OM, Aum, o som do movimento do Universo, o eco do seu início distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de Higgs, do pleno, seguro e consolidado funcionamento do Acelerador de Partículas do CERN, já numa época pós Relatividade Geral de Einstein, nos tempos da elaboradíssima complexidade matemática da Teoria das Cordas.
No meu íntimo, no fundo da minha alma (será que esta existe?)procuro contudo e apenas ouvi-lo: este silêncio que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sinto-lhe, por momentos, essa nesgazinha de grandiosidade de que todos somos parte.
Já me explicaram que maís o conseguiria integrar se tivesse “o copo menos cheio”.
É mais fácil encher um copo vazio do que fazer entrar o que seja numa malga (amálgama!) a transbordar.
A dura tarefa que tenho hoje pela frente é esvaziar-me desse caudal.
É minha essa tarefa apenas porque a escolho.
Não sei se sou capaz, se estou à altura da complexa exigência do seu postulado.
Sigo com a simplicidade, humildade e receios de uma criança (talvez até com um pouco da sua indisciplina e irreverência).
Por isso começo por desenhar e pintar.
Não me levem a mal. Não sou capaz de o fazer de outra forma agora.
Vou pintar o que não compreendo, pintarei tudo o que me distraí o pensamento, para ver se a pintar desmistifico e desmistificando exorcizo essa força magnética que me agarra obsessivamente à forma das coisas.
Pensando menos sentirei talvez mais. Mais perto estarei talvez do essencial, do conteúdo. Mais perto da verdade, quem sabe, da consciência, do coração… de Ti!
Aka OM (Aum), a inaugurar a 4 de outubro deste ano no MUSA – Museu das Artes de Sintra, com o apoio Tailored, AKA Art Projects e da Câmara Municipal de Sintra.
Last Call for Arts
AKA Om (aum) é uma iniciativa que orbita em torno desta primeira exposição no MUSA já agendada com representação do trabalho de Jorge Moreira e Nuno Quaresma. O tema central é a Existência, a inteligibilidade do Mundo e, por oposição, os seus mistérios, os grandes e os pequenos. A abordagem é feita a partir das realidades mais simples, as do dia a dia, e o desafio é fazer uma caminhada estética e simbólica partindo das partes rumo à totalidade metafísica, de uma maneira que possa ser perceptível. Uma caminhada do seminal até ao todo criado. Uma viagem do “meu umbigo” até aos limites dos multiversos cósmicos e humanos. Uma caminhada do Eu, do Nós, passando pela Família, Amigos, Comunidade, País, Mundo, até aos confins do que a nossa consciência abarca. Embarcas comigo? Procuro Pintores, Escultores, Artistas Multimédia, Escritores, Poetas, Desenhadores, Realizadores, Empreendedores, Ativistas, Cientistas…
3. OM
AUM prefácio
OM, Aum, o som do movimento do Universo, o eco do seu iní-cio
distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de Higgs, do pleno, segu-ro
e consolidado funcionamento do Acelerador de Partículas
do CERN, já numa época pós Relatividade Geral de Einste-in,
nos tempos da elaboradíssima complexidade matemática
da Teoria das Cordas.
No meu íntimo, no fundo da minha alma (será que esta exis-te?)
procuro contudo e apenas ouvi-lo: este silêncio que é tam-bém
um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sinto-lhe, por momentos, es-sa
nesgazinha de grandiosidade de que todos somos parte.
Já me explicaram que maís o conseguiria integrar se tivesse
“o copo menos cheio”.
É mais fácil encher um copo vazio do que fazer entrar o que
seja numa malga (amálgama!) a transbordar.
A dura tarefa que tenho hoje pela frente é esvaziar-me desse
caudal.
É minha essa tarefa apenas porque a escolho.
Não sei se sou capaz, se estou à altura da complexa exigên-cia
do seu postulado.
Sigo com a simplicidade, humildade e receios de uma crian-ça
(talvez até com um pouco da sua indisciplina e irreverên-cia).
Por isso começo por desenhar e pintar.
Não me levem a mal. Não sou capaz de o fazer de outra forma
agora.
Vou pintar o que não compreendo, pintarei tudo o que me dis-traí
o pensamento, para ver se a pintar desmistifico e des-mistificando
exorcizo essa força magnética que me agarra
obsessivamente à forma das coisas.
Pensando menos sentirei talvez mais. Mais perto estarei tal-vez
do essencial, do conteúdo. Mais perto da verdade, quem
sabe, da consciência, do coração… de Ti!
Aka OM (Aum), já em outubro deste ano, com o apoio Tailo-red,
AKA Art Projects e da Câmara Municipal de Sintra.
01
4. Aum (or OM) is a mantra, or vibration, that is traditionally
chanted at the beginning and end of yoga sessions. It is made
up of three Sanskrit letters, aa, au and ma which, when
combined together, make the sound Aum or Om. It is believed
to be the basic sound of the world and to contain all other
sounds. It is said to be the sound of the universe. What does
that mean?
Somehow the ancient yogis knew what scientists today are
telling us–that the entire universe is moving. Nothing is ever
solid or still. Everything that exists pulsates, creating a
rhythmic vibration that the ancient yogis acknowledged with
the sound of Aum. We may not always be aware of this sound
in our daily lives, but we can hear it in the rustling of the
autumn leaves, the waves on the shore, the inside of a
seashell.
Chanting Aum allows us to recognize our experience as a
reflection of how the whole universe moves–the setting sun,
the rising moon, the ebb and flow of the tides, the beating of
our hearts. As we chant Aum, it takes us for a ride on this
universal movement, through our breath, our awareness,
and our physical energy, and we begin to sense a bigger
connection that is both uplifting and soothing.
02
5. Maria João
A respiração dilata-se no ar pesado do interior
cores esbatidas, vidraças molhadas, sonhos que pingam
beijos inaudíveis, olhar no vazio, coração menos pesado
hálito carnal, mãos que se tocam, corpos que se fundem
O silêncio é a linguagem dos amantes.
Não sabes o meu nome, não conheço a tua história, não interessa quem somos.
As fotos das crianças que fomos culminam neste momento presente; tudo é este segundo que vivemos
todas as gotas do oceano estão dentro destas paredes
as rugas que ambos escondemos brilham na sua solidão
nós somos tudo, por saber ser nada
acolhes-me nos teus braços como se fosse o teu único filho recém regressado
Abro-te os meus como se fosse um porto de abrigo para um navio que não navega.
Não me chegaste a dizer qual o preço
Também não te perguntei, será verdade
Abri-te a porta e limitaste-te a entrar
não te disse o destino, não saberíamos por onde querer ir
Encalhámos por breves momentos neste canto esquecido com vista para o nada
por segundos fugazes não existimos; desaparecemos no frio da noite
olhas-me antes de fechar a porta, não sorris, não falas
olhas-me simplesmente; sei que vais partir e nunca mais me ver;
Sinto-te a entrar nas minhas veias, a matar as minhas defesas
Pouco a pouco possuir-me às, átomo… a átomo
definharei este corpo efémero e vazio de significado
sucumbirei ao cheiro da doença
finalmente pertencerei ao teu abrigo
Por toda a eternidade que esta noite não pode dar.
Aum (or OM) is a mantra, or vibration, that is traditionally
chanted at the beginning and end of yoga sessions. It is made
up of three Sanskrit letters, aa, au and ma which, when
combined together, make the sound Aum or Om. It is believed
to be the basic sound of the world and to contain all other
sounds. It is said to be the sound of the universe. What does
that mean?
Somehow the ancient yogis knew what scientists today are
telling us–that the entire universe is moving. Nothing is ever
solid or still. Everything that exists pulsates, creating a
rhythmic vibration that the ancient yogis acknowledged with
the sound of Aum. We may not always be aware of this sound
03
7. Já há 15 anos que não desenhava com modelo vivo e este
olhar que não
despoja, antes vê, com ternura, com respeito, a cada traço,
em cada
pincelada é um gesto religioso de reverência à Vida humana
e à sua
forma.
Para quem nunca deu conta do significado desta disciplina
formal, no
âmbito do desenho, a sua prática funda-se na experiência en-raizada
ao
longo dos tempos que o Desenho de Modelo é realmente o exer-cício
mais
completo para compreender conceitos como: composição, en-quadramento,
volumetria, claro-escuro, linha, mancha ou trama.
É o desenho na escala do humano que no fundo se transforma
em
referência nuclear e centro de gravidade para a nossa rela-ção
com o
mundo que nos rodeia.
Mas o Nu, em si, não é apenas, e dentro deste contexto das
Artes, uma
representação de uma pessoa sem indumentária ou ponto de
partida para
uma aprendizagem meramente artística.
O Nu traz consigo outras conotações.
Na sua percepção simbólica pode, entre outras coisas, ser
evocado como
a Verdade, despojada de todos os acessórios.
Na Grécia Antiga, em regiões como Minoa e Esparta, a nu-dez
era,
seguindo esta leitura, francamente bem aceite. Nos Jogos
Olímpicos, os
Atletas competiam inclusivamente nus. A palavra Ginásio,
por exemplo,
significa local de nudez.
Até ao início do séc. VIII, os baptismos cristãos eram recebi-dos
em
despojamento e nudez também, numa imersão em água, a
05
NUA, NÃO DESPIDA
9. Jorge Moreira
Escultor, poeta visual, artista singular com uma visão fantástica, as suas obras
de escultura, são autênticas filigranas em pedra ou madeira, onde as imagens
se ligam entre si com elegância numa fantasia musical, onde se misturam pe-quenos
seres alados e plantas e por vezes notas musicas.
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07
Quis Deus que eu viesse ao Mundo hu-mildemente
traçado para servir, tra-balhar
e para sonhar.
Falo de sonho porque nele encontro a
origem de todas as Utopias, toda elas
por definição idealizadas e irrealizá-veis,
e falo de servir e trabalhar, por-que
quem nelas acredita, com vee-mência,
sobre elas funda novos mun-dos,
em geral melhores que os anterio-res.
Era também considerada Utopia a
Igualdade, mas apesar das diferenças
e atropelos a este Valor a que muitas
das culturas contemporâneas não se
inibem, nunca tantos estiveram tão
próximos em matéria de género, in-terculturalidade
e inclusão num Glo-bo
hoje um pouco mais democratiza-do.
Tal como a felicidade, miragem para
tantos e tão flagrantemente utópica,
nunca noutros tempos, que não o nos-so,
foi esta aspiração tão valorizada e
considerada. Na verdade, em toda a
história universal nunca esta foi bito-la
para a realização humana, nem nas
culturas mais hedonistas, que sacrali-zavam
o prazer mas não iam mais lon-ge
do que isso, e onde as grandes refe-rências
sempre foram da ordem do ma-terial,
do moral ou do poder.
Posso falar da Utopia como uma coisa
sumamente boa?
Posso... ainda há algumas que muito
prezo e estimo, como são a paz, o fim
da fome, o fim da doença, o fim da ili-teracia,
um sistema de saúde de quali-dade
acessível a todos, a justiça, o Pla-neta
Terra ecologicamente reequili-brado...
Mas poderá esta escorregar para o evi-dentemente
mau?
Sem dúvida... Quando através desta
nos desligamos da realidade, para pôr
as ideias à frente das pessoas, para
desprezarmos o bom senso em prol da
obstinação cega por objetivos irreali-záveis,
quando nos esquecemos enfim
que muitas vezes o ótimo é inimigo do
bom, e que o Homem é único, irrepetí-vel
na sua existência e maravilhosa-mente
imperfeito. E é exatamente por
ser imperfeito que é também tão rica-mente
criativo e apto para sobreviver
às mais duras e atrozes dificuldades.
Abraçar ternamente a Utopia é tam-bém
cuidar disto de sermos imperfei-tos,
de olhos postos no impossível, e de
não pararmos de tentar, inovar, criar,
lutar, falhar, voltar a tentar, falhar no-vamente,
falhar melhor.
Utopia é um pouco como a Visão, feliz-mente
hoje tão bem implementada co-mo
valor para o crescimento das Orga-nizações.
Raramente estas se cum-prem
no modo e tempo esperados, mas
se não tens uma, provavelmente é por-que
estás mal posicionado, e quando
não se vê para onde se anda, também é
difícil encontrar caminho…
NQ
SOBRE A
UTOPIA
…
10. MOVIMENTO,
MUDANÇA E
SUPERAÇÃO
A vida é uma constante mutação. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” ou
não?
Quando andava na escola secundária e nas aulas de História a “stôra” nos perguntava
como estavam as coisas no período em análise, independentemente de qual fosse a
época em questão, tínhamos uma colega que respondia invariavelmente:
— Mal, muito mal!
E estava sempre correcto! (Hoje também o estaria.)
Há 30 anos estávamos sob alçada do FMI… Hoje também estamos.
Antigamente os nossos jovens partiam em busca de algo melhor… Hoje também.
Nasci em França. Os meus pais partiram em busca daquilo que cá não conseguiam ter.
Não conheciam a língua, nem tinham garantias de sucesso. Vingaram, cresceram e
voltaram. Conseguiram dar-nos mais do que o que tiveram, e com isso fizemos mais e
mais.
Não se conformaram. Lutaram.
Reclamar é sempre fácil, difícil é ser diferente
Quem quiser pode ser dócil e seguir na mesma em frente…
…mas se tiver ousadia de lutar contra os moinhos
Sairá da monotonia e abrirá novos caminhos!
Vivo no Porto. E vivo o Porto.
O Porto é uma cidade linda.
Passear na baixa e observar as fachadas lindíssimas que por cá proliferam é uma
experiência única…
Desçamos mentalmente a belíssima Avenida dos Aliados, passeemos na rua Mousinho
da Silveira, na rua das Flores, na Ribeira….
Edifícios talhados em pedra, imponentes, majestosos, coexistem com estruturas
simples e frágeis, de madeira e de saibro, cujos pórticos cheiram a bafio, devido à
humidade e ao caruncho. Estes por sua vez, vivem lado a lado com novas construções,
coloridas e garridas, recentes e diferentes…
Cada época tem a sua arquitectura, as suas influências, acrescenta o seu contributo…
É a junção de tudo isso que compõe a cidade, a sociedade, a humanidade!
Ousemos mudar, e aportemos também o nosso grão de areia!
Elisabete Gonçalves
Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"
O Fundo Monetário Internacional interveio em Portugal pela primeira vez em 1977 quando Ramalho Eanes era
Presidente da República e Mário Soares era primeiro-ministro do primeiro Governo Constitucional, depois em 1983
e mais recentemente em 2011.
Elisabete Gonçalves Silva
Autora do livro Percursos Imprecisos,
2013, Lugar da Palavra, descobriu na esco-la
primária o gosto pela escrita, sendo as
composições (ou redacções) os seus traba-lhos
de casa favoritos.
Aos 12 apaixonou-se pelo Porto, onde vive
desde então.
Licenciada em Línguas e Literaturas Mo-dernas,
conta também com um Master en
Excelencia Educativa como reforço das su-as
competências didácticas e de formação,
função que desempenhou profissional-mente
por diversas vezes, enquanto cola-boradora
de uma das maiores empresas de
telecomunicações portuguesa, cujos qua-dros
integra.
Define-se como apaixonada pela vida, pe-la
família, pela cultura, pelos animais e pe-la
cidade do Porto, cidade belíssima que é
parte integrante da sua identidade.
Percursos Imprecisos
Sinopse:
Percurso Imprecisos conduz-nos pelo Por-to,
do Bonfim à Ribeira, com as tropelias
habituais da adolescência e do primeiro
namoro. Pode uma tragédia condicionar
os eventos futuros de uma ou mais vidas?
Carlos vive, cresce… As aventuras suce-dem-
se, caminhos novos cruzam-se, amo-res
surgem… Um livro a não perder!
08
11. O Mundo cabia nas minhas mãos, eu é que em mim não ca-bia…
de alegria.
Saí num dia de sol e encontrei apenas amigos. Todos me per-guntaram:
”Porque envergas o teu fato de cerimónia?”
E respondi que naquele dia, como hoje, engraxava os sapatos
e trajava a rigor para celebrar o amor.
Nos meus braços carrego hoje um mundo de coisas que te que-ro
dar.
E é assim que do mundo recebo, porque dar é receber, porque
quando te entreguei o que levava, vi que em mim não cabia o
calor das tuas mãos, o peso dos teus braços, o sabor dessa ale-gria.
“Digo-vos, quanto mais penso, mais eu sinto que não há
nada mais verdadeiramente artístico que amar as pessoas.“
Vincent Van Gogh
No POP Projeto Oficina de Pintura a crítica artística não en-tra
no nosso léxico de prioridades, mas a noção global de de-senvolvimento
pessoal e colectivo, colaboração confiante e
frutuosa, curativa e plena de afectos, enuncia a nossa verda-deira
visão: criar, pintar, esculpir, desenhar, com qualidade
de vida, saúde, e partilhar conhecimentos e experiências ar-tísticas,
técnicas e tecnológicas de forma rica, dinâmica, li-vre
e empreendedora.
Fazemos da nossa experiência partilhada com os nossos au-tores/
alunos um convite: embarquem connosco e deixem-se
envolver nesta arte que não é limitada a um grupo, nem mera-mente
particular ou localizada, mas sim universal, patrimó-nio
de todos.
“Para levares para a tua casa, para ficar mais bonita.”
Nuno Geada
Artista Plástico .
Ai,
o u v e
quero di-zer-
te uma co-isa
importante.
Gosto de ti, de uma
maneira tão especial,
aliás única, porque também
és único. Amo-te desde o prime-iro
dia da tua vida, antes talvez já
te amasse... não sei se se pode ser ama-do
antes de se ser completo, mas talvez já te
amasse um pouco antes de acordares para a
consciência. Já te sentia. Único, para além de
mim mesmo, legítimo, com sede e fome de tudo e eu
com uma vontade indomável de te ajudar a viver e a ser
completo, feliz. Com uma vontade incontornável de
fazer também esse caminho contigo, de aprender
a ser feliz. Um dia de cada vez, de hora em ho-ra,
minuto a minuto, com o coração emba-lago
pelos segundos. Vivos! É tão bom
estar vivo. É tão bom sentir-te...
Vida. O ontem já foi, o ama-nhã,
para além de todas as
minhas previsões, não
sei o que será, por
isso é tão espe-cialmente
bom es-t
a r
AMO
MOVO logo
09
12. a) Introdução
Carceri d'Invenzione…
Prisões de invenção, prisões inventadas, imaginadas…
Antes mesmo de iniciar uma pesquisa sobre a história pessoal, da
construção da obra ou até do contexto em que ocorreu a sua produ-ção,
recordo sobretudo o primeiro impacto, a primeira impressão
que me ficou marcada na memória.
Apesar de ser uma obra descoberta por sugestão directa da Profes-sora
Jacs Aorsa, contextualizada no briefing geral para este tra-balho
para a disciplina de História e Práticas do Desenho, o que
guardo como ânimo e mote para esta reflexão é esta impressão sen-tida,
investida da curiosidade dos primeiros encontros.
O que me fica sobre este conjunto extraordinário de 30 placas de
gravura, que me deixou uma forte sensação de presença no Imagi-nário
de Piranesi, e que são justamente intituladas “Carceri
d'Invenzione”, é a impressão de estar a entrar num espaço de inti-midade.
Esse espaço rico e único a qual raramente se tem acesso, tornou-se
no móbil para todo o processo criativo, técnico e tecnológico e a se-guir,
e em função do briefing dado, estruturei.
Já em pesquisa descobri que efectivamente, este trabalho é contex-tualizado
numa “magnífica junção da fantasia veneziana com a
monumentalidade romana ” muito dentro da tradição e maneira
de Tiépolo, nomeadamente na luz e nos volumes.
Pus-me a somar:
Invenção…
Imaginação…
História pessoal/construção da identidade…
Espaço de intimidade…
Fantasias…
Monumentalidade vs. volume…
Juntamente com um projecto pessoal relacionado com a banda de-senhada
e a ilustração, onde ando à procura de um estilo, de uma
maior classicidade e profundidade na construção simbólica e esté-tica
das personagens.
Foi assim que me surgiu a ideia original para esta ilustração que
servirá um episódio que descreve um sonho de Nia, personagem
central da história “O Mundo de Shido”, junto de uma narrativa
visual que decorre num cenário onde faço uma colagem de três gra-vuras
diferentes (Fig. 02, 03 e 04) da série “Carceri
d´Invenzione”.
Por achar pertinente fiz ainda uma homenagem à “Batalha de
Anghiari” de Leonardo da Vinci, numa luta encenada, com enfo-que
na descrição de emoções, através do desenho e com uma refe-rência
velada aos exemplos de deformação caricatural no traba-lho
de Leonardo, mas também de Hogarth, Goya ou Daumier.
Por outro lado, como matriz global de planeamento de todo o dese-nho
optei por fazer um investimento de tempo na construção de
uma composição definida essencialmente por uma divisão do pla-no
em dois sub-planos verticais, utilizando um pilar mestre e orga-nizando
os elementos da parte inferior do enquadramento global
na circunscrição de um triângulo e pelo alinhamento dos outros
elementos segundo linhas diagonais para dar enfâse à ilusão da ac-ção
e do movimento.
O trabalho que aqui descrevo, e que é o “lugar” em que procuro a
consolidação da obra final, divide-se em cinco sinopses:
b1 – Piranesi e os “Carceri d´invenzione;
b2 – A Batalha de Anghiari e a homenagem à obra de Leonardo;
b3 – Estudo do enquadramento e composição; técnica de etching e
da trama (cross etching).
b4 – Conclusão
b) Desenvolvimento
1. Piranesi e os «Carceri d’Invenzione»
Esta obra é inquestionavelmente uma das obras mais amplamente
difundidas e abordadas de Piranesi e talvez uma das mais «sui ge-neris
» na evocação à tradição literária da sua época, ao hermetis-mo,
às fontes e à estética do Sublime.
Foram publicadas pela primeira vez em 1745, com o título « Inven-zione
Capric di Carceri), impressas por Giovanni Bouchard e ree-ditadas
em 1760 como «Carceri d’Invenzione, sofrendo ligeiras al-terações
e acrescidas de mais duas gravuras.
Entre a primeira e a segunda tiragem, podem constatar-se algu-mas
das alterações de estilo que espelham o desenvolvimento da
obra de Piranesi.
Aqui, podemos identificar a influência da tradição veneziana
(das «Caprici» e da fantasia) e romana dos autores da época, so-bretudo
na «maniera» de Tiepolo (como por exemplo, no trata-mento
das luzes e da volumetria) que na sua obra atinge o seu auge
a partir de 1755 (como nota de contexto: ano do Grande Terramoto
que devastou Lisboa).
Com um trabalho mais complexo , rico e intrincado, nesta fase é
possível perceber o horror ao vazio que faz perder a clareza das
obras, dentro de uma composição balizada e ordenada pela utili-zação
recursiva da «scena per angolo», frequente nas tipologias
cenográficas, teatrais, utilizadas por Bibiena, Valeriani, Marco
Ricci ou Juvarra.
Destas influências, distingue-se a de Juvarra na referência Neo
Quinhentista, Utópica e Anti Clássica.
Na sua obra são ainda distintivos aspectos como a censura à «Ci-dade
Barroca», mas em simultâneo à tradicional antinomia da Ro-ma
antiga e também ao organicismo, distorção da perspectiva (co-mum
na Cenografia Tardo Barroca), composição assente em pla-nimetrias,
interligações de supra estruturas, libertação da forma,
perda de valor do centro compositivo, a metamorfose das formas
(que muito explorei nesta minha interpretação pessoal), desarti-culação,
distorção e o espaço representado segundo o ideal Huma-nista.
10
CARCERI
13. Todo este processo formal conduz o espectador a uma percepção
psicológica e estética que muito me interessou e que autores como
Edmund Burke, entre outros, categorizam como «Sublime». Um
Sublime que pretere a perfeição e a clareza da estética pelo valor
dos conteúdos emotivos, colocando o recurso da imaginação tam-bém
nas mãos do espectador que é obrigado a desconstruir e a vol-tar
a construir a imagem nas suas múltiplas dimensões.
Indo beber a toda esta percepção e abordagem na «maniera» pró-pria
de Piranesi, intitulei a obra como «Sonho de Nia». Ou seja, so-nhar
na perspectiva e ideia comum na época do «Homem como ac-tor
impotente, num teatro que já não é o seu» combinado com o fas-cínio
pelos cárceres com o seu significado simbólico de prisões da
mente (como em Coleridge ou Thomas De Quincer) acessíveis so-bretudo
através do onírico.
2. A Batalha de Anghiari e a homenagem à obra de Leonardo
A escolha pela opção de dulpa homenagem neste exercício, surgiu-me
na sequência de toda a leitura por uma óptica emotiva, das
«Carceri d’Invenzione» de Piranesi.
Uma das muitas reflexões que esta série de gravura me convocou
foi a abordagem, por assim dizer, sublime das 5 Emoções hoje des-critas,
para além dos múltiplos Sentimentos, como Emoções Bási-cas:
o Medo, a Raiva, a Tristeza, a Alegria e o Amor.
O paralelismo, apesar de numa abordagem bastante diferente,
com o trabalho sobre expressões e emoções na obra de Leonardo pa-receu-
me possível e pertinente e como na minha liberdade inter-pretativa
já tinha introduzido na minha composição inicial al-guns
elementos figurativos, escolhi então dar ênfase a esta leitura
com um tributo à « Batalha de Anghiari» e à sua dinâmica compo-sitiva
e expressiva.
«A Batalha de Anghiari» não é mais do que um grupo monumental
de soldados a cavalo numa imagem condensada e intemporal do fu
ror bélico que achei que poderia ser um excelente contraponto, ir-reverente
e antagónico, à ideia de impotência gerada pelo ambi-ente
global das «Carceri»- Prisões.
Um novo conjunto figurativo e evocativo de uma luta interior, no
contexto de uma «Carceri» de onde não há salvação, senão na for-ça
e liberdade da «vontade da alma humana».
Para melhor contextualizar « A Batalha de Anghiari», este estudo
inicial em cartão e fresco inacabado, surge na obra de Leonardo
por solicitação da cidade de Florença, com a finalidade de deco-rar,
na técnica do «fresco» a Sala de Conselho do Palazzo Vecchio.
O seu tema central é a vitória florentina sobre o exército milanês.
A pintura nunca foi finalizada, tendo ficado como espólio produ-zido
apenas um cartão em tamanho natural (à escala) que sobrevi-veu
mais de um século após a sua produção, período em que gozou
de uma enorme fama.
Hoje, apenas o conhecemos através de cópias de Artistas posterio-res
a Leonardo, em particular na cópia realizada segundo o origi-nal,
realizada por Peter Paul Rubens em 1605 e actualmente pa-tente
no Museu do Louvre, em Paris.
4. Estudo do enquadramento e composição; técnica de etching e da
trama (cross etching)
A primeira abordagem que fiz a este exercício foi efectivamente, e
numa tradição talvez mais pictórica, a abordagem segundo uma
colagem idealizada num enquadramento que julguei coerente com
o conjunto global das gravuras de Piranesi, sobre o qual construi
uma composição (e repito) «definida essencialmente por uma di-visão
do plano em dois sub-planos verticais, utilizando um pilar
mestre e organizando os elementos da parte inferior do enquadra-mento
global na circunscrição de um triângulo e pelo alinhamento
11
14. 12
dos outros elementos segundo linhas diagonais para dar enfâse à
ilusão da acção e do movimento».
Só então comecei a fazer um trabalho de trama e trama cruzada,
enquanto fazia uma leitura prática e simulada da técnica desig-nada
por «Etching» em Gravura e que passo a descrever:
Origem | contexto históricos e descrição:
A técnica química de gravura foi desenvolvida na idade média
por artesãos, fabricantes de armaduras, árabes como uma forma
de aplicação na decoração para armas. Floresceu no século XV, no
sul da Alemanha, onde as primeiras impressões gravadas em pa-pel
foram impressas no final do século.
Durante as primeiras décadas do século XVII, artistas holandeses
como Van de Velde, Jan van de Velde II e Willem Buytewech expe-rimentaram
esta técnica. Eles estavam à procura de criar um efei-to
atmosférico na suas paisagens impressas, e na tentativa conse-guiram
desenvolver um método que rompia com as linhas de con-torno
longas transformando-as em curtos traços e pontos.
Hercules Segers por sua vez, experimentou esta transformação e
adaptação por um motivo diferente: a necessidade de criar um efe-ito
pictórico na impressão em papel colorido ou tela, trabalhando-as
posteriormente com um pincel de cor, tornando assim cada im-pressão
numa peça única.
Rembrandt levou a técnica ao extremo, superando todos os seus an-tecessores.
Nas suas mãos, a gravura tornou-se um meio pleno e
maduro de que se ocupou em períodos longos para o resto da sua vi-da.
A técnica que utilizei neste desenho referente a Piranesi filia-se
muito no exemplo de Rembrandt que, por conhecer melhor, reco-nheço
ter tido grande influência na abordagem pessoal e estilísti-ca
que escolhi.
As Gravuras são impressões, normalmente em papel, de desenhos
ou modelos construídos pelos artistas, em suportes diversos, com
recurso às técnicas do desenho, pintura ou corte. Estes suportes po-dem
se um bloco de madeira, uma placa de metal ou uma tela de se-da.
Em Piranesi (assim como em Rembrandt) o suporte é uma chapa
fina de cobre. Esta é então coberta com uma mistura resistente aos
ácidos conhecida como base de gravura, composta de betume juda-ico,
resina e cera.
Nesse revestimento fino é então produzido o desenho directamen-te
com uma agulha de gravura, que penetra esta fina película dei-xando
exposta, nestas ranhuras, a placa de cobre.
A placa é colocada, em seguida, num banho de ácido diluído. As
partes expostas, que deixaram de estar protegidas contra o ácido
pela base de gravura, ficam gravadas, em sulcos criados na super-fície
do metal.
Quanto mais tempo a placa é deixada no banho, mais profundos es-ses
sulcos se tornam.
Posteriormente esta base de gravura é removida e a placa limpa e
finalizada com uma almofada de tinta ou com um rolo.
Ela é então limpa manualmente para que a placa fique inteira-mente
despojada de tinta, à excepção dos sulcos.
O passo seguinte é a fixação de uma folha de papel húmida na cha-pa
seguindo-se a compressão de ambos através de rolos de impren-sa.
O papel absorve assim a tinta dos sulcos, produzindo-se uma
impressão invertida do design realizado na chapa.
O desenho que aqui realizei com esta abordagem técnica e tecnoló-gica
sempre em perspectiva, manteve a fidelidade ao princípio de
execução que norteia esta modalidade de criação artística e dei-xou-
me efectivamente curioso e interessado na prossecução de
uma experiência em placa que penso que me poderia esclarecer al-guns
outros efeitos que pude observar nas reproduções mas que de
alguma forma não soube reproduzir através do uso da trama
5. Conclusão
«Cerca Trova»
Detalhe no topo do fresco da «Batalha de Marciano» de Giorgio Va-sari,
1563 (pintado sobre o fresco original de Leonardo, «a Bata-lha
de Anghiari)
«Só quem procura, encontrará», Evangelho
Depois de algumas semanas de trabalho, pesquisa e justificação,
sem me alargar noutras conclusões senão a mais humilde e verda-deira
a que consegui chegar:
« Só quem procura, poderá encontrar»
A asserção é, de longe, pouco pacífica. Pablo Picasso afirmava por
exemplo «Eu não procuro, encontro» e quantos não são os que em
todas as áreas do Saber se encontraram fortuitamente, por obra da
sorte ou destino, com as soluções que nem sabiam procurar.
Contudo, e seguindo o raciocínio de Vasari, «Cerca Trova», no de-senho
efectivamente as coisas funcionam assim.
O Desenho é uma das grandes formas e instrumentos do pensar.É
um pensar com o corpo, com a mão, com o olhar.
Nesta obra que decidi intitular como «o Sonho de Nia» confesso
que pela primeira vez, circunstancialmente, procurei conhecer Gi-ovanni
Batista Piranesi. Não sei se o encontrei completamente,
mas confesso que senti como nunca a inquietação que as raras pre-ciosidades
despertam... um não conseguir ou saber ficar indife-rente
ao apelo daquele mundo vagamente mimético.
... Mas em simultâneo hermético, magnético, misterioso e ao mes-mo
tempo, familiar... Humano...
Cerca Trova!
Nuno Quaresma
Janeiro de 2012
BIBLIOGRAFIA
Marani, Pietro C. (1996), Leonardo, Sociedade Editorial Electa
Espana S.A., Madrid.
Janson, H. W. (1998), História da Arte, Fundação Calouste Gul-benkian,
Lisboa.
Galeria de Pintura do Rei D. Luís – Instituto Português do Patri-mónio
Arquitectónico e Arqueológico, (1993), Giovani Battista Pi-ranesi
– Invenções, Caprichos, Arquitecturas 1720/1778, Secreta-ria
de Estado da Cultura, Lisboa.
Pereirinha, T. (2011), A vida misteriosa de da Vinci, in Revista Sá-bado,
n.º 392 (p. 44-54), Grupo Cofina Media SGPS, S.A., Lisboa.
Nuno Quaresma
Designer (Fundação Salesianos), ilustrador e gestor de projetos de
arte numa grande variedade de eventos dentro de várias especia-lidades
culturais e modelos de negócio social, caracterizados por
um perfil cultural/solidariedade.
Particularmente interessado nas relações cliente/prestadores, re-des
relacionais e partilha de recursos. Sempre interessado em pro-jetos
de parceria artística, bem como de estreita interação com pro-motores
culturais e empreendedores. Especialidades: artes plásti-cas,
desenho, ilustração, design, empreendedorismo cultural, con-sultoria
e pedagogia da arte. Bacharelato em Design pela Escola
Superior de Educação da Universidade do Algarve, Aluno de Mes-trado
em Design e Cultura Visual no IADE- Instituto Artes Visua-is,
Design e Marketing (Lisboa).Representação nas colecções da
Galeria Nova Era, do Arquivo Distrital de Faro, do Instituto Supe-rior
Miguel Torga, do Hotel Mélia (TRYP Hotel) de Coimbra, Junta
de Freguesia de Armação de Pêra, Governo Civil de Castelo Bran-co,
Fundação afid Diferença e Fundação Salesianos
15. 13
Um comboio chamado desejo ou o Amor também se encontra
a 120km por hora é diferente da versão que provavelmente co-nheces
– “ Um elétrico chamado Desejo” - A Streetcar Na-med
Desire, de Elia Kazan com Marlon Brando e Vivien Le-igh,
de 1951.
Nesta minha, improvisada entre as escalas dos autocarros
frente aos Prazeres (onde curiosamente passam muitos elé-tricos
:), oscila entre a profundidade e a superficialidade, en-tre
o Amor, o verdadeiro, e a lascívia… entre o importante e o
relativizável.
Não tenciono extrair daqui generalizações ou fórmulas. Falo
disto porque é a verdade. Já me aconteceu; encontrar o amor
a 120km hora.
A esta velocidade, se espirras, andas aproximadamente 30
metros com os olhos fechados, entregue ao destino, sem cons-ciência
ou controle sobre o que se passa em frente dos teus
olhos.
São 30 metros às escuras.
Procurar amar a 120 Km hora é como dar um salto de fé nu-ma
furna escura de onde o mar se percebe apenas a sua voz e
cheiro. E de repente, bater na água com força, tocar com os
pés na areia e abrir os olhos para uma superfície em eferves-cência.
Encontrar o amor assim deixa marca, entre a dor e o prazer,
e pouco tempo ou espaço para escolhas.
Num amor encontrado assim, há um misto de religiosidade e
trauma.
UM COMBOIO
CHAMADO
DESEJO
16. 14
É um acontecimento à escala planetária, como uma colisão,
na força da trajetória, entre Vénus e Marte.
Contudo, se aprecias as viagens de comboio, sabes que esta
velocidade desenfreada é sentida num estado de relativa
imobilidade. Vive-se, aliás, viaja-se no maior dos confortos e
tranquilidade mas, infelizmente, tristemente… sós.
Quando damos conta, neste comboio chamado desejo, quan-do
acordas da torpeza desse sono de viajante, estás apenas
só.
Olha! Parece que estou a chegar à estação!
Espreito pela janela e vejo as paredes azuis de uma luz mes-clada
que só conheço de Lisboa.
Mais um bocadinho e estou à tua porta!
Por essa estrada, nessa rua, à tua porta…
Viajo num comboio chamado Desejo mas tu és a minha
Casa…
« Procurar amar a 120 Km ho-ra
é como dar um salto de fé nu-ma
furna escura de onde o
mar se percebe apenas a sua
voz e cheiro.
E de repente, bater na água
com força, tocar com os pés na
areia e abrir os olhos para
uma superfície em eferves-cência.
»
17. Desenhar como quem respira, naturalmente ou compulsiva-mente,
é para muitos uma função orgânica.
A própria fisionomia e fisiologia concorrem para esta ativi-dade
regular do Corpo, da Mão, da Mente, na sua relação
com o Mundo e com o Próximo.
Eu pessoalmente sou um apologista do respeito pela Diferen-ça,
num mundo de Iguais.
Acolho a normalização apenas na medida da sua pertinên-cia
e utilidade no serviço à Justiça, Liberdades e Igualdade.
Nas coisas grandes entendo realmente o valor da norma. Um
farol para quem navega à vista.
Tudo o resto aprecio fora dos intevalos estritos das normas,
cânones, regras... Fascina-me o que é feito à medida de cada
um, com os cuidados e mimos que cada Corpo e Mente preci-sam.
Encanta-me a simpatia de quem consegue realmente olhar
para dentro da pessoa que está à sua frente...
Comove-me quem o faz com o respeito e reverência de quem
contempla o sagrado, e a coragem da empatia de se colocar
no seu lugar.
Encantam-me as Costureiras e Alfaiates :)
Os "Tailored" são feitos para Mulheres e Homens assim.
Os blocos de desenhos são extensões do seu corpo; há que
construir sketchbooks que se ajustem personalizadamente,
como luvas, jeans, sapatos, jaquetas ou outros acessórios as-sim.
O Tailored é feito à mão, todo cosidinho, só para ti!
É diferente nas medidas, técnicas, por vezes no construtor.
A norma é a predileção pela reciclagem, a qualidade e resis-tência
do papel, capa e costuras e a garantia de que terás um
caderno para a vida.
"Lifetime Sketchbooks"!
Para Artistas a Sério ;)
15
Tailored for… Feito à medida de…
Olha para trás…
Olha lá!
Quando era gaiato, distraído, a nave-gar
na gôndola dos meus sonhos, go-tas,
sementes, ensaiava o ofício de ho-je
sem me lembrar sequer de olhar pa-ra
o lado.
Era ali e naquele momento, como é ho-je,
aqui e agora: o poder da Criativi-dade!
Não olho muito para trás; as vezes ne-cessárias.
Olho para a frente, para o horizonte,
para os pés, para ver a medida a que
estou do chão, e penso no quê, como
nunca, com uma hora de atraso… e à
minha volta, quando regresso, não se
vê já ninguém na rua.
Tailored é fazer à hora certa, na medi-da
certa, a contemplar tudo o que está
à volta.
Tailored é cozer os retalhos soltos, os
desejos que ficaram por cumprir…
Tailored é trabalho individual, traba-lho
coletivo, é uma construção feita de
solidariedade, colegialidade, amiza-de!...
até conjugabilidade :)
Tailored é Crença no Mundo e nos Ou-tros!
Produzimos cadernos tipo “sketchbo-ok”,
cozidos à mão, personalizados, fe-itos
à medida e para durar.
Mas todas as outras modalidades de
criação artística e cultural são bom
mote para a transgressão, transcen-dência,
irreverência.
O nosso negócio é a construção de ca-dernos
de excelência, mas não hesites
em contatar-nos para ilustração, de-sign,
micro &social branding e orga-nização
de eventos e mostras em Artes
Plásticas.
Fazê-mo-lo com gosto!... “tailored for
you!”
18. O que pode um homem simples dizer
ou fazer no Mundo agora?
Não sou, à semelhança da maioria dos
homens e mulheres dos nossos tempos,
especialista em economia ou finan-ças,
mas como comum entre comuns
sinto hoje mais desconfiança e receio
em relação ao futuro.
Pelo menos em relação a este futuro, a
dois tempos, em que alguns enrique-cem
e muitos empobrecem.
Não penso assim por despotismo.
Passo a vida a desejar o melhor para
quem o procura, para quem luta por
mais e melhor.
Alegra-me a visão da abundância no
regaço de quem for.
Celebro a fertilidade por si só e regalo
os olhos quando vejo a Terra cheia de
tudo e do bom.
Por isso não consigo deixar de inda-gar
porque é que neste Mundo onde há
excesso e abundância de tudo, vemos
fome, desemprego, doença, desprote-ç
ã o n a s a ú d e e n a v e l h i c e ?
Porque que pagam os homens e as mu-lheres
do nosso tempo os caprichos da
doutrina do Capitalismo desenfrea-do?
Porque malha o peso da quimera do lu-cro
pelo lucro sobre a única procura
que deveria nortear o Homem: a cons-trução
do Humano?
Porque permitimos nós, comunidades
de Gente, que outros mais cegos ou fe-bris
pela abundância, nos enterrem e
esmaguem pela sua ganância, obses-são
e controlo?
E quem regula este capital que nos re-gula?
A quem pertence a responsabilidade
de lutar, nas formas pacíficas que a
responsabilidade também obriga, con-tra
esta falta de empatia, piedade, ra-cionalidade?
Quem tapa a boca a esta criatura vo-raz?
Hoje pinto para lhe tapar a boca.
Amanhã, quando tiver um negócio, se-rei
íntegro, justo e regulado para lhe
tapar a boca.
Amanhã, talvez lhe dê com um pau,
bem me apetecia… só para que a sua
goela míngue e o seu apetite se miti-gue…
sem que lhe não falte pão para a
boca.
N.Q.
MAIS
NÃO
16
20. Movimento - Mudança
Há quem diga que Sucesso é Movimi-ento,
E há quem diga que motivação é mo-vimento...
E a sociedade mostra que os Movimen-tos
Artísticos influenciam directa ou
indirectamente as mudanças Cultura-is.
18 Uma das ideias do era de fazer fé e ciência. pela Na vida todo movimento já seja fisico,
social, espiritual, em grupo ou indivi-dual
leva com ele as mudanças inter-nas
e externas de forma que todos pos-samos
transformar o cansaço em Ener-gia,
parece tão simples verdade?!...
mas sabemos que para que movimento
e mudança aconteçam em equilíbrio e
evolução temos que actuar com persis-tência,
com empreendedorismo e fazer
da inovação a mudança vital para
uma melhor visão de futuro.
Gostava de reflectir um pouco sobre os
principais movimentos artísticos do
Século XVIII até ao Século XXI, cheios
de contradições e complexidades. É
possível encontrar um caminho para a
criação de novos conceitos no campo
das artes, por isso em algumas cultu-ras,
o desenvolver da educação pela
Arte parece ser o motor da mudança in-terna
no que se refere ao nosso sentir e
em representar realisticamente as
formas de um objeto, porém aqui, a era representar um mesmo visto de vários ângulos num plano. Com o tempo, o Cubismo moderno, Cubismo analítico (1908-1911) – de-senvolvido
a criar símbolos fortes que ajudam a
flexibilizar a rigidez de algumas esco-las
estilo era a utilização de poucas cores,
a definição de um tema apresentado
tradicionais. Símbolos fortes como
a sensibilidade, cooperação e o prazer
de trabalhar em equipa.
em todos os ângulos. A Perda da reali-dade,
Sabemos que os movimentos e as mu-danças,
e você em estilo egipcio."
figuras.
Cubismo sintético: Fugia dessa perda
“tendências artísticas”, tais
por Picasso e Braque: Seu
de realidade, mas procurava retratá-la
como o Expressionismo, o Fauvismo, o
Cubismo, o Movimento Barroco, o Re-nascentismo
sendo impossível reconhecer as
, o Futurismo, o Abstraci-onismo,
o Dadaísmo, o Surrealismo, a
Op-art e a Pop-art expressam, de um
modo ou de outro, a perplexidade do
homem contemporâneo, a cultura pop
também na música como na dança
mostram o seu movimiento buscando
expressar o mundo do inconsciente a
partir dos sonhos e desejos de liberda-de,
e de auto-afirmação..... Auto-afirmação
de quê?!!
Interessante foi o ano em que surge o
Expressionismo ele aparece como
uma reação ao Impressionismo, foi
um ano de mudanças positivas, pois
no primeiro, a preocupação está em ex-pressar
as emoções humanas, trans-parecendo
em linhas e cores vibrantes
os sentimentos e angústias do homem
moderno. Enquanto que no Impressio-nismo,
o enfoque resumia-se na busca
pela sensação de luz e sombra, “passa-mos
da técnica à ilustração das O movimento Barroco teve seu na Itália, no final do século do século XVIII a palavra de origem portuguesa, pedra preciosa imperfeita, formatos irregulares.
contrarreforma e o segun-do
se expandia com a modernidade. A
partir disso, surgiu uma vertente en-contrada
no Barroco, que era o fusio-nismo.
O Barroco teve grandes in-fluências
na arquitetura de alguns dos
países da Europa e também da Améri-ca
Latina. As construções não costu-mam
seguir padrões geométricos, mui-to
menos simétricos. O escritor brasi-leiro,
Paulo Coelho, publicou um livro,
“O Diário de um Mago”, onde nos con-ta
da influência da época Barroca.
Os Renascentistas baseavam-se em
conceitos filosóficos e antropológicos.
O Humanismo é um dos segmentos do
Renascimento e trabalha com o uso to-tal
da razão por meio de experimen-tos
. Com o desenvolvimento do Renasci-mento,
as características mudaram, a
espiritualidade foi deixada de lado e
abriu-se caminho para um sentimento
otimista, que desfruta do mundo mate-rial.
Começaram a observar a vida co-mo
um ciclo e a acreditar que o homem
não tem o controle sobre suas emoções,
muito menos sobre seu tempo de vida.
Curiosamente em Portugal o renas-centismo
teve pouca influência, talvez
esta ausência tenha contribuído para
um menor otimisto sentido na socieda-de
portuguesa?!
Senti no Cubismo uma despreocupa-ção
Tania Estrada, quien es?
Nuestra mentora Dr. Tania Estrada?
Es un luchador incansable, no desar-ma
nunca, nunca se da por vencida
.Se compromete, siempre añadiendo
algo , conocimiento, iniciativas , pro-mueve
con compromiso elevado y con-cretiza
las acciones con un carisma bi-en
asertivo.
Fundo la marca, el Instituto Tania
Estrada en el año 2005 .
En este instituto, no sólo se trata de la
salud mental, si no también se le da Vi-da
a varios proyectos técnicos como la
promoción del desarrollo personal ;la
pedagogía la investigado; en el ámbito
de la bulimia y la anorexia .
De la psicología en general, con el com-partir
exigente ,supervisión franca y
seria de los ensayos clínicos que ella
estudia y concretiza.
Es ecléctica, capaz de promover, con
un gran éxito científico, educativo y
social " El Congreso Científico de Ano-rexia
Y Bulimia cuyo tema Disturbios
en rede con tremendo carácter peda-gógico
fue un suceso.
Nunca desanima , siempre de "cara fe-liz"
y con una sonrisa, "sacude" las he-ridas
y luego se va a luchar con deter-minación,
a luchar por las próximas
metas, con elevada creatividad, hace
siempre el CAMINO.
Es difícil de cuantificar, está siempre
atenta y lista para el próximo proyec-to,
Podría estar aquí para escribir pá-ginas
y páginas de sus actividades, pe-ro
la práctica de la Dra. Tania Estra-da
habla por sí mismo, y su modestia
también .
Víctor Lopes da Gama Cerqueira
Maestría en Salud Mental y Clínica
Social.
21. E a sociedade mostra que os Movimentos Artísticos influenciam directa ou indirectamente as mudanças Culturais.
despreocupa-ção
as
a in-tenção
mesmo obje-to
num único
Cubismo evolu
Impressio-nismo,
busca
passa-mos
das emo-ções.”
seu início
XVI, início
iu em dois grandes movimentos e mu-danças
palavra “barroco”,
significa uma
e Cubismo Sintético. Podemos dizer
que o cubismo nasceu como um movi-mento
imperfeita, com os se-us
irregulares.
do fenómeno do Bar-roco
chamados Cubismo Analítico
fazer a junção dos dois ele-mentos,
ciência. O primeiro, res-gatado
no ano 1908, constituído em
Montmartre (Rue Ravignon 13), onde
viviam Picasso, Max Jacob e Juan
Gris. O grupo Bateau Lavoir organi-zou
uma homenagem ao Rousseau, du-rante
a comemoração Picasso em tom
de muito entusiamso disse: "Você e eu
somos os pintores actuais. Eu em esti-lo
perda
retratá-la
de várias formas. Foi chamado, tam-bém,
de colagem, porque eles coloca-vam
tudo o que podiam, como letras,
números, vidros, etc., com o intuito de
criar novos efeitos e despertar a aten-ção.
O abstracionismo é a arte que se opõe
à arte figurativa ou objetiva. A princi-pal
característica da pintura abstrata
é a ausência de relação imediata entre
suas formas e cores e as formas e cores
de um ser. A pintura abstrata é uma
manifestação artística que despreza
completamente a simples cópia das for-mas
naturais, interessante como este
movimento pode influenciar estilos e
influenciadores no mundo das artes, e
a forma de ver nosso talento.
No impressionismo, estilo marcado
por cores fortes e brilhantes, texturas
e linhas harmónicas, prevalecem as
paisagens, os grupos de pessoas e as
formas humanas. Neste movimento
aparece uma mudança no talento e na
paixão no que refere “motivação dos
Artistas”.
Os estudos de Freud sobre psicanalis-mo
e a política mostravam a complexi-dade
da sociedade moderna. Em críti-ca
à cultura europeia, surgiram:
O Futurismo: O futurismo é um estilo
influenciado pelo movimento literário
Manifesto Furista, criado por Filippo
Tommaso Marinetti, em 1909 um poe-ta
e escritor italiano que sugeriu às
pinturas a velocidade das máquinas e
a exaltação do futuro para os pintores
desse estilo, os artistas não tinham es-sa
visão de futuro! INTERESSANTE!
Os estudos de Freud sobre psicanalis-mo
em Cultura política mostravam a
complexidade da sociedade moderna.
Em crítica à cultura europeia surge a
Pintura Metafísica – uma pintura que
mostrava a falta de sentido da socie-dade
contemporânea: mistério, luzes,
objetos, sombras e cores intrigantes ti-nha
como principal artista,
Giorgio De Chirico (1888-1979), um
pintor italiano, com suas obras “O
Enigma da Chegada” e “O Regresso do
Poeta”.
Outros Movimentos do Século XXI
Curiosidades : O steampunk (subgé-nero
da ficção científica que trata de
evoluções tecnológicas que acontecem
em épocas anteriores às que ocorre-ram
na realidade) também tem sua
parcela de arte única. O idealismo ste-ampunk
usa o conceito de ressuscitar
tecnologias antigas, aqui vejo clara
mente o conceito do Criativo é contra-riar
o banal.
Este movimento o steampunk fez que
meu pensamento viajasse a minhas lei-turas
de criança da obras de Júlio Ver-ne.
A Educação pela Arte, é para mim um
movimento transformador com mu-danças
positivas na educação e Cultu-ra
do País, como estamos vendo ac-contecer
no movimento Eco-Art.
O mesmo reúne obras sobre ecologia e
preservação da natureza, buscando
as linhas de aproximação entre Arte e
Meio Ambiente.
Nos processos de Mudanças em que
muitas instituiçõees do Brasil hoje se
vêem envolvidas, têm já por base a ca-pacidade
de realizar o Movimento da
Pedagogia do Desejo.
Desejo que Portugal caminhe no Dese-jo
de algumas Mudanças na conquis-ta
de novas atitudes, onde figure a Par-tilha
a Dois, as boas Perguntas, o Ques-tionar,
a Cultura da Responsabilida-de,
a Sensibilidade para olhar para o
nosso lado, a autoconfiança de que fa-zemos
nosso melhor sem comparações.
O movimento de Educação pela Arte é
a verdadeira transformação do sentir
actual, em que cada um de nos possa
converter o Cansanço em Energia pelo
prazer das coisas boas que fazemos.
Diferentemente do que pensamos:
“Não somos ilhas isoladas, e sim par-tes
de uma mesma célula – distintos,
porém interligados.”
Que seja o Movimento pela Arte
a nossa Energia na Mudança!
Tania Estrada Morales
15/07/2014
19
22. Serve para quê?
“Se, por um lado, os poderes do homem, o animal sábio, nos
enchem de admiração, por outro lado, não podemos deixar
de nos espantar com a lentidão da sua aprendizagem. E o ma-ior
de todos os obstáculos a essa aprendizagem é a quantida-de
de aprendizagem acumulada que com as suas ilusões de
conhecimento ele foi juntado”
In “os Pensadores” – capítulo 21 – “Francis Bacon e a visão
dos velhos ídolos e dos novos domínios”, de Daniel J. Boors-tin.
Sinto-me assim, num novo renascimento da consciência de
que o que “sei” atrapalha mais o que” desejo saber”, e que
não posso escapar dessa condição animal, orgânica, que me
liga ao Real e às Coisas.
Sou um homem e sinto, comovo-me, amo, odeio, alegro-me,
zango-me, sinto prazer, dor, desconforto, comichão, cócegas.
Não sou apenas este corpo, em transformação, em constante
recursão, reconstrução autopoiética, mas dele dependo para
a perceção e interação com o que me rodeia.
Pois o que me acontece é que após 39 anos de acumulação de
informação, no meio de tanta sensação, intuição e emoção,
já é com dificuldade que me consigo posicionar para ver com
clarividência o Universo à minha volta.
Quem sou, de onde venho, para onde vou?
Aliás, já me custa até pensar nestas questões do de onde vi-mos,
para onde vamos, quem somos.
Em verdade, as questões já nem me aparecem como “por-quês”
mas antes como um simples “para que serve?”
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciên-cia?
Hoje, no meio de uma tarde prazenteira, ensolarada, brinco
no jardim com os meus Filhos e só amiúde me distraio, das su-as
gargalhadas e tropelias, pela brisa temperada que me pas-sa
pelos cabelos.
É um estado de graça que agradeço a Deus, aos Deuses, ao
Cosmos.
Por cima de mim navegam nuvens enormes, voluptuosas,
num lento vórtice que me dá a sensação que é antes a Terra
que se move.
E o azul enche-me. E a sua luz enche os meus Filhos de Sol, e
nos seus sorrisos sinto saúde, vejo o Amor e as promessas do
futuro.
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciên-cia?
O meu Pai tem andado doente, o pecúnio que recebo pela mi-nha
prestação no trabalho não me chega para pagar as con-tas
e o desemprego ameaça ou afeta metade dos meus Ami-gos.
O tempo míngua de tal forma que já quase não consigo pin-tar.
E o Mundo ainda está cheio de fome, doença, injustiça e
guerra.
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciên-cia?
Paro.
Paro por um bocado.
Olho para todo este fluxo imparável, incomensurável de in-formação
que se me atravessa pela frente e procuro desper-tar.
Acordo e paro e fico só atento, a olhar, a ouvir, a sentir, a chei-rar…
Paro e despojo-me das vestes, andrajos, com que me tenho en-feitado…
Servem a minha liberdade, serve a liberdade dos meus Meni-nos.
Servem o meu desejo de viver.
Servem a minha felicidade.
Servem a minha ligação ao Real, ao Mundo e ao Outro, sem
subversões ou subjugação.
Servem-me de coragem para esvaziar o copo quando é preci-so,
para abrir as janelas da mente, para que a alma se me não
cristalize ou coagule, não pare nem no tempo nem no espaço.
Ao mesmo tempo, não servem para nada… por isso as procu-ro,
as escolho.
NQ, Abril 2014
20
23. MOVE
Serve para quê?
“Se, por um lado, os poderes do homem, o animal sábio, nos
enchem de admiração, por outro lado, não podemos deixar
de nos espantar com a lentidão da sua aprendizagem. E o ma-ior
de todos os obstáculos a essa aprendizagem é a quantida-de
de aprendizagem acumulada que com as suas ilusões de
conhecimento ele foi juntado”
In “os Pensadores” – capítulo 21 – “Francis Bacon e a visão
dos velhos ídolos e dos novos domínios”, de Daniel J. Boors-tin.
Sinto-me assim, num novo renascimento da consciência de
que o que “sei” atrapalha mais o que” desejo saber”, e que
não posso escapar dessa condição animal, orgânica, que me
liga ao Real e às Coisas.
Sou um homem e sinto, comovo-me, amo, odeio, alegro-me,
zango-me, sinto prazer, dor, desconforto, comichão, cócegas.
Não sou apenas este corpo, em transformação, em constante
recursão, reconstrução autopoiética, mas dele dependo para
a perceção e interação com o que me rodeia.
Pois o que me acontece é que após 39 anos de acumulação de
informação, no meio de tanta sensação, intuição e emoção,
já é com dificuldade que me consigo posicionar para ver com
clarividência o Universo à minha volta.
Quem sou, de onde venho, para onde vou?
Aliás, já me custa até pensar nestas questões do de onde vi-mos,
para onde vamos, quem somos.
Em verdade, as questões já nem me aparecem como “por-quês”
mas antes como um simples “para que serve?”
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciên-cia?
Hoje, no meio de uma tarde prazenteira, ensolarada, brinco
no jardim com os meus Filhos e só amiúde me distraio, das su-as
gargalhadas e tropelias, pela brisa temperada que me pas-sa
pelos cabelos.
É um estado de graça que agradeço a Deus, aos Deuses, ao
Cosmos.
Por cima de mim navegam nuvens enormes, voluptuosas,
num lento vórtice que me dá a sensação que é antes a Terra
que se move.
E o azul enche-me. E a sua luz enche os meus Filhos de Sol, e
nos seus sorrisos sinto saúde, vejo o Amor e as promessas do
futuro.
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciên-cia?
O meu Pai tem andado doente, o pecúnio que recebo pela mi-nha
prestação no trabalho não me chega para pagar as con-tas
e o desemprego ameaça ou afeta metade dos meus Ami-gos.
O tempo míngua de tal forma que já quase não consigo pin-tar.
E o Mundo ainda está cheio de fome, doença, injustiça e
guerra.
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciên-cia?
Paro.
Paro por um bocado.
Olho para todo este fluxo imparável, incomensurável de in-formação
que se me atravessa pela frente e procuro desper-tar.
Acordo e paro e fico só atento, a olhar, a ouvir, a sentir, a chei-rar…
Paro e despojo-me das vestes, andrajos, com que me tenho en-feitado…
Servem a minha liberdade, serve a liberdade dos meus Meni-nos.
Servem o meu desejo de viver.
Servem a minha felicidade.
Servem a minha ligação ao Real, ao Mundo e ao Outro, sem
subversões ou subjugação.
Servem-me de coragem para esvaziar o copo quando é preci-so,
para abrir as janelas da mente, para que a alma se me não
cristalize ou coagule, não pare nem no tempo nem no espaço.
Ao mesmo tempo, não servem para nada… por isso as procu-ro,
as escolho.
NQ, Abril 2014
PARA
ONDE ?
21
24. OM, Aum, o som do movimento do Uni-verso,
o eco do seu início distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par-tículas
do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi-dade
matemática da Teoria das Cor-das.
No meu íntimo, no fundo da minha al-ma
(será que esta existe?)procuro con-tudo
e apenas ouvi-lo: este silêncio
que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sin-to-
lhe, por momentos, essa nesgazinha
de grandiosidade de que todos somos
parte.
Já me explicaram que maís o conse-guiria
integrar se tivesse “o copo me
M, Aum, o som do movimento do Uni-verso,
o eco do seu início distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par-tículas
do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi-dade
matemática da Teoria das Cor-das.
No meu íntimo, no fundo da minha al-ma
(será que esta existe?)procuro con-tudo
e apenas ouvi-lo: este silêncio
que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sin-to-
lhe, por momentos, essa nesgazinha
nos cheio”.
É mais fácil encher um copo vazio do
que fazer entrar o que seja numa mal-ga
(amálgama!) a transbordar.
A dura tarefa que tenho hoje pela fren-te
é esvaziar-me desse caudal.
É minha essa tarefa apenas porque a
escolho.
Não sei se sou capaz, se estou à altura
da complexa exigência do seu postu-lado.
Sigo com a simplicidade, humildade e
receios de uma criança (talvez até
com um pouco da sua indisciplina e ir-reverência).
Por isso começo por desenhar e pintar.
Não me levem a mal. Não sou capaz de
o fazer de outra forma agora.
Vou pintar o que não compreendo, pin-tarei
tudo o que me distraí o pensa
mento, para ver se a pintar desmistifi-co
e desmistificando exorcizo essa for-ça
magnética que me agarra obsessi-vamente
à forma das coisas.
Pensando menos sentirei talvez mais.
Mais perto estarei talvez do essencial,
do conteúdo. Mais perto da verdade,
quem sabe, da consciência, do cora-ção…
de Ti!
Aka OM (Aum), já em outubro deste
ano, com o apoio Tailored, AKA Art
Projects e da Câmara Municipal de
Sintra.M, Aum, o som do movimento
do Universo, o eco do seu início dis-tante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par-tículas
do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi-dade
matemática da Teoria das Cor-das.
No meu íntimo, no fundo da minha al-ma
(será que esta existe?)procuro con-tudo
e apenas ouvi-lo: este silêncio
que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sin-to-
lhe, por momentos, essa nesgazinha
de grandiosidade de que todos somos
parte.
Já me explicaram que maís o conse-guiria
integrar se tivesse “o copo me
22
25. OM, Aum, o som do movimento do Uni-verso,
o eco do seu início distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par-tículas
do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi-dade
matemática da Teoria das Cor-das.
No meu íntimo, no fundo da minha al-ma
(será que esta existe?)procuro con-tudo
e apenas ouvi-lo: este silêncio
que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sin-to-
lhe, por momentos, essa nesgazinha
de grandiosidade de que todos somos
parte.
Já me explicaram que maís o conse-guiria
integrar se tivesse “o copo me
M, Aum, o som do movimento do Uni-verso,
o eco do seu início distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par-tículas
do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi-dade
matemática da Teoria das Cor-das.
No meu íntimo, no fundo da minha al-ma
(será que esta existe?)procuro con-tudo
e apenas ouvi-lo: este silêncio
que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sin-to-
lhe, por momentos, essa nesgazinha
de grandiosidade de que todos somos
parte.
Já me explicaram que maís o conse-guiria
integrar se tivesse “o copo
meM, Aum, o som do movimento do
Universo, o eco do seu início distan-te…
Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par-tículas
do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi-nos
cheio”.
É mais fácil encher um copo vazio do
que fazer entrar o que seja numa mal-ga
(amálgama!) a transbordar.
A dura tarefa que tenho hoje pela fren-te
é esvaziar-me desse caudal.
É minha essa tarefa apenas porque a
escolho.
Não sei se sou capaz, se estou à altura
da complexa exigência do seu postu-lado.
Sigo com a simplicidade, humildade e
receios de uma criança (talvez até
com um pouco da sua indisciplina e ir-reverência).
Por isso começo por desenhar e pintar.
Não me levem a mal. Não sou capaz de
o fazer de outra forma agora.
mento, para ver se a pintar desmistifi-co
e desmistificando exorcizo essa for-ça
magnética que me agarra obsessi-vamente
à forma das coisas.
Pensando menos sentirei talvez mais.
Mais perto estarei talvez do essencial,
do conteúdo. Mais perto da verdade,
quem sabe, da consciência, do cora-ção…
de Ti!
Aka OM (Aum), já em outubro deste
ano, com o apoio Tailored, AKA Art
Projects e da Câmara Municipal de
Sintra.M, Aum, o som do movimento
do Universo, o eco do seu início dis-tante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
23
26. 24 Já há 15 anos que não desenhava com modelo vivo e este
olhar que não despoja, antes vê, com ternura, com respeito, a
cada traço, em cada pincelada é um gesto religioso de reve-rência
à Vida humana e à sua forma.
Para quem nunca deu conta do significado desta disciplina
formal, no âmbito do desenho, a sua prática funda-se na ex-periência
enraizada ao longo dos tempos que o Desenho de
Modelo é realmente o exercício mais completo para compre-ender
conceitos como: composição, enquadramento, volume-tria,
claro-escuro, linha, mancha ou trama. É o desenho na es-cala
do humano que no fundo se transforma em referência
nuclear e centro de gravidade para a nossa relação com o
mundo que nos rodeia.
Mas o Nu, em si, não é apenas, e dentro deste contexto das
Artes, uma representação de uma pessoa sem indumentária
ou ponto de partida para uma aprendizagem meramente ar-tística.
O Nu traz consigo outras conotações.
Na sua percepção simbólica pode, entre outras coisas, ser
evocado como a Verdade, despojada de todos os acessórios.
Na Grécia Antiga, em regiões como Minoa e Esparta, a nu-dez
era, seguindo esta leitura, francamente bem aceite. Nos
Jogos Olímp icos, os Atletas competiam inclusivamente nus.
A palavra Ginásio, por exemplo, significa local de nudez.
Até ao início do séc. VIII, os baptismos cristãos eram recebi-dos
em despojamento e nudez também, numa imersão em
água, a simbolizar um novo nascimento. O Nú como o prime-iro
momento existencial…
O desaparecimento desta prática acentuou mais tarde, a co-notação
sexual da nudez.
Verdade, Simbolismo, Espiritualidade, Religiosidade, Eroti-zação,
Vergonha…
Nestes desenhos fazemos assim, não uma representação,
mas uma reapresentação de todas as nossas experiências em
contato com o mundo circundante, elaboradas com completo
envolvimento da nossa organização
primária, dos nossos padrões de vivência, da nossa vontade
incontornável de saber e Ser mais. Que riqueza!
O Antropocentrismo e humanismo subjacentes a esta moda-lidade
de desenho são assim tecidos pelo desenhador e espec-tador
em torno dos corpos que habitamos e dos outros que sen-timos
habitados, sem preconceitos sobre o que é o real ou se-quer
sobre a presença de cada um nos seus domínios parti-culares
de existência.
27. 25
A mim, pessoalmente, em cada Modelo deslumbra-me a rela-ção
que
estabelecem com o espaço, com as infinitas possibilidades de
mobilidade e posicionamento dentro dele. Enternece-me ca-da
ténue
interacção com os desenhadores, pintores, escultores, tam-bém
eles, também eu, outros corpos atarefados neste vínculo
momentâneo em que, em traços ou pinceladas, tanta coisa se
torna sublime e desvela.
Se queres partilhar um pouco desta energia, em contacto com
os originais, podes encontrar uma selecção disponível para
venda em:
Atenciosamente,
Nuno Quaresma
Maio de 2011
A palavra Ginásio, por exem-plo,
significa local de nudez.
Até ao início do séc. VIII, os
baptismos cristãos eram rece-bidos
em despojamento e nu-dez
também, numa imersão
em água, a simbolizar um no-vo
nascimento. O Nú como o
primeiro momento existenci-al…
28. 26
O que pode um homem simples dizer
ou fazer no Mundo agora?
Não sou, à semelhança da maioria dos
homens e mulheres dos nossos tempos,
especialista em economia ou finan-ças,
mas como comum entre comuns
sinto hoje mais desconfiança e receio
em relação ao futuro.
Pelo menos em relação a este futuro, a
dois tempos, em que alguns enrique-cem
e muitos empobrecem.
Não penso assim por despotismo.
Passo a vida a desejar o melhor para
quem o procura, para quem luta por
mais e melhor.
Alegra-me a visão da abundância no
regaço de quem for.
Celebro a fertilidade por si só e regalo
os olhos quando vejo a Terra cheia de
tudo e do bom.
Por isso não consigo deixar de inda-gar
porque é que neste Mundo onde há
excesso e abundância de tudo, vemos
fome, desemprego, doença, desprote-ç
ã o n a s a ú d e e n a v e l h i c e ?
Porque que pagam os homens e as mu-lheres
do nosso tempo os caprichos da
doutrina do Capitalismo desenfrea-do?
Porque malha o peso da quimera do lu-
29. 27
O que pode um homem simples dizer
ou fazer no Mundo agora?
Não sou, à semelhança da maioria dos
homens e mulheres dos nossos tempos,
especialista em economia ou finan-ças,
mas como comum entre comuns
sinto hoje mais desconfiança e receio
em relação ao futuro.
Pelo menos em relação a este futuro, a
dois tempos, em que alguns enrique-cem
e muitos empobrecem.
Não penso assim por despotismo.
Passo a vida a desejar o melhor para
quem o procura, para quem luta por
mais e melhor.
Alegra-me a visão da abundância no
regaço de quem for.
Celebro a fertilidade por si só e regalo
os olhos quando vejo a Terra cheia de
tudo e do bom.
Por isso não consigo deixar de inda-gar
porque é que neste Mundo onde há
excesso e abundância de tudo, vemos
fome, desemprego, doença, desprote-ç
ã o n a s a ú d e e n a v e l h i c e ?
Porque que pagam os homens e as mu-lheres
do nosso tempo os caprichos da
doutrina do Capitalismo desenfrea-do?
Porque malha o peso da quimera do lu-
30. OM, Aum, o som do movimento do Uni-verso,
o eco do seu início distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par-tículas
do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi-dade
matemática da Teoria das Cor-das.
No meu íntimo, no fundo da minha al-ma
(será que esta existe?)procuro con-tudo
e apenas ouvi-lo: este silêncio
que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sin-to-
lhe, por momentos, essa nesgazinha
de grandiosidade de que todos somos
parte.
Já me explicaram que maís o conse-guiria
integrar se tivesse “o copo me
M, Aum, o som do movimento do Uni-verso,
o eco do seu início distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par-tículas
do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi-dade
matemática da Teoria das Cor-das.
No meu íntimo, no fundo da minha al-ma
(será que esta existe?)procuro con-tudo
e apenas ouvi-lo: este silêncio
que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sin-to-
lhe, por momentos, essa nesgazinha
de grandiosidade de que todos somos
parte.
Já me explicaram que maís o conse-guiria
integrar se tivesse “o copo
meM, Aum, o som do movimento do
Universo, o eco do seu início distan-te…
Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par-tículas
do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi-dade
matemática da Teoria das Cor-das.
No meu íntimo, no fundo da minha al-ma
(será que esta existe?)procuro con-tudo
e apenas ouvi-lo: este silêncio
que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sin-to-
lhe, por momentos, essa nesgazinha
de grandiosidade de que todos somos
parte.
Já me explicaram que maís o conse-guiria
integrar se tivesse “o copo me
nos cheio”.
É mais fácil encher um copo vazio do
que fazer entrar o que seja numa mal-ga
(amálgama!) a transbordar.
A dura tarefa que tenho hoje pela fren-te
é esvaziar-me desse caudal.
É minha essa tarefa apenas porque a
escolho.
Não sei se sou capaz, se estou à altura
da complexa exigência do seu postu-lado.
Sigo com a simplicidade, humildade e
receios de uma criança (talvez até
com um pouco da sua indisciplina e ir-reverência).
Por isso começo por desenhar e pintar.
Não me levem a mal. Não sou capaz de
o fazer de outra forma agora.
Vou pintar o que não compreendo, pin-tarei
tudo o que me distraí o pensa
mento, para ver se a pintar desmistifi-co
e desmistificando exorcizo essa for-ça
magnética que me agarra obsessi-vamente
à forma das coisas.
Pensando menos sentirei talvez mais.
Mais perto estarei talvez do essencial,
do conteúdo. Mais perto da verdade,
quem sabe, da consciência, do cora-ção…
de Ti!
iria integrar se tivesse “o copo meOM,
Aum, o som do movimento do Univer-so,
o eco do seu início distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par-tículas
do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi-dade
matemática da Teoria das Cor-das.
No meu íntimo, no fundo da minha al-ma
(será que esta existe?)procuro con-tudo
e apenas ouvi-lo: este silêncio
que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sin-to-
lhe, por momentos, essa nesgazinha
de grandiosidade de que todos somos
parte.
Já me explicaram que maís o conse-guiria
integrar se tivesse “o copo me
M, Aum, o som do movimento do Uni-verso,
o eco do seu início distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par-tículas
do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi-dade
matemática da Teoria das Cor-das.
No meu íntimo, no fundo da minha al-ma
(será que esta existe?)procuro con-tudo
e apenas ouvi-lo: este silêncio
que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sin-to-
lhe, por momentos, essa nesgazinha
de grandiosidade de que todos somos
parte.
Já me explicaram que maís o conse-guiria
integrar se tivesse “o copo
meM, Aum, o som do movimento do
Universo, o eco do seu início distan-te…
Vivo na era da descoberta do Bosão de
Higgs, do pleno, seguro e consolidado
funcionamento do Acelerador de Par-tículas
do CERN, já numa época pós
Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexi-dade
matemática da Teoria das Cor-das.
No meu íntimo, no fundo da minha al-ma
(será que esta existe?)procuro con-tudo
e apenas ouvi-lo: este silêncio
que é também um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sin-to-
lhe, por momentos, essa nesgazinha
de grandiosidade de que todos somos
parte.
Já me explicaram que maís o conse-guiria
integrar se tivesse “o copo me
nos cheio”.
É mais fácil encher um copo vazio do
que fazer entrar o que seja numa mal-ga
(amálgama!) a transbordar.
A dura tarefa que tenho hoje pela fren-te
é esvaziar-me desse caudal.
É minha essa tarefa apenas porque a
escolho.
Não sei se sou capaz, se estou à altura
28
31. Tenho a convicção de que a percepção
é apenas a porta de entrada para um
conhecimento maior que o entendi-mento
em si mesmo.
Sem o erro da expectativa, e a escolha
não assumida de que o vazio é neces-sário,
talvez seja a perda o despertar
necessário para a obrigatoriedade
sempre voluntária de abandonar o
“pouco” em detrimento do “tudo”, po-is
o que criamos será sempre pouco
quando comparado com o que foi cria-do
e acumulado antes de nós.
Poderá até nem ser este o caminho da
redenção, mas perder o mapa faz-nos
perceber que o acumular de informa-ção
não nos torna mais sábios;
cada estrada é uma incógnita até a
percorrermos por nós mesmos; saben-do
que nunca as percorreremos todas,
isso só nos dá mais tempo para apreci-armos
cada uma delas;
encaro a limitação temporal como a
maior dádiva que a vida nos pode dar;
a verdadeira superioridade face aos
demais seres;
NÒS SABEMOS que um dia mudare-mos
de estado; não interessa o como, o
para quê, nem mesmo o quando; ape-nas
sabemos que sendo talvez a única
verdade universal, irá acontecer.
Talvez no final as suspeitas sejam con-firmadas,
e só exista a solidão e uma
inesgotável e intrínseca cega vontade
de acreditar que somos peças de um
quadro maior que nós mesmos.
Talvez nem assim a vida faça sentido.
Talvez só exista um corpo que cami-nha
para o cansaço e para o envelhe-cimento.
Mas não é a maior tragédia de todas,
já nos termos encontrado e ainda as-sim
continuarmos perdidos?
“ Yesterday is history, tomorrow is a
mystery, today is a gift (…)” – Bill Kea-ne
Easier?
Pedaços essenciais de entendimento
encontram-se nos locais e nas pessoas
mais improváveis.
Estiveram eles sempre ali à espera de
ser descobertos?
Quem os criou, e à sua interpretação?
Como nos sentirmos gratos pela dádi-va,
independentemente da sua forma
e do seu conteúdo?
E se o entendimento é uma construção
cultural, como poderei apagar todos
os valores e começar de novo?
Olho à volta; sou o apogeu máximo da
minha própria existência;
sou os sonhos por realizar dos meus pa-is;
sou capaz de descrever o Mundo, ou
de o aniquilar.
Sou tão poderoso quanto os mosquitos
que vejo no pára-brisas.
Grita comigo;
Dá-me todas as palavras de ódio e dor
acumuladas até ficares vazio
Aponta-me o dedo, cerra os dentes,
franze as sobrancelhas, e acusa-me
mesmo que o raciocínio não faça sen-tido
Amaldiçoa-me pelas tuas escolhas er-radas,
deseja-me penitências sofridas
e eternas pelos teus pecados
Eu nada direi;
É através da minha imperfeição que
te reconheço como parte de mim e te
quero ver voar para longe desta lama
que te torna pesado
Ouvir-te-ei como quem tem a disponi-bilidade
que só a eternidade possui
e se me permitires, segurar-te-ei com
a mesma dedicação que um ramo segu-ra
a sua última folha
Todas as nuvens passam; mesmo as
que cobrem o Sol por muito tempo;
é a inevitabilidade da mudança; Por
isso dá-me tudo quanto tens dentro de
ti;
Porque quando te dás, és. Isso é Deus.
Isso é… esperança.
29
NÓS
SABEMOS
GRITA
COMIGO
EASIER
32. Entredia (1) by Jack CJ Simmons (2)
Matadouro nº1, Lisboa, 15:46 UTC
Esta monotonia do abate e desmanche
de carcaças só costumava ser inter-rompida
pela presença sempre hilari-ante
do Sr. Mendes, mas hoje é dia de
reuniões, pode não passar por cá. Mes-mo
assim, o dia tem sido diferente, ora
pela chuva que cai forte lá fora, ora pe-los
trovões que se ouvem ao longe.
Aqui os humanos reagem sempre ao
som dos trovões. Eu não. Primeiro rea-jo
à luz, e depois sim, ao som, mesmo
quando estão mais próximos. Mas é
normal, com a quantidade de sensores
de luz que tenho activos, a mínima alte-ração
da intensidade da luz aqui den-tro
é detectada. Mesmo assim, é inte-ressante
ver as reacções deles, surpre-endem
sempre um pouco. Não deixam
de espantar os humanos. Acho que faz
parte do nosso processo de aprendiza-gem.
Só os conhecendo melhor que eles
próprios, os podemos proteger. Engra-çado
como as coisas são, fui criado pa-ra
proteger a vida humana e acabo de
volta da morte.
A morte de animais, é verdade, mas
morte. E estas carcaças, vacas em vi-da
na sua grande maioria, e que não
são mais do que alimento para a raça
humana, não as protegemos. Protege-mos
uma raça mas não outras. Às ve-zes
interrogo-me como as coisas seri-am
se a EDT não nos tivessem criado.
Se tivéssemos sido criados por outra
organização, por outros humanos,
com outros objectivos, com outros valo-res.
Será que a humanidade ainda
existiria? Será que teríamos conse-guido
parar a primeira vaga? A ver-dade
é que há mais de cem anos que es-peramos
pela segunda vinda. Eles
sempre acreditaram que viriam mais.
Mais tarde, mais fortes, muito depois
de eles morrerem, é certo, mas mesmo
assim deixaram-nos de vigia, à espe-ra,
porque acreditavam. Ora aí está, o
Sr. Mendes acabou de entrar na sala.
Lá está ele a conferir tudo. E lá está o
Lemos a levar outro raspanete. Sem-pre
a fazer as coisas à maneira dele.
Depois ouve. Não é um trabalho difí-cil,
mas há humanos que não têm per-fil
para isto. Nem todos conseguem
desmanchar as carcaças sem que isso
os afecte, mesmo no longo prazo. Mais
cedo ou mais tarde, todos acabam por
desistir. É demasiadas horas, demasi-adas
carcaças, demasiado sangue, tor-na-
se demasiado pessoal. Não resis-tem.
Menos eu, claro. Já estou cá há do-ze
anos. Mas a mim não me afecta, é
verdade, mas eu não sou humano.
- Boa tarde, Sr. Mendes - digo-lhe an-tes
mesmo de chegar ao pé de mim.
- Jones - responde sem me olhar nos
olhos. Ainda vinha lá ao fundo e já vi-nha
com os olhos posto no meu traba-lho.
Acho que sonha um dia encontrar
um defeito no meu trabalho. Mal ele sa-be
que isso é impossível. Por norma
não conseguimos fazer diferente do
que nos é pedido. E mesmo entre nós,
quando é preciso fazer algo de dife-rente,
são precisos ultrapassar as dez
salvaguardas do nosso ser. Antes di-zíamos
core, mas desde que nos inte-grámos
na população que tivemos que
adaptar alguns termos. Dantes éra-mos
muito estranhos, mas depressa
aprendemos a ser mais humanos.
- Sempre perfeito, Jones - diz-me com
o ar habitual de quem não me conse-gue
perceber totalmente - Sempre per-feito.
Carry on - e afasta-se em direc-ção
à porta B, como sempre faz. Afi-nal,
as reuniões foram curtas hoje e
ainda conseguiu visitar-nos.
- Até amanhã, Sr. Mendes - respondo-lhe
monotonamente.
- Até amanhã - conclui de pronto, colo-cando
o habitual ponto final na con-versa.
Que todos os humanos fossem
como o Sr. Mendes, previsíveis, fiéis
aos seus hábitos, e o nosso trabalho era
muito mais fácil. Mas não são. Eles fa-lam
em livre-ar se tivesse “o copo me
arbítrio, nós chamamos-lhes o efecti-vamente
ser humano. Nunca estão
contentes com o que têm, querem sem-pre
mais, querem sempre saber mais.
E têm uma aptidão natural de se mete-rem
em sarilhos no processo. Desde o
último voo da EDT que não param de
tentar sair do planeta. Não sei duran-te
quanto tempo mais vamos conse-guir
manter as watch towers activas
sem perdas de vida. No dia em que des-cobrirem
que todos os nossos esforços
são pela preservação da vida huma-na,
de toda e qualquer a vida humana,
e enviarem um voo pilotado para fu-rar
o escudo e nós formos obrigados a
desligá-lo pela vida humana, perdere-mos
o controlo. Nesse dia, a raça hu-mana
será outra vez livre de explorar
o espaço, mas também ficará vulnerá-vel
às ameaças externas. E nós conti-nuaremos
a fazer os possíveis para
manter a vida humana por todos os
meios possíveis. Por falar em fazer os
possíveis pela vida humana, hoje é
dia de reunião. Costumamos reunir
uma vez por mês, mas este mês já é a se-gunda
e ainda estamos só a vinte e
um. As coisas não estão fáceis. A sema-na
passada foram lançados três shut-tles
pilotados de locais distintos para
ver se tínhamos a capacidade de os in-capacitar
a todos. E fizeram-no secre-tamente.
Não tivemos hipóteses de os
sabotar antes dos lançamentos. E on-tem
tivemos o primeiro a menos de um
quilómetro do escudo. Foi por uma
unha negra, como costumam dizer os
humanos, mais um segundo e atingia
o seu objectivo. Os humanos defendem
a desactivação do escudo e vão tentá-lo
por todos os lados e de todas as for-mas.
ENT
RED
IA
30
33. Cada sonda que enviam é destruída
quando atinge o escudo, mas eles con-tinuam
a achar que conseguem pene-trá-
lo com base em escudos próprios e
deflectores. Por um lado é bom, estão a
evoluir na defesa e na protecção. Há
inclusive entre nós, quem defenda que
no dia em uma sonda penetrar o escu-do
é o dia que a raça humana estará su-ficientemente
protegida para explo-rar
o espaço. Tenho pensado muito nis-so,
mas continuo sem ter uma opinião
formada.
Só espero que na reunião de hoje não
decidam desactivar já o escudo. Eu
sei que foi por pouco que não perdía-mos
uma vida humana, mas os huma-nos
ainda não estão preparados para
o espaço. O espaço é frio, longe e demo-rado.
E neste caso, inútil. Qualquer vi-agem
espacial que tenha um outro pla-neta
ou lua do nosso sistema solar co-mo
destino terá o mesmo problema que
agora: o escudo protector. Não podía-mos
permitir o estabelecer de bases
tão perto de nós aquando da primeira
vinda. E continuamos a não permitir.
Todos os planetas e luas deste sistema
estão protegidos. E portanto, permitir
a saída do planeta é permitir a entra-da
nos restantes. E se permitimos pa-ra
humanos, não podemos não deixar
de permitir para outras raças. Será de-masiado
complexo separar a raça hu-mana
das outras, e provavelmente de-masiado
tarde quando o fizermos. A
nossa evolução tecnológica já não é o
que era. O espirito humano desapare-ceu
da nossa equipa tecnológica, e so-zinhos
levamos mais tempo a estabele-cer
os objectivos e a atingi-los. Contu-do,
acredito no nosso trabalho e acre-dito
na raça humana. Gostava de ter
sido explorador, conhecer outros mun-dos,
outras raças. Gostava de me po-der
juntar aos humanos nesta aventu-ra
que se avizinha. Talvez um dia,
quem sabe.
Notas:
(1) Entredia é um advérbio que signi-fica
durante o dia, fora das horas da
refeição.
(2) Jack CJ Simmons escreve em Por-tuguês
sem respeitar o acordo orto-gráfico
de 1990.
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