Este documento apresenta uma exposição de arte intitulada "Lind'Mundo" que reúne obras de escultura de Jorge Moreira e pintura de Nuno Quaresma. A mostra integra-se na iniciativa "AKA OM" dedicada a temas como mudança, movimento e criatividade, e antecipa outras atividades culturais agendadas para 2015. O documento inclui também biografias dos artistas e prefácios sobre a arte e o significado do mantra "Aum".
2. LIND'MUNDO
Dedicada à eterna memória de Letícia da
Conceição Bicho, Grande Mãe e Grande
Apreciadora de Arte.
Como é Lindo o Mundo, pensamos os dois
enquanto debruçamos em conjunto o
olhar sobre a beleza distintiva desta Vila.
Nesta topografia singular, grandiosa, é
mais fácil entrar em contacto com a histó-ria
comum que nos une e que nos traz hoje
ao MUSA.
A amizade entre um Escultor e um Pintor,
uma também ela singularidade no espaço
e no tempo, aglutinou a vontade e a opor-tunidade
sob o auspício e teto cultural no
Município de Sintra e o resultado é este:
Lind'Mundo.
No Algarve dizemo-lo assim, em dialeto, e
se nos perguntarem, provavelmente res-ponderemos
“é Lind' porque é Linde, não
é precise outras justificações”.
“Outro mestre estava a tomar chá com dois dos seus alu-nos
quando, subitamente atirou o leque para um deles,
dizendo «o que é isto?» o aluno abriu-o e abanou-se.
«Não é mau», foi o seu comentário. «Agora tu.», conti-nuou,
passando-o ao outro aluno, que imediatamente fe-chou
o leque e coçou o pescoço com ele. Feito isto, abriu-o
novamente, colocou um pedaço de bolo sobre ele e ofe-receu-
o ao mestre. Este foi considerado ainda melhor,
porque, quando não existem nomes, o mundo deixa de
estar «classificado dentro de limites e fronteiras».
In “O Caminho do Zen”, de Alan Watts
Esta mostra, sobretudo porque não se clas-sifica
dentro de limites ou fronteiras, está
integrada na iniciativa associativa AKA
OM dedicada aos temas – Mudança |Mo-vimento
|Crise |Criatividade - e a expo-sição
desta coleção de Obras de Jorge Mo-reira
e Nuno Quaresma antecipa uma sé-rie
de outras atividades e iniciativas que
decorrerão em 2015 e que poderão ser
acompanhadas em www.numdiaperfei-to.
com .
Num dia perfeito pinta-se, esculpe-se,
alimenta-se o corpo e a alma, ama-se e en-sina-
se a amar.
“Não te iludas. O ontem já se passou, o amanhã ainda
não existe. Vive, pois, a única certeza que tens agora:
este dia!”
Augusto Branco aka Nazareno Vieira de Souza
3. OM
AUM prefácio
OM, Aum, o som do movimento do Universo, o eco do seu iní-cio
distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de Higgs, do pleno, segu-ro
e consolidado funcionamento do Acelerador de Partículas
do CERN, já numa época pós Relatividade Geral de Einste-in,
nos tempos da elaboradíssima complexidade matemática
da Teoria das Cordas.
No meu íntimo, no fundo da minha alma (será que esta exis-te?)
procuro contudo e apenas ouvi-lo: este silêncio que é tam-bém
um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sinto-lhe, por momentos, es-sa
nesgazinha de grandiosidade de que todos somos parte.
Já me explicaram que maís o conseguiria integrar se tivesse
“o copo menos cheio”.
É mais fácil encher um copo vazio do que fazer entrar o que
seja numa malga (amálgama!) a transbordar.
A dura tarefa que tenho hoje pela frente é esvaziar-me desse
caudal.
É minha essa tarefa apenas porque a escolho.
Não sei se sou capaz, se estou à altura da complexa exigên-cia
do seu postulado.
Sigo com a simplicidade, humildade e receios de uma crian-ça
(talvez até com um pouco da sua indisciplina e irreverên-cia).
Por isso começo por desenhar e pintar.
Não me levem a mal. Não sou capaz de o fazer de outra forma
agora.
Vou pintar o que não compreendo, pintarei tudo o que me dis-traí
o pensamento, para ver se a pintar desmistifico e des-mistificando
exorcizo essa força magnética que me agarra
obsessivamente à forma das coisas.
Pensando menos sentirei talvez mais. Mais perto estarei tal-vez
do essencial, do conteúdo. Mais perto da verdade, quem
sabe, da consciência, do coração… de Ti!
Aka OM (Aum), já em outubro deste ano, com o apoio Tailo-red,
AKA Art Projects e da Câmara Municipal de Sintra.
01
4. Aum (or OM) is a mantra, or vibration, that is traditionally
chanted at the beginning and end of yoga sessions. It is made
up of three Sanskrit letters, aa, au and ma which, when
combined together, make the sound Aum or Om. It is believed
to be the basic sound of the world and to contain all other
sounds. It is said to be the sound of the universe. What does
that mean?
Somehow the ancient yogis knew what scientists today are
telling us–that the entire universe is moving. Nothing is ever
solid or still. Everything that exists pulsates, creating a
rhythmic vibration that the ancient yogis acknowledged with
the sound of Aum. We may not always be aware of this sound
in our daily lives, but we can hear it in the rustling of the
autumn leaves, the waves on the shore, the inside of a
seashell.
Chanting Aum allows us to recognize our experience as a
reflection of how the whole universe moves–the setting sun,
the rising moon, the ebb and flow of the tides, the beating of
our hearts. As we chant Aum, it takes us for a ride on this
universal movement, through our breath, our awareness,
and our physical energy, and we begin to sense a bigger
connection that is both uplifting and soothing.
02
5. Maria João
A respiração dilata-se no ar pesado do interior
cores esbatidas, vidraças molhadas, sonhos que pingam
beijos inaudíveis, olhar no vazio, coração menos pesado
hálito carnal, mãos que se tocam, corpos que se fundem
O silêncio é a linguagem dos amantes.
Não sabes o meu nome, não conheço a tua história, não interessa quem somos.
As fotos das crianças que fomos culminam neste momento presente; tudo é este segundo que vivemos
todas as gotas do oceano estão dentro destas paredes
as rugas que ambos escondemos brilham na sua solidão
nós somos tudo, por saber ser nada
acolhes-me nos teus braços como se fosse o teu único filho recém regressado
Abro-te os meus como se fosse um porto de abrigo para um navio que não navega.
Não me chegaste a dizer qual o preço
Também não te perguntei, será verdade
Abri-te a porta e limitaste-te a entrar
não te disse o destino, não saberíamos por onde querer ir
Encalhámos por breves momentos neste canto esquecido com vista para o nada
por segundos fugazes não existimos; desaparecemos no frio da noite
olhas-me antes de fechar a porta, não sorris, não falas
olhas-me simplesmente; sei que vais partir e nunca mais me ver;
Sinto-te a entrar nas minhas veias, a matar as minhas defesas
Pouco a pouco possuir-me às, átomo… a átomo
definharei este corpo efémero e vazio de significado
sucumbirei ao cheiro da doença
finalmente pertencerei ao teu abrigo
Por toda a eternidade que esta noite não pode dar.
Aum (or OM) is a mantra, or vibration, that is traditionally
chanted at the beginning and end of yoga sessions. It is made
up of three Sanskrit letters, aa, au and ma which, when
combined together, make the sound Aum or Om. It is believed
to be the basic sound of the world and to contain all other
sounds. It is said to be the sound of the universe. What does
that mean?
Somehow the ancient yogis knew what scientists today are
telling us–that the entire universe is moving. Nothing is ever
solid or still. Everything that exists pulsates, creating a
rhythmic vibration that the ancient yogis acknowledged with
the sound of Aum. We may not always be aware of this sound
03
7. Pintura acrílico / carvão sobre tela - 120X90cm, “Revelação”, Artur Simões Dias – Dezembro 2013 / em curso (2014)
Não existe nada melhor do que um traço para projectar um
sonho mas digo certamente que melhor do que um traço é mes-mo
um desenho para nos fazer sonhar. É nesses sonhos que re-vivemos,
crescemos, retornamos à nossa infância, que somos
realmente felizes.
O princípio de sonho nada tem a ver com a realidade mas é
em cada mundo próprio que depositamos os nossos anseios,
as nossas preocupações, os nossos quereres, trechos da nossa
vida vivida e outros tantos de vida desejada.
Sonhamos a dormir ou acordados. Muitas vezes dou comigo
a projectar e a idealizar situações que me são confortáveis e
outras que me são desagradáveis, mas é no sentimento do tra-ço
que vemos a simplicidade dos sonhos.
Querem aflorar tesouros mas nós queremos ainda mais que
sejam revelados esses mesmos tesouros a nós porque perde-mos
a inocência de acreditar que o mundo é um perfeito con-torno
do nosso corpo e que somos capazes de tudo.
Transportar os sonhos num desígnio de projecção é um passo
para entendermos um pouco aquilo que perdemos e que um
dia já foi nosso.
O traço, prolongamento do nosso pensamento, meio de fazer
reflectir as nossas vivências. É com ele que numa história de
pequenos pedaços de sentimento faremos um conto para per-durar,
na infância da nossa idade adulta.
Deixemo-nos levar para outros mundos, deixemo-nos levi-tar
pela experiência dos seus sonhos e esperaremos que con-sigamos
colocar-nos nos ombros dos nossos desenhos e cres-cer,
ir mais além e sonhar.
05
PREENCHENDO SONHOS
9. Jorge Moreira
Escultor, poeta visual, artista singular com uma visão fantástica, as suas obras
de escultura, são autênticas filigranas em pedra ou madeira, onde as imagens
se ligam entre si com elegância numa fantasia musical, onde se misturam pe-quenos
seres alados e plantas e por vezes notas musicas.
Nasceu em 1962.
Curso de Artesão do Brinquedo no Centro Cultural Roque Gameiro.
Aderecista no filme para crianças “Zás Trás”.
Criação de Decors para Vitrinismo.
Colaborador de Escultura de 2005 no Centro Internacional de Escultura.
Exposição coletiva de pintura e escultura no Ministério do Trabalho e Solidari-edade
Social.
Exposição colectiva “Tightrope”, Cidadela de Cascais, 2008.
Participação no concurso “Utopia 2” Artes Fantástica, 2010.
Exposição coletiva de pintura e escultura “Arte Fantástica e Surrealismo 2”, Ca-sa
da Cultura de Mira Sintra, 2012.
Exposição coletiva Círculo Artístico Artur Bual, Vila Alda, 2012.
Exposição coletiva com Olga Alexandre, Biblioteca José Régio, 2012.
Exposição de Escultura ao Ar Livre, Amadora, 2013.
Exposição coletiva “Surrealism”, Casa Museu Roque Gameiro, 2013.
Participação em feiras esculpindo ao vivo:
Feira Medieval de Sintra em 2011 e 2012; Feira Setecentista de Queluz em 2011 e
2012; Feira de Arte Contemporânea em 2010 e 2011; Feira de Arte em Pequeno
Formato na Casa Roque Gameiro; Feira de Artesanato da Junta de Freguesia de
Venteira.
07
Jorge Moreira, meu amigo e escultor, tem
comigo em comum as raízes ensolaradas
do sul, as origens árabes ou berberes dos
nativos de Silves. Será, porventura, por
isso que a sua obra se desdobra em notá-veis
arabescos, poéticos e singelos, que
desafiam a aspereza dos materiais em no-táveis
e delicadas filigranas de madeira
ou de pedra.
O escultor, munido de uma paciência ili-mitada,
desbasta da pedra bruta, ou do
tronco informe, num trabalho incansável
de fabulosa e laboriosa formiga, a ganga
inútil da matéria em excesso. É este o seu
processo de trabalho criativo: uma ima-gem
oculta na mente, uma visão ideal
que só tem existência na cabeça do artis-ta,
que aos poucos toma forma e se desve-la
revelando-se paulatinamente ao nosso
olhar.
Eis, por fim, ao cabo de um tempo de dura-ção
indeterminada, a peça primorosa-mente
trabalhada, elegante no talhe, de
acabamento delicado, na fragilidade da
qual se entrelaçam flores e peixes e estre-las,
frutos de um universo plástico que é
feito da matéria dos sonhos.
Obrigado, meu amigo, pela pertinácia do
teu trabalho, pela tua criatividade poéti-ca,
pela delicadeza da tua obra, pela hu-mildade
com que fazes do quotidiano
uma pequena obra de arte.
António Moreira
Vereador da Cultura da Câmara Munici-pal
da Amadora
10. MOVIMENTO,
MUDANÇA E
SUPERAÇÃO
A vida é uma constante mutação. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” ou
não?
Quando andava na escola secundária e nas aulas de História a “stôra” nos perguntava
como estavam as coisas no período em análise, independentemente de qual fosse a
época em questão, tínhamos uma colega que respondia invariavelmente:
— Mal, muito mal!
E estava sempre correcto! (Hoje também o estaria.)
Há 30 anos estávamos sob alçada do FMI… Hoje também estamos.
Antigamente os nossos jovens partiam em busca de algo melhor… Hoje também.
Nasci em França. Os meus pais partiram em busca daquilo que cá não conseguiam ter.
Não conheciam a língua, nem tinham garantias de sucesso. Vingaram, cresceram e
voltaram. Conseguiram dar-nos mais do que o que tiveram, e com isso fizemos mais e
mais.
Não se conformaram. Lutaram.
Reclamar é sempre fácil, difícil é ser diferente
Quem quiser pode ser dócil e seguir na mesma em frente…
…mas se tiver ousadia de lutar contra os moinhos
Sairá da monotonia e abrirá novos caminhos!
Vivo no Porto. E vivo o Porto.
O Porto é uma cidade linda.
Passear na baixa e observar as fachadas lindíssimas que por cá proliferam é uma
experiência única…
Desçamos mentalmente a belíssima Avenida dos Aliados, passeemos na rua Mousinho
da Silveira, na rua das Flores, na Ribeira….
Edifícios talhados em pedra, imponentes, majestosos, coexistem com estruturas
simples e frágeis, de madeira e de saibro, cujos pórticos cheiram a bafio, devido à
humidade e ao caruncho. Estes por sua vez, vivem lado a lado com novas construções,
coloridas e garridas, recentes e diferentes…
Cada época tem a sua arquitectura, as suas influências, acrescenta o seu contributo…
É a junção de tudo isso que compõe a cidade, a sociedade, a humanidade!
Ousemos mudar, e aportemos também o nosso grão de areia!
Elisabete Gonçalves
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
O Fundo Monetário Internacional interveio em Portugal pela primeira vez em 1977 quando Ramalho Eanes era
Presidente da República e Mário Soares era primeiro-ministro do primeiro Governo Constitucional, depois em 1983
e mais recentemente em 2011.
Elisabete Gonçalves Silva
Autora do livro Percursos Imprecisos,
2013, Lugar da Palavra, descobriu na esco-la
primária o gosto pela escrita, sendo as
composições (ou redacções) os seus traba-lhos
de casa favoritos.
Aos 12 apaixonou-se pelo Porto, onde vive
desde então.
Licenciada em Línguas e Literaturas Mo-dernas,
conta também com um Master en
Excelencia Educativa como reforço das su-as
competências didácticas e de formação,
função que desempenhou profissional-mente
por diversas vezes, enquanto cola-boradora
de uma das maiores empresas de
telecomunicações portuguesa, cujos qua-dros
integra.
Define-se como apaixonada pela vida, pe-la
família, pela cultura, pelos animais e pe-la
cidade do Porto, cidade belíssima que é
parte integrante da sua identidade.
Percursos Imprecisos
Sinopse:
Percurso Imprecisos conduz-nos pelo Por-to,
do Bonfim à Ribeira, com as tropelias
habituais da adolescência e do primeiro
namoro. Pode uma tragédia condicionar
os eventos futuros de uma ou mais vidas?
Carlos vive, cresce… As aventuras suce-dem-
se, caminhos novos cruzam-se, amo-res
surgem… Um livro a não perder!
08
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Ai,
o u v e
quero di-zer-
te uma co-isa
importante.
Gosto de ti, de uma
maneira tão especial,
aliás única, porque também
és único. Amo-te desde o prime-iro
dia da tua vida, antes talvez já
te amasse... não sei se se pode ser ama-do
antes de se ser completo, mas talvez já te
amasse um pouco antes de acordares para a
consciência. Já te sentia. Único, para além de
mim mesmo, legítimo, com sede e fome de tudo e eu
com uma vontade indomável de te ajudar a viver e a ser
completo, feliz. Com uma vontade incontornável de
fazer também esse caminho contigo, de aprender
a ser feliz. Um dia de cada vez, de hora em ho-ra,
minuto a minuto, com o coração emba-lago
pelos segundos. Vivos! É tão bom
estar vivo. É tão bom sentir-te...
Vida. O ontem já foi, o ama-nhã,
para além de todas as
minhas previsões, não
sei o que será, por
isso é tão espe-cialmente
bom es-t
a r
AMO
MOVO logo
09
12. a) Introdução
Carceri d'Invenzione…
Prisões de invenção, prisões inventadas, imaginadas…
Antes mesmo de iniciar uma pesquisa sobre a história pessoal, da
construção da obra ou até do contexto em que ocorreu a sua produ-ção,
recordo sobretudo o primeiro impacto, a primeira impressão
que me ficou marcada na memória.
Apesar de ser uma obra descoberta por sugestão directa da Profes-sora
Jacs Aorsa, contextualizada no briefing geral para este tra-balho
para a disciplina de História e Práticas do Desenho, o que
guardo como ânimo e mote para esta reflexão é esta impressão sen-tida,
investida da curiosidade dos primeiros encontros.
O que me fica sobre este conjunto extraordinário de 30 placas de
gravura, que me deixou uma forte sensação de presença no Imagi-nário
de Piranesi, e que são justamente intituladas “Carceri
d'Invenzione”, é a impressão de estar a entrar num espaço de inti-midade.
Esse espaço rico e único a qual raramente se tem acesso, tornou-se
no móbil para todo o processo criativo, técnico e tecnológico e a se-guir,
e em função do briefing dado, estruturei.
Já em pesquisa descobri que efectivamente, este trabalho é contex-tualizado
numa “magnífica junção da fantasia veneziana com a
monumentalidade romana ” muito dentro da tradição e maneira
de Tiépolo, nomeadamente na luz e nos volumes.
Pus-me a somar:
Invenção…
Imaginação…
História pessoal/construção da identidade…
Espaço de intimidade…
Fantasias…
Monumentalidade vs. volume…
Juntamente com um projecto pessoal relacionado com a banda de-senhada
e a ilustração, onde ando à procura de um estilo, de uma
maior classicidade e profundidade na construção simbólica e esté-tica
das personagens.
Foi assim que me surgiu a ideia original para esta ilustração que
servirá um episódio que descreve um sonho de Nia, personagem
central da história “O Mundo de Shido”, junto de uma narrativa
visual que decorre num cenário onde faço uma colagem de três gra-vuras
diferentes (Fig. 02, 03 e 04) da série “Carceri
d´Invenzione”.
Por achar pertinente fiz ainda uma homenagem à “Batalha de
Anghiari” de Leonardo da Vinci, numa luta encenada, com enfo-que
na descrição de emoções, através do desenho e com uma refe-rência
velada aos exemplos de deformação caricatural no traba-lho
de Leonardo, mas também de Hogarth, Goya ou Daumier.
Por outro lado, como matriz global de planeamento de todo o dese-nho
optei por fazer um investimento de tempo na construção de
uma composição definida essencialmente por uma divisão do pla-no
em dois sub-planos verticais, utilizando um pilar mestre e orga-nizando
os elementos da parte inferior do enquadramento global
na circunscrição de um triângulo e pelo alinhamento dos outros
elementos segundo linhas diagonais para dar enfâse à ilusão da ac-ção
e do movimento.
O trabalho que aqui descrevo, e que é o “lugar” em que procuro a
consolidação da obra final, divide-se em cinco sinopses:
b1 – Piranesi e os “Carceri d´invenzione;
b2 – A Batalha de Anghiari e a homenagem à obra de Leonardo;
b3 – Estudo do enquadramento e composição; técnica de etching e
da trama (cross etching).
b4 – Conclusão
b) Desenvolvimento
1. Piranesi e os «Carceri d’Invenzione»
Esta obra é inquestionavelmente uma das obras mais amplamente
difundidas e abordadas de Piranesi e talvez uma das mais «sui ge-neris
» na evocação à tradição literária da sua época, ao hermetis-mo,
às fontes e à estética do Sublime.
Foram publicadas pela primeira vez em 1745, com o título « Inven-zione
Capric di Carceri), impressas por Giovanni Bouchard e ree-ditadas
em 1760 como «Carceri d’Invenzione, sofrendo ligeiras al-terações
e acrescidas de mais duas gravuras.
Entre a primeira e a segunda tiragem, podem constatar-se algu-mas
das alterações de estilo que espelham o desenvolvimento da
obra de Piranesi.
Aqui, podemos identificar a influência da tradição veneziana
(das «Caprici» e da fantasia) e romana dos autores da época, so-bretudo
na «maniera» de Tiepolo (como por exemplo, no trata-mento
das luzes e da volumetria) que na sua obra atinge o seu auge
a partir de 1755 (como nota de contexto: ano do Grande Terramoto
que devastou Lisboa).
Com um trabalho mais complexo , rico e intrincado, nesta fase é
possível perceber o horror ao vazio que faz perder a clareza das
obras, dentro de uma composição balizada e ordenada pela utili-zação
recursiva da «scena per angolo», frequente nas tipologias
cenográficas, teatrais, utilizadas por Bibiena, Valeriani, Marco
Ricci ou Juvarra.
Destas influências, distingue-se a de Juvarra na referência Neo
Quinhentista, Utópica e Anti Clássica.
Na sua obra são ainda distintivos aspectos como a censura à «Ci-dade
Barroca», mas em simultâneo à tradicional antinomia da Ro-ma
antiga e também ao organicismo, distorção da perspectiva (co-mum
na Cenografia Tardo Barroca), composição assente em pla-nimetrias,
interligações de supra estruturas, libertação da forma,
perda de valor do centro compositivo, a metamorfose das formas
(que muito explorei nesta minha interpretação pessoal), desarti-culação,
distorção e o espaço representado segundo o ideal Huma-nista.
10
CARCERI
13. Todo este processo formal conduz o espectador a uma percepção
psicológica e estética que muito me interessou e que autores como
Edmund Burke, entre outros, categorizam como «Sublime». Um
Sublime que pretere a perfeição e a clareza da estética pelo valor
dos conteúdos emotivos, colocando o recurso da imaginação tam-bém
nas mãos do espectador que é obrigado a desconstruir e a vol-tar
a construir a imagem nas suas múltiplas dimensões.
Indo beber a toda esta percepção e abordagem na «maniera» pró-pria
de Piranesi, intitulei a obra como «Sonho de Nia». Ou seja, so-nhar
na perspectiva e ideia comum na época do «Homem como ac-tor
impotente, num teatro que já não é o seu» combinado com o fas-cínio
pelos cárceres com o seu significado simbólico de prisões da
mente (como em Coleridge ou Thomas De Quincer) acessíveis so-bretudo
através do onírico.
2. A Batalha de Anghiari e a homenagem à obra de Leonardo
A escolha pela opção de dulpa homenagem neste exercício, surgiu-me
na sequência de toda a leitura por uma óptica emotiva, das
«Carceri d’Invenzione» de Piranesi.
Uma das muitas reflexões que esta série de gravura me convocou
foi a abordagem, por assim dizer, sublime das 5 Emoções hoje des-critas,
para além dos múltiplos Sentimentos, como Emoções Bási-cas:
o Medo, a Raiva, a Tristeza, a Alegria e o Amor.
O paralelismo, apesar de numa abordagem bastante diferente,
com o trabalho sobre expressões e emoções na obra de Leonardo pa-receu-
me possível e pertinente e como na minha liberdade inter-pretativa
já tinha introduzido na minha composição inicial al-guns
elementos figurativos, escolhi então dar ênfase a esta leitura
com um tributo à « Batalha de Anghiari» e à sua dinâmica compo-sitiva
e expressiva.
«A Batalha de Anghiari» não é mais do que um grupo monumental
de soldados a cavalo numa imagem condensada e intemporal do fu-ror
bélico que achei que poderia ser um excelente contraponto, ir-reverente
e antagónico, à ideia de impotência gerada pelo ambi-ente
global das «Carceri»- Prisões.
Um novo conjunto figurativo e evocativo de uma luta interior, no
contexto de uma «Carceri» de onde não há salvação, senão na for-ça
e liberdade da «vontade da alma humana».
Para melhor contextualizar « A Batalha de Anghiari», este estudo
inicial em cartão e fresco inacabado, surge na obra de Leonardo
por solicitação da cidade de Florença, com a finalidade de deco-rar,
na técnica do «fresco» a Sala de Conselho do Palazzo Vecchio.
O seu tema central é a vitória florentina sobre o exército milanês.
A pintura nunca foi finalizada, tendo ficado como espólio produ-zido
apenas um cartão em tamanho natural (à escala) que sobrevi-veu
mais de um século após a sua produção, período em que gozou
de uma enorme fama.
Hoje, apenas o conhecemos através de cópias de Artistas posterio-res
a Leonardo, em particular na cópia realizada segundo o origi-nal,
realizada por Peter Paul Rubens em 1605 e actualmente pa-tente
no Museu do Louvre, em Paris.
4. Estudo do enquadramento e composição; técnica de etching e da
trama (cross etching)
A primeira abordagem que fiz a este exercício foi efectivamente, e
numa tradição talvez mais pictórica, a abordagem segundo uma
colagem idealizada num enquadramento que julguei coerente com
o conjunto global das gravuras de Piranesi, sobre o qual construi
uma composição (e repito) «definida essencialmente por uma di-visão
do plano em dois sub-planos verticais, utilizando um pilar
mestre e organizando os elementos da parte inferior do enquadra-mento
global na circunscrição de um triângulo e pelo alinhamento
11
14. 12
Só então comecei a fazer um trabalho de trama e trama cruzada,
enquanto fazia uma leitura prática e simulada da técnica desig-nada
por «Etching» em Gravura e que passo a descrever:
Origem | contexto históricos e descrição:
A técnica química de gravura foi desenvolvida na idade média
por artesãos, fabricantes de armaduras, árabes como uma forma
de aplicação na decoração para armas. Floresceu no século XV, no
sul da Alemanha, onde as primeiras impressões gravadas em pa-pel
foram impressas no final do século.
Durante as primeiras décadas do século XVII, artistas holandeses
como Van de Velde, Jan van de Velde II e Willem Buytewech expe-rimentaram
esta técnica. Eles estavam à procura de criar um efei-to
atmosférico na suas paisagens impressas, e na tentativa conse-guiram
desenvolver um método que rompia com as linhas de con-torno
longas transformando-as em curtos traços e pontos.
Hercules Segers por sua vez, experimentou esta transformação e
adaptação por um motivo diferente: a necessidade de criar um efe-ito
pictórico na impressão em papel colorido ou tela, trabalhando-as
posteriormente com um pincel de cor, tornando assim cada im-pressão
numa peça única.
Rembrandt levou a técnica ao extremo, superando todos os seus an-tecessores.
Nas suas mãos, a gravura tornou-se um meio pleno e
maduro de que se ocupou em períodos longos para o resto da sua vi-da.
A técnica que utilizei neste desenho referente a Piranesi filia-se
muito no exemplo de Rembrandt que, por conhecer melhor, reco-nheço
ter tido grande influência na abordagem pessoal e estilísti-ca
que escolhi.
As Gravuras são impressões, normalmente em papel, de desenhos
ou modelos construídos pelos artistas, em suportes diversos, com
recurso às técnicas do desenho, pintura ou corte. Estes suportes po-dem
se um bloco de madeira, uma placa de metal ou uma tela de se-da.
Em Piranesi (assim como em Rembrandt) o suporte é uma chapa
fina de cobre. Esta é então coberta com uma mistura resistente aos
ácidos conhecida como base de gravura, composta de betume juda-ico,
resina e cera.
Nesse revestimento fino é então produzido o desenho directamen-te
com uma agulha de gravura, que penetra esta fina película dei-xando
exposta, nestas ranhuras, a placa de cobre.
A placa é colocada, em seguida, num banho de ácido diluído. As
partes expostas, que deixaram de estar protegidas contra o ácido
pela base de gravura, ficam gravadas, em sulcos criados na super-fície
do metal.
Quanto mais tempo a placa é deixada no banho, mais profundos es-ses
sulcos se tornam.
Posteriormente esta base de gravura é removida e a placa limpa e
finalizada com uma almofada de tinta ou com um rolo.
Ela é então limpa manualmente para que a placa fique inteira-mente
despojada de tinta, à excepção dos sulcos.
O passo seguinte é a fixação de uma folha de papel húmida na cha-pa
seguindo-se a compressão de ambos através de rolos de impren-sa.
O papel absorve assim a tinta dos sulcos, produzindo-se uma
impressão invertida do design realizado na chapa.
O desenho que aqui realizei com esta abordagem técnica e tecnoló-gica
sempre em perspectiva, manteve a fidelidade ao princípio de
execução que norteia esta modalidade de criação artística e dei-xou-
me efectivamente curioso e interessado na prossecução de
uma experiência em placa que penso que me poderia esclarecer al-guns
outros efeitos que pude observar nas reproduções mas que de
alguma forma não soube reproduzir através do uso da trama
5. Conclusão
«Cerca Trova»
Detalhe no topo do fresco da «Batalha de Marciano» de Giorgio Va-sari,
1563 (pintado sobre o fresco original de Leonardo, «a Bata-lha
de Anghiari)
«Só quem procura, encontrará», Evangelho
Depois de algumas semanas de trabalho, pesquisa e justificação,
sem me alargar noutras conclusões senão a mais humilde e verda-deira
a que consegui chegar:
« Só quem procura, poderá encontrar»
A asserção é, de longe, pouco pacífica. Pablo Picasso afirmava por
exemplo «Eu não procuro, encontro» e quantos não são os que em
todas as áreas do Saber se encontraram fortuitamente, por obra da
sorte ou destino, com as soluções que nem sabiam procurar.
Contudo, e seguindo o raciocínio de Vasari, «Cerca Trova», no de-senho
efectivamente as coisas funcionam assim.
O Desenho é uma das grandes formas e instrumentos do pensar.É
um pensar com o corpo, com a mão, com o olhar.
Nesta obra que decidi intitular como «o Sonho de Nia» confesso
que pela primeira vez, circunstancialmente, procurei conhecer Gi-ovanni
Batista Piranesi. Não sei se o encontrei completamente,
mas confesso que senti como nunca a inquietação que as raras pre-ciosidades
despertam... um não conseguir ou saber ficar indife-rente
ao apelo daquele mundo vagamente mimético.
... Mas em simultâneo hermético, magnético, misterioso e ao mes-mo
tempo, familiar... Humano...
Cerca Trova!
Nuno Quaresma
Janeiro de 2012
BIBLIOGRAFIA
Marani, Pietro C. (1996), Leonardo, Sociedade Editorial Electa
Espana S.A., Madrid.
Janson, H. W. (1998), História da Arte, Fundação Calouste Gul-benkian,
Lisboa.
Galeria de Pintura do Rei D. Luís – Instituto Português do Patri-mónio
Arquitectónico e Arqueológico, (1993), Giovani Battista Pi-ranesi
– Invenções, Caprichos, Arquitecturas 1720/1778, Secreta-ria
de Estado da Cultura, Lisboa.
Pereirinha, T. (2011), A vida misteriosa de da Vinci, in Revista Sá-bado,
n.º 392 (p. 44-54), Grupo Cofina Media SGPS, S.A., Lisboa.
Nuno Quaresma (1975, Lisboa)
Artista Plástico, Ilustrador, Designer (Fundação Salesianos), Edu-cador
pela Arte (Fundação afid Diferença entre 1998 e 2010, Ofi-cinas
de S. José entre 2010 e 2012 e POP- Projeto Oficina de Pintu-ra
ainda em funcionamento) com Projeto de Empreendedorismo
Social e Artístico filiado no grupo de Autores “AKA Arte” e no Cole-tivo
de Artesãos intitulado “Tailored”.
Vogal Suplente para o Conselho Fiscal da ANACED - Associação
Nacional de Arte e Criatividade de e para Pessoas com Deficiên-cia
com uma participação voluntária e não remunerada na cons-trução
de um Projeto Social e Cultural que há mais de 20 anos que
cuida, respeita e defende Autores com Necessidades Especiais e a
sua Obra no contexto da Cultura e auto representação cívica e so-cial.
- Menção Honrosa em Pintura, “Prémio Professor Reynaldo dos
Santos - Arte Jovem – 1997”
- Menção Honrosa em Pintura, “Prémio de Pintura e Escultura -
D. Fernando II – 6ª edição - 2002”
- Menção Honrosa em Pintura, “Prémio de Pintura e Escultura –
Artur Bual, 3ª edição – 2007”
Web:
www.behance.net/NunoQuaresma
pt.linkedin.com/in/nunoquaresma
15. 13
Um comboio chamado desejo ou o Amor também se encontra
a 120km por hora é diferente da versão que provavelmente co-nheces
– “ Um elétrico chamado Desejo” - A Streetcar Na-med
Desire, de Elia Kazan com Marlon Brando e Vivien Le-igh,
de 1951.
Nesta minha, improvisada entre as escalas dos autocarros
frente aos Prazeres (onde curiosamente passam muitos elé-tricos
:), oscila entre a profundidade e a superficialidade, en-tre
o Amor, o verdadeiro, e a lascívia… entre o importante e o
relativizável.
Não tenciono extrair daqui generalizações ou fórmulas. Falo
disto porque é a verdade. Já me aconteceu; encontrar o amor
a 120km hora.
A esta velocidade, se espirras, andas aproximadamente 30
metros com os olhos fechados, entregue ao destino, sem cons-ciência
ou controle sobre o que se passa em frente dos teus
olhos.
São 30 metros às escuras.
Procurar amar a 120 Km hora é como dar um salto de fé nu-ma
furna escura de onde o mar se percebe apenas a sua voz e
cheiro. E de repente, bater na água com força, tocar com os
pés na areia e abrir os olhos para uma superfície em eferves-cência.
Encontrar o amor assim deixa marca, entre a dor e o prazer,
e pouco tempo ou espaço para escolhas.
Num amor encontrado assim, há um misto de religiosidade e
trauma.
UM COMBOIO
CHAMADO
DESEJO
16. 14
É um acontecimento à escala planetária, como uma colisão,
na força da trajetória, entre Vénus e Marte.
Contudo, se aprecias as viagens de comboio, sabes que esta
velocidade desenfreada é sentida num estado de relativa
imobilidade. Vive-se, aliás, viaja-se no maior dos confortos e
tranquilidade mas, infelizmente, tristemente… sós.
Quando damos conta, neste comboio chamado desejo, quan-do
acordas da torpeza desse sono de viajante, estás apenas
só.
Olha! Parece que estou a chegar à estação!
Espreito pela janela e vejo as paredes azuis de uma luz mes-clada
que só conheço de Lisboa.
Mais um bocadinho e estou à tua porta!
Por essa estrada, nessa rua, à tua porta…
Viajo num comboio chamado Desejo mas tu és a minha
Casa…
17. Desenhar como quem respira, naturalmente ou compulsiva-mente,
é para muitos uma função orgânica.
A própria fisionomia e fisiologia concorrem para esta ativi-dade
regular do Corpo, da Mão, da Mente, na sua relação
com o Mundo e com o Próximo.
Eu pessoalmente sou um apologista do respeito pela Diferen-ça,
num mundo de Iguais.
Acolho a normalização apenas na medida da sua pertinên-cia
e utilidade no serviço à Justiça, Liberdades e Igualdade.
Nas coisas grandes entendo realmente o valor da norma. Um
farol para quem navega à vista.
Tudo o resto aprecio fora dos intevalos estritos das normas,
cânones, regras... Fascina-me o que é feito à medida de cada
um, com os cuidados e mimos que cada Corpo e Mente preci-sam.
Encanta-me a simpatia de quem consegue realmente olhar
para dentro da pessoa que está à sua frente...
Comove-me quem o faz com o respeito e reverência de quem
contempla o sagrado, e a coragem da empatia de se colocar
no seu lugar.
Encantam-me as Costureiras e Alfaiates :)
Os "Tailored" são feitos para Mulheres e Homens assim.
Os blocos de desenhos são extensões do seu corpo; há que
construir sketchbooks que se ajustem personalizadamente,
como luvas, jeans, sapatos, jaquetas ou outros acessórios as-sim.
O Tailored é feito à mão, todo cosidinho, só para ti!
É diferente nas medidas, técnicas, por vezes no construtor.
A norma é a predileção pela reciclagem, a qualidade e resis-tência
do papel, capa e costuras e a garantia de que terás um
caderno para a vida.
"Lifetime Sketchbooks"!
Para Artistas a Sério ;)
15
Tailored for… Feito à medida de…
Olha para trás…
Olha lá!
Quando era gaiato, distraído, a nave-gar
na gôndola dos meus sonhos, go-tas,
sementes, ensaiava o ofício de ho-je
sem me lembrar sequer de olhar pa-ra
o lado.
Era ali e naquele momento, como é ho-je,
aqui e agora: o poder da Criativi-dade!
Não olho muito para trás; as vezes ne-cessárias.
Olho para a frente, para o horizonte,
para os pés, para ver a medida a que
estou do chão, e penso no quê, como
nunca, com uma hora de atraso… e à
minha volta, quando regresso, não se
vê já ninguém na rua.
Tailored é fazer à hora certa, na medi-da
certa, a contemplar tudo o que está
à volta.
Tailored é cozer os retalhos soltos, os
desejos que ficaram por cumprir…
Tailored é trabalho individual, traba-lho
coletivo, é uma construção feita de
solidariedade, colegialidade, amiza-de!...
até conjugabilidade :)
Tailored é Crença no Mundo e nos Ou-tros!
Produzimos cadernos tipo “sketchbo-ok”,
cozidos à mão, personalizados, fe-itos
à medida e para durar.
Mas todas as outras modalidades de
criação artística e cultural são bom
mote para a transgressão, transcen-dência,
irreverência.
O nosso negócio é a construção de ca-dernos
de excelência, mas não hesites
em contatar-nos para ilustração, de-sign,
micro &social branding e orga-nização
de eventos e mostras em Artes
Plásticas.
Fazê-mo-lo com gosto!... “tailored for
you!”
18. O que pode um homem simples dizer
ou fazer no Mundo agora?
Não sou, à semelhança da maioria dos
homens e mulheres dos nossos tempos,
especialista em economia ou finan-ças,
mas como comum entre comuns
sinto hoje mais desconfiança e receio
em relação ao futuro.
Pelo menos em relação a este futuro, a
dois tempos, em que alguns enrique-cem
e muitos empobrecem.
Não penso assim por despotismo.
Passo a vida a desejar o melhor para
quem o procura, para quem luta por
mais e melhor.
Alegra-me a visão da abundância no
regaço de quem for.
Celebro a fertilidade por si só e regalo
os olhos quando vejo a Terra cheia de
tudo e do bom.
Por isso não consigo deixar de inda-gar
porque é que neste Mundo onde há
excesso e abundância de tudo, vemos
fome, desemprego, doença, desprote-ç
ã o n a s a ú d e e n a v e l h i c e ?
Porque que pagam os homens e as mu-lheres
do nosso tempo os caprichos da
doutrina do Capitalismo desenfrea-do?
Porque malha o peso da quimera do lu-cro
pelo lucro sobre a única procura
que deveria nortear o Homem: a cons-trução
do Humano?
Porque permitimos nós, comunidades
de Gente, que outros mais cegos ou fe-bris
pela abundância, nos enterrem e
esmaguem pela sua ganância, obses-são
e controlo?
E quem regula este capital que nos re-gula?
A quem pertence a responsabilidade
de lutar, nas formas pacíficas que a
responsabilidade também obriga, con-tra
esta falta de empatia, piedade, ra-cionalidade?
Quem tapa a boca a esta criatura vo-raz?
Hoje pinto para lhe tapar a boca.
Amanhã, quando tiver um negócio, se-rei
íntegro, justo e regulado para lhe
tapar a boca.
Amanhã, talvez lhe dê com um pau,
bem me apetecia… só para que a sua
goela míngue e o seu apetite se miti-gue…
sem que lhe não falte pão para a
boca.
N.Q.
MAIS
NÃO
16
20. Serve para quê?
“Se, por um lado, os poderes do homem, o animal sábio, nos
enchem de admiração, por outro lado, não podemos deixar
de nos espantar com a lentidão da sua aprendizagem. E o ma-ior
de todos os obstáculos a essa aprendizagem é a quantida-de
de aprendizagem acumulada que com as suas ilusões de
conhecimento ele foi juntado”
In “os Pensadores” – capítulo 21 – “Francis Bacon e a visão
dos velhos ídolos e dos novos domínios”, de Daniel J. Boors-tin.
Sinto-me assim, num novo renascimento da consciência de
que o que “sei” atrapalha mais o que” desejo saber”, e que
não posso escapar dessa condição animal, orgânica, que me
liga ao Real e às Coisas.
Sou um homem e sinto, comovo-me, amo, odeio, alegro-me,
zango-me, sinto prazer, dor, desconforto, comichão, cócegas.
Não sou apenas este corpo, em transformação, em constante
recursão, reconstrução autopoiética, mas dele dependo para
a perceção e interação com o que me rodeia.
Pois o que me acontece é que após 39 anos de acumulação de
informação, no meio de tanta sensação, intuição e emoção,
já é com dificuldade que me consigo posicionar para ver com
clarividência o Universo à minha volta.
Quem sou, de onde venho, para onde vou?
Aliás, já me custa até pensar nestas questões do de onde vi-mos,
para onde vamos, quem somos.
Em verdade, as questões já nem me aparecem como “por-quês”
mas antes como um simples “para que serve?”
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciên-cia?
Hoje, no meio de uma tarde prazenteira, ensolarada, brinco
no jardim com os meus Filhos e só amiúde me distraio, das su-as
gargalhadas e tropelias, pela brisa temperada que me pas-sa
pelos cabelos.
É um estado de graça que agradeço a Deus, aos Deuses, ao
Cosmos.
Por cima de mim navegam nuvens enormes, voluptuosas,
num lento vórtice que me dá a sensação que é antes a Terra
que se move.
E o azul enche-me. E a sua luz enche os meus Filhos de Sol, e
nos seus sorrisos sinto saúde, vejo o Amor e as promessas do
futuro.
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciên-cia?
O meu Pai tem andado doente, o pecúnio que recebo pela mi-nha
prestação no trabalho não me chega para pagar as con-tas
e o desemprego ameaça ou afeta metade dos meus Ami-gos.
O tempo míngua de tal forma que já quase não consigo pin-tar.
E o Mundo ainda está cheio de fome, doença, injustiça e
guerra.
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciên-cia?
Paro.
Paro por um bocado.
Olho para todo este fluxo imparável, incomensurável de in-formação
que se me atravessa pela frente e procuro desper-tar.
Acordo e paro e fico só atento, a olhar, a ouvir, a sentir, a chei-rar…
Paro e despojo-me das vestes, andrajos, com que me tenho en-feitado…
Servem a minha liberdade, serve a liberdade dos meus Meni-nos.
Servem o meu desejo de viver.
Servem a minha felicidade.
Servem a minha ligação ao Real, ao Mundo e ao Outro, sem
subversões ou subjugação.
Servem-me de coragem para esvaziar o copo quando é preci-so,
para abrir as janelas da mente, para que a alma se me não
cristalize ou coagule, não pare nem no tempo nem no espaço.
Ao mesmo tempo, não servem para nada… por isso as procu-ro,
as escolho.
NQ, Abril 2014
18
21. 15 Cêntimos
Três moedas pretas e finas dentro da minha carteira furada;
será a sua côr um eufemismo para o seu valor, ou tento igno-rar
que não terei hipótese neste mundo tão irreal quanto desi-gual?
Votado ao insucesso, não apanharei boleia de avião algum;
não verei terras distantes, não comprarei um gelado, nem
oferecerei rosas.
Sou moldado pelo silêncio numa caminhada sem destino; um
movimento de sobrevivência apenas aparentemente articu-lado.
A vida colorida e criativa escorre-me pelos poros, mas o Mun-do
só quer ver suor e sangue.
Pegarei então nas minhas lágrimas e com elas encherei um
oceano; arrancarei as minhas veias e com elas farei fortes
cordas; a minha pele servirá de graciosas velas e com os me-us
ossos construirei um robusto navio.
Poderei ser destino e justificação, capitão sem tripulação,
mas nunca serei rapaz sem coração.
Zarparei em direcção ao Sol, esse que a todos ilumina por
igual, sem distinção de côr, forma, destino.
Aqui, não encontro nada para mim, a não ser um mundo de
trocas, de interacções desequilibradas. Por lhe sermos per-tença,
nada podemos dar ao nosso criador; esse não deverá
contudo ser motivo de impedimento para questionar, imagi-nar,
criar.
Entretenham-se nas vossas danças desenfreadas, nestes cor-pos
que nos escapam a todos, enquanto embarcarei na pe-numbra
da noite;
escrevo o meu nome na campa da minha finitude com a mi-nha
vivência.
Hugo Alexandre, Setembro de 2014
Distribuíram-se os sonhos em classes: afinal, haveria a ne-cessidade
de haver uns mais iguais que outros. Assim, uns
construiriam castelos, carregando as pedras uma a uma; ou-tros
esperariam na janela por notícias, envoltos em delica-das
sedas.
Para desastre dos homens de paixões, as mulheres mais boni-tas
nem sempre se encontrariam nas torres; objectos brilhan-tes
toldariam a sua razão, a geografia à sua nascença desti-naria
as suas probabilidades e estariam amaldiçoados a
acreditar que o seu Deus deveria ser o único a tudo explicar,
logo a existir.
A propriedade raras vezes estaria associada à sensatez; ter é
querer manter e expandir. Sabendo que o tempo é um bem
não recuperável só uma estirpe gastará tempo em tal campa-nha:
chamar-lhe-à investimento e nomear-se-à “líder”.
O poder disfarça-se então de autoridade que tudo tenta con-trolar
mas que nada se esforça por intimamente compreen-der.
Vidas ao serviço da moeda e da coroa: oportunidades des-perdiçadas,
estilhaços de sensatez; os tolos batem palmas en-quanto
aguardam por migalhas.
As fronteiras já não requerem espadas, agora usam-se cane-tas.
As igualdades ilusórias amenizam as lutas internas; a
posse paradoxalmente serena as externas.
Quem revolucionará o mundo, confortável em sofás de ce-tim?
Hugo Alexandre, Setembro de 2014
MOVE
19
PARA
ONDE
22. 20 Psicoterapeuta, Formadora, Organiza-ção,
Moderação e Concretização do 1º
Congresso Internacional de Anorexia e
Bulimia, em Portugal :
http://ciab.institutotaniaestrada.pt
http://www.institutotaniaestrada.pt
Especialidade de Anorexia e Bulimia.
Estudos de investigação do metabolismo
da Seratonina nos casos de Anorexia e
Bulimia. Estudos de desenvolvimento
do Teste de Rorschach no Síndrome de
Branca de Neve. Coordenação Pedagó-gica.
O Instituto Tania Estrada, tem dinami-zado
várias especialidades na área da
Saúde Pública e Privada, promovendo o
conceito "Ser Técnico da Saúde" e "Ser
Pessoa". É uma forma de marcar a dife-rença
encontrando um brilho pessoal,
com resultados positivos na proximida-de
com Utentes e Clientes. Construir a
auto-estima na Investigação da Saúde
Mental dos casos de Anorexia, Bulimia
e outras doenças do Comportamento ali-mentar
e assim expandir a noção das su-as
próprias possibilidades.
Prêmio de Estudo Científico Dr.ª San-dra
Torres, Prêmio Jornalistico - Tere-sa
Botelheiro - Reencontro no Espelho.
Capacitación y Desarrollo Profesio-nal,
Educación por el arte, Capacita-ción
y Desarrollo Profesional, Pedago-ga,
Formadora de Gestão de Recursos
Humanos, Consultora Independente,
Gestão de Talentos e Recursos, Gestão
de Carreiras, Professora de Investiga-ção
de temas como Anorexia e Bulimia
(Universidade Lusófona), Recursos
Humanos em diversas organizações
nacionais e internacionais.