2. Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho: Arte, Inglês e Língua Portuguesa: 8o
ano/3o
termo
do Ensino Fundamental. São Paulo: Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia
(SDECT), 2013.
il. (EJA – Mundo do Trabalho)
Conteúdo: Caderno do Estudante.
ISBN: 978-85-65278-57-7 (Impresso)
978-85-65278-64-5 (Digital)
1. Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Ensino Fundamental 2. Artes – Estudo e ensino 3. Língua
Inglesa – Estudo e ensino 4. Língua Portuguesa – Estudo e ensino I. Secretaria de Desenvolvimento
Econômico, Ciência e Tecnologia II. Título III. Série.
CDD: 372
FICHA CATALOGRÁFICA
Sandra Aparecida Miquelin – CRB-8 / 6090
Tatiane Silva Massucato Arias – CRB-8 / 7262
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação autoriza a reprodução
do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais secretarias do país, desde que mantida a
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Nos Cadernos do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho são indicados
sites para o aprofundamento de conhecimentos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados e
como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram verificados. No entanto, como a
internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência,
Tecnologia e Inovação não garante que os sites indicados permaneçam acessíveis ou inalterados, após a
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3. Geraldo Alckmin
Governador
Nelson Luiz Baeta Neves Filho
Secretário em exercício
Maria Cristina Lopes Victorino
Chefe de Gabinete
Ernesto Masselani Neto
Coordenador de Ensino Técnico,
Tecnológico e Profissionalizante
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
Herman Voorwald
Secretário
Cleide Bauab Eid Bochixio
Secretária Adjunta
Fernando Padula Novaes
Chefe de Gabinete
Maria Elizabete da Costa
Coordenadora de Gestão da Educação Básica
SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO,
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
4. Fundação do Desenvolvimento Administrativo – Fundap
Geraldo Biasoto Jr.
Diretor Executivo
Lais Cristina da Costa Manso Nabuco de Araújo
Superintendente de Relações Institucionais e
Projetos Especiais
Coordenação Executiva do Projeto
José Lucas Cordeiro
Coordenação Técnica
Impressos: Selma Venco
Vídeos: Cristiane Ballerini
Equipe técnica e pedagógica
Ana Paula Lavos, Clélia La Laina, Dilma Fabri
Marão Pichoneri, Emily Hozokawa Dias, Fernando
Manzieri Heder, Lais Schalch, Liliana Rolfsen Petrilli
Segnini, Maria Helena de Castro Lima, Paula Marcia
Ciacco da Silva Dias, Silvia Andrade da Silva Telles e
Walkiria Rigolon
Autores
Arte: Eloise Guazzelli e Gisa Picosque. Ciências:
Gustavo Isaac Killner. Geografia: Mait Bertollo.
História: Fábio Luis Barbosa dos Santos. Inglês:
Eduardo Portela. Língua Portuguesa: Claudio
Bazzoni. Matemática: Antonio José Lopes. Trabalho:
Maria Helena de Castro Lima e Selma Venco.
Fundação Carlos Alberto Vanzolini
Antonio Rafael Namur Muscat
Presidente da Diretoria Executiva
Hugo Tsugunobu Yoshida Yoshizaki
Vice-presidente da Diretoria Executiva
Gestão de Tecnologias em Educação
Direção da Área
Guilherme Ary Plonski
Coordenação Executiva do Projeto
Angela Sprenger e Beatriz Scavazza
Gestão do Portal
Luiz Carlos Gonçalves, Sonia Akimoto e
Wilder Rogério de Oliveira
Gestão de Comunicação
Ane do Valle
Gestão Editorial
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Equipe de Produção
Assessoria pedagógica: Ghisleine Trigo Silveira
Editorial: Adriana Ayami Takimoto, Airton Dantas de
Araújo, Beatriz Chaves, Camila De Pieri Fernandes,
Carla Fernanda Nascimento, Célia Maria Cassis,
Cláudia Letícia Vendrame Santos, Gisele Gonçalves,
Hugo Otávio Cruz Reis, Lívia Andersen França,
Lucas Puntel Carrasco, Mainã Greeb Vicente,
Patrícia Maciel Bomfim, Patrícia Pinheiro de Sant’Ana,
Paulo Mendes e Tatiana Pavanelli Valsi
Direitos autorais e iconografia: Aparecido Francisco,
Beatriz Blay, Olívia Vieira da Silva Villa de Lima,
Priscila Garofalo, Rita De Luca e Roberto Polacov
Apoio à produção: Luiz Roberto Vital Pinto,
Maria Regina Xavier de Brito, Valéria Aranha e
Vanessa Leite Rios
Projeto gráfico-editorial: R2 Editorial e Michelangelo
Russo (Capa)
CTP, Impressão e Acabamento
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação
Coordenação Geral do Projeto
Juan Carlos Dans Sanchez
Equipe Técnica
Cibele Rodrigues Silva e João Mota Jr.
Concepção do programa e elaboração de conteúdos
Gestão do processo de produção editorial
5. Caro(a) estudante,
É com grande satisfação que a Secretaria de Desenvolvimento Econômico,
Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria com a Secretaria da Educação
do Estado de São Paulo, apresenta os Cadernos do Estudante do Programa
Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho, em atendimento
a uma justa reivindicação dos educadores e da sociedade. A proposta é oferecer
um material pedagógico de fácil compreensão, para complementar suas atuais
necessidades de conhecimento.
Sabemos quanto é difícil para quem trabalha ou procura um emprego se dedi-
car aos estudos, principalmente quando se retorna à escola após algum tempo.
O Programa nasceu da constatação de que os estudantes jovens e adultos
têm experiências pessoais que devem ser consideradas no processo de aprendi-
zagem em sala de aula. Trata-se de um conjunto de experiências, conhecimen-
tos e convicções que se formou ao longo da vida. Dessa forma, procuramos
respeitar a trajetória daqueles que apostaram na educação como o caminho
para a conquista de um futuro melhor.
Nos Cadernos e vídeos que fazem parte do seu material de estudo, você
perceberá a nossa preocupação em estabelecer um diálogo com o universo do
trabalho. Além disso, foi acrescentada ao currículo a disciplina Trabalho para
tratar de questões relacionadas a esse tema.
Nessa disciplina, você terá acesso a conteúdos que poderão auxiliá-lo na
procura do primeiro ou de um novo emprego. Vai aprender a elaborar o seu
currículo observando as diversas formas de seleção utilizadas pelas empresas.
Compreenderá também os aspectos mais gerais do mundo do trabalho, como as
causas do desemprego, os direitos trabalhistas e os dados relativos ao mercado
de trabalho na região em que vive. Além disso, você conhecerá algumas estra-
tégias que poderão ajudá-lo a abrir um negócio próprio, entre outros assuntos.
Esperamos que neste Programa você conclua o Ensino Fundamental e, pos-
teriormente, continue estudando e buscando conhecimentos importantes para
seu desenvolvimento e para sua participação na sociedade. Afinal, o conheci-
mento é o bem mais valioso que adquirimos na vida e o único que se acumula
por toda a nossa existência.
Bons estudos!
Secretaria de Desenvolvimento
Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação
Secretaria da Educação
6. Sumário
Arte..........................................................................................................................................7
Unidade 1
A materialidade nas criações artísticas 9
Unidade 2
O corpo como suporte e matéria da arte 29
Unidade 3
Matéria e materiais inusitados na arte 45
Unidade 4
@rte e tecnologia: outros modos de materialidade 63
Inglês................................................................................................................................. 75
Unit 1
Food 77
Unit 2
The origins of work 91
Unit 3
Work safety 103
Unit 4
Common work issues 113
Língua Portuguesa.........................................................................................127
Unidade 1
Sentidos dentro e fora dos textos 129
Unidade 2
Fio de histórias... 153
Unidade 3
Cartas: seus autores e seus leitores 165
Unidade 4
Pesquisando o mundo em dicionários e enciclopédias 187
Unidade 5
O que fazem os poetas com as palavras? 203
7.
8. Língua
Portuguesa
Caro(a) estudante,
Este Caderno de Língua Portuguesa tem o objetivo de levar você a apro-
fundar seus conhecimentos nas práticas de linguagem como leitura, fala,
escuta e escrita. Espera-se, desse modo, que você possa ampliar seu envolvi-
mento com as palavras e ter mais confiança para se expressar e interpretar os
diversos textos, nos mais variados contextos, tendo melhor participação social
como cidadão.
A construção de sentidos dentro e fora dos textos e a compreensão de
como os autores entrelaçam ideias para ligar um trecho do texto ao trecho
seguinte em composições escritas serão trabalhadas na Unidade 1. Nela,
você estudará os conceitos de coerência e coesão, descobrindo por que um
texto é muito mais que a soma de um conjunto de palavras e frases.
Na Unidade 2, você aprofundará seus estudos sobre o conto, um
gênero bastante versátil. Lembrará o que acontece com contos da tradição
oral que ganham versão escrita e poderá entrar em contato com os que já
“nasceram” escritos. Terá a oportunidade de ler e interpretar um conto e
diversos minicontos – criações com o mínimo de palavras, mas que produ-
zem enorme impacto no leitor.
Logo depois, na Unidade 3, você vai escrever, ler e analisar alguns gêne-
ros de cartas, bem como conhecer características, estilos, valor histórico e
outras informações sobre elas, que fazem com que a correspondência, ainda
hoje, exerça uma importante função na vida das pessoas. Revisando as car-
tas que vai redigir, além de aprimorar a produção escrita, aprenderá tam-
bém a aplicar boas estratégias para reclamar e solicitar seus direitos.
Na Unidade 4, você vai ler e comparar diferentes verbetes. Nela, você verá
que, quando se quer aprender algo de maneira mais formal e sistematizada,
você pode pesquisar em obras de referência, como dicionários e enciclopédias,
que reúnem os conhecimentos produzidos pela humanidade.
Por fim, na Unidade 5, você vai ler, divertir-se, emocionar-se e aprender
com os poemas – um dos modos humanos de interpretar a vida e seus sen-
tidos. Vai ainda lidar com alguns recursos textuais que os poetas utilizam
para expressar, em versos, as mais diversas emoções, de modo diferente do
que fariam na linguagem cotidiana. Para aprender a construir sentidos nos
textos desse gênero, cuidadosamente escritos para provocar reflexão, encan-
tamento e emoção, será convidado a reconstruir e explorar, na leitura de
poemas antigos e contemporâneos, as estratégias textuais dos poetas.
Bons estudos!
8o
ANO
3o
TERMO
9. 1 Sentidos dentro e
fora dos textos
A primeira coisa importante a dizer sobre um texto é que ele é
produto da intenção de alguém que o fala ou escreve.
ABREU, Antônio Suárez. Texto e gramática: uma visão integrada e funcional para a leitura e a escrita.
São Paulo: Melhoramentos, 2012, p. 17. (Coleção Como Eu Ensino).
Nesta Unidade, você vai estudar coerência e coesão textuais em
atividades de leitura e análise de textos de diferentes gêneros. Verá
como os sentidos de um texto se constroem dentro e fora dele – na
relação entre autor e leitor –, e como isso é importante tanto para
escrever como para ler. Além disso, conhecerá diferentes estraté-
gias que os autores utilizam para “costurar” as ideias em seu texto,
“amarrando” um termo a outro, substituindo-o e estabelecendo rela-
ções entre um trecho e os seguintes.
Para iniciar...
Você sabia que a palavra “texto”, em seu sentido original, tem
relação com tecido, pano, estofo? Que significa obra feita de muitas
partes reunidas; ou, ainda, entrançado, entrelaçado?
Converse com os colegas e o professor.
• O que significa afirmar que um time de futebol, de basquete ou de
outro esporte coletivo é um time coeso? Times coesos são fáceis
de ser derrotados? Por quê?
• Ao costurar um tecido, entrelaçam-se os fios até que as partes do
pano fiquem bem “ligadas”. Que cuidados, em sua opinião, deve-se
ter para entrelaçar/unir as palavras em um texto?
• Um roteiro de uma novela ou de um filme é construído com cortes
e vínculos entre cenas e personagens da história. Quando os cor-
tes são bem-feitos, é mais fácil compreender a história? Por quê?
• O que você entende por “coerência”? O que, em sua opinião,
significa ter uma atitude coerente?
129
10. • É possível que algumas pessoas considerem uma situação coeren-
te, enquanto outras a consideram incoerente? Por quê?
• Quando alguém afirma que um texto não tem coerência, o que
você acha que essa pessoa quer dizer?
O entrelaçamento do texto
Apesar de você se deparar a todo instante com textos diversos, na
escola e fora dela, definir o que é um texto não é tarefa simples. Para
dizer o que ele significa, é preciso considerar uma porção de fatores.
O primeiro é que texto é um objeto simbólico que sempre precisa
ser interpretado. Complicado? O que significa ser “um objeto simbó-
lico”? Por que sempre precisa ser interpretado?
Um texto é considerado “um objeto simbólico”, porque é uma
representação; ou seja, o sentido (ou os sentidos) não está(ão) só
nele, mas também no que é possível desvendar por trás dele, na
interpretação. Por exemplo, se você escutasse a frase “Eu adoro
tomar sorvete”, qual seria sua interpretação para a palavra “sor-
vete”? E na frase “Se fosse possível viver uma próxima vida, toma-
ria mais sorvete e menos sopa de lentilha”? Você acha que essa pala-
vra é usada com o mesmo sentido?
Dizer “Se fosse possível viver uma próxima vida, tomaria mais
sorvete e menos sopa de lentilha” significa mais do que manifestar
uma preferência alimentar. Nesse caso, “sorvete” representa os pra-
zeres da vida.
Assim, embora expressem as intenções do autor, os sentidos
de um texto nunca estão totalmente prontos. No caso específico
de textos verbais – orais ou escritos –, o sentido dos trechos que
os compõem depende do sentido dos demais com que eles se rela-
cionam e do contexto em que se inserem. Contexto é tudo o que
acompanha e envolve um fato ou uma situação. Desse modo, em
um texto verbal, saber quem é o autor, que posição social ele
ocupa, em que situação escreve, para quem, em que época, em que
veículo ou instituição publica o texto, com que finalidade o criou
– tudo isso – deve fazer parte da leitura.
Além disso, a construção dos sentidos de um texto sempre
depende da interpretação do leitor (ou ouvinte), que a faz com base
em seus conhecimentos pessoais, adquiridos por meio de experiências
e convívio social.
130
LínguaPortuguesa–Unidade1
13. Considerando que você, como leitor, constrói sentidos para o que
lê, responda:
a) Das leituras apresentadas, há alguma que você achou incoerente?
Por quê?
b) Qual leitura você faria do acontecimento “um mosquito es-
magado na parede”?
c) Como um professor leria esse acontecimento?
d) Como você explica que um mesmo fato possa ter tantas leituras?
e) Em sua opinião, com qual intenção Caco Galhardo criou a
série 36 jeitos de ver um mosquito esmagado na parede?
Coerência
Quando se fala em coerência, é possível que a primeira ideia que
venha à cabeça seja a de ligação, nexo, lógica ou harmonia entre fatos
ou ideias. Para um texto ser coerente, portanto, é preciso que o leitor
identifique uma interligação de ideias que se complementam. Por exem-
plo, não há lógica na frase “Os salários são baixos, porque a compra de
revistas não é frequente”. Mas por quê? Do modo como está escrita, a
frase leva a pensar que, se fossem compradas mais revistas, os salários
aumentariam, o que é incoerente. As pessoas precisam de dinheiro para
comprar revistas, e, se o salário delas é baixo, o mais provável é que irão
usá-lo para comprar outras coisas.
Você sabia que a
piada é um gênero
textual muito
popular e cultivado
universalmente?
Já no século XVII,
circulavam pela
Europa tratados sobre
o ridículo – que, em
termos etimológicos,
significa “risível”,
“jocoso”, “absurdo”,
“extravagante”. Em
geral, a piada apresenta
temas estereotipados e
proibidos (politicamente
incorretos). Na verdade,
é só quando os temas
controversos se tornam
populares e passam
a ser discutidos com
frequência que as piadas
começam a aparecer.
As piadas são textos
comumente curtos,
com diálogo e jogos de
linguagem. Sua principal
característica é a quebra
da expectativa do leitor e
a reação provocada por
esse fato. Por isso, elas
exigem conhecimento
do tema de que tratam,
bem como agudeza por
parte do ouvinte ou do
leitor, pois a piada perde
a graça quando precisa
ser explicada. O mesmo
acontece com as tirinhas.
LínguaPortuguesa–Unidade1
133
14. É importante perceber que a coerência não depende apenas do que
está escrito no texto, mas também dos conhecimentos do leitor que vai
interpretá-lo.
Nesse sentido, coerência tem estreita relação com interpretação,
embora o que você vá interpretar também dependa das pistas que lhe
são dadas, no texto, pelo autor. Na leitura da tirinha de Fernando
Gonsales que você estudou na Atividade 1, por exemplo, só entende a
expressão facial e o “silêncio” da baratinha no último quadro quem
conhece a figura do saci-pererê. Então, para construir um sentido,
cada leitor ajusta o texto ao conhecimento de que dispõe.
Atividade 2 Mais coerência...
1. Em dupla, encontrem o trecho no bloco 2 que dá continuidade
coerente a cada texto do bloco 1.
Bloco 1
a) “Olha a quantidade de propaganda de vitamina que você vê
na televisão. [...]” (Drauzio Varella, médico).
CAROS Amigos. As grandes entrevistas de Caros Amigos, n. 2. São Paulo: Casa Amarela, 2001, p. 22.
b) “Eu sei que agora pode parecer sonho defender as etnias. Que
estamos em um mundo universalizado, não existem nem os
países, não há fronteiras, elas são informatizadas. Na Europa,
na Ásia, na África... Eu auguro uma mundialização no bom
sentido das palavras. [...]” (Dom Pedro Casaldáliga, bispo da
Igreja Católica).
CAROS Amigos. As grandes entrevistas de Caros Amigos, n. 2. São Paulo: Casa Amarela, 2001, p. 45.
c) “Isso é uma crítica que eu faço. Acho que a imprensa con-
tribui para esse quadro de violência fortemente. [...]” (Caco
Barcellos, jornalista).
CAROS Amigos. As grandes entrevistas de Caros Amigos, n. 2. São Paulo: Casa Amarela: 2001, p. 18.
d) “Aquele foi talvez o momento de maior aprendizado que tive
na vida. [...]” (Sócrates, ex-jogador de futebol).
CAROS Amigos, São Paulo, ano IV, n. 45, p. 35, dez. 2000.
e) “Eu estou aqui dentro de uma revista atípica, mas a gente sabe
que o jornalismo é uma forma de ficção que tem suas regras
próprias, não é? [...]” (Augusto Boal, ex-diretor de teatro).
CAROS Amigos, São Paulo, ano IV, n. 48, p. 32, mar. 2001.
Augurar
Desejar.
134
LínguaPortuguesa–Unidade1
15. Bloco 2
( ) “[...] Porque nunca, até agora, a humanidade se sentiu de
fato una, com todas as desgraças, tensões e diferenças. Acre-
dito que a gente possa cada vez mais se sentir parte da mes-
ma humanidade, sabendo também aceitar as diferenças das
culturas. Se passarmos por cima das diferenças das culturas,
vamos ter uma humanidade sem alma.”
( ) “[...] Claro que você tem de hierarquizar responsabilidades, não
sei quem é o maior responsável, chutaria primeiro o empresa-
riado, os concentradores de renda. Mas acho que a imprensa
vem logo ali atrás. Justiça, eu acho que é devedora: a renda
de 97 por cento da população carcerária brasileira é de dois
salários-mínimos. Que justiça é essa, não é? Eu quero culpar só
a Justiça? Claro que não. Ela é a ponta.”
( ) “[...] Uma mesma notícia, se você põe na primeira página em
letras garrafais, ganha uma importância extraordinária; mas,
se você põe em letras minúsculas na sétima página, ela vira
uma banalidade. Então, o jornalismo fabrica e a gente sabe que
o jornalismo no Brasil é possuído por algumas poucas famílias,
e essas poucas famílias dizem o que é bom e o que é ruim.”
( ) “[...] Porque essa é a vantagem do esporte, te coloca junto com
outras realidades sociais. Antes disso, não, porque no colé-
gio particular todo mundo está no mesmo nível, mas, quando
fui para o Botafogo com 15 anos, comecei a conviver com
aquilo de que só tinha ouvido falar: fome, desemprego, des-
nutrição. E muito proximamente, porque sempre estava muito
junto das pessoas.”
( ) “[...] Tudo isso é só marketing, mais nada, não há nenhuma evi-
dência científica – respeitados os limites da desnutrição, lógico –,
nenhum estudo mostrando que você consegue melhorar seu
nível de saúde com vitaminas, ou prevenir qualquer doença.”
2. O que você e seu colega observaram nos textos que permitiu a
vocês encontrar os trechos correspondentes?
LínguaPortuguesa–Unidade1
135
17. Atividade 4 Hora da incoerência
1. Leia a Carta à Ana Elvira e responda às questões propostas.
Querida Ana Ervilha
Hoje cedo vi lágrimas nos seus alhos. Que
couve? Algum pepino?
Me conte, andaram falando abobrinhas na tua
segurelha? Ou foi aquela velha escarola da Betty
Rabs que disse que você engordou? Que quiabos!
Você não melancia uma coisa dessas! E, além
disso, veja quem fala: você não vê que ela é meio
acelga? Olhe, tenho um remédio que é batata nes-
ses casos. Diga àquela distinta cenoura que você
é feliz como é e mande-a às favas! Não a deixe
ganhar essa bertalha tão fácil, ela merece uma
surra de chicória! Tomate que você melhore logo!
Quero ver o sorriso voltar às suas alfaces! Se pre-
cisar de alguém para ajudá-la a descascar mais
algum abacaxi, conte cominho.
Sua amiga do coração (de alcachofra),
Horta Alice
PAMPLONA, Rosane. Histórias de dar água na boca.
São Paulo: Moderna, 2008, p. 34. (ênfases adicionadas)
a) Você achou a carta engraçada? Por quê?
LínguaPortuguesa–Unidade1
137
18. b) O que pode ser considerado incoerente nela?
c) Algumas das palavras destacadas fazem parte de expressões
que você usa no dia a dia? Se sim, quais?
d) Em sua opinião, como o leitor da Carta à Ana Elvira conse-
gue perceber o que se pretende dizer nos trechos em que há
termos destacados?
e) Com que intenção você acha que essa carta foi escrita? Você
ainda diria que ela é incoerente?
2. Que relações é possível estabelecer entre a Carta à Ana Elvira e a
obra Verão, de Giuseppe Arcimboldo, na página seguinte?
138
LínguaPortuguesa–Unidade1
20. Quando Maria percebeu, o jovem João se aproximava, e fo-
ram caminhando juntos. Ele a acompanhou até que ela chegou
ao trabalho para mais um dia de labuta.
Coesão
Você já viu que a palavra “texto” tem relação com tecido, com
entrelaçamento. Viu também que, sempre que tentamos construir
sentidos para o que lemos, ouvimos e vemos, é preciso recorrer aos
nossos conhecimentos. Agora, você vai compreender como acontece
o encadeamento (a amarração) e a estruturação dos termos que com-
põem o texto: a coesão textual.
Coesão relaciona-se com união, com ideias amarradas ou ligadas.
Para que esse processo ocorra, é preciso observar duas coisas: a maneira
como em um texto um termo liga-se a outro, substituindo-o, retomando-o,
ou antecipando-o, e o modo como as ideias progridem no texto.
Observe o exemplo:
Da maneira como está escrita, a frase dá poucas pistas ao leitor.
Quem acompanhou? Quem chegou ao trabalho para mais um dia de
labuta? Sem que apareçam os termos a que “ele”, “a” e “ela” se referem,
não há como saber quem são os envolvidos na situação. Repare agora:
Ele a acompanhou até que ela chegou ao trabalho para mais
um dia de labuta.
Agora, com o parágrafo completo, ficou fácil saber a que nomes as
palavras destacadas estavam ligadas, ou seja, que palavras substituíam.
“Ele” refere-se ao “jovem João”; “a” e “ela” evitam a repetição de
“Maria”. A noção de coesão demonstra que algumas vezes, para inter-
pretar um termo no texto, você precisa pressupor outro.
Atividade 5 Identificando estratégias de coesão I
1. Leia o fragmento de texto abaixo e localize os quatro argumentos
que aparecem. Registre-os no quadro da próxima página e diga o que
há em comum na apresentação desses argumentos.
VARELLA, Drauzio. Médico de
família. Drauzio Varella.com.br.
Disponível em:
<http://drauziovarella.com.br/
wiki-saude/medico-de-familia/>.
Acesso em: 26 out. 2012.
(ênfases adicionadas)
[...] esse tipo de médico [médico de família] foi extinto por várias razões. Pri-
meiro, porque desapareceram as famílias numerosas de antigamente que se
reuniam em torno do patriarca para o cafezinho na sala com o doutor. Segundo,
porque as cidades pacatas nas quais ele se movimentava não existem mais.
Terceiro, porque os honorários recebidos por um médico daquele tempo eram
suficientes para uma vida confortável, sem precisar de três ou quatro empregos.
E, acima de tudo, porque médico de família era privilégio de poucos. [...]
140
LínguaPortuguesa–Unidade1
21. Argumentos
O que há em comum na apresentação deles
2. Qual dos quatro argumentos apresentados é o mais importante
para o autor? Justifique sua resposta.
LínguaPortuguesa–Unidade1
141
22. Estratégias de coesão
Há algumas estratégias de coesão que podem ser utilizadas na hora
de escrever um texto e que também são importantes para a interpretação.
Em Ainda há tempo?, é possível observar algumas delas e descobrir a
lógica por trás de seu uso. Leia o fragmento a seguir, para depois discutir
o que o autor fez para tornar esse texto coeso.
São Paulo, nov./dez. 2007
Ainda há tempo?
AINDA há tempo? In: O Estado de S. Paulo. Amazônia. Grandes Reportagens. São Paulo, nov./dez. 2007.
(cores e quadros adicionados)
O Estado de S. Paulo – Amazônia. Grandes Reportagens
Exótica e esplendorosa, mas tratada com ambiguidade e distanciamento, a
Amazônia pode ser salva, mas antes é preciso conhecê-la
Ainda é possível salvar a Amazônia? Há tempos, essa pergunta desafia as
consciências brasileiras sem que para ela, ao longo dos anos e dos governos, o
Estado tenha formulado uma resposta confiável e definitiva. A Amazônia tem
sido mais conhecida pelas ameaças que pairam sobre ela. As notícias sobre essa
exótica e esplendorosa região estão quase sempre associadas à devastação da
floresta, à contaminação das águas, à extinção da biodiversidade, à degradação
dos seus habitantes nativos. Repete-se sempre a especulação de que o Brasil
não teria competência para geri-la. Essa sequência de notícias ruins tem funda-
mentos reais. O Brasil tem tratado com ambiguidade e distanciamento o maior
tesouro biológico do planeta , que lhe pertence. [...]
O distanciamento que nos separa da Amazônia faz com que a região seja,
ao mesmo tempo, ambígua fonte de orgulho e de aborrecimento, deslumbra-
mento e estranhamento, atração e repulsa. Mas não há como negar a pre-
sença dela em nossa vida. Quando um paulista bebe um copo d’água, garante
a ciência, está bebendo água amazônica. O regime de chuvas do Sul-Sudeste
depende da umidade produzida pela floresta e exportada pelos “rios voadores”.
Para salvar a Amazônia é preciso conhecê-la. Com seu mistério e sua
importância vital, ela é um irresistível objeto de interesse e curiosidade. [...]
142
LínguaPortuguesa–Unidade1
23. Estratégia 1 – Retomada ou antecipação de termos
Repare que as palavras em verde retomam termos, expressões ou frases:
• essa pergunta, ela à Ainda é possível salvar a Amazônia?
• que à o maior tesouro biológico do planeta
• lhe à Brasil
• dela à a região
• -la, seu, sua, ela à a Amazônia
É muito comum que os pronomes esse(s), essa(s), este(s), esta(s), aquele(s), aquela(s), aquilo, que, o(s)
qual(ais), a(s) qual(ais), onde, cujo(s), cuja(s), o(s), a(s), -lo(s), -la(s), -no(s), -na(s), lhe(s), meu(s), minha(s),
seu(s), sua(s), nosso(s), nossa(s) etc., os advérbios e as expressões adverbiais a seguir, assim, desse modo,
acima, abaixo etc. retomem termos já expressos no texto.
Também é possível que o item coesivo apareça antes do termo ou frase que substitui. Por exemplo: “O sonho
mais lindo que tenho é este: que ninguém passe fome no mundo”. Esse tipo de coesão é chamada coesão por
antecipação.
Estratégia 2 – Uso de expressões substitutas
Repare que as palavras em laranja substituem termos ou expressões:
• exótica e esplendorosa região, o maior tesouro biológico do planeta, a região à Amazônia
Observação: é muito comum que os autores utilizem palavras ou expressões que têm sentido mais abrangente
ao substituírem termos que já foram mencionados. Veja algumas possibilidades:
Específico Genérico
Amazônia região
índios povos nativos
planaltos, depressões, montanhas, terrenos alagados e de terra
firme, rios de todos os tamanhos, águas de cores variadas, algumas
ácidas, outras alcalinas, florestas úmidas, florestas secas, savanas,
pântanos e manguezais
ecossistemas muito diferenciados
O caminho inverso também é possível. Uma palavra ou expressão genérica pode ser substituída por um
termo com sentido específico:
Genérico Específico
forças armadas, exército brasileiro soldados
fauna amazônica onça-pintada, jaguatirica, anta, capivara etc.
Estratégia 3 – Termo oculto que pode ser subentendido
Repare na frase: “está bebendo água amazônica”. Quem está bebendo? Nesse caso, a coesão ocorre por
conta da relação quem faz a ação/verbo. É possível saber no texto quem realiza a ação, mesmo que esse
sujeito não esteja escrito. Pelo contexto da frase, sabe-se que é “um paulista”.
Estratégia 4 – Uso dos conectivos
Observe que as palavras em azul fazem progredir o texto, permitindo que o fluxo de ideias continue e que
as frases fiquem articuladas.
• “Há tempos” e “quando” são marcadores temporais, que se articulam perfeitamente com a ideia anterior
• O “mas” cria um sentido de quebra de expectativa
Observação: nem sempre é necessário usar conectivos para estabelecer coesão ou ligação de ideias. A frase
“O regime de chuvas do Sul-Sudeste depende da umidade produzida pela floresta e exportada pelos ‘rios
voadores’.” tem conexão com a ideia anterior. Em vez de usar o conectivo “pois”, o autor preferiu usar
ponto [.]. O ponto não interrompe o fluxo de ideias. A conexão se mantém, ela só não é explícita. Os sinais
de pontuação e os marcadores temporais, entre outros, são também formas de garantir a coesão textual.
LínguaPortuguesa–Unidade1
143
24. Atividade 6 Identificando estratégias de coesão II
1. Leia o texto a seguir, procurando identificar as estratégias de coesão
usadas pelo autor. Em seguida, responda às perguntas propostas.
Você sabia que
alguns termos podem
ser usados em mais de
uma estratégia?
Dependendo do
contexto em que a
frase é inserida, muda
a função que alguns
termos desempenham.
Na frase “Eles se
encontraram e só assim
puderam conversar”,
o termo “assim”
retoma o encontro
entre os personagens,
funcionando como
estratégia de
retomada. Já na frase
“A menina sentiu que
não havia aventura
em sua vida. Assim,
decidiu viajar mundo
afora”, o termo
destacado serve para
ligar as duas sentenças,
estabelecendo entre
elas uma conclusão;
nesse caso, trata-se da
estratégia de uso
dos conectivos.
A biodiversidade brasileira é
de uma grandeza impressionante.
Estimativas de pesquisadores revelam
que o País possui entre 15% e 20% de
toda a biodiversidade mundial e abriga
o maior número de espécies endêmicas
(aquelas que não são encontradas em
nenhum outro lugar). A variedade
da fauna e flora é tão grande que
inviabiliza o levantamento preciso
do número de espécies existentes.
Calcula-se que sejam em número de
2 milhões dos quais apenas 10% do
total já foram identificadas. O ecólogo
Thomas Lewinsohn, da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp),
coordenador do maior levantamento
sobre biodiversidade feito no Brasil,
reconhece que há uma “cratera
gigantesca de informação”, atribuída
justamente à enorme variedade de
espécies.
Essa riqueza confere ao Brasil
uma posição entre os dezessete países
considerados megadiversos – ou seja,
que abrigam 70% das espécies de ani-
mais e vegetais catalogadas no mundo.
Porém, apesar de tamanha abundância
e da certeza de que muitas espécies
existentes nem sequer foram inven-
tariadas, as atividades humanas vêm
ameaçando a manutenção da biodi-
versidade. A União Internacional para
Conservação da Natureza (IUCN)[
*]
estima que, em todo o mundo, de uma
a duas espécies de plantas são extintas
por dia, enquanto a taxa de extinção
dos animais varia de 50 a 250 espécies
por dia.
A extinção da fauna
Segundo dados de inventários, a
fauna brasileira catalogada abrange
524 espécies de mamíferos, 517 anfí-
bios, 1 677 aves, 468 répteis, sendo
muitos desses animais endêmicos.
Eles estão distribuídos pelos diver-
sos ecossistemas dos biomas brasileiros
– Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata
Atlântica, Pantanal e Pampa – e parte
está em perigo de extinção. Fatores
como o desmatamento, a caça e o trá-
fico de animais silvestres, a poluição
ambiental e a invasão por espécies
exóticas (espécies que não ocorrem
originalmente em um local) alteram
drasticamente a paisagem e as relações
ecológicas estabelecidas originalmente
nos ecossistemas. Nestas condições, a
população animal enfrenta dificuldade
para obter alimento, reproduzir-se, des-
locar-se e conseguir abrigo, e sua sobre-
vivência fica comprometida.
Quem sai perdendo
Em princípio, todo ser vivo tem
direito à existência, e a extinção de espé-
cies contraria esse direito. Pensando
sob o ponto de vista dos benefícios que
a natureza proporciona aos seres huma-
nos, a manutenção dos ecossistemas e
de seus processos ecológicos preserva
fontes de alimento, de espécies medici-
nais, combustível e matéria-prima para
a fabricação de produtos; permite man-
ter a qualidade da água e do ar, regula o
clima, previne a erosão do solo e oferece
áreas para lazer, entre outras coisas. A
perda da biodiversidade, portanto, dimi-
nui a qualidade de vida dos seres huma-
nos. [...]
São Paulo, dez. 2008/jan. 2009
Alerta geral
Carta Fundamental
Entenda por que mais de 600 animais da fauna brasileira correm risco de
desaparecer do nosso mapa
[
*]
IUCN é a sigla em inglês para International Union for Conservation of Nature [nota do editor].
NAZÁRIO, Nina. Alerta geral.
Carta Fundamental, p. 28-9,
dez. 2008/jan. 2009.
(ênfases adicionadas)
144
LínguaPortuguesa–Unidade1
25. a) Quantas vezes a palavra “biodiversidade” aparece no texto?
Por que, em sua opinião, essa palavra aparece tantas vezes?
b) Localize e grife no texto as palavras sinônimas ou que têm
aproximadamente o mesmo significado de biodiversidade.
c) No primeiro parágrafo, aparece o pronome “aquelas”. Que
termo esse pronome está substituindo?
d) Ainda no primeiro parágrafo, há o pronome “dos quais”. Que
termo esse pronome está substituindo?
e) Identifique no texto as expressões que mostram que a grande
quantidade de espécies é a causa da lacuna de informações
sobre a biodiversidade brasileira.
f) O segundo parágrafo começa da seguinte maneira: “Essa
riqueza confere ao Brasil [...]”. De que riqueza se trata?
LínguaPortuguesa–Unidade1
145
26. g) O quarto parágrafo começa com o pronome “eles”. Que ter-
mo esse pronome está substituindo?
h) Que fatores alteram drasticamente a paisagem e as relações
ecológicas estabelecidas nos ecossistemas?
i) Que definição de espécies endêmicas o texto apresenta? E de
espécies exóticas?
j) A autora usou parênteses para apresentar as definições de
“espécies endêmicas” e “espécies exóticas”. Estabeleça a coe-
são entre termo e definição, mas escrevendo de outra maneira.
Escolha, para cada caso, uma expressão explicativa:
“ou seja”, “isto é”, “quer dizer” ou “em outras palavras”.
2. O texto a seguir apresenta, de maneira bem resumida, algumas
etapas da evolução das formas de comunicação utilizadas pelo ser
humano. Leia os fragmentos e grife os termos e as expressões que
retomam, substituem ou antecipam o que está sublinhado.
146
LínguaPortuguesa–Unidade1
27. [...]
3800 a.C. – Desenhos livres
Enquanto o homem não sabia falar do jeito como
fazemos hoje, valia fazer desenhos em cavernas a
partir de pigmentos de argila, hematita e carvão
vegetal. A motivação das pinturas não era clara, mas
certamente elas transmitiam conhecimento.
3200 a.C. – Primeiras letras
Os sumérios criaram alfabetos formados por figuras
que representam objetos do cotidiano. Com a siste-
matização desse tipo de desenho, os fenícios tam-
bém desenvolveram um modelo de escrita. Acabava a
Pré-história, e a comunicação começava a evoluir bem
mais rápido.
3000 a.C. – Telégrafo de fogo
Surgia o sinal de fumaça, uma maneira de infor-
mar à distância. Indígenas americanos foram os pri-
meiros a usar os sinais, que seguiam um princípio
depois adotado nos telégrafos: um cobertor abafava
o fogo e soltava a fumaça em intervalos regulares.
2900 a.C. – Voe depressa!
Começava a ser usada uma das formas de se enviar
dados mais resistentes ao tempo: o transporte de
mensagens com pombos-correios. Os registros mais
antigos datavam do Egito de Ramsés II, mas até 2002
as aves ainda eram usadas pela polícia indiana.
550 a.C. – Cartas a galope
O tataravô do correio atual nasceu com Ciro II, rei
da Pérsia, que desenvolveu um sistema de postos de
parada para os homens que levavam cartas a cavalo.
Essa estrutura permitia que uma correspondência
viajasse 2 500 quilômetros com segurança.
1455 – Livros em série
Para a mídia surgir e facilitar o acesso à informação,
foi necessário que Johannes Gutenberg melhorasse a
impressão, que existia havia 14 séculos na China. Sua
sacada foi criar uma forma com letras independentes.
1837 – Contatos imediatos
O americano Samuel Morse (1791-1872) criava
o telégrafo. Ele queria um jeito de trocar mensagens
que o governo americano não entendesse. Em 1835,
ele tinha inventado o Código Morse, que seria funda-
mental para a navegação e a aviação.
1876 – Fala que eu escuto
O escocês Alexander Graham Bell (1847-1922)
patenteava nos Estados Unidos seu aparelho de tele-
fone. Há quem diga que o italiano Antonio Meucci
(1808-1889) teria desenvolvido seu protótipo antes,
mas foi Bell que o popularizou.
1893 – Ondas sonoras
Aparecia o rádio, atribuído ao italiano Guglielmo
Marconi (1874-1937). No futuro, o croata Nikola
Tesla (1856-1943) ganharia o crédito, porque a
invenção de Marconi usava 19 patentes suas. Os pri-
meiros aparelhos transmitiam Código Morse. A emis-
são de voz só começaria em 1918.
1929 – Imagens na sala
O cientista russo Vladimir Zworykin (1889-1982)
apresentava o kinoscópio, o precursor da televisão.
Vários desenvolvimentos posteriores do aparelho de
Zworykin levariam à industrialização e disseminação
da TV, acelerada a partir de 1945.
1960 – Balão espacial
Lançado pelos Estados Unidos, o primeiro saté-
lite refletia sinais enviados a partir da Terra. Bati-
zado de Echo 1, o aparelho consistia em um balão de
náilon de 30 metros de diâmetro, visível a olho nu
em vários pontos do globo.
1994 – Todo mundo online
O governo americano liberava a circulação da
World Wide Web, uma versão civil do sistema de
troca de informações entre as redes de computadores
militares. Em 1995, a internet já tinha 16 milhões de
usuários. Atualmente, são 1,5 bilhão.
Guia do Estudante
Da pedra à internet
Aventuras na história para viajar no tempo
O desenvolvimento da comunicação começou devagar
Fred Linardi 24/08/2009 6h41
LINARDI, Fred. Da pedra à internet. Aventuras na história para viajar no tempo. Guia do Estudante. Disponível em: <http://guiadoestudante.
abril.com.br/estudar/historia/pedra-internet-493922.shtml>. Acesso em: 26 out. 2012. (grifos adicionados)
LínguaPortuguesa–Unidade1
147
28. Atividade 7 Coesão em contos
1. Leia o conto a seguir e responda às questões propostas.
Era uma vez, numa distante cidade do Ocidente, uma jovem chamada
Fátima. Ela era filha de um próspero fiandeiro. Um dia seu pai lhe disse:
“Venha, filha, partiremos em viagem, pois tenho negócios nas ilhas do Medi-
terrâneo. Talvez você encontre um jovem bonito e de boa condição financeira
que possa tomar como marido”.
Eles partiram e viajaram de ilha em ilha; o pai realizava seus negócios
enquanto Fátima sonhava com o marido que logo seria seu. Um dia, no
entanto, a caminho de Creta, desabou uma tempestade, e o barco naufra-
gou. Fátima, semiconsciente, foi lançada à costa perto de Alexandria. Seu pai
estava morto, e ela, completamente desamparada.
Tinha apenas uma vaga lembrança da sua vida até aquele momento, pois
a experiência do naufrágio e o tempo que ficou no mar a levaram à exaustão.
Estava caminhando pelas areias, quando uma família de tecelões a encon-
trou. Embora fossem pobres, levaram-na para sua humilde casa e lhe ensinaram
seu ofício. Foi assim que construiu para si uma segunda vida e, em um ou dois
anos, estava feliz e reconciliada com sua sorte. Mas um dia, quando, por alguma
razão, estava na praia, um bando de mercadores de escravos desembarcou e a
levou, junto com outros nativos.
Embora Fátima tenha lamentado amargamente seu destino, não desper-
tou compaixão nos seus captores, que a levaram para Istambul e a venderam
como escrava.
Seu mundo ruiu pela segunda vez. Acontece que, naquele dia, havia poucos
compradores no mercado. Um deles era um homem que procurava escra-
vos para trabalhar na sua marcenaria, onde construía mastros para embarcações.
Ao ver a tristeza da desafortunada Fátima, decidiu comprá-la, pensando
que assim, pelo menos, poderia dar a ela uma vida um pouco melhor do que se
fosse comprada por outra pessoa.
O homem levou Fátima para sua casa com a intenção de fazer dela uma
criada para sua esposa. Ao chegar à sua casa, contudo, soube que tinha per-
dido todo o seu dinheiro num carregamento que fora capturado por piratas.
Como não podia mais ter empregados, ele, Fátima e sua mulher arcaram sozi-
nhos com o árduo trabalho de fabricar mastros.
Fátima, agradecida a seu patrão por tê-la salvado, trabalhava tanto e tão
bem que ele lhe concedeu a liberdade, e ela passou a ser sua ajudante de con-
fiança. E foi assim que ela ficou razoavelmente feliz na sua terceira profissão.
Um dia seu patrão lhe disse: “Fátima, quero que você acompanhe um car-
regamento de mastros até Java como minha representante e se assegure de
realizar uma boa venda”.
A fiandeira Fátima e a tenda
148
LínguaPortuguesa–Unidade1
29. Ela partiu, mas, quando o navio estava na altura da costa da China, um
tufão o fez naufragar, e Fátima se viu novamente jogada na praia de uma
terra estrangeira. Mais uma vez chorou amargamente, pois sentiu que nada
na sua vida estava funcionando de acordo com suas expectativas. Sempre
que as coisas pareciam estar indo bem, algo acontecia e destruía todas as
suas esperanças.
“Por que será que, sempre que tento fazer algo, isso se transforma em
pesar? Por que tantas desgraças têm de acontecer comigo?”, exclamou pela
terceira vez. Mas não houve resposta. Então, levantou-se da areia e cami-
nhou, afastando-se da praia.
Acontece que, na China, ninguém tinha ouvido falar de Fátima nem
conhecia seus problemas. Mas havia a lenda de que um dia chegaria ali uma
mulher estrangeira que seria capaz de construir uma tenda para o impera-
dor. E, já que não havia, até agora, ninguém na China que construísse tendas,
todos aguardavam o cumprimento dessa profecia com grande expectativa.
Para ter certeza de que essa estrangeira, quando chegasse, não passaria
despercebida, sucessivos imperadores da China mantiveram o costume de
enviar mensageiros uma vez por ano a todas as cidades e povoados, pedindo
que qualquer mulher estrangeira fosse conduzida à corte.
Foi numa dessas ocasiões que Fátima chegou cambaleando a uma cidade
costeira da China. O povo falou com ela por meio de um intérprete e lhe
explicou que teria de ser levada até o imperador.
“Senhora”, disse o imperador quando Fátima foi trazida à sua presença,
“sabe fazer uma tenda?”.
“Acho que sim”, disse Fátima.
Ela pediu cordas, mas não havia nenhuma disponível. Então, lem-
brando-se dos seus tempos de fiandeira, juntou fibras de linho e fez as
cordas. Depois, pediu um tecido grosso e resistente, mas os chineses não
tinham nenhum do tipo de que ela precisava. Contando com sua experiên-
cia com os tecelões de Alexandria, confeccionou uma certa quantidade de
um tecido resistente. Então, percebeu que precisava de estacas, mas não
havia nenhuma na China. Assim, Fátima, lembrando-se de como fora trei-
nada pelo marceneiro de Istambul, construiu com destreza estacas firmes.
Quando estavam prontas, ela puxou de novo pela memória, procurando se
lembrar de todas as tendas que tinha visto nas suas viagens. E vejam só!
Uma tenda foi erguida.
Quando essa maravilha foi apresentada ao imperador da China, ele ofere-
ceu a Fátima a realização de qualquer desejo seu.
Ela escolheu se estabelecer na China, onde se casou com um belo príncipe e
permaneceu feliz, rodeada por seus filhos, até o fim dos seus dias.
Foi por meio dessas aventuras que Fátima compreendeu que aquilo que
em dado momento lhe pareceu ser uma experiência desagradável acabou se
revelando uma parte essencial da sua felicidade definitiva.
FIANDEIRA Fátima e a tenda, A. In: SHAH, Idries. Histórias dos dervixes.
Rio de Janeiro: Roça Nova, 2010, p. 69-72. (cores adicionadas)
LínguaPortuguesa–Unidade1
149
30. a) Você gostou do conto? O que, em sua opinião, ele quer ensinar?
b) As palavras que aparecem coloridas são relativas à personagem
principal, Fátima. Ao longo do texto, há muitas outras que não
foram destacadas. Escolha dois personagens para destacar a
cadeia coesiva. Use cores diferentes para cada personagem.
c) Destaque no conto as expressões que indicam tempo e ajudam
o leitor a perceber a ordem e a sequência dos fatos da história.
d) Faça a lista dos lugares pelos quais Fátima passou. Todos
esses lugares são importantes para o desdobramento da his-
tória? Por quê?
2. Agora, você vai recontar o conto que leu. Junte-se a um colega
para, em primeiro lugar, contarem oralmente o conto. Depois,
sem consultar o texto, o reescrevam no caderno.
3. Ainda em dupla, observem as estratégias de coesão que vocês usa-
ram ao reescrever o conto A fiandeira Fátima e a tenda. Reparem se
não há muita repetição de palavras, se algumas podem ser cortadas
do texto ou substituídas por pronomes, sinônimos ou expressões de
sentido mais abrangente. Reescrevam os trechos nos quais acharem
necessário aplicar as estratégias de coesão que aprenderam.
150
LínguaPortuguesa–Unidade1
31. Atividade 8 Coesão na produção escrita
Converse com os colegas e o professor sobre a seguinte questão:
Observar os recursos coesivos é útil apenas para a leitura de textos ou
é importante considerá-los também na hora de escrever?
Registre as conclusões da turma.
Nesta Unidade, você estudou o que são coerência e coesão.
Aprendeu que a coerência diz respeito à relação entre as ideias
dentro e fora do texto, e que ela também depende da interpreta-
ção do leitor ou ouvinte. Viu ainda que a coesão ocorre no texto
por meio do entrelaçamento de palavras, frases, parágrafos, im-
pedindo que as ideias fiquem soltas ou desconectadas. Ao longo
da Unidade, você percebeu que a coesão pode ser feita de várias
maneiras: retomando palavras, omitindo-as, substituindo-as por
termos sinônimos ou expressões mais abrangentes que corres-
pondam aos termos de referência.
Você estudou
LínguaPortuguesa–Unidade1
151
32. Pense sobre
Em se tratando de textos escritos, sempre se aponta a coerência
das ideias como uma qualidade indispensável. Você saberia explicar
de maneira clara em que consiste essa coerência e como se pode con-
segui-la? Em sua opinião, apenas o uso de elementos coesivos é deci-
sivo para que o texto fique coerente?
152
LínguaPortuguesa–Unidade1
34. possíveis definições desse gênero – um tipo de narrativa ficcional
que apresenta uma sucessão de acontecimentos vivenciados por pou-
cos personagens e contados por um narrador.
Agora, nesta Unidade, você vai trabalhar com contos que já nas-
ceram com formatação escrita e autoria, de modo geral, bem definida.
Antes, porém, é importante falar um pouco de contos da tradição oral
que ganharam versão escrita.
Contar oralmente, contar por escrito
Contos populares são histórias transmitidas por meio da lingua-
gem oral. Muitos dos contos populares contados e recontados aqui,
no Brasil, são adaptações de narrativas que vieram da Europa e da
África, que, por sua vez, segundo estudiosos, eram narrativas pro-
venientes da literatura hindu. Além do conto, “causo” ou conto fol-
clórico, a literatura oral – que existe em todos os países e culturas –
reúne uma série de manifestações conservadas e transmitidas por meio
da palavra falada ou cantada: lendas, mitos, adivinhações, provérbios,
parlendas, cantos, orações, frases feitas.
Mas é importante perceber que contar uma história oralmente é dife-
rente de contar uma história por escrito. Um contador que tem contato
direto com o público pode fazer uso da entonação da voz para imprimir
maior ou menor dramaticidade, contando a história em um ritmo que
considere adequado, fazendo gestos e expressões faciais que cativem o
público. Como manter vivas, no entanto, em um registro escrito, essas
marcas de oralidade que os contadores imprimem a seus textos?
Vale lembrar que o contador-escritor, quando escreve um conto,
não tem contato direto com o público que vai lê-lo. Mas é claro que
ele pode imprimir expressividade ao texto. Pode, por exemplo, repro-
duzir as falas dos personagens (lançando mão do discurso direto),
usando com cuidado e precisão os verbos de dizer (os verbos que
introduzem os diálogos) e os sinais de pontuação.
Outra diferença é que um conto oral pode ser adaptado no
momento em que é narrado. Se o contador quiser, ele pode impro-
visar frases que julgar adequadas ao contexto, por exemplo. Já um
conto escrito não pode sofrer adaptações a cada vez que for lido, para
se adequar à época, à cultura e ao povo de cada lugar. Um conto da
tradição oral ou qualquer uma das manifestações transmitidas oral-
mente, quando ganha registro escrito, passa, de modo inevitável, por
um processo de transformação.
154
LínguaPortuguesa–Unidade2
35. Atividade 1 Contar e escrever um conto
Pense em uma história que você conheça. Conte-a oralmente para
a turma. Depois, escreva-a em seu caderno, tentando transpor toda a
expressividade da fala para o texto escrito.
Ao terminar de escrever o conto, leia-o para a turma. Converse
com os colegas e o professor sobre como foi a experiência de trans-
formar o texto falado em texto escrito.
O conto escrito
Você viu que, ao longo do tempo, muitas histórias transmitidas
oralmente foram registradas por escrito, mas que há contos que já
foram criados com uma formatação escrita. Segundo muitos teóricos,
o conto como forma literária atingiu seu esplendor no século XIX,
quando autores como Honoré de Balzac, Gustave Flaubert, Edgar
Allan Poe, Eça de Queirós, Machado de Assis, Aluísio Azevedo,
Arthur Azevedo, Lima Barreto, entre outros, passaram a escrever esse
gênero textual.
Desde essa época, o conto tem se mostrado extremamente versá-
til, assumindo formas variadas e abertas a experiências e inovações.
Os contos de Machado de Assis, por exemplo, considerados clássi-
cos da literatura brasileira, são criações com estrutura modelar. Mas
as possibilidades de inovar são tantas que, já em 1938, o escritor
Mário de Andrade afirmava que os autores chamavam “contos” o
que decidiam, por conta própria, ser um conto. Carlos Drummond de
Andrade, em exemplo semelhante, escreveu no livro Contos plausíveis
(1981): “[...] tudo pode mesmo acontecer em matéria de contos, ou
melhor, no interior deles”. Sem dúvida, você vai se surpreender...
Um conto brasileiro contemporâneo
Dalton Trevisan é o autor do conto que será apresentado a seguir.
Esse autor, pelo conjunto de sua obra, já ganhou vários prêmios lite-
rários. Detesta dar entrevistas e falar sobre os textos que escreve, pois
acredita que o conto deve ser sempre melhor do que o contista. Gosta
de escrever sobre temas relacionados ao cotidiano urbano contempo-
râneo, à violência das cidades, ao erotismo, aos mais diferentes tipos
humanos, principalmente urbanos, e afirma que se inspira em notícias
policiais, frases que escuta, obras clássicas e até bulas de remédio
para escrever. Gosta de escrever contos curtos.
LínguaPortuguesa–Unidade2
155
36. Atividade 2 Um conto de Dalton Trevisan
O título do conto que você vai ler é O ciclista, de Dalton Trevisan,
publicado originalmente em 1968.
1. Antes de ler o conto, responda às seguintes questões:
a) Quais são, hoje em dia, os veículos que circulam pelas ruas
das cidades?
b) Você acha que todas as cidades poderiam ser chamadas de
“labirinto urbano”? Por quê?
c) Na época em que esse conto foi publicado, a bicicleta era o
meio de transporte de diversas pessoas nas cidades. A entrega
de correspondências e objetos postais, por exemplo, era feita
com bicicleta. Atualmente, a situação é a mesma ou mudou?
d) Em sua opinião, o ciclista poderia ser, hoje em dia, considera-
do um personagem típico da cidade? Por quê?
Dalton Trevisan
nasceu em Curitiba, em
14 de junho de 1925,
e, na mesma cidade,
entre 1946 e 1948, edi-
tou a revista Joaquim.
Quando começou a
escrever, publicava
seus contos em folhe-
tos. Passou a ser reco-
nhecido com a publi-
cação Novelas nada
exemplares (1959). É
um apaixonado por
contos e tem dezenas
de livros publicados.
156
LínguaPortuguesa–Unidade2
37. O ciclista
Curvado no guidão lá vai ele numa chispa – e a morte na garupa. Na esquina dá com o sinal vermelho,
não se perturba, levanta voo na cara do guarda crucificado. Um trim-trim da campainha, investe os minotau-
ros do labirinto urbano. Livra a mão direita, abre o guarda-chuva. Na esquerda, lambe deliciado o sorvete de
casquinha, antes que derreta.
É sua lâmpada de Aladino a bicicleta: ao montar no selim, solta o gênio acorrentado ao pedal. Indefeso
homem, frágil máquina, arremete impávido colosso. Desvia de fininho o poste. Eis o caminhão sem freio, bafo
quente na sua nuca. Muito favor perde o boné? A sombra lá no chão? O tênis manchado de sangue?
Atropela gentilmente e, vespa raivosa que morde, fina-se ao partir o ferrão. Monstro inimigo tritura com
chio de pneus o seu diáfano esqueleto. Se não estrebucha ali mesmo, bate o pó da roupa e – uma perna mais
curta – foge por entre as nuvens, a bicicleta no ombro.
Em cada curva a morte pede carona. Finge não vê-la, essa foi de raspão, pedala com fúria. Opõe o peito
magro ao para-choque do ônibus. Salta no asfalto a poça d’água. Num só corpo, touro e toureiro, malferido
golpeia o ar nos cornos do guidão.
Fim do dia, ele guarda num canto o pássaro de viagem. Enfrenta o sono trim-trim. Primeira esquina avança
pelo céu trim-trim na contramão.
TREVISAN, Dalton. O ciclista. In: _____. Mistérios de Curitiba. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 47-48.
Glossário
chio chiado
chispa faísca, centelha, lampejo
diáfano transparente, límpido, cristalino
impávido destemido, corajoso
minotauro personagem da mitologia grega
que apresenta corpo de homem
e cabeça de touro e que vivia
aprisionado em um labirinto
selim assento da bicicleta
2. Leia o conto O ciclista e depois responda às questões.
a) Retire duas expressões do texto, uma no primeiro e outra no
segundo parágrafo, que possam confirmar que tudo no conto
acontece em alta velocidade.
b) Qual é o tempo em que se desenvolve a ação narrada?
c) Que informações sobre o protagonista você pode deduzir,
considerando o primeiro parágrafo do conto?
LínguaPortuguesa–Unidade2
157
43. Fica a dica
Se tiver interesse e
curiosidade, procure
em uma biblioteca ou
livraria a antologia da
qual foram retirados os
minicontos que você leu
nesta Unidade:
FREIRE, Marcelino (Org.).
Os cem menores contos
brasileiros do século.
3. ed. Cotia: Ateliê
Editorial, 2008.
E que tal fazer um sarau
de leitura dos minicontos
em sala de aula?
a) Que palavra, no conto, pode ser lida de mais de uma ma-
neira? Essa palavra é importante para a interpretação do
texto? Por quê?
b) Quais são as possíveis interpretações desse miniconto?
c) Para você, o que significa “confissão”?
d) Em sua opinião, alguém que se confessa para o mar deseja se
livrar de alguma culpa ou receber punição? Por quê?
Atividade 4 Escrever um miniconto
Você se lembra do conto que escreveu na Atividade 1? Sua tarefa
agora é transformá-lo em um miniconto. Imagine que ele será publicado
em uma coletânea. Para ajudar na sua produção, leia as dicas a seguir:
• Se achar necessário, crie um novo título, de preferência formado
por uma palavra.
• Você pode usar discurso direto ou indireto.
• Fique bem atento à sua intenção! Com que finalidade você vai
escrever o texto?
LínguaPortuguesa–Unidade2
163
44. Nesta Unidade, você aprendeu que, quando um conto oral
ganha um versão escrita, ele sofre transformações, uma vez que
o escritor coloca no papel, de modo diferente, a vivacidade da
narração oral. Também viu que há contos que são criados direta-
mente como textos escritos, e que atingiram seu esplendor como
forma literária no século XIX. Além disso, estudou que os contos
são muito versáteis e assumem estilos bem inusitados, como os
minicontos, que apresentam histórias com o mínimo de palavras.
Pense sobre
Você estudou
• Muito cuidado também no uso dos sinais de pontuação.
• Tente usar o mínimo de letras possível!
Quando terminar, reúna sua produção aos minicontos dos colegas e,
junto com eles e seu professor, produzam uma coletânea de minicontos.
Ler textos literários é uma maneira de ampliar a experiência e a
visão de mundo. Por meio da leitura de poemas, contos, romances
e textos dramáticos, podemos nos conhecer melhor como sujeitos,
além de vivenciar fatos históricos e acontecimentos culturais de
todos os lugares e épocas; é possível também sentir o que se chama
prazer literário.
Considerando essa afirmação, reflita: Qual a importância de ler
textos literários? Essa leitura é sempre prazerosa? Por quê?
164
LínguaPortuguesa–Unidade2
45. 3 Cartas: seus autores
e seus leitores
Verba volant; scrita manent. (As palavras faladas voam;
as escritas permanecem.)
Provérbio latino.
O objetivo desta Unidade é que você escreva, leia e analise cartas
pessoais, de reclamação e de solicitação. Você vai observar caracterís-
ticas, modelos e estilos dessas correspondências, bem como seu valor
histórico, literário e utilitário. Assim, poderá perceber que, mesmo
com tantos avanços tecnológicos, esses gêneros ainda podem exercer
uma função muito importante em sua vida.
Para iniciar...
Antes de se enredar pelo mundo das cartas – de seus autores e lei-
tores –, pense no quanto elas estão presentes em sua vida e converse
com seus colegas.
• Você costuma receber ou escrever cartas?
• Usa o correio eletrônico? Com quem costuma trocar emails?
• Já recebeu alguma carta de cobrança, de pedido ou de agradeci-
mento? Alguma propaganda por correspondência? Escreveu alguma
carta oferecendo seus serviços?
• É possível tratar de todos os assuntos em uma carta? E por meio
do correio eletrônico?
• Você já teve de reclamar, reivindicar ou fazer exigências para con-
seguir algo que lhe era de direito? Você acha que uma carta de
reclamação ou de solicitação poderia ajudar nesse momento? Por
quê?
• Em sua opinião, uma carta que solicita algo ou apresenta uma recla-
mação deve ter uma linguagem mais formal ou informal? Por quê?
• Quem de sua turma recebe mais cartas? Quem escreve mais?
• Quem de sua turma escreve emails?
165
46. Cartas de sua vida, cartas em sua vida...
As cartas – que podem também ser chamadas de “correspondên-
cias”, “missivas” ou “epístolas” – estão muito presentes na vida das
pessoas. E isso já ocorre há muito tempo... Segundo alguns historiadores
(cf. Enciclopédia Mirador Internacional, 1995), desde aproximadamente
o século III a.C., as cartas circulam nas sociedades letradas e constituem
parte importante de documentos que revelam os mais diferentes aspectos
da vida humana.
A variedade de cartas é muito ampla e, consequentemente, suas
funções e seus estilos também. Assim, o “tom” da carta vai variar
de acordo com o conteúdo dela: poderá ser alegre, triste, amoroso,
tenebroso, formal, indignado, solícito... O grau de formalidade da
linguagem também dependerá do grau de intimidade que o escritor
(remetente) tem com a pessoa a quem a carta se destina (destinatário).
Para cada situação, uma carta; para cada carta, um estilo que revela a
“alma” do autor e suas intenções.
As chamadas cartas pessoais são aquelas escritas a pessoas mais
próximas para dar notícias, “matar saudade”, declarar amor ou ódio.
Às vezes, parecem mais uma conversa por escrito, tão espontâneo e
familiar é o tom delas. Já as chamadas cartas comerciais, como as
cartas de reclamação e de solicitação, são escritas com objetivos defini-
dos, em linguagem formal, marcada por convenções. As de reclamação
fazem queixas e apresentam denúncias contra empresas, profissionais
liberais, poder público etc. As de solicitação formalizam um pedido e
tentam convencer alguém a fazer alguma coisa.
Apesar de o correio ainda ser um meio bastante comum para a
troca de cartas, cada vez mais as novas tecnologias, como fax e email,
têm servido a esse propósito, principalmente por permitirem agilidade
na comunicação. E, dependendo do meio em que a carta circula, seu
formato e estilo também podem mudar, pois cada meio tem caracte-
rísticas próprias.
Ao longo desta Unidade, você verá um pouco mais de perto cada
um desses gêneros epistolares.
Atividade 1 Escrever uma carta
Receber cartas, em geral, é delicioso... E escrevê-las? É igualmente
prazeroso? Sabia que muitos escritores famosos escreveram cartas
de amor que se tornaram célebres? Você já se arriscou a escrever
alguma? Não perca essa chance!
Fica a dica
Há livros que reúnem
cartas pessoais trocadas
entre escritores e
artistas. Vale a pena
conferi-los!
MORAES, Marcos Antonio
de (Org.). Me escreva tão
logo possa. São Paulo:
Salamandra, 2005.
ORSINI, Elizabeth (Org.).
Cartas do coração. Rio de
Janeiro: Rocco, 1999.
166
LínguaPortuguesa–Unidade3
47. Agora, você escreverá uma carta pessoal. Ela pode ser endereçada
ao marido ou à esposa, ao namorado ou à namorada, a um filho ou a
uma filha, a um amigo ou a uma amiga, enfim, a alguém que você julgue
especial. Para quem você quer escrever?
Antes de começar, pense em tudo o que quer contar (talvez algo
sobre sua vida atual ou sobre seus sentimentos em relação à escola, ao
trabalho, a essa pessoa para quem você vai escrever).
Escreva um rascunho em seu caderno. Depois, passe a carta a
limpo, em uma folha à parte, e guarde essa primeira versão para futu-
ras revisões.
Escreva sem receio! Com as atividades que serão propostas ao
longo desta Unidade, você vai poder esclarecer eventuais dúvidas e
aprimorar o texto que escreveu.
Cartas pessoais
A carta pessoal, como o próprio nome diz, trata de assuntos pes-
soais e não é escrita com a finalidade de ser publicada. Ela é trocada
entre pessoas que têm proximidade ou que querem estreitar laços.
Se for escrita para um amigo íntimo, o texto provavelmente vai ser
leve, descontraído e afetuoso, e as questões gramaticais e prescritivas
podem até se tornar secundárias; é possível usar gírias, apelidos e até
mesmo palavras “censuráveis” – tudo para tentar colocar no papel
o calor da conversa, o jeito íntimo com que você se comunica com o
destinatário da carta. Se, no entanto, o destinatário for alguém com
quem não se tem tanta intimidade, provavelmente será preciso usar
uma linguagem mais comedida, mais formal.
Atividade 2 Leitura de cartas pessoais
Agora, você vai ler uma carta escrita pelo pai do grande pianista bra-
sileiro Nelson Freire (1944-), quando o artista tinha apenas cinco anos.
1. Antes de lê-la, responda:
a) Que motivos poderiam levar um pai a escrever uma carta ao
filho de cinco anos?
LínguaPortuguesa–Unidade3
167
48. b) O “tom” de um texto revela seu espírito, sua característica
afetiva. Que tom você espera encontrar em uma carta que co-
mece com “Meu filhinho...”?
c) Veja em que ano a carta foi escrita. Considerando o ano e a
pessoa a quem a carta se dirige, ela pode ser considerada um
documento valioso? Por quê?
2. Agora, leia a carta e, depois, responda às questões propostas.
Meu filhinho!
Ao tomar a decisão de transferir-me com toda a nossa família para a capital da
República, julguei oportuno registrar no teu álbum de reminiscências alguns fatos que
intimamente dizem respeito à tua existência, para que sirvam de orientação para a tua
biografia. Isso porque a nossa mudança se faz unicamente por tua causa.
Sem nenhum esforço de memória, ainda me recordo perfeitamente de tudo aquilo que
se refere a esses primeiros anos da tua existência, quando vieste a este mundo no dia 18
de outubro de 1944, em Boa Esperança, sul de Minas. Eras um menino lindo, robusto e
corado, porém eras doente. Quanto sofremos, tua mãe e eu, por ver-te definhar dia a dia
e a choramingar, vitimado amiúde por alergia rebelde que a tudo resistia! Teu alimento,
durante o primeiro mês de tua vida, resumiu-se a um pedaço de marmelada diluído em
água filtrada. Como não melhoravas, levamos-te a Lavras para consultas médicas. Ao fim
de um mês de tratamento intensivo, tua mãe regressou trazendo-te para casa. Quando te
vi, filhinho, meu coração doeu como nunca e meus olhos ficaram marejados de lágrimas,
porque não vi meu filho, senão uma criança minúscula e raquítica, reduzida praticamente
a pele e ossos. Vivias todo remendado de esparadrapos, com o corpinho sempre untado de
pomadas, com uma carinha magrinha que metia dó.
A tua tendência artística, apesar de tudo, se manifestou desde cedo, despontando
com os primeiros fulgores da tua inteligência. Com poucos meses de idade já te sentias
maravilhado e ficavas quietinho, embora cheio de mazelas, ao ouvir música, quando tua
irmã Nelma tocava.
Em 8 de dezembro de 48, empreendemos uma viagem interessantíssima. Era a pri-
meira vez que saías de casa para uma viagem distante sem ser por motivo de doença.
Tuas irmãs Nelma e Norma estavam estudando no Colégio Sion de Campanha. Nos
amplos salões do colégio, naturalmente, não faltava aquilo que te fascinaria: o piano. Em
dado momento, a irmã superiora reuniu certo grupo de alunas para ouvir-te. Entusias-
mada, porque recebeste uma ovação efusiva, ela, em tom verdadeiramente profético, te
saudou meigamente, lembrando às alunas ali presentes que procurassem fixar bem na
168
LínguaPortuguesa–Unidade3
49. memória aquele instante precioso, porque mais tarde, quando esse pequenino inocente
viesse a empolgar o mundo, seria com prazer e com saudade que se recordariam de que
o haviam apreciado e aplaudido, aos quatro anos de idade.
Vimos logo que não se tratava de fato vulgar, pelo menos em nossa família, porque
teus irmãos mais velhos nunca demonstraram tais aptidões. Tua mãe e eu começa-
mos então a notar qualquer coisa de diferente nas tuas execuções. Resolvemos dar-te
um professor mais adiantado e tua mãe religiosamente, como quem cumpre uma
promessa, assumiu consigo mesma o compromisso de levar avante a tua instrução,
levando-te semanalmente a Varginha, aonde ias a fim de estudar com o maestro
Fernandez. Ao fim de doze lições, teu professor aconselhou-nos a rumarmos para o
Rio. Ele não havia mais nada a te ensinar.
Em junho de 1950, portanto, uma indecisão embaraçosa se apoderou de mim
e de tua mãe, colocando-nos diante de um dilema de difícil solução: devemos dar
razão ao nosso coração, permanecer em nossa querida terra, criando-te como fize-
mos com os nossos outros filhos, num ambiente de paz e de concórdia, onde se
acham localizados os nossos interesses materiais e onde nos prendem os laços mais
caros do sentimento familiar, ou, por outro lado, rumaríamos para o Rio, onde o
custo da vida é muitíssimo mais dispendioso e o ambiente, meio padrasto em infu-
sões afetivas, mas onde as tuas aptidões poderão desenvolver-se ilimitadamente?
Depois de muito meditar, resolvemos seguir esta última vereda, entregando nosso
futuro a Deus. Cumprindo a nossa obrigação, deslocamo-nos do interior de Minas para
a capital da República com a finalidade primordial de acompanhar teus passos, porque
ainda não prescindes de nossa companhia e de nossa assistência. Mas o teu destino,
esse, nós o colocamos na mão de Deus!
Afetuosamente,
O Papai
Boa Esperança, 21 de julho de 1950.
Nelson Freire. Direção: João Moreira Salles. Brasil, 2003. 102 minutos. (carta transcrita)
a) Com que finalidade o pai escreveu ao filho de cinco anos?
b) Na carta, você leu: “Sem nenhum esforço de memória, ainda
me recordo perfeitamente de tudo aquilo que se refere a esses
primeiros anos da tua existência [...]”. Escreva, em seu cader-
no, resumidamente e em ordem cronológica, os fatos relata-
dos pelo pai.
LínguaPortuguesa–Unidade3
169
50. c) A carta escrita pelo pai de Nelson Freire tem um tom afe-
tuoso. Comprove esse “tom” com exemplos de palavras ou
trechos da carta.
d) Em 1950, a capital do Brasil era a cidade do Rio de Janeiro. Em
certo momento da carta, o pai escreve: “[...] rumaríamos para
o Rio, onde o custo da vida é muitíssimo mais dispendioso e o
ambiente, meio padrasto em infusões afetivas [...]”.
Considerando esse trecho, o que o pai aponta como proble-
mas a serem encontrados no Rio de Janeiro?
e) Em sua opinião, essas preocupações apontadas pelo pai são
comuns às pessoas que saem de uma cidade pequena e rumam
para uma cidade maior? Por quê?
f) O documentário do cineasta João Moreira Salles sobre Nel-
son Freire apresenta o pianista tocando junto a orquestras em
São Paulo e no Rio de Janeiro; fazendo concertos na França,
Bélgica, Rússia etc. Em todos esses lugares, o pianista foi e
continua sendo aclamado.
• Há algum fato significativo na infância do famoso pianista
que você considera que tenha sido importante para a for-
mação desse artista? Qual? Por quê?
Fica a dica
Assista ao documentário
Nelson Freire (direção
de João Moreira Salles,
2003) e conheça um
pouco mais da vida e
da carreira artística de
quem é considerado um
dos maiores pianistas
do mundo. Além disso,
terá a oportunidade de
ouvir a leitura comovente
da carta com a qual
trabalhou na Atividade 2.
170
LínguaPortuguesa–Unidade3
51. • Você acha que a mudança para o Rio de Janeiro teve alguma
influência na carreira de Nelson Freire? Em que sentido?
Atividade 3 Cartas antigas e modernas
1. Leia a seguir duas cartas e, depois, responda às questões propostas.
Carta 1
São Joaquim do Onde, 22 de outubro.
Querido amigo Orlando,
Estás bem?
Não fiques chateado comigo antes que te
explique o que aconteceu.
Depois tu me dirás se fiz bem.
Foi exatamente do jeito que vou te contar.
Desde que cheguei à praia de Matinhos, disse
aos nossos amigos: “alguns dias quero des-
cansar. Quero estar livre para ler, desfrutar
e observar a paisagem, mas, na quarta-feira,
passarei o dia com Orlando, em Curitiba”.
Mas estava tão bom, que passou a quarta, veio
a quinta, sem que conseguisse cumprir minha
promessa e te visitar aí em tua terra. Tu sabes
o quanto te gosto, mas tu conheces bem a praia
de Matinhos e a preguiça deliciosa que sinto nesse
lugar que não me deixa mover...
Até breve. E perdoa-me!
Adalberto
LínguaPortuguesa–Unidade3
171
52. Carta 2
a) Os textos transcritos são de cartas pessoais? Em que você se
baseou para a sua resposta?
b) Algum dos dois textos parece ser de uma carta mais antiga?
Justifique sua resposta.
c) Circule, nas duas cartas, passagens que comprovem que o re-
metente tem um grau de intimidade com o destinatário.
2. Releia a Carta 1.
a) Reescreva-a, em seu caderno, substituindo o pronome “tu”
pelo pronome “você”. Com a ajuda do professor, faça outras
modificações necessárias.
M r nápol s, 13/5.
Quer do Cau!
O que houve? Você não recebeu m nha carta?
Perdeu meu endereço?
Soube, por outras pessoas – é óbv o –, que você
estará em Guaíra. Quero te encontrar. A gente
pod a dar um e to, não? Tô tr ste pra caramba
com você. Tô achando que mudou de de a a meu
respe to. Espero que você fale de você, porque eu
á não ma s nteresso.
Um be ão,
M. M.
172
LínguaPortuguesa–Unidade3
53. b) As alterações realizadas dão a impressão de que essa carta
adquiriu mais informalidade? Por quê?
Atividade 4 De volta à sua carta pessoal
Retome a primeira versão da carta pessoal que você escreveu.
Depois das atividades realizadas, que modificações você pode fazer
em sua carta?
Para ajudá-lo na revisão, seguem alguns passos importantes. Se
necessário, pode rasurar a carta; ela ainda não é a definitiva.
1. Observe se, em sua carta, aparece a indicação de local e data.
Caso não apareça, inclua esses dados na nova versão.
2. Verifique se aparece a saudação inicial (o modo de chamar a pes-
soa a quem se destina a carta, por exemplo, “querido amigo”,
“amados pais” etc.).
3. Observe se a carta está organizada em parágrafos e se você conse-
guiu expressar o que pretendia.
4. Repare se a linguagem da carta está adequada ao destinatário,
sendo mais ou menos formal.
5. Veja se há, no final da carta, uma frase de despedida e a assinatura.
6. Passe a limpo o texto em um papel diferente, bonito, de preferên-
cia colorido.
7. Prepare o envelope. Na parte da frente dele, escreva o nome do des-
tinatário e o endereço completos. Na parte de trás, escreva o nome
e o endereço completos do remetente, ou seja, os seus dados.
Coloque a carta no correio e aguarde a resposta...
Cartas que circulam em espaços públicos
Reclamar, reivindicar, formalizar um pedido, fazer um agrade-
cimento, oferecer um serviço etc. são atos relacionados à vida em
sociedade, à realidade em que vivemos.
Uma maneira de formalizar esses atos é escrevendo cartas, que
podem tanto ser enviadas aos seus destinatários específicos como
também ser publicadas para um público maior (em um jornal, por
exemplo), de modo a dar maior visibilidade ao que se pretende dizer.
Você sabia que
existem escrevedores
de cartas espalhados
por aí?
Atualmente, há um
serviço de utilidade
pública, o Escreve Cartas,
que funciona em dois
postos do Poupatempo
na cidade de São Paulo:
Itaquera, na zona Leste, e
Santo Amaro, na zona Sul.
O Escreve Cartas é uma
parceria do governo do
Estado de São Paulo com
os Correios. Funciona
no mesmo horário
do Poupatempo: de
segunda à sexta, das 7h
às 19h, e, aos sábados,
das 7h às 13h.
Esse serviço é procurado
por muita gente.
LínguaPortuguesa–Unidade3
173
54. Diferentemente das cartas pessoais, as cartas que circulam em
espaços públicos têm fórmulas mais ou menos fixas de organização
e exigem o uso de uma linguagem mais formal. Para atingir objeti-
vos definidos, quem as escreve deve tentar elaborar um texto com o
máximo de correção, clareza e concisão – sem dar margem a diferen-
tes interpretações.
Às vezes, dependendo da situação, convém consultar manuais de
redação técnica, para conhecer modelos de cartas adequados a cada
tipo de situação. Localidade e data, nome do destinatário, saudação
inicial, corpo da carta e despedida podem variar conforme sua neces-
sidade: escrever uma carta de reclamação, de solicitação, um ofício ou
um requerimento.
Atividade 5 A arte de reclamar
Você já viveu alguma situação em que se sentiu lesado? Já ficou
furioso e com muita vontade de reclamar? Qual foi sua atitude na
ocasião? Perdeu a cabeça? Xingou? Ameaçou? O nervosismo deu
algum resultado?
Para fazer esta atividade, você não vai precisar perder a cabeça,
mas sim usá-la. A situação é a seguinte:
Imagine que você comprou um celular – daqueles bem caros – e,
na segunda semana de uso, ele começou a dar problemas. Você vol-
tou à loja para trocá-lo, mas o gerente lhe informou que não pode-
ria fazer a troca e que você teria de procurar a assistência técnica se
quisesse o aparelho consertado. Diante disso, imagine que você tenha
procurado se informar sobre seus direitos e resolvido fazer uma recla-
mação por escrito.
Sua tarefa, portanto, é escrever essa carta de reclamação.
Para tornar a carta de reclamação mais consistente, imagine e for-
neça o máximo de dados sobre esse caso, todos inventados por você
(modelo do aparelho, data da compra, nome da empresa, o número
da nota fiscal, quando o aparelho começou a dar problemas, data da
primeira reclamação, nome do gerente que atendeu você etc.). Quanto
mais informações você fornecer, mais fácil e rápido o problema
poderá ser solucionado.
Escreva a carta em seu caderno. Ao longo das atividades propos-
tas adiante, você vai poder esclarecer eventuais dúvidas e aprimorar a
primeira versão da carta que escreveu.
174
LínguaPortuguesa–Unidade3
55. A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon)
trabalha em defesa dos consumidores, orientando-os em suas
reclamações, informando-os de seus direitos e fiscalizando as
relações de consumo.
O site do Procon traz informações importantes sobre o direi-
to do consumidor. Veja a seguir um texto extraído de lá.
A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) tem
por objetivo elaborar e executar a política de proteção e defesa
dos consumidores do Estado de São Paulo. Para tanto conta com
o apoio de um grupo técnico multidisciplinar que desenvolve ati-
vidades nas mais diversas áreas de atuação, tais como:
i. educação para o consumo;
ii. recebimento e processamento de reclamações administra-
tivas, individuais e coletivas, contra fornecedores de bens ou
serviços;
iii. orientação aos consumidores e fornecedores acerca de seus
direitos e obrigações nas relações de consumo;
iv. fiscalização do mercado consumidor para fazer cumprir as
determinações da legislação de defesa do consumidor;
v. acompanhamento e propositura de ações judiciais coletivas;
vi. estudos e acompanhamento de legislação nacional e interna-
cional, bem como de decisões judiciais referentes aos direitos do
consumidor;
vii. pesquisas qualitativas e quantitativas na área de defesa do
consumidor;
viii. suporte técnico para a implantação de Procons Municipais
Conveniados;
ix. intercâmbio técnico com entidades oficiais, organizações pri-
vadas, e outros órgãos envolvidos com a defesa do consumidor,
inclusive internacionais;
x. disponibilização de uma Ouvidoria para o recebimento, enca-
minhamento de críticas, sugestões ou elogios feitos pelos cida-
dãos quanto aos serviços prestados pela Fundação Procon, com o
objetivo de melhoria contínua desses serviços.
FUNDAÇÃO de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon). Institucional: objetivos.
Disponível em: <http://www.procon.sp.gov.br/categoria.asp?id=206>.
Acesso em: 26 out. 2012.
LínguaPortuguesa–Unidade3
175
56. Fica a dica
Caso queira se aprofundar no assunto, você pode visitar os seguintes sites de instituições civis que orientam os
consumidores sobre seus direitos. Em alguns deles, inclusive, você pode também postar sua reclamação gratuitamente
(veja os indicados com *). Assim, se um dia algum serviço que foi prestado a você não lhe agradar, além de enviar cartas de
reclamação diretamente para a empresa, você pode mandá-la para um jornal ou, também, publicá-la em um desses sites (ou
pesquisar outros). Dessa maneira, estará exercendo sua cidadania.
ASSOCIAÇÃO Brasileira de Defesa do Consumidor e Trabalhador (Abradecont). Disponível em: <http://abradecont.org.br>. Acesso em: 26
out. 2012.
* ASSOCIAÇÃO Nacional de Assistência ao Consumidor e ao Trabalhador (Anacont). Disponível em: <http://anacontcomvoce.com.br>.
Acesso em: 26 out. 2012.
* FUNDAÇÃO de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon). Disponível em: <http://www.procon.sp.gov.br>; <http://www.procon.sp.gov.
br/atendimento.asp>. Acesso em: 26 out. 2012.
INSTITUTO Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (Brasilcon). Disponível em: <http://www.brasilcon.org.br>. Acesso em: 26 out. 2012.
INSTITUTO Nacional de Defesa do Consumidor (Idecon). Disponível em: <http://www.ideconbrasil.org.br>. Acesso em: 26 out. 2012.
INSTITUTO Nacional de Defesa do Consumidor do Sistema Financeiro (Andif). Disponível em: <http://www.andif.com.br>. Acesso em: 26
out. 2012.
FÓRUM Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor (FNECDC). Disponível em: <http://www.forumdoconsumidor.org.br>.
Acesso em: 26 out. 2012.
* RECLAMAO.COM. Disponível em: <http://www.reclamao.com>. Acesso em: 26 out. 2012.
* RECLAME Aqui. Disponível em: <http://www.reclameaqui.com.br/reclame/>. Acesso em: 26 out. 2012.
Carta de reclamação
Reclamar vem do latim e significa “gritar”, “exclamar” (em sinal
de oposição) e “protestar”. A reclamação é um direito, uma maneira de
se proteger das mais variadas situações do dia a dia: compras que
não deram certo, serviços que foram pagos e não prestados, direitos
que não foram respeitados. As pessoas reclamam quando se sen-
tem lesadas, quando instituições não cumprem seu dever. O direito
de reclamar quando ocorrem situações como essas está previsto no
Código de Defesa do Consumidor.
As cartas de reclamação podem variar muito. Mudam de acordo
com a intenção de cada reclamante e do quanto este se sentiu lesado em
determinada situação. Mas é preciso saber para quem reclamar e, prin-
cipalmente, usar a linguagem adequada para fazê-lo. A maneira como
você fala ou escreve pode fazer toda a diferença quando se trata de uma
reclamação. Perder a cabeça, xingar, ser ofensivo pode ser considerado
um abuso de direito e então, de vítima, você passa a ser o acusado.
Maurício Vargas, diretor e fundador do site Reclame Aqui, espe-
cializado na orientação sobre direitos do consumidor, diz que o des-
controle é o erro mais comum do consumidor na hora de reclamar.
Nos momentos de raiva, quem escreve tende a se exceder nos termos
que usa. Para ele, é preciso deixar de lado a insatisfação e elaborar
um texto claro, objetivo, conciso, para que se chegue a uma solução.
Tenha em mente que a carta será endereçada a alguém do Serviço de
Atendimento ao Consumidor (SAC), que vai precisar entender qual é
a reclamação antes de encaminhá-la a uma solução. Daí a importân-
cia de ser cauteloso e objetivo ao escrever...
176
LínguaPortuguesa–Unidade3
57. Atividade 6 Bote a boca no trombone...
Conforme informações retiradas do site do Procon, em 2011, a
área de produtos (móveis, aparelhos eletrônicos e vestuário) foi a que
registrou maior número de reclamações, seguida por assuntos finan-
ceiros (bancos, seguradoras) e serviços essenciais (telecomunicações,
energia elétrica, saneamento básico).
1. Leia a carta a seguir e, depois, responda às questões propostas.
São Paulo, 5 de abril de 2012.
Lojas Belezas na Cozinha
A/C Departamento de Atendimento ao Consumidor
Prezado senhor,
No dia 30 de janeiro, comprei um armário de cozinha, modelo Metal,
formado por quatro peças e gaveteiro (envio cópia da nota fiscal anexada
a esta carta). Na compra efetuada, estava incluída a montagem do armário
num prazo máximo de dez dias.
No dia 5 de fevereiro, o armário foi entregue em minha casa, mas até
hoje (dia 5 de abril) nenhum técnico da loja veio montá-lo. Já conversei por
telefone inúmeras vezes com o serviço de atendimento ao cliente da loja.
A informação que recebi nesses DOIS MESES DE ESPERA foi sempre a
mesma: um novo agendamento para realização do serviço. Mas nenhum
técnico apareceu nas datas previstas.
O armário está desmontado há dois meses no meio de minha cozinha.
Não há outro espaço em minha casa onde possa acomodá-lo. O mais gra-
ve é que, em todas as datas previstas para a visita do técnico, não pude
trabalhar. Trabalho na área de serviços domésticos e não posso me dar ao
luxo de perder dias de serviço, já que sou diarista.
Acredito ser meu direito ser atendida decentemente, já que paguei o
armário à vista. Exijo que o armário seja montado na data mais próxima
do dia do recebimento desta carta, de preferência em um sábado, assim
não vou perder mais nenhum dia de serviço. Caso isso não aconteça,
buscarei as MEDIDAS JUDICIAIS cabíveis e necessárias e lutarei para
obter meu dinheiro de volta, com juros e correções.
Sem mais,
Débora Alcântara
LínguaPortuguesa–Unidade3
177
58. a) Considerando o conteúdo da carta, complete o quadro:
b) Localize os verbos e as expressões verbais que aparecem na
carta e, em seguida, circule os que estão no tempo passado.
Em que parte do texto está a maioria deles? Por que esse tem-
po verbal foi usado?
c) Há verbos no tempo futuro? Em que parte do texto eles apa-
recem? Por quê?
d) Por que, em sua opinião, algumas palavras foram escritas em
letras maiúsculas e em negrito?
Problema
Situação atual
Argumentos
Solução proposta
178
LínguaPortuguesa–Unidade3
59. 2. Pensando na carta lida e em outras cartas de reclamação que você
já leu ou produziu, responda:
a) Como uma carta de reclamação geralmente se inicia?
b) Que tipo de assunto há na parte central dessas cartas?
c) Como essas cartas em geral são encerradas?
3. Faça, em seu caderno, uma revisão da carta de reclamação a seguir,
procurando resolver os seguintes problemas: formato da carta, falta
de pontuação e repetição excessiva de certas palavras.
Atividade 7 De volta à sua carta de reclamação
Retome a carta de reclamação que você escreveu e converse sobre
ela com um colega. Confiram se nas cartas que produziram aparecem:
• localidade e data;
• nome da loja ou do departamento/setor da loja;
• saudação inicial;
• descrição sucinta dos fatos que levaram ao envio da carta – data
da compra, número da nota fiscal. Observe a presença de expres-
sões que marcam o tempo (por exemplo, há duas semanas, on-
tem etc.) e de palavras que introduzem os motivos da reclamação
(porque, já que, pois, então...);
Comprei pela revista que vocês editam, a Revista Sempre Mais, uma
máquina fotográfica da marca Fhotomil. A propaganda garantia que no mesmo
dia da compra seria enviada a máquina mas até hoje a máquina não chegou.
Comprei a máquina para dar de aniversário ao meu filho, mas até hoje a
máquina não veio. É um absurdo que isso aconteça. Já liguei várias vezes para o
número de telefone de atendimento ao consumidor que aparecia na revista mas
não consegui falar com ninguém porque não saía do atendimento automático.
Por isso estou escrevendo para vocês que editam essa revista que não cumpriu
o que estava combinado porque não enviou a máquina fotográfica como tinha
divulgado. Espero que alguém se responsabilize pelo que está acontecendo.
É um absurdo, isso é roubo, alguém tem de me devolver o dinheiro que gastei.
Atenciosamente F. J.
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60. • exposição clara do que se pretende;
• despedida;
• assinatura.
Caso um dos itens anteriores não conste na carta que você escreveu,
reescreva-a, acrescentando o que falta ao texto.
Atividade 8 A arte de solicitar
1. Reúna-se com dois colegas e façam o que é solicitado:
a) Listem cinco situações em que caberia escrever uma carta de
solicitação, isto é, uma carta para pedir algo.
b) Como você costuma convencer alguém a atender uma solicitação?
Exercer a cidadania pressupõe nos posicionarmos diante dos
fatos. Por isso é preciso que você se informe, reflita e manifeste
seu ponto de vista, concordando, discordando, contestando, deba-
tendo. É fundamental saber reivindicar seus direitos, inclusive por
meio da escrita. A leitura e a escrita favorecem o exercício da cida-
dania, tanto que se constituem um direito de todo cidadão.
Quanto mais conhecemos nossos direitos e deveres, assim
como os mecanismos de que dispomos para exercê-los, mais
condições teremos de nos posicionarmos com autonomia.
Nesse sentido, a leitura e a escrita devem ser compreendidas
como atividades sociais que ampliam nosso conhecimento, sensi-
bilidade, imaginação, bem como nosso entendimento do mundo.
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