2. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO
A obra Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett foi escrita na época do Romantismo
(movimento cultural que surgiu na Europa e nos Estados Unidos da América na segunda
metade do século XVIII).
Em Portugal foi um período marcado pela Guerra Civil entre Liberalistas e Absolutistas.
Os Liberalistas defendiam a liberdade de expressão, a separação dos poderes do Rei e a
governação respeitando a Constituição enquanto os Absolutistas opunham-se a estas
ideias e defendiam o poder absoluto do Rei e a existência de grupos sociais privilegiados
(Nobreza e Clero).
D. Maria II foi coroada rainha de Portugal com 7 anos porque o seu pai (D. Pedro IV)
abdicou do trono.
D. Pedro IV foi o segundo filho varão de D. João VI e D. Carlota Joaquina. Foi líder dos
Liberalistas.
D. Miguel, seu irmão e terceiro filho varão, foi líder dos Absolutistas e recebeu o
cognome de “O Usurpador” por ter-se apoderado do trono ilegitimamente.
3. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO
D. Pedro IV renunciou a coroa de Portugal porque já era imperador do Brasil
e, por isso, favoreceu a sua filha. Quando abdicou da coroa impôs duas
condições: A primeira era que a Carta Constitucional fosse jurada pelo reino
e por D. Miguel. A segunda era que D. Miguel casasse com D. Maria II.
D. Miguel desrespeitou a Carta Constitucional e proclamou-se rei absoluto.
D. Maria subiu ao trono definitivamente em 1834 quando D. Miguel assinou o
acordo de paz que acabou com a Guerra Civil. Durante o seu reinado, D.
Maria deparou-se com várias revoluções e contra-revoluções.
Alguns dos feitos significativos realizados pela rainha foram o
estabelecimento do ensino primário gratuito, a abolição do tráfego de
escravos nas colónias portuguesas e a abolição da pena de morte em
Portugal.
4. CONTEXTUALIZAÇÃO DA OBRA
A acção passa-se em 1578, El-rei D. Sebastião e D. João de Portugal
partiram para a batalha de Alcácer Quibir. Nesta batalha foram dados como
desaparecidos. D. Sebastião deixando um trono sem rei, e D. João a sua
mulher- D. Madalena – que durante sete exaustivos anos o procurou
incessantemente foi levada a pensar pelas evidencias que este tinha morrido.
Assim, resolveu casar de novo com o seu verdadeiro amor D. Manuel de
Sousa Coutinho. Começando todo o conflito da obra quando estes tem uma
filha - D. Maria - que apenas seria legitima se D. João estivesse realmente
morto.
5. CONTEXTUALIZAÇÃO DA OBRA
O tempo histórico insere a acção numa determinada época histórica. Ao longo
da obra são várias as referencias que nos permitem fazer a identificação do
tempo histórico :
• a referência à batalha de Alcácer Quibir ;
• as desavenças entre portugueses e castelhanos, após a perda da
independência nacional ;
• o facto de haver peste em Lisboa ;
• o sebastianismo (representado por Maria e Telmo) ;
• as alusões feitas a Camões (feitas por Telmo) e a Bernardim Ribeiro (Maria,
no início do acto segundo, cita a frase que abre a novela Menina e Moça
deste escritor) ;
6. CONTEXTUALIZAÇÃO DA OBRA
A trajetória das personagens limita-se às cidades Lisboa e Almada,
numa época de peste em processo de declínio.
Inserida num momento em que Portugal estava sob domínio
espanhol e sofria conflitos com a Inglaterra.
A Influência das lutas pela liberdade religiosa no século XVI. Os
ingleses já haviam traduzido as sagradas escrituras, em Portugal,
somente os religiosos dominavam os segredos do catolicismo,
onde as missas ainda eram rezadas em Latim.
7. CONTEXTUALIZAÇÃO DA OBRA
Referências cronológicas que surgem na obra:
período anterior a 1578 - casamento de D. Madalena com D. João de Portugal
4 de agosto de 1578 - batalha de Alcácer Quibir; desaparecimento de D. João de Portugal (assim como do
rei D. Sebastião)
de 1578 a 1585 (7 anos) - durante este período, D. Madalena faz todos os esforços, no sentido de saber
notícias de D. João de Portugal, sem, contudo, obter qualquer resultado
1585 - D. Madalena casa com Manuel de Sousa Coutinho, por quem se apaixonara ainda durante o seu
primeiro casamento
1586 - da união de Manuel de Sousa Coutinho e de D. Madalena nasce Maria (que tem treze anos à data
do início da ação)
1599 (catorze anos após o casamento de Manuel de Sousa Coutinho e de D. Madalena) - ano em que
decorre a ação
O período que permeia entre o desaparecimento de D. João de Portugal, em 1578, e o momento em que se
desenrola a ação é constituído por vinte e um anos, o que significa que a tragédia apresentada é vivida em
1599.
8. CARACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS
Sebastianismo - alimentado por Telmo e Maria;
Patriotismo e nacionalismo - além do que decorre do Sebastianismo, deve-
se ter em conta o comportamento de Manuel de Sousa Coutinho ao incendiar
o seu próprio palácio para impedir que fosse ocupado pelos Governadores ao
serviço de Castela;
As personagens falam e agem, demonstrando assim um patriotismo ufanista:
“– O meu nobre pai! Oh, meu querido pai! Sim, sim, mostrai-lhe quem sois
e o que vale um português dos verdadeiros!”
9. CARACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS
Crenças e superstições - alimentadas por Madalena, Telmo e
Maria, que, sistematicamente, aludiam a agouros, visões, sonhos;
Religiosidade - uma referência de todas as personagens; note-se,
no entanto, a religiosidade de Manuel de Sousa Coutinho , que
inclui o uso da razão e que determina a entrada em hábito como
solução do conflito; Madalena, por exemplo, não compreende a
atitude de Joana de Castro, a condessa de Vimioso que se tornou
freira (Soror Joana);
10. CARACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS
Individualismo - o confronto entre o indivíduo e a sociedade é particularmente visível em Madalena;
tema da morte - a morte como solução dos conflitos é um tema privilegiado pelos românticos; no
caso do Frei Luís de Sousa, verifica-se:
- a morte física de Maria (morre tuberculosa);
- a morte simbólica de Madalena e de Manuel, que, ao tomarem o hábito, morrem para a vida
mundana;
- morte simbólica de D. João de Portugal que, depois de admitir que morreu no dia em que sua mulher
o julgou morto, simbolicamente, morre uma segunda vez, quando Telmo, depois de lhe ter desejado a
morte física como única maneira de salvar a sua menina, o seu anjo (Maria), aceita colaborar com o
Romeiro no sentido de afirmar que se trata de um impostor, numa última tentativa de evitar a catástrofe;
- morte psicológica de Telmo (ver texto de António José saraiva);
11. CARACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS
- Idealização de personagens femininas:
D. Manuela, D. Joana de Castro são exemplos das mais diversas virtudes. O
segundo casamento de D. Manuela não chega a ser uma atitude
pecaminosa, visto que procurou por D. João de Portugal durante sete anos,
investindo uma grande quantia de dinheiro nessa procura. Somente quando
todos, exceto Telmo Paes, desacreditaram na possibilidade de D. João estar
vivo, consolidou a sua união com D. Manuel. Maria, por sua vez, é citada
como um anjo de bondade.
12. CARACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS
Notamos que esse pessimismo explícito abre portas ao metafísico, sob a forma de
presságios e agouros, que disputam, em pé de igualdade com os dogmas do catolicismo,
e da fé popular. Algumas personagens acreditam em Deus, com alguns receios que as
suas sensações são algum aviso de que alguma coisa péssima que ira acontecer:
“...não entremos com os teus agouros e profecias do costume: são sempre de
aterrar... Deixemo-nos de futuros...”
- Pessimismo: é facilmente detetado no diálogo das personagens:
“– Meu adorado esposo, não te deites a perder, não te arrebates. Que farás tu contra
esses poderosos?”
“Crê-me que to juro na presença de Deus; a nossa união, o nosso amor é impossível.”
13. CARACTERISTÍCAS ROMÂNTICAS
Sentimentos e emoções conturbados: não há paz e tranquilidade no
relacionamento das personagens principais. Amor e medo caminham juntos,
gerando atitudes precipitadas e movidas pelo desespero:
...peço-te vida, vida, vida... para ela, vida para a minha filha!”
Se Deus quisera que não acordasse!”
Vamos; eu ainda não me intendo bem claro com esta desgraça. Diz-me, fala-me a
verdade: minha mulher...– minha mulher! com que boca pronuncio eu ainda estas
palavras! – D. Madalena o que sabe?”
A natureza também não se apresenta sempre tranquila. Vimos na
descrição do Tejo que as suas águas ficam furiosas quando o tempo muda:
“Mas neste tempo não há de fiar no Tejo: dum instante para o outro levanta-se um
nortada... e então aqui o pontal de Cacilhas! Que ele é tão bom mareante...”
14. CARACTERISTÍCAS ROMÂNTICAS
Escapismo: quando a situação adquire uma carga insuportável de
sofrimento moral e emocional, os protagonistas não enfrentam o repúdio da
sociedade e aceitam o refúgio na vida religiosa:
“Madalena... senhora! Todas estas coisas são já indignas de nós. Até ontem, a
nossa desculpa, para com Deus e para com os homens, estava na boa-fé e
seguridade de nossas consciências. Essa acabou. Para nós já não há senão
estas mortalhas (tomando os hábitos de cima da banca) e a sepultura dum
claustro.”