O documento descreve (1) a origem e história da pizza, desde os egípcios até sua popularização na Itália; (2) a história da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, iniciada em uma pizzaria em 1988, com destaque para a marca de 240 edições da Pizza Literária; (3) breves notícias sobre membros e atividades da sociedade.
1. Jornal
O Bandeirante
Ano XVIII - no 212 - juLHO de 2010
Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP
Pizza e Pizza Literária
240a Edição!!!
Helio Begliomini
Médico urologista
Presidente da SOBRAMES-SP (2009-2010).
A origem da pizza perde- receita acabou chegando na Itália Pizza Literária
se em tempos imemoriais. Uns pelo porto de Nápoles. Cristóvão
atribuem-na aos egípcios que Colombo trouxe o tomate à Euro- A história da Sociedade Bra-
há 6.000 mil anos foram os pri- pa e, daí por diante, foi incorpo- sileira de Médicos Escritores –
meiros a misturar farinha com rado à receita, juntamente com o Regional do Estado de São Paulo
água, verificar sua fermentação já usual azeite de oliva.(...) (Sobrames – SP) começou numa
e submetê-la ao forno. Outros Entretanto, outros referem pizza. E por ironia do destino, a
afirmam que os gregos faziam que a primeira pizzaria foi “Pie- Pizzaria chamava-se Ilha de Cós,
massas à base de farinha de tri- tro il Pizzaiolo”, também de Ná- nome do local onde nasceu Hi-
go, arroz ou grão-de-bico e as poles, cujo proprietário era Don pócrates, considerado o Pai da
assavam em tijolos quentes. Por Rafaelle Espósito, considerado Medicina (460-380 a.C.).(...)
sua vez, sabe-se também que os o primeiro pizzaiolo da história. Embora a Sobrames – SP tenha
babilônios e hebreus há mais de Sua fama deu-se após o verão de sido fundada em 16 de setembro
5.000 anos faziam u’a massa com 1889, quando foi cozinhar para o de 1988, numa pizzaria, a primei-
a mistura do trigo e água que, rei Humberto I e a rainha Mar- ra Pizza Literária como ato delibe-
após assada em fornos rústicos, gherita de Sabóia, que estavam rativo da diretoria vigente aconte-
denominavam-na de “pão de em visita à cidade e hospedados ceu somente 10 meses após, em 20
Abraão” – muito parecido com os no palácio Capodimonte. de junho de 1989, no “Gorducho
pães árabes atuais – ou “piscea” Rafaelle Espósito homena- – Pizzaria e Restaurante”, localiza-
quando continha o acréscimo de geou a rainha, cozendo vários do na Rua dos Pinheiros, no 833.
ervas e alho. tipos de pizza, mas a que mais a Naquela ocasião compareceram
Os fenícios, três séculos antes agradou foi uma que continha as oito pessoas. Na seguinte, um mês
de Cristo, acrescentavam cober- cores da bandeira italiana: bran- depois, havia 12 presentes e, em
turas de carne e cebola ao pão co, vermelho e verde, ressaltadas setembro, já se contava com mais
de Abraão. Sabe-se que os nobres pela muçarela, tomate e basilicão de 20 participantes! (...)
da Roma pré-cristã já comiam a (manjericão). Ela apreciou tanto Assim, atingimos neste mês
“piscea”. Aliás, o poeta romano a combinação que Rafaelle a bati- a marca da 240a edição (!!!) de
Virgílio (70-19 a.C.) registrou a zou com o seu nome. nossa aprazível Pizza Literária.
receita do “moretum”, uma mas- Embora a pizza seja conhecida Não temos dúvida alguma de que
sa não fermentada, assada, reche- como originária da Itália, os paí- este feito deve ser muito bem co-
ada com vinagre e azeite, coberta ses que mais a consomem são Es- memorado pelos seus membros.
com fatias de alho e cebola crua. tados Unidos da América e Brasil Afinal, poucas entidades culturais
Os turcos muçulmanos, na Idade e, dentro deles, particularmente em nosso meio conseguem fazer
Média, comiam a piscea e, em as cidades de Nova Iorque e São tanto com tão poucos recursos fi-
consequência das Cruzadas, essa Paulo.(...) nanceiros como a Sobrames – SP!
2. 2 O BANDEIRANTE - Julho de 2010
EXPEDIENTE
Iniciamos este O Bandeirante para trazermos de
volta aqueles bons momentos do XXIII Congresso
Jornal O Bandeirante
ANO XVIII - no 212 - Julho 2010 Nacional da Sobrames, com destaque para os trabalhos
de nossa regional de São Paulo que foram premiados.
Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos É uma honra e uma grande responsabilidade para
Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-
SP. Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000
nós, responsáveis por este informativo, publicarmos
- Pinheiros - São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 / a boa produção literária de nossos confrades. Nossos
3062-3604 Editores: Carlos A. F. Galvão, Roberto A. Aniche.
Jornalista Responsável e revisora: Ligia Terezinha Pezzuto
sobramistas de São Paulo tiveram muitas premiações e
(MTb 17.671 - SP). Colaboradores desta edição: Alcione publicaremos durante os próximos meses uma página
Alcântara Gonçalves, Carlos Augusto F. Galvão, Helio
Begliomini, Hélio José Déstro, José Jucovsky, Josyanne Rita dedicada a eles. Aos colegas premiados de São Paulo
de Arruda Franco, Márcia Etelli Coelho e Roberto Antonio que não nos mandaram seus trabalhos por e-mail, que
Aniche.Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e
mais de 1.000 exemplares PDF enviados por e-mail. o façam o mais rapidamente possível, assim todos
Diretoria - Gestão 2009/2010 - Presidente: Helio teremos o prazer de degustar mais esta especiaria da
Begliomini. Vice-Presidente: Josyanne Rita de Arruda
Franco. Primeiro-Secretário: Ligia Terezinha Pezzuto.
casa: seus textos e poesias maravilhosos!
Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã.
Primeiro-Tesoureiro: Marcos Gimenes Salun. Segundo-
Tesoureiro: Roberto Antonio Aniche. Conselho Fiscal
Efetivos: Flerts Nebó, Carlos Augusto Ferreira Galvão, Luiz Carlos Augusto F. Galvão
Jorge Ferreira. Conselho Fiscal Suplentes: Geovah Paulo Roberto Antonio Aniche
da Cruz; Rodolpho Civile; Helmut Adolf Mataré.
Matérias assinadas são de responsabilidade de seus
autores e não representam, necessariamente, a
opinião da Sobrames-SP
Editores de O Bandeirante
O Malho
Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992 Anúncios menores, trabalhos com a qualidade característica dos sobra-
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994
Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996
mistas, porém curtos salvo algumas exceções, tornando agradável ouvi-los.
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000 Com a pizza deliciosa, correu tudo muito bem. Só notei o Galvão muito
Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009 “agoniado”; ele aproveita os textos grandes para fumar lá fora e desta vez
Helio Begliomini – maio a dezembro de 2009
Roberto A. Aniche e Carlos A. F. Galvão - janeiro 2010 - não teve muita chance.
Novidades... parece que cresceu a “Confraria do Vinho”, mas atenção aos
Presidentes da Sobrames – SP
neófitos: não se deve beber vinho como se bebe cerveja; é porre na certa.
1 Flerts Nebó (1988-1990;1990-1992 e out/2005 a dez/2006)
o
2o Helio Begliomini (1992-1994; 2007-2008 e 2009-2010)
3o Carlos Luiz Campana (1994-1996)
4o Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)
5o Walter Whitton Harris (1999-2000)
6o Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)
7o Luiz Giovani (2003-2004)
Walter Whitton Harris
8o Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)
Cirurgia do Pé e Tornozelo
Ortopedia e Traumatologia Geral
Editores: Carlos A. F. Galvão, Roberto A. Aniche
CRM 18317
Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto Av. República do Líbano, 344 Rua Luverci Pereira de Souza, 1797 - Sala 3
Diagramação: Mateus Marins Cardoso 04502-000 - São Paulo - SP Cidade Universitária - Campinas (19) 3579-3833
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Preço de 12 exemplares impressos: R$ 36,00 (11) 3531-6675
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Grátis: Além da edição impressa que será enviada por correio, o assinante Ginecologia
receberá por e-mail 12 edições coloridas em arquivo digital (PDF)
Obstetrícia
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3. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Julho de 2010 3
Notícias
O confrade Carlos Augusto Galvão teve matéria editada no Jornal da Tarde na página dos editoriais, com excelente
texto sobre drogadição: “Como erradicar o vício”, que pode ser lido na Internet, na página:
http://www.clinicadavila.com.br/RevistaClinica/MATCAP.ASP?id=12
IV Sabatina Literária
Aconteceu no dia 3 de julho, sábado, na sede do Movimento Poético Nacional, em Mirandópolis, próximo à Vila
Mariana, na capital paulista, a IV Sabatina Literária da Sobrames-SP, juntamente com membros desse tradicional
sodalício.
Havia de 35 a 40 pessoas, sendo que 6 eram da Sobrames-SP.
Fomos muito bem recebidos tanto pelo presidente Walter Argento, como por demais membros da diretoria. Todos
tiveram oportunidade de declamar seus poemas.
Foi uma tarde inesquecível de muito enlevo lítero-musical, uma vez que as poesias eram intercaladas com apresen-
tações musicais, cantadas ou tocadas ao som de um piano.
O Movimento Poético Nacional tem uma sede própria que deu uma “santa inveja” a nós.
Participaram, da Sobrames-SP: Josyanne Rita de Arruda Franco (Jundiaí), Márcia Etelli Coelho, Hélio José Déstro,
Geovah Paulo da Cruz, Jacyra da Costa Funfas e Helio Begliomini.
Eleição de nova diretoria em setembro de 2010
No próximo dia 16 de setembro, serão realizadas as eleições para escolher a nova diretoria da regional paulista
da Sobrames, para o biênio 2011-2012. De acordo com o Estatuto, podem candidatar-se os membros titulares, aca-
dêmicos e colaboradores com mais de um ano de filiação e quites com a tesouraria. As chapas deverão ser inscritas
com antecedência de 45 dias (até o próximo dia 7 de agosto) e deverão ser completas, contendo presidente e vice-
presidente, primeiro e segundo tesoureiros, primeiro e segundo secretários. Além desses cargos, deverão ser indicados
três membros para compor o Conselho Fiscal, com igual número de suplentes.
Nota: Os cargos de presidente e vice-presidente deverão, estatuariamente, ser preenchidos por médicos.
Edital de Convocação
Assembleia Geral Ordinária
Ficam todos os membros da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, Regional do Estado de São Paulo – Sobra-
mes-SP, convocados para a Assembleia Geral Ordinária que se realizará no dia 16 de setembro de 2010, na pizzaria
“Bonde Paulista”, situada na Rua Oscar Freire, 1.597 em São Paulo, às 20h00, em primeira convocação, com presença
de cinquenta por cento dos Membros Titulares, Acadêmicos e Colaboradores quites com a tesouraria da sociedade
e dos Membros Eméritos, Honorários e Beneméritos e, em segunda convocação às 20h30, com qualquer número de
membros da Sobrames-SP, para deliberação sobre a seguinte pauta do dia:
1) Eleição da nova diretoria para o Biênio 2011-2012 e
2) Assuntos Gerais: inscritos com antecedência de 5 (cinco) dias.
Helio Begliomini
Presidente da SOBRAMES-SP (2009-2010).
4. 4 O BANDEIRANTE - Julho de 2010
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Quem Sou Eu? – Quem
Somos Nós?
Amor Estelar
José Jucovsky
Alcione Alcântara Gonçalves
A trajetória dos milhões do H. Sapiens nascidos
Sob o mesmo Sol festivo no vendaval da sorte O amor que eu queria,
Ou do baço olhar do escravo labor sofrido Dissipou-se num só dia!
Alinham os genes do seu “eu” com os DNA consorte. Não era amor, que ironia!
Inebriou-me e me iludiu,
A linhagem direta de nossos antepassados traz Deixando apenas a nostalgia.
Em cada um de nós crucial adormecido legado
Estrutura helicoidal de gene a repetir fecundo loquaz Mas o que eu pensei ser amor,
O último gradual degrau final do longínquo passado? Era, apenas, um grande desejo,
Uma atração carnal e fatal!
Compostos químicos de base e de ácidos a se catalisar Que inebria e ofusca mente,
Moldam unidades essenciais no horizonte vital Sensibilizando e anestesiando o sentimento.
Fileiras externas envolvendo o complexo molecular
Organização coreográfica da vida humana em espiral.
A emoção em tocar seu corpo,
A luxúria de um beijo ardente,
Filhos nos idos tempos vagando neste vasto oceano
Naqueles lábios úmidos e quentes,
Avançam séculos a perpetuar genético itinerário
Decisivo alvorecer a repetir em cada parto humano Transportou-me para além do pensamento,
O espaço tempo cerebral evolutivamente visionário. Na excelsa ALCOVA do FIRMAMENTO.
Um homem se torna outro homem redesenhado Diante daquele corpo belo e escultural,
No ventre materno em sua descendente primazia Das duas silhuetas cônicas frontais,
E mesmo antes de nascer recita ditoso recapitulando Terminadas e adornadas por dois mamilos sensuais;
Uma vez eu fui peixe, agora sou a máxima hierarquia. Vislumbro ainda, as curvas da delgada cintura,
Seguida da belíssima curvatura da massa glútea.
Um bebê nasce sem saber um só fonema articulado
Nem sequer balbuciar mamãe se não for ensinado Era a deusa que eu queria!
Seu cérebro é como se fosse um CD intocado A VÊNUS encarnada, para minhas orgias!
Alma apagada se ficasse do grupo social isolado. Entre as deusas do OLIMPO, fui buscá-la,
Na constelação de ANDRÔMEDA a encontrei,
Hábeis mãos e cérebro moldam luzes na escuridão
Mas, já estava protegida por PERSEU;
Momento crítico de talentos capaz de controlar
E, assim, o meu grande amor pereceu.
O fogo e fazer a pedra lascada entrar em ação
E na Zona de Broca o milagre da fala se fazer anunciar.
Por acaso, estamos aqui segundo o universo darwiniano?
E só nós podemos refletir sobre tal relativa singularidade...
Já na futurista fábula profética criada no mundo
huxleyano
Os bebês de proveta nascem sob rigorosa seletividade.
A bioengenharia em fascinantes clonagens enaltecer
Significa tentar criar o Super-homem em evolução?
Contudo oscilações da alma do “eu” em cognitivo conviver
Mantêm imensurável enredo cérebro-mente em íntima
criação!
5. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Julho de 2010 5
Conspiração do Desejo
Josyanne Rita de Arruda Franco
Não, não é verdade que quero um amor perfeito, eterno, inesgotável!
Quero o apaixonamento que me faz compor como oração,
sem infinitude nem arroubos de eternidade!
Sou covarde para o amor. Prefiro o desejo que aquece minha alma fria e triste
de pássaro sem voos, de leão velho... Um lobo solitário.
Tenho o céu, a selva, a caça e desgraçadamente nada me basta, nada detém
minha vontade de viver o impossível, de desgastar-me nas leviandades
de efêmeros encontros que resultam em partidas sôfregas e eternas.
Admiro o belo nas belas composições que nunca farei e, portanto,
jamais esgotarão meu desejo de criar! O belo que emana
do sentir, do querer, do extasiar. Não o belo da paisagem,
cenário de momentos felizes ou lamentáveis, adorno natural
oferecido graciosamente a quem é bom ou mau.
Busco incansavelmente a ti, imperioso desejo de vida!
Manancial que não precisa ter motivos nem pequenas ambições.
Contemplo o erro que me ensina que o equívoco é fácil e possível,
arrisco-me para sorrir, para encontrar-me absorta na estupefação
do ocorrido sem razão ou utilidade, apenas pela beleza do instante.
Para quê motivo? Para quê desculpa? Para quê tristeza?
Ah, meu desejo, que pulsa e impulsiona todo descobrimento!
Alma e coração despidos de sobressaltos mesquinhos e constantes.
Estou no amor, na ilusão do pertencimento, ainda que só ilusão.
E quando sonho, quando estou imersa em ti, meu desejo,
nada é enfadonho, tudo é radiante, sem os falsos escrúpulos
da maturidade ressentida de tempos idos em amores naufragados.
Abro minha voz, solto meu verbo e acato teu domínio.
Desejo soberano, impraticável para uma só vida... Preciso de muitas.
Eu canto para ti - meu desejo renovado e eternamente jovem!-
com as vozes que invento e deságuam poesia,
com as toscas ilusões que me agasalham à noite,
com todos os segredos descortinados com o dia,
com a força da paixão que dentro de mim não escolhe
ser acaso ou compromisso...Mas castiga, feito açoite!
6. 6 O BANDEIRANTE - Julho de 2010
SUPLEMENTO LITERÁRIO
“No Mundo Nada se Cria”
Hélio José Déstro
- Eu recrio.
Eu, comigo mesmo
Vestido de mim.
Nós, o comigo e eu. Em tempo de mim
O talvez tenha que me amar.
Gritamos juntos:
O certo se perdeu na multidão.
- Não se perca de mim, não se perca.
Sem o eu, o comigo seria só silêncio.
A nossa intimidade, o nosso silêncio.
Viver sem alma, sem coração.
Eu, e o comigo.
Preciso de mim para milhões de coisas.
No espelho de mim mesmo
Quero azul.
Nosso tempo, nosso viver. Quero cor de rosa.
Quero branco.
O talvez, o certo.
No pacto com o meu eu.
Eu recrio porque tenho que recriar.
Que é Deus?
Alcione Alcântara Gonçalves
Não há efeito sem causa
Diz o axioma utilizado pela ciência. O Cristianismo nascente revela o Deus-Pai,
Dogmas aprisionam o ser pensante, Ensinado e pregado por Paulo de Tarso,
Objetivando manter o poder Sacerdotal. O Convertido de Damasco, o Apóstolo dos Gentios,
O maior divulgador da Doutrina Cristã.
Os gentios, homens assim chamados,
Por não comungarem com as pregações Einstein declarou: “A Ciência sem Religião
Dos Judeus, Sacerdotes, Escribas e Fariseus, É manca, a Religião sem Ciência é cega.”
Eram discriminados e chamados: homens sem Deus. Allan Kardec indagou: “Que é Deus?”
O Espírito de Verdade respondeu:
Moisés nos revelou os dez mandamentos, “É a inteligência suprema, causa primária.
Código divino para a coexistência dos homens. De todas as coisas.”
Jesus explicou que aquele Deus vingativo
De Moisés, era, na verdade, o Deus-Amor.
7. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Julho de 2010 7
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embala as carrancas que afugentam o mal. de textos em geral
Com a graça de ser o Nilo brasileiro,
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Muitos são os Franciscos e, entre os que eu conheço,
meu coração se abre para aquele Odará.
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e eu sigo o meu curso, sonhando com o mar.
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nossa força servil se desfaz, traiçoeira. escrever seu
O rio afoga, sem dó, a quem nele se lança.
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Mágoas eu dissipo na sutil cachoeira.
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há um rio São Francisco em cada um de nós.
8. 8 O BANDEIRANTE - Julho de 2010
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Eu não Conheço o São Francisco
Roberto Antonio Aniche
Sou paulistano, daqueles que pouco viajam. Não conheço o São Francisco, aliás, acho que muita gente
de lá também não conhece, apesar da grande intimidade com o Velho Chico, mas não lhe sabem o nome.
Américo Vespúcio, em 1501 navegou em sua foz, não sei se algum indígena avisou que ele estava nas águas
do Opará.
Eu só conheço o velho Rio Tietê, aquele que nasce em Salesópolis, com água saindo debaixo de pedras,
atravessando nossa metrópole e desaguando no Rio Paraná, depois de navegar quase um mil e duzentos
quilômetros.
Eu não conheço o Velho Chico, apesar de saber que ele nasce na Serra da Canastra, em São Roque de
Minas, atravessa cerca de dois mil e oitocentos quilômetros até chegar ao Oceano Atlântico, lá mesmo aonde
Américo Vespúcio deve ter se assustado com a cor do mar.
Eu não conheço a Serra da Canastra, mas conheço Salesópolis, quando fiz a minha primeira e única
pescaria. Até hoje sinto remorsos de haver pescado um único peixe que ainda habita meus pesadelos por
ter sido eu quem lhe tirou o direito à vida e a uma velhice calma e tranquila no Tietê.
Sei que o Velho Chico passa por cidades históricas e importantes: Pirapora, Juazeiro, Petrolina, Piranhas.
Não conheço nenhuma delas nem por fotografia. Nunca vi cartão postal nem conheço ninguém que tenha
vindo de lá para me dar um dedo de prosa.
O Tietê passa por São Paulo, a cidade mais importante da América Latina. Ganhou e ganha como
prêmio pela sua ousadia, desde 1960, o esgoto mais rico do mundo, o odor mais fétido, o plástico mais
contaminante. Meu pai aprendeu a nadar no Rio Tietê. Acredito, por lógica pura, que o pai de muita gente
aprendeu a nadar no São Francisco. Não sei se ele é poluído como o Tietê, se for, é bom não se arriscar.
No Tietê, só político em campanha em frente à televisão é capaz de entrar na água para se dizer hipocri-
tamente patriota.
O São Francisco tem a mesma história religiosa. Em 1706 chegava a Juazeiro uma missão de São Fran-
ciscanos para catequizar os índios. Em 1525 chegaram a São Paulo os jesuítas Padre José de Anchieta e
Padre Manoel da Nóbrega para catequizar os índios daqui. No São Francisco, quase duzentos anos depois,
a história se repetia.
Há muito em comum: as missões construíram cidades importantes, catequizaram os índios oferecendo
a eles a única verdade aceita, vinda de um catolicismo medieval, em troca da destruição de sua cultura, de
suas religiões, deuses e crenças, da implantação da vergonha em seus corpos nus. Os dois rios continuaram,
impávidos, procurando seus caminhos através dos vales para se encontrar com o mar salgado, obedecendo
às suas únicas verdades. As águas do rio sempre encontram os seus caminhos.
Não conheço Juazeiro, não conheço Pirapora, nem Petrolina, nem Piranhas. Conheço Salesópolis, São
Paulo, Tietê, Botucatu. No interior, as cidades são mansas como as águas do rio. Acho que com o Velho
Chico deve ser o mesmo: suas águas devem correr, imagino porque não conheço, cristalinas e mansas pelas
cidades interioranas e quentes de Minas, da Bahia, de Pernambuco e de Alagoas. Deve colecionar histórias
de crianças brincando, casais apaixonados, pescadores. Deve ter histórias de secas, de enchentes, de vida
e de morte. O Tietê também deve ter, embora ninguém fale.
O São Francisco tem várias ilhas, com areia branca, tem vapores cruzando suas águas. Não sei se o Tietê
tem ilhas, mas tem inúmeras barragens. Já andei de barco em Barra Bonita, num Tietê limpo de um qui-
lômetro de largura, atravessando a eclusa e indo a outro mundo dentro do rio. Mas não vi nenhuma ilha
de praias brancas. Nas margens os canaviais se perdem de vista no horizonte.
Quero conhecer o Velho Chico, um dia vou me aposentar, abandonar a medicina, se é que é possível e
o São Francisco está na minha agenda. Conhecer o rio, suas praias, suas gentes, ver se é poluído ou não,
conhecer quem aprendeu a nadar nas suas águas. Prometo não pescar, não tenho esse direito sobre a vida
e a morte.
Guimarães Rosa disse que a história do rio é a história do seu sofrimento. Certamente Guimarães Rosa
não conhecida o Tietê, se conhecesse, o que diria...