a cada um dos quais corresponde uma determinada função: o destinador (função
expressiva ou emotiva), o destinatário (função apelativa), a mensagem (função poética), o código (função
metalinguística), o contexto (função referencial) e o contacto (função fática).
15
16. Todos esses conceitos são suportes para o desenvolvimento de projetos sugerem
vínculos de interação com o usuário, entretanto é polido se esclarecer a diferença entre as
palavras, interativa e interação, percebe-se seu uso contínuo sem conhecimento do seu
significado. As duas palavras se diferem pelo sentido de que interativo é indireto e a interação é
direta, ou seja:
Interação na sociologia: nenhuma ação humana ou social existe separada da
interação. (...) designando a influência recíproca dos atos de pessoas ou grupos.
(FERNANDES: 2006 p.25).
Interação na ciência da computação: ciência da comunicação, interação é definido
como a relação entre eventos comunicativos. Essa definição considera
“comunicação interpessoal”, “relacionamento humano” e “interação humanos”
como sinônimos. O conceito de interação vem de épocas remotas; entretanto, o de
interatividade é recente. (FERNANDES: 2006, p.26).
O significado da interação vem muito antes da interatividade, pois esta surgiu depois
da disseminação dos computadores pessoais, segundo Fragoso (2001, p.10):
Em 1954, propunha-se um programa que permitia desenhar num monitor. Porém, o
verdadeiro impulso para uma interatividade nessa área foi dado por Ivan Sutherland,
em 1963, com o programa Sketchpad, onde o usuário podia desenhar diretamente no
monitor atrás de uma caneta (pen light). A partir disso, ainda nos anos 1960, o termo
interatividade foi cunhado como uma derivação do neologismo inglês interactivity.
Entretanto, Lévy (1999) sugere que a interação são atividades humanas com
articulação de pensamento e ação entre: pessoas, entidades materiais naturais e artificiais, ideias
e representações.
É impossível separar o humano de seu ambiente material, assim como dos signos e
das imagens por meio dos quais ela atribui sentido à vida e ao mundo. Da mesma
forma, não podemos separar o mundo material - e menos ainda sua parte artificial -
das ideias por meio das quais os objetos técnicos são concebidos e utilizados, nem
dos humanos que os inventam, produzem e utilizam. (LÉVY: 1999, p.22).
Segundo as suas definições, Lévy (1999) também assegura que ao procurar
aumentar à autonomia as experiências interativas multiplicam as faculdades cognitivas do
usuário.
Kotler (2010, p. 37) faz um adendo sobre a interatividade no mundo do marketing,
afirmando que “a experiência de um produto jamais é isolada. É o acúmulo das experiências
individuais do consumidor que cria maior valor para o produto. Quando os consumidores
individuais experimentam o produto, personalizam a experiência de acordo com necessidades e
desejos singulares.”
Já Quéau afirma que: “A verdadeira revolução reside, no entanto, nas
possibilidades especificas da infografia, notadamente na sua capacidade de interação com o
espectador e na sua possibilidade de geração em tempo real, dando assim o sentimento de uma
“imersão” na imagem.”
Em linhas gerais conclui-se que, para poder haver interação são necessárias duas
pessoas conectadas por um dispositivo como, um canal de bate-papo, por exemplo, ou um jogo
online ou em dupla. Para a interatividade a resposta de uma ação vem do mecanismo utilizado,
um sistema, uma ferramenta, um dispositivo móvel, ou seja, um jogo que se joga com um
computador sem a participação de outro ser humano
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17. Avalia-se a importância desse processo, pois, conforme a analise sobre
interatividade seu comportamento como instrumento que instiga a curiosidade e a liberdade
dentro da navegação de um conteúdo informativo.
Conclusão
Percebe-se que o papel do design na construção da visualização de uma informação ou
na análise de dados é imprescindível para uma comunicação ágil. O aprofundamento dessas
questões auxilia no entendimento da conexão semiológica durante a navegação entre internauta
e sistema. Sendo que é imprescindível conhecer o internauta e a relevância das informações
para ele, podendo assim, abstrair os dados que não são tão importantes para a visualização.
As utilidades e a forma de navegar na internet evoluíram e tudo que está disponível é
compartilhado por todos. A compreensão de que o internauta não é mais um expectador
passivo é o princípio para a construção da visualização de dados. O internauta deve estar
inserido na percepção do conteúdo, deve ser um construtor dela também.
Em linhas gerais, a visualização de dados terá importância ao internauta se ele ajudar a
construir e formar opinião própria e poder compartilhar com sua rede pessoal de informações.
Referências
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Madrid: Alamut, 2008.
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http://www.thefunctionalart.com/2012/03/information-graphics-workshop-in-spain.html.
Acesso em 26/04/2012.
CAMPOS, Jorge L. SILVA, Wallace V. O design e a representabilidade dos signos dentro
da world wide web. Disponível em http://bit.ly/Ljm3gO. Acesso em 21/06/2012.
CARVALHO, José O. F., DIAS, Mateus Pereira. A Visualização da Informação e a sua
contribuição para a Ciência da Informação. DataGramaZero: Revista de Ciência da
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DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. Traduação Jeferson Luis Camargo. São
Paulo: Martins Fontes, 1997.
FILHO, João G. Gestalt do Objeto: sistema de leitura visual da forma. São Paulo: 2000.
KOTLER, Philip. Marketing 3.0: as forças que estão definindo o novo marketing centrado
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LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed 34, 1999.
MUNARI, Bruno. Das coisas nascem coisas. Apontamentos por uma metodologia
projetual. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1983.
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