1) O documento descreve o processo criativo por trás de uma ilustração inspirada nas gravuras "Carceri d'Invenzione" de Giovanni Battista Piranesi e na "Batalha de Anghiari" de Leonardo da Vinci.
2) O autor fez uma análise das obras de Piranesi e da influência do contexto histórico e artístico na criação delas. Ele também estudou a "Batalha de Anghiari" de Leonardo para homenageá-la em sua ilustração.
3) O autor detalha
3. vastou Lisboa).
Com um trabalho mais complexo , rico e intrincado, nes- A escolha pela opção de dulpa homenagem neste exer-
ta fase é possível perceber o horror ao vazio que faz per- cício, surgiu-me na sequência de toda a leitura por uma
der a clareza das obras, dentro de uma composição bali- óptica emotiva, das «Carceri d’Invenzione» de Piranesi.
zada e ordenada pela utilização recursiva da «scena per Uma das muitas reflexões que esta série de gravura me
angolo», frequente nas tipologias cenográficas, teatrais, convocou foi a abordagem, por assim dizer, sublime das
utilizadas por Bibiena, Valeriani, Marco Ricci ou Juvarra. 5 Emoções hoje descritas, para além dos múltiplos Sen-
timentos, como Emoções Básicas: o Medo, a Raiva, a
Destas influências, distingue-se a de Juvarra na referên- Tristeza, a Alegria e o Amor.
cia Neo Quinhentista, Utópica, Anti Clássica. O paralelismo, apesar de numa abordagem bastante di-
Na sua obra são ainda distintivos aspectos como a cen- ferente, com o trabalho sobre expressões e emoções na
sura à «Cidade Barroca», mas em simultâneo à tradicio- obra de Leonardo pareceu-me possível e pertinente e co-
nal antinomia da Roma antiga e também ao organicis- mo na minha liberdade interpretativa já tinha introduzido
mo, distorção da perspectiva (comum na Cenografia Tar- na minha composição inicial alguns elementos figurati-
do Barroca), composição assente em planimetrias, inter- vos, escolhi então dar ênfase a esta leitura com um tribu-
ligações de supra estruturas, libertação da forma, perda to à « Batalha de Anghiari» e à sua dinâmica compositiva
de valor do centro compositivo, a metamorfose das for- e expressiva.
mas (que muito explorei nesta minha interpretação pes-
soal), desarticulação. distorção e o espaço representa- «A Batalha de Anghiari» não é mais do que um grupo mo-
do segundo o ideal Humanista. numental de soldados a cavalo numa imagem conden-
sada e intemporal do furor bélico que achei que poderia
Todo este processo formal conduz o espectador a uma ser um excelente contraponto, irreverente e antagónico,
percepção psicológica e estética que muito me interes- à ideia de impotência gerada pelo ambiente global das
sou e que autores como Edmund Burke, entre outros, ca- «Carceri»- Prisões.
tegorizam como «Sublime». Um Sublime que pretere a Um novo conjunto figurativo e evocativo de uma luta inte-
perfeição e a clareza da estética pelo valor dos conteú- rior, no contexto de uma «Carceri» de onde não há salva-
dos emotivos, colocando o recurso da imaginação tam- ção, senão na força e liberdade da «vontade da alma hu-
bém nas mãos do espectador que é obrigado a descons- mana».
truir e a voltar a construir a imagem nas suas múltiplas di-
mensões. Para melhor contextualizar « A Batalha de Anghiari», es-
te estudo inicial em cartão e fresco inacabado surge na
Indo beber a toda esta percepção e abordagem na «ma- obra de Leonardo por solicitação da cidade de Florença,
niera» própria de Piranesi, intitulei a obra como «Sonho com a finalidade de decorar, na técnica do «fresco» a Sa-
de Nia». Ou seja, sonhar na perspectiva e ideia comum la de Conselho do Palazzo Vecchio. O seu tema central é
na época do «Homem como actor impotente, num teatro a vitória florentina sobre o exército milanês.
que já não é o seu» combinado com o fascínio pelos cár- A pintura nunca foi finalizada, tendo ficado como espólio
ceres com o seu significado simbólico de prisões da men- produzido apenas um cartão em tamanho natural (à es-
te (como em Coleridge ou Thomas De Quincer) acessí- cala) que sobreviveu mais de um século após a sua pro-
veis sobretudo através do onírico. dução, período em que gozou de uma enorme fama.
Hoje, apenas o conhecemos através de cópias de Artis-
tas posteriores a Leonardo, em particular na cópia reali-
zada segundo o original, realizada por Peter Paul Ru-
bens em 1605 e actualmente patente no Museu do Lou-
vre, em Paris.
4. Estudo do enquadramento e composição; técnica de
etching e da trama (cross etching)
A primeira abordagem que fiz a este exercício foi efecti-
vamente, e numa tradição talvez mais pictórica, a abor-
dagem segundo uma colagem idealizada num enqua-
dramento que julguei coerente com o conjunto global
das gravuras de Piranesi, sobre o qual construi uma
composição (e repito) «definida essencialmente por
uma divisão do plano em dois sub-planos verticais, utili-
Fig.05
zando um pilar mestre e organizando os elementos da
parte inferior do enquadramento global na circunscrição
de um triângulo e pelo alinhamento dos outros elemen-
2. A Batalha de Anghiari e a homenagem à obra de Leo- tos segundo linhas diagonais para dar enfâse à ilusão da
nardo acção e do movimento».
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4. Fig.06
Só então comecei a fazer um trabalho de trama e trama nou-se um meio pleno e maduro de que se ocupou em
cruzada enquanto fazia uma leitura prática e simulada períodos longos para o resto da sua vida.
da técnica designada por «Etching» em Gravura e que A técnica que utilizei neste desenho referente a Piranesi
passo a descrever: filia-se muito no exemplo de Rembrandt que, por conhe-
5
cer melhor, reconheço ter tido grande influência na abor-
Origem | contexto históricos e descrição: dagem pessoal e estilística que escolhi.
As Gravuras são impressões, normalmente em papel,
A técnica química de gravura foi desenvolvida na idade de desenhos ou modelos construídos pelos artistas, em
média por “armouries” árabes como uma forma de apli- suportes diversos, com recurso às técnicas do desenho,
cação na decoração para armas. Floresceu no século pintura ou corte. Estes suporters podem se um bloco de
XV, no sul da Alemanha, onde as primeiras impressões madeira, uma placa de metal ou uma tela de seda.
gravadas em papel foram impressas no final do século. Em Piranesi (assim como em Rembrandt) o suporte é
Durante as primeiras décadas do século XVII, artistas ho- uma chapa fina de cobre. Esta é então coberta com uma
landeses como Van de Velde, Jan van de Velde II e Wil- mistura resistente aos ácidos conhecida como terreno
lem Buytewech experimentaram esta técnica. Eles esta- de gravura, composta de betume judaico, resina e cera.
vam à procura de criar um efeito atmosférico na suas pai- Nesse revestimento fino é então produzido o desenho di-
sagens impressas, e na tentativa conseguiram desen- rectamente com uma agulha de gravura, que penetra es-
volver um método que rompia com as linhas de contorno ta fina película deixando exposta, nestas ranhuras, a pla-
longas transformando-as em curtos traços e pontos. ca de cobre.
Hercules Segers por sua vez, experimentou esta trans- A placa é colocada, em seguida, num banho de ácido di-
formação e adaptação por um motivo diferente: a ne- luído. As partes expostas, que deixaram de estar prote-
cessidade de criar um efeito pictórico na impressão em gidas contra o ácido pelo terreno de gravura, ficam gra-
papel colorido ou tela, trabalhando-as posteriormente vadas, em sulcos criados na superfície do metal.
com um pincel de cor, tornando assim cada impressão Quanto mais tempo a placa é deixada no banho, mais
numa peça única. profundos esses sulcos se tornam.
Rembrandt levou a técnica ao extremo, superando todos Posteriormente este terreno de gravura é removido e a
os seus antecessores. Nas suas mãos, a gravura tor- placa limpa e finalizada com uma almofada de tinta ou
5 - in www.rembrandtpainting.net, consultado a 14.01.2012
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5. com um rolo. BIBLIOGRAFIA
Ela é então limpa manualmente para que a placa fique in-
teiramente despojada de tinta, à excepção dos sulcos.
O passo seguinte é a fixação de uma folha de papel húmi- Marani, Pietro C. (1996), Leonardo, Sociedade Editorial
da na chapa seguindo-se a compressão de ambos atra- Electa Espana S.A., Madrid.
vés de rolos de imprensa. O papel absorve assim a tinta
dos sulcos, produzindo-se uma impressão invertida do Janson, H. W. (1998), História da Arte, Fundação Ca-
design realizado na chapa. louste Gulbenkian, Lisboa.
O desenho que aqui realizei com esta abordagem técni- Galeria de Pintura do Rei D. Luís – Instituto Português do
ca e tecnológica sempre em perspectiva, manteve a fide- Património Arquitectónico e Arqueológico, (1993), Gio-
lidade ao princípio de execução que norteia esta modali- vani Battista Piranesi – Invenções, Caprichos, Arquitec-
dade de criação artística e deixou-me efectivamente curi- turas 1720/1778, Secretaria de Estado da Cultura, Lis-
oso e interessado na prossecução de uma experiência boa.
em placa que penso que me poderia esclarecer alguns
outros efeitos que pude observar nas reproduções mas Pereirinha, T. (2011), A vida misteriosa de da Vinci, in Re-
que de alguma forma não soube reproduzir através do vista Sábado, n.º 392 (p. 44-54), Grupo Cofina Media
uso da trama SGPS, S.A., Lisboa.
5. Conclusão
«Cerca Trova»
Detalhe no topo do fresco da «Batalha de Marciano» de
Giorgio Vasari, 1563 (pintado sobre o fresco original de
Leonardo, «a Batalha de Anghiari)
«Só quem procura, encontrará», Evangelho
Depois de algumas semanas de trabalho, pesquisa e jus-
tificação, sem me alargar noutras conclusões senão a
mais humilde e verdadeira a que consegui chegar:
« Só quem procura, poderá encontrar»
A asserção é, de longe, pouco pacífica. Pablo Picasso
afirmava por exemplo «Eu não procuro, encontro» equn-
tos não são os que em todas as áreas do Saber se en-
contraram fortuitamente, por obra da sorte ou destino,
com as soluções que nem sabiam procurar.
Contudo, e seguindo o raciocínio de Vasari, «Cerca Tro-
va», no desenho efectivamente as coisas funcionam as-
sim.
O Desenho é uma das grandes formas e instrumentos
do pensar. ‘E um pensar com o corpo, com a mão, com o
olhar.
Nesta obra que decidi intitular como «o Sonho de Nia»
confesso que pela primeira vez, circunstancialmente,
procurei conhecer Giovanni Batista Piranesi. Não sei se
o encontrei completamente, mas confesso que senti co-
mo nunca a inquietação que as raras preciosidades des-
pertam... um não conseguir ou saber ficar indiferente ao
apelo daquele mundo vagamente mimético.
... Mas em simultâneo hermético, magnético, misterioso
e ao mesmo tempo, familiar... Humano...
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Nuno Quaresma
Janeiro de 2012
Mestrado em Design e Cultura Visual, 1ºA2
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