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Os especialistas Reinhold Steinbeck e Edgard Stuber trazem
à tona obstáculos e vantagens que o Brasil oferece à adoção
do design thinking e apostam no futuro da metodologia
EExperimente formular uma
pergunta que desafie o status
quo e procure potencializar a
incerteza e a ambiguidade.
Embora contrariar hábitos e
padrões seja essencial à ino-
vação, você perceberá que o
exercício é difícil; vai contra a
natureza humana.
Entende-se, assim, por que o
design thinking vem se tornando
uma contribuição tão valiosa
para as empresas. A metodolo-
gia, relativamente recente, facili-
ta a geração de insights e estimula
a criatividade mais naturalmen-
te, com protótipos de baixa re-
solução e tudo feito de forma
colaborativa e com boa comu-
nicação no trabalho em grupos.
O que o design thinking faz
é viabilizar o que mais de
1,7 mil CEOs de diferentes
países estão esperando neste
exato momento de suas equi-
pes, segundo estudo recente
da IBM: criatividade, colabo-
ração e comunicação.
Apesar de o design thinking ge-
rar excelentes resultados justa-
mente no que as organizações
mais querem, ainda é pouco
adotado no Brasil, onde o méto-
do gerencial mais aplicado para
todas as circunstâncias continua
a ser o de reduzir desperdícios e
aumentar a eficiência operacio-
nal, tentando manter a qualida-
de de produtos e serviços.
O que nos afasta da metodo-
logia do design thinking?
PROBLEMAS-CHAVE
Trabalhando com equipes
de diversas companhias de di-
ferentes setores da economia,
percebemos alguns obstáculos
ReinholdSteinbeck e EdgardCharlesStuber
são sócios da firma de consultoria em inovação IntoActions.
O artigo foi escrito com exclusividade para HSM Management.
Opensamento
DO DESIGN
no Brasil
102 | edição 108
inovação|artigo
estratégiaeexecução
à introdução do design thinking
nas empresas brasileiras.
Um primeiro problema re-
corrente diz respeito a conci-
liar as rotinas diárias dos cola-
boradores com a abordagem
de projetos, algo fundamental
para o design thinking e mais di-
fícil em sistemas hierarquiza-
dos ou que ainda seguem uma
lógica de comando e controle.
O segundo empecilho-
-chave só seria resolvido com
a mudança de modelos men-
tais. As pessoas têm de sair do
pensamento no “modo au-
tomático”, justamente o que
lhes garante eficiência nas ta-
refas diárias, para usar o pen-
samento no “modo manual”,
que dá flexibilidade.
4 PRINCÍPIOS
O programa de pesquisa de
design thinking de Stanford, es-
cola pioneira na adoção do
método, aponta a relevância
de quatro princípios: rede-
sign, ambiguidade, fenômeno
social e comunicação.
A aplicação de cada um des-
ses princípios no Brasil sofre a
interferência de aspectos cultu-
rais –da cultura profissional, da
organizacional e da nacional.
Redesign
Muitas das inovações de sucesso que temos
atualmente no mercado surgiram de soluções de
problemas que se apresentaram no passado. É
por isso que, na fase inicial do projeto, a pesqui-
sa é tão importante: ela disponibiliza informações
que geram insights, e estes, por sua vez, levam a no-
vas soluções. A capacidade de agirmos com base
em observações e conhecimento adquirido é fun-
damental para a inovação.
Assim, é necessária a realização de muitas pes-
quisas de produtos e serviços encontrados atual-
mente no mercado. Pesquisas quantitativas de-
vem ser levadas em conta e somadas às pesquisas
qualitativas, que são compostas por observações
e entrevistas.
Essa fase demanda custos e tempo, o que mui-
tas vezes acaba inibindo os gestores brasileiros,
mas, como abordamos a inovação pelo processo
de aprendizado, o profundo entendimento do
problema e do espaço que ele ocupa é a base das
grandes soluções que o grupo alcançará.
Outro obstáculo está no fato de o design thinking
trabalhar com o pensamento integrativo, que
combina o uso da tradicional lógica racional, tão
utilizada pelas empresas, com o raciocínio intuiti-
vo. Como constatamos em repetidas ocasiões, o
raciocínio intuitivo é de aceitação mais difícil pe-
los executivos das organizações.
Uma terceira constatação é que existe, no Bra-
sil, uma predisposição inicial por apresentações
mais tradicionais e expositivas. No entanto, à me-
dida que as pessoas vão trabalhando em protóti-
pos e fazendo exercícios mais dinâmicos, elas pas-
sam a aceitar melhor o aprendizado experiencial.
Saibamaissobre
osautores
Reinhold Steinbeck
Alemão e com cidadania
norte-americana, trabalhou
com tecnologia, inovação e
educação por 17 anos na
Stanford University e por
dois anos na Apple.
Professor-visitante de
inovação da USP em 2010
e 2011, é sócio da firma de
consultoria IntoActions e
atua como embaixador do
programa global de inovação
pelo design de Stanford.
Edgard Charles Stuber
Brasileiro, trabalhou durante
30 anos como executivo
de empresas multinacionais
do setor de autopeças e
máquinas, em áreas como
pesquisa e desenvolvimento,
marketing, vendas,
planejamento e inovação.
Doutorando de filosofia,
ciência que serve de base a
suas pesquisas em inovação
e criatividade, é sócio da
IntoActions e pesquisador
de inovação.
REDESIGN,
AMBIGUIDADE,
FENÔMENO
SOCIAL E
COMUNICAÇÃO
SÃO AS CHAVES
DO MÉTODO
IStockphoto;lolAStuDIo
edição 108 | 103
Saiba mais sobre a IntoActions
A IntoActions,firma de consultoria
empresarial em inovação fundada por
Reinhold Steinbeck e Edgard Charles
Stuber em 2013,vem utilizando a
metodologia do design thinking em
empresas como 3M,Sabesp,Fundação
Telefônica,Centro Ruth Cardoso,
Social Good Brasil,Receita Federal,
Sesi SC,FundaçãoVanzolini,FEA-USP
e HSM Educação Executiva.Os dois
sócios se conheceram em Stanford
em 2011 por intermédio do professor
Larry Leifer,do curso de engenharia
mecânica,considerado um dos“pais”
do design thinking.Eles compartilham
a crença de que é necessária uma
metodologia centrada em pessoas
para resolver problemas complexos.
Fenômeno social
Peter Drucker tinha razão
quando dizia que a inovação
é um fenômeno social, não
tecnológico; por isso, o design
thinking coloca as pessoas no
centro de todas as atividades
e trabalha com grupos multi-
disciplinares.
No Brasil, temos vantagem
nisso: trabalhamos bem no
quesito da cooperação e con-
seguimos nos conectar com as
pessoas de maneira empática.
Então, não há obstáculos cul-
turais nesse caso? Não é bem
assim. Quando pedimos que
executivos observem e abor-
dem as pessoas em suas tarefas
diárias, porque a inovação de-
pende do contexto e pede que
se vá a campo, eles sentem des-
conforto. Estão acostumados
demais com estatísticas e pes-
quisas quantitativas.
Outro problema, de organi-
zações daqui e de fora, é o espa-
ço físico. Os layouts tradicionais
dos escritórios não estimulam a
criatividade. A boa notícia é
que ambientes mais flexíveis e
despojados estão surgindo.
Ambiguidade
A educação em geral, e a brasileira em especial,
não permite erros. A maioria dos participantes de
workshops e projetos tem muita dificuldade em
lidar com eles. Ocorre que erros são de suma im-
portância no processo de inovação.
Não estamos pregando que o fracasso seja in-
centivado, mas, no contexto do aprendizado, é
crucial que se erre rápido e se aprenda com o er-
ro, a fim de dar continuidade ao processo.
Revisitamos as fases diversas vezes ao longo do
processo, o que chamamos de “iteração”. Esco-
lhemos um caminho entre várias alternativas e,
caso este não ajude, iteramos, o que não pode ser
visto como desperdício de tempo e recursos.
Outra dificuldade que observamos nas em-
presas brasileiras diz respeito ao desconforto
com a incerteza, ampliado pela abordagem
sistêmica, e não linear, do design thinking. A in-
certeza vem do fato de que,
quando estamos resolvendo
um problema, ele está inseri-
do no presente e sua solução
estará no futuro.
Como a cultura brasileira
tem um pouco mais de dificul-
dade em aceitar isso, além das
restrições de recursos inerentes
a um projeto, os participantes
acabam se sentindo particular-
mente inseguros e desconfia-
dos. O antídoto usual é confiar
no processo, sabendo que faz
parte da solução passar pela
ambiguidade, mas, aqui, às ve-
zes há uma expectativa de que
a solução venha de um nível
hierárquico superior.
Outro momento em que os
integrantes apresentam difi-
culdade é na redefinição do
problema. É um grande desa-
fio para a maioria das pessoas,
não só brasileiros.
O design thinking investe muito
tempo na definição do real pro-
blema a ser resolvido –abrindo
possibilidades de inovação de
ruptura– e as pessoas tendem
a querer pular imediatamente
para a solução.
IStockphoto
inovação|artigo
104 | edição 108
Comunicação
A utilização de protótipos de baixa resolução é
muito poderosa para materializar ideias, melho-
rando a comunicação entre os membros do gru-
po e auxiliando-os a transmitir seu pensamento
aos prováveis usuários do produto ou serviço.
Prototipar com materiais simples é uma práti-
ca ainda pouco difundida nas organizações em
geral, mas já vemos os participantes dos projetos
compreenderem seu poder de comunicação.
Um aspecto que inspira cuidado, no entanto,
é o recebimento de feedback à ideia prototipada,
quando se trata de uma crítica. Todos temos di-
ficuldade em ouvir críticas e, na cultura brasilei-
ra, isso é particularmente acentuado. O remédio
é encorajar os participantes dos projetos a não se
apaixonar por suas ideias e a aprender a descartá-
-las com facilidade.
Outro problema está no medo que as corpora-
ções brasileiras geralmente têm de envolver, nos
eventos de ideação do design thinking, pessoas de
fora das fronteiras organizacionais, tanto clientes
como outros atores da cadeia de valor. Esse é um
paradigma a ser vencido em prol da cocriação,
tão poderosa na geração de novas alternativas pa-
ra a solução dos problemas mais complexos.
A ideação em si também sofre limitações em
nossa cultura. Alguns participantes se sentem in-
timidados pela presença de superiores nos brains-
tormings, o que inibe a geração de ideias menos or-
todoxas. Outros dedicam-se a vender as próprias
ideias, ou as de colegas próximos, em vez de focar
a geração de muitas ideias. Protótipos podem aju-
dar a reduzir esse efeito “nós contra eles”.
FAZENDO VIRAR ROTINA
Não podemos inovar o tempo
todo; são fundamentais para o ser
humano intervalos de estabilidade,
a fim de melhorar sua eficiência e
ter uma sensação de conforto.
Em outras palavras, as empresas
não têm de utilizar o design thinking
para tudo o que fazem; o que de-
vem fazer é deixá-lo ser um dos
processos que compõem o portfó-
lio organizacional para realizarem
seus propósitos, o que pode ser
aplicado quando houver um pro-
blema complexo na mesa.
Isso entendido, vemos grandes
oportunidades para o design thin-
king no Brasil, na medida em que
o mercado se tornar mais exigen-
te e os clientes demandarem me-
lhores experiências.
Uma porta de entrada para a
metodologia em nossas organiza-
ções é a da capacitação dos cola-
boradores para resolverem proble-
mas cada vez mais complexos, que
exigem mais criatividade –princi-
palmente a capacitação dos que
têm contato direto com os clientes:
o pessoal de vendas, marketing e
assistência técnica.
Ventos sopram a favor do design
thinking no País: um deles é o mal-
fadado “jeitinho brasileiro”, que
nos flexibiliza em relação a ou-
tras culturas nacionais. O histó-
rico custo Brasil também é uma
espécie de vantagem nossa nesse
campo; talvez nos tenha predis-
posto a desenvolver habilidades
importantes para o enfrentamen-
to de problemas complexos.
Por essas razões, o design thinking
pode vir a ganhar, no Brasil, a for-
ça que os movimentos da produ-
ção enxuta e da qualidade tiveram
aqui na década de 1980.
SAIBA MAIS
SOBRE O DESIGN
THINKING
Adotada por grandes
empresas,essa metodologia
de inovação consegue
gerar valor por meio de um
profundo entendimento
do real problema a ser
resolvido e da compreensão
das necessidades de
todos os públicos de
interesse envolvidos.
Há muitas maneiras de
aplicar o design thinking,mas
os especialistas Reinhold
Steinbeck e Edgard Stuber,
autores deste artigo,
sugerem a abordagem
como um processo
de aprendizado que se
desenrola em quatro fases,
não sucessivas e não lineares:
fase I:
entendimento do problema
fase II:
redefinição do problema
fase III:
geração de alternativas
fase IV:
testes das possíveis soluções
Leia mais sobre design thinking na
página 108,no trecho do novo
livro deAlexander Osterwalder.
edição 108 | 105

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  • 1. Os especialistas Reinhold Steinbeck e Edgard Stuber trazem à tona obstáculos e vantagens que o Brasil oferece à adoção do design thinking e apostam no futuro da metodologia EExperimente formular uma pergunta que desafie o status quo e procure potencializar a incerteza e a ambiguidade. Embora contrariar hábitos e padrões seja essencial à ino- vação, você perceberá que o exercício é difícil; vai contra a natureza humana. Entende-se, assim, por que o design thinking vem se tornando uma contribuição tão valiosa para as empresas. A metodolo- gia, relativamente recente, facili- ta a geração de insights e estimula a criatividade mais naturalmen- te, com protótipos de baixa re- solução e tudo feito de forma colaborativa e com boa comu- nicação no trabalho em grupos. O que o design thinking faz é viabilizar o que mais de 1,7 mil CEOs de diferentes países estão esperando neste exato momento de suas equi- pes, segundo estudo recente da IBM: criatividade, colabo- ração e comunicação. Apesar de o design thinking ge- rar excelentes resultados justa- mente no que as organizações mais querem, ainda é pouco adotado no Brasil, onde o méto- do gerencial mais aplicado para todas as circunstâncias continua a ser o de reduzir desperdícios e aumentar a eficiência operacio- nal, tentando manter a qualida- de de produtos e serviços. O que nos afasta da metodo- logia do design thinking? PROBLEMAS-CHAVE Trabalhando com equipes de diversas companhias de di- ferentes setores da economia, percebemos alguns obstáculos ReinholdSteinbeck e EdgardCharlesStuber são sócios da firma de consultoria em inovação IntoActions. O artigo foi escrito com exclusividade para HSM Management. Opensamento DO DESIGN no Brasil 102 | edição 108 inovação|artigo estratégiaeexecução
  • 2. à introdução do design thinking nas empresas brasileiras. Um primeiro problema re- corrente diz respeito a conci- liar as rotinas diárias dos cola- boradores com a abordagem de projetos, algo fundamental para o design thinking e mais di- fícil em sistemas hierarquiza- dos ou que ainda seguem uma lógica de comando e controle. O segundo empecilho- -chave só seria resolvido com a mudança de modelos men- tais. As pessoas têm de sair do pensamento no “modo au- tomático”, justamente o que lhes garante eficiência nas ta- refas diárias, para usar o pen- samento no “modo manual”, que dá flexibilidade. 4 PRINCÍPIOS O programa de pesquisa de design thinking de Stanford, es- cola pioneira na adoção do método, aponta a relevância de quatro princípios: rede- sign, ambiguidade, fenômeno social e comunicação. A aplicação de cada um des- ses princípios no Brasil sofre a interferência de aspectos cultu- rais –da cultura profissional, da organizacional e da nacional. Redesign Muitas das inovações de sucesso que temos atualmente no mercado surgiram de soluções de problemas que se apresentaram no passado. É por isso que, na fase inicial do projeto, a pesqui- sa é tão importante: ela disponibiliza informações que geram insights, e estes, por sua vez, levam a no- vas soluções. A capacidade de agirmos com base em observações e conhecimento adquirido é fun- damental para a inovação. Assim, é necessária a realização de muitas pes- quisas de produtos e serviços encontrados atual- mente no mercado. Pesquisas quantitativas de- vem ser levadas em conta e somadas às pesquisas qualitativas, que são compostas por observações e entrevistas. Essa fase demanda custos e tempo, o que mui- tas vezes acaba inibindo os gestores brasileiros, mas, como abordamos a inovação pelo processo de aprendizado, o profundo entendimento do problema e do espaço que ele ocupa é a base das grandes soluções que o grupo alcançará. Outro obstáculo está no fato de o design thinking trabalhar com o pensamento integrativo, que combina o uso da tradicional lógica racional, tão utilizada pelas empresas, com o raciocínio intuiti- vo. Como constatamos em repetidas ocasiões, o raciocínio intuitivo é de aceitação mais difícil pe- los executivos das organizações. Uma terceira constatação é que existe, no Bra- sil, uma predisposição inicial por apresentações mais tradicionais e expositivas. No entanto, à me- dida que as pessoas vão trabalhando em protóti- pos e fazendo exercícios mais dinâmicos, elas pas- sam a aceitar melhor o aprendizado experiencial. Saibamaissobre osautores Reinhold Steinbeck Alemão e com cidadania norte-americana, trabalhou com tecnologia, inovação e educação por 17 anos na Stanford University e por dois anos na Apple. Professor-visitante de inovação da USP em 2010 e 2011, é sócio da firma de consultoria IntoActions e atua como embaixador do programa global de inovação pelo design de Stanford. Edgard Charles Stuber Brasileiro, trabalhou durante 30 anos como executivo de empresas multinacionais do setor de autopeças e máquinas, em áreas como pesquisa e desenvolvimento, marketing, vendas, planejamento e inovação. Doutorando de filosofia, ciência que serve de base a suas pesquisas em inovação e criatividade, é sócio da IntoActions e pesquisador de inovação. REDESIGN, AMBIGUIDADE, FENÔMENO SOCIAL E COMUNICAÇÃO SÃO AS CHAVES DO MÉTODO IStockphoto;lolAStuDIo edição 108 | 103
  • 3. Saiba mais sobre a IntoActions A IntoActions,firma de consultoria empresarial em inovação fundada por Reinhold Steinbeck e Edgard Charles Stuber em 2013,vem utilizando a metodologia do design thinking em empresas como 3M,Sabesp,Fundação Telefônica,Centro Ruth Cardoso, Social Good Brasil,Receita Federal, Sesi SC,FundaçãoVanzolini,FEA-USP e HSM Educação Executiva.Os dois sócios se conheceram em Stanford em 2011 por intermédio do professor Larry Leifer,do curso de engenharia mecânica,considerado um dos“pais” do design thinking.Eles compartilham a crença de que é necessária uma metodologia centrada em pessoas para resolver problemas complexos. Fenômeno social Peter Drucker tinha razão quando dizia que a inovação é um fenômeno social, não tecnológico; por isso, o design thinking coloca as pessoas no centro de todas as atividades e trabalha com grupos multi- disciplinares. No Brasil, temos vantagem nisso: trabalhamos bem no quesito da cooperação e con- seguimos nos conectar com as pessoas de maneira empática. Então, não há obstáculos cul- turais nesse caso? Não é bem assim. Quando pedimos que executivos observem e abor- dem as pessoas em suas tarefas diárias, porque a inovação de- pende do contexto e pede que se vá a campo, eles sentem des- conforto. Estão acostumados demais com estatísticas e pes- quisas quantitativas. Outro problema, de organi- zações daqui e de fora, é o espa- ço físico. Os layouts tradicionais dos escritórios não estimulam a criatividade. A boa notícia é que ambientes mais flexíveis e despojados estão surgindo. Ambiguidade A educação em geral, e a brasileira em especial, não permite erros. A maioria dos participantes de workshops e projetos tem muita dificuldade em lidar com eles. Ocorre que erros são de suma im- portância no processo de inovação. Não estamos pregando que o fracasso seja in- centivado, mas, no contexto do aprendizado, é crucial que se erre rápido e se aprenda com o er- ro, a fim de dar continuidade ao processo. Revisitamos as fases diversas vezes ao longo do processo, o que chamamos de “iteração”. Esco- lhemos um caminho entre várias alternativas e, caso este não ajude, iteramos, o que não pode ser visto como desperdício de tempo e recursos. Outra dificuldade que observamos nas em- presas brasileiras diz respeito ao desconforto com a incerteza, ampliado pela abordagem sistêmica, e não linear, do design thinking. A in- certeza vem do fato de que, quando estamos resolvendo um problema, ele está inseri- do no presente e sua solução estará no futuro. Como a cultura brasileira tem um pouco mais de dificul- dade em aceitar isso, além das restrições de recursos inerentes a um projeto, os participantes acabam se sentindo particular- mente inseguros e desconfia- dos. O antídoto usual é confiar no processo, sabendo que faz parte da solução passar pela ambiguidade, mas, aqui, às ve- zes há uma expectativa de que a solução venha de um nível hierárquico superior. Outro momento em que os integrantes apresentam difi- culdade é na redefinição do problema. É um grande desa- fio para a maioria das pessoas, não só brasileiros. O design thinking investe muito tempo na definição do real pro- blema a ser resolvido –abrindo possibilidades de inovação de ruptura– e as pessoas tendem a querer pular imediatamente para a solução. IStockphoto inovação|artigo 104 | edição 108
  • 4. Comunicação A utilização de protótipos de baixa resolução é muito poderosa para materializar ideias, melho- rando a comunicação entre os membros do gru- po e auxiliando-os a transmitir seu pensamento aos prováveis usuários do produto ou serviço. Prototipar com materiais simples é uma práti- ca ainda pouco difundida nas organizações em geral, mas já vemos os participantes dos projetos compreenderem seu poder de comunicação. Um aspecto que inspira cuidado, no entanto, é o recebimento de feedback à ideia prototipada, quando se trata de uma crítica. Todos temos di- ficuldade em ouvir críticas e, na cultura brasilei- ra, isso é particularmente acentuado. O remédio é encorajar os participantes dos projetos a não se apaixonar por suas ideias e a aprender a descartá- -las com facilidade. Outro problema está no medo que as corpora- ções brasileiras geralmente têm de envolver, nos eventos de ideação do design thinking, pessoas de fora das fronteiras organizacionais, tanto clientes como outros atores da cadeia de valor. Esse é um paradigma a ser vencido em prol da cocriação, tão poderosa na geração de novas alternativas pa- ra a solução dos problemas mais complexos. A ideação em si também sofre limitações em nossa cultura. Alguns participantes se sentem in- timidados pela presença de superiores nos brains- tormings, o que inibe a geração de ideias menos or- todoxas. Outros dedicam-se a vender as próprias ideias, ou as de colegas próximos, em vez de focar a geração de muitas ideias. Protótipos podem aju- dar a reduzir esse efeito “nós contra eles”. FAZENDO VIRAR ROTINA Não podemos inovar o tempo todo; são fundamentais para o ser humano intervalos de estabilidade, a fim de melhorar sua eficiência e ter uma sensação de conforto. Em outras palavras, as empresas não têm de utilizar o design thinking para tudo o que fazem; o que de- vem fazer é deixá-lo ser um dos processos que compõem o portfó- lio organizacional para realizarem seus propósitos, o que pode ser aplicado quando houver um pro- blema complexo na mesa. Isso entendido, vemos grandes oportunidades para o design thin- king no Brasil, na medida em que o mercado se tornar mais exigen- te e os clientes demandarem me- lhores experiências. Uma porta de entrada para a metodologia em nossas organiza- ções é a da capacitação dos cola- boradores para resolverem proble- mas cada vez mais complexos, que exigem mais criatividade –princi- palmente a capacitação dos que têm contato direto com os clientes: o pessoal de vendas, marketing e assistência técnica. Ventos sopram a favor do design thinking no País: um deles é o mal- fadado “jeitinho brasileiro”, que nos flexibiliza em relação a ou- tras culturas nacionais. O histó- rico custo Brasil também é uma espécie de vantagem nossa nesse campo; talvez nos tenha predis- posto a desenvolver habilidades importantes para o enfrentamen- to de problemas complexos. Por essas razões, o design thinking pode vir a ganhar, no Brasil, a for- ça que os movimentos da produ- ção enxuta e da qualidade tiveram aqui na década de 1980. SAIBA MAIS SOBRE O DESIGN THINKING Adotada por grandes empresas,essa metodologia de inovação consegue gerar valor por meio de um profundo entendimento do real problema a ser resolvido e da compreensão das necessidades de todos os públicos de interesse envolvidos. Há muitas maneiras de aplicar o design thinking,mas os especialistas Reinhold Steinbeck e Edgard Stuber, autores deste artigo, sugerem a abordagem como um processo de aprendizado que se desenrola em quatro fases, não sucessivas e não lineares: fase I: entendimento do problema fase II: redefinição do problema fase III: geração de alternativas fase IV: testes das possíveis soluções Leia mais sobre design thinking na página 108,no trecho do novo livro deAlexander Osterwalder. edição 108 | 105