Promessas e problemas da pesquisa digital para crianças e jovens
1. Ana Lúcia Terra
anaterra@eseig.ipp.pt
Escola Superior de Estudos Industriais e de Gestão
Instituto Politécnico do Porto
CETAC.MEDIA
Promessas e problemas da pesquisa
digital para crianças e jovens: a
avaliação e a seleção da informação
I Seminário da Rede das Bibliotecas de Santo Tirso
28 de abril de 2016
Biblioteca Municipal de Santo Tirso
2. Sumário
Ana Lúcia Terra
1. O impacto do contexto digital no comportamento
informacional de crianças e jovens
2. O cérebro do malabarista
3. A cultura da pesquisa da Google
4. A literacia da informação: um ciclo contínuo
3. 1. O impacto do contexto digital no comportamento
informacional de crianças e jovens
Ana Lúcia Terra
Estudo do estudo da OCLC de 2006:
- 89% dos alunos começam uma pesquisa de
informação num motor de busca // 2% usam a página
web da biblioteca;
- 93% está muito satisfeito com as suas competências
para utilizar os motores de busca;
- os motores de busca correspondem adequadamente
ao estilo de vida dos jovens (acesso permanente e sem
barreira física);
- os jovens fazem um uso menor das bibliotecas e leem
menos e de forma diferente;
- os jovens associam as bibliotecas aos livros, apesar do
investimento significativo em tecnologias.
4. Ana Lúcia Terra
Estudo CIBER 2008
- os jovens, sobretudo os rapazes, apenas passam os olhos
pelas páginas da Internet e clicam instintivamente nos
hiperlinks em de vez fazerem uma leitura sequencial;
- navegação muito rápida entre páginas, o que não permite
a leitura e assimilação dos conteúdos, nem a sua avaliação;
- regista-se um uso muito diminuto das opções de pesquisa
avançada – os jovens assumem que o motor de busca
“compreende” as suas perguntas;
- os jovens baseiam a sua análise de pertinência da
informação na presença ou ausência de palavras
correspondendo exatamente à sua pesquisa – perda de
muitos documentos relevantes;
- a procura da informação termina com a localização e
impressão (ou copy/paste) dos conteúdos relevantes,
dando-se pouca atenção à análise dos dados recolhidos.
5. Ana Lúcia Terra
Nas pesquisas de informação os jovens procuram a “resposta”
e não um livro ou um formato.
Valorização da gratificação instantânea dada pelo click //
pouca capacidade de persistência.
A primeira fonte onde procuram informação é a Internet e,
em especial, no motor de busca Google – “Google
generation”. As gerações anteriores privilegiam(vam) os
livros e as bibliotecas.
O seu conhecimento da Internet, enquanto rede de recursos
de informação, é muito limitado. O seu mapa mental da
Internet é muito básico e, por isso, recorrem quase em
exclusivo aos motores de busca.
6. Ana Lúcia Terra
O nível de literacia da informação dos jovens não melhorou com o acesso
facilitado às tecnologias – o seu aparente domínio das tecnologias dissimula
problemas.
Os jovens não sabem identificar as suas necessidades de informação o que
dificulta a formulação e aplicação de estratégias de informação adequadas.
Convém destacar dois conceitos operatórios essenciais:
Inclusão digital
corresponde às competências
adquiridas no processo de
aprendizagem básica de
informática, utilização de
computadores e navegação na
Internet
Literacia da Informação
competências para avaliar, selecionar
e usar criticamente a informação
produzida/obtida através do
computador ou da internet ou de
qualquer outro meio
Fratura de acesso
Acesso tecnológico que se
refere à disponibilidade física
do equipamento apropriado
(incluindo computadores e
software adequado a uma
determinada atividade)
Fratura de uso
Acesso social que remete para o know
how, para um mix de conhecimentos
profissionais e de competências técnicas
no uso das tecnologias de maneira a
promover as práticas profissionais e a vida
social
7. 2. O cérebro do malabarista
Ana Lúcia Terra
A Internet está a moldar a mente humana.
“Quando estamos online, entramos num ambiente que
promove a leitura negligente, o pensamento apressado
e distraído e a aprendizagem superficial. É possível
pensar profundamente enquanto navegamos na
internet, tal como é possível pensar superficialmente
enquanto lemos um livro, mas esse não é o modo de
pensar que a tecnologia encoraja e recompensa” (p.
146)
Experiência multissensorial (visão, audição e tacto).
Estímulos sensoriais e cognitivos repetitivos, intensivos, interactivos e
aditivos.
Sistema de entrega de respostas e recompensas a alta velocidade.
Quando estamos online, geralmente, estamos alheados do que acontece
à nossa volta = a internet agarra a nossa atenção para depois a dispersar
(distração irreflexiva).
8. Ana Lúcia Terra
Num ambiente infopoluído, as ações negligentes são mais
frequentes verificam-se com:
- Não leitura de informações e instruções
- Leituras limitadas
- Rejeição do esforço e ausência de metodologia
O documento é ignorado
O documento é plagiado
O documento não pertinente é utilizado
O documento é mal compreendido ou interpretado
O documento é incompreensível
O documento é inacessível
Neste contexto, importa promover uma ECONOMIA DA ATENÇÃO Capacidade de se concentrar durante
um período tempo suficientemente longo para compreender e aprender.
Atenção profunda (skholé)
Estilo cognitivo que se caracteriza pela concentração sobre um só objeto durante um período longo, pela
capacidade de ignorar os estímulos exteriores e pela resistência para alcançar objetivos a longo prazo.
Hiperatenção (hipoatenção)
É uma forma de zapping permanente, a mudança súbita e frequente de objetivo e de tarefa, preferência
por fluxos múltiplos de informação, necessidade de um nível elevado de estímulo e fraca tolerância ao
aborrecimento.
9. Ana Lúcia Terra
3. A cultura da pesquisa da Google
O objectivo da Google é criar o “motor de busca perfeito”
Compreende o que queremos
dizer e dá-nos os resultados que
desejamos
Tornou-se uma
passagem obrigatória
na pesquisa de
informação mas é
quase invisível
A pesquisa de informação não é vista como um problema e isso é o
PROBLEMA.
elevada auto-confiança que os indivíduos, em especial os jovens,
têm relativamente às suas competências de pesquisa de
informação.
quanto melhor funcionar uma infraestrutura de informação
menos visível ela se torna.
10. Ana Lúcia Terra
O Google representa a porta de entrada num ambiente hipermediatizado
onde a pesquisa de informação para qualquer atividade da vida quotidiana se
tornou omnipresente.
Confiar nos critérios de relevância definidos pela Google é fazer “outsourcing” da
avaliação critica da informação.
Mas os motores de pesquisa não são apenas ferramentas para encontrar informação, são
também tecnologias que estabelecem significados.
O google está a condicionar/orientar a
construção do conhecimento pessoal e
da sociedade. As tecnologias tal como os
indivíduos são atores que
colaboram na produção de
conhecimento (Latour,
2005)
Importa dar aos indivíduos
competências/poder para construírem
o seu conhecimento
11. 4. A literacia da informação: um ciclo contínuo
Ana Lúcia Terra
LITERACIA DA
INFORMAÇÃO
Reconhecer
(necessidades)
Encontrar
Avaliar
Gerir
Combinar
Usar
Australian and New Zealand information literacy
framework. 2nd ed. (2004)
12. Fontes de Informação
Ana Lúcia Terra
BUNDY, Alan; ed. – Australian and New Zealand information literacy framework: principles,
standards and practice. Adelaide: Australian and New Zealand Institute for Information
Literacy, 2004.
CARR, Nicholas – Os superficiais: o que a internet está a fazer aos nossos cérebros. Lisboa:
Gradiva, 2012.
FURTADO, José Afonso – Uma cultura da informação para o universo digital. Lisboa:
Fundação Manuel Francisco dos Santos, 2012.
HILLIS, Ken; PETIT, Michael; JARRET, Kylie – Google and the culture of search. New York:
Routledge, 2013.
LE DEUFF, Olivier – La formation aux cultures numériques. Une nouvelle pédagogie pour une
culture de l'information à l'heure du numérique. Limoges: FYP EÉditions, 2011.
OCLC - College students' perceptions of the libraries and information resources: a report to
the OCLC membership. Dublin, OH: OCLC, 2006.
ROWLANDS, Ian [et al.] - "The google generation: the information behaviour of the research
of the future”. Aslib proceedings: new information perspectives. ISSN 0001-253X. Vol. 60, n.º
4 (2008), p. 290-310.
13. Obrigada pela atenção!
Ana Lúcia Terra
anaterra@eseig.ipp.pt
Escola Superior de Estudos Industriais e de Gestão
Instituto Politécnico do Porto
CETAC.MEDIA (UP)