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Fonte: IV Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação. O Oral, o Escrito e o Digital na
História da Educação, 2 a 5 de Abril de 2008. Porto Alegre, RS, Brasil.
Porto Alegre: Editora Unisinos.
ISBN 85-7431-103-0


                ESCOLA NORMAL DO CEARÁ: impasses de criação
                                    e a tônica reformista
                                                         Maria Goretti Lopes Pereira e Silva
A reconstrução histórica da primeira escola de formação de professores do Ceará,
durante estudos voltados para a produção da dissertação de mestrado intitulada A
ESCOLA NORMAL DO CEARÁ: luzes e modernidade contra o atraso na Terra da
Seca (1884-1922), levou-me a desvendar seu processo de construção de forma a
compreender as tensões próprias do momento sócio-histórico cearense.


Assim é que ao remontar às primeiras iniciativas de constituição da Escola
Normal da província, encontrei já no governo de José Martiniano Pereira de
Alencar, em 1837, demonstração do real interesse dos cearenses na formação de
seu professorado, quando referido presidente criou, pela Lei no 91 de 5 de
outubro, uma escola normal, que não veio a se efetivar em virtude das precárias
condições financeiras da província. Vale lembrar que a partir de 1834, com o Ato
Adicional, o governo central delegou às províncias a responsabilidade com a
instrução popular, eximindo-se completamente de assumir o ensino primário e,
por conseguinte, o ensino normal.


Retornando ao Ceará em 1840, para um segundo governo, Alencar centraliza
suas atenções às disputas políticas encetadas pelas oligarquias cearenses e,
novamente, não encontra condições favoráveis à fundação da tão sonhada escola
normal. Entretanto, o debate sobre a necessidade de formação do professorado
continuo, e as propostas de fundação de uma escola normal na Província
atravessaram quase todo o dezenove, vindo a se concretizar somente ao seu
final. Um dos principais debatedores da questão era o Senador Pompeu que, em
meados do século, alertava para as péssimas condições da instrução pública no
Ceará e da má preparação de seus professores. Segundo Castelo (1970) e Sousa
(s/d), ainda nas décadas de 1850 e 1860, os relatórios de presidentes e diretores
da instrução Pública continuavam afirmando que uma escola para a formação dos
professores cearenses era uma necessidade premente, mas que a província não
dispunha de condições financeiras para assumir tal despesa.


Frente a tais dificuldades, a Escola Normal do Ceará só viria a ser novamente
criada ao final da segunda metade do século XIX, com a Lei n o 1790 de 28 de
dezembro de 1878, que seria sancionada em 28 de dezembro de 1879 e teria o
lançamento da pedra fundamental somente em 1881, fato que mereceu ser
noticiado pelos principais jornais da época1.


Esperaria a sociedade cearense mais alguns anos pela fundação da Escola
Normal, pois essa só viria a ocorrer em 22 de março de 1884, nascendo, pois, a
Escola Normal cearense em fins do século de afirmação, como diz Cordeiro
(1997). Afirmação construída ao longo de uma história cheia de reveses, como a
instabilidade climática, as disputas de terra, as lutas ideológicas e a disputa de
poder tanto no nível nacional, quanto local entre os grupos constituídos que,
“buscavam a hegemonia local e projeção nacional” (Canezin, 1994: 9).


Fundada em princípios filosóficos e educacionais, defendidos por intelectuais da
época, como Thomaz Pompeu de Souza Brasil Filho, os professores José de
Barcellos e Amaro Cavalcanti, dentre outros, a Escola Normal                              do Ceará
concretiza, oficialmente, ao final do século XIX os anseios de igualdade, mesmo



             1
                Vale lembrar que a criação da Escola se dá em plena Grande Seca, no
             peíodo de 1877-1879, considerada a mais catastrófica de todos os tempos.
             O livro de Rodolfo Teófilo A Fome publicado pela primeira vez em 1890,
             relata com riqueza de detalhes as mazelas sofridas pelo sertanejo cearense
             ... A descrição de Rodolfo Teófilo , das cenas de vida e morte provocadas
             pelo flagelo que se abateu sobre o Ceará de 1877, não difere da realidade
             retratada pelas matérias jornalísticas publicadas no refrido ano. Em 1877,
             a seca torna-se o tema a ser explorado pela imprensa local tendo em vista
             a calamidade provocada por esta. O jornal O Cearense encontra-se quase
             que totalmente preenchido com notícias referente ao fato.
que fosse de uma “igualdade formal”, presentes na idéia de criação de uma
escola pública de formação de professores.


O curso destinava-se a pessoas de ambos os sexos, brasileiros ou estrangeiros,
que houvessem sido aprovados em exames em nível de conhecimento
correspondente ao ensino primário. Com uma organização curricular de cunho
universal e intelectualista, enfatizava o conteúdo das disciplinas restringindo a
formação docente à cadeira de Pedagogia.


Constava ainda da lei de criação da Escola, a garantia àqueles que adquirissem o
diploma da Escola Normal o ingresso no magistério por nomeação sem a
condição de submeter-se a concurso público.


Assim, os critérios de acesso à Escola Normal, segundo essa lei, permitiam a um
amplo espectro de pessoas, a candidatura à formação magistério, e buscavam
valorizar o Curso com a nomeação direta do normalista para o magistério público.


Vale ressaltar que ao longo das discussões acerca da necessidade de criação de
uma escola normal, ações também foram sendo desenvolvidas no sentido de
consolidar esse objetivo. Assim é que, em 1880, o professor Amaro Cavalcanti,
em viagem aos EUA, foi comissionado para estudar o “systema de instrucção
elementar”,   daquele   país   apresentando       amplo   e   diversificado   relatório
abrangendo o ensino desde o nível elementar até à formação de educadores no
Curso Normal.


A seguir, em 1881, o professor José de Barcellos, que já estivera na Bahia, em
1866, para estudar a organização da Escola Normal daquela Província, foi
enviado à Europa, onde iria “estudar os métodos e processos do ensino primário
aplicáveis à Pronvíncia” (Valdez, 1952: 170-5).
Fundada a Escola em 1884, essa passa a funcionar com base no Regulamento
da Instrução Pública de 1881, até que em 1885 teve expedido seu primeiro
Regulamento, em 26 de junho. Contudo, nasce a Escola Normal com prédio
próprio, isto é, um prédio construído especialmente para sua instalação, inclusive
com duas escolas anexas para a prática das professorandas, uma do sexo
feminino e outra do sexo masculino, segundo noticia o jornal O Cearense de 21 e
23 de março de 1884.


Conforme análise do arquiteto Machado (1988), mais de cem anos depois,
portanto, a arquitetura do prédio revela o ecletismo de estilos, que utilizam
materiais ornamentais, sinalizadores da modernidade, como o vidro e o ferro, e ao
mesmo tempo conserva ares de distinção e nobreza próprios dos tempos
coloniais.


É importante lembrar, como faz Nosella (1996), que a arquitetura do prédio
também traduz formas de pensar, formas de ver o mundo; traduz concepções de
sua época. Assim, o prédio da Escola Normal cearense já assumia ares de
distinção próprios daqueles que pertenciam ao mundo letrado.


Ao descrever o prédio da Escola Normal, os jornais nos oferecem outra
possibilidade de leitura, ou seja, do ponto de vista da relação desse espaço social
com o restante da sociedade, isto é, a separação entre o espaço da Escola e sua
vizinhança, feita através de muros e grades,                    [que] lhe confere ares de
“respeitabilidade e pretígio” próprios do mundo da ciência que só à escola
compete desvendar.


Em meio aos movimentos pela libertação da escravatura na Província, a
inauguração da Escola Normal constituiu-se “um augúrio do evento excepcional
que conferiria ao Ceará o honroso título de Terra da Luz” (Castelo, 1970: 195)2.

             2
               “... em 25 de março de 1884, a capital [Fortaleza] abriu o coração e a
             alma para receber a ansiada Declaração da Liberdade. ... Não era uma lei
             que se decretava, era uma Declaração de Direito da Liberdade. ... Era
É interessante salientar o fato da Escola Normal do Ceará ter mantida sua
continuidade de funcionamento desde que foi criada, diferentemente de tantas
outras escolas normais brasileiras, muito embora o afã reformista de seus
instituidores tenha lhe proporcionado inúmeras mudanças. Estas vão desde a
estrutura curricular, passando por alterações na duração do curso e de seu nome,
até à construção de um novo prédio em 1923.


As primeiras modificações surgem já em relação à lei de 1878, com a substituição
das cadeiras de Filosofia e Física e a introdução da cadeira de Ciências Naturais.


Apesar das modificações, o Curso, que se propunha a ser profissionalizante, tem
como base uma organização curricular propedêutica, centrada nas grandes áreas
de conhecimento, o que sugere a concepção de profissionalização do magistério
à época, que tinha por fundamento o domínio de conhecimentos universais.


Para seguir a trilha das reformas instituídas à Escola Normal cearense no período
enfocado por este trabalho, resgatei vários de seus regulamentos além de
consultar referências de autores da época em discussão. Muitas foram as
propostas de modernização do Curso neste período: 1885, 1889, 1896, 1899,
1911, 1918, 1922. Apesar da importância de se discutir as várias reformas, não se
pode perder de vista, como fator de relevância, as permanências, que se
consubstanciam fundamentalmente nos princípios filosóficos que norteavam a
sociedade da época.


Já no primeiro Regulamento, de 26 de junho de 1885, acrescenta-se uma nova
cadeira ao Curso; mais uma cadeira de formação geral, a de Francês, passando
seu currículo a constar de seis cadeiras: Geografia e História, Ciências Naturais,


             sobretudo uma mensagem de fé dirigida ao Brasil, incentivo para que
             cobrasse mais ânimo para obter – o que somente quatro anos mais faria –
             destruição da escravatura, traduzida na Lei Áurea de 1888 (Girão, 1984:
             171).
Matemática, Português, Francês e Pedagogia. Criou-se ainda, o cargo de Diretor
da Escola Normal, cuja “nomeação recaiu sobre o professor de Pedagogia e
metodologia, José de Barcellos, que no afanoso cargo não percebia nenhuma
remuneração”. (Valdez, s/d: 176).


Em 1889, pelo Regulamento de 9 de outubro, novas alterações são implantadas,
como a duração de três anos do Curso, antes de dois anos, a introdução do curso
preparatório e, aparecendo a Instrução Moral e Cívica, os trabalhos manuais,
música e desenho. Estabelece-se também a gratificação para Diretor.3


Pelo Regulamento de 3 de setembro de 1896, extingue-se o curso preparatório, o
Curso passa a ser de treze cadeiras, três a mais que o anterior, com a introdução
de “Noções de Litteratura”, “Gymnastica” e noções de Psicologia na cadeira de
Pedagogia. O ensino não poderia mais ser feito somente através da
memorização, por isso foram proibidas as apostilas e as “licções dictadas”, esse
deverá ser feito por meio das lições orais “seguidas de interrogações ou de
exercícios
práticos”. O ensino deverá ser, sempre que possível, intuitivo, das coisas. Em
relação ao corpo docente da Escola, estabelece que os professores serão
providos por concurso e que serão vitalícios. Nova reforma acontecerá em 1899,
e vem trazendo “ligeiras mudanças, dentro do mesmo quadro de comportamento,

             3
               Enquanto na Escola Normal, os trabalhos continuavam no ritmo de suas
             normatizações e reformas pedagógicas e administrativas, no Brasil a idéia
             de República ia se fortalecendo e encaminhando-se para sua implantação.
             No Ceará, a luta pelo poder ia se travando entre diferentes facções
             políticas que, longe de amparar-se ideologicamente nas novas idéias,
             buscavam formas antigas de barganhar o poder. Favorecidos pelo sistema
             federativo com uma maior autonomia na política local, “antigos grupos
             oligárquicos do Império ... continuam disputando entre si o controle do
             governo do Estado” (Porto, s/d: 34).
mostrando que se trata de um só organizador [José de Barcellos], que tenta,
experimenta, analisa e conclui visando uma finalidade – a formação segura e
eficiente do mestre.” (Sousa, s/d: 115).


Novo Regulamento surge em 1911, trazendo de volta o curso preparatório.
Novamente o cotidiano da Escola continua seu ritmo em meio às tensões político-
sociais vivenciadas pelos cearenses. Em 16 de julho de 1912, o Diretor Thomaz
Pompeu de Souza Brasil Filho acusa recebimento de ofício do Tenente Coronel
Marcos Franco Rabello que, em 14 do mesmo mês comunica haver assumido a
presidência do estado para o quadriênio de 1912-1916. Marcos Franco Rabello
sucedeu o governo de Antonio Pinto Nogueira Accioly que, após insurreição
popular, foi deportado para o Rio de Janeiro, na manhã de 25 de janeiro de 1912.
O acontecimento marcou o fim da oligarquia Accioly no Ceará e explica, o
afastamento de Thomaz Pompeu de Souza Brasil Filho, cunhado de Accioly, da
Diretoria da Escola Normal.


A sexta reforma da Escola Normal do Ceará tem origem com o projeto
regulamentar de João Hippolyto de Azevedo e Sá, e foi expedido em 14 de
novembro de1918. Por essa proposta, a Escola Normal passa a ser o palco das
novas idéias pedagógicas. No início do século XX, o debate pela modernização
do ensino recebia nova ênfase na reformulação curricular da Escola Normal do
Ceará, sob a influência da nascente industrialização, trazendo implicação direta
na formação da mulher cearense. Em fins dos anos 10, por ocasião de uma das
tantas reformas da Escola, seu currículo assume características tipicamente
modernas com a inclusão de disciplinas como “Dactylographia”, “Stenographia”,
Inglês e noções de escrituração mercantil”.


Com a I Guerra Mundial (1914-1918), há um maior desenvolvimento da indústria
nacional, em virtude da queda nas exportações dos países “envolvidos
diretamente no conflito”, desenvolvimento esse combatido pela facção ruralista
que insistia numa sociedade agrário-exportadora tendo no café sua principal base
de sustentação econômica “As oligarquias desejavam, a todo custo, segurar a
própria história!” (Ghiraldelli Jr., 1987: 26]. Contraditoriamente, a expansão
cafeeira gera o capital necessário ao incremento industrial que se manifesta,
principalmente, na indústria têxtil e alimentícia.


No campo educacional, as idéias escolanovistas se consubstanciam nas reformas
educacionais por todo o país, na década de 20. Tais idéias culminam, no Brasil,
no movimento que se denominou de “otimismo pedagógico”, caracterizado pela
“reestruturação interna das escolas, as mudanças dos conteúdos e métodos
pedagógicos, a introdução de técnicas pedagógicas condizentes com a moderna
psicologia, etc.” (Ghiraldelli Jr., 1987: 31).




No Ceará, na década de 1920, as novas idéias pedagógicas se manifestam e se
consubstanciam no fio condutor dos estudos encetados pelo curso de formação
de professores conduzido pela Escola Normal do Estado. Trazido por aqueles que
sentiam a necessidade de reforma do ensino, e que acreditavam que essa
deveria se dar à luz do novo pensamento pedagógico implementado através do
curso normal, tal pensamento aliado à ação especialmente dos professores da
Escola e de seu Diretor João Hippolyto de Azevedo e Sá, apoiados pela
presidência estadual, teve o poder de incrementar a formação de professores e
desencadear a expansão e aperfeiçoamento do ensino elementar através da
figura de Lourenço Filho4.


Com a reforma de 1922, a Escola Normal do Ceará ganha novo prédio e passa a
funcionar na parte de suas instalações inaugurada em 1923, na Praça Filgueira
de Melo. Essa reforma introduziu novos métodos de ensino e novos fundamentos


              4
               Sobre a Reforma de 1922, ver o estudo de Cavalcante (2000), onde a
              autora revela a descoberta de novos arquivos para uma releitura da
              reforma que ficou conhecida pela hisatoriografia brasileira como a
              Reforma Lourenço filho.
pedagógicos, além da Escola Modelo, o laboratório onde as normalistas
desenvolviam a pedagogia experimental.


A constituição da Escola Normal cearense, após a abertura de muitos arquivos,
mostrou-se um processo tortuoso, pontuado por inúmeras reformas e dificuldades
de concretização do ideário modernizador inscrito no projeto de criação,
manutenção, expansão daquela Escola de formação de professores.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA


ALVES, Joaquim. O Ensino Primário na primeira metade do século XX. Revista do
Instituto do Ceará, tomo LXVIII, 128-142, Fortaleza, 1900-1950.


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Reforma Educacional de 1922 no Ceará. Fortaleza, Edições UFC, 2000.


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XX, Secretaria da Cultura e Desporto, Coleção Teses Cearenses, Fortaleza, (s/d).


REIS FILHO, Casemiro dos. A educação e a ilusão liberal: origens do ensino
público paulista, Campinas, SP, Autores Associados, 1995


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1996.


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TAMBARA, Elomar. Profissionalização, escola normal, e feminilização: Magistério
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ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas (3): 35 - 57, abr. 1998.


VALDEZ, Alba. Uma grande Figura da História Educacional Cearense, In Revista
do Instituto do Ceará, Tomo LXII, pp. 166-179


JORNAIS


O Cearense, 11 de Fevereiro de 1877.
O Cearense, 11 de Novembro de 1877.
O Cearense, 20 de Dezembro de 1877.
O Cearense, 7 e 13 de Setembro de 1881.
Gazeta do Norte, 2 de outubro de 1881.
O Cearense, 2 de outubro de 1881.
O Cearense, 31 de Janeiro de 1884.
O Cearense, 8 de Fevereiro de 1884.
O Cearense, 10 de Fevereiro de 1884.
O Cearense, 19, 21 e 23 de março de 1884.
O Cearense, 15 e 17 de Abril de 1884.
O Cearense, 28 de Junho de 1884.
O Cearense, 14 de Dezembro de 1884.
O Povo, 22 de Março de 1934

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Escola normal do ceará 1884-1922

  • 1. Fonte: IV Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação. O Oral, o Escrito e o Digital na História da Educação, 2 a 5 de Abril de 2008. Porto Alegre, RS, Brasil. Porto Alegre: Editora Unisinos. ISBN 85-7431-103-0 ESCOLA NORMAL DO CEARÁ: impasses de criação e a tônica reformista Maria Goretti Lopes Pereira e Silva A reconstrução histórica da primeira escola de formação de professores do Ceará, durante estudos voltados para a produção da dissertação de mestrado intitulada A ESCOLA NORMAL DO CEARÁ: luzes e modernidade contra o atraso na Terra da Seca (1884-1922), levou-me a desvendar seu processo de construção de forma a compreender as tensões próprias do momento sócio-histórico cearense. Assim é que ao remontar às primeiras iniciativas de constituição da Escola Normal da província, encontrei já no governo de José Martiniano Pereira de Alencar, em 1837, demonstração do real interesse dos cearenses na formação de seu professorado, quando referido presidente criou, pela Lei no 91 de 5 de outubro, uma escola normal, que não veio a se efetivar em virtude das precárias condições financeiras da província. Vale lembrar que a partir de 1834, com o Ato Adicional, o governo central delegou às províncias a responsabilidade com a instrução popular, eximindo-se completamente de assumir o ensino primário e, por conseguinte, o ensino normal. Retornando ao Ceará em 1840, para um segundo governo, Alencar centraliza suas atenções às disputas políticas encetadas pelas oligarquias cearenses e, novamente, não encontra condições favoráveis à fundação da tão sonhada escola normal. Entretanto, o debate sobre a necessidade de formação do professorado continuo, e as propostas de fundação de uma escola normal na Província atravessaram quase todo o dezenove, vindo a se concretizar somente ao seu final. Um dos principais debatedores da questão era o Senador Pompeu que, em meados do século, alertava para as péssimas condições da instrução pública no
  • 2. Ceará e da má preparação de seus professores. Segundo Castelo (1970) e Sousa (s/d), ainda nas décadas de 1850 e 1860, os relatórios de presidentes e diretores da instrução Pública continuavam afirmando que uma escola para a formação dos professores cearenses era uma necessidade premente, mas que a província não dispunha de condições financeiras para assumir tal despesa. Frente a tais dificuldades, a Escola Normal do Ceará só viria a ser novamente criada ao final da segunda metade do século XIX, com a Lei n o 1790 de 28 de dezembro de 1878, que seria sancionada em 28 de dezembro de 1879 e teria o lançamento da pedra fundamental somente em 1881, fato que mereceu ser noticiado pelos principais jornais da época1. Esperaria a sociedade cearense mais alguns anos pela fundação da Escola Normal, pois essa só viria a ocorrer em 22 de março de 1884, nascendo, pois, a Escola Normal cearense em fins do século de afirmação, como diz Cordeiro (1997). Afirmação construída ao longo de uma história cheia de reveses, como a instabilidade climática, as disputas de terra, as lutas ideológicas e a disputa de poder tanto no nível nacional, quanto local entre os grupos constituídos que, “buscavam a hegemonia local e projeção nacional” (Canezin, 1994: 9). Fundada em princípios filosóficos e educacionais, defendidos por intelectuais da época, como Thomaz Pompeu de Souza Brasil Filho, os professores José de Barcellos e Amaro Cavalcanti, dentre outros, a Escola Normal do Ceará concretiza, oficialmente, ao final do século XIX os anseios de igualdade, mesmo 1 Vale lembrar que a criação da Escola se dá em plena Grande Seca, no peíodo de 1877-1879, considerada a mais catastrófica de todos os tempos. O livro de Rodolfo Teófilo A Fome publicado pela primeira vez em 1890, relata com riqueza de detalhes as mazelas sofridas pelo sertanejo cearense ... A descrição de Rodolfo Teófilo , das cenas de vida e morte provocadas pelo flagelo que se abateu sobre o Ceará de 1877, não difere da realidade retratada pelas matérias jornalísticas publicadas no refrido ano. Em 1877, a seca torna-se o tema a ser explorado pela imprensa local tendo em vista a calamidade provocada por esta. O jornal O Cearense encontra-se quase que totalmente preenchido com notícias referente ao fato.
  • 3. que fosse de uma “igualdade formal”, presentes na idéia de criação de uma escola pública de formação de professores. O curso destinava-se a pessoas de ambos os sexos, brasileiros ou estrangeiros, que houvessem sido aprovados em exames em nível de conhecimento correspondente ao ensino primário. Com uma organização curricular de cunho universal e intelectualista, enfatizava o conteúdo das disciplinas restringindo a formação docente à cadeira de Pedagogia. Constava ainda da lei de criação da Escola, a garantia àqueles que adquirissem o diploma da Escola Normal o ingresso no magistério por nomeação sem a condição de submeter-se a concurso público. Assim, os critérios de acesso à Escola Normal, segundo essa lei, permitiam a um amplo espectro de pessoas, a candidatura à formação magistério, e buscavam valorizar o Curso com a nomeação direta do normalista para o magistério público. Vale ressaltar que ao longo das discussões acerca da necessidade de criação de uma escola normal, ações também foram sendo desenvolvidas no sentido de consolidar esse objetivo. Assim é que, em 1880, o professor Amaro Cavalcanti, em viagem aos EUA, foi comissionado para estudar o “systema de instrucção elementar”, daquele país apresentando amplo e diversificado relatório abrangendo o ensino desde o nível elementar até à formação de educadores no Curso Normal. A seguir, em 1881, o professor José de Barcellos, que já estivera na Bahia, em 1866, para estudar a organização da Escola Normal daquela Província, foi enviado à Europa, onde iria “estudar os métodos e processos do ensino primário aplicáveis à Pronvíncia” (Valdez, 1952: 170-5).
  • 4. Fundada a Escola em 1884, essa passa a funcionar com base no Regulamento da Instrução Pública de 1881, até que em 1885 teve expedido seu primeiro Regulamento, em 26 de junho. Contudo, nasce a Escola Normal com prédio próprio, isto é, um prédio construído especialmente para sua instalação, inclusive com duas escolas anexas para a prática das professorandas, uma do sexo feminino e outra do sexo masculino, segundo noticia o jornal O Cearense de 21 e 23 de março de 1884. Conforme análise do arquiteto Machado (1988), mais de cem anos depois, portanto, a arquitetura do prédio revela o ecletismo de estilos, que utilizam materiais ornamentais, sinalizadores da modernidade, como o vidro e o ferro, e ao mesmo tempo conserva ares de distinção e nobreza próprios dos tempos coloniais. É importante lembrar, como faz Nosella (1996), que a arquitetura do prédio também traduz formas de pensar, formas de ver o mundo; traduz concepções de sua época. Assim, o prédio da Escola Normal cearense já assumia ares de distinção próprios daqueles que pertenciam ao mundo letrado. Ao descrever o prédio da Escola Normal, os jornais nos oferecem outra possibilidade de leitura, ou seja, do ponto de vista da relação desse espaço social com o restante da sociedade, isto é, a separação entre o espaço da Escola e sua vizinhança, feita através de muros e grades, [que] lhe confere ares de “respeitabilidade e pretígio” próprios do mundo da ciência que só à escola compete desvendar. Em meio aos movimentos pela libertação da escravatura na Província, a inauguração da Escola Normal constituiu-se “um augúrio do evento excepcional que conferiria ao Ceará o honroso título de Terra da Luz” (Castelo, 1970: 195)2. 2 “... em 25 de março de 1884, a capital [Fortaleza] abriu o coração e a alma para receber a ansiada Declaração da Liberdade. ... Não era uma lei que se decretava, era uma Declaração de Direito da Liberdade. ... Era
  • 5. É interessante salientar o fato da Escola Normal do Ceará ter mantida sua continuidade de funcionamento desde que foi criada, diferentemente de tantas outras escolas normais brasileiras, muito embora o afã reformista de seus instituidores tenha lhe proporcionado inúmeras mudanças. Estas vão desde a estrutura curricular, passando por alterações na duração do curso e de seu nome, até à construção de um novo prédio em 1923. As primeiras modificações surgem já em relação à lei de 1878, com a substituição das cadeiras de Filosofia e Física e a introdução da cadeira de Ciências Naturais. Apesar das modificações, o Curso, que se propunha a ser profissionalizante, tem como base uma organização curricular propedêutica, centrada nas grandes áreas de conhecimento, o que sugere a concepção de profissionalização do magistério à época, que tinha por fundamento o domínio de conhecimentos universais. Para seguir a trilha das reformas instituídas à Escola Normal cearense no período enfocado por este trabalho, resgatei vários de seus regulamentos além de consultar referências de autores da época em discussão. Muitas foram as propostas de modernização do Curso neste período: 1885, 1889, 1896, 1899, 1911, 1918, 1922. Apesar da importância de se discutir as várias reformas, não se pode perder de vista, como fator de relevância, as permanências, que se consubstanciam fundamentalmente nos princípios filosóficos que norteavam a sociedade da época. Já no primeiro Regulamento, de 26 de junho de 1885, acrescenta-se uma nova cadeira ao Curso; mais uma cadeira de formação geral, a de Francês, passando seu currículo a constar de seis cadeiras: Geografia e História, Ciências Naturais, sobretudo uma mensagem de fé dirigida ao Brasil, incentivo para que cobrasse mais ânimo para obter – o que somente quatro anos mais faria – destruição da escravatura, traduzida na Lei Áurea de 1888 (Girão, 1984: 171).
  • 6. Matemática, Português, Francês e Pedagogia. Criou-se ainda, o cargo de Diretor da Escola Normal, cuja “nomeação recaiu sobre o professor de Pedagogia e metodologia, José de Barcellos, que no afanoso cargo não percebia nenhuma remuneração”. (Valdez, s/d: 176). Em 1889, pelo Regulamento de 9 de outubro, novas alterações são implantadas, como a duração de três anos do Curso, antes de dois anos, a introdução do curso preparatório e, aparecendo a Instrução Moral e Cívica, os trabalhos manuais, música e desenho. Estabelece-se também a gratificação para Diretor.3 Pelo Regulamento de 3 de setembro de 1896, extingue-se o curso preparatório, o Curso passa a ser de treze cadeiras, três a mais que o anterior, com a introdução de “Noções de Litteratura”, “Gymnastica” e noções de Psicologia na cadeira de Pedagogia. O ensino não poderia mais ser feito somente através da memorização, por isso foram proibidas as apostilas e as “licções dictadas”, esse deverá ser feito por meio das lições orais “seguidas de interrogações ou de exercícios práticos”. O ensino deverá ser, sempre que possível, intuitivo, das coisas. Em relação ao corpo docente da Escola, estabelece que os professores serão providos por concurso e que serão vitalícios. Nova reforma acontecerá em 1899, e vem trazendo “ligeiras mudanças, dentro do mesmo quadro de comportamento, 3 Enquanto na Escola Normal, os trabalhos continuavam no ritmo de suas normatizações e reformas pedagógicas e administrativas, no Brasil a idéia de República ia se fortalecendo e encaminhando-se para sua implantação. No Ceará, a luta pelo poder ia se travando entre diferentes facções políticas que, longe de amparar-se ideologicamente nas novas idéias, buscavam formas antigas de barganhar o poder. Favorecidos pelo sistema federativo com uma maior autonomia na política local, “antigos grupos oligárquicos do Império ... continuam disputando entre si o controle do governo do Estado” (Porto, s/d: 34).
  • 7. mostrando que se trata de um só organizador [José de Barcellos], que tenta, experimenta, analisa e conclui visando uma finalidade – a formação segura e eficiente do mestre.” (Sousa, s/d: 115). Novo Regulamento surge em 1911, trazendo de volta o curso preparatório. Novamente o cotidiano da Escola continua seu ritmo em meio às tensões político- sociais vivenciadas pelos cearenses. Em 16 de julho de 1912, o Diretor Thomaz Pompeu de Souza Brasil Filho acusa recebimento de ofício do Tenente Coronel Marcos Franco Rabello que, em 14 do mesmo mês comunica haver assumido a presidência do estado para o quadriênio de 1912-1916. Marcos Franco Rabello sucedeu o governo de Antonio Pinto Nogueira Accioly que, após insurreição popular, foi deportado para o Rio de Janeiro, na manhã de 25 de janeiro de 1912. O acontecimento marcou o fim da oligarquia Accioly no Ceará e explica, o afastamento de Thomaz Pompeu de Souza Brasil Filho, cunhado de Accioly, da Diretoria da Escola Normal. A sexta reforma da Escola Normal do Ceará tem origem com o projeto regulamentar de João Hippolyto de Azevedo e Sá, e foi expedido em 14 de novembro de1918. Por essa proposta, a Escola Normal passa a ser o palco das novas idéias pedagógicas. No início do século XX, o debate pela modernização do ensino recebia nova ênfase na reformulação curricular da Escola Normal do Ceará, sob a influência da nascente industrialização, trazendo implicação direta na formação da mulher cearense. Em fins dos anos 10, por ocasião de uma das tantas reformas da Escola, seu currículo assume características tipicamente modernas com a inclusão de disciplinas como “Dactylographia”, “Stenographia”, Inglês e noções de escrituração mercantil”. Com a I Guerra Mundial (1914-1918), há um maior desenvolvimento da indústria nacional, em virtude da queda nas exportações dos países “envolvidos diretamente no conflito”, desenvolvimento esse combatido pela facção ruralista que insistia numa sociedade agrário-exportadora tendo no café sua principal base
  • 8. de sustentação econômica “As oligarquias desejavam, a todo custo, segurar a própria história!” (Ghiraldelli Jr., 1987: 26]. Contraditoriamente, a expansão cafeeira gera o capital necessário ao incremento industrial que se manifesta, principalmente, na indústria têxtil e alimentícia. No campo educacional, as idéias escolanovistas se consubstanciam nas reformas educacionais por todo o país, na década de 20. Tais idéias culminam, no Brasil, no movimento que se denominou de “otimismo pedagógico”, caracterizado pela “reestruturação interna das escolas, as mudanças dos conteúdos e métodos pedagógicos, a introdução de técnicas pedagógicas condizentes com a moderna psicologia, etc.” (Ghiraldelli Jr., 1987: 31). No Ceará, na década de 1920, as novas idéias pedagógicas se manifestam e se consubstanciam no fio condutor dos estudos encetados pelo curso de formação de professores conduzido pela Escola Normal do Estado. Trazido por aqueles que sentiam a necessidade de reforma do ensino, e que acreditavam que essa deveria se dar à luz do novo pensamento pedagógico implementado através do curso normal, tal pensamento aliado à ação especialmente dos professores da Escola e de seu Diretor João Hippolyto de Azevedo e Sá, apoiados pela presidência estadual, teve o poder de incrementar a formação de professores e desencadear a expansão e aperfeiçoamento do ensino elementar através da figura de Lourenço Filho4. Com a reforma de 1922, a Escola Normal do Ceará ganha novo prédio e passa a funcionar na parte de suas instalações inaugurada em 1923, na Praça Filgueira de Melo. Essa reforma introduziu novos métodos de ensino e novos fundamentos 4 Sobre a Reforma de 1922, ver o estudo de Cavalcante (2000), onde a autora revela a descoberta de novos arquivos para uma releitura da reforma que ficou conhecida pela hisatoriografia brasileira como a Reforma Lourenço filho.
  • 9. pedagógicos, além da Escola Modelo, o laboratório onde as normalistas desenvolviam a pedagogia experimental. A constituição da Escola Normal cearense, após a abertura de muitos arquivos, mostrou-se um processo tortuoso, pontuado por inúmeras reformas e dificuldades de concretização do ideário modernizador inscrito no projeto de criação, manutenção, expansão daquela Escola de formação de professores. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ALVES, Joaquim. O Ensino Primário na primeira metade do século XX. Revista do Instituto do Ceará, tomo LXVIII, 128-142, Fortaleza, 1900-1950. BONFIM, Manoel. O Brasil Nação: realidade da soberania brasileira, 2a ed., Rio de Janeiro, Topbooks, 1996. BARREIRA, Dolor. História da Literatura Cearense, Ed. do Instituto do Ceará, Fortaleza, 1986. CAMINHA, Adolfo (1867-1897). A Normalista. ABC, Fortaleza, 1999. CAMPOS, Eduardo. Capítulos de História da Fortaleza do séc. XIX (O Social e o Urbano), Fortaleza, Ed. UFC (PROED), 1985. CANEZIN, M. Teresa, LOUREIRO, Walderês N. A Escola Normal em Goiás, Goiânia, Editora da UFG, 1994. CORDEIRO, Celeste. Antigos e modernos: progressismo e reação tradicionalista no Ceará Provincial, São Paulo, Annablume, 1997. CASTELO, Placido A. História do Ensino no Ceará. Imprensa Oficial, Fortaleza, 1970
  • 10. COSTA, Cruz. Pequena História da República, 3a ed., São Paulo, Brasiliense, 1989. CAVALCANTE, Maria Juraci M. João Hippolyto de Azevedo e Sá: o espírito da Reforma Educacional de 1922 no Ceará. Fortaleza, Edições UFC, 2000. FÉRRER, F. Adegildo. Instituições de Educação Feminina em Fortaleza (19120- 1946), São Paulo, 1995 (mimeo). GIRÃO, Raimundo. Pequena História do Ceará, 4a ed. rev. e atual. Fortaleza, Edições UFC, 1984. GHIRALDELLI JR., Paulo. Educação e Movimento Operário, São Paulo, Cortez/Autores Associados, 1987. IANNI, Otávio. A Idéia de Brasil Moderno, 2a ed., São Paulo, Brasiliense, 1996. LE GOFF, Jacques. A História Nova. São Paulo, Martins Fontes, 1995. LOURENÇO FILHO, M. Bergström. Introdução ao estudo da Escola Nova: bases, sistemas e diretrizes da pedagogia contemporânea, São Paulo, Ed. melhoramentos, 12a ed., 1978. MACHADO, Antonio R. M. (s.t.), Arquitetura/UFC, Fortaleza, 1988, (mimeo). MENEZES, Antônio Bezerra. Descrição da Cidade de Fortaleza, Fortaleza, UFC, (s/d). MONARCHA, Carlos. Escola Normal da Praça: o lado noturno das luzes, São Paulo, Editora da Unicamp, 1999.
  • 11. MOTA, Aroldo. História política do Ceará, 1889-1930, Fortaleza, Stylus Comunicações, 1987. NOSELLA, P., BUFFA, E. Schola Mater: a antiga Escola Normal de São Carlos. São Carlos, EDUFSCar, 1996. PORTO, Eymar. Babaquara, chefetes e cabroeira: Fortaleza no início do século XX, Secretaria da Cultura e Desporto, Coleção Teses Cearenses, Fortaleza, (s/d). REIS FILHO, Casemiro dos. A educação e a ilusão liberal: origens do ensino público paulista, Campinas, SP, Autores Associados, 1995 REIS, José Carlos. A História, entre a Filosofia e a Ciência. São Paulo: ed. Ática, 1996. SAVIANI, Dermeval e outros. História e História da Educação. São Paulo, Autores Associados, 1998. SOUSA, J. Moreira. Estudo sobre o Ceará, MEC-INEP-CILEME, (s/d) SOUZA, Simone. História do Ceará. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 1995. TAMBARA, Elomar. Profissionalização, escola normal, e feminilização: Magistério sul-rio-grandense de instrução pública no século XIX. In: História da Educação. ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas (3): 35 - 57, abr. 1998. VALDEZ, Alba. Uma grande Figura da História Educacional Cearense, In Revista do Instituto do Ceará, Tomo LXII, pp. 166-179 JORNAIS O Cearense, 11 de Fevereiro de 1877.
  • 12. O Cearense, 11 de Novembro de 1877. O Cearense, 20 de Dezembro de 1877. O Cearense, 7 e 13 de Setembro de 1881. Gazeta do Norte, 2 de outubro de 1881. O Cearense, 2 de outubro de 1881. O Cearense, 31 de Janeiro de 1884. O Cearense, 8 de Fevereiro de 1884. O Cearense, 10 de Fevereiro de 1884. O Cearense, 19, 21 e 23 de março de 1884. O Cearense, 15 e 17 de Abril de 1884. O Cearense, 28 de Junho de 1884. O Cearense, 14 de Dezembro de 1884. O Povo, 22 de Março de 1934