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Emoções
César Schirmer dos Santos
cesar.santos@ufsm.br
Departamento de Filosofia – UFSM
2016
“‘Emoção: Agitação ou distúrbio da mente; estado mental
veemente ou excitado.’ Também é uma governante poderosa e
irracional.”
– Fala do Criminologista do filme Rocky Horror Picture Show
Agito, distúrbio, excitação, irracionalidade
A importância das emoções
Alegria, autorrealização… as emoções positivas fazem a vida valer
a pena.
Vergonha, desespero… as emoções negativas tornam a vida um
inferno.
As emoções dão qualidade e significado às nossas existências.
Principais tipos de teorias filosóficas sobre as emoções
1. Emoções são redutíveis a sentimentos;
2. Emoções são redutíveis a desejos;
3. Emoções são redutíveis a juízos cognitivos e avaliativos
(crenças).
Cf. Ben-Ze’Ev, Aaron. 2004. “Emotions are not mere judgements”. Philosophy and
Phenomenological Research 68 (2): 450–57, p. 450.
Emoções como sentimentos
No cotidiano, emoções são sinônimos de sentimentos.
David Hume: somos escravos das paixões.
Adam Smith fundamenta as emoções sociais na simpatia.
Cf. Ben-Ze’Ev, Aaron. 2004. “Emotions are not mere judgements”. Philosophy and
Phenomenological Research 68 (2): 450–57, p. 450.
David Hume
As emoções são centrais para o caráter e para a ação, pois a razão
é uma escrava das paixões.
Podemos distinguir uma emoção de outra pelo sentimento
peculiar de cada uma.
Adam Smith sobre as emoções sociais
Altruísmo emocional.
Nos colocamos na pele dos outros.
Simpatia.
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
Altruísmo emocional
Mesmo os mais egoístas têm emoções altruístas.
Piedade, compaixão.
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
Nos colocamos na pele dos outros
Não temos experiência direta do que os outros sentem
(empirismo).
Imaginamos o que os outros sentem.
As variedades dos outros.
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
Imaginamos o que os outros sentem
Operação automática, irrefletida, involuntária.
O imaginado difere no grau, mas não na natureza, daquilo que é
sentido pelo outro.
Recolher um membro, proteger a cabeça… Nossas reações
corporais se explicam pelas emoções que imaginamos ser
sentidas pelo outro.
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
As variedades dos outros
Pessoas vivas, incluindo adultos, crianças, normais e loucos.
Pessoas fictícias da literatura, teatro e cinema.
Pessoas mortas.
Animais em geral, plantas.
A natureza como um todo, o cosmo.
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
Simpatia
“… nossa solidariedade com qualquer paixão.”
Automática para com emoções positivas (como o riso, a alegria).
Condicionada para com emoções negativas (como a raiva e a
fúria).
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
Simpatia com emoções positivas
Riso, alegria.
Instantânea, imediata.
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
Simpatia com emoções negativas
Raiva, fúria, ódio.
Condicionada ao conhecimento das causas, pois depende de nos
colocarmos no lugar do outro.
Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
Emoções como desejos
Há uma tradição que frisa o vínculo entre emoções e desejos.
Este vínculo seria até mesmo etimológico, pois o termo emoção
tem parentesco com os termos movimento, motivo, comoção.
Nesta tradição, as emoções estão aí para nos levar à ação. Ou seja,
as emoções têm um papel prático.
É a tradição de Spinoza e Damásio – e também do Descartes da
Sexta Meditação.
Cf. Ben-Ze’Ev, Aaron. 2004. “Emotions are not mere judgements”. Philosophy and
Phenomenological Research 68 (2): 450–57, p. 450.
Emoções como desejos
Descartes, Spinoza, Damásio
Utilidade, conatus, finalidade
Finalidade das emoções na modernidade
Nas teorias de Descartes (Sexta Meditação), Spinoza e Damásio,
as emoções têm como finalidade a autopreservação e o bem-estar
do organismo.
Darwin e Freud estão nas vizinhanças.
Regulação da vida
Emoções são mecanismos básicos de regulação da vida.
Emoções são biologicamente mais antigas do que os sentimentos.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
35.
Expressões do estado da vida
“… os sentimentos são a expressão do florescimento ou do
sofrimento humano, na mente e no corpo. … Os sentimentos
podem ser, e geralmente são, revelações do estado da vida dentro
do organismo. … a maior parte dos sentimentos são expressões de
uma luta contínua para atingir o equilíbrio …”
Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
15, grifo do autor.
Conatus, homeostasia
Homeostasia: (boa) regulação da vida. Conatus.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
37–42.
Homeostasia e avaliação da qualidade de vida
Reações homeostáticas são maneiras de avaliar as condições
internas e externas.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
43.
Homeostasia
Spinoza chama essas reações de apetites; quando acompanhados
de consciência, são desejos – conatus.
Nossos mecanismos automáticos de reação não buscam apenas a
sobrevivência. O Graal das emoções é a vida boa.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
43.
Bem-estar: real, aparente
Manipulamos sentimentos com drogas, alimentos, sexo, práticas
sociais, exercícios físicos, tudo o que tenha como meta o
bem-estar.
Digamos que uma dor esteja aí para sinalizar um perigo à
sobrevivência individual ou coletiva. Anestesiá-la é buscar o
próprio bem-estar, não a autopreservação.
Damásio: manipulação dos mapas cerebrais do próprio corpo.
Descartes, As Paixões da Alma
As Paixões da Alma, de Descartes, marcam o início do processo
moderno de investigação da alma como algo natural, no sentido
de vinculado ao corpo.
Esse longo processo só finda no século 19, quando a alma é
finalmente surrupiada dos teólogos pelos médicos.
Cf. Hacking, Ian. Múltipla Personalidade e as Ciências da Memória. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2000.
Bento de Spinoza
Para Spinoza, as emoções sinalizam um aumento ou diminuição
da capacidade de cada um de preservar a própria vida. As
emoções têm importância ética, pois uma vida boa é durável e
segura (o ideal de Hobbes). Entender o mundo gera emoções
positivas, pois aumenta o poder de autopreservação.
Emoções negativas que se originam do acaso e da ignorância. As
emoções não marcam nenhum conflito entre o corpo e a alma,
pois corpo e alma são dois aspectos de uma única realidade.
Spinoza leitor de Descartes
Nas Paixões da Alma, Descartes acerta no projeto, pois o
caminho para entender as emoções é investigar a união
mente-corpo.
Mas erra nos pressupostos: dualismo, livre-arbítrio.
O que Spinoza herda de Descartes
Emoções têm fundamento no corpo.
Início da naturalização dos sentimentos.
Início da laicização das emoções. É o filósofo, em vez do padre,
quem entende de emoções. Nos antigos (Aristóteles, estoicos) as
emoções fazem parte da esfera moral.
Spinoza sobre dois modos de conhecer
Posso conhecer algo pelo intelecto, o que é conhecer algo pelas
causas suficientes para sua produção, ou posso conhecer algo
pelo seu efeito no meu corpo, o que é conhecer por associação de
ideias.
A emoção é um sinal do efeito positivo ou negativo de algo sobre
meu corpo.
(Spinoza antecipa em parte a teoria James-Lange.)
Desejo como potência
De afirmar a vida
De produzir efeitos
Flutuação do ânimo
Afetos básicos: alegria, tristeza
Alegria: para cima
Amor: alegria + a ideia de algo (Spinoza, Ética 3, DA 6)
Tristeza: para baixo
Ódio: tristeza + a ideia de algo
Conatus
Tendência ou disposição ao movimento
Esforço para perseverar no ser
Apetite, vontade
Spinoza sobre o conatus
“Cada coisa, o quanto está em suas forças, esforça-se para
perseverar em seu ser.” (3p6)
“O esforço pelo qual cada coisa se esforça para perseverar em seu
ser não é nada além da essência atual da própria coisa.” (3p7)
Damásio sobre o conatus
Seres vivos são naturalmente aptos a regular a própria vida e
buscar a sobrevivência.
A busca de maior perfeição como alegria.
Tendências e esforços inconscientes.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
21.
Afetos
Modificações do corpo que favorecem/prejudicam esse corpo,
junto com a ideia dessas modificações (Spinoza, Ética 3def3).
Afetos são psicofísicos.
Os encontros do nosso corpo com outros corpos correspondem,
na alma, a expressões emocionais do aumento/diminuição da
potência de agir.
O afeto vivido no corpo é representado como ideia na mente.
Lógica associativa dos afetos
Por contiguidade (na memória)
Por temporalização
Transferência por semelhança
Por identificação
Pelas modalidades metafísicas
Associação afetiva por contiguidade (na memória)
Se a alma foi afetada simultaneamente por A e B, ao ser
posteriormente afetada (via percepção ou memória) apenas por
A ou por B, também será afetada (via memória) pelo outro.
A consciência se prende a associações de fundo inconsciente.
Elimina o livre-arbítrio, pois não escolhemos as associações se
formam (3p2e).
Um universo emocionalmente carregado
Os objetos sempre se dão à consciência vinculados a
alegria/tristeza, gerando amor/ódio.
Associação afetiva por temporalização
Se a alma percebeu A em associação com alegria/tristeza, então a
alma lembra de A com alegria/tristeza.
A ausência de A não modifica o afeto.
Caráter alucinatório dos afetos.
Torna o passado e o futuro tão emocionalmente carregados
quanto o presente.
Transferência por semelhança
Se a alma imagina que A é semelhante a B, e a alma sente
alegria/tristeza com A, então a alma sente a respectiva
alegria/tristeza com B.
Ambivalência: se a alma ama A e odeia B, e C é num aspecto
semelhante a A, noutro semelhante a B, então a alma ama e odeia
C.
Por identificação
Se amo/odeio A, amo/odeio todos os que identifico como do
mesmo tipo que A.
Contágio emocional: se A ama/odeia B, e eu me tomo por
semelhante a A, então amo/odeio B.
Pelas modalidades metafísicas
Necessidade, possibilidade, contingência.
Reação emocional maior quando imaginamos que a ação de
alguém é fruto do livre-arbítrio (3p49e).
Emoções e outros corpos – possibilidades
Aumento da potência para agir com atividade
Aumento da potência para agir com passividade
Redução da potência para agir com passividade
Bove, Laurent. 2010. Espinosa e a psicologia social: ensaios de ontologia política e
antropogênese. Vários tradutores. Belo Horizonte: Autêntica.
Aumento da potência com atividade
Aumento da potência via ideias adequadas.
O resultado é alegria, pois se dá atividade intelectual em vez de
passividade corporal.
Aumento da potência com passividade
Aumento da potência corporal via encontro feliz com outro
corpo.
O resultado é alegria, por aumento da potência relativamente ao
momento imediatamente anterior.
Redução da potência de agir com passividade
Impotência, passividade, tristeza: outros corpos diminuindo a
potência de agir do meu corpo.
Falsidade: ideias da imaginação em vez de ideias da razão.
A composição do indivíduo
Corpos são feitos de corpos. Chegamos a um indivíduo quando
um corpo opera de modo a buscar se autopreservar e aumentar
seu poder (conatus).
Indivíduos suprapessoais
Indivíduos subpessoais
Indivíduos suprapessoais: a sociedade
Alianças. Venho a fazer parte de um indivíduo mais complexo, o
qual converge para o mesmo efeito que é útil para minha
sobrevivência. Alegria coletiva.
Conflitos e confrontos. Outros indivíduos, os quais se dirigem a
efeitos contrários à minha sobrevivência, entram em choque
comigo. Eu mesmo posso estar subdividido. Tristeza coletiva.
Ciências sociais como física do choque entre os corpos.
A força dos afetos
“Um afeto não pode ser coibido nem suprimido a não ser por um
afeto contrário e mais forte do que o afeto a ser coibido.” (4p7)
Enfrentar uma emoção negativa e irracional com outra positiva e
racional mais forte.
Emoções como crenças
Uma abordagem bastante comum das emoções, na segunda
metade do século XX, as reduzia ou assimilava a crenças
racionais sobre desejos.
Abordagem cognitiva
Abordagem cognitiva
Uma boa parte das teorias contemporâneas trata das emoções em
termos cognitivos.
Por exemplo, minha raiva de alguém supõe minha crença que
essa pessoa fez algo errado. Sem essa crença, não se explica
minha raiva.
Os estoicos defendiam uma teoria das emoções nessa linha.
Emoções como juízos
No livro Upheavals of thought, de 2001, Martha Nussbaum
defende um neo-estoicismo sobre as emoções.
Emoções são juízos de valor com aspectos cognitivos. Esses
juízos são condições suficientes para haver as emoções.
Cf. Ben-Ze’Ev, Aaron. 2004. “Emotions are not mere judgements”. Philosophical and
Phenomenological Research 68 (2): 450–57, p. 451.
Um exemplo de emoção como crença
Quero ir na sessão das 20h de cinema.
Agora são 19h30, e levo uns vinte e poucos minutos para chegar
lá.
Assim sendo, tenho que sair agora – significando: Quero sair
agora, pois esta crença é suficiente para este desejo.
Amok
Palavra malaia, designa homicídios coletivos cometidos por
homens que perderam um amor, dinheiro ou honra.
Durante o ato, o homem está fora de si, sob o domínio da fúria.
Antes do ato, o homem delibera friamente sobre o que fazer.
Cf. Pinker, Steven. 1998. Como a mente funciona. Traduzido por Laura Teixeira Motta.
2oed. São Paulo: Companhia das Letras, p. 383–384.
A razão antes da fúria
Antes do ato, o homem em estado de amoque…
… reflete sobre sua situação;
… planeja cuidadosamente seu atentado.
Ideias, não paixões, nem a química do cérebro, precedem o
furioso ato homicida.
Cf. Pinker, Steven. 1998. Como a mente funciona. Traduzido por Laura Teixeira Motta.
2oed. São Paulo: Companhia das Letras, p. 383–384.
Emoções resistentes a razões
O problema é que, em alguns casos, crenças parecem não ser
nem necessárias nem suficientes para emoções.
Uma criança tem medo do escuro, daí sua mãe explica que não
há nada a temer. A criança entende a explicação, e a aceita, mas
continua sentindo medo do escuro.
Acrasia
Acrasia
O problema desse modelo, como mostrou Donald Davidson, é
que somos acráticos, temos vontade fraca.
Acrasia: ver que um caminho é preferível, concordar que esse
caminho é preferível, mas seguir por outro caminho.
Emoções como crenças e acrasia
No caso do raciocínio querer-ir-ao-cinema-sair-agora, podemos
aceitar suas premissas, podemos aceitar sua conclusão, podemos
aceitar que as premissas são suficientes para sustentar a
conclusão, e ainda assim podemos ficar paradinhos.
Isso indica muitas coisas.
Uma delas é que talvez não devamos reduzir emoções a crenças.
Dimensões das emoções
Avaliativa – Intencional – Temporal – Modal – Intensidade –
Polaridade – Expressão comportamental – Disponibilidade à
avaliação racional – A fronteira entre a natureza e a cultura – A
direção de ajuste – Passividade
Dimensão avaliativa das emoções
Emoções têm um aspecto avaliativo. Se alguém me elogia e eu
me sinto feliz, a felicidade que sinto é fruto de uma avaliação do
elogio como algo bom ou positivo para mim. Do mesmo modo,
se alguém me ofende, a raiva que sinto é fruto da avaliação do
insulto como algo negativo para mim.
Assim sendo, em uma emoção há uma avaliação (positiva,
negativa) de como a situação fica (boa, ruim) após certo evento.
Como opera a avaliação emocional?
Modelo judicativo: uma emoção é um juízo avaliativo pelo qual a
pessoa é plenamente responsável, tanto do ponto de vista
epistêmico quanto do ponto de vista ético.
Modelo instintivo: a nível subpessoal, uma percepção acarreta
uma avaliação de risco ou segurança, o que acarreta uma resposta
comportamental estereotipada. Esse processo não é disparado
por um juízo, mas pode ser modificado por um juízo.
Emoções salientam aspectos
Um aspecto do objeto apresenta-se como ameaçador, o que
dispara mecanismos subpessoais de autodefesa, e o sentimento
de medo.
No caso das emoções mais básicas, aquelas encontráveis em
todas as culturas, a atenção ao aspecto é automática, não requer
consciência. É obra do Sistema 1, não do Sistema 2.
A racionalidade pura não é suficiente para a ação
A noção de racionalidade se associa às noções de coerência e
consistência na esfera das crenças, e à noção de otimização dos
resultados na esfera da ação.
No entanto, essas são noções negativas, no sentido de que elas
servem para criticar as falhas de uma crença ou de um plano de
ação, mas são insuficientes enquanto guias positivos para a
fixação de uma crença ou um plano de ação.
Redução da quantidade de alternativas a escolher
Várias são as crenças coerentes e consistentes que podemos ter.
Por quais optar?
Vários são os planos de ação que otimizam os resultados. Qual
seguir?
A quantidade de alternativas a considerar pode ser infinita, e
infinito pode ser o tempo requerido para escolher através da
mera racionalidade.
Máquinas versus animais
Esse é um problema para máquinas, mas não para animais, pois
somos dotados de emoções.
As emoções dirigem e restringem nossa atenção, reduzindo
consideravelmente a quantidade de alternativas a levar em conta.
Disso resulta que somos capazes de escolher em uma quantidade
de tempo finita.
Dimensão intencional das emoções
O objeto, se houver, da emoção.
O objeto focado na emoção, não o objeto que causa a emoção.
Dimensão intencional das emoções e causalidade
É preciso diferenciar o objeto e a causa de uma emoção.
Uma mãe pode estar irritada com seu filho (o objeto da irritação)
não porque seu filho tenha causado a irritação, mas porque a
privação de sono causou a irritação.
Emoções sem dimensão intencional
Há emoções que têm um objeto, como a inveja e o remorso, e há
emoções que podem ou não ter um objeto, como a tristeza.
Ontologia do objeto intencional da emoção
O objeto intencional de uma emoção é aquilo que a torna
inteligível.
Pode ser uma coisa existente ou inexistente.
Os fervorosos seguidores de falsos ídolos são fanáticos, apenas da
inexistência dos seus deuses.
Objetos intencionais e definições de emoções
O tipo de objeto intencional de uma emoção é fundamental para
defini-la.
O ciúme é o ódio a outro que possui algo que você ama e é de
usufruto exclusivo, o amor é a alegria ligada à ideia do objeto que
te faz sentir melhor do que você estava antes etc.
Objetos intencionais e emoções apropriadas
O objeto intencional explica quando e porque uma emoção é
inapropriada.
Ter medo da própria sombra parece inapropriado, pois se trata
de um objeto inofensivo.
Dimensão temporal das emoções
Há emoções necessariamente vinculadas ao passado, presente ou
futuro.
Esperança, desespero: vinculação com o futuro.
Dimensão modal das emoções
Há emoções vinculadas ao caráter necessário ou contingente de
um evento.
Sentimos mais raiva quando achamos que a pessoa que nos
ofendeu podia ter feito diferente do que se sabemos que a pessoa
não teria podido ter agido de outro modo.
Intensidade das emoções
Uma emoção pode ser forte, ou fraca.
Reprovamos os outros por sentir a emoção certa na intensidade
errada (A. Smith).
Polaridade das emoções
Uma emoção pode ser polaridade positiva (alegria, prazer) ou
negativa (tristeza, dor).
Expressão comportamental das emoções
As emoções compartilhadas em várias culturas são fáceis de ler
no comportamento e difíceis de ser fingidas.
Disponibilidade à avaliação racional
Uma emoção expressa no comportamento e transparente para S
pode ser avaliada racionalmente por S.
A psicanálise se ocupa de emoções indisponíveis à avaliação
racional. Suas técnicas buscam a transparência e a expressão no
comportamento.
Transparência/opacidade das emoções
Uma emoção é transparente para S se S é capaz de lê-la através
do comportamento ou outro indício. Uma emoção é opaca, caso
contrário.
S pode ser o próprio sujeito que sofre a emoção ou outra pessoa.
A psicanálise investiga as emoções opacas perturbadoras, suas
causas e seus tratamentos.
Relativismo cultural ou emoções universais?
A pesquisa de Ekman nos dá razões para crer que há um
pequeno número de emoções que são reconhecidas por todas as
pessoas em todas as culturas.
No entanto, muitas emoções são típicas de uma cultura, e
algumas estão muitíssimo bem localizadas na geografia e na
história.
Direção de ajuste
Uma crença tem uma direção de ajuste da-mente-ao-mundo, pois
a mente tem que se ajustar ao mundo.
Um desejo, no entanto, tem uma direção de ajuste do-mundo-
à-mente, pois o mundo tem que se adequar ao desejo.
Assim sendo, crenças são objetivas, enquanto desejos são
projetivos.
O problema de Eutifron
Uma visão cognitivista das emoções as assimila às crenças, não
aos desejos.
Assim sendo, voltamos ao problema de Eutifron, e é preciso que
o objeto da emoção seja objetivamente bom ou mau, louvável ou
reprovável.
Objetividade e projetividade
Objetividade: querer porque é bom.
Projetividade: é bom porque é desejado.
Assim sendo, na visão cognitivista, o desejável tem que ser
objetivamente desejável, e o indesejável tem que ser
objetivamente indesejável.
Passividade
Há um elemento de passividade em ao menos algumas emoções.
Nisso, as emoções são parecidas com as sensações. Não posso
escolher as sensações que tenho, e (ao menos em parte) não
posso escolher as emoções que tenho.
Não se observa o mesmo tipo de passividade nas crenças, pois
tenho que buscar crer no que é verdade, e ter crenças coerentes.
Questões filosóficas sobre as emoções
Questões ontológicas
Questões éticas e políticas
Questões epistemológicas
Questões ontológicas
Diferentes teorias das emoções propõem diferentes ontologias
das emoções, o que leva a disputas ontológicas sobre o que as
emoções são, se é que elas são alguma coisa.
Ontologia das emoções. Emoções podem ser:
Processos fisiológicos
Percepções de processos fisiológicos
Comportamentos
Juízos avaliativos (automáticos ou pessoais)
Fatos sociais
(Talvez todas as anteriores.)
Tipos de entes
Substâncias
Propriedades
Eventos, incluindo fatos
Processos
Uma emoção é uma substância?
Alguns povos transformaram emoções em divindades. Vênus, por
exemplo.
Substância: ente capaz de sobreviver à mudança (ganho ou perda
de propriedades).
Emoções parecem ser mudanças de substâncias, não substâncias.
Substâncias são indivíduos. Emoções parecem ser ocorrências
(tokens) ou tipos (types) de mudanças que se dão em indivíduos.
Uma emoção é uma propriedade?
Propriedade: ente que (na leitura imanentista das propriedades)
é ou (na leitura transcendentista das propriedades) se manifesta
espaçotemporalmente em (imanentismo) ou através de
(transcendentismo) outro ente.
Emoções como propriedades. De quais entes? Animais. Mas
talvez máquinas possam vir a ter emoções. Então, emoções como
propriedades de indivíduos dotados de certos tipos de almas.
Uma emoção é um evento?
Um evento é um indivíduo quadridimensional, isto é, localizado
no espaço-tempo.
Há tipos de eventos: shows de rock, choros, euforias etc.
Fatos podem ser entendidos como eventos. Fato: que estou
alegre, que tenho esperança etc.
Uma emoção é um processo?
Processo: evento estruturado em etapas.
Etapa anterior é condição necessária de etapa posterior. Nascer,
adolescer, morrer etc.
Problema ontológico e motivação (questão de método)
As emoções são tão complexas que é difícil, e talvez pouco
iluminador, simplesmente dizer que uma emoção é uma
propriedade, um evento ou um processo.
Talvez o melhor ponto de partida seja motivar a classificação
ontológica da emoção.
O poder explicativo é uma boa motivação.
Proposta de metodologia
Distinguir entre níveis de explicação.
Uma explicação é um porquê. Explicações diferentes podem
conviver sem conflito, desde que pertençam a diferentes extratos
explicativos.
Modelo proposto: os três níveis explicativos de David Marr.
Marr, David. 1982. Vision. New York:
W.H.Freeman & Co.
Ao lado, a capa da reedição de 2010.
Níveis de explicação
Nível computacional/semântico (finalidade, objetivo)
Nível algorítmico/sintático (esquema
input-processamento-output)
Nível físico (implementação, realização)
McClamrock, Ron. 1991. “Marr’s three levels: A re-evaluation”. Minds and
Machines 1 (2): 185–96. doi:10.1007/BF00361036, p. 189.
Emoções no nível computacional/semântico
Qual o objetivo das emoções?
Que estratégia pode ser adotada para se chegar ao objetivo?
Por que emoções são apropriadas para chegar ao objetivo?
Qual o objetivo ou finalidade das emoções?
Antigos versus modernos
Alguns modernos notáveis
Bem-estar aparente
Meta das emoções na antiguidade e na modernidade
Filosofia antiga: autorrealização, felicidade, florescimento
(Aristóteles, Ét. Nic.; obras de P. Hadot sobre a filosofia antiga).
Filosofia moderna: autopreservação, conatus, instinto de
sobrevivência, realização do desejo.
Nível algorítmico/sintático
Os processos que permitem a realização da meta.
Um comportamento de fuga, por exemplo, é um meio de realizar
a meta da autopreservação em uma situação de perigo que não
pode ser enfrentado sem risco injustificado à integridade do
organismo.
Esquema input-processamento-output.
Emoções no nível algorítmico/sintático
Como a estratégia de chegar ao objetivo da autopreservação via
emoções pode ser implementada?
Quais os inputs que produzem emoções? Quais os outputs de um
computação emocional? Qual o algoritmo que transforma os
inputs em outputs?
Esquema input-processamento-output
Input: um evento externo ou interno manifestado no próprio
corpo. Ver uma cobra, por exemplo.
Processamento: arranjos fisiológicos para realizar um esquema
estereotipado e automático de resposta. Taquicardia, por
exemplo.
Output: comportamento de fuga ou luta. Correr na direção
contrária àquela da cobra, por exemplo.
Damásio sobre emoções e sentimentos
Emoção é diferente de sentimento.
Emoção é expressão corporal pública.
Sentimento é evento mental privado.
A emoção é filogeneticamente anterior ao sentimento.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras.
Fundamento da distinção entre emoção e sentimento
A impossibilidade de exprimir uma emoção acarreta a
incapacidade de ter o sentimento correspondente, mas alguns
doentes incapacitados de certos sentimentos ainda podem
exprimir as emoções correspondentes.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
13–14.
Processo emoção-sentimento
“As emoções ocorrem no teatro do corpo. Os sentimentos
ocorrem no teatro da mente.” (Damásio 2004, 35)
Emoção: parte inicial, pública. Ações, movimentos manifestados
no corpo, no rosto, na voz, em comportamentos.
A mente como ideia do corpo
“O objeto da ideia que constitui a mente humana é o corpo, ou
seja, um modo certo da extensão, existente em ato, e nada outro.”
(Spinoza, Ética 2p13)
Há princípios naturais por detrás das manifestações paralelas da
mente e do corpo. Mapeamentos cerebrais do corpo.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
21.
Damásio sobre os sentimentos
Sentimentos são o fechamento privado do processo que se inicia
publicamente com a emoção.
Invisíveis para o público, tal como as imagens mentais. Privados.
Sentimentos são o pano de fundo da mente – a tonalidade afetiva
de cada momento.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
35.
Emoções precedem sentimentos
Nunca se observa um sentimento antes da respectiva emoção.
O que está escondido em nós, o sentimento, é o efeito da emoção
– não é a causa da emoção.
Sentimentos são sombras de emoções.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
36–37.
Biologia evolutiva
Emoções são evolutivamente anteriores a sentimentos. Emoções
são mais antigas do que cérebros.
Comportamentos de prazer e dor são evolutivamente anteriores
às experiências (sentimentos) de prazer e dor. A experiência de
prazer ou dor não é condição necessária do comportamento de
prazer ou dor.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
37–41.
Alguns comportamentos emotivos de seres muitíssimo
simples
Pulsões, fome e sede.
Motivações.
Comportamentos exploratórios, lúdicos e sexuais.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
41.
Entre os genes e o aprendizado
Reações mais simples são cortesia do genoma, reações mais
complexas exigem aprendizado.
A finalidade de todas essas reações é regular a vida.
Homeostasia: (boa) regulação da vida – conatus.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
37–42.
Emoções no nível físico da implementação
Como podem ser implementados fisicamente a computação da
autopreservação via emoções e o algoritmo que transforma
inputs em outputs?
Lesões cerebrais e ciência dos sentimentos
Pesquisa das emoções a partir de doenças neurológicas. Lesões
afetam input, processamento ou output.
Por exemplo, lesões que impossibilitam sentir vergonha ou
compaixão, mantendo intacta a capacidade de sentir alegria,
tristeza ou medo. Ou lesões que impossibilitam sentir medo,
mantendo intacta a capacidade de sentir compaixão ou vergonha.
De Damásio, António R. 2004. Em busca de
Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta.
São Paulo: Companhia das Letras, p. 168.
Hipóteses de Damásio
Lesões em certos setores do cérebro impossibilitam certas
emoções.
Diferentes setores cerebrais se ocupam de diferentes
sentimentos.
Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p.
13.
Nível físico
A mídia, o hardware.
A mídia das emoções é diferente em seres sem córtex e em seres
com córtex (A. Damásio).
Como o organismo realiza a meta.
Processamento subpessoal de informação e cumprimento de
comportamento esperado, por exemplo.
Uma emoção explicada em três níveis: medo
Nível da finalidade: o medo é uma emoção que, a partir de dicas
ambientais ou sinestésicas avaliadas como perigosas, dispara
comportamentos de fuga ou luta para autopreservação.
Nível do input-processamento-output: percepção → avaliação
como perigo → fuga ou luta.
Nível físico: um evento de fuga ou luta singular, localizado no
espaço-tempo.
Questões éticas
Como reduzir a proporção de obsoletas emoções
neolíticas/primatas/mamíferas/animais negativas operando na
minha vida hipster e urbana? (Exemplo: medo e raiva dos de fora
do meu grupo.)
Emoções são um obstáculo para a racionalidade? Ou será que as
emoções proporcionam um tipo de avaliação que é irrealizável
em tempo finito pela razão pura?
Emoções na política: o grande paradoxo
As pessoas com a vida mais destruída pelas políticas
conservadoras são as mais propensas a votar com os
conservadores.
Por quê?
O conatus e o conservadorismo
Nos EUA, há correlação entre votar pela desregulamentação
ambiental e ou morrer mais cedo, ou ter menos qualidade de
vida por causa da brutal poluição industrial literalmente no
quintal de casa.
Exatamente as pessoas que mais precisam de imunidades
(direitos) são aquelas que votam pela desregulamentação. O
resultado é o autossacrifício em nome do capitalismo.
Conservadorismo mata
Nos EUA, há mais mães adolescentes, mais divórcios, piores
condições de saúde, mais obesidade, mais mortes violentas, mais
bebês abaixo do peso e menos matrículas escolares nos estados
mais conservadores.
As pessoas dos estados mais conservadores dos EUA vivem, em
média, cinco anos menos do que as pessoas dos estados mais
liberais e progressistas.
Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books.
https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks-
20161021-86816.
Poluição e conatus nos EUA
Quanto mais conservador você é, mais provável é que você esteja
exposto à poluição.
Poluição ou mata, ou reduz a expectativa de vida, ou diminui a
qualidade de vida. Uma pessoa que vê a poluição como um
sacrifício exigido pelo capitalismo (não é) toma decisões a partir
dessa visão contraria seu próprio conatus.
Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books.
https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks-
20161021-86816.
Empresas e meio ambiente
Estudos da Organização para a Cooperação Econômica e
Desenvolvimento (OECD) mostram, conclusivamente, que a
regulamentação ambiental gera empregos. Ainda assim, sem
bases igualmente sólidas, conservadores do Tea Party preferem
acreditar no contrário.
Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books.
https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks-
20161021-86816.
Qualidade de vida dos conservadores dos EUA
Quanto mais conservador você é, pior é sua vida, e mais provável
é que você morra mais cedo do que os outros.
Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books.
https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks-
20161021-86816.
O grande paradoxo
As pessoas com a vida mais destruída pelas políticas
conservadoras são as mais propensas a votar com os
conservadores.
Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books.
https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks-
20161021-86816.
Tea Party
Misoginia
Homofobia
Desregulamentação ambiental
Racismo, xenofobia, islamofobia
Como prever se o eleitor vai de Trump?
Simples. Basta descobrir se ele é hostil às mulheres em geral.
Ressentimento contra pessoas do sexo feminino é um indicador
seguro de preferência por voto em Trump, contra Hillary.
Cf. Nelson, Libby. 2016. “Hostility toward women is one of the strongest predictors of
Trump support”. Vox. novembro 1.
http://www.vox.com/2016/11/1/13480416/trump-supporters-sexism.
Eleitores do Tea Party
Nos EUA, os eleitores típicos do Tea Party são homens, brancos,
velhos, cristãos, com baixa escolaridade.
Eles sabem que estão atrás dos outros brancos na escala social, e
esperam ser os próximos a ter a riqueza, sucesso e dignidade dos
outros brancos.
Inveja
“A Inveja é o Ódio enquanto afeta o homem de tal maneira que
se entristece com a felicidade do outro, e, inversamente,
regozija-se com o mal do outro.”
Spinoza, Ética 3, DA 33.
“Injustiça”
Mas daí eles veem que mulheres, pessoas de outras etnias,
pessoas mais novas, pessoas de outras religiões, pessoas com mais
escolaridade os ultrapassam.
E se sentem injustiçados.
Menos que gente
Mesmo animais, mesmo o meio ambiente recebe mais atenção
do que eles.
Isso os faz sentir-se muitíssimo diminuídos.
Valores
Além disso, eles são criticados por causa da interpretação estreita
dos valores cristãos. A essa interpretação eles vinculam
sentimentos identitários valiosíssimos.
São esses valores que os fazem discriminar mulheres, pessoas de
outras etnias, pessoas de outras religiões, pessoas com outras
orientações sexuais.
Mas eles querem ser valorizados, mesmo desprezando os outros.
Voto emocional
O resultado dessa conturbada sopa biográfica é o voto não no
próprio interesse econômico, mas no próprio interesse
emocional.
Isto é, o voto que propõe colocar mulheres, pessoas de outras
etnias e pessoas de outras religiões lá atrás.
Mesmo quando esse voto leva a menos qualidade de vida para si
mesmo.
Alvos emocionais
Os outros que estavam atrás e os ultrapassam são tratados como
os culpados pela sua vida ruim e curta dos brancos cristãos de
baixa escolaridade, não as empresas e políticos que deles se
aproveitam. Quem tem discurso contra esses outros leva o voto,
ainda que esse voto diminua o tempo e a qualidade de vida do
eleitor.
Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books.
https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks-
20161021-86816.
Questões epistemológicas
O conhecimento das nossas próprias emoções é uma questão
problemática, pois, apesar de parecer que estamos
imediatamente cientes das nossas próprias emoções, nada tem
mais poder de nos levar ao autoengano do que nossas próprias
emoções.
As múltiplas fontes do autoconhecimento emocional
Autodetecção, introspecção
Autoformatação, autoconstituição
Autoexpressão, comportamento
Inferência teórica, descoberta via terapia
Cf. Schwitzgebel, Eric. 2012. “Introspection, what?” In Introspection and consciousness,
organizado por Declan Smithies e Daniel Stoljar, p. 29–48. Oxford: Oxford University
Press, p. 36–37.
Autodetecção (propriocepção) e inferência teórica
Sentimento da posição do próprio corpo: se vejo uma cobra e
sinto meu corpo parado, então não tenho medo.
Sentimento de impulsos: se vejo uma cobra e não sinto vontade
de fugir, então não tenho medo.
Cf. Schwitzgebel, Eric. 2012. “Introspection, what?” In Introspection and consciousness,
organizado por Declan Smithies e Daniel Stoljar, p. 29–48. Oxford: Oxford University
Press, p. 36–37.
Autoformatação e autoexpressão
Digo que não tenho medo de cobras. Isso ajuda a formatar meu
sentimento.
Cf. Schwitzgebel, Eric. 2012. “Introspection, what?” In Introspection and consciousness,
organizado por Declan Smithies e Daniel Stoljar, p. 29–48. Oxford: Oxford University
Press, p. 36–37.
História da filosofia das emoções
Os clássicos
A pesquisa contemporânea
Os clássicos
Não há nada de surpreendente no fato de que alguns dos mais
importantes filósofos clássicos (Platão, Aristóteles, Hobbes,
Descartes, Spinoza, Hume) tenham proposto teorias muito bem
delineadas das emoções, nas quais as emoções são concebidas
como respostas a certos tipos de eventos que despertam interesse
ou preocupação no sujeito, provocando mudanças corporais e
motivando comportamentos característicos.
Teorias clássicas
Filosofia antiga: Platão, Aristóteles, estoicos.
Filosofia moderna: Descartes, Spinoza, Hume, Adam Smith
Platão
O que normalmente se diz, sobre a teoria das emoções de Platão,
é o seguinte:
Platão tinha uma teoria tripartite da alma. Partes intelectual,
desejante e emotiva. Essa teoria se mostra instável e
problemática.
O caso é um pouco mais complicado…
Annas, Julia. 2012.
Platão. Traduzido
por Marcio de Paula
S. Hack. Porto
Alegre: L&PM, p. 72.
Aristóteles
Para Aristóteles, as emoções são de grande importância para o
bem viver e o bem agir, pois essas duas coisas resultam do sentir
as emoções certas, na proporção certa, nas circunstâncias certas.
Estoicos
Para os estoicos, as emoções são juízos de valor sobre as coisas.
Esses juízos de valor são fontes de sofrimento.
De modo que, se pudéssemos extinguir as emoções (se
pudéssemos deixar de fazer tais juízos avaliativos…), nos
tornaríamos indiferentes, e felizes.
Terapia estoica
Ao ver seu filho, você julga que ele estará aí amanhã para
alegrá-lo. Esse juízo é o amor.
Você tem que se habituar a pensar que não está no teu poder
fazer com que seu filho esteja por perto amanhã. Você tem que
desaprender a amá-lo.
Assim, você será feliz.
A pesquisa contemporânea
Após um período de negligência, a investigação das emoções tem
prosperado nos nossos dias, e filósofos podem fazer pesquisas
frutíferas sobre o tema a partir de interações com investigadores
da psicologia, neurologia, biologia e economia.
As emoções e a vida mental – alguns modelos
Teoria do senso comum
Teoria James-Lange
Teoria composicional
Atomismo emocional
Teoria do contínuo emocional
Teoria da base biológica
Teoria do senso comum das emoções
Para o senso comum, uma emoção é um tipo de sentimento que
se diferencia qualitativamente das sensações (incluindo
propriocepção).
Emoções têm valor ético. Posso me ofender caso outro não
manifeste a emoção apropriada no grau apropriado no contexto
apropriado (A. Smith).
Teoria James-Lange das emoções
Atribuída a William James e Carl G. Lange
Emoções são nossa consciência de mudanças nas condições
fisiológicas relacionadas a funções motoras ou fisiológicas do
corpo.
Essa teoria tem Descartes, na Sexta Meditação, como precursor.
Além de Spinoza.
Exemplos da teoria James-Lange
Ao perceber alguém em perigo, várias respostas corporais se
iniciam em mim, e o medo é minha consciência dessas respostas
corporais.
Meu corpo responde à falta de açúcar, e a fome é minha
consciência dessa mudança corporal.
Meu corpo responde à falta de água, e a sede é minha
consciência dessa mudança corporal.
Insuficiência da teoria James-Lange
Apesar do poder explicativo dessa teoria, em alguns casos ela não
é suficiente para distinguir entre uma emoção e outra.
Se tudo o que temos é nossa resposta corporal – por exemplo, a
taquicardia – então pode ser que eu esteja apaixonado, ou
apavorado.
Teoria James-Lange e contexto
Ao que parece, também precisamos de elementos contextuais
para diferenciar as emoções umas das outras.
Mas, se é assim, não é suficiente descrever uma emoção como
consciência apenas da resposta corporal.
Teoria James-Lange e contágio emocional
Um elemento contextual importante parece ser as emoções
sentidas pelos outros ao redor.
Novamente, isso indica que não é suficiente descrever uma
emoção como a consciência apenas da resposta corporal.
Goldie e a teoria James-Lange das emoções
Há, no entanto, uma nova proposta, com vista ao retorno à teoria
da emoção como consciência da resposta corporal.
Peter Goldie propõe que se considere as respostas corporais
como carregadas de conteúdo intencional.
Assim sendo, as respostas corporais se ligam a contextos.
Emoções são nossa consciência dos nossos estados corporais
carregados de significado contextual.
Teoria composicional
Descartes e Spinoza defendem que há um número pequeno e
limitado de emoções básicas.
As outras emoções são compostas a partir das emoções básicas
mais outros elementos (p. ex. objeto, tempo, modalidade
metafísica).
Atomismo emocional
Cada emoção é simples e primitiva, em vez de composta por
outros elementos (outros estados ou eventos mentais, outros
objetos).
Teoria do contínuo emocional
As emoções formam um contínuo analisável em diversas
dimensões (p. ex. objeto, tempo, modalidade metafísica, nível de
excitação, intensidade, prazer ou dor).
Esse contínuo não pode ser fragmentado em partes, eventos ou
processos discretos.
Teoria biológica das emoções
Processos fisiológicos são condições necessárias de emoções.
Descartes, Sexta Meditação, como precursor.
As emoções mais básicas são respostas estereotipadas a
necessidades fisiológicas, de acasalamento, de abrigo e proteção
contra predadores e de sociabilidade.
Sistemas biológicos subpessoais orientam o organismo para a
satisfação de necessidades básicas como evitar predadores,
defender-se, buscar alimentos e cuidar da prole.
Ecletismo metodológico
No momento, não temos nenhuma razão para preferir um
modelo explicativo em detrimento de outro.
Isso nos abre a oportunidade para o ecletismo justificado com
respeito às teorias das emoções.
Agradecimentos
Aos alunos da disciplina de Filosofia da Mente do Curso de
Bacharelado em Filosofia da Universidade Federal de Santa
Maria do segundo semestre de 2016. Estas aulas foram
preparadas para vocês, e foram reformuladas a partir do
generoso retorno de vocês.
Uma versão atualizada destes slides está
disponível aqui.

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Emoções

  • 1. Emoções César Schirmer dos Santos cesar.santos@ufsm.br Departamento de Filosofia – UFSM 2016
  • 2. “‘Emoção: Agitação ou distúrbio da mente; estado mental veemente ou excitado.’ Também é uma governante poderosa e irracional.” – Fala do Criminologista do filme Rocky Horror Picture Show Agito, distúrbio, excitação, irracionalidade
  • 3. A importância das emoções Alegria, autorrealização… as emoções positivas fazem a vida valer a pena. Vergonha, desespero… as emoções negativas tornam a vida um inferno. As emoções dão qualidade e significado às nossas existências.
  • 4. Principais tipos de teorias filosóficas sobre as emoções 1. Emoções são redutíveis a sentimentos; 2. Emoções são redutíveis a desejos; 3. Emoções são redutíveis a juízos cognitivos e avaliativos (crenças). Cf. Ben-Ze’Ev, Aaron. 2004. “Emotions are not mere judgements”. Philosophy and Phenomenological Research 68 (2): 450–57, p. 450.
  • 5. Emoções como sentimentos No cotidiano, emoções são sinônimos de sentimentos. David Hume: somos escravos das paixões. Adam Smith fundamenta as emoções sociais na simpatia. Cf. Ben-Ze’Ev, Aaron. 2004. “Emotions are not mere judgements”. Philosophy and Phenomenological Research 68 (2): 450–57, p. 450.
  • 6. David Hume As emoções são centrais para o caráter e para a ação, pois a razão é uma escrava das paixões. Podemos distinguir uma emoção de outra pelo sentimento peculiar de cada uma.
  • 7. Adam Smith sobre as emoções sociais Altruísmo emocional. Nos colocamos na pele dos outros. Simpatia. Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
  • 8. Altruísmo emocional Mesmo os mais egoístas têm emoções altruístas. Piedade, compaixão. Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
  • 9. Nos colocamos na pele dos outros Não temos experiência direta do que os outros sentem (empirismo). Imaginamos o que os outros sentem. As variedades dos outros. Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
  • 10. Imaginamos o que os outros sentem Operação automática, irrefletida, involuntária. O imaginado difere no grau, mas não na natureza, daquilo que é sentido pelo outro. Recolher um membro, proteger a cabeça… Nossas reações corporais se explicam pelas emoções que imaginamos ser sentidas pelo outro. Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
  • 11. As variedades dos outros Pessoas vivas, incluindo adultos, crianças, normais e loucos. Pessoas fictícias da literatura, teatro e cinema. Pessoas mortas. Animais em geral, plantas. A natureza como um todo, o cosmo. Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
  • 12. Simpatia “… nossa solidariedade com qualquer paixão.” Automática para com emoções positivas (como o riso, a alegria). Condicionada para com emoções negativas (como a raiva e a fúria). Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
  • 13. Simpatia com emoções positivas Riso, alegria. Instantânea, imediata. Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
  • 14. Simpatia com emoções negativas Raiva, fúria, ódio. Condicionada ao conhecimento das causas, pois depende de nos colocarmos no lugar do outro. Cf. Smith, Adam. 2002. Teoria dos sentimentos morais. Traduzido por Lia Luft e Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 1ª parte, seção 1, capítulo 1.
  • 15. Emoções como desejos Há uma tradição que frisa o vínculo entre emoções e desejos. Este vínculo seria até mesmo etimológico, pois o termo emoção tem parentesco com os termos movimento, motivo, comoção. Nesta tradição, as emoções estão aí para nos levar à ação. Ou seja, as emoções têm um papel prático. É a tradição de Spinoza e Damásio – e também do Descartes da Sexta Meditação. Cf. Ben-Ze’Ev, Aaron. 2004. “Emotions are not mere judgements”. Philosophy and Phenomenological Research 68 (2): 450–57, p. 450.
  • 16. Emoções como desejos Descartes, Spinoza, Damásio Utilidade, conatus, finalidade
  • 17. Finalidade das emoções na modernidade Nas teorias de Descartes (Sexta Meditação), Spinoza e Damásio, as emoções têm como finalidade a autopreservação e o bem-estar do organismo. Darwin e Freud estão nas vizinhanças.
  • 18. Regulação da vida Emoções são mecanismos básicos de regulação da vida. Emoções são biologicamente mais antigas do que os sentimentos. Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 35.
  • 19. Expressões do estado da vida “… os sentimentos são a expressão do florescimento ou do sofrimento humano, na mente e no corpo. … Os sentimentos podem ser, e geralmente são, revelações do estado da vida dentro do organismo. … a maior parte dos sentimentos são expressões de uma luta contínua para atingir o equilíbrio …” Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 15, grifo do autor.
  • 20. Conatus, homeostasia Homeostasia: (boa) regulação da vida. Conatus. Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 37–42.
  • 21. Homeostasia e avaliação da qualidade de vida Reações homeostáticas são maneiras de avaliar as condições internas e externas. Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 43.
  • 22. Homeostasia Spinoza chama essas reações de apetites; quando acompanhados de consciência, são desejos – conatus. Nossos mecanismos automáticos de reação não buscam apenas a sobrevivência. O Graal das emoções é a vida boa. Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 43.
  • 23. Bem-estar: real, aparente Manipulamos sentimentos com drogas, alimentos, sexo, práticas sociais, exercícios físicos, tudo o que tenha como meta o bem-estar. Digamos que uma dor esteja aí para sinalizar um perigo à sobrevivência individual ou coletiva. Anestesiá-la é buscar o próprio bem-estar, não a autopreservação. Damásio: manipulação dos mapas cerebrais do próprio corpo.
  • 24. Descartes, As Paixões da Alma As Paixões da Alma, de Descartes, marcam o início do processo moderno de investigação da alma como algo natural, no sentido de vinculado ao corpo. Esse longo processo só finda no século 19, quando a alma é finalmente surrupiada dos teólogos pelos médicos. Cf. Hacking, Ian. Múltipla Personalidade e as Ciências da Memória. Rio de Janeiro: José Olympio, 2000.
  • 25. Bento de Spinoza Para Spinoza, as emoções sinalizam um aumento ou diminuição da capacidade de cada um de preservar a própria vida. As emoções têm importância ética, pois uma vida boa é durável e segura (o ideal de Hobbes). Entender o mundo gera emoções positivas, pois aumenta o poder de autopreservação. Emoções negativas que se originam do acaso e da ignorância. As emoções não marcam nenhum conflito entre o corpo e a alma, pois corpo e alma são dois aspectos de uma única realidade.
  • 26. Spinoza leitor de Descartes Nas Paixões da Alma, Descartes acerta no projeto, pois o caminho para entender as emoções é investigar a união mente-corpo. Mas erra nos pressupostos: dualismo, livre-arbítrio.
  • 27. O que Spinoza herda de Descartes Emoções têm fundamento no corpo. Início da naturalização dos sentimentos. Início da laicização das emoções. É o filósofo, em vez do padre, quem entende de emoções. Nos antigos (Aristóteles, estoicos) as emoções fazem parte da esfera moral.
  • 28. Spinoza sobre dois modos de conhecer Posso conhecer algo pelo intelecto, o que é conhecer algo pelas causas suficientes para sua produção, ou posso conhecer algo pelo seu efeito no meu corpo, o que é conhecer por associação de ideias. A emoção é um sinal do efeito positivo ou negativo de algo sobre meu corpo. (Spinoza antecipa em parte a teoria James-Lange.)
  • 29. Desejo como potência De afirmar a vida De produzir efeitos
  • 30. Flutuação do ânimo Afetos básicos: alegria, tristeza Alegria: para cima Amor: alegria + a ideia de algo (Spinoza, Ética 3, DA 6) Tristeza: para baixo Ódio: tristeza + a ideia de algo
  • 31. Conatus Tendência ou disposição ao movimento Esforço para perseverar no ser Apetite, vontade
  • 32. Spinoza sobre o conatus “Cada coisa, o quanto está em suas forças, esforça-se para perseverar em seu ser.” (3p6) “O esforço pelo qual cada coisa se esforça para perseverar em seu ser não é nada além da essência atual da própria coisa.” (3p7)
  • 33. Damásio sobre o conatus Seres vivos são naturalmente aptos a regular a própria vida e buscar a sobrevivência. A busca de maior perfeição como alegria. Tendências e esforços inconscientes. Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 21.
  • 34. Afetos Modificações do corpo que favorecem/prejudicam esse corpo, junto com a ideia dessas modificações (Spinoza, Ética 3def3). Afetos são psicofísicos. Os encontros do nosso corpo com outros corpos correspondem, na alma, a expressões emocionais do aumento/diminuição da potência de agir. O afeto vivido no corpo é representado como ideia na mente.
  • 35. Lógica associativa dos afetos Por contiguidade (na memória) Por temporalização Transferência por semelhança Por identificação Pelas modalidades metafísicas
  • 36. Associação afetiva por contiguidade (na memória) Se a alma foi afetada simultaneamente por A e B, ao ser posteriormente afetada (via percepção ou memória) apenas por A ou por B, também será afetada (via memória) pelo outro. A consciência se prende a associações de fundo inconsciente. Elimina o livre-arbítrio, pois não escolhemos as associações se formam (3p2e).
  • 37. Um universo emocionalmente carregado Os objetos sempre se dão à consciência vinculados a alegria/tristeza, gerando amor/ódio.
  • 38. Associação afetiva por temporalização Se a alma percebeu A em associação com alegria/tristeza, então a alma lembra de A com alegria/tristeza. A ausência de A não modifica o afeto. Caráter alucinatório dos afetos. Torna o passado e o futuro tão emocionalmente carregados quanto o presente.
  • 39. Transferência por semelhança Se a alma imagina que A é semelhante a B, e a alma sente alegria/tristeza com A, então a alma sente a respectiva alegria/tristeza com B. Ambivalência: se a alma ama A e odeia B, e C é num aspecto semelhante a A, noutro semelhante a B, então a alma ama e odeia C.
  • 40. Por identificação Se amo/odeio A, amo/odeio todos os que identifico como do mesmo tipo que A. Contágio emocional: se A ama/odeia B, e eu me tomo por semelhante a A, então amo/odeio B.
  • 41. Pelas modalidades metafísicas Necessidade, possibilidade, contingência. Reação emocional maior quando imaginamos que a ação de alguém é fruto do livre-arbítrio (3p49e).
  • 42. Emoções e outros corpos – possibilidades Aumento da potência para agir com atividade Aumento da potência para agir com passividade Redução da potência para agir com passividade Bove, Laurent. 2010. Espinosa e a psicologia social: ensaios de ontologia política e antropogênese. Vários tradutores. Belo Horizonte: Autêntica.
  • 43. Aumento da potência com atividade Aumento da potência via ideias adequadas. O resultado é alegria, pois se dá atividade intelectual em vez de passividade corporal.
  • 44. Aumento da potência com passividade Aumento da potência corporal via encontro feliz com outro corpo. O resultado é alegria, por aumento da potência relativamente ao momento imediatamente anterior.
  • 45. Redução da potência de agir com passividade Impotência, passividade, tristeza: outros corpos diminuindo a potência de agir do meu corpo. Falsidade: ideias da imaginação em vez de ideias da razão.
  • 46. A composição do indivíduo Corpos são feitos de corpos. Chegamos a um indivíduo quando um corpo opera de modo a buscar se autopreservar e aumentar seu poder (conatus). Indivíduos suprapessoais Indivíduos subpessoais
  • 47. Indivíduos suprapessoais: a sociedade Alianças. Venho a fazer parte de um indivíduo mais complexo, o qual converge para o mesmo efeito que é útil para minha sobrevivência. Alegria coletiva. Conflitos e confrontos. Outros indivíduos, os quais se dirigem a efeitos contrários à minha sobrevivência, entram em choque comigo. Eu mesmo posso estar subdividido. Tristeza coletiva. Ciências sociais como física do choque entre os corpos.
  • 48. A força dos afetos “Um afeto não pode ser coibido nem suprimido a não ser por um afeto contrário e mais forte do que o afeto a ser coibido.” (4p7) Enfrentar uma emoção negativa e irracional com outra positiva e racional mais forte.
  • 49. Emoções como crenças Uma abordagem bastante comum das emoções, na segunda metade do século XX, as reduzia ou assimilava a crenças racionais sobre desejos. Abordagem cognitiva
  • 50. Abordagem cognitiva Uma boa parte das teorias contemporâneas trata das emoções em termos cognitivos. Por exemplo, minha raiva de alguém supõe minha crença que essa pessoa fez algo errado. Sem essa crença, não se explica minha raiva. Os estoicos defendiam uma teoria das emoções nessa linha.
  • 51. Emoções como juízos No livro Upheavals of thought, de 2001, Martha Nussbaum defende um neo-estoicismo sobre as emoções. Emoções são juízos de valor com aspectos cognitivos. Esses juízos são condições suficientes para haver as emoções. Cf. Ben-Ze’Ev, Aaron. 2004. “Emotions are not mere judgements”. Philosophical and Phenomenological Research 68 (2): 450–57, p. 451.
  • 52. Um exemplo de emoção como crença Quero ir na sessão das 20h de cinema. Agora são 19h30, e levo uns vinte e poucos minutos para chegar lá. Assim sendo, tenho que sair agora – significando: Quero sair agora, pois esta crença é suficiente para este desejo.
  • 53. Amok Palavra malaia, designa homicídios coletivos cometidos por homens que perderam um amor, dinheiro ou honra. Durante o ato, o homem está fora de si, sob o domínio da fúria. Antes do ato, o homem delibera friamente sobre o que fazer. Cf. Pinker, Steven. 1998. Como a mente funciona. Traduzido por Laura Teixeira Motta. 2oed. São Paulo: Companhia das Letras, p. 383–384.
  • 54. A razão antes da fúria Antes do ato, o homem em estado de amoque… … reflete sobre sua situação; … planeja cuidadosamente seu atentado. Ideias, não paixões, nem a química do cérebro, precedem o furioso ato homicida. Cf. Pinker, Steven. 1998. Como a mente funciona. Traduzido por Laura Teixeira Motta. 2oed. São Paulo: Companhia das Letras, p. 383–384.
  • 55. Emoções resistentes a razões O problema é que, em alguns casos, crenças parecem não ser nem necessárias nem suficientes para emoções. Uma criança tem medo do escuro, daí sua mãe explica que não há nada a temer. A criança entende a explicação, e a aceita, mas continua sentindo medo do escuro. Acrasia
  • 56. Acrasia O problema desse modelo, como mostrou Donald Davidson, é que somos acráticos, temos vontade fraca. Acrasia: ver que um caminho é preferível, concordar que esse caminho é preferível, mas seguir por outro caminho.
  • 57. Emoções como crenças e acrasia No caso do raciocínio querer-ir-ao-cinema-sair-agora, podemos aceitar suas premissas, podemos aceitar sua conclusão, podemos aceitar que as premissas são suficientes para sustentar a conclusão, e ainda assim podemos ficar paradinhos. Isso indica muitas coisas. Uma delas é que talvez não devamos reduzir emoções a crenças.
  • 58. Dimensões das emoções Avaliativa – Intencional – Temporal – Modal – Intensidade – Polaridade – Expressão comportamental – Disponibilidade à avaliação racional – A fronteira entre a natureza e a cultura – A direção de ajuste – Passividade
  • 59. Dimensão avaliativa das emoções Emoções têm um aspecto avaliativo. Se alguém me elogia e eu me sinto feliz, a felicidade que sinto é fruto de uma avaliação do elogio como algo bom ou positivo para mim. Do mesmo modo, se alguém me ofende, a raiva que sinto é fruto da avaliação do insulto como algo negativo para mim. Assim sendo, em uma emoção há uma avaliação (positiva, negativa) de como a situação fica (boa, ruim) após certo evento.
  • 60. Como opera a avaliação emocional? Modelo judicativo: uma emoção é um juízo avaliativo pelo qual a pessoa é plenamente responsável, tanto do ponto de vista epistêmico quanto do ponto de vista ético. Modelo instintivo: a nível subpessoal, uma percepção acarreta uma avaliação de risco ou segurança, o que acarreta uma resposta comportamental estereotipada. Esse processo não é disparado por um juízo, mas pode ser modificado por um juízo.
  • 61. Emoções salientam aspectos Um aspecto do objeto apresenta-se como ameaçador, o que dispara mecanismos subpessoais de autodefesa, e o sentimento de medo. No caso das emoções mais básicas, aquelas encontráveis em todas as culturas, a atenção ao aspecto é automática, não requer consciência. É obra do Sistema 1, não do Sistema 2.
  • 62. A racionalidade pura não é suficiente para a ação A noção de racionalidade se associa às noções de coerência e consistência na esfera das crenças, e à noção de otimização dos resultados na esfera da ação. No entanto, essas são noções negativas, no sentido de que elas servem para criticar as falhas de uma crença ou de um plano de ação, mas são insuficientes enquanto guias positivos para a fixação de uma crença ou um plano de ação.
  • 63. Redução da quantidade de alternativas a escolher Várias são as crenças coerentes e consistentes que podemos ter. Por quais optar? Vários são os planos de ação que otimizam os resultados. Qual seguir? A quantidade de alternativas a considerar pode ser infinita, e infinito pode ser o tempo requerido para escolher através da mera racionalidade.
  • 64. Máquinas versus animais Esse é um problema para máquinas, mas não para animais, pois somos dotados de emoções. As emoções dirigem e restringem nossa atenção, reduzindo consideravelmente a quantidade de alternativas a levar em conta. Disso resulta que somos capazes de escolher em uma quantidade de tempo finita.
  • 65. Dimensão intencional das emoções O objeto, se houver, da emoção. O objeto focado na emoção, não o objeto que causa a emoção.
  • 66. Dimensão intencional das emoções e causalidade É preciso diferenciar o objeto e a causa de uma emoção. Uma mãe pode estar irritada com seu filho (o objeto da irritação) não porque seu filho tenha causado a irritação, mas porque a privação de sono causou a irritação.
  • 67. Emoções sem dimensão intencional Há emoções que têm um objeto, como a inveja e o remorso, e há emoções que podem ou não ter um objeto, como a tristeza.
  • 68. Ontologia do objeto intencional da emoção O objeto intencional de uma emoção é aquilo que a torna inteligível. Pode ser uma coisa existente ou inexistente. Os fervorosos seguidores de falsos ídolos são fanáticos, apenas da inexistência dos seus deuses.
  • 69. Objetos intencionais e definições de emoções O tipo de objeto intencional de uma emoção é fundamental para defini-la. O ciúme é o ódio a outro que possui algo que você ama e é de usufruto exclusivo, o amor é a alegria ligada à ideia do objeto que te faz sentir melhor do que você estava antes etc.
  • 70. Objetos intencionais e emoções apropriadas O objeto intencional explica quando e porque uma emoção é inapropriada. Ter medo da própria sombra parece inapropriado, pois se trata de um objeto inofensivo.
  • 71. Dimensão temporal das emoções Há emoções necessariamente vinculadas ao passado, presente ou futuro. Esperança, desespero: vinculação com o futuro.
  • 72. Dimensão modal das emoções Há emoções vinculadas ao caráter necessário ou contingente de um evento. Sentimos mais raiva quando achamos que a pessoa que nos ofendeu podia ter feito diferente do que se sabemos que a pessoa não teria podido ter agido de outro modo.
  • 73. Intensidade das emoções Uma emoção pode ser forte, ou fraca. Reprovamos os outros por sentir a emoção certa na intensidade errada (A. Smith).
  • 74. Polaridade das emoções Uma emoção pode ser polaridade positiva (alegria, prazer) ou negativa (tristeza, dor).
  • 75. Expressão comportamental das emoções As emoções compartilhadas em várias culturas são fáceis de ler no comportamento e difíceis de ser fingidas.
  • 76. Disponibilidade à avaliação racional Uma emoção expressa no comportamento e transparente para S pode ser avaliada racionalmente por S. A psicanálise se ocupa de emoções indisponíveis à avaliação racional. Suas técnicas buscam a transparência e a expressão no comportamento.
  • 77. Transparência/opacidade das emoções Uma emoção é transparente para S se S é capaz de lê-la através do comportamento ou outro indício. Uma emoção é opaca, caso contrário. S pode ser o próprio sujeito que sofre a emoção ou outra pessoa. A psicanálise investiga as emoções opacas perturbadoras, suas causas e seus tratamentos.
  • 78. Relativismo cultural ou emoções universais? A pesquisa de Ekman nos dá razões para crer que há um pequeno número de emoções que são reconhecidas por todas as pessoas em todas as culturas. No entanto, muitas emoções são típicas de uma cultura, e algumas estão muitíssimo bem localizadas na geografia e na história.
  • 79. Direção de ajuste Uma crença tem uma direção de ajuste da-mente-ao-mundo, pois a mente tem que se ajustar ao mundo. Um desejo, no entanto, tem uma direção de ajuste do-mundo- à-mente, pois o mundo tem que se adequar ao desejo. Assim sendo, crenças são objetivas, enquanto desejos são projetivos.
  • 80. O problema de Eutifron Uma visão cognitivista das emoções as assimila às crenças, não aos desejos. Assim sendo, voltamos ao problema de Eutifron, e é preciso que o objeto da emoção seja objetivamente bom ou mau, louvável ou reprovável.
  • 81. Objetividade e projetividade Objetividade: querer porque é bom. Projetividade: é bom porque é desejado. Assim sendo, na visão cognitivista, o desejável tem que ser objetivamente desejável, e o indesejável tem que ser objetivamente indesejável.
  • 82. Passividade Há um elemento de passividade em ao menos algumas emoções. Nisso, as emoções são parecidas com as sensações. Não posso escolher as sensações que tenho, e (ao menos em parte) não posso escolher as emoções que tenho. Não se observa o mesmo tipo de passividade nas crenças, pois tenho que buscar crer no que é verdade, e ter crenças coerentes.
  • 83. Questões filosóficas sobre as emoções Questões ontológicas Questões éticas e políticas Questões epistemológicas
  • 84. Questões ontológicas Diferentes teorias das emoções propõem diferentes ontologias das emoções, o que leva a disputas ontológicas sobre o que as emoções são, se é que elas são alguma coisa.
  • 85. Ontologia das emoções. Emoções podem ser: Processos fisiológicos Percepções de processos fisiológicos Comportamentos Juízos avaliativos (automáticos ou pessoais) Fatos sociais (Talvez todas as anteriores.)
  • 87. Uma emoção é uma substância? Alguns povos transformaram emoções em divindades. Vênus, por exemplo. Substância: ente capaz de sobreviver à mudança (ganho ou perda de propriedades). Emoções parecem ser mudanças de substâncias, não substâncias. Substâncias são indivíduos. Emoções parecem ser ocorrências (tokens) ou tipos (types) de mudanças que se dão em indivíduos.
  • 88. Uma emoção é uma propriedade? Propriedade: ente que (na leitura imanentista das propriedades) é ou (na leitura transcendentista das propriedades) se manifesta espaçotemporalmente em (imanentismo) ou através de (transcendentismo) outro ente. Emoções como propriedades. De quais entes? Animais. Mas talvez máquinas possam vir a ter emoções. Então, emoções como propriedades de indivíduos dotados de certos tipos de almas.
  • 89. Uma emoção é um evento? Um evento é um indivíduo quadridimensional, isto é, localizado no espaço-tempo. Há tipos de eventos: shows de rock, choros, euforias etc. Fatos podem ser entendidos como eventos. Fato: que estou alegre, que tenho esperança etc.
  • 90. Uma emoção é um processo? Processo: evento estruturado em etapas. Etapa anterior é condição necessária de etapa posterior. Nascer, adolescer, morrer etc.
  • 91. Problema ontológico e motivação (questão de método) As emoções são tão complexas que é difícil, e talvez pouco iluminador, simplesmente dizer que uma emoção é uma propriedade, um evento ou um processo. Talvez o melhor ponto de partida seja motivar a classificação ontológica da emoção. O poder explicativo é uma boa motivação.
  • 92. Proposta de metodologia Distinguir entre níveis de explicação. Uma explicação é um porquê. Explicações diferentes podem conviver sem conflito, desde que pertençam a diferentes extratos explicativos. Modelo proposto: os três níveis explicativos de David Marr.
  • 93. Marr, David. 1982. Vision. New York: W.H.Freeman & Co. Ao lado, a capa da reedição de 2010.
  • 94. Níveis de explicação Nível computacional/semântico (finalidade, objetivo) Nível algorítmico/sintático (esquema input-processamento-output) Nível físico (implementação, realização)
  • 95. McClamrock, Ron. 1991. “Marr’s three levels: A re-evaluation”. Minds and Machines 1 (2): 185–96. doi:10.1007/BF00361036, p. 189.
  • 96. Emoções no nível computacional/semântico Qual o objetivo das emoções? Que estratégia pode ser adotada para se chegar ao objetivo? Por que emoções são apropriadas para chegar ao objetivo?
  • 97. Qual o objetivo ou finalidade das emoções? Antigos versus modernos Alguns modernos notáveis Bem-estar aparente
  • 98. Meta das emoções na antiguidade e na modernidade Filosofia antiga: autorrealização, felicidade, florescimento (Aristóteles, Ét. Nic.; obras de P. Hadot sobre a filosofia antiga). Filosofia moderna: autopreservação, conatus, instinto de sobrevivência, realização do desejo.
  • 99. Nível algorítmico/sintático Os processos que permitem a realização da meta. Um comportamento de fuga, por exemplo, é um meio de realizar a meta da autopreservação em uma situação de perigo que não pode ser enfrentado sem risco injustificado à integridade do organismo. Esquema input-processamento-output.
  • 100. Emoções no nível algorítmico/sintático Como a estratégia de chegar ao objetivo da autopreservação via emoções pode ser implementada? Quais os inputs que produzem emoções? Quais os outputs de um computação emocional? Qual o algoritmo que transforma os inputs em outputs?
  • 101. Esquema input-processamento-output Input: um evento externo ou interno manifestado no próprio corpo. Ver uma cobra, por exemplo. Processamento: arranjos fisiológicos para realizar um esquema estereotipado e automático de resposta. Taquicardia, por exemplo. Output: comportamento de fuga ou luta. Correr na direção contrária àquela da cobra, por exemplo.
  • 102. Damásio sobre emoções e sentimentos Emoção é diferente de sentimento. Emoção é expressão corporal pública. Sentimento é evento mental privado. A emoção é filogeneticamente anterior ao sentimento. Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras.
  • 103. Fundamento da distinção entre emoção e sentimento A impossibilidade de exprimir uma emoção acarreta a incapacidade de ter o sentimento correspondente, mas alguns doentes incapacitados de certos sentimentos ainda podem exprimir as emoções correspondentes. Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 13–14.
  • 104. Processo emoção-sentimento “As emoções ocorrem no teatro do corpo. Os sentimentos ocorrem no teatro da mente.” (Damásio 2004, 35) Emoção: parte inicial, pública. Ações, movimentos manifestados no corpo, no rosto, na voz, em comportamentos.
  • 105. A mente como ideia do corpo “O objeto da ideia que constitui a mente humana é o corpo, ou seja, um modo certo da extensão, existente em ato, e nada outro.” (Spinoza, Ética 2p13) Há princípios naturais por detrás das manifestações paralelas da mente e do corpo. Mapeamentos cerebrais do corpo. Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 21.
  • 106. Damásio sobre os sentimentos Sentimentos são o fechamento privado do processo que se inicia publicamente com a emoção. Invisíveis para o público, tal como as imagens mentais. Privados. Sentimentos são o pano de fundo da mente – a tonalidade afetiva de cada momento. Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 35.
  • 107. Emoções precedem sentimentos Nunca se observa um sentimento antes da respectiva emoção. O que está escondido em nós, o sentimento, é o efeito da emoção – não é a causa da emoção. Sentimentos são sombras de emoções. Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 36–37.
  • 108. Biologia evolutiva Emoções são evolutivamente anteriores a sentimentos. Emoções são mais antigas do que cérebros. Comportamentos de prazer e dor são evolutivamente anteriores às experiências (sentimentos) de prazer e dor. A experiência de prazer ou dor não é condição necessária do comportamento de prazer ou dor. Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 37–41.
  • 109. Alguns comportamentos emotivos de seres muitíssimo simples Pulsões, fome e sede. Motivações. Comportamentos exploratórios, lúdicos e sexuais. Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 41.
  • 110. Entre os genes e o aprendizado Reações mais simples são cortesia do genoma, reações mais complexas exigem aprendizado. A finalidade de todas essas reações é regular a vida. Homeostasia: (boa) regulação da vida – conatus. Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 37–42.
  • 111. Emoções no nível físico da implementação Como podem ser implementados fisicamente a computação da autopreservação via emoções e o algoritmo que transforma inputs em outputs?
  • 112. Lesões cerebrais e ciência dos sentimentos Pesquisa das emoções a partir de doenças neurológicas. Lesões afetam input, processamento ou output. Por exemplo, lesões que impossibilitam sentir vergonha ou compaixão, mantendo intacta a capacidade de sentir alegria, tristeza ou medo. Ou lesões que impossibilitam sentir medo, mantendo intacta a capacidade de sentir compaixão ou vergonha.
  • 113. De Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 168.
  • 114. Hipóteses de Damásio Lesões em certos setores do cérebro impossibilitam certas emoções. Diferentes setores cerebrais se ocupam de diferentes sentimentos. Cf. Damásio, António R. 2004. Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos. Traduzido por Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, p. 13.
  • 115. Nível físico A mídia, o hardware. A mídia das emoções é diferente em seres sem córtex e em seres com córtex (A. Damásio). Como o organismo realiza a meta. Processamento subpessoal de informação e cumprimento de comportamento esperado, por exemplo.
  • 116. Uma emoção explicada em três níveis: medo Nível da finalidade: o medo é uma emoção que, a partir de dicas ambientais ou sinestésicas avaliadas como perigosas, dispara comportamentos de fuga ou luta para autopreservação. Nível do input-processamento-output: percepção → avaliação como perigo → fuga ou luta. Nível físico: um evento de fuga ou luta singular, localizado no espaço-tempo.
  • 117. Questões éticas Como reduzir a proporção de obsoletas emoções neolíticas/primatas/mamíferas/animais negativas operando na minha vida hipster e urbana? (Exemplo: medo e raiva dos de fora do meu grupo.) Emoções são um obstáculo para a racionalidade? Ou será que as emoções proporcionam um tipo de avaliação que é irrealizável em tempo finito pela razão pura?
  • 118. Emoções na política: o grande paradoxo As pessoas com a vida mais destruída pelas políticas conservadoras são as mais propensas a votar com os conservadores. Por quê?
  • 119. O conatus e o conservadorismo Nos EUA, há correlação entre votar pela desregulamentação ambiental e ou morrer mais cedo, ou ter menos qualidade de vida por causa da brutal poluição industrial literalmente no quintal de casa. Exatamente as pessoas que mais precisam de imunidades (direitos) são aquelas que votam pela desregulamentação. O resultado é o autossacrifício em nome do capitalismo.
  • 120. Conservadorismo mata Nos EUA, há mais mães adolescentes, mais divórcios, piores condições de saúde, mais obesidade, mais mortes violentas, mais bebês abaixo do peso e menos matrículas escolares nos estados mais conservadores. As pessoas dos estados mais conservadores dos EUA vivem, em média, cinco anos menos do que as pessoas dos estados mais liberais e progressistas. Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books. https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks- 20161021-86816.
  • 121. Poluição e conatus nos EUA Quanto mais conservador você é, mais provável é que você esteja exposto à poluição. Poluição ou mata, ou reduz a expectativa de vida, ou diminui a qualidade de vida. Uma pessoa que vê a poluição como um sacrifício exigido pelo capitalismo (não é) toma decisões a partir dessa visão contraria seu próprio conatus. Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books. https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks- 20161021-86816.
  • 122. Empresas e meio ambiente Estudos da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD) mostram, conclusivamente, que a regulamentação ambiental gera empregos. Ainda assim, sem bases igualmente sólidas, conservadores do Tea Party preferem acreditar no contrário. Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books. https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks- 20161021-86816.
  • 123. Qualidade de vida dos conservadores dos EUA Quanto mais conservador você é, pior é sua vida, e mais provável é que você morra mais cedo do que os outros. Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books. https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks- 20161021-86816.
  • 124. O grande paradoxo As pessoas com a vida mais destruída pelas políticas conservadoras são as mais propensas a votar com os conservadores. Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books. https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks- 20161021-86816.
  • 126. Como prever se o eleitor vai de Trump? Simples. Basta descobrir se ele é hostil às mulheres em geral. Ressentimento contra pessoas do sexo feminino é um indicador seguro de preferência por voto em Trump, contra Hillary. Cf. Nelson, Libby. 2016. “Hostility toward women is one of the strongest predictors of Trump support”. Vox. novembro 1. http://www.vox.com/2016/11/1/13480416/trump-supporters-sexism.
  • 127. Eleitores do Tea Party Nos EUA, os eleitores típicos do Tea Party são homens, brancos, velhos, cristãos, com baixa escolaridade. Eles sabem que estão atrás dos outros brancos na escala social, e esperam ser os próximos a ter a riqueza, sucesso e dignidade dos outros brancos.
  • 128. Inveja “A Inveja é o Ódio enquanto afeta o homem de tal maneira que se entristece com a felicidade do outro, e, inversamente, regozija-se com o mal do outro.” Spinoza, Ética 3, DA 33.
  • 129. “Injustiça” Mas daí eles veem que mulheres, pessoas de outras etnias, pessoas mais novas, pessoas de outras religiões, pessoas com mais escolaridade os ultrapassam. E se sentem injustiçados.
  • 130. Menos que gente Mesmo animais, mesmo o meio ambiente recebe mais atenção do que eles. Isso os faz sentir-se muitíssimo diminuídos.
  • 131. Valores Além disso, eles são criticados por causa da interpretação estreita dos valores cristãos. A essa interpretação eles vinculam sentimentos identitários valiosíssimos. São esses valores que os fazem discriminar mulheres, pessoas de outras etnias, pessoas de outras religiões, pessoas com outras orientações sexuais. Mas eles querem ser valorizados, mesmo desprezando os outros.
  • 132. Voto emocional O resultado dessa conturbada sopa biográfica é o voto não no próprio interesse econômico, mas no próprio interesse emocional. Isto é, o voto que propõe colocar mulheres, pessoas de outras etnias e pessoas de outras religiões lá atrás. Mesmo quando esse voto leva a menos qualidade de vida para si mesmo.
  • 133. Alvos emocionais Os outros que estavam atrás e os ultrapassam são tratados como os culpados pela sua vida ruim e curta dos brancos cristãos de baixa escolaridade, não as empresas e políticos que deles se aproveitam. Quem tem discurso contra esses outros leva o voto, ainda que esse voto diminua o tempo e a qualidade de vida do eleitor. Cf. Rich, Nathaniel. 2016. “Inside the sacrifice zone”. The New York Review of Books. https://blendle.com/i/new-york-review-of-books/inside-the-sacrifice-zone/bnl-nybooks- 20161021-86816.
  • 134. Questões epistemológicas O conhecimento das nossas próprias emoções é uma questão problemática, pois, apesar de parecer que estamos imediatamente cientes das nossas próprias emoções, nada tem mais poder de nos levar ao autoengano do que nossas próprias emoções.
  • 135. As múltiplas fontes do autoconhecimento emocional Autodetecção, introspecção Autoformatação, autoconstituição Autoexpressão, comportamento Inferência teórica, descoberta via terapia Cf. Schwitzgebel, Eric. 2012. “Introspection, what?” In Introspection and consciousness, organizado por Declan Smithies e Daniel Stoljar, p. 29–48. Oxford: Oxford University Press, p. 36–37.
  • 136. Autodetecção (propriocepção) e inferência teórica Sentimento da posição do próprio corpo: se vejo uma cobra e sinto meu corpo parado, então não tenho medo. Sentimento de impulsos: se vejo uma cobra e não sinto vontade de fugir, então não tenho medo. Cf. Schwitzgebel, Eric. 2012. “Introspection, what?” In Introspection and consciousness, organizado por Declan Smithies e Daniel Stoljar, p. 29–48. Oxford: Oxford University Press, p. 36–37.
  • 137. Autoformatação e autoexpressão Digo que não tenho medo de cobras. Isso ajuda a formatar meu sentimento. Cf. Schwitzgebel, Eric. 2012. “Introspection, what?” In Introspection and consciousness, organizado por Declan Smithies e Daniel Stoljar, p. 29–48. Oxford: Oxford University Press, p. 36–37.
  • 138. História da filosofia das emoções Os clássicos A pesquisa contemporânea
  • 139. Os clássicos Não há nada de surpreendente no fato de que alguns dos mais importantes filósofos clássicos (Platão, Aristóteles, Hobbes, Descartes, Spinoza, Hume) tenham proposto teorias muito bem delineadas das emoções, nas quais as emoções são concebidas como respostas a certos tipos de eventos que despertam interesse ou preocupação no sujeito, provocando mudanças corporais e motivando comportamentos característicos.
  • 140. Teorias clássicas Filosofia antiga: Platão, Aristóteles, estoicos. Filosofia moderna: Descartes, Spinoza, Hume, Adam Smith
  • 141. Platão O que normalmente se diz, sobre a teoria das emoções de Platão, é o seguinte: Platão tinha uma teoria tripartite da alma. Partes intelectual, desejante e emotiva. Essa teoria se mostra instável e problemática. O caso é um pouco mais complicado…
  • 142. Annas, Julia. 2012. Platão. Traduzido por Marcio de Paula S. Hack. Porto Alegre: L&PM, p. 72.
  • 143. Aristóteles Para Aristóteles, as emoções são de grande importância para o bem viver e o bem agir, pois essas duas coisas resultam do sentir as emoções certas, na proporção certa, nas circunstâncias certas.
  • 144. Estoicos Para os estoicos, as emoções são juízos de valor sobre as coisas. Esses juízos de valor são fontes de sofrimento. De modo que, se pudéssemos extinguir as emoções (se pudéssemos deixar de fazer tais juízos avaliativos…), nos tornaríamos indiferentes, e felizes.
  • 145. Terapia estoica Ao ver seu filho, você julga que ele estará aí amanhã para alegrá-lo. Esse juízo é o amor. Você tem que se habituar a pensar que não está no teu poder fazer com que seu filho esteja por perto amanhã. Você tem que desaprender a amá-lo. Assim, você será feliz.
  • 146. A pesquisa contemporânea Após um período de negligência, a investigação das emoções tem prosperado nos nossos dias, e filósofos podem fazer pesquisas frutíferas sobre o tema a partir de interações com investigadores da psicologia, neurologia, biologia e economia.
  • 147. As emoções e a vida mental – alguns modelos Teoria do senso comum Teoria James-Lange Teoria composicional Atomismo emocional Teoria do contínuo emocional Teoria da base biológica
  • 148. Teoria do senso comum das emoções Para o senso comum, uma emoção é um tipo de sentimento que se diferencia qualitativamente das sensações (incluindo propriocepção). Emoções têm valor ético. Posso me ofender caso outro não manifeste a emoção apropriada no grau apropriado no contexto apropriado (A. Smith).
  • 149. Teoria James-Lange das emoções Atribuída a William James e Carl G. Lange Emoções são nossa consciência de mudanças nas condições fisiológicas relacionadas a funções motoras ou fisiológicas do corpo. Essa teoria tem Descartes, na Sexta Meditação, como precursor. Além de Spinoza.
  • 150. Exemplos da teoria James-Lange Ao perceber alguém em perigo, várias respostas corporais se iniciam em mim, e o medo é minha consciência dessas respostas corporais. Meu corpo responde à falta de açúcar, e a fome é minha consciência dessa mudança corporal. Meu corpo responde à falta de água, e a sede é minha consciência dessa mudança corporal.
  • 151. Insuficiência da teoria James-Lange Apesar do poder explicativo dessa teoria, em alguns casos ela não é suficiente para distinguir entre uma emoção e outra. Se tudo o que temos é nossa resposta corporal – por exemplo, a taquicardia – então pode ser que eu esteja apaixonado, ou apavorado.
  • 152. Teoria James-Lange e contexto Ao que parece, também precisamos de elementos contextuais para diferenciar as emoções umas das outras. Mas, se é assim, não é suficiente descrever uma emoção como consciência apenas da resposta corporal.
  • 153. Teoria James-Lange e contágio emocional Um elemento contextual importante parece ser as emoções sentidas pelos outros ao redor. Novamente, isso indica que não é suficiente descrever uma emoção como a consciência apenas da resposta corporal.
  • 154. Goldie e a teoria James-Lange das emoções Há, no entanto, uma nova proposta, com vista ao retorno à teoria da emoção como consciência da resposta corporal. Peter Goldie propõe que se considere as respostas corporais como carregadas de conteúdo intencional. Assim sendo, as respostas corporais se ligam a contextos. Emoções são nossa consciência dos nossos estados corporais carregados de significado contextual.
  • 155. Teoria composicional Descartes e Spinoza defendem que há um número pequeno e limitado de emoções básicas. As outras emoções são compostas a partir das emoções básicas mais outros elementos (p. ex. objeto, tempo, modalidade metafísica).
  • 156. Atomismo emocional Cada emoção é simples e primitiva, em vez de composta por outros elementos (outros estados ou eventos mentais, outros objetos).
  • 157. Teoria do contínuo emocional As emoções formam um contínuo analisável em diversas dimensões (p. ex. objeto, tempo, modalidade metafísica, nível de excitação, intensidade, prazer ou dor). Esse contínuo não pode ser fragmentado em partes, eventos ou processos discretos.
  • 158. Teoria biológica das emoções Processos fisiológicos são condições necessárias de emoções. Descartes, Sexta Meditação, como precursor. As emoções mais básicas são respostas estereotipadas a necessidades fisiológicas, de acasalamento, de abrigo e proteção contra predadores e de sociabilidade. Sistemas biológicos subpessoais orientam o organismo para a satisfação de necessidades básicas como evitar predadores, defender-se, buscar alimentos e cuidar da prole.
  • 159. Ecletismo metodológico No momento, não temos nenhuma razão para preferir um modelo explicativo em detrimento de outro. Isso nos abre a oportunidade para o ecletismo justificado com respeito às teorias das emoções.
  • 160. Agradecimentos Aos alunos da disciplina de Filosofia da Mente do Curso de Bacharelado em Filosofia da Universidade Federal de Santa Maria do segundo semestre de 2016. Estas aulas foram preparadas para vocês, e foram reformuladas a partir do generoso retorno de vocês.
  • 161. Uma versão atualizada destes slides está disponível aqui.