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marinhas
             AGRUPAMENTO
             VERTICAL
             DE ESCOLAS          E.B. 2,3 de Marinhas – 346810

                                        Ano   lectivo 2008 / 2009

                                         NÍVEIS DE LÍNGUA

Ao usar a expressão oral ou a expressão escrita, cada falante adapta a língua às diversas situações de
acordo com factores como a realidade social em que está inserido, o grau de cultura, a idade. Assim, a
mesma mensagem pode ser produzida de modo diferente pelo mesmo emissor, que instintivamente opta pela
que melhor se ajusta às circunstâncias, ao contexto e ao destinatário.
Repare, por exemplo, nestes comentários que traduzem apreço pelo jogador de futebol Luís Figo.

- Gosto mesmo de ver jogar o Figo!
- O Figo é um jogador amoroso!
- Considero o Figo um jogador fabuloso! Melhor, fascinante!

No primeiro comentário Gosto mesmo de ver jogar o Figo! - o vocabulário e a construção da frase são
usuais, e não têm originalidade. No dia-a-dia, as situações de comunicação possuem estas marcas.
“A Língua Corrente (...) permite a todos os sujeitos falantes comunicarem entre si e compreenderem-se
mutuamente, sejam eles de cultura rudimentar (até analfabetos), ou
de elevada cultura.” * Este uso normal da língua designa-se Nível Corrente.

Entre amigos ou em família, numa situação de perfeito à-vontade, surgiriam espontaneamente afirmações do
tipo O Figo é um jogador amoroso! “A Língua Familiar é simples, quer no vocabulário, quer na
elaboração sintáctica, não distando muito da Língua Padrão”.*
O Nível Familiar é mais simples do que o Nível Corrente, empregando-se com frequência provérbios,
diminutivos e vocábulos com conotação afectiva. Quanto às frases, estas são,normalmente de estrutura
simplificada.

Nível Corrente
(padrão ou norma)

Nível familiar


“Já com esta são três que te escrevo, e ó por hora nem uma nem duas da tua parte. Marido! que
fazes tu, que não respondes? Ando a futurar que não tens o miolo no seu lugar. Longe da vista,
longe do coração, diz lá o ditado. Ora, queira Deus que não seja por minga de saúde; e, se é, di-
Io para cá, que eu estou aqui estou lá.”
                                                         Camilo Castelo Branco, A Queda dum Anjo

Neste excerto de uma carta de Teodora a seu marido Calisto Elói, personagens de uma obra de Camilo
Castelo Branco, podemos notar que as expressões destacadas revelam o baixo nível de instrução da
personagem, que utiliza um Nível de Língua Popular.
“A Língua Popular é a língua utilizada pelo povo, quer quando fala, quer quando escreve. Caracteriza-se
este nível de língua pela simplicidade do vocabulário, (...) e pelos desvios à norma.

(...) Como estas características variam com as regiões do País e com determinados grupos sociais, a Língua
Popular pode assumir as formas de regionalismo e de gíria.”




                                                                                                        1
"(...) „Manolo mata no peito e cola na relva, Pauliiinho corta in extrimis e dispara, mas tem Carlão
à ilharga, Juca bate no esférico, rodopia, faz um bonito, éeee lançamento longo... Manecas
recebe e progride no terreno, remata do meio da rua... não é gooooolo... Zezinho sobe e agarra,
ripa na rapaqueca e... „ Não é chinês, apenas um pedaço seleccionado do dialecto futebolístico.

Aqui fica a tradução: “.. .a bola bate no peito de Manolo e cai no chão. Paulinho evita o golo
mesmo no último minuto e dá um pontapé na bola com bastante força. Carlão não o larga.
Entretanto juca despista O adversário ao mudar a direcção da jogada, mandando o esférico para
longe. Manecas fica com a bola, avança até à baliza doadversário, chuta, mas está demasiado
afastado para marcar golo. O guarda-redes defende, pula, agarra na bola, dá-Ihe uns toques e... “

                                                                                           In Cosmos –nº 28
Este excerto de "dialecto futebolístico" é um bom exemplo do uso da língua restrito a um grupo sócio
profissional.

Nível Popular:
. As Gírias
. Os Regionalismos
. As Gírias
. O Calão
 “As Gírias são linguagens próprias de certos grupos sociais, de certas profissões, como pedreiros,
peixeiras, pescadores, militares, estudantes, etc, que usam um vocabulário próprio, geralmente com a
finalidade de não serem compreendidos por indivíduos estranhos ao seu grupo. Dentro das Gírias pode
incluir-se também o Calão.”
O calão é um linguajar considerado grosseiro e com uma conotação desfavorável sobretudo pelo facto de ser
originário de extractos sociais marginalizados. No entanto, certos vocábulos do calão vão entrando na
linguagem familiar. Assim são já aceitáveis na linguagem familiar termos como: perua, grossura, e pifão
(bebedeira); cagaço
(medo); acagaçar (meter medo); massa e pasta (dinheiro); teso, limpo, liso, sem cheta (sem dinheiro); tipo
e gajo; chato, chatice, chatear; giro (bonito); moina (vadiagem ); dar com os pés (despedir); entre outros
exemplos. Quanto mais não seja por ter ouvido falar na rádio ou na televisão pessoas de regiões ou locais
diferentes, já deve ter reparado em diferenças regionais na utilização da nossa língua. São variedades
próprias de cada região, que, de modo algum, impedem a comunicação – Regionalismos.




                                               ESQUEMA – SÍNTESE


-LÍNGUA CUIDADA (CULTA)                      LÍNGUA COMUM                   -LÍNGUA FAMILIAR

-Língua Literária e Poética                      NORMA ou                    -LÍNGUA POPULAR
                                                  PADRÃO
-Linguagem Técnica e Científica                                                   Gíria, Calão,
                                                  ( Corrente)                     Regionalismo

LÍNGUA PADRÃO

A língua padrão é constituída por um sistema de signos e regras próprias de uma comunidade linguística, que permitem a
todos os sujeitos falantes comunicarem entre si e compreenderem-se mutuamente, sejam eles de cultura rudimentar ou de
elevada cultura.Aproximam-se da língua padrão os textos dos manuais escolares, a linguagem do professor e dos alunos
nas aulas e todos os textos expositivos em que se vise a clareza e a compreensão fácil.




                                                                                                                    2
LÍNGUA CUIDADA

A língua que encontramos nos discursos parlamentares, nas conferências. Usa um vocabulário mais seleccionado e
menos usual.

Língua Literária e Poética

Apresenta as características da língua cuidada, mas assume desvios da norma mais arrojados: figuras de estilo e palavras
estudadas para criar ambientes emotivos e poéticos.

Linguagem Técnica

É constituída por palavras relativas a determinada profissão e se usam nesse contexto: um mecânico de automóveis
conhece o nome de todas as peças de um motor, o que não sucede a qualquer falante.

Linguagem Científica

Afasta-se da língua comum porque se refere a questões da Medicina, da Físico-Química, da Biologia, etc..

LÍNGUA FAMILIAR

A língua familiar é simples, não se afastando muito da língua padrão. Os falantes dão a impressão de se conhecerem bem.

LÍNGUA POPULAR

A língua popular é muito simples, sem palavras eruditas e desvia-se da norma, quer na fala, quer na escrita. As
características da língua popular variam com as regiões do país ( Regionalismos) e com os diferentes tipos sociais (
Gírias e Calão)

Regionalismos

São registos de língua próprios da população de diferentes povoações ou regiões. Distinguem-se pela pronúncia, pelos
diferentes significados e diferente construção de palavras e frases.

Gírias

São linguagem própria de certos grupos sociais, de certas profissões que usam um vocabulário próprio, geralmente com a
finalidade de não serem compreendidos por indivíduos estranhos ao seu grupo.

Calão

O calão é um tipo de gíria própria de grupos sociais mais marginais, onde a acção educativa dificilmente penetra: trata-se
de uma linguagem grosseira e muitas vezes obscena. No entanto, certas palavras entram a pouco e pouco na linguagem
familiar, sobretudo entre os jovens. São frequentes palavras ou expressões como gajo, chatear, pifo, teso, etc..




                                                                                                                        3

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  • 1. marinhas AGRUPAMENTO VERTICAL DE ESCOLAS E.B. 2,3 de Marinhas – 346810 Ano lectivo 2008 / 2009 NÍVEIS DE LÍNGUA Ao usar a expressão oral ou a expressão escrita, cada falante adapta a língua às diversas situações de acordo com factores como a realidade social em que está inserido, o grau de cultura, a idade. Assim, a mesma mensagem pode ser produzida de modo diferente pelo mesmo emissor, que instintivamente opta pela que melhor se ajusta às circunstâncias, ao contexto e ao destinatário. Repare, por exemplo, nestes comentários que traduzem apreço pelo jogador de futebol Luís Figo. - Gosto mesmo de ver jogar o Figo! - O Figo é um jogador amoroso! - Considero o Figo um jogador fabuloso! Melhor, fascinante! No primeiro comentário Gosto mesmo de ver jogar o Figo! - o vocabulário e a construção da frase são usuais, e não têm originalidade. No dia-a-dia, as situações de comunicação possuem estas marcas. “A Língua Corrente (...) permite a todos os sujeitos falantes comunicarem entre si e compreenderem-se mutuamente, sejam eles de cultura rudimentar (até analfabetos), ou de elevada cultura.” * Este uso normal da língua designa-se Nível Corrente. Entre amigos ou em família, numa situação de perfeito à-vontade, surgiriam espontaneamente afirmações do tipo O Figo é um jogador amoroso! “A Língua Familiar é simples, quer no vocabulário, quer na elaboração sintáctica, não distando muito da Língua Padrão”.* O Nível Familiar é mais simples do que o Nível Corrente, empregando-se com frequência provérbios, diminutivos e vocábulos com conotação afectiva. Quanto às frases, estas são,normalmente de estrutura simplificada. Nível Corrente (padrão ou norma) Nível familiar “Já com esta são três que te escrevo, e ó por hora nem uma nem duas da tua parte. Marido! que fazes tu, que não respondes? Ando a futurar que não tens o miolo no seu lugar. Longe da vista, longe do coração, diz lá o ditado. Ora, queira Deus que não seja por minga de saúde; e, se é, di- Io para cá, que eu estou aqui estou lá.” Camilo Castelo Branco, A Queda dum Anjo Neste excerto de uma carta de Teodora a seu marido Calisto Elói, personagens de uma obra de Camilo Castelo Branco, podemos notar que as expressões destacadas revelam o baixo nível de instrução da personagem, que utiliza um Nível de Língua Popular. “A Língua Popular é a língua utilizada pelo povo, quer quando fala, quer quando escreve. Caracteriza-se este nível de língua pela simplicidade do vocabulário, (...) e pelos desvios à norma. (...) Como estas características variam com as regiões do País e com determinados grupos sociais, a Língua Popular pode assumir as formas de regionalismo e de gíria.” 1
  • 2. "(...) „Manolo mata no peito e cola na relva, Pauliiinho corta in extrimis e dispara, mas tem Carlão à ilharga, Juca bate no esférico, rodopia, faz um bonito, éeee lançamento longo... Manecas recebe e progride no terreno, remata do meio da rua... não é gooooolo... Zezinho sobe e agarra, ripa na rapaqueca e... „ Não é chinês, apenas um pedaço seleccionado do dialecto futebolístico. Aqui fica a tradução: “.. .a bola bate no peito de Manolo e cai no chão. Paulinho evita o golo mesmo no último minuto e dá um pontapé na bola com bastante força. Carlão não o larga. Entretanto juca despista O adversário ao mudar a direcção da jogada, mandando o esférico para longe. Manecas fica com a bola, avança até à baliza doadversário, chuta, mas está demasiado afastado para marcar golo. O guarda-redes defende, pula, agarra na bola, dá-Ihe uns toques e... “ In Cosmos –nº 28 Este excerto de "dialecto futebolístico" é um bom exemplo do uso da língua restrito a um grupo sócio profissional. Nível Popular: . As Gírias . Os Regionalismos . As Gírias . O Calão “As Gírias são linguagens próprias de certos grupos sociais, de certas profissões, como pedreiros, peixeiras, pescadores, militares, estudantes, etc, que usam um vocabulário próprio, geralmente com a finalidade de não serem compreendidos por indivíduos estranhos ao seu grupo. Dentro das Gírias pode incluir-se também o Calão.” O calão é um linguajar considerado grosseiro e com uma conotação desfavorável sobretudo pelo facto de ser originário de extractos sociais marginalizados. No entanto, certos vocábulos do calão vão entrando na linguagem familiar. Assim são já aceitáveis na linguagem familiar termos como: perua, grossura, e pifão (bebedeira); cagaço (medo); acagaçar (meter medo); massa e pasta (dinheiro); teso, limpo, liso, sem cheta (sem dinheiro); tipo e gajo; chato, chatice, chatear; giro (bonito); moina (vadiagem ); dar com os pés (despedir); entre outros exemplos. Quanto mais não seja por ter ouvido falar na rádio ou na televisão pessoas de regiões ou locais diferentes, já deve ter reparado em diferenças regionais na utilização da nossa língua. São variedades próprias de cada região, que, de modo algum, impedem a comunicação – Regionalismos. ESQUEMA – SÍNTESE -LÍNGUA CUIDADA (CULTA) LÍNGUA COMUM -LÍNGUA FAMILIAR -Língua Literária e Poética NORMA ou -LÍNGUA POPULAR PADRÃO -Linguagem Técnica e Científica Gíria, Calão, ( Corrente) Regionalismo LÍNGUA PADRÃO A língua padrão é constituída por um sistema de signos e regras próprias de uma comunidade linguística, que permitem a todos os sujeitos falantes comunicarem entre si e compreenderem-se mutuamente, sejam eles de cultura rudimentar ou de elevada cultura.Aproximam-se da língua padrão os textos dos manuais escolares, a linguagem do professor e dos alunos nas aulas e todos os textos expositivos em que se vise a clareza e a compreensão fácil. 2
  • 3. LÍNGUA CUIDADA A língua que encontramos nos discursos parlamentares, nas conferências. Usa um vocabulário mais seleccionado e menos usual. Língua Literária e Poética Apresenta as características da língua cuidada, mas assume desvios da norma mais arrojados: figuras de estilo e palavras estudadas para criar ambientes emotivos e poéticos. Linguagem Técnica É constituída por palavras relativas a determinada profissão e se usam nesse contexto: um mecânico de automóveis conhece o nome de todas as peças de um motor, o que não sucede a qualquer falante. Linguagem Científica Afasta-se da língua comum porque se refere a questões da Medicina, da Físico-Química, da Biologia, etc.. LÍNGUA FAMILIAR A língua familiar é simples, não se afastando muito da língua padrão. Os falantes dão a impressão de se conhecerem bem. LÍNGUA POPULAR A língua popular é muito simples, sem palavras eruditas e desvia-se da norma, quer na fala, quer na escrita. As características da língua popular variam com as regiões do país ( Regionalismos) e com os diferentes tipos sociais ( Gírias e Calão) Regionalismos São registos de língua próprios da população de diferentes povoações ou regiões. Distinguem-se pela pronúncia, pelos diferentes significados e diferente construção de palavras e frases. Gírias São linguagem própria de certos grupos sociais, de certas profissões que usam um vocabulário próprio, geralmente com a finalidade de não serem compreendidos por indivíduos estranhos ao seu grupo. Calão O calão é um tipo de gíria própria de grupos sociais mais marginais, onde a acção educativa dificilmente penetra: trata-se de uma linguagem grosseira e muitas vezes obscena. No entanto, certas palavras entram a pouco e pouco na linguagem familiar, sobretudo entre os jovens. São frequentes palavras ou expressões como gajo, chatear, pifo, teso, etc.. 3