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SETEMBRO DE 2009 | JORNAL DO SINTUPERJ 1
A nossa luta
pelo reajuste
salarial
continua
Pré-Vestibular
do Sintuperj
completa
11 anos
Conheça um
pouco mais
sobre Dom
Helder Câmara
33 44 88
Hupe:
59 anos
de história
e resistência
66
Participação dos trabalhadores foi
decisiva para a vitória no Consun
Por unanimidade, conselheiros votaram a favor da retomada
da isonomia salarial histórica. Confira na página 5
Fotos:NikoJr.
Jornal do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais - RJ
Ano IV - Nº 27 - setembro de 2009
JORNAL DO SINTUPERJ | SETEMBRO DE 20092
EXPEDIENTE: JORNAL DO SINTUPERJ
Rua São Francisco Xavier, 524 - sala 1020 D - Maracanã - Rio de Janeiro/RJ
CEP: 20.550-013 - Tel: (21) 2587-7126 / 2234-0945
Internet: www.sintuperj.org.br / sintuperj@sintuperj.org.br / imprensa@sintuperj.org.br
Coordenação de Comunicação Sindical: Rosalina Barros e Denize Santa Rita
Conselho Editorial: Alberto Dias Mendes, Denize Santa Rita,
Fátima Diniz, Jorge Luís Mattos de Lemos (Gaúcho), José Arnaldo Gama da Silva,
Rosalina Barros, Sandro Hilário e Tania Niskier
Jornalista: Silvana Sá (MTE 30.039/RJ)
Estagiários: Filipe Cabral, Jessica Santos e Tatiana Lima
Programação Visual: Daniel Costa
Tiragem: 4.000 exemplares - Fechamento: 16/09/2009
Nossa Opinião
A descoberta de Cabral
Retratos da Vida
Há diversas formas de reconhecer
um governo. Uma delas é fazendo uma
manifestação em defesa de algo que seja
justo e correto. A reação das autoridades
às reivindicações é a maior demonstração
de sua personalidade: democrática ou
autoritária.
No caso do que ocorreu com os
professores da rede pública do Estado do
Rio de Janeiro, a revelação é assustadora
e requer um posicionamento de todos os
setores da sociedade comprometidos com
a defesa da cidadania e dos direitos hu-
manos. O tratamento dado aos educadores
de nossos filhos em frente à Assembleia
Legislativa foi revoltante. As escadarias da
Alerj – casa que deveria ser considerada
do povo – viraram praça de guerra entre
policiais e trabalhadores da educação.
Avançaram todos os limites da
sanidade e chegaram a apontar uma pis-
tola na direção daqueles que constroem
o Estado, dos que atendem à população
e são os verdadeiros responsáveis pelo
atendimento digno que a sociedade mere-
ce. É lamentável ver um servidor policial
sacar sua arma para ameaçar um colega
de trabalho, que é o professor.
Por trás das mãos do policial estão
as ordens de um governo autoritário e
desumano. Assim, reconhece-se o verda-
deiro perfil de Cabral e seus seguidores.
De voz com tom suave e desenvoltura
digna de uma pessoa estadista, a ordem
de reprimir trabalhadores faz Sérgio Ca-
bral deixar descoberta sua face perversa
e autoritária.
Não basta a violência que tomou
conta de nosso estado, o governo pro-
move sua violência institucionalizada
e trata trabalhador como criminoso.
Aliás, a criminalização dos movimentos
sociais é uma prática dos governos im-
populares, herdeiros das piores ações da
ditadura. E isto acontece logo após as
“comemorações” dos 30 anos de anistia.
O que também impressiona, é o cinismo
de alguns governantes como Cabral que
outrora estiveram ao lado dos “subversi-
vos”, hoje não se envergonham em estar
do lado dos torturadores e agirem como
verdadeiros tiranos.
O Estado, em tese, é aquele que
defende a população e deve evitar os
conflitos ou, no mínimo, solucioná-los,
nunca incentivá-los, nem promovê-los. O
descaramento maior vem em seguida, ao
tentar inverter a lógica para convencer a
opinião pública de que os manifestantes
lançaram a primeira pedra. Esta pedra já
foi lançada há muito tempo, com a falta
de compromisso e vergonha na cara do
governo Cabral que massacra nosso povo
e ataca despudoradamente os servidores
públicos. A pedra das fundações, do arro-
cho salarial, dos hospitais sucateados, da
falta de saneamento básico, da violência
urbana e da repressão política.
Enquanto isso, o governador fica a
procura de holofotes na mídia, a fim de
manter-se lembrado para uma possível
reeleição. Infelizmente, não se dá ênfase
às vaias que tem recebido sucessivamente
nos lugares por onde passa.
A sociedade não pode perder a co-
ragem nem parar de se indignar contra
tais situações. Como disse o cantor e
compositor da música brasileira, Gabriel
Pensador:
Até quando você vai levando?
(Porrada! Porrada!)
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai levando?
(Porrada! Porrada!)
Até quando vai ser saco de pancada?
O Sintuperj se solidariza com os
trabalhadores da Educação e repudia,
veementemente, a atitude do governo
estadual para com esses servidores que
doam suas vidas em prol de um serviço
público de qualidade. É vergonhoso ver
trabalhadores sendo ameaçados com armas
e cassetetes neste que, ao menos na teo-
ria, é um Estado democrático de direito.
Adicional noturno
O Sintuperj começou um trabalho de agendamento dos servidores sindicalizados
lotados no campus Maracanã da Uerj e que cumprem jornada noturna (das 23h às
5h), visando reivindicar o adicional noturno na justiça. Assim que o trabalho esti-
ver finalizado neste campus, convocaremos os trabalhadores do Hupe e do Centro
Biomédico. Antes de procurar o Departamento Jurídico, o sindicalizado deve fazer o
agendamento prévio na secretaria do Sintuperj. Somente poderão entrar com ação
os servidores que em algum momento já receberam o adicional noturno pela Uerj.
Os documentos necessários para ajuizar ação são:
cópia da identidade e do CPF;
cópia do comprovante de residência atualizado;
declaração original assinada pela chefia imediata em
papel timbrado da Uerj, confirmando horário noturno;
cópia dos contracheques dos anos de 1997, 1998,
1999 que indiquem o recebimento do adicional noturno;
cópia dos contracheques atuais;
cópia da folha de ponto atual assinada pela chefia imediata;
cópia da escala desde a época que começou o trabalho noturno (facultativo).
Recadastramento de aposentados
Todo o servidor aposentado que ainda não fez o seu recadastramento junto ao Rio
Previdência deve fazê-lo o mais breve possível no Centro de Treinamento da Uerj. O
agendamento deve ser realizado através do site www.idfuncional.rj.gov.br. O servidor
aposentado deve informar seu nome completo, matrícula e órgão de origem onde era
lotado. Para o recadastramento é necessário apresentar os originais dos seguintes
documentos: identidade, CPF e comprovante de conta bancária.
Aposentadorias
Alertamos a todos os servidores da Uerj que tiverem quaisquer questionamentos nos
seus processos de aposentadoria que procurem orientação jurídica dos advogados do
Sintuperj, caso sejam chamados para dar ciência. Veja os horários dos plantões (área
trabalhista) e faça seu agendamento na secretaria do Sindicato:
Terça-feira: das 14h às 18h
Sexta-feira: das 10h às 13h30min
Seus Direitos
Nesses 30 anos de anistia, não podemos deixar de homenagear
aqueles que tiveram suas vidas ceifadas pela repressão. Um deles foi o
estudante Luiz Paulo da Cruz Nunes, assassinado em 22 de outubro de
1968, durante protesto dos estudantes de medicina no Hupe
Arquivo Asduerj
SETEMBRO DE 2009 | JORNAL DO SINTUPERJ 3
Já chegamos em meados de setem-
bro e a pergunta continua na boca da
categoria: governador, cadê o reajuste
salarial prometido aos servidores da Uerj?
A defasagem, acumulada em 8 anos sem
reajuste, é de 78,71%. O Sintuperj chega
a este percentual a partir da média tirada
entre três índices que medem as perdas
salariais de nossa categoria: o ICV, do
DIEESE; o IPC, da FIPE; e o IGP-DI, da
Fundação Getúlio Vargas.
Sérgio Cabral prometeu, também,
para todo o funcionalismo público es-
tadual, que as áreas de saúde, educação
e segurança seriam prioritárias em seu
governo. Até agora o que os servidores
ouviram foram promessas vãs.
Para defender o serviço público de
qualidade, os servidores se uniram no
Muspe – Movimento Unificado dos Ser-
vidores Públicos Estaduais. O Sintuperj
Reajuste e concurso público sob regime estatutário
são as principais reivindicações dos trabalhadores
Campanha salarial
A luta nossa de cada dia
está engajado neste movimento.
Negociar com o governo
Nesta luta, o coletivo de servidores
tenta abrir um canal de negociação com
o governo pedindo, entre outras coisas,
reajuste linear de 70%. Como porta-voz
do governo estadual, temos o secretário
de Planejamento e Gestão Sérgio Ruy. De
acordo com ele, não há previsão de reajuste
para os trabalhadores e coloca a desculpa
na crise internacional.
Sabemos bem que a crise não está as-
sociada ao “não” que o governador nos dá.
Não somos bobos! Está clara a política neo-
liberal deste governo, que visa a desmontar
o serviço público, privatizar os serviços e
calar o movimento sindical e social. Diante
deste quadro, o que precisamos, mais que
nunca, é lutar! Só a mobilização abrirá, de
fato, as negociações com o governo.
Outra questão que sufoca os órgãos
públicos e os trabalhadores é a não aber-
tura de concursos públicos. Os setores de
saúde e educação, hoje, são os mais pre-
judicados. Para não fecharem as portas,
as instituições, de modo geral, contra-
tam trabalhadores temporários sob um
regime absolutamente precário.
O que mais nos impressiona é a hi-
pocrisia das autoridades em momentos nos
quais deflagra-se uma greve por melhores
condições de trabalho. Alguns chegam a
afirmar que “a população é a maior preju-
dicada”. No entanto, o povo já está sendo
prejudicado com as medidas do governo
Cabral.Aocontinuaresseprocessoimpopular,
o cenário mais provável é o da privatização
dosserviçospúblicosemaiorarrochosalarial.
Na Uerj não é diferente
A cada dia, a necessidade de con-
cursos para técnico-administrativos e
docentes salta aos olhos. Esse ano, com
muita luta e mobilização dos servidores
técnico-administrativos, o Consun aprovou
previsão orçamentária para 2010, para
concursos, maior que a deste ano. Tal po-
sicionamento do Consun sinaliza a urgência
da abertura de concurso público sob regime
estatutário para as diversas áreas da Uerj.
Na última sessão do Conselho Univer-
sitário, o reitor declarou que abrirá concurso
público para provimento de 136 vagas para
docentes, o que representa um aumento
de 7% do corpo docente. O Sintuperj re-
conhece a importância desta ação, mas
sinaliza de que isto não basta! Até agora
não ouvimos qualquer informação sobre
abertura de concurso público sob regime
estatutário para técnico-administrativos.
A Uerj é formada por estudantes,
professores e técnico-administrativos.
Seu bom funcionamento se dá a partir do
respeito a esses segmentos. E este respeito
deve ser expresso por meio da valorização,
da realização de concursos públicos, rea-
juste, fatores que ajudam na manutenção
de um serviço público de qualidade.
O mês de agosto, na Uerj, foi marcado,
dentre outras coisas, pela comemoração do
aniversário de 30 anos da Lei de Anistia.
A universidade, orgulhosamente, sediou
o simpósio “Apesar de você – 30 anos da
Anistia Política no Brasil” e abriu as portas
para discutir a importância da data histórica
junto com a comunidade universitária e a
sociedade, de modo geral. Porém, eventos es-
porádicos como este não são suficientes para
provar que a Uerj é, de fato, um espaço demo-
crático e de apoio à liberdade de expressão.
Enquanto no Auditório 13 do campus
Maracanã todos os interessados tinham livre
acesso para debater a importância da anistia e
o resgate dos direitos humanos, logo no andar
abaixo uma porta blindada impedia o acesso
da comunidade universitária a algumas salas
da reitoria. De acordo com informações reti-
radas da página eletrônica do Departamento
de Manutenção, Obras e Projetos (Demop) da
Uerj, a porta foi instalada logo no primeiro
mês de 2009. Inclusive, as fotos da “obra”
estão disponíveis na Internet.
Símbolos e significados
Se a Lei da Anistia traz consigo a men-
sagem de exercício da liberdade, respeito aos
direitos humanos e da garantia do espaço
democrático, a ideia da porta blindada corre
no sentido oposto. “A anistia representou a
vitória da liberdade de expressão e pensa-
mento. Representou a abertura das portas
para os exilados e presos políticos. De um
lado temos o ´abrir de portas`, do outro, o
´fechar portas`”, comenta o coordenador
de Formação do Sintuperj, Alberto Mendes,
comparando as duas situações.
Embora o reitor ainda não tenha jus-
tificado formalmente a necessidade de uma
porta blindada no corredor que dá acesso às
instalações da reitoria, é de se estranhar o
Luta também é por concurso
fato de que a passagem foi impedida poucos
meses depois que estudantes ocuparam o
local durante vinte dias para reivindicar
seus direitos. Inclusive, neste mês se com-
pleta um ano desde a ocupação da reitoria
pelos alunos.
Estudante do curso de Letras e co-
ordenadora geral do Diretório Central dos
Estudantes (DCE) da Uerj, Fabiane Simão
participou da ocupação, em setembro de
2008, e considera que a instalação da porta
blindada no corredor gera a criação de “dois
Apesar do discurso pela democracia, reitor mantém porta blindada no corredor da reitoria
Acontece na Uerj
Liberdade, Liberdade, abra as asas sobre nós
espaços” dentro da universidade. Como se
a Uerj fosse quase pública, com um recinto
reservado para a reitoria e seus convidados.
“Colocar uma porta como essa em um espaço
público como a universidade é o mesmo que
se apropriar deste espaço. Um lugar que de-
veria ser de livre acesso a todos de repente
se torna restrito” analisou Fabiane.
“Amanhã há de ser outro dia”
Na abertura do simpósio, após a
execução emocionada do hino nacional, o
reitor Ricardo Vieiralves, fora de seu quartel
general, fez um discurso no qual relembrou
os tempos passados de militância política.
Desacreditado por quem deveria representar
e perdido nas contradições entre seus atos
e palavras, ressaltou também a importância
daqueles que lutaram pela anistia e pela
liberdade de pensamento.
A música tema do simpósio (Apesar
de você) deu o tom do evento. Há 30 anos,
Chico Buarque indagava aos repressores
“onde vai se esconder da enorme euforia?”.
Hoje, a comunidade da Uerj continua com
muita euforia. Resta saber se o reitor, após
relembrar os anos de chumbo, decidirá pela
manutenção de uma porta blindada, que faz
lembrar a ditadura militar, ou contribuirá
para o aprofundamento da democracia.
Há 30 anos, a população clamava por democracia. Hoje, quem pede democracia é a comunidade da Uerj
RicardoMalta/ANImagens
JORNAL DO SINTUPERJ | SETEMBRO DE 20094
Há onze anos, nasceu um projeto pio-
neiro dentro da Uerj: o Pré-Vestibular Comu-
nitário do Sintuperj, fruto da determinação
política de um grupo de sindicalistas da anti-
ga Associação dos Servidores da Uerj (Asuerj),
hoje Sintuperj. Em 2008, o curso atingiu uma
meta surpreendente: foi responsável pela
aprovação de 52 estudantes em universidades
públicas. São trabalhadores, donas de casa,
servidores técnico-administrativos, mães,
pais e filhos que alcançaram o sonho de in-
gressar na faculdade através do projeto.
O objetivo principal do Pré-Vestibular
do Sintuperj é democratizar o acesso à edu-
cação de nível superior, além da construção
da consciência política dos estudantes. “O
projetodáaosalunosinstrumentosnecessários
para enfrentar os desafios sociais e mostra a
importância deles estabelecerem um compro-
misso com a transformação da realidade em
que vivemos”, explica Alberto Mendes, coor-
denador de Formação Sindical do Sintuperj.
Fazendo a diferença
“Estou no Rio há cerca de três anos e
me sustento como empregada doméstica. Só
tive condições de me preparar para as pro-
vas dos vestibulares porque existe o curso.
O Pré-Vestibular foi e é o responsável pela
minha vitória e por esta nova fase de vida
que vou iniciar agora em setembro”, conta
a ex-aluna Deise Pimenta, que foi aprovada
para o curso de Serviço Social na Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Os pré-vestibulares comunitários são
uma opção para estudantes de baixa renda
que querem cursar uma faculdade pública,
mas têm dificuldades de acesso à educação ou
problemasparaarcarcomasaltasmensalidades
de um pré-vestibular “tradicional”. Em todo o
estado do Rio de Janeiro existem dezenas de
pré-vestibulares comunitários, a maioria com
ofertasdevagasdebaixocustoouatégratuitas.
Sintuperj comemora neste mês o 11º aniversário do projeto
Notícias do Sintuperj
Um pré-vestibular cidadão
Construção coletiva
Outra característica do projeto é o
incentivo à cidadania. Em geral, as decisões
eram feitas com a participação dos alunos,
professores e a direção do Sindicato. Em cada
ano, a última reunião é um seminário de ava-
liação e de planejamento para o ano seguinte.
“O projeto sempre teve uma cara democrática.
A participação dos alunos é uma aula prática
de cidadania e ajuda na formação política
deles para enfrentar o mundo, a vida”, avalia
o coordenador Alberto Mendes.
Segundo Alberto, houve momentos em
que as reuniões se transformavam em plená-
rias. “Todos os estudantes queriam falar e os
professores os motivavam para interferirem
em sua realidade”, exemplifica. Nesta dinâ-
mica, também são eleitos os representantes
de turma. Uma forma de mostrar a impor-
tância da exposição das ideias dos alunos e
de fazer com que todos coloquem a mão na
massa, aprendendo a discutir e organizar
formas de atuação política.
O resultado prático da cidadania
Uma das ex-alunas do pré-vestibular
é atualmente coordenadora do Sindicato. A
servidora técnico-administrativa Fátima Diniz
trabalhava na Uerj há 10 anos, no setor de
Oftalmologia, no Hupe, quando decidiu fazer
vestibular. Tentou por duas vezes e este ano
passou para o curso de Contabilidade. “Fiz
o antigo segundo grau em 1984. Em 2008,
consegui ser uma das alunas aprovadas para
a Universidade onde trabalho há 12 anos.
Para mim, isso é uma conquista. Mas não é
só minha. Esta é uma realização de todos que
acreditaram que não basta ter um pré-vestibu-
lar e sim ser o pré”, defende a coordenadora.
Envolvida com o projeto desde 2007,
Fátima se tornou representante de turma.
Em setembro de 2008, após as eleições para a
nova diretoria do sindicato, tornou-se coorde-
nadora
do Pré-
vestibular.
Um exemplo
de como a for-
mação cidadã e
seu exercício pode
lapidar trabalha-
dores e estudantes.
“Nossos alunos são de
baixa renda e vêm com muita deficiência,
pois sabemos bem como infelizmente está
a nossa escola pública. Mas mesmo assim a
garra, a determinação e por que não dizer a
vontade de vencer e ser alguém faz com que
eles se dediquem muito mais”, opina.
Histórico
Em 1998, os dirigentes da Asuerj
identificaram que havia um vácuo na Uerj
com relação ao acesso de seus próprios
trabalhadores ao ensino superior. Existia,
na Universidade, um projeto chamado In-
vestuerj, uma espécie de curso supletivo,
de educação básica, voltado exclusivamente
para os servidores técnico-administrativos.
Porém, após concluírem os estudos,
não existiam opções que auxiliassem os
técnico-administrativos a entrarem na
faculdade. Foi a partir desta observação
que a Asuerj decidiu criar um curso de pré-
vestibular para auxiliar os trabalhadores.
A partir do projeto “Universidade
cidadã”, a Federação de Sindicatos de Tra-
balhadores das Universidades Brasileiras (Fa-
subra) forneceu os princípios básicos para a
formulação do curso. Além disso, os dirigentes
procuraram conhecer experiências semelhan-
tes como o pré-vestibular do Sindicato dos
Trabalhadores da UFRJ (Sintufrj) e também
do Sindicato dos Trabalhadores em Teleco-
municações (Sinttel), que possui uma escola
do ensino fundamental ao pré-vestibular.
O sonho se torna realidade
No dia 3 de agosto de 1998 aconteceu
a primeira aula inaugural do projeto. Porém,
a luta para conseguir um espaço físico para
abrigar o curso continuaria por muitos anos.
De dia, o pré-vestibular funcionava em duas
salas cedidas pela Faculdade de Administração
e Finanças (FAF), no oitavo andar do campus
Maracanã. À noite, os alunos tinham que se
deslocar para dois auditórios. Foi somente em
junho de 2007, depois de muita negociação,
queaconquistadeumasalafoipossível,apar-
tir da cessão do setor de Vestibular da Uerj.
No início, os professores trabalhavam
voluntariamente no projeto e as aulas eram
gratuitas. A direção percebeu, porém, que
havia uma grande evasão do curso. Um dos
motivos era o fato de a gratuidade não trazer
um compromisso de permanência. “Após um
período,identificamosqueagratuidadenãoera
benéfica, nem educativa, pois tirava o compro-
misso com o pré. Uma infelicidade do sistema
em que vivemos: o que dói no bolso, atinge
a alma!”, diz o coordenador Alberto Mendes.
Hoje, o Pré-Vestibular conta com uma
equipe de 27 professores, dois coordena-
dores, um funcionário específico e vários
monitores. Ao todo, são 140 estudantes
divididos em dois turnos: tarde e noite.
Todos os professores ganham uma ajuda de
custo. Os estudantes da comunidade externa
contribuem com 10% do salário mínimo e os
filiados e dependentes contribuem com 5%.
Aula inaugural do pré-vestibular realizada em fevereiro de 2009
Professora será
homenageada
Para comemorar os onze anos do pré-
vestibular, a direção do Sindicato, alunos e
professores preparam uma grande festa, que
será realizada por meio de atos para marcar
a luta, no dia 24 de setembro. Símbolo da
vitória e das conquistas que marcaram a
história do pré, a sala nº 1021, localizada
no bloco D da Uerj, ganhará nome e so-
brenome: “Cristiane Guerreiro”. Militante
do DCE, aluna da Faculdade de Educação
e professora voluntária do Pré-Vestibular,
Cristiane faleceu em 03/07/2005. No
dia 24, a sala ganhará uma placa com
o nome da homenageada. Também será
oferecido e repartido com toda a comuni-
dade muito sorriso e consciência política.
JéssicaSantos
JORNAL DO SINTUPERJ | SETEMBRO DE 20094
SETEMBRO DE 2009 | JORNAL DO SINTUPERJ 5
Retomada da isonomia salarial é aprovada por unanimidade no Consun
Acontece na Uerj
R t d d i i l i l é d i id d C
Mobilização garante vitória, mas luta continua
Acima: Servidores lotaram a sessão do
Consun – participação foi fundamental.
Ao lado: a conselheira Rosalina
Barros entrega os abaixo-assinados ao
reitor Ricardo Vieiralves enquanto o
conselheiro Jorge “Gaúcho” lê o relato
A sessão do Conselho Universitário
do dia 11 de setembro trazia como pauta a
discussão e votação da proposta de emenda
à Lei de Carreira que pede a retomada da
proporcionalidade de vencimentos entre
técnico-administrativos e docentes. Desde
as 9h, trabalhadores, especialmente do
Hospital Universitário Pedro Ernesto, aguar-
davam o início da sessão. A mobilização dos
servidores mais uma vez foi decisiva para a
aprovação unânime da reivindicação.
O conselheiro Jorge Luís Mattos de
Lemos (Gaúcho) foi o relator da proposta
apresentada pela bancada dos técnico-
administrativos. A vitória foi uma conquista
histórica dos trabalhadores e, sem dúvidas, a
retomada dos parâmetros de justiça nos quais
a Uerj sempre se embasou. Todos os conse-
lheiros presentes, inclusive o próprio reitor,
professor Ricardo Vieiralves, votaram a favor
da proposta de Projeto de Lei. Veja a íntegra
do relato e da proposta na página eletrônica
do Sintuperj: www.sintuperj.org.br .
Entrega dos abaixo-assinados
Antes de iniciar o relato, o conselheiro
Gaúcho comunicou a entrega do abaixo-
assinado que pedia a retomada da isonomia
salarial e da garantia, em lei, do direito a
matrículas de dependentes dos servidores
técnico-administrativos no CAp. Ao todo
foram recolhidas quase 3 mil assinaturas!
Os abaixo-assinados entregues pela bancada
foram iniciativa do Sintuperj, que recolheu
assinaturas em todos os locais de trabalho.
Isonomia: o que isso representa?
Durante anos, a Universidade res-
peitou esta isonomia salarial. Porém, no
ano passado, em meio a uma greve pelo
reajuste, o governo implantou um plano de
carreira para os docentes (PCD) que nada
tinha a ver com o aprovado no Conselho
Universitário. Além do descontentamento
dos próprios docentes, com um plano que
não lhes atendia na essência de suas reivin-
dicações, o PCD quebrou a isonomia salarial
histórica, causando uma distorção de 30%
em média entre as carreiras.
Isonomia significa o realinhamento dos
salários de servidores técnicos e docentes.
Historicamente, os parâmetros salariais foram
os valores do nível superior. Em 1987, por ato
executivo, o reitor Charley Fayal de Lyra havia
corrigido uma distorção criada na época.
Um professor auxiliar e um técnico de
nível superior para ingressarem no cargo
precisam ter diploma de graduação. É a
exigência mínima. Sendo assim, os venci-
mentos devem ser iguais.
Recuperação vai atingir a todos
A readequação dos salários não pode
se dar apenas no nível superior. A tabela
de vencimentos dos servidores técnico-
administrativos obedece a uma lógica
e coerência em termos percentuais. Em
outras palavras, o restabelecimento dos
30%, perdidos com a aprovação do plano
docente, serão estendidos a todos os tra-
balhadores da carreira.
Mobilização deve continuar
O próximo passo, após a aprovação
pelo Consun, é o acompanhamento do
projeto, que será encaminhado pelo reitor
ao Governo do Estado e, em seguida – de
acordo, é claro, com a “boa vontade” do
governador e com a pressão da categoria
–, para a Alerj. “A decisão deste Conselho
foi acertada, retoma o tratamento e igual-
dade que sempre nos movimentou nesta
Universidade. Esperamos que o governo
encaminhe esse projeto à Alerj o mais
rápido possível”, salientou o conselheiro
Alberto Mendes, membro da bancada dos
técnico-administrativos no Consun.
É preciso lembrar que o reitor da Uerj,
ao encaminhar a proposta para o Governo do
Estado, deve apresentar, em anexo, o cálculo
do impacto financeiro da medida. Sem essa
informação o governador ganhará tempo e
terá mais uma desculpa para não aprovar
imediatamente nossa reivindicação.
Somente com luta e muita mobilização,
conforme foi demonstrado até agora, é que
conseguiremos a vitória final. O Sintuperj
convoca todos os servidores da Uerj a per-
manecerem mobilizados. Só a união dos
trabalhadores será capaz de vencer as futuras
batalhas e conquistar a isonomia salarial.
Todos juntos somos fortes! Participe da as-
sembleia no dia 30/9, às 14h, no auditório
31 – Campus Maracanã / Uerj.
Fotos:NikoJr.
JORNAL DO SINTUPERJ | SETEMBRO DE 20096
Inaugurado em 1950, o Hospital Uni-
versitário Pedro Ernesto (Hupe) celebra,
em 2009, seus 59 anos de muito trabalho
e resistência. Considerado um dos maiores
hospitais públicos em funcionamento no
Estado do Rio de Janeiro, o Hupe se destaca
ao longo dos anos pela eficiência e qualidade
no tratamento à população. Contudo, nem
tudo são flores nestes quase sessenta anos
de história. Nos últimos anos, o hospital e,
principalmente, os trabalhadores têm sofrido
com o descaso do governo do Estado.
Sem concursos públicos há mais de
dez anos, alguns setores do Hupe, como a
neurologia e a radiologia, têm que funcio-
nar com grande parte dos trabalhadores
em condições de se aposentar e, o que
é mais grave, sem nenhuma previsão de
substituição. Mesmo assim, com tantas
dificuldades, o Hupe foi selecionado pelo
governo estadual como referência no trata-
mento a pessoas portadoras da gripe suína.
Como já aconteceu, no passado, quando foi
convocado pelo Governo do Estado para
tratar pacientes da dengue.
A H1N1 e o Hupe
Em agosto, o Sintuperj participou
de uma audiência pública na Assembleia
Legislativa para discutir os efeitos do vírus
H1N1 no estado e avaliar a forma como
tem sido aplicado o plano de prevenção da
Secretaria Estadual de Saúde. Diante do
cinismo do governo estadual ao falar que
o plano contra a gripe foi implantado com
sucesso, um dos coordenadores gerais e re-
presentante do sindicato na reunião, Jorge
Augusto, fez questão de esclarecer para
todos o que, de fato, ocorre diariamente
no hospital: “Temos ótimos profissionais no
Hupe, mas, infelizmente, somos obrigados a
trabalhar na velha lógica do ´cobertor cur-
to`. Precisaríamos de uma estrutura própria
para atender os casos da gripe. Como não
Hospital Universitário comemora aniversário lutando contra o descaso do governo
Pedro Ernesto
Hupe: 59 anos de resistência
temos, acabamos deixando outros setores
do hospital desfalcados de leitos, pessoal
e até mesmo material” concluiu.
Contratos Temporários
Assim como outros setores da Uerj,
o Hupe convive diariamente com diver-
sas contradições. Nos últimos anos, para
mostrar que tenta preencher os cargos
vagos pela ausência de concursos pú-
blicos, a reitoria tem admitido centenas
de trabalhadores por meio de contrato
temporário. Se já não bastasse adotar
a política de contratos, como forma de
desmontar o serviço público, a reitoria
sequer se importa em respeitar os salários
de determinadas funções. Trabalhadores
contratados de diversos setores exercem
as mesmas atividades de efetivos, mas
recebem salários menores.
O extremo desrespeito ao trabalha-
dor motivou o Sintuperj a entrar com um
processo no Ministério Público em defesa
do cumprimento da lei nº4.599/05. A
referida lei estabelece que o trabalha-
dor contratado deverá receber o venci-
mento inicial da carreira do servidor,
conforme a lei nº4.796/06, que criou
Banco de Sangue do Hupe precisa de você
O Banco de Sangue Herbert de Souza, do Hospital Universitário Pedro Ernesto
(Hupe), está em campanha para captar doadores. A pandemia do vírus H1N1, a am-
pliação das férias escolares e a queda natural de doadores neste período, por conta
da gripe ou o a indefinição de diagnóstico, deixou os estoques do banco abaixo do
necessário. O hospital solicita que quem estiver apto faça a doação. Para isso, é
necessário ter entre 18 e 65 anos, ter boa saúde e pesar mais de 50 Kg. Não precisa
estar em jejum, mas devem ser evitados alimentos gordurosos. É preciso, também,
levar documento de identidade com foto. Os interessados podem comparecer, de 8h
as 12h30m, de segunda a sexta-feira, no Banco de Sangue Herbert de Souza, que
fica na Avenida 28 de Setembro, 104, em Vila Isabel. Para mais informações, entre
em contato pelo telefone 2587-6234.
o Plano de Cargos e Carreiras dos servi-
dores técnico-administrativos da Uerj.
A dura realidade
Mesmo após 59 anos de existência,
para quem atua diariamente no hospital, a
realidade do Hupe não é a mesma divulgada
em prêmios e comemorações. De acordo
com a página do hospital na Internet, a
missão da unidade é “prestar assistência
integrada, humanizada e de excelência
à saúde, sendo agente transformador da
sociedade através do ensino, pesquisa e
extensão”. Todavia, executar tal missão
com o déficit de mão-de-obra e condições
precárias de trabalho existentes, hoje, no
Hupe é um grande desafio.
“Segundo os próprios profissionais,
um hospital do porte do Pedro Ernesto
deveria contar com, no mínimo, 110 anes-
tesistas. Hoje, contamos com apenas 28. É
um absurdo”, ponderou Jorge Luís, auxiliar
de enfermagem e também coordenador
geral do Sintuperj.
Provisório X Permanente
Além do número reduzido de servido-
res e, consequentemente, a exploração de
seus serviços, o hospital sofre com a falta
de mínimas condições estruturais. Em no-
vembro de 2008, o prédio onde funcionava
o setor de manutenção foi posto abaixo e os
trabalhadores foram sujeitos a exercer suas
funções dentro de containeres, conforme já
foi denunciado pelo Sintuperj. Na época, a
direção do Departamento de Infra-estrutura
e Hotelaria Hospitalar (DIHH), garantiu
que um novo prédio seria erguido assim
que chegasse uma verba prometida pelo
Ministério da Saúde.
Porém, a situação que deveria ser
temporária se estabeleceu e tornou-se
permanente. Até hoje os quase cem tra-
balhadores da manutenção tem que se
adaptar ao pequeno espaço que lhes cabe
neste “latifúndio” da Uerj, que apesar de
ser um espaço público, parece ser usado
apenas em favor de muito poucos.
Quem merece os parabéns
Em junho do mesmo ano, o governa-
dor Sérgio Cabral realizou duas solenida-
des, uma no Palácio Guanabara e outra no
anfiteatro Ney Palmeiro, no próprio Hupe,
para comemorar os mil transplantes renais
realizados no hospital. No Palácio Guana-
bara, Sérgio Cabral mais uma vez deixou
clara sua visão em relação ao hospital. Os
diretores do Sintuperj que compareceram
ao evento, apesar de convidados oficial-
mente pelo Governo, foram impedidos de
participar da cerimônia onde o governador,
como de costume, celebrava a “conquista”
ao lado do reitor Ricardo Vieiralves.
A resistência a ataques como estes
ressalta o valor dos 59 anos do Hupe
como espaço de luta e muita garra dos
trabalhadores, que apesar das péssimas
condições, realizam um trabalho de
excelência. Depois de assopradas as
velas, só quem luta diariamente sabe
quem realmente merece os parabéns.
ArquivoSintuperj
SilvanaSá
SETEMBRO DE 2009 | JORNAL DO SINTUPERJ 7
Centenas de pessoas foram às ruas do
Rio de Janeiro e milhares se somaram em todo
o Brasil nesta que foi a 15ª edição do Grito
dos Excluídos. O tema deste ano: “Vida em
primeiro lugar – a força da transformação está
na organização popular”, demonstra, com
clareza, o objetivo dos movimentos sociais
e de esquerda de nosso país. Movimentos
sociais, culturais, partidos políticos e cen-
trais sindicais marcaram presença no ato.
Há 15 anos o Grito dos Excluídos acontece
como uma tentativa de fazer ouvir aqueles
que não têm voz nem vez no nosso país.
A concentração começou quando
ainda desfilavam as forças armadas na Av.
Presidente Vargas, Centro da cidade do Rio
de Janeiro. A Polícia Militar e o Batalhão
de Operações Especiais da PM (Bope) foram
vaiados: “Assassinos! Abaixo caveirão!”
foram alguns dos gritos dos participantes
do Grito dos Excluídos durante a apresen-
tação dessas forças do Estado. Um grupo
de skinheads (jovens afeitos à violência,
à intolerância e simpáticos a práticas na-
zistas) aplaudiu os soldados da chamada
“tropa de elite” e insultou os manifestantes
Anunciada pelo governo federal há
pouco mais de duas semanas, a proposta
de atualização dos índices de produtivi-
dade rural tem gerado calorosos embates
em Brasília. No entanto, o debate sobre
esta simples lei não se encerra na capital
do país, mas afeta diretamente milhares
de famílias em todo o Brasil.
Para que serve este índice?
Conforme a constituição brasileira,
Trabalhadores na rua fazem a verdadeira marcha cívica
Movimentos Sociais
Irreverência e crítica marcaram o Grito dos Excluídos
com palavrões e gestos obscenos.
Manifestantes tomaram as ruas
Com o fim do desfile cívico, a mul-
tidão tomou a Av. Presidente Vargas para
denunciar à população a constante crimi-
nalização a qual os movimentos sociais
estão sendo submetidos. Os trabalhadores
também pediam emprego, salário e moradia
dignos, terra, saúde e educação pública
de qualidade, entre outras reivindicações
tradicionais da esquerda brasileira.
Mardônio Barros, uma das lideranças
do MST que estava presente no ato avaliou
o momento: “O ponto alto é colocar em evi-
dência esse contraponto entre o culto bélico
na parada militar, que não contempla a nos-
sa luta, e denunciar a situação de miséria na
qual ainda vivemos. Esse é um dia de luta e
não de culto ao militarismo”, disse.
Esquerda precisa falar da vida
Sem dúvidas, o ponto comum que
uniu todas as pessoas que participaram
do ato foi a busca pela dignidade humana.
“Temos que ser mensageiros da esperança
nesse mundo desencantado. Não dá para
separar vida e militância, isso é papel do
capital. Temos que discutir a humanidade,
a subjetividade. Essa é a nossa tarefa nesse
mundo. O capital nos isola, nos aprisiona.
Não podemos abrir mão do encontro, do
olhar, da confiança. Isso é potência humana
transformadora”, avaliou Mardônio.
O Sintuperj entende o 7 de Setembro
como um momento de reflexão: inde-
pendência significa libertação. Enquano
houver ricos e pobres, ainda haverá apri-
sionamento humano. Portanto, a verda-
deira independência ainda está por vir.
toda propriedade deve cumprir com sua
função social. Caso contrário, o Governo
tem o direito de desapropriá-la através do
pagamento de uma indenização. O índice de
produtividade, portanto, é o que define se
uma determinada propriedade rural atende,
ou não, o interesse social. Acontece que,
atualmente, mesmo com todas as inova-
ções tecnológicas das últimas décadas, os
indicadores em vigor ainda são os definidos
em 1975. Ou seja, o cálculo da produção é
baseado em uma estrutura ultrapassada há
mais de 30 anos.
É importante frisar que a Lei Agrária
8.629/1993 já determinava que “os parâme-
tros, índices e indicadores que informam o
conceito de produtividade serão ajustados
periodicamente, de modo a levar em conta
o progresso científico e tecnológico da agri-
cultura e o desenvolvimento regional”.
A polêmica
A revisão do índice tem incomodado os
chamados ruralistas do Congresso Nacional.
A alteração da lei implica diretamente na
desapropriação de suas terras para serem
usadas no processo de reforma agrária. Do
outro lado da discussão, milhares de famí-
lias de trabalhadores ligados à terra podem,
enfim, comemorar a conquista do direito à
moradia e ao trabalho. Aliás, a discussão
sobre a revisão dos índices já é, por si, uma
conquista do MST, que intensificou suas
atividades no mês de agosto, com marchas e
ocupações de prédios públicos. Ao contrário
do que os grandes latifundiários defendem,
a medida não barra a produção agrícola no
país. Na verdade, ela impede que grandes
propriedades rurais deixem de produzir para
servir à especulação imobiliária.
Dados do Instituto Nacional de
Carros da polícia tentaram impedir que a população visualizasse a faixa que abria o ato
MST conquista importante vitória com a atualização dos índices de produtividade rural
Só tem medo quem não produz
Colonização e Reforma Agrária (Incra)
demonstram que das 4.238.447 proprie-
dades cadastradas, 90% não seriam afeta-
das pela atualização dos indicadores. Em
outras palavras, a revisão não atrapalhará
aqueles que, de fato, garantem o alimen-
to, geram trabalho e renda para o país.
Personagens em questão
Ao contrário do que possa parecer,
a atualização dos índices de produtivi-
dade não é uma questão nova. Há anos
movimentos populares ligados ao campo,
como o Movimento dos Sem Terra (MST),
reivindicam que a lei seja revista. Toda-
via, representantes ruralistas , como o
ministro da Agricultura, Pecuária e Abas-
tecimento, Reinhold Stephanes, tentam
a todo custo barrar ou pelo menos adiar
o avanço da reforma agrária. Nos últimos
dias, a desculpa escolhida para tentar
adiar a medida é que os latifundiários
ainda sofrem efeitos da crise econômica.
Mais uma vez, o interesse de mi-
lhares de famílias sem terra, pequenos
produtores, trabalhadores do campo e
da classe trabalhadora em geral está em
jogo contra o dos latifundiários. Cabe ao
governo decidir a favor de quem a lei deve
ser feita e repensada.
SilvanaSá
AgênciaBrasildeFato
JORNAL DO SINTUPERJ | SETEMBRO DE 20098
“As pessoas são
pesadas demais
para serem
levadas nos
ombros. Levo-as
no coração.”
Dom Helder Câmara
Entrevista com Margarida de Souza Neves
Dom Helder: o guerreiro da liberdade
Por Silvana Sá
Nesta entrevista, a historiadora e co-
ordenadora do Programa de Pós-Graduação
do departamento de História da PUC-Rio,
Margarida de Souza Neves, fala, emociona-
da, sobre seu convívio com uma das figuras
ícones da história nacional: Dom Helder
Câmara. Neste ano, comemoramos o cen-
tenário do seu nascimento e relembramos
a importância de sua figura na luta pelos
direitos humanos, liberdade e democracia.
Dom Helder morreu em 27/8/1999 aos 90
anos, foi um dos fundadores da Conferên-
cia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
e arcebispo emérito
de Olinda e Recife.
Foi, também, um dos
maiores combatentes
da ditadura e indicado
quatro vezes ao Prêmio
Nobel da Paz.
JORNAL DO SINTU-
PERJ: Quem foi Dom
Helder?
Margarida de Souza
Neves: Ele é um ho-
mem plural, mas ao
mesmo tempo muito
singular. Um dos traços
da identidade dele é
a capacidade de mu-
dança. Ao mesmo tempo ele é o cearense
de costumes simples e o idealista, que foi
capaz de encarnar a esperança de tantos
durante a ditadura militar, de ser a voz
de quem não podia falar. E tudo isso está
na mesma pessoa. Foi o líder que tinha
tempo para os afetos e para querer bem
as pessoas. Capaz de mudar por acreditar
nas coisas que achava importantes. Dom
Helder foi um homem que pôs a vida a
serviço daquilo que acreditava e que estava
na contramão daquele momento tão duro,
que foi a ditadura.
JORNAL DO SINTUPERJ: Como é, para a
senhora, ter sido alguém tão próxima
de Dom Helder?
Margarida de Souza Neves: Ele era um
grande amigo da minha família, sobretudo
da minha avó. Era uma pessoa muito hu-
mana, muito próxima. Ainda que eu tenha
a exata medida da pessoa pública que foi
Dom Helder Câmara, eu percebo que não
havia uma fratura entre a pessoa pública
e a privada. Ele era ele em qualquer lugar.
E era uma pessoa que não se deixava calar.
Encontrava saídas, sempre inteligentes e
inesperadas, para as mais diversas situações.
Eu nunca tive essa distância reverencial em
relação a ele porque éramos muito próxi-
mos. As pessoas o olhavam e pediam que
abençoasse seus filhos, porque sabiam o que
ele representava. Ele fazia questão de não
ser extraordinário, embora o fosse. Crescia
enormemente com seus gestos e palavras.
Era alguém que sabia expressar o carinho,
a empatia, e que abraçava acolhedoramente.
JORNAL DO SINTUPERJ: Como começou
o envolvimento dele com os movimentos
contra a ditadura?
Margarida de Souza Neves: É importante
frisar que até os anos 1930 ele era um
padre integralista, de direita, reacionário,
com a mentalidade de boa parte da igreja
católica da época. Em 1952 é nomeado
bispo auxiliar do Rio de Janeiro. Mas antes
disso, começa a ter maior contato com a
intelectualidade da época. O contato com
os mais pobres, sobretudo, foi fazendo Dom
Helder mudar de lugar social. Ele sempre
repetia uma frase muito interessante: “Eu
mudei minhas ideias. Só não muda de
ideias quem não tem
ideias para mudar”.
Foi, sem dúvida, um
importante articulador
no Concílio Vaticano II
– esse concílio foi rea-
lizado de 1962 a 1965
e definiu, entre outras
coisas, o compromisso
da igreja católica na
solução de problemas
sociais e econômicos,
o que fortaleceu a ala
progressista da igreja,
da qual Dom Helder
passou a fazer parte
–. Depois do Vaticano
II, a justiça social foi
muito sublinhada na igreja, que assumiu
uma postura de busca de estruturas sociais
mais justas. O concílio termina em 1965 e
em 1968 a ditadura recrudesce.
JORNAL DO SINTUPERJ: Conte um pouco
sobre a censura ao nome de Dom Helder
na imprensa brasileira.
Margarida de Souza Neves: A partir de
1972 Dom Helder passa a ser os-
tensivamente vigiado pelo Dops
– Departamento de Ordem
Política e Social – e pelos mi-
litares. Seu nome não pode
sair em nenhum veículo de
comunicação. Além disso,
também é impedido de falar
em público no país. Sequer
para se defender ele podia
se pronunciar.
JORNAL DO SIN-
TUPERJ: Sabe-
se que Dom
Helder denun-
ciou ao mundo
as torturas co-
metidas no Brasil.
Qual foi a repercus-
são delas?
Margarida de Souza Ne-
ves: Nesse tempo, de 1968 a
1977, a voz de Dom Helder Câmara tinha
repercussão como nenhuma outra voz
brasileira. Censurado no Brasil, Dom Helder
aproveita suas viagens ao exterior e fala
livremente para o mundo e com ampla reper-
cussão. Tanto que foi indicado quatro vezes
ao Prêmio Nobel da Paz, mas o governo bra-
sileiro interveio para que ele não ganhasse
esse prêmio. Recebeu prêmios alternativos,
mas o Nobel nunca lhe foi atribuído.
JORNAL DO SINTUPERJ: Além do auto-
ritarismo e das armas, o que mais Dom
Helder enfrentou?
Margarida de Souza Neves: Para além da
repressão, da intimidação da ditadura, ele
enfrentou a violência contra os que eram
mais próximos a ele. Imagino que ele deve
ter passado por momentos muito duros
de pressão dentro da igreja também. O
conflito faz parte da história. Ele, que era
tão confiante na palavra e na liberdade, de
repente se vê impedido de falar. Isso, para
ele, deve ter sido muito duro, mas nunca
o ouvi reclamar disso.
JORNAL DO SINTUPERJ: Um dos golpes
mais duros foi o assassinato do padre
Antônio Henrique. Como a senhora
percebe este episódio? Esta foi uma
clara tentativa de calar a voz de Dom
Helder?
Margarida de Souza Neves: Sem dúvidas.
Mais do que intimidá-lo, essa era uma forma
de culpabilizá-lo. É uma forma terrível de
praticar violência contra alguém. O Henri-
que foi morto de uma maneira brutal. Essa
foi a violência mais terrível. Matar Dom
Helder tinha um preço político muito alto,
então matar quem lhe era próximo era uma
forma de matá-lo. Fazia parte do arsenal de
brutalidade institucional da época.
JORNAL DO SINTUPERJ: E por que não
conseguiram?
Margarida de Souza Neves: Em parte por
sua coragem, mas também porque sua voz
ecoava o que de melhor existia na socie-
dade brasileira. Não conseguiram calar sua
voz, como não conseguem calar a voz do
desejo da democracia. Não calaram a voz
dele, porque essa voz não era só dele, era
da democracia, da justiça social, era uma
voz plenamente humana. Não era uma voz
isolada, mas ele teve a coragem de pô-la a
serviço de tantas outras vozes caladas.
JORNAL DO SINTUPERJ: Qual a interfe-
rência que Dom Helder teve na conquista
da anistia política, que neste ano faz
30 anos?
Margarida de Souza Neves: Ele era um
grande articulador. Em geral estava nos
bastidores, mas certamente foi um dos
responsáveis por isso. Ele manteve-se
coerente com os valores que acreditava
e soube ter, em determinados momentos,
gestos importantes. Exemplo disso são
os episódios com o militante comunista
Gregório Bezerra, torturado duramente, a
quem fez questão de cumprimentar pes-
soalmente em uma manifestação nas ruas
de Recife, seu enfrentamento às tropas
militares quando cercaram estudantes
na Universidade Católica de São Paulo ou
ainda as denúncias à tortura.
JORNAL DO SINTUPERJ: Qual o legado
que Dom Helder Câmara deixou para essa
e futuras gerações no que diz respeito
ao processo de lutas contra as injustiças
sociais?
Margarida de Souza Neves: Seu legado é
como ele: muito plural e muito singular. Le-
gado de busca por justiça, de liberdade, de
dignidade, de defesa de direitos humanos.
De humanidade densa e plena. De capacida-
de de acreditar no coletivo. Cem anos depois
de seu nascimento tem sentido falar sobre
ele. Uma vida que tem sentido e que confe-
re sentido. E cada pessoa buscará na plura-
lidade de Dom Helder o legado que deseja.
Para conhecer um pouco mais sobre a
vida e a obra de Dom Helder Câmara,
acesse as páginas eletrônicas: www.ccpg.
puc-rio.br/memoriapos/dhc e www.cen-
tenariodomhelder.com.br.

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Jornal do sintuperj nº 27

  • 1. SETEMBRO DE 2009 | JORNAL DO SINTUPERJ 1 A nossa luta pelo reajuste salarial continua Pré-Vestibular do Sintuperj completa 11 anos Conheça um pouco mais sobre Dom Helder Câmara 33 44 88 Hupe: 59 anos de história e resistência 66 Participação dos trabalhadores foi decisiva para a vitória no Consun Por unanimidade, conselheiros votaram a favor da retomada da isonomia salarial histórica. Confira na página 5 Fotos:NikoJr. Jornal do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais - RJ Ano IV - Nº 27 - setembro de 2009
  • 2. JORNAL DO SINTUPERJ | SETEMBRO DE 20092 EXPEDIENTE: JORNAL DO SINTUPERJ Rua São Francisco Xavier, 524 - sala 1020 D - Maracanã - Rio de Janeiro/RJ CEP: 20.550-013 - Tel: (21) 2587-7126 / 2234-0945 Internet: www.sintuperj.org.br / sintuperj@sintuperj.org.br / imprensa@sintuperj.org.br Coordenação de Comunicação Sindical: Rosalina Barros e Denize Santa Rita Conselho Editorial: Alberto Dias Mendes, Denize Santa Rita, Fátima Diniz, Jorge Luís Mattos de Lemos (Gaúcho), José Arnaldo Gama da Silva, Rosalina Barros, Sandro Hilário e Tania Niskier Jornalista: Silvana Sá (MTE 30.039/RJ) Estagiários: Filipe Cabral, Jessica Santos e Tatiana Lima Programação Visual: Daniel Costa Tiragem: 4.000 exemplares - Fechamento: 16/09/2009 Nossa Opinião A descoberta de Cabral Retratos da Vida Há diversas formas de reconhecer um governo. Uma delas é fazendo uma manifestação em defesa de algo que seja justo e correto. A reação das autoridades às reivindicações é a maior demonstração de sua personalidade: democrática ou autoritária. No caso do que ocorreu com os professores da rede pública do Estado do Rio de Janeiro, a revelação é assustadora e requer um posicionamento de todos os setores da sociedade comprometidos com a defesa da cidadania e dos direitos hu- manos. O tratamento dado aos educadores de nossos filhos em frente à Assembleia Legislativa foi revoltante. As escadarias da Alerj – casa que deveria ser considerada do povo – viraram praça de guerra entre policiais e trabalhadores da educação. Avançaram todos os limites da sanidade e chegaram a apontar uma pis- tola na direção daqueles que constroem o Estado, dos que atendem à população e são os verdadeiros responsáveis pelo atendimento digno que a sociedade mere- ce. É lamentável ver um servidor policial sacar sua arma para ameaçar um colega de trabalho, que é o professor. Por trás das mãos do policial estão as ordens de um governo autoritário e desumano. Assim, reconhece-se o verda- deiro perfil de Cabral e seus seguidores. De voz com tom suave e desenvoltura digna de uma pessoa estadista, a ordem de reprimir trabalhadores faz Sérgio Ca- bral deixar descoberta sua face perversa e autoritária. Não basta a violência que tomou conta de nosso estado, o governo pro- move sua violência institucionalizada e trata trabalhador como criminoso. Aliás, a criminalização dos movimentos sociais é uma prática dos governos im- populares, herdeiros das piores ações da ditadura. E isto acontece logo após as “comemorações” dos 30 anos de anistia. O que também impressiona, é o cinismo de alguns governantes como Cabral que outrora estiveram ao lado dos “subversi- vos”, hoje não se envergonham em estar do lado dos torturadores e agirem como verdadeiros tiranos. O Estado, em tese, é aquele que defende a população e deve evitar os conflitos ou, no mínimo, solucioná-los, nunca incentivá-los, nem promovê-los. O descaramento maior vem em seguida, ao tentar inverter a lógica para convencer a opinião pública de que os manifestantes lançaram a primeira pedra. Esta pedra já foi lançada há muito tempo, com a falta de compromisso e vergonha na cara do governo Cabral que massacra nosso povo e ataca despudoradamente os servidores públicos. A pedra das fundações, do arro- cho salarial, dos hospitais sucateados, da falta de saneamento básico, da violência urbana e da repressão política. Enquanto isso, o governador fica a procura de holofotes na mídia, a fim de manter-se lembrado para uma possível reeleição. Infelizmente, não se dá ênfase às vaias que tem recebido sucessivamente nos lugares por onde passa. A sociedade não pode perder a co- ragem nem parar de se indignar contra tais situações. Como disse o cantor e compositor da música brasileira, Gabriel Pensador: Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!) Até quando vai ficar sem fazer nada? Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!) Até quando vai ser saco de pancada? O Sintuperj se solidariza com os trabalhadores da Educação e repudia, veementemente, a atitude do governo estadual para com esses servidores que doam suas vidas em prol de um serviço público de qualidade. É vergonhoso ver trabalhadores sendo ameaçados com armas e cassetetes neste que, ao menos na teo- ria, é um Estado democrático de direito. Adicional noturno O Sintuperj começou um trabalho de agendamento dos servidores sindicalizados lotados no campus Maracanã da Uerj e que cumprem jornada noturna (das 23h às 5h), visando reivindicar o adicional noturno na justiça. Assim que o trabalho esti- ver finalizado neste campus, convocaremos os trabalhadores do Hupe e do Centro Biomédico. Antes de procurar o Departamento Jurídico, o sindicalizado deve fazer o agendamento prévio na secretaria do Sintuperj. Somente poderão entrar com ação os servidores que em algum momento já receberam o adicional noturno pela Uerj. Os documentos necessários para ajuizar ação são: cópia da identidade e do CPF; cópia do comprovante de residência atualizado; declaração original assinada pela chefia imediata em papel timbrado da Uerj, confirmando horário noturno; cópia dos contracheques dos anos de 1997, 1998, 1999 que indiquem o recebimento do adicional noturno; cópia dos contracheques atuais; cópia da folha de ponto atual assinada pela chefia imediata; cópia da escala desde a época que começou o trabalho noturno (facultativo). Recadastramento de aposentados Todo o servidor aposentado que ainda não fez o seu recadastramento junto ao Rio Previdência deve fazê-lo o mais breve possível no Centro de Treinamento da Uerj. O agendamento deve ser realizado através do site www.idfuncional.rj.gov.br. O servidor aposentado deve informar seu nome completo, matrícula e órgão de origem onde era lotado. Para o recadastramento é necessário apresentar os originais dos seguintes documentos: identidade, CPF e comprovante de conta bancária. Aposentadorias Alertamos a todos os servidores da Uerj que tiverem quaisquer questionamentos nos seus processos de aposentadoria que procurem orientação jurídica dos advogados do Sintuperj, caso sejam chamados para dar ciência. Veja os horários dos plantões (área trabalhista) e faça seu agendamento na secretaria do Sindicato: Terça-feira: das 14h às 18h Sexta-feira: das 10h às 13h30min Seus Direitos Nesses 30 anos de anistia, não podemos deixar de homenagear aqueles que tiveram suas vidas ceifadas pela repressão. Um deles foi o estudante Luiz Paulo da Cruz Nunes, assassinado em 22 de outubro de 1968, durante protesto dos estudantes de medicina no Hupe Arquivo Asduerj
  • 3. SETEMBRO DE 2009 | JORNAL DO SINTUPERJ 3 Já chegamos em meados de setem- bro e a pergunta continua na boca da categoria: governador, cadê o reajuste salarial prometido aos servidores da Uerj? A defasagem, acumulada em 8 anos sem reajuste, é de 78,71%. O Sintuperj chega a este percentual a partir da média tirada entre três índices que medem as perdas salariais de nossa categoria: o ICV, do DIEESE; o IPC, da FIPE; e o IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas. Sérgio Cabral prometeu, também, para todo o funcionalismo público es- tadual, que as áreas de saúde, educação e segurança seriam prioritárias em seu governo. Até agora o que os servidores ouviram foram promessas vãs. Para defender o serviço público de qualidade, os servidores se uniram no Muspe – Movimento Unificado dos Ser- vidores Públicos Estaduais. O Sintuperj Reajuste e concurso público sob regime estatutário são as principais reivindicações dos trabalhadores Campanha salarial A luta nossa de cada dia está engajado neste movimento. Negociar com o governo Nesta luta, o coletivo de servidores tenta abrir um canal de negociação com o governo pedindo, entre outras coisas, reajuste linear de 70%. Como porta-voz do governo estadual, temos o secretário de Planejamento e Gestão Sérgio Ruy. De acordo com ele, não há previsão de reajuste para os trabalhadores e coloca a desculpa na crise internacional. Sabemos bem que a crise não está as- sociada ao “não” que o governador nos dá. Não somos bobos! Está clara a política neo- liberal deste governo, que visa a desmontar o serviço público, privatizar os serviços e calar o movimento sindical e social. Diante deste quadro, o que precisamos, mais que nunca, é lutar! Só a mobilização abrirá, de fato, as negociações com o governo. Outra questão que sufoca os órgãos públicos e os trabalhadores é a não aber- tura de concursos públicos. Os setores de saúde e educação, hoje, são os mais pre- judicados. Para não fecharem as portas, as instituições, de modo geral, contra- tam trabalhadores temporários sob um regime absolutamente precário. O que mais nos impressiona é a hi- pocrisia das autoridades em momentos nos quais deflagra-se uma greve por melhores condições de trabalho. Alguns chegam a afirmar que “a população é a maior preju- dicada”. No entanto, o povo já está sendo prejudicado com as medidas do governo Cabral.Aocontinuaresseprocessoimpopular, o cenário mais provável é o da privatização dosserviçospúblicosemaiorarrochosalarial. Na Uerj não é diferente A cada dia, a necessidade de con- cursos para técnico-administrativos e docentes salta aos olhos. Esse ano, com muita luta e mobilização dos servidores técnico-administrativos, o Consun aprovou previsão orçamentária para 2010, para concursos, maior que a deste ano. Tal po- sicionamento do Consun sinaliza a urgência da abertura de concurso público sob regime estatutário para as diversas áreas da Uerj. Na última sessão do Conselho Univer- sitário, o reitor declarou que abrirá concurso público para provimento de 136 vagas para docentes, o que representa um aumento de 7% do corpo docente. O Sintuperj re- conhece a importância desta ação, mas sinaliza de que isto não basta! Até agora não ouvimos qualquer informação sobre abertura de concurso público sob regime estatutário para técnico-administrativos. A Uerj é formada por estudantes, professores e técnico-administrativos. Seu bom funcionamento se dá a partir do respeito a esses segmentos. E este respeito deve ser expresso por meio da valorização, da realização de concursos públicos, rea- juste, fatores que ajudam na manutenção de um serviço público de qualidade. O mês de agosto, na Uerj, foi marcado, dentre outras coisas, pela comemoração do aniversário de 30 anos da Lei de Anistia. A universidade, orgulhosamente, sediou o simpósio “Apesar de você – 30 anos da Anistia Política no Brasil” e abriu as portas para discutir a importância da data histórica junto com a comunidade universitária e a sociedade, de modo geral. Porém, eventos es- porádicos como este não são suficientes para provar que a Uerj é, de fato, um espaço demo- crático e de apoio à liberdade de expressão. Enquanto no Auditório 13 do campus Maracanã todos os interessados tinham livre acesso para debater a importância da anistia e o resgate dos direitos humanos, logo no andar abaixo uma porta blindada impedia o acesso da comunidade universitária a algumas salas da reitoria. De acordo com informações reti- radas da página eletrônica do Departamento de Manutenção, Obras e Projetos (Demop) da Uerj, a porta foi instalada logo no primeiro mês de 2009. Inclusive, as fotos da “obra” estão disponíveis na Internet. Símbolos e significados Se a Lei da Anistia traz consigo a men- sagem de exercício da liberdade, respeito aos direitos humanos e da garantia do espaço democrático, a ideia da porta blindada corre no sentido oposto. “A anistia representou a vitória da liberdade de expressão e pensa- mento. Representou a abertura das portas para os exilados e presos políticos. De um lado temos o ´abrir de portas`, do outro, o ´fechar portas`”, comenta o coordenador de Formação do Sintuperj, Alberto Mendes, comparando as duas situações. Embora o reitor ainda não tenha jus- tificado formalmente a necessidade de uma porta blindada no corredor que dá acesso às instalações da reitoria, é de se estranhar o Luta também é por concurso fato de que a passagem foi impedida poucos meses depois que estudantes ocuparam o local durante vinte dias para reivindicar seus direitos. Inclusive, neste mês se com- pleta um ano desde a ocupação da reitoria pelos alunos. Estudante do curso de Letras e co- ordenadora geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Uerj, Fabiane Simão participou da ocupação, em setembro de 2008, e considera que a instalação da porta blindada no corredor gera a criação de “dois Apesar do discurso pela democracia, reitor mantém porta blindada no corredor da reitoria Acontece na Uerj Liberdade, Liberdade, abra as asas sobre nós espaços” dentro da universidade. Como se a Uerj fosse quase pública, com um recinto reservado para a reitoria e seus convidados. “Colocar uma porta como essa em um espaço público como a universidade é o mesmo que se apropriar deste espaço. Um lugar que de- veria ser de livre acesso a todos de repente se torna restrito” analisou Fabiane. “Amanhã há de ser outro dia” Na abertura do simpósio, após a execução emocionada do hino nacional, o reitor Ricardo Vieiralves, fora de seu quartel general, fez um discurso no qual relembrou os tempos passados de militância política. Desacreditado por quem deveria representar e perdido nas contradições entre seus atos e palavras, ressaltou também a importância daqueles que lutaram pela anistia e pela liberdade de pensamento. A música tema do simpósio (Apesar de você) deu o tom do evento. Há 30 anos, Chico Buarque indagava aos repressores “onde vai se esconder da enorme euforia?”. Hoje, a comunidade da Uerj continua com muita euforia. Resta saber se o reitor, após relembrar os anos de chumbo, decidirá pela manutenção de uma porta blindada, que faz lembrar a ditadura militar, ou contribuirá para o aprofundamento da democracia. Há 30 anos, a população clamava por democracia. Hoje, quem pede democracia é a comunidade da Uerj RicardoMalta/ANImagens
  • 4. JORNAL DO SINTUPERJ | SETEMBRO DE 20094 Há onze anos, nasceu um projeto pio- neiro dentro da Uerj: o Pré-Vestibular Comu- nitário do Sintuperj, fruto da determinação política de um grupo de sindicalistas da anti- ga Associação dos Servidores da Uerj (Asuerj), hoje Sintuperj. Em 2008, o curso atingiu uma meta surpreendente: foi responsável pela aprovação de 52 estudantes em universidades públicas. São trabalhadores, donas de casa, servidores técnico-administrativos, mães, pais e filhos que alcançaram o sonho de in- gressar na faculdade através do projeto. O objetivo principal do Pré-Vestibular do Sintuperj é democratizar o acesso à edu- cação de nível superior, além da construção da consciência política dos estudantes. “O projetodáaosalunosinstrumentosnecessários para enfrentar os desafios sociais e mostra a importância deles estabelecerem um compro- misso com a transformação da realidade em que vivemos”, explica Alberto Mendes, coor- denador de Formação Sindical do Sintuperj. Fazendo a diferença “Estou no Rio há cerca de três anos e me sustento como empregada doméstica. Só tive condições de me preparar para as pro- vas dos vestibulares porque existe o curso. O Pré-Vestibular foi e é o responsável pela minha vitória e por esta nova fase de vida que vou iniciar agora em setembro”, conta a ex-aluna Deise Pimenta, que foi aprovada para o curso de Serviço Social na Universi- dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os pré-vestibulares comunitários são uma opção para estudantes de baixa renda que querem cursar uma faculdade pública, mas têm dificuldades de acesso à educação ou problemasparaarcarcomasaltasmensalidades de um pré-vestibular “tradicional”. Em todo o estado do Rio de Janeiro existem dezenas de pré-vestibulares comunitários, a maioria com ofertasdevagasdebaixocustoouatégratuitas. Sintuperj comemora neste mês o 11º aniversário do projeto Notícias do Sintuperj Um pré-vestibular cidadão Construção coletiva Outra característica do projeto é o incentivo à cidadania. Em geral, as decisões eram feitas com a participação dos alunos, professores e a direção do Sindicato. Em cada ano, a última reunião é um seminário de ava- liação e de planejamento para o ano seguinte. “O projeto sempre teve uma cara democrática. A participação dos alunos é uma aula prática de cidadania e ajuda na formação política deles para enfrentar o mundo, a vida”, avalia o coordenador Alberto Mendes. Segundo Alberto, houve momentos em que as reuniões se transformavam em plená- rias. “Todos os estudantes queriam falar e os professores os motivavam para interferirem em sua realidade”, exemplifica. Nesta dinâ- mica, também são eleitos os representantes de turma. Uma forma de mostrar a impor- tância da exposição das ideias dos alunos e de fazer com que todos coloquem a mão na massa, aprendendo a discutir e organizar formas de atuação política. O resultado prático da cidadania Uma das ex-alunas do pré-vestibular é atualmente coordenadora do Sindicato. A servidora técnico-administrativa Fátima Diniz trabalhava na Uerj há 10 anos, no setor de Oftalmologia, no Hupe, quando decidiu fazer vestibular. Tentou por duas vezes e este ano passou para o curso de Contabilidade. “Fiz o antigo segundo grau em 1984. Em 2008, consegui ser uma das alunas aprovadas para a Universidade onde trabalho há 12 anos. Para mim, isso é uma conquista. Mas não é só minha. Esta é uma realização de todos que acreditaram que não basta ter um pré-vestibu- lar e sim ser o pré”, defende a coordenadora. Envolvida com o projeto desde 2007, Fátima se tornou representante de turma. Em setembro de 2008, após as eleições para a nova diretoria do sindicato, tornou-se coorde- nadora do Pré- vestibular. Um exemplo de como a for- mação cidadã e seu exercício pode lapidar trabalha- dores e estudantes. “Nossos alunos são de baixa renda e vêm com muita deficiência, pois sabemos bem como infelizmente está a nossa escola pública. Mas mesmo assim a garra, a determinação e por que não dizer a vontade de vencer e ser alguém faz com que eles se dediquem muito mais”, opina. Histórico Em 1998, os dirigentes da Asuerj identificaram que havia um vácuo na Uerj com relação ao acesso de seus próprios trabalhadores ao ensino superior. Existia, na Universidade, um projeto chamado In- vestuerj, uma espécie de curso supletivo, de educação básica, voltado exclusivamente para os servidores técnico-administrativos. Porém, após concluírem os estudos, não existiam opções que auxiliassem os técnico-administrativos a entrarem na faculdade. Foi a partir desta observação que a Asuerj decidiu criar um curso de pré- vestibular para auxiliar os trabalhadores. A partir do projeto “Universidade cidadã”, a Federação de Sindicatos de Tra- balhadores das Universidades Brasileiras (Fa- subra) forneceu os princípios básicos para a formulação do curso. Além disso, os dirigentes procuraram conhecer experiências semelhan- tes como o pré-vestibular do Sindicato dos Trabalhadores da UFRJ (Sintufrj) e também do Sindicato dos Trabalhadores em Teleco- municações (Sinttel), que possui uma escola do ensino fundamental ao pré-vestibular. O sonho se torna realidade No dia 3 de agosto de 1998 aconteceu a primeira aula inaugural do projeto. Porém, a luta para conseguir um espaço físico para abrigar o curso continuaria por muitos anos. De dia, o pré-vestibular funcionava em duas salas cedidas pela Faculdade de Administração e Finanças (FAF), no oitavo andar do campus Maracanã. À noite, os alunos tinham que se deslocar para dois auditórios. Foi somente em junho de 2007, depois de muita negociação, queaconquistadeumasalafoipossível,apar- tir da cessão do setor de Vestibular da Uerj. No início, os professores trabalhavam voluntariamente no projeto e as aulas eram gratuitas. A direção percebeu, porém, que havia uma grande evasão do curso. Um dos motivos era o fato de a gratuidade não trazer um compromisso de permanência. “Após um período,identificamosqueagratuidadenãoera benéfica, nem educativa, pois tirava o compro- misso com o pré. Uma infelicidade do sistema em que vivemos: o que dói no bolso, atinge a alma!”, diz o coordenador Alberto Mendes. Hoje, o Pré-Vestibular conta com uma equipe de 27 professores, dois coordena- dores, um funcionário específico e vários monitores. Ao todo, são 140 estudantes divididos em dois turnos: tarde e noite. Todos os professores ganham uma ajuda de custo. Os estudantes da comunidade externa contribuem com 10% do salário mínimo e os filiados e dependentes contribuem com 5%. Aula inaugural do pré-vestibular realizada em fevereiro de 2009 Professora será homenageada Para comemorar os onze anos do pré- vestibular, a direção do Sindicato, alunos e professores preparam uma grande festa, que será realizada por meio de atos para marcar a luta, no dia 24 de setembro. Símbolo da vitória e das conquistas que marcaram a história do pré, a sala nº 1021, localizada no bloco D da Uerj, ganhará nome e so- brenome: “Cristiane Guerreiro”. Militante do DCE, aluna da Faculdade de Educação e professora voluntária do Pré-Vestibular, Cristiane faleceu em 03/07/2005. No dia 24, a sala ganhará uma placa com o nome da homenageada. Também será oferecido e repartido com toda a comuni- dade muito sorriso e consciência política. JéssicaSantos JORNAL DO SINTUPERJ | SETEMBRO DE 20094
  • 5. SETEMBRO DE 2009 | JORNAL DO SINTUPERJ 5 Retomada da isonomia salarial é aprovada por unanimidade no Consun Acontece na Uerj R t d d i i l i l é d i id d C Mobilização garante vitória, mas luta continua Acima: Servidores lotaram a sessão do Consun – participação foi fundamental. Ao lado: a conselheira Rosalina Barros entrega os abaixo-assinados ao reitor Ricardo Vieiralves enquanto o conselheiro Jorge “Gaúcho” lê o relato A sessão do Conselho Universitário do dia 11 de setembro trazia como pauta a discussão e votação da proposta de emenda à Lei de Carreira que pede a retomada da proporcionalidade de vencimentos entre técnico-administrativos e docentes. Desde as 9h, trabalhadores, especialmente do Hospital Universitário Pedro Ernesto, aguar- davam o início da sessão. A mobilização dos servidores mais uma vez foi decisiva para a aprovação unânime da reivindicação. O conselheiro Jorge Luís Mattos de Lemos (Gaúcho) foi o relator da proposta apresentada pela bancada dos técnico- administrativos. A vitória foi uma conquista histórica dos trabalhadores e, sem dúvidas, a retomada dos parâmetros de justiça nos quais a Uerj sempre se embasou. Todos os conse- lheiros presentes, inclusive o próprio reitor, professor Ricardo Vieiralves, votaram a favor da proposta de Projeto de Lei. Veja a íntegra do relato e da proposta na página eletrônica do Sintuperj: www.sintuperj.org.br . Entrega dos abaixo-assinados Antes de iniciar o relato, o conselheiro Gaúcho comunicou a entrega do abaixo- assinado que pedia a retomada da isonomia salarial e da garantia, em lei, do direito a matrículas de dependentes dos servidores técnico-administrativos no CAp. Ao todo foram recolhidas quase 3 mil assinaturas! Os abaixo-assinados entregues pela bancada foram iniciativa do Sintuperj, que recolheu assinaturas em todos os locais de trabalho. Isonomia: o que isso representa? Durante anos, a Universidade res- peitou esta isonomia salarial. Porém, no ano passado, em meio a uma greve pelo reajuste, o governo implantou um plano de carreira para os docentes (PCD) que nada tinha a ver com o aprovado no Conselho Universitário. Além do descontentamento dos próprios docentes, com um plano que não lhes atendia na essência de suas reivin- dicações, o PCD quebrou a isonomia salarial histórica, causando uma distorção de 30% em média entre as carreiras. Isonomia significa o realinhamento dos salários de servidores técnicos e docentes. Historicamente, os parâmetros salariais foram os valores do nível superior. Em 1987, por ato executivo, o reitor Charley Fayal de Lyra havia corrigido uma distorção criada na época. Um professor auxiliar e um técnico de nível superior para ingressarem no cargo precisam ter diploma de graduação. É a exigência mínima. Sendo assim, os venci- mentos devem ser iguais. Recuperação vai atingir a todos A readequação dos salários não pode se dar apenas no nível superior. A tabela de vencimentos dos servidores técnico- administrativos obedece a uma lógica e coerência em termos percentuais. Em outras palavras, o restabelecimento dos 30%, perdidos com a aprovação do plano docente, serão estendidos a todos os tra- balhadores da carreira. Mobilização deve continuar O próximo passo, após a aprovação pelo Consun, é o acompanhamento do projeto, que será encaminhado pelo reitor ao Governo do Estado e, em seguida – de acordo, é claro, com a “boa vontade” do governador e com a pressão da categoria –, para a Alerj. “A decisão deste Conselho foi acertada, retoma o tratamento e igual- dade que sempre nos movimentou nesta Universidade. Esperamos que o governo encaminhe esse projeto à Alerj o mais rápido possível”, salientou o conselheiro Alberto Mendes, membro da bancada dos técnico-administrativos no Consun. É preciso lembrar que o reitor da Uerj, ao encaminhar a proposta para o Governo do Estado, deve apresentar, em anexo, o cálculo do impacto financeiro da medida. Sem essa informação o governador ganhará tempo e terá mais uma desculpa para não aprovar imediatamente nossa reivindicação. Somente com luta e muita mobilização, conforme foi demonstrado até agora, é que conseguiremos a vitória final. O Sintuperj convoca todos os servidores da Uerj a per- manecerem mobilizados. Só a união dos trabalhadores será capaz de vencer as futuras batalhas e conquistar a isonomia salarial. Todos juntos somos fortes! Participe da as- sembleia no dia 30/9, às 14h, no auditório 31 – Campus Maracanã / Uerj. Fotos:NikoJr.
  • 6. JORNAL DO SINTUPERJ | SETEMBRO DE 20096 Inaugurado em 1950, o Hospital Uni- versitário Pedro Ernesto (Hupe) celebra, em 2009, seus 59 anos de muito trabalho e resistência. Considerado um dos maiores hospitais públicos em funcionamento no Estado do Rio de Janeiro, o Hupe se destaca ao longo dos anos pela eficiência e qualidade no tratamento à população. Contudo, nem tudo são flores nestes quase sessenta anos de história. Nos últimos anos, o hospital e, principalmente, os trabalhadores têm sofrido com o descaso do governo do Estado. Sem concursos públicos há mais de dez anos, alguns setores do Hupe, como a neurologia e a radiologia, têm que funcio- nar com grande parte dos trabalhadores em condições de se aposentar e, o que é mais grave, sem nenhuma previsão de substituição. Mesmo assim, com tantas dificuldades, o Hupe foi selecionado pelo governo estadual como referência no trata- mento a pessoas portadoras da gripe suína. Como já aconteceu, no passado, quando foi convocado pelo Governo do Estado para tratar pacientes da dengue. A H1N1 e o Hupe Em agosto, o Sintuperj participou de uma audiência pública na Assembleia Legislativa para discutir os efeitos do vírus H1N1 no estado e avaliar a forma como tem sido aplicado o plano de prevenção da Secretaria Estadual de Saúde. Diante do cinismo do governo estadual ao falar que o plano contra a gripe foi implantado com sucesso, um dos coordenadores gerais e re- presentante do sindicato na reunião, Jorge Augusto, fez questão de esclarecer para todos o que, de fato, ocorre diariamente no hospital: “Temos ótimos profissionais no Hupe, mas, infelizmente, somos obrigados a trabalhar na velha lógica do ´cobertor cur- to`. Precisaríamos de uma estrutura própria para atender os casos da gripe. Como não Hospital Universitário comemora aniversário lutando contra o descaso do governo Pedro Ernesto Hupe: 59 anos de resistência temos, acabamos deixando outros setores do hospital desfalcados de leitos, pessoal e até mesmo material” concluiu. Contratos Temporários Assim como outros setores da Uerj, o Hupe convive diariamente com diver- sas contradições. Nos últimos anos, para mostrar que tenta preencher os cargos vagos pela ausência de concursos pú- blicos, a reitoria tem admitido centenas de trabalhadores por meio de contrato temporário. Se já não bastasse adotar a política de contratos, como forma de desmontar o serviço público, a reitoria sequer se importa em respeitar os salários de determinadas funções. Trabalhadores contratados de diversos setores exercem as mesmas atividades de efetivos, mas recebem salários menores. O extremo desrespeito ao trabalha- dor motivou o Sintuperj a entrar com um processo no Ministério Público em defesa do cumprimento da lei nº4.599/05. A referida lei estabelece que o trabalha- dor contratado deverá receber o venci- mento inicial da carreira do servidor, conforme a lei nº4.796/06, que criou Banco de Sangue do Hupe precisa de você O Banco de Sangue Herbert de Souza, do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), está em campanha para captar doadores. A pandemia do vírus H1N1, a am- pliação das férias escolares e a queda natural de doadores neste período, por conta da gripe ou o a indefinição de diagnóstico, deixou os estoques do banco abaixo do necessário. O hospital solicita que quem estiver apto faça a doação. Para isso, é necessário ter entre 18 e 65 anos, ter boa saúde e pesar mais de 50 Kg. Não precisa estar em jejum, mas devem ser evitados alimentos gordurosos. É preciso, também, levar documento de identidade com foto. Os interessados podem comparecer, de 8h as 12h30m, de segunda a sexta-feira, no Banco de Sangue Herbert de Souza, que fica na Avenida 28 de Setembro, 104, em Vila Isabel. Para mais informações, entre em contato pelo telefone 2587-6234. o Plano de Cargos e Carreiras dos servi- dores técnico-administrativos da Uerj. A dura realidade Mesmo após 59 anos de existência, para quem atua diariamente no hospital, a realidade do Hupe não é a mesma divulgada em prêmios e comemorações. De acordo com a página do hospital na Internet, a missão da unidade é “prestar assistência integrada, humanizada e de excelência à saúde, sendo agente transformador da sociedade através do ensino, pesquisa e extensão”. Todavia, executar tal missão com o déficit de mão-de-obra e condições precárias de trabalho existentes, hoje, no Hupe é um grande desafio. “Segundo os próprios profissionais, um hospital do porte do Pedro Ernesto deveria contar com, no mínimo, 110 anes- tesistas. Hoje, contamos com apenas 28. É um absurdo”, ponderou Jorge Luís, auxiliar de enfermagem e também coordenador geral do Sintuperj. Provisório X Permanente Além do número reduzido de servido- res e, consequentemente, a exploração de seus serviços, o hospital sofre com a falta de mínimas condições estruturais. Em no- vembro de 2008, o prédio onde funcionava o setor de manutenção foi posto abaixo e os trabalhadores foram sujeitos a exercer suas funções dentro de containeres, conforme já foi denunciado pelo Sintuperj. Na época, a direção do Departamento de Infra-estrutura e Hotelaria Hospitalar (DIHH), garantiu que um novo prédio seria erguido assim que chegasse uma verba prometida pelo Ministério da Saúde. Porém, a situação que deveria ser temporária se estabeleceu e tornou-se permanente. Até hoje os quase cem tra- balhadores da manutenção tem que se adaptar ao pequeno espaço que lhes cabe neste “latifúndio” da Uerj, que apesar de ser um espaço público, parece ser usado apenas em favor de muito poucos. Quem merece os parabéns Em junho do mesmo ano, o governa- dor Sérgio Cabral realizou duas solenida- des, uma no Palácio Guanabara e outra no anfiteatro Ney Palmeiro, no próprio Hupe, para comemorar os mil transplantes renais realizados no hospital. No Palácio Guana- bara, Sérgio Cabral mais uma vez deixou clara sua visão em relação ao hospital. Os diretores do Sintuperj que compareceram ao evento, apesar de convidados oficial- mente pelo Governo, foram impedidos de participar da cerimônia onde o governador, como de costume, celebrava a “conquista” ao lado do reitor Ricardo Vieiralves. A resistência a ataques como estes ressalta o valor dos 59 anos do Hupe como espaço de luta e muita garra dos trabalhadores, que apesar das péssimas condições, realizam um trabalho de excelência. Depois de assopradas as velas, só quem luta diariamente sabe quem realmente merece os parabéns. ArquivoSintuperj SilvanaSá
  • 7. SETEMBRO DE 2009 | JORNAL DO SINTUPERJ 7 Centenas de pessoas foram às ruas do Rio de Janeiro e milhares se somaram em todo o Brasil nesta que foi a 15ª edição do Grito dos Excluídos. O tema deste ano: “Vida em primeiro lugar – a força da transformação está na organização popular”, demonstra, com clareza, o objetivo dos movimentos sociais e de esquerda de nosso país. Movimentos sociais, culturais, partidos políticos e cen- trais sindicais marcaram presença no ato. Há 15 anos o Grito dos Excluídos acontece como uma tentativa de fazer ouvir aqueles que não têm voz nem vez no nosso país. A concentração começou quando ainda desfilavam as forças armadas na Av. Presidente Vargas, Centro da cidade do Rio de Janeiro. A Polícia Militar e o Batalhão de Operações Especiais da PM (Bope) foram vaiados: “Assassinos! Abaixo caveirão!” foram alguns dos gritos dos participantes do Grito dos Excluídos durante a apresen- tação dessas forças do Estado. Um grupo de skinheads (jovens afeitos à violência, à intolerância e simpáticos a práticas na- zistas) aplaudiu os soldados da chamada “tropa de elite” e insultou os manifestantes Anunciada pelo governo federal há pouco mais de duas semanas, a proposta de atualização dos índices de produtivi- dade rural tem gerado calorosos embates em Brasília. No entanto, o debate sobre esta simples lei não se encerra na capital do país, mas afeta diretamente milhares de famílias em todo o Brasil. Para que serve este índice? Conforme a constituição brasileira, Trabalhadores na rua fazem a verdadeira marcha cívica Movimentos Sociais Irreverência e crítica marcaram o Grito dos Excluídos com palavrões e gestos obscenos. Manifestantes tomaram as ruas Com o fim do desfile cívico, a mul- tidão tomou a Av. Presidente Vargas para denunciar à população a constante crimi- nalização a qual os movimentos sociais estão sendo submetidos. Os trabalhadores também pediam emprego, salário e moradia dignos, terra, saúde e educação pública de qualidade, entre outras reivindicações tradicionais da esquerda brasileira. Mardônio Barros, uma das lideranças do MST que estava presente no ato avaliou o momento: “O ponto alto é colocar em evi- dência esse contraponto entre o culto bélico na parada militar, que não contempla a nos- sa luta, e denunciar a situação de miséria na qual ainda vivemos. Esse é um dia de luta e não de culto ao militarismo”, disse. Esquerda precisa falar da vida Sem dúvidas, o ponto comum que uniu todas as pessoas que participaram do ato foi a busca pela dignidade humana. “Temos que ser mensageiros da esperança nesse mundo desencantado. Não dá para separar vida e militância, isso é papel do capital. Temos que discutir a humanidade, a subjetividade. Essa é a nossa tarefa nesse mundo. O capital nos isola, nos aprisiona. Não podemos abrir mão do encontro, do olhar, da confiança. Isso é potência humana transformadora”, avaliou Mardônio. O Sintuperj entende o 7 de Setembro como um momento de reflexão: inde- pendência significa libertação. Enquano houver ricos e pobres, ainda haverá apri- sionamento humano. Portanto, a verda- deira independência ainda está por vir. toda propriedade deve cumprir com sua função social. Caso contrário, o Governo tem o direito de desapropriá-la através do pagamento de uma indenização. O índice de produtividade, portanto, é o que define se uma determinada propriedade rural atende, ou não, o interesse social. Acontece que, atualmente, mesmo com todas as inova- ções tecnológicas das últimas décadas, os indicadores em vigor ainda são os definidos em 1975. Ou seja, o cálculo da produção é baseado em uma estrutura ultrapassada há mais de 30 anos. É importante frisar que a Lei Agrária 8.629/1993 já determinava que “os parâme- tros, índices e indicadores que informam o conceito de produtividade serão ajustados periodicamente, de modo a levar em conta o progresso científico e tecnológico da agri- cultura e o desenvolvimento regional”. A polêmica A revisão do índice tem incomodado os chamados ruralistas do Congresso Nacional. A alteração da lei implica diretamente na desapropriação de suas terras para serem usadas no processo de reforma agrária. Do outro lado da discussão, milhares de famí- lias de trabalhadores ligados à terra podem, enfim, comemorar a conquista do direito à moradia e ao trabalho. Aliás, a discussão sobre a revisão dos índices já é, por si, uma conquista do MST, que intensificou suas atividades no mês de agosto, com marchas e ocupações de prédios públicos. Ao contrário do que os grandes latifundiários defendem, a medida não barra a produção agrícola no país. Na verdade, ela impede que grandes propriedades rurais deixem de produzir para servir à especulação imobiliária. Dados do Instituto Nacional de Carros da polícia tentaram impedir que a população visualizasse a faixa que abria o ato MST conquista importante vitória com a atualização dos índices de produtividade rural Só tem medo quem não produz Colonização e Reforma Agrária (Incra) demonstram que das 4.238.447 proprie- dades cadastradas, 90% não seriam afeta- das pela atualização dos indicadores. Em outras palavras, a revisão não atrapalhará aqueles que, de fato, garantem o alimen- to, geram trabalho e renda para o país. Personagens em questão Ao contrário do que possa parecer, a atualização dos índices de produtivi- dade não é uma questão nova. Há anos movimentos populares ligados ao campo, como o Movimento dos Sem Terra (MST), reivindicam que a lei seja revista. Toda- via, representantes ruralistas , como o ministro da Agricultura, Pecuária e Abas- tecimento, Reinhold Stephanes, tentam a todo custo barrar ou pelo menos adiar o avanço da reforma agrária. Nos últimos dias, a desculpa escolhida para tentar adiar a medida é que os latifundiários ainda sofrem efeitos da crise econômica. Mais uma vez, o interesse de mi- lhares de famílias sem terra, pequenos produtores, trabalhadores do campo e da classe trabalhadora em geral está em jogo contra o dos latifundiários. Cabe ao governo decidir a favor de quem a lei deve ser feita e repensada. SilvanaSá AgênciaBrasildeFato
  • 8. JORNAL DO SINTUPERJ | SETEMBRO DE 20098 “As pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros. Levo-as no coração.” Dom Helder Câmara Entrevista com Margarida de Souza Neves Dom Helder: o guerreiro da liberdade Por Silvana Sá Nesta entrevista, a historiadora e co- ordenadora do Programa de Pós-Graduação do departamento de História da PUC-Rio, Margarida de Souza Neves, fala, emociona- da, sobre seu convívio com uma das figuras ícones da história nacional: Dom Helder Câmara. Neste ano, comemoramos o cen- tenário do seu nascimento e relembramos a importância de sua figura na luta pelos direitos humanos, liberdade e democracia. Dom Helder morreu em 27/8/1999 aos 90 anos, foi um dos fundadores da Conferên- cia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo emérito de Olinda e Recife. Foi, também, um dos maiores combatentes da ditadura e indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz. JORNAL DO SINTU- PERJ: Quem foi Dom Helder? Margarida de Souza Neves: Ele é um ho- mem plural, mas ao mesmo tempo muito singular. Um dos traços da identidade dele é a capacidade de mu- dança. Ao mesmo tempo ele é o cearense de costumes simples e o idealista, que foi capaz de encarnar a esperança de tantos durante a ditadura militar, de ser a voz de quem não podia falar. E tudo isso está na mesma pessoa. Foi o líder que tinha tempo para os afetos e para querer bem as pessoas. Capaz de mudar por acreditar nas coisas que achava importantes. Dom Helder foi um homem que pôs a vida a serviço daquilo que acreditava e que estava na contramão daquele momento tão duro, que foi a ditadura. JORNAL DO SINTUPERJ: Como é, para a senhora, ter sido alguém tão próxima de Dom Helder? Margarida de Souza Neves: Ele era um grande amigo da minha família, sobretudo da minha avó. Era uma pessoa muito hu- mana, muito próxima. Ainda que eu tenha a exata medida da pessoa pública que foi Dom Helder Câmara, eu percebo que não havia uma fratura entre a pessoa pública e a privada. Ele era ele em qualquer lugar. E era uma pessoa que não se deixava calar. Encontrava saídas, sempre inteligentes e inesperadas, para as mais diversas situações. Eu nunca tive essa distância reverencial em relação a ele porque éramos muito próxi- mos. As pessoas o olhavam e pediam que abençoasse seus filhos, porque sabiam o que ele representava. Ele fazia questão de não ser extraordinário, embora o fosse. Crescia enormemente com seus gestos e palavras. Era alguém que sabia expressar o carinho, a empatia, e que abraçava acolhedoramente. JORNAL DO SINTUPERJ: Como começou o envolvimento dele com os movimentos contra a ditadura? Margarida de Souza Neves: É importante frisar que até os anos 1930 ele era um padre integralista, de direita, reacionário, com a mentalidade de boa parte da igreja católica da época. Em 1952 é nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro. Mas antes disso, começa a ter maior contato com a intelectualidade da época. O contato com os mais pobres, sobretudo, foi fazendo Dom Helder mudar de lugar social. Ele sempre repetia uma frase muito interessante: “Eu mudei minhas ideias. Só não muda de ideias quem não tem ideias para mudar”. Foi, sem dúvida, um importante articulador no Concílio Vaticano II – esse concílio foi rea- lizado de 1962 a 1965 e definiu, entre outras coisas, o compromisso da igreja católica na solução de problemas sociais e econômicos, o que fortaleceu a ala progressista da igreja, da qual Dom Helder passou a fazer parte –. Depois do Vaticano II, a justiça social foi muito sublinhada na igreja, que assumiu uma postura de busca de estruturas sociais mais justas. O concílio termina em 1965 e em 1968 a ditadura recrudesce. JORNAL DO SINTUPERJ: Conte um pouco sobre a censura ao nome de Dom Helder na imprensa brasileira. Margarida de Souza Neves: A partir de 1972 Dom Helder passa a ser os- tensivamente vigiado pelo Dops – Departamento de Ordem Política e Social – e pelos mi- litares. Seu nome não pode sair em nenhum veículo de comunicação. Além disso, também é impedido de falar em público no país. Sequer para se defender ele podia se pronunciar. JORNAL DO SIN- TUPERJ: Sabe- se que Dom Helder denun- ciou ao mundo as torturas co- metidas no Brasil. Qual foi a repercus- são delas? Margarida de Souza Ne- ves: Nesse tempo, de 1968 a 1977, a voz de Dom Helder Câmara tinha repercussão como nenhuma outra voz brasileira. Censurado no Brasil, Dom Helder aproveita suas viagens ao exterior e fala livremente para o mundo e com ampla reper- cussão. Tanto que foi indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz, mas o governo bra- sileiro interveio para que ele não ganhasse esse prêmio. Recebeu prêmios alternativos, mas o Nobel nunca lhe foi atribuído. JORNAL DO SINTUPERJ: Além do auto- ritarismo e das armas, o que mais Dom Helder enfrentou? Margarida de Souza Neves: Para além da repressão, da intimidação da ditadura, ele enfrentou a violência contra os que eram mais próximos a ele. Imagino que ele deve ter passado por momentos muito duros de pressão dentro da igreja também. O conflito faz parte da história. Ele, que era tão confiante na palavra e na liberdade, de repente se vê impedido de falar. Isso, para ele, deve ter sido muito duro, mas nunca o ouvi reclamar disso. JORNAL DO SINTUPERJ: Um dos golpes mais duros foi o assassinato do padre Antônio Henrique. Como a senhora percebe este episódio? Esta foi uma clara tentativa de calar a voz de Dom Helder? Margarida de Souza Neves: Sem dúvidas. Mais do que intimidá-lo, essa era uma forma de culpabilizá-lo. É uma forma terrível de praticar violência contra alguém. O Henri- que foi morto de uma maneira brutal. Essa foi a violência mais terrível. Matar Dom Helder tinha um preço político muito alto, então matar quem lhe era próximo era uma forma de matá-lo. Fazia parte do arsenal de brutalidade institucional da época. JORNAL DO SINTUPERJ: E por que não conseguiram? Margarida de Souza Neves: Em parte por sua coragem, mas também porque sua voz ecoava o que de melhor existia na socie- dade brasileira. Não conseguiram calar sua voz, como não conseguem calar a voz do desejo da democracia. Não calaram a voz dele, porque essa voz não era só dele, era da democracia, da justiça social, era uma voz plenamente humana. Não era uma voz isolada, mas ele teve a coragem de pô-la a serviço de tantas outras vozes caladas. JORNAL DO SINTUPERJ: Qual a interfe- rência que Dom Helder teve na conquista da anistia política, que neste ano faz 30 anos? Margarida de Souza Neves: Ele era um grande articulador. Em geral estava nos bastidores, mas certamente foi um dos responsáveis por isso. Ele manteve-se coerente com os valores que acreditava e soube ter, em determinados momentos, gestos importantes. Exemplo disso são os episódios com o militante comunista Gregório Bezerra, torturado duramente, a quem fez questão de cumprimentar pes- soalmente em uma manifestação nas ruas de Recife, seu enfrentamento às tropas militares quando cercaram estudantes na Universidade Católica de São Paulo ou ainda as denúncias à tortura. JORNAL DO SINTUPERJ: Qual o legado que Dom Helder Câmara deixou para essa e futuras gerações no que diz respeito ao processo de lutas contra as injustiças sociais? Margarida de Souza Neves: Seu legado é como ele: muito plural e muito singular. Le- gado de busca por justiça, de liberdade, de dignidade, de defesa de direitos humanos. De humanidade densa e plena. De capacida- de de acreditar no coletivo. Cem anos depois de seu nascimento tem sentido falar sobre ele. Uma vida que tem sentido e que confe- re sentido. E cada pessoa buscará na plura- lidade de Dom Helder o legado que deseja. Para conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra de Dom Helder Câmara, acesse as páginas eletrônicas: www.ccpg. puc-rio.br/memoriapos/dhc e www.cen- tenariodomhelder.com.br.