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Realizador
Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
www.fmcsv.org.br
Diretor-presidente
Eduardo de Campos Queiroz
Gerente de Conhecimento Aplicado
Eduardo Marino
projeto gráfico
Denise Matsumoto
Agradecimentos
A Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
(Fundação Maria Cecilia) agradece aos seguintes
especialistas pela contribuição voluntária, sob a
forma de entrevista ou indicação de conteúdos,
para a realização desta publicação:
Beatriz Ferraz (consultora da Fundação
Maria Cecilia)
Daniel Brandão (Move)
Eduardo Marino (Fundação Maria Cecilia)
Gilberto Ribeiro (Vox Capital)
Karina Barros (Danone Early Life
Nutrition Brasil)
Maure Pessanha (Artemisia)
Maurício Prado (Plano CDE)
Vivianne Naigeborin (Artemisia e 	
Potencia Ventures)
Empreendedorismo e negócios de impacto social para a Primeira Infância foi criado com o objetivo
de apoiar empreendedores interessados em desenvolver negócios de impacto para a Primeira Infância.
Esta publicação é uma iniciativa da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, elaborada com a colaboração
da Artemisia e da Danone Early Life Nutrition Brasil.
Direitos e permissões
Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução total ou parcial desta obra desde que citados a
fonte e os realizadores.
Da obra
Coordenação editorial
Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
Cristine Zanarotti Prestes Rosa
Eduardo Marino
Vanessa Pancheri
Colaboração
Artemisia
Danone Early Life Nutrition Brasil
Karina Barros
Gabriela Bizari
Veridyana de O. Cesar Borges
Textos
Sandra Mara Costa
Pesquisa
Luciana Lino
Revisão
Mauro de Barros
Coordenadora de Conhecimento Aplicado
Cristine Zanarotti Prestes Rosa
Analista de Conhecimento Aplicado
Vanessa Pancheri
Agosto de 2016
Fundada em 1965, a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
atua na promoção do desenvolvimento na Primeira
Infância, período que vai do nascimento aos seis anos
de idade. Cumpre sua missão por meio de atividades de
conscientizaçãodasociedade,mobilizaçãodelideranças,
apoio à qualificação da educação infantil e programas
de fortalecimento da família e adultos de referência. A
organização mantém projetos como intervenção social
em municípios, incentivo a pesquisas, realização de
cursos e workshops e elaboração de publicações, entre
outras ações, para expandir o conhecimento sobre a
importância do desenvolvimento na Primeira Infância.
Para saber mais sobre a Fundação Maria Cecilia, acesse
www.fmcsv.org.br
Fundação
Maria Cecilia
Souto Vidigal
Empreender
para Realizar
e transformar
Nos últimos anos, a ciência vem mostrando que o que
ocorre com uma criança na Primeira Infância, período
que vai do nascimento aos seis anos de idade, tem um
impacto importante em toda a sua vida. Mais do que
isso, ela afirma que o desenvolvimento saudável da
criança – considerando nutrição, saúde física e emo-
cional, competências sociais e capacidades cogniti-
vas e de linguagem – cria as bases de uma sociedade
próspera, sustentável e com menos inequidade.
Posto em outras palavras, o sucesso de um indivíduo
na escola e, posteriormente, na vida profissional e
na comunidade está muito ligado ao que se passa na
Primeira Infância, já que esta é uma janela de opor-
tunidade para o desenvolvimento humano e social.
Dar o suporte adequado a este período tão impor-
tante, requer o envolvimento de vários atores e se-
tores – famílias, sociedade, organizações e governo
–, por isso a importância dos negócios de impacto
social, voltados para a Primeira Infância, como mais
um possível agente de transformação. Empreender
significa decidir realizar uma tarefa trabalhosa, em re-
gra pouco trivial e que envolve riscos. Só empreende
quem acredita que é capaz de realizar e transformar.
Apresentação
Empreender um negócio de impacto social para a Pri-
meira Infância pressupõe conhecer as características e
demandas típicas deste período da vida e também da-
queles que estão envolvidos com a criança – sobretudo
pais, familiares, cuidadores e profissionais da saúde, da
educação e do desenvolvimento social, entre outros.
A parceria com a Artemisia, inaugurada em 2015,
por meio do Artemisia Lab Primeira Infância, nas-
ceu da ideia de potencializar um ecossistema de
negócios de impacto social para a Primeira Infância.
Após 185 ideias selecionadas, dois workshops rea-
lizados com a participação de 83 empreendedores,
sentimos a necessidade de preparar esta publicação
com o objetivo de compartilhar conteúdos e fontes
de referência para auxiliar empreendedores e em-
preendedoras a propor soluções de negócios que
ajudem a transformar a realidade das crianças e de
suas famílias, em especial as que estão em situação
de mais vulnerabilidade.
Queremos inspirar e promover o debate sobre de-
senvolvimento na Primeira Infância. Contamos com
você, empreendedor e empreendedora, para cons-
truirmos oportunidades para proporcionar o pleno
desenvolvimento para nossas crianças e nossa so-
ciedade. Esperamos que esta publicação consiga
apoiá-lo nesta empreitada.
Boa leitura!
Eduardo de Campos Queiroz
Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
Negócios de impacto social
para a Primeira Infância
Os desafios da Primeira
Infância no Brasil
O que todo empreendedor
de negócio de impacto
para a Primeira Infância
deve saber
Pág. 08
pÁG.32
pÁG. 16
Sumário
Oportunidades para
negócios de impacto para
a Primeira Infância
Referências para a
avaliação de negócios
de impacto social
pÁG. 52
pÁG. 58
Negócios
de impacto
social para
a Primeira
Infância
O mundo dos negócios é um velho conhecido de todos
nós. Sua origem remete ao início da civilização, como des-
dobramento da simples troca de produtos de primeira ne-
cessidade, tendo evoluído para o comércio de mercadorias
e também de serviços, mediante o uso de uma moeda.
O principal resultado esperado por aqueles que decidem
iniciar um negócio tradicional é a maximização dos lucros
obtidos. Os negócios de impacto social propõem uma
nova lógica, em que o principal objetivo é criar produtos e/
ou serviços que solucionem problemas sociais, ao mesmo
tempo que gerem lucro.
No nosso caso, o impacto que queremos gerar é garantir as
melhores condições de vida e desenvolvimento para todas
as crianças na Primeira Infância, período que compreende
os seis primeiros anos de vida. Dados extraídos da edição
2014 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)
indicam que existem 18,8 milhões de crianças na Primeira In-
fância no Brasil, uma população que equivale a 10% do total
e se equipara ao número de habitantes do Chile.
Os números demonstram que se trata de uma parcela
bastante significativa de nossa população. E dão a dimen-
são do amplo esforço que se faz necessário, não somente
no âmbito dos programas e políticas governamentais ou
9
de programas de organizações sociais, mas também no desenvolvimen-
to de negócios que possam complementar a oferta pública e, assim,
contribuir para solucionar os problemas que impedem o desenvolvimen-
to pleno nessa etapa da vida, especialmente entre crianças que vivem em
famílias de menor renda.
Quando uma criança não tem seus direitos básicos assegurados – como
saúde, alimentação, moradia e educação – e cresce em um ambiente de
vulnerabilidade e estresse elevados, torna-se mais difícil desenvolver suas
potencialidades. Neste contexto, as oportunidades começam a ser perdidas
logo no início da vida, criando condições desiguais de desenvolvimento. As
crianças são cidadãs do hoje, merecedoras de plenos direitos, e também
representam o futuro da sociedade. Um país que desconsidera suas crianças
deixa de investir em si mesmo.
É necessária a articulação de todos os setores para criar estruturas eficientes
que deem suporte e ofereçam condições plenas para o desenvolvimento de
todas as crianças neste período tão sensível de suas vidas.
Os negócios de impacto social podem contribuir com a melhoria da
qualidade de vida das crianças brasileiras e de suas famílias, possibilitan-
do o acesso a bens e serviços que muitas vezes sequer chegam ao co-
nhecimento da população de menor renda. Neste capítulo, vamos rever
alguns conceitos importantes para quem está na área e deseja empreen-
der na Primeira Infância.

Definição e dimensões dos negócios de impacto social
Existem algumas diferenças de terminologias, conceitos e definições sobre
negócios de impacto, inclusive quanto à distribuição de dividendos – se de-
veriam ser revinvestidos no próprio negócio ou distribuídos aos investidores
da iniciativa. Há, contudo, convergência no entendimento de que negócios
de impacto associam retorno financeiro e impacto social positivo.
De acordo com a Força Tarefa de Finanças Sociais, negócios de impacto
são empreendimentos que têm a missão explícita de gerar impacto so-
cioambiental, ao mesmo tempo que geram resultado financeiro positivo
e de forma sustentável.
Segundo a Artemisia, negócios de impacto social são empresas que ofe-
recem, de forma intencional, soluções escaláveis para problemas sociais da
população de baixa renda, tendo como principais características:
9
10
§	 Foco na baixa renda – Negócios desenhados de acordo com
as necessidades e características da população de baixa renda
(classes sociais C, D e E).
§	 Intencionalidade – Negócios que possuem a missão explícita
de causar impacto social e são geridos por empreendedores
éticos e responsáveis.
§	 Potencial de escala – Podem ampliar o alcance por meio da
expansão do próprio negócio.
§	 Rentabilidade – Possuem um modelo robusto que garante a
rentabilidade sem depender de doações ou subsídios.
§	 Impacto social relacionado à atividade principal – O pro-
duto ou serviço gera impacto social, ou seja, não se trata
de um projeto ou iniciativa separada do negócio, e sim de
sua atividade principal.
§	 Distribuição ou não de dividendos – O negócio pode ou não
distribuir dividendos a acionistas, não sendo este o critério
para definir negócios de impacto social.
Para o indiano Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia em 1998, “pobreza
é a privação das capacidades básicas de um indivíduo, e não apenas o fato
de possuir renda inferior a um patamar preestabelecido”. A partir desta pers-
pectiva, a Artemisia considera que os negócios podem gerar impacto social
em cinco dimensões:
1.	 Diminuem custos de transação – O custo de transação
pode ser definido como o custo em dinheiro e tempo gas-
tos por um comprador no mercado. Negócios de impacto
podem oferecer produtos e serviços que diminuam ou eli-
minem barreiras de acesso da população de baixa renda a
bens e serviços essenciais.
2.	 Reduzem condições de vulnerabilidade – Negócios de im-
pacto podem oferecer produtos que facilitem a proteção
de bens conquistados e a antecipação ou prevenção de
riscos futuros.
3.	 	Ampliam possibilidades de aumento de renda – Negócios de
impacto podem atuar no aumento das oportunidades de em-
prego estável ou na melhoria das condições de trabalho do
microempreendedor.
4.	 Promovem oportunidades de desenvolvimento – Negócios
de impacto podem promover oportunidades para que pes-
soas de baixa renda fortaleçam seu capital humano e social.
10 Negócios de impacto social para a Primeira Infância
11
5.	 	Fortalecem a cidadania e os direitos individuais – Negócios
de impacto podem contribuir para o fortalecimento da cida-
dania por meio de produtos e serviços essenciais para uma
qualidade de vida digna.
Empreendedorismo e empreendedorismo de impacto social
O empreendedorismo é considerado um dos principais motores do de-
senvolvimento econômico e social de um país e seu conceito foi popula-
rizado pelo economista Joseph Schumpeter em 1945. Segundo ele, o em-
preendedor é alguém versátil, que possui habilidades para saber produzir,
reunir recursos financeiros, organizar as operações internas e realizar as
vendas da sua empresa.
Uma definição mais contemporânea de empreendedorismo vem do estu-
dioso Robert D. Hisrich. Para ele, empreendedorismo é o processo de criar
algo diferente e com valor, dedicando o tempo e o esforço necessários,
assumindo os riscos financeiros, psicológicos e sociais correspondentes e
recebendo as recompensas da satisfação econômica e pessoal. A satisfação
econômica é resultado de um objetivo alcançado, um novo produto ou
empresa, por exemplo, e não um fim em si mesma.
O empreendedor de negócios de impacto social é um indivíduo que pos-
sui visão, criatividade e determinação excepcionais. Ele utiliza essas qua-
lidades para identificar problemas sociais e propor soluções inovadoras,
na forma de produtos e serviços que possam ser comercializados. Por
meio da sua atuação, acelera o processo de mudanças e inspira outros
atores a se engajarem em torno de sua causa. Ele é alguém capaz de mo-
bilizar pessoas e quebrar paradigmas e, assim, modificar o curso de uma
indústria e de um setor. A medida de seu sucesso passa pelo impacto
social que sua iniciativa é capaz de gerar.
Empreender negócios com impacto social em Primeira Infância pressupõe
o desenvolvimento de soluções que possam compreender a criança de
até seis anos de idade como um ser potente, pronto para aprender e para
ensinar, e um cidadão em condições peculiares de desenvolvimento; re-
quer entender o contexto e o ambiente dessa criança, a qualidade de sua
interação com os adultos mais próximos e as condições desses adultos. E,
essencialmente, respeita a premissa de que todas as crianças nascem do-
tadas dos mesmos direitos fundamentais: à vida e à saúde; à liberdade, ao
respeito e à dignidade; à convivência familiar e comunitária; à educação, à
cultura, ao esporte e ao lazer.
11Negócios de impacto social para a Primeira Infância
12
Ecossistema de negócios
Transposto da biologia, em alusão à vida interdependente, o termo “ecos-
sistema de negócios” tem sido usado desde os anos 1990. Ele descreve
as comunidades de atividade econômica que se baseiam em plataformas
de interação entre organizações e indivíduos cujas capacidades e papéis
evoluem e se alinham ao longo do tempo.
Conhecer o ecossistema em que está inserido e saber como se com-
portar dentro dele é crucial para um negócio de impacto social, espe-
cialmente se considerarmos que só se conquista escala e relevância nos
resultados quando existe colaboração entre os diversos atores de distintos
setores da sociedade. Incluem-se aí outros empreendedores, clientes, for-
necedores, órgãos governamentais e reguladores, investidores, acelerado-
ras e incubadoras, institutos e fundações, ONGs, universidades, meios de
comunicação, etc.
O ecossistema de negócios de impacto social para a Primeira Infância
abrange uma gama igualmente variada de atores em cada atividade pro-
posta. Genericamente, além dos públicos de interesse específicos à natu-
reza de cada negócio, também é preciso considerar as partes relaciona-
das à temática da Primeira Infância, como organizações de atendimento
e defesa que compõem o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do
Adolescente; gestores públicos; ONGs e investidores sociais privados vol-
tados à Primeira Infância; acadêmicos, especialistas e profissionais liberais
de referência no tema.
É essencial buscar informações e se certificar de que o negócio, produto
ou atividades que serão desenvolvidos se enquadram nas leis, regulamen-
tações e em boas práticas nacionais e internacionais vigentes, respeitando
a integridade, a saúde, os direitos e o bem-estar da criança1
.
Investimentos de impacto
De acordo com a Rede Global de Investimento de Impacto (GIIN, na sigla
1
Algumas das instituições/fontes responsáveis por regulamentações ou que for-
necem orientações para produtos de interesse da Primeira Infância são: Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa, http://portal.anvisa.gov.br/alimentos); Or-
ganização Mundial da Saúde (OMS, http://www.who.int/eportuguese/countries/bra/
pt/); Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro, http://www.
inmetro.gov.br); Criança Segura Brasil (http://criancasegura.org.br); Projeto Crian-
ça e Consumo (http://criancaeconsumo.org.br); e site do Marco Legal da Primeira
Infância (http://marcolegalprimeirainfancia.com.br).
Negócios de impacto social para a Primeira Infância
13
em inglês), investimentos de impacto são aqueles feitos em empresas, or-
ganizações e fundos com a intenção de gerar impacto social e ambiental
e também retorno financeiro. Investimentos de impacto podem ser reali-
zados tanto em mercados emergentes quanto em mercados desenvolvi-
dos e buscam desde retornos abaixo do mercado até retornos na taxa de
mercado – dependendo das circunstâncias.
Os investimentos de impacto desafiam a visão clássica de que problemas
sociais e ambientais devem ser alvo de atenção apenas de institutos ou
fundações filantrópicas, em localidades onde a atuação dos governos é
insuficiente, e de que o mercado de investimentos deve focar-se exclusi-
vamente em alcançar resultados financeiros. Já é possível observar que os
investimentos de impacto são vistos como uma oportunidade relevante,
podendo integrar o portfólio de investimentos de bancos, fundos de pen-
são, seguradoras, administradores de fortunas, fundações familiares e em-
presariais e investidores individuais. Neste último grupo figuram os chama-
dos investidores-anjo, que apoiam negócios por meio de capital semente.
O setor de investimentos de impacto está em ascensão no mundo. Muitos
investidores aportam recursos para um negócio, podendo tornar-se sócios
da iniciativa e ajudam a expandi-la até atingir um dado patamar de lucra-
tividade que permita a venda de sua participação. O que une os pioneiros
deste setor é a convicção de que investimentos em negócios criativos
e inovadores podem ter um papel crucial para tratar questões sociais e
ambientais complexas e que exigem abordagem sistêmica. É o caso da
agricultura sustentável, das tecnologias limpas, do microfinanciamento e
do acesso a necessidades básicas como saúde, educação e moradia.
No Brasil, tanto a oferta de crédito como os investimentos em negócios
de impacto social ainda são limitados, mas estão em expansão. Uma pes-
quisa realizada em 2014 por um conjunto de organizações internacionais2
identificou 28 investidores de impacto social no Brasil e ouviu 22 deles
(nacionais e internacionais). O estudo mostrou que o montante disponível
para negócios de impacto social somava entre US$ 89 milhões e US$ 127
milhões e que os investidores esperavam concluir 136 negócios no Brasil
naquele ano – o dobro dos 68 concluídos nos dez anos anteriores.
Outro estudo, intitulado “Mapeamento dos Recursos Financeiros dispo-
níveis no Campo Social do Brasil com o objetivo de identificar recursos
2
LGT Venture Philanthropy, Quintessa Partners, University of St. Gallen e The Aspen
Network of Development Entrepreneurs (Ande), com o apoio da Artemisia.
Negócios de impacto social para a Primeira Infância
14
potenciais para Finanças Sociais” e elaborado pela Força Tarefa de Finanças
Sociais e pela Deloitte, buscou identificar qual seria o montante de recur-
sos públicos e privados disponíveis para serem investidos em soluções que
resolvem problemas sociais e geram resultado financeiro positivo. Reali-
zado em 2015, com base em dados de 2014, o levantamento identificou
que R$ 13 bilhões foram investidos no Brasil por mecanismos de finanças
sociais, com potencial de chegar a R$ 50 bilhões até 2020.
Os dados do setor indicam que existe movimento e disposição crescentes
por parte de investidores para realizar aportes. Neste sentido, um plano de
negócios bem estruturado – fundamentado em um bom planejamento, no
conhecimento do público-alvo e na validação do produto/serviço junto a
esse público – e que demonstre a capacidade de execução do empreen-
dedor e de sua equipe poderá aumentar a atratividade do projeto perante
investidores e credores.
14 Negócios de impacto social para a Primeira Infância
»» Negócios de impacto social: empresas que ofere-
cem, de forma intencional, soluções escaláveis para
problemas sociais.
»» Ecossistema de negócios: rede de relacionamentos que
se estabelecem entre indivíduos, organizações e o am-
biente em que o negócio está inserido.
»» Investimentos de impacto: investimentos feitos em
empresas, organizações e fundos com a intenção de gerar
impacto social e ambiental e também retorno financeiro.
Na ponta
da língua
1515Negócios de impacto social para a Primeira Infância
Ao longo deste guia, traremos nesta seção dicas de pesquisas, publicações,
leis, filmes e sites para você se aprofundar em negócios de impacto para a
Primeira Infância.
O especialista é você
Pesquisa
Edição 2014 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad) (http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/
trabalhoerendimento/pnad2014/default.shtm).
Site (em inglês)
Global Impact Investing Network (GIIN), a Rede Global de
Investimento de Impacto (em tradução livre) (https://thegiin.org).
Publicações
§	Empreendedorismo, de Robert D. Hisrich, Michael P. Peters e
Dean A. Shepherd (McGraw-Hill, 2014).
§	Criando um Negócio Social, de Muhammad Yunus 		
(Elsevier, 2010).
§	Negócios com Impacto Social no Brasil (Peirópolis, 2013).
§	A Riqueza na Base da Pirâmide (Bookman, 2010).
§	Marketing 3.0: as forças que estão definindo o novo marketing
centrado no ser humano, de P. Kotler, H. Kartajaya e I. Setiawan
(Elsevier, 2010).
Estudos de mercado
§	Oportunidades de negócios de saúde para a população
de baixa renda no Brasil (http://artemisia.org.br/img/
conhecimento/Estudo_Oportunidades_Negocios_em_Saude.
pdf) e Oportunidades em educação para negócios focados na
população de baixa renda no Brasil (http://artemisia.org.br/
img/conhecimento/Estudo_Oportunidades_Negocios_em_
Educacao.pdf).
§	Mapeamento dos Recursos Financeiros disponíveis no Campo
Social do Brasil com o objetivo de identificar recursos potenciais
para Finanças Sociais, da Força Tarefa de Finanças Sociais
e da Deloitte (http://ice.org.br/wp-content/uploads/pdfs/
MapeamentoOfertaCapital.pdf).
Caro empreendedor ou empreendedora, talvez o que va-
mos dizer agora não seja nenhuma novidade, mas a pes-
soa que melhor precisa entender do seu negócio é você.
Assim, este capítulo apresenta conteúdos com a perspecti-
va da ciência sobre o desenvolvimento na Primeira Infância
e como esta é uma janela de oportunidade para o desen-
volvimento do capital humano.
O campo de estudos do desenvolvimento na Primeira
Infância é muito vasto e o que vamos apresentar aqui é
apenas uma visão geral de alguns assuntos que selecio-
namos. Será um conteúdo recheado de dicas de mate-
riais de apoio para você aprofundar seus conhecimentos.
E quanto mais conhecimento, mais oportunidades para
desenvolver o seu negócio de impacto social e atingir os
resultados desejados.
o que todo
empreendedor
de negócio
de impacto
para a
primeira
infância
deve saber
17
Para começar o capítulo, queremos destacar o conceito de Primeira
Infância, conforme define o Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº
13.257/2016):
Primeira Infância é o nome dado ao período que
abrange os primeiros seis anos completos ou 72
meses de vida da criança.
O desenvolvimento infantil começa desde a gestação e a Primeira Infân-
cia é denominada como o período que vai do nascimento aos seis anos
de idade. Esta é uma fase da vida fundamental para o desenvolvimento
da criança e do futuro adulto, considerada a base para a aquisição de
habilidades que lhe servirão por toda a vida; é uma fase crítica para o de-
senvolvimento cerebral e físico, da capacidade de aprendizado, a aqui-
sição dos movimentos, a iniciação social e afetiva, entre outros. Cada
um destes aspectos é interligado com os demais e influenciado pela
realidade na qual a criança vive. É neste universo de informações que
vamos mergulhar agora.
O cérebro em desenvolvimento
A ciência ainda tem muito a aprender sobre o cérebro, mas, com a ajuda de
exames de imagem como a ressonância magnética, muito se tem desven-
dado nos últimos anos sobre sua constituição e funcionamento. A chamada
neurociência, o estudo sobre o sistema nervoso que inclui o cérebro, des-
lanchou e suas descobertas têm iluminado vários campos de saber.
Considerado um órgão de alta complexidade, o cérebro não é uma es-
trutura completa quando nascemos e os primeiros anos de vida são es-
senciais para a sua formação e maturação. No momento do nascimento,
o peso do cérebro do bebê corresponde a aproximadamente 25% do
peso do cérebro de um adulto. Até o segundo ano de vida, esta propor-
ção sobe para 75%.
O cérebro é composto por células chamadas neurônios, que possuem
uma extensa rede de prolongamentos que conectam as diversas regiões
cerebrais por meio de circuitos elétricos. As conexões entre os neurônios
são conhecidas como “sinapses”. O estudo “O impacto do desenvolvi-
mento na Primeira Infância sobre a aprendizagem”, produzido pelo Nú-
cleo Ciência Pela Infância (NCPI), ensina que, por meio de um processo
chamado “sinaptogênese”, o número de sinapses entre os neurônios se
multiplica, chegando a 700 novas conexões por segundo, em algumas
18
regiões cerebrais, no segundo ano de vida. “As sinapses mais utilizadas se
fortalecem e carregam informações de forma mais eficiente, enquanto
as que não forem utilizadas gradualmente enfraquecem e desaparecem,
fenômeno conhecido como ‘poda sináptica’”, assinala o estudo.
O amadurecimento do cérebro acontece de forma significativa antes do
nascimento, com a geração de mais de 100 bilhões de células nervosas.
Principalmente após o nascimento acontece a “mielinização”, proces-
so pelo qual a mielina, uma substância composta por proteína e gordu-
ra, envolve o prolongamento dos neurônios, facilitando a condução do
impulso elétrico e melhorando a comunicação neuronal. “O somatório
desses processos ao longo dos primeiros anos de vida modifica a estru-
tura do cérebro sob influência das experiências vividas, resultando no
impressionante desenvolvimento neurológico que permite que a criança
gradualmente adquira novas capacidades como emitir os primeiros sons
até falar, aprimorar o controle motor até sentar, engatinhar e caminhar, e
assim por diante”, registra o mesmo estudo do NCPI.
Uma criança na Primeira Infância possui enorme plasticidade cerebral,
isto é, seu cérebro conta com elevada capacidade de transformação de-
vido aos estímulos e às experiências vividas. Os primeiros mil dias, que
são resultado da soma dos 280 dias de gestação com os dois primeiros
anos de vida, compõem uma fase tida como de grande vulnerabilidade e
particularmente sensível às influências do ambiente. A estimulação ade-
quada do bebê, com atividades de interação e comunicação e a prática
do brincar, pode contribuir muito para o desenvolvimento do cérebro.
Em contrapartida, situações de estresse elevado e permanente neste pe-
ríodo sensível dos primeiros anos de vida podem prejudicá-lo de forma
duradoura, com a redução de conexões neuronais. É o que acontece
com bebês sujeitos a maus-tratos, violência e negligência. A essa situa-
ção de estresse elevado damos o nome de estresse tóxico.
Para determinadas funções, a plasticidade cerebral é máxima nos perí-
odos iniciais da vida. A Primeira Infância apresenta períodos em que a
aprendizagem de diversas habilidades e competências acontecem com
maior facilidade e por isso devem ser bem aproveitados.
o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
19
Desenvolvimento na Primeira Infância
Faz parte do desenvolvimento humano o processo de aquisição de habilida-
des que progressivamente levam o indivíduo de uma condição de dependên-
cia extrema à autonomia. O desenvolvimento na Primeira Infância, por sua
vez, consiste no desenvolvimento que acontece nos primeiros seis anos de
vida, considerando aspectos físicos, neurológicos, socioemocionais e cogni-
tivos. Mas, didaticamente falando, a que cada um desses aspectos se refere?
§	 Aspectos físicos/biológicos: referem-se ao crescimento e à
maturação física e funcional de estruturas e órgãos.
§	 Aspectos neurológicos: abrangem o funcionamento do cére-
bro e de todo o sistema nervoso.
§	 Aspectos socioemocionais: tratam da capacidade de o indiví-
duo estabelecer relações e lidar com as emoções.
§	 Aspectos cognitivos: reúnem as habilidades mentais necessá-
rias para a obtenção de conhecimento (pensamento, raciocí-
nio, linguagem, memória, atenção, abstração, criatividade, ca-
pacidade de resolução de problemas, entre outras funções).
Para que o desenvolvimento da criança aconteça de forma plena, ela preci-
sa de um ambiente acolhedor, harmonioso e rico em experiências positivas,
o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
Vídeo
As experiências moldam a arquitetura do cérebro, do Center
on the Developing Child da Universidade de Harvard, traduzido
e adaptado para o português pelo Núcleo Ciência Pela Infância
(https://www.youtube.com/watch?v=eSAHbDptGh4).
Animação
Conheça o Super-Cérebro, do Center on the Developing Child da
Universidade de Harvard, traduzido e adaptado para o português
pela Fundação Maria Cecilia (https://www.youtube.com/
watch?v=y6Y_tpf5LEk).
Vídeo
O stress tóxico prejudica o desenvolvimento saudável, do Center
on the Developing Child da Universidade de Harvard, traduzido
e adaptado para o português pelo Núcleo Ciência Pela Infância
(https://www.youtube.com/watch?v=dZazltqAti0).
O especialista é você
20
desde o período pré-natal, por meio dos cuidados da mãe e do pai, da famí-
lia e da interação com o ambiente.
Há enorme influência do ambiente em que a criança vive sobre os diversos
aspectos do desenvolvimento na Primeira Infância, sobretudo porque nes-
ta fase o cérebro está particularmente propenso a se modificar positiva ou
negativamente, de acordo com as experiências vividas. O estabelecimento
de vínculos positivos com adultos na família ou na escola potencializa o
desenvolvimento saudável da criança.
Filme
O Começo da Vida, de Estela Renner (Brasil, 2016).
Filme
Bebês, de Thomas Balmès (Estados Unidos, 2010).
Vídeo
Funções executivas: habilidades para a vida e aprendizagem, do Center
on the Developing Child (CDC) da Universidade de Harvard, traduzido
e adaptado para o português pelo Núcleo Ciência Pela Infância (http://
www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/funcoes-executivas-
habilidades-para-a-vida-e-aprendizagem-video.aspx).
Publicação
Fundamentos do Desenvolvimento Infantil, de Saul Cypel (org.)/
Fundação Maria Cecilia (http://www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-
digital/Paginas/Fundamentos-do-desenvolvimento-infantil.aspx).
Estudo
O Impacto do Desenvolvimento na Primeira Infância sobre a
Aprendizagem, do Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância
(NCPI) (http://www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/o-impacto-
no-desenvolvimento-da-primeira-infancia-sobre-a-aprendizagem.aspx).
Estudo
Funções Executivas e Desenvolvimento na Primeira Infância:
Habilidades necessárias para a Autonomia, do Comitê Científico
do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI) (http://www.fmcsv.org.br/
pt-br/acervo-digital/Paginas/Fun%C3%A7%C3%B5es-Executivas-
e-Desenvolvimento-na-Primeira-Inf%C3%A2ncia-Habilidades-
necess%C3%A1rias-para-a-Autonomia.aspx).
O especialista é você
o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
21
Vale ressaltar que o termo desenvolvimento também inclui atividades bá-
sicas como engatinhar, andar, falar, ter controle motor, etc., e que, como
acontece em todas as faixas etárias na Primeira Infância, o desenvolvimento
dos bebês não é somente físico, mas também cognitivo e socioemocional.
A importância do vínculo
A ciência demonstra que o desenvolvimento na Primeira Infância é poten-
cializado pela existência de bons relacionamentos e que o vínculo é um
elemento fundamental.
A psicanalista escocesa Martha Harris define vínculo como “a capacida-
de de duas pessoas experimentarem e se ajustarem à natureza uma da
outra, desenvolvido por meio da interação amorosa e contínua”. Em sua
obra “Crianças e bebês à luz de observações psicanalíticas” (Vértice, 1995),
Martha explica que o vínculo se inicia já na fase pré-natal, graças à co-
municação fisiológica e emocional que existe entre mãe e bebê e ganha
concretude maior por meio da amamentação e do cuidado amoroso dos
demais adultos que fazem parte do seu cotidiano. O cuidado amoroso é
o conjunto de atitudes de atenção, zelo e desvelo que se manifestam na
rotina de alimentação, higiene, brincadeira, proteção, socialização e esta-
belecimento de limites.
O psiquiatra inglês John Bowlby descreveu a importância dessa relação
inicial que se desenvolve entre o bebê e o seu cuidador principal ou primá-
rio, garantindo atenção, consolo e sensação de segurança, no que deno-
minou Teoria do Apego. Bowlby constatou que o apego oferece as bases
para o desenvolvimento socioemocional e até mesmo cognitivo e que,
portanto, um recém-nascido precisa desenvolver uma relação de apego
com pelo menos um adulto para que seu desenvolvimento socioemocio-
nal aconteça normalmente. Além disso, as relações de apego continuam
a influenciar ideias, sentimentos, motivações e o estabelecimento de rela-
cionamentos ao longo de toda a vida.
Bowlby constatou que relacionamentos seguros entre o adulto e a crian-
ça ajudam a criança a regular suas emoções em situações de estresse e
a explorar o mundo com confiança e promovem o desenvolvimento da
linguagem. Crianças com apego seguro têm maior predisposição a apre-
sentar comportamentos positivos, como empatia e espírito colaborativo.
Noutra vertente, crianças com apego inseguro e desorganizado têm maior
risco de desenvolver problemas de comportamento e psicopatologias,
como agressividade na escola e depressão.
o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
22
As pesquisas de Bowlby também mostraram que há uma alta incidência de
desorganização de apego em crianças que foram vítimas de maus-tratos.
O apego desorganizado está associado a comportamentos parentais que
incluem erros na comunicação afetiva (como respostas contraditórias a
sinais dados pela criança), retraimento dos pais, respostas confusas com
relação aos papéis ou mesmo comportamentos amedrontadores.
Outros estudos indicam que o elo adulto-criança pode continuar a se for-
talecer durante todo o processo do desenvolvimento infantil, o que ofere-
ce à criança o fundamento da construção e ampliação de vínculos com as
demais pessoas que a cercam e, em seguida, com a sociedade em geral.
Nutrição na Primeira Infância e saúde do indivíduo
É conhecido o papel fundamental da nutrição no desenvolvimento na Pri-
meira Infância desde a fase da gestação. A alimentação da gestante inter-
fere diretamente na formação do bebê, assim como a da mãe lactante,
que está amamentando, influencia o desenvolvimento do recém-nascido.
A alimentação da criança no primeiro e no segundo anos de vida deter-
mina o desenvolvimento dos órgãos e a estruturação metabólica. Prote-
ínas, gorduras e micronutrientes são essenciais para o desenvolvimento
do cérebro, estabelecendo as bases para o seu funcionamento. Por esses
motivos, dizemos que os primeiros mil dias são tão importantes.
Por exemplo, se a gestante não atinge as necessidades diárias de áci-
do fólico, presente em alimentos como os vegetais de folhas escuras,
como brócolis e espinafre, aumentam as chances de incidência de de-
o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
Artigo
Apego, por Marinus van IJzendoorn para a Enciclopédia sobre o
Desenvolvimento na Primeira Infância (http://www.enciclopedia-crianca.
com/sites/default/files/syntheses/pt-pt/2277/apego-sintese.pdf).
Estudo
Importância dos vínculos familiares na primeira infância, do Comitê
Científico do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI) (http://www.fmcsv.
org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/-Import%C3%A2ncia-dos-
v%C3%ADnculos-familiares-na-primeira-inf%C3%A2ncia.aspx).
O especialista é você
23
feitos no tubo neural do bebê, que é a estrutura embrionária que dará
origem ao cérebro e à medula espinhal. Este nutriente é tão importante
que se indica a avaliação do profissional de saúde para análise da neces-
sidade de suplementação.
Da mesma forma, quando se trata da nutrição do recém-nascido, o aleita-
mento tem fundamental importância. O leite materno garante uma melhor
nutrição, ajuda a prevenir doenças infecciosas e respiratórias e excesso
de peso, além de combater a carência de micronutrientes como o ferro
e o zinco, por exemplo. Por isso, o Ministério da Saúde recomenda que a
amamentação seja exclusiva até os seis meses de idade, seguindo até o
segundo ano de vida ou mais.
A composição do leite materno é influenciada pela dieta da mãe e muda
durante uma mesma mamada, sendo que, ao final, contém maior concen-
tração de gorduras essenciais para o desenvolvimento saudável da criança.
Se o recém-nascido não ingere a quantidade necessária de gorduras e
proteínas, pode haver comprometimento no processo de “mielinização”
do cérebro. Como vimos anteriormente, a mielina é uma substância com-
posta por proteína e gordura que envolve o prolongamento das células
nervosas, facilitando a condução do impulso elétrico e melhorando a co-
municação neuronal. Se a mielinização não acontece a contento, o fun-
cionamento do cérebro pode ser prejudicado.
O tema da estruturação metabólica merece atenção à parte e desponta
como um dos campos de estudo mais avançados da nutrição. Também
conhecido como programação metabólica, ele descreve o fenômeno
por meio do qual uma experiência nutricional precoce, relativa à falta
ou excesso de um nutriente no período crítico do desenvolvimento na
Primeira Infância, é capaz de promover alterações epigenéticas. A epi-
genética trata de como os fatores ambientais podem mudar a maneira
como os genes se expressam.
Em outras palavras, uma dada experiência nutricional que leve a uma
alteração epigenética pode acarretar um efeito duradouro/persistente
ao longo da vida do indivíduo, predispondo-o ao desenvolvimento de
doenças crônicas não transmissíveis como a obesidade, o diabetes, a
hipertensão e o câncer.
Já se sabe, por exemplo, que aproximadamente 20% da saúde de um indi-
víduo no longo prazo pode ser explicada pela herança genética, enquanto
o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
24
cerca de 80% do risco de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis
é influenciado pelos fatores ambientais, incluindo a nutrição e o estilo de
vida. O desenvolvimento de bons hábitos alimentares desde o início da
vida pode reduzir sobremaneira este risco.
O poder do brincar
Ainda no início do século passado, a médica e educadora italiana Maria
Montessori dizia que brincar é o trabalho da criança. Ela falava isso para
ressaltar a importância da brincadeira, baseada em anos de estudo e ob-
servação do comportamento da criança.
Atividade intensa, prazerosa e de certa forma arriscada, não há nada de
perda de tempo no brincar. Ele é um grande aliado do desenvolvimento
na Primeira Infância, favorecendo a comunicação, a linguagem, a imagi-
nação e o raciocínio.
As brincadeiras de movimento estimulam a motricidade, como correr, pu-
lar, subir e descer. A interação com adultos e outras crianças pelo brincar
proporciona a socialização, incluindo-se aí o aprendizado da expressão
dos sentimentos, do respeito a limites e ao outro, assim como de valores e
regras de boa convivência essenciais como compartilhar.
A brincadeira é mais importante que o brinquedo. Por meio da brincadeira,
a criança constrói narrativas e os brinquedos ajudam como instrumentos
para isso. Ao brincar, a criança testa e descobre coisas, daí o significado
da repetição das brincadeiras. Ela vive novas experiências, compreende os
fatos que estão à sua volta e constrói a sua percepção do mundo.
O tão espontâneo “faz de conta” tem o potencial de desenvolver valores,
socialização, expressões diversas e cuidados; de aproximar da vida real,
imaginada, desejada e temida. O faz de conta também ajuda as crianças a
trabalharem de forma inconsciente conflitos ou sofrimentos e a assimila-
rem situações que acontecem em seu entorno.
Os pais também se desenvolvem ao brincar com os filhos: aprendem mais
sobre eles e sobre a vida, exercitam a flexibilidade e a resiliência. O brincar
é um importante aliado na interação adulto-criança, contribuindo para o
fortalecimento do vínculo.
o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
25
Sobre a Primeira Infância e o mundo das telas
As telas fazem parte da nossa vida e estão por toda a parte – na televisão,
no celular, no computador, nos tablets, em DVDs dentro dos carros... Elas
fascinam o ser humano de todas as idades, e com a Primeira Infância não
é diferente. Mas o que se pode esperar dos estímulos providos pelo mundo
das telas às crianças e que consequências ele pode ter?
O assunto é controverso e não existem estudos para absolver ou condenar
de pronto o uso de mídia pelas crianças. Mas existem recomendações para
orientar o bom senso dos pais com base em evidências da ciência.
De acordo com a Academia Americana de Pediatria (AAP), a pesquisa cien-
tífica provou que alguns programas de televisão de elevada qualidade têm
potencial educativo para crianças maiores de dois anos, favorecendo o de-
senvolvimento de habilidades sociais, da linguagem e mesmo da capacida-
de de leitura. No entanto, tal mérito não se comprova junto a crianças de
menos de dois anos, já que, para os programas serem benéficos, as crianças
precisam ter capacidade de prestar atenção e compreender seu conteúdo,
o que normalmente não acontece nesta faixa etária.
Assim, a partir de uma extensa revisão de política realizada em 2011, e com
base em evidências de que o tempo de tela tem efeito potencialmente ne-
gativo sobre crianças com menos de dois anos e nenhum efeito comprova-
o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
Publicação
Coleção Primeiríssima Infância, da Fundação Maria Cecilia (http://
fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/formacao-em-espacos-
ludicos.aspx). Veja o caderno 5, Formação em espaços lúdicos.
Site
Projeto Território do Brincar (http://territoriodobrincar.com.br).
Filme
Território do Brincar, de David Reeks e Renata Meirelles (Brasil, 2015).
Guia de atividades
Kit de Desenvolvimento da Primeira Infância: Uma Caixa de
Tesouros de Atividades, do Unicef (http://www.unicef.org/supply/
files/Activity_Guide_Portuguesev1.pdf).
O especialista é você
26
damente positivo, a AAP manteve a recomendação de “desencorajar o uso
de mídia neste grupo etário”.
Para crianças maiores, a recomendação é que os pais definam estratégias
concretas para gerenciar o uso de mídia: controlando o conteúdo que a
criança assiste; assistindo ao conteúdo junto com ela; não instalando uma
televisão no quarto das crianças; e controlando o seu próprio uso de mídia,
de modo a não comprometer o tempo de interação com seus filhos.
A Sociedade Brasileira de Pediatria segue a recomendação da AAP para
crianças de até dois anos e orienta que, a partir daí, o tempo máximo de tela
(tempo de exposição de uma criança a uma tela) seja de duas horas por dia.
A recomendação inclui computador, tablet, televisão, videogame e celular.
Outra fonte de referência no assunto é a organização norte-americana Zero
to Three, dedicada a garantir que as crianças de zero a três anos tenham um
bom começo de vida. Recentemente, a organização publicou um conteúdo
apresentando os cinco mitos equivocados a respeito do uso de mídia por
crianças de menos idade:
§	 Mito 1: todo o tempo de tela é prejudicial ao aprendizado nos anos
iniciais de vida.
§	 Realidade: a Zero to Three sustenta que orientação de conteúdo, li-
mite de tempo de tela e envolvimento dos pais como mediadores pode
criar condições para que exista aprendizado.
§	 Mito 2: as crianças não são impactadas pela TV ligada ao fundo.
§	 Realidade: as crianças são impactadas, com prejuízos para o brincar
e o aprendizado.
§	 Mito 3: TV na hora de dormir pode ajudar as crianças a cair no sono.
§	 Realidade: é justamente o contrário. TV desperta a criança.
§	 Mito 4: o uso de celular pelos pais não afeta o comportamento
das crianças.
§	 Realidade: quanto mais os pais usam o celular, menos atenção as
crianças recebem e mais agitadas elas ficam.
§	 Mito 5: quanto mais interativa for a experiência de tela, melhor
para a criança.
§	 Realidade: muita possibilidade de interação virtual prejudica o
foco da criança.
o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
27
É a interação pessoal entre pais/adultos e crianças que traz benefícios para
o desenvolvimento da linguagem e a aquisição de vocabulário. A tecnologia
não substitui a interação com um adulto em praticamente nenhum quesito,
especialmente no de dar atenção, estímulo e afeto. Dar atenção à criança
ajuda que ela construa um forte sistema de valores e autoestima, o que a
torna mais confiante para enfrentar desafios.
Além disso, o excesso de mídia compromete o tempo do livre brincar,
tão necessário para desenvolver a socialização, a criatividade e a habili-
dade de resolver problemas.
o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
Desenvolver a criança para desenvolver a sociedade
“Como sociedade, não podemos nos dar o luxo de adiar o investimento nas
crianças para quando forem adultos, nem podemos aguardar que atinjam
a idade escolar, quando poderá ser tarde demais para intervir.” A frase é do
economista norte-americano James J. Heckman, laureado em 2000 com
o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas por seus estudos relacionando
educação, desenvolvimento social e Primeira Infância.
Heckman constatou que investir em desenvolvimento e aprendizagem na
Primeira Infância traz um retorno maior para a sociedade do que investi-
mentos em qualquer outra etapa da vida:
Artigo
Media use by Children Younger than 2 Years, da Academia
Americana de Pediatria (AAP) (http://pediatrics.aappublications.
org/content/128/5/1040.full?sid=90c428d6-df4a-4e16-8862-
2ef44f314693).
Infográfico
5 Myths About Young Children and Screen Media, da organização
Zero to Three (https://www.zerotothree.org/resources/383-5-
myths-about-young-children-and-screen-media-infographic).
Artigo
Screen Sense: Setting the Record Straight, da organização Zero to
Three (https://www.zerotothree.org/resources/385-screen-sense-
key-findings).
O especialista é você
(em inglês)
(em inglês)
(em inglês)
28
As conclusões de Heckman reforçam o pressuposto científico de que os
primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento do cérebro e,
por conseguinte, de capacidades fundamentais para a aquisição de novos
conhecimentos no futuro e para o acúmulo de capital humano. Capital hu-
mano é definido como o conjunto de características individuais – como
habilidades cognitivas e não cognitivas, estado de saúde e destreza – que
determinam, juntamente com variáveis de contexto, os níveis de bem-estar
dos indivíduos em suas diversas dimensões (salário e inserção no mercado
de trabalho, envolvimento com violência e criminalidade, vícios e longevida-
de e estabilidade familiar, entre outros).
Cada conteúdo aprendido em uma etapa da vida serve de base para o
aprendizado na etapa seguinte. O já mencionado estudo “O impacto do
desenvolvimento na Primeira Infância sobre a aprendizagem”, do Núcleo
Ciência Pela Infância (NCPI), resume com propriedade as consequências
que se podem esperar quando a curva de aprendizado de uma crian-
ça não começa bem: “Quanto maior o déficit produzido, mais custoso
é remediá-lo posteriormente, de modo que desigualdades produzidas
na primeira infância acabam por contribuir significativamente para a
desigualdade social percebida na vida adulta. No longo prazo, crianças
o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
TAXADERETORNODOS
INVESTIMENTOSEMCAPITALHUMANO
0 IDADE
CRECHE
0-3 ANOS
PRÉ-
ESCOLA
4-5 ANOS
PÓS-ESCOLA
INTERVENÇÃO PARA ADULTOS
ESCOLA
Programas voltados aos
primeiros anos de vida
Programas voltados
para a pré-escola
Educação escolar
Capacitação profissional
Taxa de retorno x idade
A análise de programas de edu-
cação nas diferentes faixas etá-
rias demonstrou que a taxa de
retorno para cada dólar investido
é maior quanto mais cedo for re-
alizada a intervenção.
Fonte: modificado de: Heckman, J. Skill Formation and the Economics of Investing in Disadvantaged
Children Science, 30 June 2006: 312 (5782), 1900-1902. [DOI:10.1126/science.1128898]
29
que tiveram menos oportunidades de desenvolvimento tornam-se, com
maior probabilidade, adultos pobres, produzindo o fenômeno conhecido
como ciclo intergeracional da pobreza”.
O estudo do NCPI vai ainda além: “Do ponto de vista social, a evidên-
cia empírica demonstra que crianças que frequentaram boas escolas e
tiveram atenção à saúde adequada na Primeira Infância tornaram-se ci-
dadãos com menor propensão ao envolvimento com tabagismo, alcoo-
lismo, criminalidade e violência, além de precisarem menos da ajuda do
governo para sua sobrevivência (através de programas de transferência
de renda e concessão de benefícios)”.
De acordo com o economista James J. Heckman, investir em crianças de
menor idade que se encontram em desvantagem social é uma das poucas
políticas públicas capazes de promover igualdade e justiça social e, ao mes-
mo tempo, gerar maior produtividade na economia e na sociedade.
Artigo
O impacto do desenvolvimento na Primeira Infância sobre a
aprendizagem, do Núcleo Ciência Pela infância (NCPI) (http://
www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/o-impacto-no-
desenvolvimento-da-primeira-infancia-sobre-a-aprendizagem.aspx).
Artigo
Investir nos mais jovens, por James J. Heckman e Henry Schultz para
a Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância (http://
www.enciclopedia-crianca.com/Pages/PDF/HeckmanPRTxp.pdf).
Artigo
O investimento em desenvolvimento na primeira infância cria
os alicerces de uma sociedade próspera e sustentável, por
Jack Shonkoff e Julius B. Richmond para a Enciclopédia sobre o
Desenvolvimento na Primeira Infância (http://www.enciclopedia-
crianca.com/Pages/PDF/ShonkoffPRTxp.pdf).
O especialista é você
o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
30
»» Primeira Infância: nome dado ao período que abrange
os primeiros seis anos completos ou 72 meses de vida da
criança. É uma etapa muito sensível para o desenvolvi-
mento e as experiências dessa época são levadas para o
resto da vida.
»» Plasticidade cerebral: capacidade de transformação
devido aos estímulos e às experiências vividas.
»» Desenvolvimento na Primeira Infância: desenvol-
vimento que acontece nos primeiros seis anos de vida,
considerando aspectos físicos, neurológicos, socioemo-
cionais e cognitivos.
»» Nutrição na Primeira Infância: é o fator ambiental
mais bem documentado em relação à interferência no
status de saúde da criança até sua vida adulta. A nutri-
ção adequada desde a gestação é capaz de proteger o
indivíduo e contribuir para o seu pleno crescimento e
desenvolvimento.
»» Tempo de tela: do inglês “screen time”, o termo se re-
fere à somatória do tempo despendido por uma pessoa
por dia diante de uma tela, incluindo os diversos tipos de
mídia (computador, tablet, televisão/DVD, videogame,
celular, etc.). Algumas organizações, como a Sociedade
Brasileira de Pediatria, não recomendam o uso de mídias
para crianças com menos de dois anos e, para crianças
acima dessa idade, orientam que esse tempo não ultra-
passe duas horas diárias.
»» Vínculo: capacidade de duas pessoas experimentarem
e se ajustarem à natureza uma da outra, desenvolvida
por meio da interação amorosa e contínua.
»» Capital humano: conjunto de características individuais
que determinam, juntamente com variáveis de contexto,
os níveis de bem-estar dos indivíduos em suas diversas
dimensões (salário e inserção no mercado de trabalho,
envolvimento com violência e criminalidade, vícios e lon-
gevidade e estabilidade familiar, entre outros).
Na ponta
da língua
o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
Mamar e dormir. Comer e brincar. A vida da criança, des-
de o ambiente protegido do ventre materno até comple-
tar seis anos de idade, pode parecer simples, mas não é.
Pense no trabalho envolvido desde que duas células se
encontram no fenômeno da fecundação até o momen-
to do nascimento do bebê. Quando uma criança nasce,
uma parte do esforço da criação está terminada, mas ainda
existem várias tarefas inacabadas. Como já dissemos, a for-
mação do cérebro, por exemplo, é uma entre tantas outras
essenciais que continuam a ocorrer após o nascimento,
assim como o funcionamento da respiração, a maturação
do sistema digestório, do sistema imunológico, etc.
Promover o desenvolvimento integral na Primeira Infân-
cia pressupõe atentar para uma série de particularidades
e desafios, para além de acompanhar o crescimento e
a saúde física. Criar condições favoráveis para o desen-
volvimento pleno das crianças de zero a seis anos é uma
tarefa não só dos pais ou familiares, mas também de
toda a sociedade. Isso ainda exige leis e políticas que
deem atenção especial a este período da vida, assim
como a busca de soluções inovadoras. Os negócios de
impacto social podem ter uma grande contribuição nes-
te sentido, na medida em que utilizam da criatividade
para aumentar o acesso da população de baixa renda a
produtos e serviços essenciais e contribuem para evitar
que problemas ou negligências possam impactar a vida
presente e futura das crianças.
Os desafios
da Primeira
Infância
no Brasil
33
Desafios são terrenos férteis para a identificação de oportunidades. Este
capítulo apresenta um conjunto abrangente de dados qualitativos e quan-
titativos sobre os principais desafios da Primeira Infância no Brasil. Nossa
intenção é reunir subsídios para ajudar você a refletir com mais propriedade
sobre a sua ideia transformadora. Sabemos que se trata de uma leitura mais
densa e talvez você precise realizá-la em etapas.
Visão que a sociedade tem da criança
A pesquisa “Percepções e Práticas da Sociedade em Relação à Primeira
Infância”, produzida em 2012 pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal,
pelo Ibope e Instituto Paulo Montenegro, levantou a visão da sociedade
sobre o que é importante para o desenvolvimento da criança de zero a
três anos. Os pontos mais destacados dizem respeito aos cuidados físi-
cos: levar ao pediatra/dar vacinas recomendadas, amamentar e ter cui-
dado com a alimentação.
Outros aspectos do desenvolvimento na Primeira Infância, relacionados,
por exemplo, ao desenvolvimento cognitivo e ao desenvolvimento psi-
cossocial – como brincar/passear, conversar com a criança e receber
atenção dos adultos –, aparecem numa segunda escala de importância
perante a opinião pública.
A leitura do estudo como um todo sugere que o desenvolvimento in-
fantil é entendido como sinônimo de crescimento pelas pessoas. “Se o
desenvolvimento físico é só parte de todo o processo de crescimento da
criança, a baixa incidência de respostas nos demais aspectos da pesquisa
preocupa, até porque eles também influenciam o desenvolvimento físi-
co”, registra a análise da pesquisa.
Outro ponto de atenção da pesquisa veio na resposta sobre o momento
a partir do qual a criança começa a aprender. O estudo revelou que me-
nos da metade das pessoas (47%) acredita que as crianças comecem a
aprender antes dos seis meses de idade. Já se sabe, porém, que a criança
aprende desde que nasce, que os primeiros seis meses constituem um
período intenso de aprendizado e que a interação e o vínculo com um
adulto de referência são determinantes para o desenvolvimento.
34
Vulnerabilidade social
Crianças em situação de vulnerabilidade social, que vivem em famílias de
menor renda, com acesso limitado a direitos ou em situação de exclu-
são, tendem a ter menos oportunidades de desenvolvimento ao longo
da vida. Em alguns casos, quando suas necessidades básicas de nutrição,
saúde, estímulos e afeto não são atendidas, a própria capacidade de apro-
veitar as oportunidades que lhes são oferecidas é afetada.
Segundo a edição 2014 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad), 5,4% da população de zero a três anos e 5,5% das crianças de quatro
a cinco anos estão em situação de extrema pobreza no Brasil. Em números
estimados, isso significa dizer que aproximadamente 870 mil crianças de
zero a cinco anos vivem em famílias com renda mensal per capita de até R$
85,00, que é o indicador mais recente para extrema pobreza no país.
Outro campo de indicadores para os quais se deve atentar quando se ana-
lisa a vulnerabilidade social na Primeira Infância é o da gravidez na adoles-
cência. Adolescentes grávidas apresentam gestação de maior risco para a
sua saúde e a do bebê – hipertensão na gravidez, prática do aborto indu-
zido, prematuridade do bebê e baixo peso ao nascer, entre outros fatores.
Além disso, tendem a não dispor da maturidade emocional necessária para
criar uma criança e a enfrentar mais dificuldade para terminar os estudos e
se preparar para o mercado de trabalho do que aquelas que não engravi-
daram. Em 2013, o Ministério da Saúde registrou mais de 400 mil casos de
adolescentes entre 15 e 19 anos grávidas no Brasil.
os desafios da primeira infância no brasil
Pesquisa
Percepções e Práticas da Sociedade em Relação à Primeira
Infância, produzida pela Fundação Maria Cecilia, pelo Ibope e Instituto
Paulo Montenegro (http://www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/
Paginas/A-vis%C3%A3o-da-sociedade-sobre-o-desenvolvimento-da-
Primeira-Inf%C3%A2ncia---uma-pesquisa-FMCSV-e-Ibope.aspx).
Análise de pesquisa
Primeiríssima Infância – Da gestação aos três anos, da Fundação
Maria Cecilia (http://www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/
Paginas/Primeir%C3%ADssima-Inf%C3%A2ncia---uma-pesquisa-
da-FMCSV-e-Ibope.aspx).
O especialista é você
35
Da mesma maneira, criar um filho sem a participação do pai pode ser um
desafio. Dados do Instituto Data Popular para 2015 apontam que 31% das
mães brasileiras são mães solteiras.
O Estado brasileiro adota estratégias de combate à desigualdade social
que contemplam famílias com crianças. A mais conhecida delas é o Pro-
grama Bolsa Família, política de transferência de renda que beneficiou 14
milhões de famílias em 2015. É importante compreender como este pro-
grama funciona, porque ele é amplamente disseminado entre as classes
sociais de renda mais baixa.
Por meio do programa, famílias que vivem em situação de extrema pobreza
ou de pobreza (renda mensal per capita entre R$ 85,01 e R$ 170,00) têm
acesso a recursos em condições variadas. Acompanhe alguns detalhes:
§	 Para as famílias em situação de extrema pobreza, o auxílio
é de R$ 85,00 mensais por pessoa, independentemente da
quantidade de pessoas na família.
§	 A participação das famílias em situação de pobreza no Pro-
grama Bolsa Família é condicionada ao fato de terem em sua
composição gestantes e crianças ou adolescentes de até 15
anos de idade:
»» O benefício concedido à gestante consiste em nove par-
celas mensais de R$ 39,00.
»» O valor mensal do benefício por criança/adolescente é de
R$ 39,00.
»» Nutrizes (mães que amamentam) com crianças com até seis
meses de idade recebem seis parcelas mensais de R$ 39,00.
»» Considerando o público das gestantes, crianças/adoles-
centes e nutrizes, cada família pode acumular até cinco
benefícios por mês, chegando a R$ 195,00.
No caso das famílias em situação de pobreza, o programa requer ainda o
cumprimento de exigências em contrapartida ao recebimento do benefício,
como comparecimento das gestantes às consultas de pré-natal; participa-
ção das nutrizes em atividades educativas do Ministério da Saúde sobre alei-
tamento materno e alimentação saudável; inclusão de dados de crianças de
até seis meses no Cadastro Único do programa; atualização permanente do
cartão de vacinação das crianças com até sete anos; frequência mínima de
85% à escola para crianças e adolescentes de até 15 anos; e acompanha-
mento da saúde das mulheres da família.
os desafios da primeira infância no brasil
36
Para além das políticas de transferência de renda, ao analisarmos a relação
que o Estado brasileiro estabelece com a infância, é importante notar que
a legislação brasileira se mostra bastante avançada: temos o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), outorgado como lei em 1990, e foi aprova-
do em 2016 o Marco Legal da Primeira Infância. As duas legislações situam a
criança como sujeito de direitos e cidadã e reforçam diretrizes de proteção
e desenvolvimento integral.
»» Situação de extrema pobreza: famílias que vivem com
renda mensal per capita de até R$ 85,00.
»» Situação de pobreza: famílias que vivem com renda
mensal per capita de R$ 85,01 a R$ 170,00.
Na ponta
da língua
Leis
Marco Legal da Primeira Infância, Lei Federal nº 13.257/2016 (http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.
htm) e Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Federal nº
8.069/1990 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm).
O especialista é você
os desafios da primeira infância no brasil
Pré-natal, parto e nascimento
O desenvolvimento de uma criança começa no momento da sua concep-
ção e os cuidados específicos da gestação até o nascimento são determi-
nantes para a sua formação. Dados de 2013 extraídos da Pesquisa Nacional
de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que
97,4% das gestantes no Brasil realizam pré-natal, sendo que 83,7% começam
o pré-natal antes da 13a
semana.
Uma gestação dura, em regra, 40 semanas e o acompanhamento da
gestação desde o início visa proteger a saúde da mãe, garantir o melhor
desenvolvimento possível do bebê na fase intrauterina e preparar a ges-
tante para o parto.
Apesar de a estatística indicar que o pré-natal está praticamente uni-
versalizado no Brasil, sabe-se que a qualidade do serviço oferecido às
gestantes ainda deixa a desejar. As principais críticas recaem sobre:
37
§	 A capacidade de os obstetras realizarem uma boa consulta
clínica das pacientes, examinando-as, ouvindo-as e interpre-
tando devidamente os sinais.
§	 A dificuldade da rede pública de saúde para realizar os exames
necessários da gestação no tempo certo.
§	 A pouca atenção que é dada à gestante no sentido de prepa-
rá-la para o momento do parto, isto é, orientando-a sobre for-
mas de parto, riscos e sobre o que é esperado dela nesta hora.
Uma das consequências da falta de orientação das mães sobre os tipos
de parto possíveis e suas indicações é o elevado índice de partos cesária
no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, 55,6% dos partos feitos
no país em 2015 eram cesarianas. Na rede privada, este índice chegou
a 84% e na rede pública a 40%.
Em algumas situações, a cesária é uma intervenção efetiva para salvar a
vida de mães e bebês, porém ela pode causar complicações significati-
vas e, às vezes, permanentes, como sequelas ou morte, especialmente
se realizada em locais sem infraestrutura e antecipando o tempo de
maturidade do bebê.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), taxas de cesária
maiores que 10% não representam redução de mortalidade materna e do
recém-nascido. Ao contrário, o excesso de cesarianas resulta em maior
taxa de mortalidade materna e em maior número de infecções depois
do parto, segundo dados do Ministério da Saúde. Para os bebês, as im-
plicações podem ser avaliadas pelo aumento da prematuridade. Confira
alguns indicadores:
§	 Entre 1992 e 2010, as mulheres submetidas a partos cesá-
rios tiveram 3,5 vezes mais chance de morrer do que as de
parto normal.
§	 Entre 2000 e 2011, elas apresentaram cinco vezes mais proba-
bilidade de ter infecção depois do parto do que as do grupo
do parto normal.
§	 Em 2010, a proporção de bebês prematuros, ou seja, nasci-
dos antes das 37 semanas de gestação, foi maior entre os
nascidos via cesárias – 7,8% diante de 6,4% de prematuridade
nos partos normais. Bebês prematuros são mais propensos a
enfrentar dificuldades respiratórias ao nascer e problemas de
neurodesenvolvimento, entre outras questões.
os desafios da primeira infância no brasil
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Nutrição
Crescimento e desenvolvimento são dois fenômenos complexos carac-
terísticos da faixa etária pediátrica, sendo ambos inter-relacionados. O
crescimento depende da interação de fatores genéticos, os quais têm
sua expressão modulada por características ambientais, socioeconômi-
cas, emocionais e nutricionais. Assim, a alimentação é importante não
somente para proporcionar pleno crescimento e desenvolvimento, mas
também por estar envolvida na gênese dos principais distúrbios nutri-
cionais na infância, como desnutrição energético-proteica, obesidade,
deficiência de ferro e hipovitaminose A.
O Brasil tem evoluído no campo da alimentação na Primeira Infância em
questões básicas como a desnutrição infantil e a morte por diarreia.
Análise de pesquisa
Primeiríssima Infância – Da gestação aos três anos, da Fundação
Maria Cecilia (http://www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/
Paginas/Primeir%C3%ADssima-Inf%C3%A2ncia---uma-pesquisa-
da-FMCSV-e-Ibope.aspx). Veja o capítulo 9, Da gestação ao parto.
Publicação
Coleção Primeiríssima Infância, da Fundação Maria Cecilia (http://
www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/formacao-em-
humanizacao-do-parto-e-nascimento.aspx). Veja o caderno 7,
Formação em humanização do parto e nascimento.
Diretiva internacional
Declaração da OMS sobre Taxas de Cesáreas, da Organização
Mundial da Saúde (OMS) (http://apps.who.int/iris/
bitstream/10665/161442/3/WHO_RHR_15.02_por.pdf?ua=1ua=1).
O especialista é você
os desafios da primeira infância no brasil
»» Prematuridade: condição dos bebês que nascem an-
tes de completar 37 semanas de gestação ou com peso
inferior a 2,5 quilos.
Na ponta
da língua
39
O Ministério da Saúde reportou importante redução dos casos de baixa es-
tatura e baixo peso por deficiência nutricional no Brasil entre 1996 e 2006.
Apesar da significativa redução da desnutrição primária, isto é, decorrente
da inadequação nutricional em todo o Brasil, muitos casos de deficiência
de micronutrientes, chamada de fome oculta, ainda são detectados. Uma
recente publicação científica mostrou que 53% das crianças menores de
dois anos de idade ainda são diagnosticadas com anemia por deficiência
de ferro, que poderia ser corrigida com uma nutrição adequada.
Com base em estudos transversais realizados no Brasil nos anos 1970, 1980 e
1990, constatou-se rápido declínio na prevalência de desnutrição energético
-proteica e aumento na prevalência de sobrepeso e obesidade, caracterizan-
do o fenômeno da transição nutricional. As mudanças observadas apresen-
tam particularidades segundo regiões geográficas do Brasil e classes sociais e
são resultantes de profundas mudanças ocorridas no país nas últimas déca-
das. Deve ser destacado que a transição nutricional é um fenômeno mundial.
No mundo, a disponibilidade de alimentos cresceu 10%, com consequente
redução na prevalência de desnutrição e aumento na obesidade que se trans-
formou em grave preocupação em termos de saúde pública. Considera-se
que este fenômeno é explicado, pelo menos em parte, pela influência do
crescimento econômico, urbanização e globalização no padrão alimentar.
Outro aspecto que vem recebendo atenção crescente nas últimas décadas
é a relação entre a alimentação e o estado nutricional nos primeiros anos
de vida com o desenvolvimento de doenças crônicas na vida adulta.
Dados publicados pelo IBGE em 2010, por sua vez, confirmam queda signi-
ficativa na tendência de mortalidade infantil em crianças menores de cinco
anos por diarreia – de 17% em 1986 para 13,1% em 1996 e para 9,4% em 2006.
Mas ainda existem desafios na nutrição para a Primeira Infância e eles come-
çam na fase gestacional. Confira alguns pontos de atenção:
Gestantes
§	Verifica-se consumo inferior ao recomendado de nutrientes essen-
ciais como o ferro e o cálcio na alimentação de gestantes, bem
como o consumo excessivo de sódio. Também é frequente o caso
de mulheres que já entram na gestação com reservas insuficientes
de ferro, favorecendo a ocorrência de anemia na gestação. Isso pode
ocasionar baixo peso no bebê, dificuldades de crescimento, partos
prematuros e abortos. O excesso de sal na gravidez, por sua vez,
pode gerar bebês com propensão a serem adultos hipertensos.
os desafios da primeira infância no brasil
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§	Muitas grávidas brasileiras não atingem as necessidades diárias de
ácido fólico só com alimentação e poucas cumprem a recomen-
dação de suplementação, principalmente antes da gestação. A in-
gestão adequada de ácido fólico reduz a incidência de malformação
do tubo neural, que é a estrutura embrionária que dará origem ao
cérebro e à medula espinhal. O Brasil é o quarto país com maior
prevalência tanto de anencefalia como de espinha bífida nas
crianças, uma malformação congênita caracterizada justamente por
um fechamento incompleto do tubo neural.
§	Estudos em grupos de grávidas realizados em 2007 revelaram que
cerca de 30% das gestantes iniciaram a gravidez com excesso de
peso e que 87% delas mantiveram esse estado nutricional ao fim da
gestação. Ainda, 40,8% das gestantes avaliadas apresentaram sobre-
peso ou obesidade ao fim da gestação. A macrossomia fetal – bebês
que nascem com mais de quatro quilos – desponta como possível
consequência do excesso de peso na gestação. A macrossomia fetal
é apontada como fator de risco para o bebê, possibilitando a ocor-
rência futura de doenças crônicas não transmissíveis, como obesida-
de e diabetes mellitus.
Amamentação
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde re-
comendam aleitamento materno exclusivo por seis meses e de forma
complementar até os dois anos de idade ou mais. Além de ser um ali-
mento completo, rico e balanceado em nutrientes, o leite materno atua no
sistema imunológico do bebê transferindo anticorpos da mãe para a crian-
ça. Do ponto de vista afetivo, a amamentação é uma excelente oportunida-
de para o estabelecimento do vínculo mãe-bebê.
Muitas mães desistem de amamentar por falta de esclarecimento, por
acharem que amamentar é difícil em função de rachaduras no bico do peito
ou por acreditarem que o seu leite não é capaz de saciar a fome do bebê, o
que gera muita ansiedade. Elas ignoram que, da mesma forma que os bebês
aprendem a mamar, as mães também vivem uma curva de aprendizado para
amamentar e é necessário apoio nesse processo, que pode ser desafiador.
A amamentação é um ato naturalmente regulado pela livre demanda (quan-
to mais o bebê mama, mais leite as mamas vão produzir).
Entre os principais fatores associados ao desmame precoce estão o uso de
chupeta, o fato de a mãe trabalhar fora e a falta de experiência/informação
em torno da amamentação. A introdução de fórmulas, quando desnecessá-
os desafios da primeira infância no brasil
41
rias, também não é recomendada. O desmame precoce e a hiperconcen-
tração de dietas lácteas sob a forma de mingaus são fatores associados ao
desenvolvimento de excesso de peso na criança. Felizmente, as estatísticas
provam que o Brasil está evoluindo quando o assunto é amamentação:
§	 Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, a du-
ração média da amamentação no país aumentou de 5,2
meses em 1986 para 14 meses em 2006. Durante este mes-
mo período, a amamentação exclusiva subiu de 2,5% para
38,6% até os seis meses.
§	 Dados do Ministério da Saúde de 2008 indicam que a taxa de
amamentação exclusiva até os seis meses de vida era de 41%,
enquanto a manutenção da amamentação dos nove aos 12
meses de idade era praticada em 59% dos casos.
os desafios da primeira infância no brasil
Primeiros anos de vida
A anemia ferropriva, ou seja, por deficiência de ferro, é a carência nutricio-
nal de maior magnitude no mundo, sendo considerada fenômeno em ex-
pansão em todos os segmentos sociais. No Brasil não é diferente. Ela atinge
principalmente bebês menores de dois anos, além de gestantes, podendo
afetar o crescimento e o desenvolvimento cognitivo das crianças.
»» Amamentação exclusiva: É o ato de alimentar o bebê
somente com leite materno, sem necessidade de ofer-
ta de água, chá, suco ou de nenhum outro alimento.
A amamentação exclusiva é recomendada até os seis
meses de idade.
Na ponta
da língua
Artigo
Aleitamento Materno, do Unicef (http://www.unicef.org/brazil/pt/
activities_10003.htm).
Apostila
Promovendo o aleitamento materno, do Unicef (http://www.unicef.
org/brazil/pt/aleitamento.pdf).
O especialista é você
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Um outro desafio do campo da nutrição nos primeiros anos de vida refere-se
aos hábitos alimentares. Especialistas acreditam que a introdução precoce
e o elevado consumo de sal e açúcar na infância podem influenciar nega-
tivamente nas escolhas alimentares futuras. Além disso, a alta ingestão de
proteína pode ser prejudicial e contribuir para o excesso de ganho de peso e
risco de doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta. Hábitos alimen-
tares inadequados nos primeiros anos de vida estão intimamente ligados a
doenças infecciosas, afecções respiratórias, desnutrição, excesso de peso
e carências específicas de micronutrientes como ferro, zinco e vitamina A.
Já se observa um consumo excessivo de carboidrato e gordura na alimenta-
ção das crianças brasileiras de seis a 59 meses, associado à ingestão de ali-
mentos processados. Por outro lado, o consumo de vegetais e frutas mos-
tra-se reduzido. Também se tem notado o aumento dos casos de alergia
alimentar entre crianças no Brasil.
Publicação
Dez passos para uma alimentação saudável: Guia alimentar para
menores de 2 anos, do Ministério da Saúde (http://189.28.128.100/
dab/docs/portaldab/publicacoes/enpacs_10passos.pdf).
O especialista é você
»» Anemia ferropriva: é a anemia provocada por defici-
ência de ferro. Atinge principalmente bebês menores de
dois anos, além de gestantes, podendo afetar o cresci-
mento e o desenvolvimento cognitivo das crianças.
os desafios da primeira infância no brasil
Saúde da criança
Quando o assunto é saúde na Primeira Infância, o foco tende a estar no
cumprimento do calendário de vacinações e no acompanhamento da evo-
lução do peso, da altura e, nos primeiros anos, da circunferência craniana
ou perímetro cefálico.
As visitas regulares ao pediatra são uma prática comum, conforme demons-
trou a já mencionada pesquisa “Percepções e Práticas da Sociedade em
Na ponta
da língua
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Relação à Primeira Infância”. Todavia, há pouca atenção, tanto por parte
de pediatras quanto de pais/mães, em relação a aspectos do desenvol-
vimento integral da criança – como a evolução da fala e da motricidade
–, mesmo que existam instrumentos de apoio para que se faça esse acom-
panhamento, como a Caderneta de Saúde da Criança, que, em sua reedi-
ção, contempla os marcos do desenvolvimento. Na rede pública ou privada,
a importância de a criança receber estímulos e de brincar, por exemplo, não
costuma pautar a conversa das consultas.
Em termos de saúde pública da infância, o Brasil ainda se debate com
a taxa de mortalidade infantil para crianças menores de um ano. Houve
avanços significativos nessa área, mas há bastante espaço para melhorar.
Observe os dados:
§	 Uma projeção do IBGE indica que a taxa de mortalidade in-
fantil para cada mil crianças menores de um ano nascidas vi-
vas caiu de 29,82 em 2000 para 13,82 em 2015. Em países
desenvolvidos, esta mesma taxa é inferior a 8.
§	 A disparidade entre as regiões geográficas é importante.
Um levantamento do Ministério da Saúde demonstra que
a taxa de mortalidade infantil para o Brasil era de 15,3 em
2011, enquanto as taxas regionais eram de 11,3 para o Sul,
13 para o Sudeste, 15,5 para o Centro-Oeste, 18 para o Nor-
deste e 19,9 para o Norte.
Vale a pena destacar, ainda, a necessidade de a sociedade proporcionar
melhor acolhida às crianças com deficiência. Vivendo quase na invisibi-
lidade, existem poucas estatísticas sobre elas. Estimativas internacionais
apontam que uma em cada 20 crianças com 14 anos ou menos tem al-
gum tipo de deficiência.
Por conta do desconhecimento e da discriminação, as crianças com defi-
ciência se apresentam como um grupo potencialmente vulnerável. As prá-
ticas de inclusão demandam mais do que atitude humanitária das pessoas
– elas pedem recursos especializados, que se traduzem em infraestrutura,
terapias e profissionais habilitados que não estão presentes em todo o
Brasil. O surto de infecções pelo vírus zika e a nova geração de bebês com
microcefalia, merecedores de todo o esforço possível em busca de me-
lhor qualidade de vida, elevam esse desafio ainda mais.
os desafios da primeira infância no brasil
44
Parentalidade
Derivado do inglês “parenting”, o termo parentalidade vem sendo utilizado
para descrever o conjunto de atividades desempenhadas pelo adulto de re-
ferência da criança no seu papel de assegurar a sobrevivência e o desenvol-
vimento pleno da criança, de modo a promover a sua integração social e
torná-la mais e mais autônoma.
O adulto de referência é a pessoa que convive rotineiramente, interage di-
retamente e estabelece os vínculos afetivos mais próximos durante os pri-
meiros anos de vida. É o responsável direto por cuidar, fornecer estímulos
adequados, educar, amar, impor limites, fortalecer a autonomia e preparar a
criança para os desafios e oportunidades do presente e da vida adulta. Em
geral, são adultos de referência o pai e a mãe da criança, mas, a depender da
maneira como cada família se conforma, este papel pode ser desempenha-
do por avós, avôs, tios, tias, padrastos, parceiros em casais homoafetivos, etc.
A parentalidade é apontada por especialistas como a principal tarefa
de uma geração (pais), de modo a preparar a segunda geração (filhos)
para situações físicas, econômicas e psicossociais que irão se debater
ao longo do seu ciclo de desenvolvimento. Mas o exercício da parenta-
lidade não se dá de forma meramente inata – é algo aprendido na prática e
com apoio do conhecimento adquirido por outras pessoas.
»» Taxa de mortalidade infantil: número de crianças
mortas, durante o primeiro ano de vida, a cada mil nas-
cidas vivas.
Relatório
Situação Mundial da Infância 2015 – Reimagine o futuro, do
Unicef (http://www.unicef.org/publications/files/SOWC_2015_
Summary_Portuguese_Web.pdf).
Relatório
Situação Mundial da Infância 2013 – Crianças com deficiência,
do Unicef (http://www.unicef.org/brazil/pt/PT_SOWC2013.pdf).
O especialista é você
os desafios da primeira infância no brasil
Na ponta
da língua
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É por meio desse exercício cotidiano que o adulto de referência estabelece
vínculo com a criança, a ligação desenvolvida por meio de interação amo-
rosa e contínua da qual tratamos no capítulo 2, que tem forte influência nas
demais relações que a criança estabelecerá na vida e no desenvolvimento
das funções do cérebro.
Tudo isso posto, vale a pena elencar alguns grandes desafios que a vida mo-
derna traz para a parentalidade:
§	 O reconhecimento da importância da família – Desde a ges-
tação, o desenvolvimento de cada criança se dá no contexto
da sua família. As famílias precisam ser apoiadas no exercício
da parentalidade, o que pressupõe tanto o reconhecimento e
o empoderamento de suas forças quanto a identificação e o
enfrentamento das suas fragilidades.
§	 A necessidade de uma rede de apoio à mãe, ou principal adul-
to de referência, e ao bebê – O nascimento de um bebê exige
toda uma reorganização da dinâmica familiar em função das
necessidades desse novo ser. Nos primeiros anos de vida, essas
necessidades mudam a cada etapa do desenvolvimento, exigin-
do que a mãe, o pai ou adultos de referência estejam em cons-
tante adaptação. Se a mãe ou o principal adulto de referência
não contar com uma rede de relacionamentos e recursos para
receber apoio nessa fase, torna-se difícil exercer a parentalida-
de. Quando mencionamos esta rede, pensamos em familiares,
amigos, vizinhos, chefes/subordinados e profissionais que po-
dem apoiar o exercício da parentalidade. Quando falamos em
recursos, estamos nos referindo a serviços como berçários;
orientação sobre amamentação, nutrição e cuidados; atendi-
mento de saúde confiável; creches e pré-escolas; parquinhos
e outros locais de lazer; e centros de convivência. Como diz o
ditado: “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”.
§	 Apropriação de papéis – No exercício da parentalidade, pai
e mãe são os primeiros responsáveis por uma criança e seus
papéis são complementares. Didaticamente falando, existem
funções que dizem respeito ao acolhimento e apoio à crian-
ça, normalmente associadas às funções maternas. E funções
de auxiliar a criança a reconhecer limites e estabelecer um sis-
tema de normas e valores, por vezes associadas à função pa-
terna. Isso não quer dizer que o pai não deva se envolver com
os cuidados da criança ou que a mãe não deva impor limites.
Ambas as funções são essenciais e podem ser desenvolvidas
os desafios da primeira infância no brasil
46
simultaneamente pelas pessoas que cuidam da criança, inde-
pendentemente de gênero ou consanguinidade.
§	 Conciliar parentalidade e vida profissional/pessoal – Vínculo
se constrói no cuidado amoroso da criança, traduzido na ro-
tina de alimentação, higiene, brincadeira, proteção, socializa-
ção e estabelecimento de limites. Pais, mães ou outros adul-
tos de referência excessivamente ocupados com atividades
além da parentalidade, submetidos a jornadas de trabalho e a
deslocamentos exaustivos para ir e vir do emprego, por exem-
plo, disporão de menos tempo para construir essa relação de
vínculo com a criança.
Publicação
Fundamentos da Família como Promotora do Desenvolvimento
Infantil – Parentalidade em Foco, da Fundação Maria Cecilia (http://
www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/fundamentos-
da-familia-como-promotora-do-desenvolvimento-infantil-
parentalidade-em-foco.aspx).
Pesquisa
Estatísticas de Gênero, do IBGE (http://biblioteca.ibge.gov.br/
visualizacao/livros/liv88941.pdf).
O especialista é você
»» Adulto de referência: pessoa que convive rotineira-
mente, interage diretamente e estabelece os vínculos
afetivos mais próximos durante os primeiros anos de vida.
os desafios da primeira infância no brasil
Educação
A educação infantil é a primeira etapa da educação básica e tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos fí-
sico, psicológico, intelectual e social. Seu papel é complementar à ação
da família e da comunidade.
De acordo com as leis brasileiras, a educação infantil se constitui de duas
modalidades de atendimento: a creche, para crianças de até três anos,
e a pré-escola, para crianças com idade variável entre quatro anos e
Na ponta
da língua
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cinco anos e 11 meses. Na prática, a maioria das escolas de educação
infantil no Brasil atende crianças de todas as idades na Primeira Infância
e organiza as salas de acordo com as circunstâncias locais, por critérios
próprios que não necessariamente a idade.
O acesso à educação infantil é garantido por lei no país, o que significa que
toda criança com idade de até cinco anos e 11 meses deveria ter direito
a uma vaga num serviço gratuito de educação infantil. Segundo o Plano
Nacional de Educação (PNE), lei promulgada em 2014 que estabelece dire-
trizes, metas e estratégias para a política educacional e valerá por dez anos,
o atendimento das crianças de quatro e cinco anos deve ser universalizado
em 2016. A normativa diz, ainda, que a oferta de matrículas em creche deve
ser ampliada de forma a atender no mínimo 50% das crianças com até três
anos até 2024. As determinações do PNE também orientam estados e muni-
cípios, que devem responder a elas criando ou adequando Planos Estaduais
e Municipais de Educação.
Dados tabulados pelo movimento Todos pela Educação a partir da Pnad
2014 trazem no “Anuário Brasileiro da Educação Básica 2016” o retrato da
educação infantil brasileira:
§	 29,6% das crianças de zero a três anos estão na educação
infantil. Até 2024, de maneira projetada, calcula-se que apro-
ximadamente 2,6 milhões de crianças ainda deverão ser ma-
triculadas na creche para atingir a meta do PNE.
§	 89,1% das crianças de quatro e cinco anos estão na educação
infantil. Para cumprir a meta do PNE, aproximadamente 600
mil crianças terão de ser matriculadas na pré-escola em 2016.
§	 Entre os 25% mais pobres, a taxa de crianças de zero a três
anos na escola cai para 22,4% e de crianças de quatro e cinco
anos cai para 86,3%.
§	 Entre os 25% mais ricos, as taxas sobem 51,2% e 96,8%,
respectivamente.
Quando se analisa a educação infantil brasileira do ponto de vista da qua-
lidade do serviço ofertado também se verificam lacunas. Análises de espe-
cialistas que cruzam aspectos como insumos, processos e resultados da
educação infantil indicam que a qualidade do atendimento no Brasil está
aquém do desejado, especialmente nas creches.
Embora o nível de formação dos professores já se tenha adequado aos re-
quisitos – menos de 1% dos professores ainda não atingiram a qualificação
os desafios da primeira infância no brasil
48
mínima exigida, que é a do ensino médio normal ou magistério, e mais de
62% possuem ensino superior, segundo o “Anuário Brasileiro da Educação
Básica 2016” –, acredita-se que a qualidade da formação dos professores não
é suficiente para garantir que eles realizem um bom trabalho com as crianças.
O curso de pedagogia, com o currículo que possui, não se dedica à for-
mação do professor de educação infantil. São poucas as experiências de
cursos com essa ênfase. As disciplinas são na sua maioria teóricas, sobre
teoria da educação, enquanto as disciplinas específicas de educação in-
fantil são quase inexistentes.
Um bom profissional de educação infantil precisa ser um especialista em
desenvolvimento infantil no âmbito educacional e na pedagogia da infân-
cia. Precisa conhecer muito bem a criança, saber como ela aprende, como
ele ensina, quais as experiências mais significativas segundo as etapas do
desenvolvimento da criança, saber sobre a organização do ambiente e es-
paços, de forma a valorizar a aprendizagem ativa da criança, a segurança e
a confiança de que ela tanto necessita para suas explorações e interações
com seus pares, os objetos, espaços e adultos. Um profissional de educação
infantil precisa ter a habilidade de estabelecer vínculos e de criar condições
de segurança e afeto nas relações com as crianças; precisa ser alguém ca-
paz de organizar uma rotina previsível, mas repleta de desafios que atendam
à curiosidade natural da criança.
A qualidade da educação infantil também está relacionada à infraestrutura
das escolas. “O Anuário Brasileiro da Educação Básica 2016” traz o seguinte
panorama sobre as instalações da rede pública de educação infantil em 2014:
§	 Apenas 43,4% das creches contavam com parque infantil na-
quele ano, enquanto nas pré-escolas este índice era de 24,6%.
§	 Para a presença de salas de leitura, os índices eram de 14%
para creches e 12,3% para pré-escola.
§	 Sobre a existência de banheiros dentro do prédio da escola,
90,6% das creches e 79,8% das pré-escolas contavam com
este recurso, mas, quando se avaliou a existência de banheiros
adequados à educação infantil, o indicador caiu para 46,7% e
24,7%, respectivamente.
Em suma, pesquisas evidenciam que os impactos positivos duradouros da
educação infantil estão condicionados à qualidade da intervenção. Dentre
os benefícios destacados incluem-se ganhos no desenvolvimento cognitivo
no curto prazo, melhora nos níveis de aprendizado no médio prazo e me-
os desafios da primeira infância no brasil
49
lhora na escolaridade e renda no longo prazo. Em última análise, a qualidade
na educação infantil pode ser conferida por uma série de fatores, entre eles:
§	 Profissionais com bom nível de formação, atentos e responsi-
vos às necessidades das crianças e engajados em promover o
desenvolvimento integral.
§	 Turmas pequenas com número reduzido de crianças por
educadores.
§	 Currículo adequado à faixa etária com atividades e programa
pedagógico bem estruturados.
§	 Ambiente estimulante e voltado à participação ativa da criança.
§	 Infraestrutura segura.
§	 Rotinas de higiene e cuidado pessoal.
§	 Modelo de atendimento associado a atividades visando apoiar
e orientar os pais.
Publicação
Anuário Brasileiro da Educação Básica 2016, do movimento Todos
pela Educação e Editora Moderna (http://www.todospelaeducacao.
org.br/sala-de-imprensa/releases/38343/anuario-brasileiro-da-
educacao-basica-2016-e-lancado-pelo-todos-pela-educacao-e-
editora-moderna/).
Lei
Plano Nacional de Educação (PNE), Lei Federal nº 13.005/2014
(http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/
L13005.htm).
Site
Observatório do PNE (Plano Nacional de Educação) / Metas da
educação infantil (http://www.observatoriodopne.org.br/metas-
pne/1-educacao-infantil).
Artigo
O impacto do desenvolvimento na Primeira Infância sobre a
aprendizagem, do Núcleo Ciência Pela infância (NCPI) (http://
www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/o-impacto-no-
desenvolvimento-da-primeira-infancia-sobre-a-aprendizagem.aspx).
O especialista é você
os desafios da primeira infância no brasil
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Brincadeiras e interação com a natureza
O processo de urbanização acelerada e de verticalização das cidades do Brasil
nos últimos anos tem interferido no direito das crianças ao lazer e ao brincar e a
desfrutar do contato com a natureza. A presença de áreas verdes e livres é es-
cassa nas metrópoles e a agenda de lazer cultural gratuito costuma ser restrita.
Até os dados sobre o assunto são raros, refletindo a baixa importância
atribuída ao tema. Numa das poucas estatísticas encontradas, a Rede
Nossa São Paulo informa, com base em dados oficiais de 2014, que a
média de área verde por habitante na maior metrópole do país é de 14,1
metros quadrados. Curiosamente, o indicador está acima do recomen-
dado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 12 metros
quadrados por habitante. Porém, quando a conta exclui as áreas de pre-
servação ambiental fora do perímetro urbano da capital paulista – como
as serras da Cantareira e do Mar – e se concentra nos parques e praças,
a média não chega a 3 metros quadrados.
As condições de segurança nas cidades também se tornaram desfavoráveis
para que as crianças exerçam o direito fundamental à liberdade. A presença
excessiva de veículos torna o trânsito perigoso e brincadeiras tão corriquei-
ras como andar de bicicleta ou jogar amarelinha precisam agora ser pro-
gramadas. A violência urbana cresceu e a rua passou a ser considerada um
espaço inseguro para brincar.
A verdade é que as cidades brasileiras são pouco amigáveis com as
crianças, que vivem trancafiadas em suas casas ou cercadas nas es-
colas e nos condomínios. A noção de “cidade educadora”, compreendida
como um espaço onde existe integração da oferta de atividades sociais e
culturais para potencializar sua capacidade educativa, tem ficado distante.
A diversão pela via da tecnologia deslanchou e a prática da experi-
mentação da vida real, tão importante para o desenvolvimento da au-
tonomia das crianças, foi prejudicada. As opções de lazer privado são
igualmente raras e, quando existem, custam caro. A inequidade se acentua
também pelas diferentes possibilidades de acesso ao lazer e à cultura.
»» Educação infantil: é a primeira etapa da educação básica
e tem como finalidade o desenvolvimento integral da crian-
ça em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social.
os desafios da primeira infância no brasil
Na ponta
da língua
51
Por conta deste cenário, começam a ganhar corpo movimentos que buscam
garantir que as crianças cresçam e se desenvolvam desfrutando do contato
direto – e democrático – com a natureza. Os benefícios desse contato para o
desenvolvimento na Primeira Infância têm sido observados e divulgados por
organizações como o Instituto Alana e são inúmeros. Por exemplo:
§	 Estimulam os sentidos e a mobilidade.
§	 Favorecem a concentração e o estabelecimento de vínculos.
§	 Melhoram a nutrição e a saúde.
§	 Reduzem a violência.
§	 Induzem comportamentos de consumo consciente e respei-
to ao meio ambiente.
Site
Centro de Referências em Educação Integral
(www.educacaointegral.org.br).
Projeto
Criança e Natureza (www.criancaenatureza.org.br).
Publicação
A última criança na natureza, de Richard Louv (Editora Aquariana/
Instituto Alana, 2016).
O especialista é você
os desafios da primeira infância no brasil
»» Cidade educadora: expressão atribuída às cidades que
apresentam, entre outras características, a integração
da oferta de atividades sociais e culturais para potencia-
lizar sua capacidade de promover a educação.Na ponta
da língua
Embora o tamanho do grupo populacional da Primeira
Infância seja relativamente estável no Brasil, situando-se
na casa dos 18,8 milhões de crianças, segundo a edição
2014 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad), as taxas de natalidade por cidade ou região po-
dem variar bastante.
O empreendedor que deseja criar um negócio de impac-
to para a Primeira Infância precisa antes de tudo buscar
dados que caracterizem o território, os hábitos e a cul-
tura do local em que pretende atuar, além de entender o
tamanho e características do público-alvo. Desta forma,
poderá garantir que o negócio esteja alinhado às reais
necessidades e anseios da população, para que tenha
maior sucesso em sua empreitada.
As oportunidades para negócios de impacto para a Primei-
ra Infância mantêm relação com os campos em que a ca-
rência de produtos e serviços é maior para essa faixa etária.
Isso nos leva de novo aos desafios que se colocam para
gestantes, famílias e crianças de zero a seis anos, especial-
mente quando falamos da população de baixa renda.
As possibilidades apresentadas a seguir partem deste racio-
cínio e foram relacionadas apenas a título de exemplo, para
servir como fonte de inspiração e mobilizar o que há de me-
Oportunidades
para negócios
de impacto
para a Primeira
Infância
53
lhor em você. Conforme as características de cada localidade, certamente
algumas delas têm mais potencial de mercado e escala do que outras.
Nossa aposta é que você, com tudo o que leu e aprendeu até aqui, esteja
com o tino mais apurado para identificar as soluções de negócios mais
interessantes para investir: aquelas que atendam necessidades reais, apre-
sentem custo acessível e qualidade honesta e que gerem impacto social.
Pré-natal, parto e nascimento
§	Oferta de exames e acompanhamento pré-natal para a
população de baixa renda.
§	Clínicas obstétricas que ofereçam atendimento de quali-
dade e com baixo custo.
§	Maternidades que atendam a convênios de baixo custo.
§	Formação em humanização do parto e nascimento para
pais e profissionais de maternidades.
§	Serviços de doula, profissional que dá suporte físico e
emocional às mulheres antes, durante e depois do parto.
§	Enxovais de qualidade e baixo custo para mães (pijamas,
calcinhas pós-parto, sutiãs de amamentação, roupas que
facilitem o aleitamento materno, bombas para tirar leite)
e para bebês (macacões de uso prático e seguro para to-
das as estações, lençóis vapt-vupt para berços, protetores
para as laterais do berço, etc.).
§	Formação e produtos para pais e mães de primeira via-
gem (informações sobre gestação, parto, nascimento e
cuidados iniciais).
§	Aconselhamento para mães que acabaram de ter bebê
(apoio psicológico, rotina do bebê, cuidados com o corpo).
§	Aplicativos com orientações e dicas sobre a rotina do bebê.
§	Móveis de bom custo-benefício para a Primeira Infância
– berços, cômodas, poltronas de amamentação, estantes
baixas, mesinhas e cadeirinhas, etc.
54
Nutrição
§	Serviços domiciliares ou ferramentas de apoio à amamen-
tação e à transição para a alimentação complementar.
§	Aplicativos, jogos ou ferramentas sobre alimentação saudá-
vel de gestantes, lactantes e crianças, conforme a faixa etária.
§	Ferramenta que promova o entendimento da importância
da nutrição nos primeiros mil dias de vida e com orienta-
ções sobre nutrição na Primeira Infância.
§	Aplicativos e ferramentas de avaliação da qualidade e orien-
tações da alimentação das crianças em creches e escolas.
§	Formações ou ferramentas que auxiliem a reeducação ali-
mentar de crianças.
§	Produção e/ou distribuição de alimentos orgânicos para
creches e pré-escolas.
§	Clínicas focadas em nutrição infantil, que aliem atendi-
mento de qualidade e baixo custo.
Parentalidade
§	Serviços e materiais de orientação para pais, abordando
aspectos referentes ao cuidado, construção de vínculos e
desenvolvimento na Primeira Infância.
§	Serviços de apoio para pais, como aconselhamento/men-
toria e cursos sobre parentalidade.
§	Soluções de apoio para pais em organizações como cen-
tros comunitários, paróquias, clínicas obstétricas e clíni-
cas pediátricas.
§	Formação para cuidadores de bebês e crianças.
§	Formação em desenvolvimento infantil para profissionais
da assistência social e de entidades do Sistema de Garan-
tia de Direitos da Criança e do Adolescente (Conselhos de
Direitos, Poder Judiciário, abrigos, hospitais, escolas, etc.).
Oportunidades para negócios de impacto para a Primeira Infância
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DIÁLOGOS SOBRE AVALIAÇÃO NA PRIMEIRA INFÂNCIA

  • 1.
  • 2. Realizador Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal www.fmcsv.org.br Diretor-presidente Eduardo de Campos Queiroz Gerente de Conhecimento Aplicado Eduardo Marino projeto gráfico Denise Matsumoto Agradecimentos A Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (Fundação Maria Cecilia) agradece aos seguintes especialistas pela contribuição voluntária, sob a forma de entrevista ou indicação de conteúdos, para a realização desta publicação: Beatriz Ferraz (consultora da Fundação Maria Cecilia) Daniel Brandão (Move) Eduardo Marino (Fundação Maria Cecilia) Gilberto Ribeiro (Vox Capital) Karina Barros (Danone Early Life Nutrition Brasil) Maure Pessanha (Artemisia) Maurício Prado (Plano CDE) Vivianne Naigeborin (Artemisia e Potencia Ventures) Empreendedorismo e negócios de impacto social para a Primeira Infância foi criado com o objetivo de apoiar empreendedores interessados em desenvolver negócios de impacto para a Primeira Infância. Esta publicação é uma iniciativa da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, elaborada com a colaboração da Artemisia e da Danone Early Life Nutrition Brasil. Direitos e permissões Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução total ou parcial desta obra desde que citados a fonte e os realizadores. Da obra Coordenação editorial Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal Cristine Zanarotti Prestes Rosa Eduardo Marino Vanessa Pancheri Colaboração Artemisia Danone Early Life Nutrition Brasil Karina Barros Gabriela Bizari Veridyana de O. Cesar Borges Textos Sandra Mara Costa Pesquisa Luciana Lino Revisão Mauro de Barros Coordenadora de Conhecimento Aplicado Cristine Zanarotti Prestes Rosa Analista de Conhecimento Aplicado Vanessa Pancheri Agosto de 2016
  • 3. Fundada em 1965, a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal atua na promoção do desenvolvimento na Primeira Infância, período que vai do nascimento aos seis anos de idade. Cumpre sua missão por meio de atividades de conscientizaçãodasociedade,mobilizaçãodelideranças, apoio à qualificação da educação infantil e programas de fortalecimento da família e adultos de referência. A organização mantém projetos como intervenção social em municípios, incentivo a pesquisas, realização de cursos e workshops e elaboração de publicações, entre outras ações, para expandir o conhecimento sobre a importância do desenvolvimento na Primeira Infância. Para saber mais sobre a Fundação Maria Cecilia, acesse www.fmcsv.org.br Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
  • 4. Empreender para Realizar e transformar Nos últimos anos, a ciência vem mostrando que o que ocorre com uma criança na Primeira Infância, período que vai do nascimento aos seis anos de idade, tem um impacto importante em toda a sua vida. Mais do que isso, ela afirma que o desenvolvimento saudável da criança – considerando nutrição, saúde física e emo- cional, competências sociais e capacidades cogniti- vas e de linguagem – cria as bases de uma sociedade próspera, sustentável e com menos inequidade. Posto em outras palavras, o sucesso de um indivíduo na escola e, posteriormente, na vida profissional e na comunidade está muito ligado ao que se passa na Primeira Infância, já que esta é uma janela de opor- tunidade para o desenvolvimento humano e social. Dar o suporte adequado a este período tão impor- tante, requer o envolvimento de vários atores e se- tores – famílias, sociedade, organizações e governo –, por isso a importância dos negócios de impacto social, voltados para a Primeira Infância, como mais um possível agente de transformação. Empreender significa decidir realizar uma tarefa trabalhosa, em re- gra pouco trivial e que envolve riscos. Só empreende quem acredita que é capaz de realizar e transformar. Apresentação
  • 5. Empreender um negócio de impacto social para a Pri- meira Infância pressupõe conhecer as características e demandas típicas deste período da vida e também da- queles que estão envolvidos com a criança – sobretudo pais, familiares, cuidadores e profissionais da saúde, da educação e do desenvolvimento social, entre outros. A parceria com a Artemisia, inaugurada em 2015, por meio do Artemisia Lab Primeira Infância, nas- ceu da ideia de potencializar um ecossistema de negócios de impacto social para a Primeira Infância. Após 185 ideias selecionadas, dois workshops rea- lizados com a participação de 83 empreendedores, sentimos a necessidade de preparar esta publicação com o objetivo de compartilhar conteúdos e fontes de referência para auxiliar empreendedores e em- preendedoras a propor soluções de negócios que ajudem a transformar a realidade das crianças e de suas famílias, em especial as que estão em situação de mais vulnerabilidade. Queremos inspirar e promover o debate sobre de- senvolvimento na Primeira Infância. Contamos com você, empreendedor e empreendedora, para cons- truirmos oportunidades para proporcionar o pleno desenvolvimento para nossas crianças e nossa so- ciedade. Esperamos que esta publicação consiga apoiá-lo nesta empreitada. Boa leitura! Eduardo de Campos Queiroz Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal
  • 6. Negócios de impacto social para a Primeira Infância Os desafios da Primeira Infância no Brasil O que todo empreendedor de negócio de impacto para a Primeira Infância deve saber Pág. 08 pÁG.32 pÁG. 16 Sumário
  • 7. Oportunidades para negócios de impacto para a Primeira Infância Referências para a avaliação de negócios de impacto social pÁG. 52 pÁG. 58
  • 8. Negócios de impacto social para a Primeira Infância O mundo dos negócios é um velho conhecido de todos nós. Sua origem remete ao início da civilização, como des- dobramento da simples troca de produtos de primeira ne- cessidade, tendo evoluído para o comércio de mercadorias e também de serviços, mediante o uso de uma moeda. O principal resultado esperado por aqueles que decidem iniciar um negócio tradicional é a maximização dos lucros obtidos. Os negócios de impacto social propõem uma nova lógica, em que o principal objetivo é criar produtos e/ ou serviços que solucionem problemas sociais, ao mesmo tempo que gerem lucro. No nosso caso, o impacto que queremos gerar é garantir as melhores condições de vida e desenvolvimento para todas as crianças na Primeira Infância, período que compreende os seis primeiros anos de vida. Dados extraídos da edição 2014 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) indicam que existem 18,8 milhões de crianças na Primeira In- fância no Brasil, uma população que equivale a 10% do total e se equipara ao número de habitantes do Chile. Os números demonstram que se trata de uma parcela bastante significativa de nossa população. E dão a dimen- são do amplo esforço que se faz necessário, não somente no âmbito dos programas e políticas governamentais ou
  • 9. 9 de programas de organizações sociais, mas também no desenvolvimen- to de negócios que possam complementar a oferta pública e, assim, contribuir para solucionar os problemas que impedem o desenvolvimen- to pleno nessa etapa da vida, especialmente entre crianças que vivem em famílias de menor renda. Quando uma criança não tem seus direitos básicos assegurados – como saúde, alimentação, moradia e educação – e cresce em um ambiente de vulnerabilidade e estresse elevados, torna-se mais difícil desenvolver suas potencialidades. Neste contexto, as oportunidades começam a ser perdidas logo no início da vida, criando condições desiguais de desenvolvimento. As crianças são cidadãs do hoje, merecedoras de plenos direitos, e também representam o futuro da sociedade. Um país que desconsidera suas crianças deixa de investir em si mesmo. É necessária a articulação de todos os setores para criar estruturas eficientes que deem suporte e ofereçam condições plenas para o desenvolvimento de todas as crianças neste período tão sensível de suas vidas. Os negócios de impacto social podem contribuir com a melhoria da qualidade de vida das crianças brasileiras e de suas famílias, possibilitan- do o acesso a bens e serviços que muitas vezes sequer chegam ao co- nhecimento da população de menor renda. Neste capítulo, vamos rever alguns conceitos importantes para quem está na área e deseja empreen- der na Primeira Infância. Definição e dimensões dos negócios de impacto social Existem algumas diferenças de terminologias, conceitos e definições sobre negócios de impacto, inclusive quanto à distribuição de dividendos – se de- veriam ser revinvestidos no próprio negócio ou distribuídos aos investidores da iniciativa. Há, contudo, convergência no entendimento de que negócios de impacto associam retorno financeiro e impacto social positivo. De acordo com a Força Tarefa de Finanças Sociais, negócios de impacto são empreendimentos que têm a missão explícita de gerar impacto so- cioambiental, ao mesmo tempo que geram resultado financeiro positivo e de forma sustentável. Segundo a Artemisia, negócios de impacto social são empresas que ofe- recem, de forma intencional, soluções escaláveis para problemas sociais da população de baixa renda, tendo como principais características: 9
  • 10. 10 § Foco na baixa renda – Negócios desenhados de acordo com as necessidades e características da população de baixa renda (classes sociais C, D e E). § Intencionalidade – Negócios que possuem a missão explícita de causar impacto social e são geridos por empreendedores éticos e responsáveis. § Potencial de escala – Podem ampliar o alcance por meio da expansão do próprio negócio. § Rentabilidade – Possuem um modelo robusto que garante a rentabilidade sem depender de doações ou subsídios. § Impacto social relacionado à atividade principal – O pro- duto ou serviço gera impacto social, ou seja, não se trata de um projeto ou iniciativa separada do negócio, e sim de sua atividade principal. § Distribuição ou não de dividendos – O negócio pode ou não distribuir dividendos a acionistas, não sendo este o critério para definir negócios de impacto social. Para o indiano Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia em 1998, “pobreza é a privação das capacidades básicas de um indivíduo, e não apenas o fato de possuir renda inferior a um patamar preestabelecido”. A partir desta pers- pectiva, a Artemisia considera que os negócios podem gerar impacto social em cinco dimensões: 1. Diminuem custos de transação – O custo de transação pode ser definido como o custo em dinheiro e tempo gas- tos por um comprador no mercado. Negócios de impacto podem oferecer produtos e serviços que diminuam ou eli- minem barreiras de acesso da população de baixa renda a bens e serviços essenciais. 2. Reduzem condições de vulnerabilidade – Negócios de im- pacto podem oferecer produtos que facilitem a proteção de bens conquistados e a antecipação ou prevenção de riscos futuros. 3. Ampliam possibilidades de aumento de renda – Negócios de impacto podem atuar no aumento das oportunidades de em- prego estável ou na melhoria das condições de trabalho do microempreendedor. 4. Promovem oportunidades de desenvolvimento – Negócios de impacto podem promover oportunidades para que pes- soas de baixa renda fortaleçam seu capital humano e social. 10 Negócios de impacto social para a Primeira Infância
  • 11. 11 5. Fortalecem a cidadania e os direitos individuais – Negócios de impacto podem contribuir para o fortalecimento da cida- dania por meio de produtos e serviços essenciais para uma qualidade de vida digna. Empreendedorismo e empreendedorismo de impacto social O empreendedorismo é considerado um dos principais motores do de- senvolvimento econômico e social de um país e seu conceito foi popula- rizado pelo economista Joseph Schumpeter em 1945. Segundo ele, o em- preendedor é alguém versátil, que possui habilidades para saber produzir, reunir recursos financeiros, organizar as operações internas e realizar as vendas da sua empresa. Uma definição mais contemporânea de empreendedorismo vem do estu- dioso Robert D. Hisrich. Para ele, empreendedorismo é o processo de criar algo diferente e com valor, dedicando o tempo e o esforço necessários, assumindo os riscos financeiros, psicológicos e sociais correspondentes e recebendo as recompensas da satisfação econômica e pessoal. A satisfação econômica é resultado de um objetivo alcançado, um novo produto ou empresa, por exemplo, e não um fim em si mesma. O empreendedor de negócios de impacto social é um indivíduo que pos- sui visão, criatividade e determinação excepcionais. Ele utiliza essas qua- lidades para identificar problemas sociais e propor soluções inovadoras, na forma de produtos e serviços que possam ser comercializados. Por meio da sua atuação, acelera o processo de mudanças e inspira outros atores a se engajarem em torno de sua causa. Ele é alguém capaz de mo- bilizar pessoas e quebrar paradigmas e, assim, modificar o curso de uma indústria e de um setor. A medida de seu sucesso passa pelo impacto social que sua iniciativa é capaz de gerar. Empreender negócios com impacto social em Primeira Infância pressupõe o desenvolvimento de soluções que possam compreender a criança de até seis anos de idade como um ser potente, pronto para aprender e para ensinar, e um cidadão em condições peculiares de desenvolvimento; re- quer entender o contexto e o ambiente dessa criança, a qualidade de sua interação com os adultos mais próximos e as condições desses adultos. E, essencialmente, respeita a premissa de que todas as crianças nascem do- tadas dos mesmos direitos fundamentais: à vida e à saúde; à liberdade, ao respeito e à dignidade; à convivência familiar e comunitária; à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer. 11Negócios de impacto social para a Primeira Infância
  • 12. 12 Ecossistema de negócios Transposto da biologia, em alusão à vida interdependente, o termo “ecos- sistema de negócios” tem sido usado desde os anos 1990. Ele descreve as comunidades de atividade econômica que se baseiam em plataformas de interação entre organizações e indivíduos cujas capacidades e papéis evoluem e se alinham ao longo do tempo. Conhecer o ecossistema em que está inserido e saber como se com- portar dentro dele é crucial para um negócio de impacto social, espe- cialmente se considerarmos que só se conquista escala e relevância nos resultados quando existe colaboração entre os diversos atores de distintos setores da sociedade. Incluem-se aí outros empreendedores, clientes, for- necedores, órgãos governamentais e reguladores, investidores, acelerado- ras e incubadoras, institutos e fundações, ONGs, universidades, meios de comunicação, etc. O ecossistema de negócios de impacto social para a Primeira Infância abrange uma gama igualmente variada de atores em cada atividade pro- posta. Genericamente, além dos públicos de interesse específicos à natu- reza de cada negócio, também é preciso considerar as partes relaciona- das à temática da Primeira Infância, como organizações de atendimento e defesa que compõem o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente; gestores públicos; ONGs e investidores sociais privados vol- tados à Primeira Infância; acadêmicos, especialistas e profissionais liberais de referência no tema. É essencial buscar informações e se certificar de que o negócio, produto ou atividades que serão desenvolvidos se enquadram nas leis, regulamen- tações e em boas práticas nacionais e internacionais vigentes, respeitando a integridade, a saúde, os direitos e o bem-estar da criança1 . Investimentos de impacto De acordo com a Rede Global de Investimento de Impacto (GIIN, na sigla 1 Algumas das instituições/fontes responsáveis por regulamentações ou que for- necem orientações para produtos de interesse da Primeira Infância são: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa, http://portal.anvisa.gov.br/alimentos); Or- ganização Mundial da Saúde (OMS, http://www.who.int/eportuguese/countries/bra/ pt/); Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro, http://www. inmetro.gov.br); Criança Segura Brasil (http://criancasegura.org.br); Projeto Crian- ça e Consumo (http://criancaeconsumo.org.br); e site do Marco Legal da Primeira Infância (http://marcolegalprimeirainfancia.com.br). Negócios de impacto social para a Primeira Infância
  • 13. 13 em inglês), investimentos de impacto são aqueles feitos em empresas, or- ganizações e fundos com a intenção de gerar impacto social e ambiental e também retorno financeiro. Investimentos de impacto podem ser reali- zados tanto em mercados emergentes quanto em mercados desenvolvi- dos e buscam desde retornos abaixo do mercado até retornos na taxa de mercado – dependendo das circunstâncias. Os investimentos de impacto desafiam a visão clássica de que problemas sociais e ambientais devem ser alvo de atenção apenas de institutos ou fundações filantrópicas, em localidades onde a atuação dos governos é insuficiente, e de que o mercado de investimentos deve focar-se exclusi- vamente em alcançar resultados financeiros. Já é possível observar que os investimentos de impacto são vistos como uma oportunidade relevante, podendo integrar o portfólio de investimentos de bancos, fundos de pen- são, seguradoras, administradores de fortunas, fundações familiares e em- presariais e investidores individuais. Neste último grupo figuram os chama- dos investidores-anjo, que apoiam negócios por meio de capital semente. O setor de investimentos de impacto está em ascensão no mundo. Muitos investidores aportam recursos para um negócio, podendo tornar-se sócios da iniciativa e ajudam a expandi-la até atingir um dado patamar de lucra- tividade que permita a venda de sua participação. O que une os pioneiros deste setor é a convicção de que investimentos em negócios criativos e inovadores podem ter um papel crucial para tratar questões sociais e ambientais complexas e que exigem abordagem sistêmica. É o caso da agricultura sustentável, das tecnologias limpas, do microfinanciamento e do acesso a necessidades básicas como saúde, educação e moradia. No Brasil, tanto a oferta de crédito como os investimentos em negócios de impacto social ainda são limitados, mas estão em expansão. Uma pes- quisa realizada em 2014 por um conjunto de organizações internacionais2 identificou 28 investidores de impacto social no Brasil e ouviu 22 deles (nacionais e internacionais). O estudo mostrou que o montante disponível para negócios de impacto social somava entre US$ 89 milhões e US$ 127 milhões e que os investidores esperavam concluir 136 negócios no Brasil naquele ano – o dobro dos 68 concluídos nos dez anos anteriores. Outro estudo, intitulado “Mapeamento dos Recursos Financeiros dispo- níveis no Campo Social do Brasil com o objetivo de identificar recursos 2 LGT Venture Philanthropy, Quintessa Partners, University of St. Gallen e The Aspen Network of Development Entrepreneurs (Ande), com o apoio da Artemisia. Negócios de impacto social para a Primeira Infância
  • 14. 14 potenciais para Finanças Sociais” e elaborado pela Força Tarefa de Finanças Sociais e pela Deloitte, buscou identificar qual seria o montante de recur- sos públicos e privados disponíveis para serem investidos em soluções que resolvem problemas sociais e geram resultado financeiro positivo. Reali- zado em 2015, com base em dados de 2014, o levantamento identificou que R$ 13 bilhões foram investidos no Brasil por mecanismos de finanças sociais, com potencial de chegar a R$ 50 bilhões até 2020. Os dados do setor indicam que existe movimento e disposição crescentes por parte de investidores para realizar aportes. Neste sentido, um plano de negócios bem estruturado – fundamentado em um bom planejamento, no conhecimento do público-alvo e na validação do produto/serviço junto a esse público – e que demonstre a capacidade de execução do empreen- dedor e de sua equipe poderá aumentar a atratividade do projeto perante investidores e credores. 14 Negócios de impacto social para a Primeira Infância »» Negócios de impacto social: empresas que ofere- cem, de forma intencional, soluções escaláveis para problemas sociais. »» Ecossistema de negócios: rede de relacionamentos que se estabelecem entre indivíduos, organizações e o am- biente em que o negócio está inserido. »» Investimentos de impacto: investimentos feitos em empresas, organizações e fundos com a intenção de gerar impacto social e ambiental e também retorno financeiro. Na ponta da língua
  • 15. 1515Negócios de impacto social para a Primeira Infância Ao longo deste guia, traremos nesta seção dicas de pesquisas, publicações, leis, filmes e sites para você se aprofundar em negócios de impacto para a Primeira Infância. O especialista é você Pesquisa Edição 2014 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) (http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/ trabalhoerendimento/pnad2014/default.shtm). Site (em inglês) Global Impact Investing Network (GIIN), a Rede Global de Investimento de Impacto (em tradução livre) (https://thegiin.org). Publicações § Empreendedorismo, de Robert D. Hisrich, Michael P. Peters e Dean A. Shepherd (McGraw-Hill, 2014). § Criando um Negócio Social, de Muhammad Yunus (Elsevier, 2010). § Negócios com Impacto Social no Brasil (Peirópolis, 2013). § A Riqueza na Base da Pirâmide (Bookman, 2010). § Marketing 3.0: as forças que estão definindo o novo marketing centrado no ser humano, de P. Kotler, H. Kartajaya e I. Setiawan (Elsevier, 2010). Estudos de mercado § Oportunidades de negócios de saúde para a população de baixa renda no Brasil (http://artemisia.org.br/img/ conhecimento/Estudo_Oportunidades_Negocios_em_Saude. pdf) e Oportunidades em educação para negócios focados na população de baixa renda no Brasil (http://artemisia.org.br/ img/conhecimento/Estudo_Oportunidades_Negocios_em_ Educacao.pdf). § Mapeamento dos Recursos Financeiros disponíveis no Campo Social do Brasil com o objetivo de identificar recursos potenciais para Finanças Sociais, da Força Tarefa de Finanças Sociais e da Deloitte (http://ice.org.br/wp-content/uploads/pdfs/ MapeamentoOfertaCapital.pdf).
  • 16. Caro empreendedor ou empreendedora, talvez o que va- mos dizer agora não seja nenhuma novidade, mas a pes- soa que melhor precisa entender do seu negócio é você. Assim, este capítulo apresenta conteúdos com a perspecti- va da ciência sobre o desenvolvimento na Primeira Infância e como esta é uma janela de oportunidade para o desen- volvimento do capital humano. O campo de estudos do desenvolvimento na Primeira Infância é muito vasto e o que vamos apresentar aqui é apenas uma visão geral de alguns assuntos que selecio- namos. Será um conteúdo recheado de dicas de mate- riais de apoio para você aprofundar seus conhecimentos. E quanto mais conhecimento, mais oportunidades para desenvolver o seu negócio de impacto social e atingir os resultados desejados. o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
  • 17. 17 Para começar o capítulo, queremos destacar o conceito de Primeira Infância, conforme define o Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016): Primeira Infância é o nome dado ao período que abrange os primeiros seis anos completos ou 72 meses de vida da criança. O desenvolvimento infantil começa desde a gestação e a Primeira Infân- cia é denominada como o período que vai do nascimento aos seis anos de idade. Esta é uma fase da vida fundamental para o desenvolvimento da criança e do futuro adulto, considerada a base para a aquisição de habilidades que lhe servirão por toda a vida; é uma fase crítica para o de- senvolvimento cerebral e físico, da capacidade de aprendizado, a aqui- sição dos movimentos, a iniciação social e afetiva, entre outros. Cada um destes aspectos é interligado com os demais e influenciado pela realidade na qual a criança vive. É neste universo de informações que vamos mergulhar agora. O cérebro em desenvolvimento A ciência ainda tem muito a aprender sobre o cérebro, mas, com a ajuda de exames de imagem como a ressonância magnética, muito se tem desven- dado nos últimos anos sobre sua constituição e funcionamento. A chamada neurociência, o estudo sobre o sistema nervoso que inclui o cérebro, des- lanchou e suas descobertas têm iluminado vários campos de saber. Considerado um órgão de alta complexidade, o cérebro não é uma es- trutura completa quando nascemos e os primeiros anos de vida são es- senciais para a sua formação e maturação. No momento do nascimento, o peso do cérebro do bebê corresponde a aproximadamente 25% do peso do cérebro de um adulto. Até o segundo ano de vida, esta propor- ção sobe para 75%. O cérebro é composto por células chamadas neurônios, que possuem uma extensa rede de prolongamentos que conectam as diversas regiões cerebrais por meio de circuitos elétricos. As conexões entre os neurônios são conhecidas como “sinapses”. O estudo “O impacto do desenvolvi- mento na Primeira Infância sobre a aprendizagem”, produzido pelo Nú- cleo Ciência Pela Infância (NCPI), ensina que, por meio de um processo chamado “sinaptogênese”, o número de sinapses entre os neurônios se multiplica, chegando a 700 novas conexões por segundo, em algumas
  • 18. 18 regiões cerebrais, no segundo ano de vida. “As sinapses mais utilizadas se fortalecem e carregam informações de forma mais eficiente, enquanto as que não forem utilizadas gradualmente enfraquecem e desaparecem, fenômeno conhecido como ‘poda sináptica’”, assinala o estudo. O amadurecimento do cérebro acontece de forma significativa antes do nascimento, com a geração de mais de 100 bilhões de células nervosas. Principalmente após o nascimento acontece a “mielinização”, proces- so pelo qual a mielina, uma substância composta por proteína e gordu- ra, envolve o prolongamento dos neurônios, facilitando a condução do impulso elétrico e melhorando a comunicação neuronal. “O somatório desses processos ao longo dos primeiros anos de vida modifica a estru- tura do cérebro sob influência das experiências vividas, resultando no impressionante desenvolvimento neurológico que permite que a criança gradualmente adquira novas capacidades como emitir os primeiros sons até falar, aprimorar o controle motor até sentar, engatinhar e caminhar, e assim por diante”, registra o mesmo estudo do NCPI. Uma criança na Primeira Infância possui enorme plasticidade cerebral, isto é, seu cérebro conta com elevada capacidade de transformação de- vido aos estímulos e às experiências vividas. Os primeiros mil dias, que são resultado da soma dos 280 dias de gestação com os dois primeiros anos de vida, compõem uma fase tida como de grande vulnerabilidade e particularmente sensível às influências do ambiente. A estimulação ade- quada do bebê, com atividades de interação e comunicação e a prática do brincar, pode contribuir muito para o desenvolvimento do cérebro. Em contrapartida, situações de estresse elevado e permanente neste pe- ríodo sensível dos primeiros anos de vida podem prejudicá-lo de forma duradoura, com a redução de conexões neuronais. É o que acontece com bebês sujeitos a maus-tratos, violência e negligência. A essa situa- ção de estresse elevado damos o nome de estresse tóxico. Para determinadas funções, a plasticidade cerebral é máxima nos perí- odos iniciais da vida. A Primeira Infância apresenta períodos em que a aprendizagem de diversas habilidades e competências acontecem com maior facilidade e por isso devem ser bem aproveitados. o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
  • 19. 19 Desenvolvimento na Primeira Infância Faz parte do desenvolvimento humano o processo de aquisição de habilida- des que progressivamente levam o indivíduo de uma condição de dependên- cia extrema à autonomia. O desenvolvimento na Primeira Infância, por sua vez, consiste no desenvolvimento que acontece nos primeiros seis anos de vida, considerando aspectos físicos, neurológicos, socioemocionais e cogni- tivos. Mas, didaticamente falando, a que cada um desses aspectos se refere? § Aspectos físicos/biológicos: referem-se ao crescimento e à maturação física e funcional de estruturas e órgãos. § Aspectos neurológicos: abrangem o funcionamento do cére- bro e de todo o sistema nervoso. § Aspectos socioemocionais: tratam da capacidade de o indiví- duo estabelecer relações e lidar com as emoções. § Aspectos cognitivos: reúnem as habilidades mentais necessá- rias para a obtenção de conhecimento (pensamento, raciocí- nio, linguagem, memória, atenção, abstração, criatividade, ca- pacidade de resolução de problemas, entre outras funções). Para que o desenvolvimento da criança aconteça de forma plena, ela preci- sa de um ambiente acolhedor, harmonioso e rico em experiências positivas, o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber Vídeo As experiências moldam a arquitetura do cérebro, do Center on the Developing Child da Universidade de Harvard, traduzido e adaptado para o português pelo Núcleo Ciência Pela Infância (https://www.youtube.com/watch?v=eSAHbDptGh4). Animação Conheça o Super-Cérebro, do Center on the Developing Child da Universidade de Harvard, traduzido e adaptado para o português pela Fundação Maria Cecilia (https://www.youtube.com/ watch?v=y6Y_tpf5LEk). Vídeo O stress tóxico prejudica o desenvolvimento saudável, do Center on the Developing Child da Universidade de Harvard, traduzido e adaptado para o português pelo Núcleo Ciência Pela Infância (https://www.youtube.com/watch?v=dZazltqAti0). O especialista é você
  • 20. 20 desde o período pré-natal, por meio dos cuidados da mãe e do pai, da famí- lia e da interação com o ambiente. Há enorme influência do ambiente em que a criança vive sobre os diversos aspectos do desenvolvimento na Primeira Infância, sobretudo porque nes- ta fase o cérebro está particularmente propenso a se modificar positiva ou negativamente, de acordo com as experiências vividas. O estabelecimento de vínculos positivos com adultos na família ou na escola potencializa o desenvolvimento saudável da criança. Filme O Começo da Vida, de Estela Renner (Brasil, 2016). Filme Bebês, de Thomas Balmès (Estados Unidos, 2010). Vídeo Funções executivas: habilidades para a vida e aprendizagem, do Center on the Developing Child (CDC) da Universidade de Harvard, traduzido e adaptado para o português pelo Núcleo Ciência Pela Infância (http:// www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/funcoes-executivas- habilidades-para-a-vida-e-aprendizagem-video.aspx). Publicação Fundamentos do Desenvolvimento Infantil, de Saul Cypel (org.)/ Fundação Maria Cecilia (http://www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo- digital/Paginas/Fundamentos-do-desenvolvimento-infantil.aspx). Estudo O Impacto do Desenvolvimento na Primeira Infância sobre a Aprendizagem, do Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI) (http://www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/o-impacto- no-desenvolvimento-da-primeira-infancia-sobre-a-aprendizagem.aspx). Estudo Funções Executivas e Desenvolvimento na Primeira Infância: Habilidades necessárias para a Autonomia, do Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI) (http://www.fmcsv.org.br/ pt-br/acervo-digital/Paginas/Fun%C3%A7%C3%B5es-Executivas- e-Desenvolvimento-na-Primeira-Inf%C3%A2ncia-Habilidades- necess%C3%A1rias-para-a-Autonomia.aspx). O especialista é você o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
  • 21. 21 Vale ressaltar que o termo desenvolvimento também inclui atividades bá- sicas como engatinhar, andar, falar, ter controle motor, etc., e que, como acontece em todas as faixas etárias na Primeira Infância, o desenvolvimento dos bebês não é somente físico, mas também cognitivo e socioemocional. A importância do vínculo A ciência demonstra que o desenvolvimento na Primeira Infância é poten- cializado pela existência de bons relacionamentos e que o vínculo é um elemento fundamental. A psicanalista escocesa Martha Harris define vínculo como “a capacida- de de duas pessoas experimentarem e se ajustarem à natureza uma da outra, desenvolvido por meio da interação amorosa e contínua”. Em sua obra “Crianças e bebês à luz de observações psicanalíticas” (Vértice, 1995), Martha explica que o vínculo se inicia já na fase pré-natal, graças à co- municação fisiológica e emocional que existe entre mãe e bebê e ganha concretude maior por meio da amamentação e do cuidado amoroso dos demais adultos que fazem parte do seu cotidiano. O cuidado amoroso é o conjunto de atitudes de atenção, zelo e desvelo que se manifestam na rotina de alimentação, higiene, brincadeira, proteção, socialização e esta- belecimento de limites. O psiquiatra inglês John Bowlby descreveu a importância dessa relação inicial que se desenvolve entre o bebê e o seu cuidador principal ou primá- rio, garantindo atenção, consolo e sensação de segurança, no que deno- minou Teoria do Apego. Bowlby constatou que o apego oferece as bases para o desenvolvimento socioemocional e até mesmo cognitivo e que, portanto, um recém-nascido precisa desenvolver uma relação de apego com pelo menos um adulto para que seu desenvolvimento socioemocio- nal aconteça normalmente. Além disso, as relações de apego continuam a influenciar ideias, sentimentos, motivações e o estabelecimento de rela- cionamentos ao longo de toda a vida. Bowlby constatou que relacionamentos seguros entre o adulto e a crian- ça ajudam a criança a regular suas emoções em situações de estresse e a explorar o mundo com confiança e promovem o desenvolvimento da linguagem. Crianças com apego seguro têm maior predisposição a apre- sentar comportamentos positivos, como empatia e espírito colaborativo. Noutra vertente, crianças com apego inseguro e desorganizado têm maior risco de desenvolver problemas de comportamento e psicopatologias, como agressividade na escola e depressão. o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
  • 22. 22 As pesquisas de Bowlby também mostraram que há uma alta incidência de desorganização de apego em crianças que foram vítimas de maus-tratos. O apego desorganizado está associado a comportamentos parentais que incluem erros na comunicação afetiva (como respostas contraditórias a sinais dados pela criança), retraimento dos pais, respostas confusas com relação aos papéis ou mesmo comportamentos amedrontadores. Outros estudos indicam que o elo adulto-criança pode continuar a se for- talecer durante todo o processo do desenvolvimento infantil, o que ofere- ce à criança o fundamento da construção e ampliação de vínculos com as demais pessoas que a cercam e, em seguida, com a sociedade em geral. Nutrição na Primeira Infância e saúde do indivíduo É conhecido o papel fundamental da nutrição no desenvolvimento na Pri- meira Infância desde a fase da gestação. A alimentação da gestante inter- fere diretamente na formação do bebê, assim como a da mãe lactante, que está amamentando, influencia o desenvolvimento do recém-nascido. A alimentação da criança no primeiro e no segundo anos de vida deter- mina o desenvolvimento dos órgãos e a estruturação metabólica. Prote- ínas, gorduras e micronutrientes são essenciais para o desenvolvimento do cérebro, estabelecendo as bases para o seu funcionamento. Por esses motivos, dizemos que os primeiros mil dias são tão importantes. Por exemplo, se a gestante não atinge as necessidades diárias de áci- do fólico, presente em alimentos como os vegetais de folhas escuras, como brócolis e espinafre, aumentam as chances de incidência de de- o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber Artigo Apego, por Marinus van IJzendoorn para a Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância (http://www.enciclopedia-crianca. com/sites/default/files/syntheses/pt-pt/2277/apego-sintese.pdf). Estudo Importância dos vínculos familiares na primeira infância, do Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI) (http://www.fmcsv. org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/-Import%C3%A2ncia-dos- v%C3%ADnculos-familiares-na-primeira-inf%C3%A2ncia.aspx). O especialista é você
  • 23. 23 feitos no tubo neural do bebê, que é a estrutura embrionária que dará origem ao cérebro e à medula espinhal. Este nutriente é tão importante que se indica a avaliação do profissional de saúde para análise da neces- sidade de suplementação. Da mesma forma, quando se trata da nutrição do recém-nascido, o aleita- mento tem fundamental importância. O leite materno garante uma melhor nutrição, ajuda a prevenir doenças infecciosas e respiratórias e excesso de peso, além de combater a carência de micronutrientes como o ferro e o zinco, por exemplo. Por isso, o Ministério da Saúde recomenda que a amamentação seja exclusiva até os seis meses de idade, seguindo até o segundo ano de vida ou mais. A composição do leite materno é influenciada pela dieta da mãe e muda durante uma mesma mamada, sendo que, ao final, contém maior concen- tração de gorduras essenciais para o desenvolvimento saudável da criança. Se o recém-nascido não ingere a quantidade necessária de gorduras e proteínas, pode haver comprometimento no processo de “mielinização” do cérebro. Como vimos anteriormente, a mielina é uma substância com- posta por proteína e gordura que envolve o prolongamento das células nervosas, facilitando a condução do impulso elétrico e melhorando a co- municação neuronal. Se a mielinização não acontece a contento, o fun- cionamento do cérebro pode ser prejudicado. O tema da estruturação metabólica merece atenção à parte e desponta como um dos campos de estudo mais avançados da nutrição. Também conhecido como programação metabólica, ele descreve o fenômeno por meio do qual uma experiência nutricional precoce, relativa à falta ou excesso de um nutriente no período crítico do desenvolvimento na Primeira Infância, é capaz de promover alterações epigenéticas. A epi- genética trata de como os fatores ambientais podem mudar a maneira como os genes se expressam. Em outras palavras, uma dada experiência nutricional que leve a uma alteração epigenética pode acarretar um efeito duradouro/persistente ao longo da vida do indivíduo, predispondo-o ao desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis como a obesidade, o diabetes, a hipertensão e o câncer. Já se sabe, por exemplo, que aproximadamente 20% da saúde de um indi- víduo no longo prazo pode ser explicada pela herança genética, enquanto o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
  • 24. 24 cerca de 80% do risco de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis é influenciado pelos fatores ambientais, incluindo a nutrição e o estilo de vida. O desenvolvimento de bons hábitos alimentares desde o início da vida pode reduzir sobremaneira este risco. O poder do brincar Ainda no início do século passado, a médica e educadora italiana Maria Montessori dizia que brincar é o trabalho da criança. Ela falava isso para ressaltar a importância da brincadeira, baseada em anos de estudo e ob- servação do comportamento da criança. Atividade intensa, prazerosa e de certa forma arriscada, não há nada de perda de tempo no brincar. Ele é um grande aliado do desenvolvimento na Primeira Infância, favorecendo a comunicação, a linguagem, a imagi- nação e o raciocínio. As brincadeiras de movimento estimulam a motricidade, como correr, pu- lar, subir e descer. A interação com adultos e outras crianças pelo brincar proporciona a socialização, incluindo-se aí o aprendizado da expressão dos sentimentos, do respeito a limites e ao outro, assim como de valores e regras de boa convivência essenciais como compartilhar. A brincadeira é mais importante que o brinquedo. Por meio da brincadeira, a criança constrói narrativas e os brinquedos ajudam como instrumentos para isso. Ao brincar, a criança testa e descobre coisas, daí o significado da repetição das brincadeiras. Ela vive novas experiências, compreende os fatos que estão à sua volta e constrói a sua percepção do mundo. O tão espontâneo “faz de conta” tem o potencial de desenvolver valores, socialização, expressões diversas e cuidados; de aproximar da vida real, imaginada, desejada e temida. O faz de conta também ajuda as crianças a trabalharem de forma inconsciente conflitos ou sofrimentos e a assimila- rem situações que acontecem em seu entorno. Os pais também se desenvolvem ao brincar com os filhos: aprendem mais sobre eles e sobre a vida, exercitam a flexibilidade e a resiliência. O brincar é um importante aliado na interação adulto-criança, contribuindo para o fortalecimento do vínculo. o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
  • 25. 25 Sobre a Primeira Infância e o mundo das telas As telas fazem parte da nossa vida e estão por toda a parte – na televisão, no celular, no computador, nos tablets, em DVDs dentro dos carros... Elas fascinam o ser humano de todas as idades, e com a Primeira Infância não é diferente. Mas o que se pode esperar dos estímulos providos pelo mundo das telas às crianças e que consequências ele pode ter? O assunto é controverso e não existem estudos para absolver ou condenar de pronto o uso de mídia pelas crianças. Mas existem recomendações para orientar o bom senso dos pais com base em evidências da ciência. De acordo com a Academia Americana de Pediatria (AAP), a pesquisa cien- tífica provou que alguns programas de televisão de elevada qualidade têm potencial educativo para crianças maiores de dois anos, favorecendo o de- senvolvimento de habilidades sociais, da linguagem e mesmo da capacida- de de leitura. No entanto, tal mérito não se comprova junto a crianças de menos de dois anos, já que, para os programas serem benéficos, as crianças precisam ter capacidade de prestar atenção e compreender seu conteúdo, o que normalmente não acontece nesta faixa etária. Assim, a partir de uma extensa revisão de política realizada em 2011, e com base em evidências de que o tempo de tela tem efeito potencialmente ne- gativo sobre crianças com menos de dois anos e nenhum efeito comprova- o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber Publicação Coleção Primeiríssima Infância, da Fundação Maria Cecilia (http:// fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/formacao-em-espacos- ludicos.aspx). Veja o caderno 5, Formação em espaços lúdicos. Site Projeto Território do Brincar (http://territoriodobrincar.com.br). Filme Território do Brincar, de David Reeks e Renata Meirelles (Brasil, 2015). Guia de atividades Kit de Desenvolvimento da Primeira Infância: Uma Caixa de Tesouros de Atividades, do Unicef (http://www.unicef.org/supply/ files/Activity_Guide_Portuguesev1.pdf). O especialista é você
  • 26. 26 damente positivo, a AAP manteve a recomendação de “desencorajar o uso de mídia neste grupo etário”. Para crianças maiores, a recomendação é que os pais definam estratégias concretas para gerenciar o uso de mídia: controlando o conteúdo que a criança assiste; assistindo ao conteúdo junto com ela; não instalando uma televisão no quarto das crianças; e controlando o seu próprio uso de mídia, de modo a não comprometer o tempo de interação com seus filhos. A Sociedade Brasileira de Pediatria segue a recomendação da AAP para crianças de até dois anos e orienta que, a partir daí, o tempo máximo de tela (tempo de exposição de uma criança a uma tela) seja de duas horas por dia. A recomendação inclui computador, tablet, televisão, videogame e celular. Outra fonte de referência no assunto é a organização norte-americana Zero to Three, dedicada a garantir que as crianças de zero a três anos tenham um bom começo de vida. Recentemente, a organização publicou um conteúdo apresentando os cinco mitos equivocados a respeito do uso de mídia por crianças de menos idade: § Mito 1: todo o tempo de tela é prejudicial ao aprendizado nos anos iniciais de vida. § Realidade: a Zero to Three sustenta que orientação de conteúdo, li- mite de tempo de tela e envolvimento dos pais como mediadores pode criar condições para que exista aprendizado. § Mito 2: as crianças não são impactadas pela TV ligada ao fundo. § Realidade: as crianças são impactadas, com prejuízos para o brincar e o aprendizado. § Mito 3: TV na hora de dormir pode ajudar as crianças a cair no sono. § Realidade: é justamente o contrário. TV desperta a criança. § Mito 4: o uso de celular pelos pais não afeta o comportamento das crianças. § Realidade: quanto mais os pais usam o celular, menos atenção as crianças recebem e mais agitadas elas ficam. § Mito 5: quanto mais interativa for a experiência de tela, melhor para a criança. § Realidade: muita possibilidade de interação virtual prejudica o foco da criança. o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
  • 27. 27 É a interação pessoal entre pais/adultos e crianças que traz benefícios para o desenvolvimento da linguagem e a aquisição de vocabulário. A tecnologia não substitui a interação com um adulto em praticamente nenhum quesito, especialmente no de dar atenção, estímulo e afeto. Dar atenção à criança ajuda que ela construa um forte sistema de valores e autoestima, o que a torna mais confiante para enfrentar desafios. Além disso, o excesso de mídia compromete o tempo do livre brincar, tão necessário para desenvolver a socialização, a criatividade e a habili- dade de resolver problemas. o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber Desenvolver a criança para desenvolver a sociedade “Como sociedade, não podemos nos dar o luxo de adiar o investimento nas crianças para quando forem adultos, nem podemos aguardar que atinjam a idade escolar, quando poderá ser tarde demais para intervir.” A frase é do economista norte-americano James J. Heckman, laureado em 2000 com o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas por seus estudos relacionando educação, desenvolvimento social e Primeira Infância. Heckman constatou que investir em desenvolvimento e aprendizagem na Primeira Infância traz um retorno maior para a sociedade do que investi- mentos em qualquer outra etapa da vida: Artigo Media use by Children Younger than 2 Years, da Academia Americana de Pediatria (AAP) (http://pediatrics.aappublications. org/content/128/5/1040.full?sid=90c428d6-df4a-4e16-8862- 2ef44f314693). Infográfico 5 Myths About Young Children and Screen Media, da organização Zero to Three (https://www.zerotothree.org/resources/383-5- myths-about-young-children-and-screen-media-infographic). Artigo Screen Sense: Setting the Record Straight, da organização Zero to Three (https://www.zerotothree.org/resources/385-screen-sense- key-findings). O especialista é você (em inglês) (em inglês) (em inglês)
  • 28. 28 As conclusões de Heckman reforçam o pressuposto científico de que os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento do cérebro e, por conseguinte, de capacidades fundamentais para a aquisição de novos conhecimentos no futuro e para o acúmulo de capital humano. Capital hu- mano é definido como o conjunto de características individuais – como habilidades cognitivas e não cognitivas, estado de saúde e destreza – que determinam, juntamente com variáveis de contexto, os níveis de bem-estar dos indivíduos em suas diversas dimensões (salário e inserção no mercado de trabalho, envolvimento com violência e criminalidade, vícios e longevida- de e estabilidade familiar, entre outros). Cada conteúdo aprendido em uma etapa da vida serve de base para o aprendizado na etapa seguinte. O já mencionado estudo “O impacto do desenvolvimento na Primeira Infância sobre a aprendizagem”, do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), resume com propriedade as consequências que se podem esperar quando a curva de aprendizado de uma crian- ça não começa bem: “Quanto maior o déficit produzido, mais custoso é remediá-lo posteriormente, de modo que desigualdades produzidas na primeira infância acabam por contribuir significativamente para a desigualdade social percebida na vida adulta. No longo prazo, crianças o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber TAXADERETORNODOS INVESTIMENTOSEMCAPITALHUMANO 0 IDADE CRECHE 0-3 ANOS PRÉ- ESCOLA 4-5 ANOS PÓS-ESCOLA INTERVENÇÃO PARA ADULTOS ESCOLA Programas voltados aos primeiros anos de vida Programas voltados para a pré-escola Educação escolar Capacitação profissional Taxa de retorno x idade A análise de programas de edu- cação nas diferentes faixas etá- rias demonstrou que a taxa de retorno para cada dólar investido é maior quanto mais cedo for re- alizada a intervenção. Fonte: modificado de: Heckman, J. Skill Formation and the Economics of Investing in Disadvantaged Children Science, 30 June 2006: 312 (5782), 1900-1902. [DOI:10.1126/science.1128898]
  • 29. 29 que tiveram menos oportunidades de desenvolvimento tornam-se, com maior probabilidade, adultos pobres, produzindo o fenômeno conhecido como ciclo intergeracional da pobreza”. O estudo do NCPI vai ainda além: “Do ponto de vista social, a evidên- cia empírica demonstra que crianças que frequentaram boas escolas e tiveram atenção à saúde adequada na Primeira Infância tornaram-se ci- dadãos com menor propensão ao envolvimento com tabagismo, alcoo- lismo, criminalidade e violência, além de precisarem menos da ajuda do governo para sua sobrevivência (através de programas de transferência de renda e concessão de benefícios)”. De acordo com o economista James J. Heckman, investir em crianças de menor idade que se encontram em desvantagem social é uma das poucas políticas públicas capazes de promover igualdade e justiça social e, ao mes- mo tempo, gerar maior produtividade na economia e na sociedade. Artigo O impacto do desenvolvimento na Primeira Infância sobre a aprendizagem, do Núcleo Ciência Pela infância (NCPI) (http:// www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/o-impacto-no- desenvolvimento-da-primeira-infancia-sobre-a-aprendizagem.aspx). Artigo Investir nos mais jovens, por James J. Heckman e Henry Schultz para a Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância (http:// www.enciclopedia-crianca.com/Pages/PDF/HeckmanPRTxp.pdf). Artigo O investimento em desenvolvimento na primeira infância cria os alicerces de uma sociedade próspera e sustentável, por Jack Shonkoff e Julius B. Richmond para a Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância (http://www.enciclopedia- crianca.com/Pages/PDF/ShonkoffPRTxp.pdf). O especialista é você o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
  • 30. 30 »» Primeira Infância: nome dado ao período que abrange os primeiros seis anos completos ou 72 meses de vida da criança. É uma etapa muito sensível para o desenvolvi- mento e as experiências dessa época são levadas para o resto da vida. »» Plasticidade cerebral: capacidade de transformação devido aos estímulos e às experiências vividas. »» Desenvolvimento na Primeira Infância: desenvol- vimento que acontece nos primeiros seis anos de vida, considerando aspectos físicos, neurológicos, socioemo- cionais e cognitivos. »» Nutrição na Primeira Infância: é o fator ambiental mais bem documentado em relação à interferência no status de saúde da criança até sua vida adulta. A nutri- ção adequada desde a gestação é capaz de proteger o indivíduo e contribuir para o seu pleno crescimento e desenvolvimento. »» Tempo de tela: do inglês “screen time”, o termo se re- fere à somatória do tempo despendido por uma pessoa por dia diante de uma tela, incluindo os diversos tipos de mídia (computador, tablet, televisão/DVD, videogame, celular, etc.). Algumas organizações, como a Sociedade Brasileira de Pediatria, não recomendam o uso de mídias para crianças com menos de dois anos e, para crianças acima dessa idade, orientam que esse tempo não ultra- passe duas horas diárias. »» Vínculo: capacidade de duas pessoas experimentarem e se ajustarem à natureza uma da outra, desenvolvida por meio da interação amorosa e contínua. »» Capital humano: conjunto de características individuais que determinam, juntamente com variáveis de contexto, os níveis de bem-estar dos indivíduos em suas diversas dimensões (salário e inserção no mercado de trabalho, envolvimento com violência e criminalidade, vícios e lon- gevidade e estabilidade familiar, entre outros). Na ponta da língua o que todo empreendedor de negócio de impacto para a primeira infância deve saber
  • 31.
  • 32. Mamar e dormir. Comer e brincar. A vida da criança, des- de o ambiente protegido do ventre materno até comple- tar seis anos de idade, pode parecer simples, mas não é. Pense no trabalho envolvido desde que duas células se encontram no fenômeno da fecundação até o momen- to do nascimento do bebê. Quando uma criança nasce, uma parte do esforço da criação está terminada, mas ainda existem várias tarefas inacabadas. Como já dissemos, a for- mação do cérebro, por exemplo, é uma entre tantas outras essenciais que continuam a ocorrer após o nascimento, assim como o funcionamento da respiração, a maturação do sistema digestório, do sistema imunológico, etc. Promover o desenvolvimento integral na Primeira Infân- cia pressupõe atentar para uma série de particularidades e desafios, para além de acompanhar o crescimento e a saúde física. Criar condições favoráveis para o desen- volvimento pleno das crianças de zero a seis anos é uma tarefa não só dos pais ou familiares, mas também de toda a sociedade. Isso ainda exige leis e políticas que deem atenção especial a este período da vida, assim como a busca de soluções inovadoras. Os negócios de impacto social podem ter uma grande contribuição nes- te sentido, na medida em que utilizam da criatividade para aumentar o acesso da população de baixa renda a produtos e serviços essenciais e contribuem para evitar que problemas ou negligências possam impactar a vida presente e futura das crianças. Os desafios da Primeira Infância no Brasil
  • 33. 33 Desafios são terrenos férteis para a identificação de oportunidades. Este capítulo apresenta um conjunto abrangente de dados qualitativos e quan- titativos sobre os principais desafios da Primeira Infância no Brasil. Nossa intenção é reunir subsídios para ajudar você a refletir com mais propriedade sobre a sua ideia transformadora. Sabemos que se trata de uma leitura mais densa e talvez você precise realizá-la em etapas. Visão que a sociedade tem da criança A pesquisa “Percepções e Práticas da Sociedade em Relação à Primeira Infância”, produzida em 2012 pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, pelo Ibope e Instituto Paulo Montenegro, levantou a visão da sociedade sobre o que é importante para o desenvolvimento da criança de zero a três anos. Os pontos mais destacados dizem respeito aos cuidados físi- cos: levar ao pediatra/dar vacinas recomendadas, amamentar e ter cui- dado com a alimentação. Outros aspectos do desenvolvimento na Primeira Infância, relacionados, por exemplo, ao desenvolvimento cognitivo e ao desenvolvimento psi- cossocial – como brincar/passear, conversar com a criança e receber atenção dos adultos –, aparecem numa segunda escala de importância perante a opinião pública. A leitura do estudo como um todo sugere que o desenvolvimento in- fantil é entendido como sinônimo de crescimento pelas pessoas. “Se o desenvolvimento físico é só parte de todo o processo de crescimento da criança, a baixa incidência de respostas nos demais aspectos da pesquisa preocupa, até porque eles também influenciam o desenvolvimento físi- co”, registra a análise da pesquisa. Outro ponto de atenção da pesquisa veio na resposta sobre o momento a partir do qual a criança começa a aprender. O estudo revelou que me- nos da metade das pessoas (47%) acredita que as crianças comecem a aprender antes dos seis meses de idade. Já se sabe, porém, que a criança aprende desde que nasce, que os primeiros seis meses constituem um período intenso de aprendizado e que a interação e o vínculo com um adulto de referência são determinantes para o desenvolvimento.
  • 34. 34 Vulnerabilidade social Crianças em situação de vulnerabilidade social, que vivem em famílias de menor renda, com acesso limitado a direitos ou em situação de exclu- são, tendem a ter menos oportunidades de desenvolvimento ao longo da vida. Em alguns casos, quando suas necessidades básicas de nutrição, saúde, estímulos e afeto não são atendidas, a própria capacidade de apro- veitar as oportunidades que lhes são oferecidas é afetada. Segundo a edição 2014 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), 5,4% da população de zero a três anos e 5,5% das crianças de quatro a cinco anos estão em situação de extrema pobreza no Brasil. Em números estimados, isso significa dizer que aproximadamente 870 mil crianças de zero a cinco anos vivem em famílias com renda mensal per capita de até R$ 85,00, que é o indicador mais recente para extrema pobreza no país. Outro campo de indicadores para os quais se deve atentar quando se ana- lisa a vulnerabilidade social na Primeira Infância é o da gravidez na adoles- cência. Adolescentes grávidas apresentam gestação de maior risco para a sua saúde e a do bebê – hipertensão na gravidez, prática do aborto indu- zido, prematuridade do bebê e baixo peso ao nascer, entre outros fatores. Além disso, tendem a não dispor da maturidade emocional necessária para criar uma criança e a enfrentar mais dificuldade para terminar os estudos e se preparar para o mercado de trabalho do que aquelas que não engravi- daram. Em 2013, o Ministério da Saúde registrou mais de 400 mil casos de adolescentes entre 15 e 19 anos grávidas no Brasil. os desafios da primeira infância no brasil Pesquisa Percepções e Práticas da Sociedade em Relação à Primeira Infância, produzida pela Fundação Maria Cecilia, pelo Ibope e Instituto Paulo Montenegro (http://www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/ Paginas/A-vis%C3%A3o-da-sociedade-sobre-o-desenvolvimento-da- Primeira-Inf%C3%A2ncia---uma-pesquisa-FMCSV-e-Ibope.aspx). Análise de pesquisa Primeiríssima Infância – Da gestação aos três anos, da Fundação Maria Cecilia (http://www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/ Paginas/Primeir%C3%ADssima-Inf%C3%A2ncia---uma-pesquisa- da-FMCSV-e-Ibope.aspx). O especialista é você
  • 35. 35 Da mesma maneira, criar um filho sem a participação do pai pode ser um desafio. Dados do Instituto Data Popular para 2015 apontam que 31% das mães brasileiras são mães solteiras. O Estado brasileiro adota estratégias de combate à desigualdade social que contemplam famílias com crianças. A mais conhecida delas é o Pro- grama Bolsa Família, política de transferência de renda que beneficiou 14 milhões de famílias em 2015. É importante compreender como este pro- grama funciona, porque ele é amplamente disseminado entre as classes sociais de renda mais baixa. Por meio do programa, famílias que vivem em situação de extrema pobreza ou de pobreza (renda mensal per capita entre R$ 85,01 e R$ 170,00) têm acesso a recursos em condições variadas. Acompanhe alguns detalhes: § Para as famílias em situação de extrema pobreza, o auxílio é de R$ 85,00 mensais por pessoa, independentemente da quantidade de pessoas na família. § A participação das famílias em situação de pobreza no Pro- grama Bolsa Família é condicionada ao fato de terem em sua composição gestantes e crianças ou adolescentes de até 15 anos de idade: »» O benefício concedido à gestante consiste em nove par- celas mensais de R$ 39,00. »» O valor mensal do benefício por criança/adolescente é de R$ 39,00. »» Nutrizes (mães que amamentam) com crianças com até seis meses de idade recebem seis parcelas mensais de R$ 39,00. »» Considerando o público das gestantes, crianças/adoles- centes e nutrizes, cada família pode acumular até cinco benefícios por mês, chegando a R$ 195,00. No caso das famílias em situação de pobreza, o programa requer ainda o cumprimento de exigências em contrapartida ao recebimento do benefício, como comparecimento das gestantes às consultas de pré-natal; participa- ção das nutrizes em atividades educativas do Ministério da Saúde sobre alei- tamento materno e alimentação saudável; inclusão de dados de crianças de até seis meses no Cadastro Único do programa; atualização permanente do cartão de vacinação das crianças com até sete anos; frequência mínima de 85% à escola para crianças e adolescentes de até 15 anos; e acompanha- mento da saúde das mulheres da família. os desafios da primeira infância no brasil
  • 36. 36 Para além das políticas de transferência de renda, ao analisarmos a relação que o Estado brasileiro estabelece com a infância, é importante notar que a legislação brasileira se mostra bastante avançada: temos o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), outorgado como lei em 1990, e foi aprova- do em 2016 o Marco Legal da Primeira Infância. As duas legislações situam a criança como sujeito de direitos e cidadã e reforçam diretrizes de proteção e desenvolvimento integral. »» Situação de extrema pobreza: famílias que vivem com renda mensal per capita de até R$ 85,00. »» Situação de pobreza: famílias que vivem com renda mensal per capita de R$ 85,01 a R$ 170,00. Na ponta da língua Leis Marco Legal da Primeira Infância, Lei Federal nº 13.257/2016 (http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257. htm) e Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei Federal nº 8.069/1990 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm). O especialista é você os desafios da primeira infância no brasil Pré-natal, parto e nascimento O desenvolvimento de uma criança começa no momento da sua concep- ção e os cuidados específicos da gestação até o nascimento são determi- nantes para a sua formação. Dados de 2013 extraídos da Pesquisa Nacional de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que 97,4% das gestantes no Brasil realizam pré-natal, sendo que 83,7% começam o pré-natal antes da 13a semana. Uma gestação dura, em regra, 40 semanas e o acompanhamento da gestação desde o início visa proteger a saúde da mãe, garantir o melhor desenvolvimento possível do bebê na fase intrauterina e preparar a ges- tante para o parto. Apesar de a estatística indicar que o pré-natal está praticamente uni- versalizado no Brasil, sabe-se que a qualidade do serviço oferecido às gestantes ainda deixa a desejar. As principais críticas recaem sobre:
  • 37. 37 § A capacidade de os obstetras realizarem uma boa consulta clínica das pacientes, examinando-as, ouvindo-as e interpre- tando devidamente os sinais. § A dificuldade da rede pública de saúde para realizar os exames necessários da gestação no tempo certo. § A pouca atenção que é dada à gestante no sentido de prepa- rá-la para o momento do parto, isto é, orientando-a sobre for- mas de parto, riscos e sobre o que é esperado dela nesta hora. Uma das consequências da falta de orientação das mães sobre os tipos de parto possíveis e suas indicações é o elevado índice de partos cesária no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, 55,6% dos partos feitos no país em 2015 eram cesarianas. Na rede privada, este índice chegou a 84% e na rede pública a 40%. Em algumas situações, a cesária é uma intervenção efetiva para salvar a vida de mães e bebês, porém ela pode causar complicações significati- vas e, às vezes, permanentes, como sequelas ou morte, especialmente se realizada em locais sem infraestrutura e antecipando o tempo de maturidade do bebê. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), taxas de cesária maiores que 10% não representam redução de mortalidade materna e do recém-nascido. Ao contrário, o excesso de cesarianas resulta em maior taxa de mortalidade materna e em maior número de infecções depois do parto, segundo dados do Ministério da Saúde. Para os bebês, as im- plicações podem ser avaliadas pelo aumento da prematuridade. Confira alguns indicadores: § Entre 1992 e 2010, as mulheres submetidas a partos cesá- rios tiveram 3,5 vezes mais chance de morrer do que as de parto normal. § Entre 2000 e 2011, elas apresentaram cinco vezes mais proba- bilidade de ter infecção depois do parto do que as do grupo do parto normal. § Em 2010, a proporção de bebês prematuros, ou seja, nasci- dos antes das 37 semanas de gestação, foi maior entre os nascidos via cesárias – 7,8% diante de 6,4% de prematuridade nos partos normais. Bebês prematuros são mais propensos a enfrentar dificuldades respiratórias ao nascer e problemas de neurodesenvolvimento, entre outras questões. os desafios da primeira infância no brasil
  • 38. 38 Nutrição Crescimento e desenvolvimento são dois fenômenos complexos carac- terísticos da faixa etária pediátrica, sendo ambos inter-relacionados. O crescimento depende da interação de fatores genéticos, os quais têm sua expressão modulada por características ambientais, socioeconômi- cas, emocionais e nutricionais. Assim, a alimentação é importante não somente para proporcionar pleno crescimento e desenvolvimento, mas também por estar envolvida na gênese dos principais distúrbios nutri- cionais na infância, como desnutrição energético-proteica, obesidade, deficiência de ferro e hipovitaminose A. O Brasil tem evoluído no campo da alimentação na Primeira Infância em questões básicas como a desnutrição infantil e a morte por diarreia. Análise de pesquisa Primeiríssima Infância – Da gestação aos três anos, da Fundação Maria Cecilia (http://www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/ Paginas/Primeir%C3%ADssima-Inf%C3%A2ncia---uma-pesquisa- da-FMCSV-e-Ibope.aspx). Veja o capítulo 9, Da gestação ao parto. Publicação Coleção Primeiríssima Infância, da Fundação Maria Cecilia (http:// www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/formacao-em- humanizacao-do-parto-e-nascimento.aspx). Veja o caderno 7, Formação em humanização do parto e nascimento. Diretiva internacional Declaração da OMS sobre Taxas de Cesáreas, da Organização Mundial da Saúde (OMS) (http://apps.who.int/iris/ bitstream/10665/161442/3/WHO_RHR_15.02_por.pdf?ua=1ua=1). O especialista é você os desafios da primeira infância no brasil »» Prematuridade: condição dos bebês que nascem an- tes de completar 37 semanas de gestação ou com peso inferior a 2,5 quilos. Na ponta da língua
  • 39. 39 O Ministério da Saúde reportou importante redução dos casos de baixa es- tatura e baixo peso por deficiência nutricional no Brasil entre 1996 e 2006. Apesar da significativa redução da desnutrição primária, isto é, decorrente da inadequação nutricional em todo o Brasil, muitos casos de deficiência de micronutrientes, chamada de fome oculta, ainda são detectados. Uma recente publicação científica mostrou que 53% das crianças menores de dois anos de idade ainda são diagnosticadas com anemia por deficiência de ferro, que poderia ser corrigida com uma nutrição adequada. Com base em estudos transversais realizados no Brasil nos anos 1970, 1980 e 1990, constatou-se rápido declínio na prevalência de desnutrição energético -proteica e aumento na prevalência de sobrepeso e obesidade, caracterizan- do o fenômeno da transição nutricional. As mudanças observadas apresen- tam particularidades segundo regiões geográficas do Brasil e classes sociais e são resultantes de profundas mudanças ocorridas no país nas últimas déca- das. Deve ser destacado que a transição nutricional é um fenômeno mundial. No mundo, a disponibilidade de alimentos cresceu 10%, com consequente redução na prevalência de desnutrição e aumento na obesidade que se trans- formou em grave preocupação em termos de saúde pública. Considera-se que este fenômeno é explicado, pelo menos em parte, pela influência do crescimento econômico, urbanização e globalização no padrão alimentar. Outro aspecto que vem recebendo atenção crescente nas últimas décadas é a relação entre a alimentação e o estado nutricional nos primeiros anos de vida com o desenvolvimento de doenças crônicas na vida adulta. Dados publicados pelo IBGE em 2010, por sua vez, confirmam queda signi- ficativa na tendência de mortalidade infantil em crianças menores de cinco anos por diarreia – de 17% em 1986 para 13,1% em 1996 e para 9,4% em 2006. Mas ainda existem desafios na nutrição para a Primeira Infância e eles come- çam na fase gestacional. Confira alguns pontos de atenção: Gestantes § Verifica-se consumo inferior ao recomendado de nutrientes essen- ciais como o ferro e o cálcio na alimentação de gestantes, bem como o consumo excessivo de sódio. Também é frequente o caso de mulheres que já entram na gestação com reservas insuficientes de ferro, favorecendo a ocorrência de anemia na gestação. Isso pode ocasionar baixo peso no bebê, dificuldades de crescimento, partos prematuros e abortos. O excesso de sal na gravidez, por sua vez, pode gerar bebês com propensão a serem adultos hipertensos. os desafios da primeira infância no brasil
  • 40. 40 § Muitas grávidas brasileiras não atingem as necessidades diárias de ácido fólico só com alimentação e poucas cumprem a recomen- dação de suplementação, principalmente antes da gestação. A in- gestão adequada de ácido fólico reduz a incidência de malformação do tubo neural, que é a estrutura embrionária que dará origem ao cérebro e à medula espinhal. O Brasil é o quarto país com maior prevalência tanto de anencefalia como de espinha bífida nas crianças, uma malformação congênita caracterizada justamente por um fechamento incompleto do tubo neural. § Estudos em grupos de grávidas realizados em 2007 revelaram que cerca de 30% das gestantes iniciaram a gravidez com excesso de peso e que 87% delas mantiveram esse estado nutricional ao fim da gestação. Ainda, 40,8% das gestantes avaliadas apresentaram sobre- peso ou obesidade ao fim da gestação. A macrossomia fetal – bebês que nascem com mais de quatro quilos – desponta como possível consequência do excesso de peso na gestação. A macrossomia fetal é apontada como fator de risco para o bebê, possibilitando a ocor- rência futura de doenças crônicas não transmissíveis, como obesida- de e diabetes mellitus. Amamentação A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde re- comendam aleitamento materno exclusivo por seis meses e de forma complementar até os dois anos de idade ou mais. Além de ser um ali- mento completo, rico e balanceado em nutrientes, o leite materno atua no sistema imunológico do bebê transferindo anticorpos da mãe para a crian- ça. Do ponto de vista afetivo, a amamentação é uma excelente oportunida- de para o estabelecimento do vínculo mãe-bebê. Muitas mães desistem de amamentar por falta de esclarecimento, por acharem que amamentar é difícil em função de rachaduras no bico do peito ou por acreditarem que o seu leite não é capaz de saciar a fome do bebê, o que gera muita ansiedade. Elas ignoram que, da mesma forma que os bebês aprendem a mamar, as mães também vivem uma curva de aprendizado para amamentar e é necessário apoio nesse processo, que pode ser desafiador. A amamentação é um ato naturalmente regulado pela livre demanda (quan- to mais o bebê mama, mais leite as mamas vão produzir). Entre os principais fatores associados ao desmame precoce estão o uso de chupeta, o fato de a mãe trabalhar fora e a falta de experiência/informação em torno da amamentação. A introdução de fórmulas, quando desnecessá- os desafios da primeira infância no brasil
  • 41. 41 rias, também não é recomendada. O desmame precoce e a hiperconcen- tração de dietas lácteas sob a forma de mingaus são fatores associados ao desenvolvimento de excesso de peso na criança. Felizmente, as estatísticas provam que o Brasil está evoluindo quando o assunto é amamentação: § Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde, a du- ração média da amamentação no país aumentou de 5,2 meses em 1986 para 14 meses em 2006. Durante este mes- mo período, a amamentação exclusiva subiu de 2,5% para 38,6% até os seis meses. § Dados do Ministério da Saúde de 2008 indicam que a taxa de amamentação exclusiva até os seis meses de vida era de 41%, enquanto a manutenção da amamentação dos nove aos 12 meses de idade era praticada em 59% dos casos. os desafios da primeira infância no brasil Primeiros anos de vida A anemia ferropriva, ou seja, por deficiência de ferro, é a carência nutricio- nal de maior magnitude no mundo, sendo considerada fenômeno em ex- pansão em todos os segmentos sociais. No Brasil não é diferente. Ela atinge principalmente bebês menores de dois anos, além de gestantes, podendo afetar o crescimento e o desenvolvimento cognitivo das crianças. »» Amamentação exclusiva: É o ato de alimentar o bebê somente com leite materno, sem necessidade de ofer- ta de água, chá, suco ou de nenhum outro alimento. A amamentação exclusiva é recomendada até os seis meses de idade. Na ponta da língua Artigo Aleitamento Materno, do Unicef (http://www.unicef.org/brazil/pt/ activities_10003.htm). Apostila Promovendo o aleitamento materno, do Unicef (http://www.unicef. org/brazil/pt/aleitamento.pdf). O especialista é você
  • 42. 42 Um outro desafio do campo da nutrição nos primeiros anos de vida refere-se aos hábitos alimentares. Especialistas acreditam que a introdução precoce e o elevado consumo de sal e açúcar na infância podem influenciar nega- tivamente nas escolhas alimentares futuras. Além disso, a alta ingestão de proteína pode ser prejudicial e contribuir para o excesso de ganho de peso e risco de doenças crônicas não transmissíveis na vida adulta. Hábitos alimen- tares inadequados nos primeiros anos de vida estão intimamente ligados a doenças infecciosas, afecções respiratórias, desnutrição, excesso de peso e carências específicas de micronutrientes como ferro, zinco e vitamina A. Já se observa um consumo excessivo de carboidrato e gordura na alimenta- ção das crianças brasileiras de seis a 59 meses, associado à ingestão de ali- mentos processados. Por outro lado, o consumo de vegetais e frutas mos- tra-se reduzido. Também se tem notado o aumento dos casos de alergia alimentar entre crianças no Brasil. Publicação Dez passos para uma alimentação saudável: Guia alimentar para menores de 2 anos, do Ministério da Saúde (http://189.28.128.100/ dab/docs/portaldab/publicacoes/enpacs_10passos.pdf). O especialista é você »» Anemia ferropriva: é a anemia provocada por defici- ência de ferro. Atinge principalmente bebês menores de dois anos, além de gestantes, podendo afetar o cresci- mento e o desenvolvimento cognitivo das crianças. os desafios da primeira infância no brasil Saúde da criança Quando o assunto é saúde na Primeira Infância, o foco tende a estar no cumprimento do calendário de vacinações e no acompanhamento da evo- lução do peso, da altura e, nos primeiros anos, da circunferência craniana ou perímetro cefálico. As visitas regulares ao pediatra são uma prática comum, conforme demons- trou a já mencionada pesquisa “Percepções e Práticas da Sociedade em Na ponta da língua
  • 43. 43 Relação à Primeira Infância”. Todavia, há pouca atenção, tanto por parte de pediatras quanto de pais/mães, em relação a aspectos do desenvol- vimento integral da criança – como a evolução da fala e da motricidade –, mesmo que existam instrumentos de apoio para que se faça esse acom- panhamento, como a Caderneta de Saúde da Criança, que, em sua reedi- ção, contempla os marcos do desenvolvimento. Na rede pública ou privada, a importância de a criança receber estímulos e de brincar, por exemplo, não costuma pautar a conversa das consultas. Em termos de saúde pública da infância, o Brasil ainda se debate com a taxa de mortalidade infantil para crianças menores de um ano. Houve avanços significativos nessa área, mas há bastante espaço para melhorar. Observe os dados: § Uma projeção do IBGE indica que a taxa de mortalidade in- fantil para cada mil crianças menores de um ano nascidas vi- vas caiu de 29,82 em 2000 para 13,82 em 2015. Em países desenvolvidos, esta mesma taxa é inferior a 8. § A disparidade entre as regiões geográficas é importante. Um levantamento do Ministério da Saúde demonstra que a taxa de mortalidade infantil para o Brasil era de 15,3 em 2011, enquanto as taxas regionais eram de 11,3 para o Sul, 13 para o Sudeste, 15,5 para o Centro-Oeste, 18 para o Nor- deste e 19,9 para o Norte. Vale a pena destacar, ainda, a necessidade de a sociedade proporcionar melhor acolhida às crianças com deficiência. Vivendo quase na invisibi- lidade, existem poucas estatísticas sobre elas. Estimativas internacionais apontam que uma em cada 20 crianças com 14 anos ou menos tem al- gum tipo de deficiência. Por conta do desconhecimento e da discriminação, as crianças com defi- ciência se apresentam como um grupo potencialmente vulnerável. As prá- ticas de inclusão demandam mais do que atitude humanitária das pessoas – elas pedem recursos especializados, que se traduzem em infraestrutura, terapias e profissionais habilitados que não estão presentes em todo o Brasil. O surto de infecções pelo vírus zika e a nova geração de bebês com microcefalia, merecedores de todo o esforço possível em busca de me- lhor qualidade de vida, elevam esse desafio ainda mais. os desafios da primeira infância no brasil
  • 44. 44 Parentalidade Derivado do inglês “parenting”, o termo parentalidade vem sendo utilizado para descrever o conjunto de atividades desempenhadas pelo adulto de re- ferência da criança no seu papel de assegurar a sobrevivência e o desenvol- vimento pleno da criança, de modo a promover a sua integração social e torná-la mais e mais autônoma. O adulto de referência é a pessoa que convive rotineiramente, interage di- retamente e estabelece os vínculos afetivos mais próximos durante os pri- meiros anos de vida. É o responsável direto por cuidar, fornecer estímulos adequados, educar, amar, impor limites, fortalecer a autonomia e preparar a criança para os desafios e oportunidades do presente e da vida adulta. Em geral, são adultos de referência o pai e a mãe da criança, mas, a depender da maneira como cada família se conforma, este papel pode ser desempenha- do por avós, avôs, tios, tias, padrastos, parceiros em casais homoafetivos, etc. A parentalidade é apontada por especialistas como a principal tarefa de uma geração (pais), de modo a preparar a segunda geração (filhos) para situações físicas, econômicas e psicossociais que irão se debater ao longo do seu ciclo de desenvolvimento. Mas o exercício da parenta- lidade não se dá de forma meramente inata – é algo aprendido na prática e com apoio do conhecimento adquirido por outras pessoas. »» Taxa de mortalidade infantil: número de crianças mortas, durante o primeiro ano de vida, a cada mil nas- cidas vivas. Relatório Situação Mundial da Infância 2015 – Reimagine o futuro, do Unicef (http://www.unicef.org/publications/files/SOWC_2015_ Summary_Portuguese_Web.pdf). Relatório Situação Mundial da Infância 2013 – Crianças com deficiência, do Unicef (http://www.unicef.org/brazil/pt/PT_SOWC2013.pdf). O especialista é você os desafios da primeira infância no brasil Na ponta da língua
  • 45. 45 É por meio desse exercício cotidiano que o adulto de referência estabelece vínculo com a criança, a ligação desenvolvida por meio de interação amo- rosa e contínua da qual tratamos no capítulo 2, que tem forte influência nas demais relações que a criança estabelecerá na vida e no desenvolvimento das funções do cérebro. Tudo isso posto, vale a pena elencar alguns grandes desafios que a vida mo- derna traz para a parentalidade: § O reconhecimento da importância da família – Desde a ges- tação, o desenvolvimento de cada criança se dá no contexto da sua família. As famílias precisam ser apoiadas no exercício da parentalidade, o que pressupõe tanto o reconhecimento e o empoderamento de suas forças quanto a identificação e o enfrentamento das suas fragilidades. § A necessidade de uma rede de apoio à mãe, ou principal adul- to de referência, e ao bebê – O nascimento de um bebê exige toda uma reorganização da dinâmica familiar em função das necessidades desse novo ser. Nos primeiros anos de vida, essas necessidades mudam a cada etapa do desenvolvimento, exigin- do que a mãe, o pai ou adultos de referência estejam em cons- tante adaptação. Se a mãe ou o principal adulto de referência não contar com uma rede de relacionamentos e recursos para receber apoio nessa fase, torna-se difícil exercer a parentalida- de. Quando mencionamos esta rede, pensamos em familiares, amigos, vizinhos, chefes/subordinados e profissionais que po- dem apoiar o exercício da parentalidade. Quando falamos em recursos, estamos nos referindo a serviços como berçários; orientação sobre amamentação, nutrição e cuidados; atendi- mento de saúde confiável; creches e pré-escolas; parquinhos e outros locais de lazer; e centros de convivência. Como diz o ditado: “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. § Apropriação de papéis – No exercício da parentalidade, pai e mãe são os primeiros responsáveis por uma criança e seus papéis são complementares. Didaticamente falando, existem funções que dizem respeito ao acolhimento e apoio à crian- ça, normalmente associadas às funções maternas. E funções de auxiliar a criança a reconhecer limites e estabelecer um sis- tema de normas e valores, por vezes associadas à função pa- terna. Isso não quer dizer que o pai não deva se envolver com os cuidados da criança ou que a mãe não deva impor limites. Ambas as funções são essenciais e podem ser desenvolvidas os desafios da primeira infância no brasil
  • 46. 46 simultaneamente pelas pessoas que cuidam da criança, inde- pendentemente de gênero ou consanguinidade. § Conciliar parentalidade e vida profissional/pessoal – Vínculo se constrói no cuidado amoroso da criança, traduzido na ro- tina de alimentação, higiene, brincadeira, proteção, socializa- ção e estabelecimento de limites. Pais, mães ou outros adul- tos de referência excessivamente ocupados com atividades além da parentalidade, submetidos a jornadas de trabalho e a deslocamentos exaustivos para ir e vir do emprego, por exem- plo, disporão de menos tempo para construir essa relação de vínculo com a criança. Publicação Fundamentos da Família como Promotora do Desenvolvimento Infantil – Parentalidade em Foco, da Fundação Maria Cecilia (http:// www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/fundamentos- da-familia-como-promotora-do-desenvolvimento-infantil- parentalidade-em-foco.aspx). Pesquisa Estatísticas de Gênero, do IBGE (http://biblioteca.ibge.gov.br/ visualizacao/livros/liv88941.pdf). O especialista é você »» Adulto de referência: pessoa que convive rotineira- mente, interage diretamente e estabelece os vínculos afetivos mais próximos durante os primeiros anos de vida. os desafios da primeira infância no brasil Educação A educação infantil é a primeira etapa da educação básica e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos fí- sico, psicológico, intelectual e social. Seu papel é complementar à ação da família e da comunidade. De acordo com as leis brasileiras, a educação infantil se constitui de duas modalidades de atendimento: a creche, para crianças de até três anos, e a pré-escola, para crianças com idade variável entre quatro anos e Na ponta da língua
  • 47. 47 cinco anos e 11 meses. Na prática, a maioria das escolas de educação infantil no Brasil atende crianças de todas as idades na Primeira Infância e organiza as salas de acordo com as circunstâncias locais, por critérios próprios que não necessariamente a idade. O acesso à educação infantil é garantido por lei no país, o que significa que toda criança com idade de até cinco anos e 11 meses deveria ter direito a uma vaga num serviço gratuito de educação infantil. Segundo o Plano Nacional de Educação (PNE), lei promulgada em 2014 que estabelece dire- trizes, metas e estratégias para a política educacional e valerá por dez anos, o atendimento das crianças de quatro e cinco anos deve ser universalizado em 2016. A normativa diz, ainda, que a oferta de matrículas em creche deve ser ampliada de forma a atender no mínimo 50% das crianças com até três anos até 2024. As determinações do PNE também orientam estados e muni- cípios, que devem responder a elas criando ou adequando Planos Estaduais e Municipais de Educação. Dados tabulados pelo movimento Todos pela Educação a partir da Pnad 2014 trazem no “Anuário Brasileiro da Educação Básica 2016” o retrato da educação infantil brasileira: § 29,6% das crianças de zero a três anos estão na educação infantil. Até 2024, de maneira projetada, calcula-se que apro- ximadamente 2,6 milhões de crianças ainda deverão ser ma- triculadas na creche para atingir a meta do PNE. § 89,1% das crianças de quatro e cinco anos estão na educação infantil. Para cumprir a meta do PNE, aproximadamente 600 mil crianças terão de ser matriculadas na pré-escola em 2016. § Entre os 25% mais pobres, a taxa de crianças de zero a três anos na escola cai para 22,4% e de crianças de quatro e cinco anos cai para 86,3%. § Entre os 25% mais ricos, as taxas sobem 51,2% e 96,8%, respectivamente. Quando se analisa a educação infantil brasileira do ponto de vista da qua- lidade do serviço ofertado também se verificam lacunas. Análises de espe- cialistas que cruzam aspectos como insumos, processos e resultados da educação infantil indicam que a qualidade do atendimento no Brasil está aquém do desejado, especialmente nas creches. Embora o nível de formação dos professores já se tenha adequado aos re- quisitos – menos de 1% dos professores ainda não atingiram a qualificação os desafios da primeira infância no brasil
  • 48. 48 mínima exigida, que é a do ensino médio normal ou magistério, e mais de 62% possuem ensino superior, segundo o “Anuário Brasileiro da Educação Básica 2016” –, acredita-se que a qualidade da formação dos professores não é suficiente para garantir que eles realizem um bom trabalho com as crianças. O curso de pedagogia, com o currículo que possui, não se dedica à for- mação do professor de educação infantil. São poucas as experiências de cursos com essa ênfase. As disciplinas são na sua maioria teóricas, sobre teoria da educação, enquanto as disciplinas específicas de educação in- fantil são quase inexistentes. Um bom profissional de educação infantil precisa ser um especialista em desenvolvimento infantil no âmbito educacional e na pedagogia da infân- cia. Precisa conhecer muito bem a criança, saber como ela aprende, como ele ensina, quais as experiências mais significativas segundo as etapas do desenvolvimento da criança, saber sobre a organização do ambiente e es- paços, de forma a valorizar a aprendizagem ativa da criança, a segurança e a confiança de que ela tanto necessita para suas explorações e interações com seus pares, os objetos, espaços e adultos. Um profissional de educação infantil precisa ter a habilidade de estabelecer vínculos e de criar condições de segurança e afeto nas relações com as crianças; precisa ser alguém ca- paz de organizar uma rotina previsível, mas repleta de desafios que atendam à curiosidade natural da criança. A qualidade da educação infantil também está relacionada à infraestrutura das escolas. “O Anuário Brasileiro da Educação Básica 2016” traz o seguinte panorama sobre as instalações da rede pública de educação infantil em 2014: § Apenas 43,4% das creches contavam com parque infantil na- quele ano, enquanto nas pré-escolas este índice era de 24,6%. § Para a presença de salas de leitura, os índices eram de 14% para creches e 12,3% para pré-escola. § Sobre a existência de banheiros dentro do prédio da escola, 90,6% das creches e 79,8% das pré-escolas contavam com este recurso, mas, quando se avaliou a existência de banheiros adequados à educação infantil, o indicador caiu para 46,7% e 24,7%, respectivamente. Em suma, pesquisas evidenciam que os impactos positivos duradouros da educação infantil estão condicionados à qualidade da intervenção. Dentre os benefícios destacados incluem-se ganhos no desenvolvimento cognitivo no curto prazo, melhora nos níveis de aprendizado no médio prazo e me- os desafios da primeira infância no brasil
  • 49. 49 lhora na escolaridade e renda no longo prazo. Em última análise, a qualidade na educação infantil pode ser conferida por uma série de fatores, entre eles: § Profissionais com bom nível de formação, atentos e responsi- vos às necessidades das crianças e engajados em promover o desenvolvimento integral. § Turmas pequenas com número reduzido de crianças por educadores. § Currículo adequado à faixa etária com atividades e programa pedagógico bem estruturados. § Ambiente estimulante e voltado à participação ativa da criança. § Infraestrutura segura. § Rotinas de higiene e cuidado pessoal. § Modelo de atendimento associado a atividades visando apoiar e orientar os pais. Publicação Anuário Brasileiro da Educação Básica 2016, do movimento Todos pela Educação e Editora Moderna (http://www.todospelaeducacao. org.br/sala-de-imprensa/releases/38343/anuario-brasileiro-da- educacao-basica-2016-e-lancado-pelo-todos-pela-educacao-e- editora-moderna/). Lei Plano Nacional de Educação (PNE), Lei Federal nº 13.005/2014 (http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/ L13005.htm). Site Observatório do PNE (Plano Nacional de Educação) / Metas da educação infantil (http://www.observatoriodopne.org.br/metas- pne/1-educacao-infantil). Artigo O impacto do desenvolvimento na Primeira Infância sobre a aprendizagem, do Núcleo Ciência Pela infância (NCPI) (http:// www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/o-impacto-no- desenvolvimento-da-primeira-infancia-sobre-a-aprendizagem.aspx). O especialista é você os desafios da primeira infância no brasil
  • 50. 50 Brincadeiras e interação com a natureza O processo de urbanização acelerada e de verticalização das cidades do Brasil nos últimos anos tem interferido no direito das crianças ao lazer e ao brincar e a desfrutar do contato com a natureza. A presença de áreas verdes e livres é es- cassa nas metrópoles e a agenda de lazer cultural gratuito costuma ser restrita. Até os dados sobre o assunto são raros, refletindo a baixa importância atribuída ao tema. Numa das poucas estatísticas encontradas, a Rede Nossa São Paulo informa, com base em dados oficiais de 2014, que a média de área verde por habitante na maior metrópole do país é de 14,1 metros quadrados. Curiosamente, o indicador está acima do recomen- dado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 12 metros quadrados por habitante. Porém, quando a conta exclui as áreas de pre- servação ambiental fora do perímetro urbano da capital paulista – como as serras da Cantareira e do Mar – e se concentra nos parques e praças, a média não chega a 3 metros quadrados. As condições de segurança nas cidades também se tornaram desfavoráveis para que as crianças exerçam o direito fundamental à liberdade. A presença excessiva de veículos torna o trânsito perigoso e brincadeiras tão corriquei- ras como andar de bicicleta ou jogar amarelinha precisam agora ser pro- gramadas. A violência urbana cresceu e a rua passou a ser considerada um espaço inseguro para brincar. A verdade é que as cidades brasileiras são pouco amigáveis com as crianças, que vivem trancafiadas em suas casas ou cercadas nas es- colas e nos condomínios. A noção de “cidade educadora”, compreendida como um espaço onde existe integração da oferta de atividades sociais e culturais para potencializar sua capacidade educativa, tem ficado distante. A diversão pela via da tecnologia deslanchou e a prática da experi- mentação da vida real, tão importante para o desenvolvimento da au- tonomia das crianças, foi prejudicada. As opções de lazer privado são igualmente raras e, quando existem, custam caro. A inequidade se acentua também pelas diferentes possibilidades de acesso ao lazer e à cultura. »» Educação infantil: é a primeira etapa da educação básica e tem como finalidade o desenvolvimento integral da crian- ça em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social. os desafios da primeira infância no brasil Na ponta da língua
  • 51. 51 Por conta deste cenário, começam a ganhar corpo movimentos que buscam garantir que as crianças cresçam e se desenvolvam desfrutando do contato direto – e democrático – com a natureza. Os benefícios desse contato para o desenvolvimento na Primeira Infância têm sido observados e divulgados por organizações como o Instituto Alana e são inúmeros. Por exemplo: § Estimulam os sentidos e a mobilidade. § Favorecem a concentração e o estabelecimento de vínculos. § Melhoram a nutrição e a saúde. § Reduzem a violência. § Induzem comportamentos de consumo consciente e respei- to ao meio ambiente. Site Centro de Referências em Educação Integral (www.educacaointegral.org.br). Projeto Criança e Natureza (www.criancaenatureza.org.br). Publicação A última criança na natureza, de Richard Louv (Editora Aquariana/ Instituto Alana, 2016). O especialista é você os desafios da primeira infância no brasil »» Cidade educadora: expressão atribuída às cidades que apresentam, entre outras características, a integração da oferta de atividades sociais e culturais para potencia- lizar sua capacidade de promover a educação.Na ponta da língua
  • 52. Embora o tamanho do grupo populacional da Primeira Infância seja relativamente estável no Brasil, situando-se na casa dos 18,8 milhões de crianças, segundo a edição 2014 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), as taxas de natalidade por cidade ou região po- dem variar bastante. O empreendedor que deseja criar um negócio de impac- to para a Primeira Infância precisa antes de tudo buscar dados que caracterizem o território, os hábitos e a cul- tura do local em que pretende atuar, além de entender o tamanho e características do público-alvo. Desta forma, poderá garantir que o negócio esteja alinhado às reais necessidades e anseios da população, para que tenha maior sucesso em sua empreitada. As oportunidades para negócios de impacto para a Primei- ra Infância mantêm relação com os campos em que a ca- rência de produtos e serviços é maior para essa faixa etária. Isso nos leva de novo aos desafios que se colocam para gestantes, famílias e crianças de zero a seis anos, especial- mente quando falamos da população de baixa renda. As possibilidades apresentadas a seguir partem deste racio- cínio e foram relacionadas apenas a título de exemplo, para servir como fonte de inspiração e mobilizar o que há de me- Oportunidades para negócios de impacto para a Primeira Infância
  • 53. 53 lhor em você. Conforme as características de cada localidade, certamente algumas delas têm mais potencial de mercado e escala do que outras. Nossa aposta é que você, com tudo o que leu e aprendeu até aqui, esteja com o tino mais apurado para identificar as soluções de negócios mais interessantes para investir: aquelas que atendam necessidades reais, apre- sentem custo acessível e qualidade honesta e que gerem impacto social. Pré-natal, parto e nascimento § Oferta de exames e acompanhamento pré-natal para a população de baixa renda. § Clínicas obstétricas que ofereçam atendimento de quali- dade e com baixo custo. § Maternidades que atendam a convênios de baixo custo. § Formação em humanização do parto e nascimento para pais e profissionais de maternidades. § Serviços de doula, profissional que dá suporte físico e emocional às mulheres antes, durante e depois do parto. § Enxovais de qualidade e baixo custo para mães (pijamas, calcinhas pós-parto, sutiãs de amamentação, roupas que facilitem o aleitamento materno, bombas para tirar leite) e para bebês (macacões de uso prático e seguro para to- das as estações, lençóis vapt-vupt para berços, protetores para as laterais do berço, etc.). § Formação e produtos para pais e mães de primeira via- gem (informações sobre gestação, parto, nascimento e cuidados iniciais). § Aconselhamento para mães que acabaram de ter bebê (apoio psicológico, rotina do bebê, cuidados com o corpo). § Aplicativos com orientações e dicas sobre a rotina do bebê. § Móveis de bom custo-benefício para a Primeira Infância – berços, cômodas, poltronas de amamentação, estantes baixas, mesinhas e cadeirinhas, etc.
  • 54. 54 Nutrição § Serviços domiciliares ou ferramentas de apoio à amamen- tação e à transição para a alimentação complementar. § Aplicativos, jogos ou ferramentas sobre alimentação saudá- vel de gestantes, lactantes e crianças, conforme a faixa etária. § Ferramenta que promova o entendimento da importância da nutrição nos primeiros mil dias de vida e com orienta- ções sobre nutrição na Primeira Infância. § Aplicativos e ferramentas de avaliação da qualidade e orien- tações da alimentação das crianças em creches e escolas. § Formações ou ferramentas que auxiliem a reeducação ali- mentar de crianças. § Produção e/ou distribuição de alimentos orgânicos para creches e pré-escolas. § Clínicas focadas em nutrição infantil, que aliem atendi- mento de qualidade e baixo custo. Parentalidade § Serviços e materiais de orientação para pais, abordando aspectos referentes ao cuidado, construção de vínculos e desenvolvimento na Primeira Infância. § Serviços de apoio para pais, como aconselhamento/men- toria e cursos sobre parentalidade. § Soluções de apoio para pais em organizações como cen- tros comunitários, paróquias, clínicas obstétricas e clíni- cas pediátricas. § Formação para cuidadores de bebês e crianças. § Formação em desenvolvimento infantil para profissionais da assistência social e de entidades do Sistema de Garan- tia de Direitos da Criança e do Adolescente (Conselhos de Direitos, Poder Judiciário, abrigos, hospitais, escolas, etc.). Oportunidades para negócios de impacto para a Primeira Infância