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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

                 FACULDADE DE EDUCAÇÃO

            DEPARTAMENTO DE ESTUDOS BÁSICOS

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: HIST. DA ESCOLARIZAÇÃO BRAS. E PROC.

                      PEDAGÓGICOS




CONHECENDO PAULO FREIRE: UMA INTRODUÇÃO À VIDA E À OBRA

           DO PATRONO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA




                                  Trabalho elaborado para a disciplina de
                                  História   da   Educação:     Hist.   da
                                  Escolarização     Bras.     e       Proc.
                                  Pedagógicos, da Universidade Federal do
                                  Rio Grande do Sul, como requisito
                                  parcial para obtenção de aprovação
                                  semestral.

                                  Aluno: Ângela Trevisol Gonçalves,
                                  Giovane Fernandes Oliveira, Izabel Maria
                                  da Silva Lopes e Julia Prates da Silva.

                                  Orientadora: Profa. Dra. Simone Valdete
                                  dos Santos




                      PORTO ALEGRE
                           2012
BIOGRAFIA


       Paulo Régis Neves Freire nasceu em 19 de setembro de 1921, em
Recife, Pernambuco. Filho de uma dona de casa e de um policial militar, ele
era o mais novo de quatro irmãos. Aprendeu a ler e a escrever com a mãe, à
sombra das árvores do quintal da casa em que nasceu. Sua família pertencia à
classe média, mas conheceu a fome e a pobreza com a depressão de 1929 –
que os forçou a se mudarem para Jaboatão, aonde seu pai viria a falecer cinco
anos mais tarde, quando Paulo contasse treze anos de idade.

       Seus irmãos, então, assumiram as despesas da casa, de modo que ele
pode continuar seus estudos, ingressando no ginásio aos dezesseis anos. Aos
vinte, conseguiu uma vaga na Faculdade de Direito do Recife, no entanto não
seguiu carreira de advogado, encaminhando sua vida profissional para o
magistério. Nesta época, conheceu e casou-se com a professora primária Elza
Maia Costa Oliveira, com quem teve cinco filhos e começou a lecionar no
Colégio Oswaldo Cruz, também em Recife.

       No ano de 1947, foi contratado para dirigir o Departamento de Educação
e Cultura do SESI, onde entrou em contato pela primeira vez com a
alfabetização de adultos. Suas ideias pedagógicas se formaram a partir da
observação da cultura dos alunos - em particular do uso da linguagem - e do
papel elitista da escola. Em 1958, participou de um congresso educacional na
cidade do Rio de Janeiro, no qual apresentou um trabalho importante sobre
educação e princípios de alfabetização. De acordo com suas ideias, a
alfabetização de adultos deve estar diretamente relacionada ao cotidiano do
trabalhador. Desta forma, o adulto deve conhecer sua realidade para poder
inserir-se de forma crítica e atuante na vida social e política.

       Em 1961, Freire tornou-se diretor do Departamento de Extensões
Culturais da Universidade do Recife e, no mesmo ano, realizou junto com sua
equipe as primeiras experiências de alfabetização popular que levariam à
constituição do Método Paulo Freire. Dois anos mais tarde, em Angicos, no Rio
Grande do Norte, executou um de seus feitos mais famosos: chefiou um
programa que alfabetizou mais de 300 trabalhadores em 45 dias.
Tal feito chamou a atenção do então presidente da República João
Goulart, o qual o convidou para coordenar o Programa Nacional de
Alfabetização. Contudo, no ano seguinte, foi surpreendido em Brasília pelo
golpe militar. O método de alfabetização revolucionário de Freire passou a ser
visto como uma ameaça à ordem pelos novos governantes, que ordenaram a
sua prisão e o mantiveram cativo como traidor durante 70 dias.

      Em seguida, foi para o exílio, passando brevemente pela Bolívia antes
de ganhar asilo político no Chile. Neste país, trabalhou durante cinco anos para
o Movimento de Reforma Agrária da Democracia Cristã e para a Organização
das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação. Entretanto, nunca
deixou de produzir conhecimento na área da educação, tendo escrito – ainda
em seu exílio chileno – o seu livro mais famoso: Pedagogia do Oprimido, no
qual detalha seu método de alfabetização de adultos. Antes, porém, de publicá-
lo, publicou Educação como prática da liberdade, baseado em sua tese
Educação e Atualidade Brasileira, com a qual concorrera, em 1959, à cadeira
de História e Filosofia da Educação da Escola de Belas Artes do Recife.

      O livro foi bem recebido, e Freire foi convidado para ser professor
visitante da Universidade de Harvard em 1969. Depois de um ano em
Cambridge, Freire mudou-se para Genebra, na Suíça, trabalhando como
consultor educacional do Conselho Mundial de Igrejas. Durante esse tempo,
atuou como consultor em reforma educacional em colônias portuguesas na
África, particularmente na Guiné-Bissau e em Moçambique.

      Com a promulgação da Lei da Anistia, em 1979, Freire pôde retornar ao
Brasil, mas só o fez em 1980. De volta à sua terra natal, integrou-se à vida
universitária e filiou-se ao Partido dos Trabalhadores. Foi professor da PUC-SP
e da UNICAMP, sendo nomeado secretário da Educação da cidade de São
Paulo quando Luiza Erundina venceu as eleições municipais e foi eleita
prefeita. O educador exerceu o cargo de 1989 a 1991, tendo sido a sua gestão
marcada pela criação do MOVA – Movimento de Alfabetização, um modelo de
programa público que até hoje é adotado por numerosas prefeituras e outras
instâncias do governo.
Em 1986, sua esposa Elza morreu. Dois anos depois, em 1988, Freire
casou-se com a também pernambucana Ana Maria Araújo, sua orientanda no
Programa de Mestrado da PUC-SP. No ano de 1991, foi fundado em São Paulo
o Instituto Paulo Freire, para estender e elaborar as ideias de Freire. O instituto
mantém até hoje os arquivos do educador, além de realizar numerosas
atividades relacionadas com o legado do pensador e a atuação em temas da
educação brasileira e mundial.

      Freire morreu vítima de um ataque cardíaco, em 02 de maio de 1997, no
Hospital Albert Einstein, em São Paulo, devido a complicações em uma
operação de desobstrução de artérias. O Estado Brasileiro, por meio do
Ministério da Justiça, no Fórum Mundial de Educação Profissional de 2009,
realizado em Brasília, fez o pedido de perdão post mortem à viúva e à família
do educador, assumindo o pagamento de "reparação econômica".

      Mais do que um professor extraordinário e um político admirável, Paulo
Freire foi um homem formidável, cuja obra representa uma importante
contribuição para a educação brasileira e mundial.




OBRA




      Paulo Freire é conhecido e reconhecido internacionalmente como um
dos mais célebres pensadores da história da pedagogia. Fundamentada na
crença de que o educando melhor assimilaria o conhecimento se o mesmo
dialogasse com a sua realidade, a sua prática didática opunha-se àquela por
ele denominada educação bancária, tecnicista e alienante. Desse modo, o
educando criaria a sua própria educação, desenvolvendo ele próprio o método
e não seguindo um previamente imposto.

      O educador destacou-se também por seu trabalho na área da educação
popular, centrada tanto na escolarização quanto na formação da consciência
política. Embora tenha influenciado a filosofia educacional conhecida como
pedagogia crítica, diferenciou-se dos intelectuais de esquerda tradicionais e
sempre defendeu o diálogo com as pessoas simples, não só como método,
mas como um modo de ser realmente democrático. Autor de uma vasta obra,
teve seus livros traduzidos em mais de 20 idiomas e recebeu 41 títulos de
doutor honoris causa de universidades como Harvard, Cambridge e Oxford, o
que faz dele o brasileiro mais homenageado de todos os tempos.

      Três títulos, no entanto, merecem destaque em sua obra: Pedagogia do
Oprimido (1970), Pedagogia da Esperança (1992) e Pedagogia da Autonomia
(1997), os quais serão abordados neste trabalho.




PEDAGOGIA DO OPRIMIDO




      Pedagogia do Oprimido é a obra-prima de Paulo Freire, o primeiro e
mais importante livro da trilogia que analisaremos. Publicado em 1970, o livro
propõe uma pedagogia com uma nova forma de relacionamento entre
professor, aluno e sociedade. Foi escrito pelo educador durante seu exílio no
Chile e, devido à impopularidade do autor com os militares que governavam o
Brasil na época, foi lançado aqui somente em 1974. Concebido na forma de
ensaio, divide-se em quatro capítulos:

             Justificativa da pedagogia do oprimido;
             A concepção "bancária" da educação como instrumento da
             opressão;
             A dialogicidade: essência da educação como prática da liberdade;
             A teoria da ação antidialógica.

      Segundo Paulo Freire, o movimento da liberdade deve surgir a partir dos
próprios oprimidos, e a pedagogia criada será gerada nos homens e não para
os homens. Percebe-se que não é suficiente que o oprimido tenha consciência
crítica da opressão, mas que também queira transformar essa realidade,
tratando-se de um trabalho de conscientização e politização. A violência dos
opressores é gerada por uma ordem que se posiciona injustamente, sendo
resultado de um processo histórico de desumanização. Esta desumanização dá
margem ao surgimento da luta pelo direito de cada ser humano, a luta pela
liberdade trabalhista e pela afirmação do homem enquanto indivíduo possuidor
destes   direitos.   Tanto   oprimidos   quanto   opressores   são   vítimas   da
desumanização. O que torna os opressores desumanizados é sua violência, e
essa violência faz com que os oprimidos tendam a reagir lutando contra
aqueles que os oprimem. Essa luta só adquire sentido quando o oprimido, ao
buscar sua humanização, não se reconhece opressor devolvendo a quem o
oprimiu tal violência. A libertação se dá quando o oprimido reconquista sua
humanidade em ambos os papéis que possivelmente ocupa, o do ser mais e o
do ser menos.

      O autor também trata no livro sobre a definição de práxis: práxis é a
reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo, sem ela é
impossível a superação da situação opressor-oprimido. Só unindo teoria e
prática essa libertação pedagógica será possível.

      De acordo com a educação convencional, predomina o discurso e a
prática, na qual, quem é o sujeito da educação é o educador, sendo os
educandos vistos como vasilhas a serem preenchidas; o educador deposita
conhecimento, que os educandos recebem, memorizam e repetem. O saber é
dado, fornecido de cima para baixo, e autoritário, pois manda quem sabe. Na
concepção de “educação bancária” o educador é sempre o que sabe, enquanto
os educandos serão os que não sabem. A rigidez destas posições nega a
educação e o conhecimento como processo de busca; ou seja, educador é o
sujeito do processo, enquanto o educando é apenas o objeto. Desta maneira o
educando, em sua passividade, torna-se apenas um objeto receptor numa falsa
crença de um mundo harmonioso, no qual não há contradições.

      O método freireano não ensina a mera repetição de palavras, mas, a
despeito disto, coloca o educando numa posição de poder transformar
criticamente as palavras de seu mundo. É com a palavra que o homem constrói
seu mundo e se diferencia dos animais. Aprender a escrever sua vida é o
principal e mais exato sentido da alfabetização, aprender a escrever sua
própria vida enquanto autor e testemunha, constituindo historicamente sua
forma e sua consciência, além de se fazer reflexivamente responsável pela
história.

       Na educação libertadora, há interação entre educando e educador, pois
o ensino e a aprendizagem partem de ambos os lados. É uma troca constante:
quem ensina aprende e quem aprende ensina. Nesta educação proposta por
Paulo Freire, o conhecimento não é transferido do educador para o educando,
mas ocorre um compartilhamento de experiências onde se encontram as
condições necessárias para a construção de seres críticos, no decorrer do
diálogo com o educador, por sua vez, também ser crítico.

       Nas palavras de Paulo Freire, o diálogo é a essência da educação, ele
não é um produto histórico, é a própria historicização, ele é o movimento
constitutivo da consciência que, ao abrir-se para a infinitude, vence
intencionalmente as fronteiras da finitude e busca reencontrar-se além de si
mesmo. Alfabetização não é um jogo de palavras, é a consciência reflexiva da
cultura, a reconstrução crítica do mundo humano, é toda a pedagogia:
“aprender a ler é aprender a dizer sua palavra”. Não há diálogo sem humildade,
pois é necessário ver o outro eu no próprio eu.

       A libertação é um processo doloroso, pois depende do próprio indivíduo
expulsar ou não o opressor de dentro de si. O homem que nasce deste parto é
um homem novo que só é viável na e pela superação da contradição
opressores-oprimidos, que é a libertação de todos. A superação da contradição
é o parto que traz ao mundo este homem novo, nem opressor nem oprimido,
mas liberto.




PEDAGOGIA DA ESPERANÇA




       Publicado em 1992, o livro Pedagogia da Esperança retoma as ideias já
desenvolvidas em Pedagogia do Oprimido, importante obra do autor escrita
décadas antes. Divide-se em sete partes. Na primeira delas, chamada
“Primeiras palavras”, Paulo Freire introduz a obra deixando clara sua ideia de
educação como prática política e sua preocupação na formação de indivíduos
críticos e participativos no meio social. No trecho abaixo, presente nessa parte
da obra, a autor “da o tom” do que virá nas páginas seguintes:

                     A Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do
                     oprimido é um livro assim, escrito com raiva, com amor, sem o que
                     não há esperança. Uma defesa da tolerância, que não se confunde
                     com a conivência, da radicalidade; uma crítica ao sectarismo, uma
                     compreensão da pós-modernidade progressista e uma recusa à
                     conservadora, neoliberal.

      Também na primeira parte, Freire declara a urgência da democratização
da escola pública, ideia defendida em muitas de suas obras, bem como a
urgência na formação científica de seus educadores (entre os quais ele inclui
vigias, merendeiras etc.). Além disso, é salientada a eficácia da participação
dos educandos na produção de conhecimento.

      A respeito da esperança que dá nome ao livro, Paulo Freire diz que ela
sozinha não ganha a luta, mas sem a luta titubeia, fraqueja. Declara não
entender como o mundo pretende evoluir sem esperança, nem as razões
sociais, históricas e econômicas que explicam sua falta.

      Depois, o autor retoma as ideias da Pedagogia do Oprimido,
aproveitando as críticas sofridas por essa obra anteriormente escrita para revê-
la e aprimorar sua reflexão. A respeito da prática das ideias defendidas pelo
autor, ele diz que os alunos devem construir e assumir a disciplina, através do
diálogo com os professores e incentivo dos mesmos, mas que é o educando
que deve ser o foco da educação, e deve ser o “senhor de sua aprendizagem”,
para que seja levada em consideração sua cultura e seu conhecimento, não
apenas a assimilação de informações dadas pelo professor. Os conteúdos
devem ser vinculados à vida e voltados à construção do indivíduo crítico por
Freire defendido.

      Para o respeito das diferentes realidades de cada educando, e a fim de
evitar a relação de opressão entre professor e aluno, a obra apresenta a defesa
do diálogo e toda uma argumentação a respeito da prática dialética. O autor,
então, cita debates em que participou a respeito da Pedagogia do Oprimido e
continua a defender o respeito às diferenças e a derrubar a ideia de dominação
existente na escola da época. “Essa é uma esperança que nos move”, declara
Freire na página 126, a respeito do sonho de uma educação adequada às
diferentes realidades dos alunos e para a formação de seres críticos e sociais.

      A obra relata experiências vividas pelo autor em suas viagens, debates e
encontros com estudantes, ministros, educadores e suas reflexões a respeito
desses encontros e conversas. Porém, o conhecimento mais importante que se
pode depreender do livro é de que a pluralidade cultural é feita através da
liberdade e sem o medo de ser diferente. Dessa forma, o incentivo dos
educadores e o respeito às diferenças contribui para a valorização da cultura
de cada educando.




PEDAGOGIA DA AUTONOMIA




      O livro Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática
educativa - foi a última obra de Paulo Freire em vida. O livro é dividido em 3
capítulos:
               Não há docência sem discência;
               Ensinar não é transferir conhecimentos;
               Ensinar é uma especificidade humana.
      O livro tem como tema principal a formação de professores
democráticos, que reflitam criticamente sobre a prática, pois quando se pensa
criticamente a prática de hoje, melhora-se a prática de amanhã. O objetivo de
uma formação democrática é de estimular a independência, autonomia tanto do
educador quanto do aluno.
      De acordo com as ideias de Freire, tem-se uma necessidade de o
professor estar aberto a indagações, curiosidades, um professor que pesquisa,
que insiste.


                      O que me interessa agora, repito, é alinhar e discutir alguns saberes
                      fundamentais à prática educativo-crítica ou progressista e que, por
isso mesmo, devem ser conteúdos obrigatórios à organização
                     programática da formação docente. (FREIRE, 1996, pg. 22)


      Quando ele diz que não há docência sem discência, e que no processo
de ensinar o professor também aprende, o processo é recíproco. “Ensinar
inexiste sem aprender e vice-versa” (FREIRE, 1996, pg. 23).
      Ensinar não é transferir conhecimentos, primeiramente a educação não
é apenas conteúdo, Freire quebra o paradigma de que o conteúdo é o mais
importante. Ser competente em termos técnicos, mas antes de tudo ser
comprometido em termos emocionais. “Ensinar não é transferir conhecimento,
mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”
(FREIRE, 1996, pg. 22).
      O educador tem o papel de reforçar a capacidade crítica do educando,
nesse sentido a pesquisa torna-se fundamental, pois de acordo com Freire não
há ensino sem pesquisa e nem pesquisa sem ensino.


                     Nas condições da verdadeira aprendizagem os educandos vão se
                     transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do
                     saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo.
                     (FREIRE, 1996, pg. 26)


      Ainda no primeiro capítulo, Freire destaca que ensinar exige risco,
aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação. “A prática
preconceituosa de raça, de gênero, de classe ofende a subjetividade do ser
humano e nega radicalmente a democracia”. (FREIRE, 1996, 36)
      O livro, um dos mais importantes do autor, mostra-nos que para ensinar
é preciso entender que a educação é uma forma de intervenção do mundo.
Freire finaliza o livro afirmando que o exercício da educação é um exercício
alegre por natureza, entretanto com uma formação científica rigorosa e crítica.
      Outro livro que tem uma ligação estreita com as ideias desenvolvidas
pelo autor na Pedagogia da Autonomia e com os seus métodos para a
Alfabetização de jovens e adultos é A Importância do ato de ler, onde Freire
traz a concepção de leitura de mundo e leitura da palavra.
A leitura precede a leitura da palavra. E aprender a ler, a escrever,
                      alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender a ler o mundo,
                      compreender o seu contexto, não uma manipulação mecânica de
                      palavras mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e
                      realidade. (FREIRE, 1989, pg. 7)


       O livro possui três artigos que foram constituídos em uma palestra sobre
a importância do ato de ler em uma comunicação sobre as relações da
biblioteca popular com a alfabetização de jovens e adultos.
       O que hoje é conhecido como Método Freire seria uma proposta que o
autor desenvolveu para a Alfabetização de adultos de grupos populares. O
método é baseado em temas geradores, criando uma ligação entre o conteúdo
escolar e a realidade dos estudantes. Antes de tudo, o objetivo era de vencer o
analfabetismo político, depois ensinar a ler o mundo, o seu meio para poder
fazer a leitura da palavra. A representação de situações concretas possibilita
uma “leitura” da “leitura” de mundo anterior, para que assim as pessoas atinjam
uma profunda compreensão da sua realidade social e da capacidade de
transformá-la. Educação como prática libertadora – que foi vista na Pedagogia
da Autonomia. “Do ponto de vista crítico e democrático [...] o alfabetizando, e
não analfabeto, se insere num processo criador, de que ele também é sujeito.”
(FREIRE, 1989, pg. 18).
       O livro, como já foi dito, traz a concepção de bibliotecas populares, as
quais serviriam de base para a formação dos estudantes e seriam organizadas
a partir de histórias da área, da cultura daquela região. Segundo Freire (1989,
pg. 20):


                      A biblioteca popular, como centro cultural e não como depósito
                      silencioso de livros, é vista como fator fundamental para o
                      aperfeiçoamento e a intensificação de uma forma correta de ler o
                      texto em relação ao contexto.



       Freire acreditava que a alfabetização não era apenas um aprendizado
técnico-linguístico, para ele a alfabetização passava por questões de lógica, de
afetividade, questões sociais, culturais e políticas.
Também conhecido como Circulo da Cultura, o método de Freire foi
utilizado no Brasil, Guiné Bissau, Suíça e nos Estados Unidos em Harvard. O
Círculo da Cultura centrada na autonomia dos estudantes e era desenvolvido
em um ambiente agradável, diferente de uma sala de aula normal. Que muitas
vezes torna a aula maçante e coloca professor e aluno em patamares diferente.
No Círculo da Cultura, todos estavam no mesmo “nível”.
      O método era divido em três etapas, a primeira consistia na investigação
entre professor e aluno de temas significativos na vida do aluno, que tenham
alguma representação importante dentro do seu universo, da sua realidade.
Dentro desse tema buscam-se palavras, é onde o educar toma conhecimento
do universo vocabular do aluno. São selecionadas “palavras geradoras”, a
partir da escolhas dessas palavras surge a segunda etapa, a qual pode ser
definida como etapa de tematização, é o momento que o professor faz com que
o aluno busque o verdadeiro significado social dessa palavra através da análise
e reflexão e assim novos temas geradores são surgindo. A terceira etapa é a
da problematização, o professor instiga o aluno a ter um pensamento crítico em
relação aquele contexto social que a palavra geradora está inserida. Como
Freire já dizia na Pedagogia da autonomia que ensinar não é transmitir
conhecimentos e sim criar possiblidades, nesse método é exatamente isso que
acontece, e acontece através de uma relação de diálogo. Nessa perspectiva, o
objetivo da alfabetização de adultos não é apenas deensinar o aluno a codificar
e decodificar e sim promover uma consciência crítica acerca da sua realidade
social, uma leitura do seu mundo.
      Freire valoriza a cultura, a história, as origens e toda experiência exterior
ao meio escolar do educando. Essa valorização é primordial para o processo
de conscientização e criticidade, que é descrito na Pedagogia da Autonomia, é
o foco da educação de jovens e adultos.


                      Se antes a alfabetização de adultos era tratada e realizada de forma
                      autoritária, centrada na compreensão mágica da palavra, palavra
                      doada pelo educador aos analfabetos; se antes os textos
                      geralmente oferecidos como leitura aos alunos escondiam muito
                      mais do que desvelavam a realidade, agora, pelo contrário, a
                      alfabetização como ato de conhecimento, como ato criador e como
ato político é um esforço de leitura do mundo e da palavra”
(FREIRE, 1989, pg. 19).
REFERÊNCIAS




Paulo Freire. Disponível em < Wikipédia, a enciclopédia               livre   -
http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire > Acesso em: 17/11/2012.


Paulo Freire: educador reconhecido internacionalmente pelo método de
alfabetização.           Sua        pesquisa.com.       Disponível em:
http://www.suapesquisa.com/paulofreire/. Acesso em: 17/11/2012.


Paulo Freire, o mentor da educação para a consciência. Revista Nova
Escola, Especial Grandes Educadores, Outubro de 2008. Disponível em:
http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/mentor-educacao-
consciencia-423220.shtml. Acesso em: 14/11/2012.


FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se
completam. 23 Ed. São Paulo: Cortez, 1989.


FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Editora Paz e Terra,
1970.


FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. São Paulo: Editora Paz e Terra,
1992.


FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996.

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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE ESTUDOS BÁSICOS HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: HIST. DA ESCOLARIZAÇÃO BRAS. E PROC. PEDAGÓGICOS CONHECENDO PAULO FREIRE: UMA INTRODUÇÃO À VIDA E À OBRA DO PATRONO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA Trabalho elaborado para a disciplina de História da Educação: Hist. da Escolarização Bras. e Proc. Pedagógicos, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção de aprovação semestral. Aluno: Ângela Trevisol Gonçalves, Giovane Fernandes Oliveira, Izabel Maria da Silva Lopes e Julia Prates da Silva. Orientadora: Profa. Dra. Simone Valdete dos Santos PORTO ALEGRE 2012
  • 2. BIOGRAFIA Paulo Régis Neves Freire nasceu em 19 de setembro de 1921, em Recife, Pernambuco. Filho de uma dona de casa e de um policial militar, ele era o mais novo de quatro irmãos. Aprendeu a ler e a escrever com a mãe, à sombra das árvores do quintal da casa em que nasceu. Sua família pertencia à classe média, mas conheceu a fome e a pobreza com a depressão de 1929 – que os forçou a se mudarem para Jaboatão, aonde seu pai viria a falecer cinco anos mais tarde, quando Paulo contasse treze anos de idade. Seus irmãos, então, assumiram as despesas da casa, de modo que ele pode continuar seus estudos, ingressando no ginásio aos dezesseis anos. Aos vinte, conseguiu uma vaga na Faculdade de Direito do Recife, no entanto não seguiu carreira de advogado, encaminhando sua vida profissional para o magistério. Nesta época, conheceu e casou-se com a professora primária Elza Maia Costa Oliveira, com quem teve cinco filhos e começou a lecionar no Colégio Oswaldo Cruz, também em Recife. No ano de 1947, foi contratado para dirigir o Departamento de Educação e Cultura do SESI, onde entrou em contato pela primeira vez com a alfabetização de adultos. Suas ideias pedagógicas se formaram a partir da observação da cultura dos alunos - em particular do uso da linguagem - e do papel elitista da escola. Em 1958, participou de um congresso educacional na cidade do Rio de Janeiro, no qual apresentou um trabalho importante sobre educação e princípios de alfabetização. De acordo com suas ideias, a alfabetização de adultos deve estar diretamente relacionada ao cotidiano do trabalhador. Desta forma, o adulto deve conhecer sua realidade para poder inserir-se de forma crítica e atuante na vida social e política. Em 1961, Freire tornou-se diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife e, no mesmo ano, realizou junto com sua equipe as primeiras experiências de alfabetização popular que levariam à constituição do Método Paulo Freire. Dois anos mais tarde, em Angicos, no Rio Grande do Norte, executou um de seus feitos mais famosos: chefiou um programa que alfabetizou mais de 300 trabalhadores em 45 dias.
  • 3. Tal feito chamou a atenção do então presidente da República João Goulart, o qual o convidou para coordenar o Programa Nacional de Alfabetização. Contudo, no ano seguinte, foi surpreendido em Brasília pelo golpe militar. O método de alfabetização revolucionário de Freire passou a ser visto como uma ameaça à ordem pelos novos governantes, que ordenaram a sua prisão e o mantiveram cativo como traidor durante 70 dias. Em seguida, foi para o exílio, passando brevemente pela Bolívia antes de ganhar asilo político no Chile. Neste país, trabalhou durante cinco anos para o Movimento de Reforma Agrária da Democracia Cristã e para a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação. Entretanto, nunca deixou de produzir conhecimento na área da educação, tendo escrito – ainda em seu exílio chileno – o seu livro mais famoso: Pedagogia do Oprimido, no qual detalha seu método de alfabetização de adultos. Antes, porém, de publicá- lo, publicou Educação como prática da liberdade, baseado em sua tese Educação e Atualidade Brasileira, com a qual concorrera, em 1959, à cadeira de História e Filosofia da Educação da Escola de Belas Artes do Recife. O livro foi bem recebido, e Freire foi convidado para ser professor visitante da Universidade de Harvard em 1969. Depois de um ano em Cambridge, Freire mudou-se para Genebra, na Suíça, trabalhando como consultor educacional do Conselho Mundial de Igrejas. Durante esse tempo, atuou como consultor em reforma educacional em colônias portuguesas na África, particularmente na Guiné-Bissau e em Moçambique. Com a promulgação da Lei da Anistia, em 1979, Freire pôde retornar ao Brasil, mas só o fez em 1980. De volta à sua terra natal, integrou-se à vida universitária e filiou-se ao Partido dos Trabalhadores. Foi professor da PUC-SP e da UNICAMP, sendo nomeado secretário da Educação da cidade de São Paulo quando Luiza Erundina venceu as eleições municipais e foi eleita prefeita. O educador exerceu o cargo de 1989 a 1991, tendo sido a sua gestão marcada pela criação do MOVA – Movimento de Alfabetização, um modelo de programa público que até hoje é adotado por numerosas prefeituras e outras instâncias do governo.
  • 4. Em 1986, sua esposa Elza morreu. Dois anos depois, em 1988, Freire casou-se com a também pernambucana Ana Maria Araújo, sua orientanda no Programa de Mestrado da PUC-SP. No ano de 1991, foi fundado em São Paulo o Instituto Paulo Freire, para estender e elaborar as ideias de Freire. O instituto mantém até hoje os arquivos do educador, além de realizar numerosas atividades relacionadas com o legado do pensador e a atuação em temas da educação brasileira e mundial. Freire morreu vítima de um ataque cardíaco, em 02 de maio de 1997, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, devido a complicações em uma operação de desobstrução de artérias. O Estado Brasileiro, por meio do Ministério da Justiça, no Fórum Mundial de Educação Profissional de 2009, realizado em Brasília, fez o pedido de perdão post mortem à viúva e à família do educador, assumindo o pagamento de "reparação econômica". Mais do que um professor extraordinário e um político admirável, Paulo Freire foi um homem formidável, cuja obra representa uma importante contribuição para a educação brasileira e mundial. OBRA Paulo Freire é conhecido e reconhecido internacionalmente como um dos mais célebres pensadores da história da pedagogia. Fundamentada na crença de que o educando melhor assimilaria o conhecimento se o mesmo dialogasse com a sua realidade, a sua prática didática opunha-se àquela por ele denominada educação bancária, tecnicista e alienante. Desse modo, o educando criaria a sua própria educação, desenvolvendo ele próprio o método e não seguindo um previamente imposto. O educador destacou-se também por seu trabalho na área da educação popular, centrada tanto na escolarização quanto na formação da consciência política. Embora tenha influenciado a filosofia educacional conhecida como pedagogia crítica, diferenciou-se dos intelectuais de esquerda tradicionais e
  • 5. sempre defendeu o diálogo com as pessoas simples, não só como método, mas como um modo de ser realmente democrático. Autor de uma vasta obra, teve seus livros traduzidos em mais de 20 idiomas e recebeu 41 títulos de doutor honoris causa de universidades como Harvard, Cambridge e Oxford, o que faz dele o brasileiro mais homenageado de todos os tempos. Três títulos, no entanto, merecem destaque em sua obra: Pedagogia do Oprimido (1970), Pedagogia da Esperança (1992) e Pedagogia da Autonomia (1997), os quais serão abordados neste trabalho. PEDAGOGIA DO OPRIMIDO Pedagogia do Oprimido é a obra-prima de Paulo Freire, o primeiro e mais importante livro da trilogia que analisaremos. Publicado em 1970, o livro propõe uma pedagogia com uma nova forma de relacionamento entre professor, aluno e sociedade. Foi escrito pelo educador durante seu exílio no Chile e, devido à impopularidade do autor com os militares que governavam o Brasil na época, foi lançado aqui somente em 1974. Concebido na forma de ensaio, divide-se em quatro capítulos: Justificativa da pedagogia do oprimido; A concepção "bancária" da educação como instrumento da opressão; A dialogicidade: essência da educação como prática da liberdade; A teoria da ação antidialógica. Segundo Paulo Freire, o movimento da liberdade deve surgir a partir dos próprios oprimidos, e a pedagogia criada será gerada nos homens e não para os homens. Percebe-se que não é suficiente que o oprimido tenha consciência crítica da opressão, mas que também queira transformar essa realidade, tratando-se de um trabalho de conscientização e politização. A violência dos opressores é gerada por uma ordem que se posiciona injustamente, sendo resultado de um processo histórico de desumanização. Esta desumanização dá
  • 6. margem ao surgimento da luta pelo direito de cada ser humano, a luta pela liberdade trabalhista e pela afirmação do homem enquanto indivíduo possuidor destes direitos. Tanto oprimidos quanto opressores são vítimas da desumanização. O que torna os opressores desumanizados é sua violência, e essa violência faz com que os oprimidos tendam a reagir lutando contra aqueles que os oprimem. Essa luta só adquire sentido quando o oprimido, ao buscar sua humanização, não se reconhece opressor devolvendo a quem o oprimiu tal violência. A libertação se dá quando o oprimido reconquista sua humanidade em ambos os papéis que possivelmente ocupa, o do ser mais e o do ser menos. O autor também trata no livro sobre a definição de práxis: práxis é a reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo, sem ela é impossível a superação da situação opressor-oprimido. Só unindo teoria e prática essa libertação pedagógica será possível. De acordo com a educação convencional, predomina o discurso e a prática, na qual, quem é o sujeito da educação é o educador, sendo os educandos vistos como vasilhas a serem preenchidas; o educador deposita conhecimento, que os educandos recebem, memorizam e repetem. O saber é dado, fornecido de cima para baixo, e autoritário, pois manda quem sabe. Na concepção de “educação bancária” o educador é sempre o que sabe, enquanto os educandos serão os que não sabem. A rigidez destas posições nega a educação e o conhecimento como processo de busca; ou seja, educador é o sujeito do processo, enquanto o educando é apenas o objeto. Desta maneira o educando, em sua passividade, torna-se apenas um objeto receptor numa falsa crença de um mundo harmonioso, no qual não há contradições. O método freireano não ensina a mera repetição de palavras, mas, a despeito disto, coloca o educando numa posição de poder transformar criticamente as palavras de seu mundo. É com a palavra que o homem constrói seu mundo e se diferencia dos animais. Aprender a escrever sua vida é o principal e mais exato sentido da alfabetização, aprender a escrever sua própria vida enquanto autor e testemunha, constituindo historicamente sua
  • 7. forma e sua consciência, além de se fazer reflexivamente responsável pela história. Na educação libertadora, há interação entre educando e educador, pois o ensino e a aprendizagem partem de ambos os lados. É uma troca constante: quem ensina aprende e quem aprende ensina. Nesta educação proposta por Paulo Freire, o conhecimento não é transferido do educador para o educando, mas ocorre um compartilhamento de experiências onde se encontram as condições necessárias para a construção de seres críticos, no decorrer do diálogo com o educador, por sua vez, também ser crítico. Nas palavras de Paulo Freire, o diálogo é a essência da educação, ele não é um produto histórico, é a própria historicização, ele é o movimento constitutivo da consciência que, ao abrir-se para a infinitude, vence intencionalmente as fronteiras da finitude e busca reencontrar-se além de si mesmo. Alfabetização não é um jogo de palavras, é a consciência reflexiva da cultura, a reconstrução crítica do mundo humano, é toda a pedagogia: “aprender a ler é aprender a dizer sua palavra”. Não há diálogo sem humildade, pois é necessário ver o outro eu no próprio eu. A libertação é um processo doloroso, pois depende do próprio indivíduo expulsar ou não o opressor de dentro de si. O homem que nasce deste parto é um homem novo que só é viável na e pela superação da contradição opressores-oprimidos, que é a libertação de todos. A superação da contradição é o parto que traz ao mundo este homem novo, nem opressor nem oprimido, mas liberto. PEDAGOGIA DA ESPERANÇA Publicado em 1992, o livro Pedagogia da Esperança retoma as ideias já desenvolvidas em Pedagogia do Oprimido, importante obra do autor escrita décadas antes. Divide-se em sete partes. Na primeira delas, chamada “Primeiras palavras”, Paulo Freire introduz a obra deixando clara sua ideia de
  • 8. educação como prática política e sua preocupação na formação de indivíduos críticos e participativos no meio social. No trecho abaixo, presente nessa parte da obra, a autor “da o tom” do que virá nas páginas seguintes: A Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido é um livro assim, escrito com raiva, com amor, sem o que não há esperança. Uma defesa da tolerância, que não se confunde com a conivência, da radicalidade; uma crítica ao sectarismo, uma compreensão da pós-modernidade progressista e uma recusa à conservadora, neoliberal. Também na primeira parte, Freire declara a urgência da democratização da escola pública, ideia defendida em muitas de suas obras, bem como a urgência na formação científica de seus educadores (entre os quais ele inclui vigias, merendeiras etc.). Além disso, é salientada a eficácia da participação dos educandos na produção de conhecimento. A respeito da esperança que dá nome ao livro, Paulo Freire diz que ela sozinha não ganha a luta, mas sem a luta titubeia, fraqueja. Declara não entender como o mundo pretende evoluir sem esperança, nem as razões sociais, históricas e econômicas que explicam sua falta. Depois, o autor retoma as ideias da Pedagogia do Oprimido, aproveitando as críticas sofridas por essa obra anteriormente escrita para revê- la e aprimorar sua reflexão. A respeito da prática das ideias defendidas pelo autor, ele diz que os alunos devem construir e assumir a disciplina, através do diálogo com os professores e incentivo dos mesmos, mas que é o educando que deve ser o foco da educação, e deve ser o “senhor de sua aprendizagem”, para que seja levada em consideração sua cultura e seu conhecimento, não apenas a assimilação de informações dadas pelo professor. Os conteúdos devem ser vinculados à vida e voltados à construção do indivíduo crítico por Freire defendido. Para o respeito das diferentes realidades de cada educando, e a fim de evitar a relação de opressão entre professor e aluno, a obra apresenta a defesa do diálogo e toda uma argumentação a respeito da prática dialética. O autor, então, cita debates em que participou a respeito da Pedagogia do Oprimido e
  • 9. continua a defender o respeito às diferenças e a derrubar a ideia de dominação existente na escola da época. “Essa é uma esperança que nos move”, declara Freire na página 126, a respeito do sonho de uma educação adequada às diferentes realidades dos alunos e para a formação de seres críticos e sociais. A obra relata experiências vividas pelo autor em suas viagens, debates e encontros com estudantes, ministros, educadores e suas reflexões a respeito desses encontros e conversas. Porém, o conhecimento mais importante que se pode depreender do livro é de que a pluralidade cultural é feita através da liberdade e sem o medo de ser diferente. Dessa forma, o incentivo dos educadores e o respeito às diferenças contribui para a valorização da cultura de cada educando. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA O livro Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática educativa - foi a última obra de Paulo Freire em vida. O livro é dividido em 3 capítulos: Não há docência sem discência; Ensinar não é transferir conhecimentos; Ensinar é uma especificidade humana. O livro tem como tema principal a formação de professores democráticos, que reflitam criticamente sobre a prática, pois quando se pensa criticamente a prática de hoje, melhora-se a prática de amanhã. O objetivo de uma formação democrática é de estimular a independência, autonomia tanto do educador quanto do aluno. De acordo com as ideias de Freire, tem-se uma necessidade de o professor estar aberto a indagações, curiosidades, um professor que pesquisa, que insiste. O que me interessa agora, repito, é alinhar e discutir alguns saberes fundamentais à prática educativo-crítica ou progressista e que, por
  • 10. isso mesmo, devem ser conteúdos obrigatórios à organização programática da formação docente. (FREIRE, 1996, pg. 22) Quando ele diz que não há docência sem discência, e que no processo de ensinar o professor também aprende, o processo é recíproco. “Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa” (FREIRE, 1996, pg. 23). Ensinar não é transferir conhecimentos, primeiramente a educação não é apenas conteúdo, Freire quebra o paradigma de que o conteúdo é o mais importante. Ser competente em termos técnicos, mas antes de tudo ser comprometido em termos emocionais. “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, pg. 22). O educador tem o papel de reforçar a capacidade crítica do educando, nesse sentido a pesquisa torna-se fundamental, pois de acordo com Freire não há ensino sem pesquisa e nem pesquisa sem ensino. Nas condições da verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo. (FREIRE, 1996, pg. 26) Ainda no primeiro capítulo, Freire destaca que ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação. “A prática preconceituosa de raça, de gênero, de classe ofende a subjetividade do ser humano e nega radicalmente a democracia”. (FREIRE, 1996, 36) O livro, um dos mais importantes do autor, mostra-nos que para ensinar é preciso entender que a educação é uma forma de intervenção do mundo. Freire finaliza o livro afirmando que o exercício da educação é um exercício alegre por natureza, entretanto com uma formação científica rigorosa e crítica. Outro livro que tem uma ligação estreita com as ideias desenvolvidas pelo autor na Pedagogia da Autonomia e com os seus métodos para a Alfabetização de jovens e adultos é A Importância do ato de ler, onde Freire traz a concepção de leitura de mundo e leitura da palavra.
  • 11. A leitura precede a leitura da palavra. E aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não uma manipulação mecânica de palavras mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade. (FREIRE, 1989, pg. 7) O livro possui três artigos que foram constituídos em uma palestra sobre a importância do ato de ler em uma comunicação sobre as relações da biblioteca popular com a alfabetização de jovens e adultos. O que hoje é conhecido como Método Freire seria uma proposta que o autor desenvolveu para a Alfabetização de adultos de grupos populares. O método é baseado em temas geradores, criando uma ligação entre o conteúdo escolar e a realidade dos estudantes. Antes de tudo, o objetivo era de vencer o analfabetismo político, depois ensinar a ler o mundo, o seu meio para poder fazer a leitura da palavra. A representação de situações concretas possibilita uma “leitura” da “leitura” de mundo anterior, para que assim as pessoas atinjam uma profunda compreensão da sua realidade social e da capacidade de transformá-la. Educação como prática libertadora – que foi vista na Pedagogia da Autonomia. “Do ponto de vista crítico e democrático [...] o alfabetizando, e não analfabeto, se insere num processo criador, de que ele também é sujeito.” (FREIRE, 1989, pg. 18). O livro, como já foi dito, traz a concepção de bibliotecas populares, as quais serviriam de base para a formação dos estudantes e seriam organizadas a partir de histórias da área, da cultura daquela região. Segundo Freire (1989, pg. 20): A biblioteca popular, como centro cultural e não como depósito silencioso de livros, é vista como fator fundamental para o aperfeiçoamento e a intensificação de uma forma correta de ler o texto em relação ao contexto. Freire acreditava que a alfabetização não era apenas um aprendizado técnico-linguístico, para ele a alfabetização passava por questões de lógica, de afetividade, questões sociais, culturais e políticas.
  • 12. Também conhecido como Circulo da Cultura, o método de Freire foi utilizado no Brasil, Guiné Bissau, Suíça e nos Estados Unidos em Harvard. O Círculo da Cultura centrada na autonomia dos estudantes e era desenvolvido em um ambiente agradável, diferente de uma sala de aula normal. Que muitas vezes torna a aula maçante e coloca professor e aluno em patamares diferente. No Círculo da Cultura, todos estavam no mesmo “nível”. O método era divido em três etapas, a primeira consistia na investigação entre professor e aluno de temas significativos na vida do aluno, que tenham alguma representação importante dentro do seu universo, da sua realidade. Dentro desse tema buscam-se palavras, é onde o educar toma conhecimento do universo vocabular do aluno. São selecionadas “palavras geradoras”, a partir da escolhas dessas palavras surge a segunda etapa, a qual pode ser definida como etapa de tematização, é o momento que o professor faz com que o aluno busque o verdadeiro significado social dessa palavra através da análise e reflexão e assim novos temas geradores são surgindo. A terceira etapa é a da problematização, o professor instiga o aluno a ter um pensamento crítico em relação aquele contexto social que a palavra geradora está inserida. Como Freire já dizia na Pedagogia da autonomia que ensinar não é transmitir conhecimentos e sim criar possiblidades, nesse método é exatamente isso que acontece, e acontece através de uma relação de diálogo. Nessa perspectiva, o objetivo da alfabetização de adultos não é apenas deensinar o aluno a codificar e decodificar e sim promover uma consciência crítica acerca da sua realidade social, uma leitura do seu mundo. Freire valoriza a cultura, a história, as origens e toda experiência exterior ao meio escolar do educando. Essa valorização é primordial para o processo de conscientização e criticidade, que é descrito na Pedagogia da Autonomia, é o foco da educação de jovens e adultos. Se antes a alfabetização de adultos era tratada e realizada de forma autoritária, centrada na compreensão mágica da palavra, palavra doada pelo educador aos analfabetos; se antes os textos geralmente oferecidos como leitura aos alunos escondiam muito mais do que desvelavam a realidade, agora, pelo contrário, a alfabetização como ato de conhecimento, como ato criador e como
  • 13. ato político é um esforço de leitura do mundo e da palavra” (FREIRE, 1989, pg. 19).
  • 14. REFERÊNCIAS Paulo Freire. Disponível em < Wikipédia, a enciclopédia livre - http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Freire > Acesso em: 17/11/2012. Paulo Freire: educador reconhecido internacionalmente pelo método de alfabetização. Sua pesquisa.com. Disponível em: http://www.suapesquisa.com/paulofreire/. Acesso em: 17/11/2012. Paulo Freire, o mentor da educação para a consciência. Revista Nova Escola, Especial Grandes Educadores, Outubro de 2008. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/mentor-educacao- consciencia-423220.shtml. Acesso em: 14/11/2012. FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 23 Ed. São Paulo: Cortez, 1989. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1970. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1992. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996.