2. A guerra de Ifni tratou-se de uma série de incursões
armadas ao Saara Ocidental por insurgentes Marroquinos e
rebeldes Sahrawi iniciada em Outubro de 1957 e que
culminou no cerco à cidade de Sidi Ifni. A guerra, que pode
ser vista como uma parte do movimento geral de
descolonização que percorreu a África na segunda metade
do século XX, foi levada a cabo numa fase inicial por
elementos do Exército de Libertação de Marrocos que
dedicaram uma considerável parte dos seus recursos à
captura das possessões espanholas.
3. Causas
A cidade de Sidi Ifni foi incorporada no Império Colonial Espanhol
em 1860. As seguintes décadas de colaboração Franco-Espanhola
resultaram na criação e expansão de protetorados espanhóis a sul da
cidade e a influência espanhola obteve reconhecimento internacional na
Conferencia de Berlim de 1884. Em 1946, as várias colónias na região
foram consolidadas com a formação da África Ocidental Espanhola.
Imediatamente após ter obtido a sua independência de França em 1956,
Marrocos revelou interesse nas possessões espanholas, declarando que
eram historicamente e geograficamente parte do território marroquino. O
Sultão marroquino Mohammed V encorajou os esforços para retomar a
terra e financiou pessoalmente conspiradores contra Espanha em Ifni.
4. O rebentar da guerra
A 10 de Abril surgem violentas demonstrações contra o domínio
estrangeiro em Ifni, seguidas por conflitos civis e uma onda de
assassinatos a leais a Espanha. Em retaliação,
o Generalíssimo Franco enviou dois batalhões da Legião
Espanhola em Junho. A mobilização militar espanhola acabou por
fazer convergir o exército marroquino perto de Ifni. A 23 de
Outubro, duas aldeias, foram ocupadas por 1.500 soldados
marroquinos. Outros dois batalhões espanhóis chegaram ao Saara
espanhol ainda antes das hostilidades terem começado.
5. O assalto a Ifni
A 21 de Novembro, os serviços secretos espanhóis em Ifni
informaram que ataques marroquinos perto de Tafraut estavam
iminentes. Dois dias mais tarde as linhas de comunicação
espanholas foram cortadas e uma força de 2.000 homens tomam
de assalto quartéis espanhóis e armazéns em Ifni e nas
redondezas. Embora a investida marroquina em Sidi Ifni tenha sido
repelida com facilidade, dois postos espanhóis nas redondezas
foram abandonados face aos ataques e muitos outros mantiveram-
se sob cerco apertado.
6. Tiluin
Em Tiluin, 60 atiradores num conjunto composto por membros do
exercito e milícias locais, esforçaram-se para repelir uma força de
centenas de marroquinos. A 25 de Novembro um esquadrão de
cinco bombardeiros, bombardearam posições inimigas, enquanto
outros cinco aviões de carga deixaram 75 paraquedistas no posto.
A 3 de Dezembro, soldados do 6º batalhão da Legião espanhola
chegaram e puseram termo ao cerco, retomando o aeródromo.
Todo o pessoal militar e civil foi então evacuado para Sidi Ifni.
7. Telata
A libertação de Teleta deu-se com menos sucesso. Em 24 de
Novembro saiu de Sidi Ifni uma companhia de paraquedistas da
Legião Espanhola a bordo de camiões. O terreno acidentado e as
frequentes emboscadas marroquinas forçaram os espanhóis para
fora da estrada e causaram vários feridos. Dois dias após a
partida a companhia ficou sem comida. Com poucas munições, os
espanhóis continuaram a marcha sendo alvos de repetidos
ataques. Foram lançadas várias rações por aviões mas o número
de mortos continuou a subir, entre eles o Capitão. A 2 de
Dezembro uma coluna de infantaria irrompeu as linhas
marroquinas e repeliu o cerco.
8. O cerco a Sidi Ifni
Os ataques marroquinos iniciais foram bastante frutíferos. No
espaço de duas semanas os marroquinos e aliados tribais
tinham garantido já o controle de grande parte de Ifni, isolando
a infantaria espanhola da capital. Ataques simultâneos
lançados por todo o Saara espanhol permitiram aos
marroquinos capturar postos e emboscar patrulhas. Na
esperança de criar revoltas em Sidi Ifni as forças marroquinas,
agora reforçadas, iniciaram o cerco à cidade. No entanto este
esforço foi em vão, pois as defesas espanholas estavam além
das estimativas marroquinas.
9. Com recursos trazidos pela Marinha Espanhola e
quilómetros de trincheiras e postos, Sidi Ifni com
cerca de 7.500 soldados provou ser impugnável. O
cerco, que durou até Junho de 1958, foi monótono e
deu-se praticamente sem derrame de sangue, pois
tanto Espanha como Marrocos tinham concentrados
os seus recursos em terras do Saara.
10. A reconquista do Saara espanhol
Em Janeiro de 1958, Marrocos redobrou o seu empenho para com
a campanha espanhola, reorganizando todas as unidades militares
no território espanhol como. Os espanhóis foram atacados mas
venceram e forçaram os marroquinos a concentrar os esforços a
sudeste. No entanto, pequenos grupos de homens com
espingardas escondidos em dunas perto de postos espanhóis
atacavam batalhões que passavam despercebidos.
11. Em Fevereiro, companhias Franco-Espanholas lançaram uma grande
ofensiva que desmantelou com sucesso o Exército de Libertação de
Marrocos. Pela primeira vez, um poder massivo aéreo europeu foi
posto em ação quando França e Espanha fizeram decolar uma frota
conjunta de 150 aviões. Os fortes montanhosos em Tan-Tan foram
os primeiros a cair, bombardeados pelo ar e sofrendo ataques por
terra. O exército espanhol, em conjunto com as forças francesas
lançaram um ataque final sobre os marroquinos a 21 de Fevereiro,
destruindo as concentrações do Exército de Libertação de
Marrocos.
12. Consequências
A 2 de Abril os governos de Espanha e Marrocos assinaram
o Tratado de Angra de Cintra. Marrocos obteve a região de
Tarfaya. Espanha manteve o domínio sobre Ifni até 1969, quando
sob pressão internacional, o território foi cedido a Marrocos. Só
em 1975 o Saara Ocidental teve o mesmo destino. Marrocos
renunciou a parte de Tinduf na zona de França, e a Mauritânia