Jornal A Família Católica, 9 edição fevereiro 2014
1. Falta aos cônjuges modernos,
mesmos católicos a confiança
em Deus. Temos o direito de
exprobrar-lhes a falta de gene-
rosidade e de esperança. O
tremendo egoísmo burguês
dessorou os corações. O filho já
não é "mais um criado" das
antigas participações de nasci-
mento do interior do Brasil. O
filho é hoje economicamente
encarado, "um herdeiro". Vê-se
no filho a nascer mais um leito,
mais um prato, mais uma men-
salidade de colégio. Pior ainda,
talvez: "mais um trabalho". A
própria mãe é quem teme e se
queixa. As queixas mais lamen-
táveis para lábios maternos:
está envelhecendo; não pode
mais frequentar a sociedade;
não tem mais tempo para nada;
as senhoras antigas podiam ter
muitos filhos, mas hoje não! É a
linguagem do egoísmo gélido e
desalmado. E isto é tanto pior
quanto são os aquinhoamentos
da fortuna que mais se quei-
xam.
Outros experimentam reais
dificuldades. Cresce-lhes a famí-
lia e não se lhes aumentam os
meios. A continuar assim, te-
mem chegar à penúria.
A uns e outros lembramos que
a generosidade divina não se
deixa vencer. Retrai-se diante
dos que retraem. Mas não terá
limites com os que põem no Pai
toda a sua confiança. "Quando
Deus dá a boca, dá o prato",
diziam os nossos antigos, muito
mais cristãos do que nós. E o
Livro Sagrado afirma na palavra
do Salmista: "Nunca vi o justo
abandonado, nem a sua des-
cendência a mendigar o
p ã o " ( S l . 3 6 , 3 5 ) .
As dificuldades econômicas
ou pessoais com uma família
numerosa são largamente com-
pensadas. Os que querem filhos
bem educados só têm que de-
Confiança em deus
Mons. Alvaro negromonte
SANTOS E
FESTAS DO MÊS:
01– Santo Inácio de Antio-
quia;
02– Purificação de Nossa
Senhora;
05– Santa Águeda;
09– São Cirilo;
10– Santa Escolástica;
14– São Valentim;
22– Cátedra de São Pedro;
23– São Pedro Damião.
doutor da Igreja;
27– São Gabriel de Nossa
Senhora das Dores;
N E S T A
E D I Ç Ã O :
Matrimônio 1
Quarta-feira de cinzas 2
Virtudes do lar 3
Crise da Igreja 4
Fevereiro/ 2014Edição 9
A Família Católica
C A P E L A N O S S A S E N H O R A D A S A L E G R I A S
sejá-los numerosos. É a família
numerosa o melhor ambiente
para uma boa educação. Importa,
porém, não confundir a boa edu-
cação, formadora de homens
fortes, viris e santos, com as facili-
dades que servem apenas para
fazer comodistas, gozadores e
maricas.
Os bons cristãos não se satisfa-
zem com não pecar pelo escânda-
lo infundado que venha a provo-
car seu procedimento correto.
Querem dar bom exemplo: que
seu procedimento brilhe como a
luz do Evangelho, posta sobre o
alqueire. Os seus muitos filhos
serão estímulo à covardia de uns,
à falta de confiança de outros.
Mais. Para os bons cristãos o
matrimônio é um Sacramento:
coisa sagrada, fonte eficaz das
graças divinas, figura da mística e
real união entre Cristo e a Igreja.
Ao administrar-se este sacramen-
to, a Igreja expressou aos cônju-
ges seus sentimentos a este
respeito. Está na benção nupcial
que a esposa seja “fecunda em
prole” e "como a vide abundan-
te"; que os filhos "estejam em
redor da mesa, como rebentos
de oliveira"; e nisto estão as ben-
çãos de Deus: "assim será aben-
çoado o homem que teme o Se-
nhor". A estes ensinamentos
cristãos refere-se a Encíclica
Casti Connubbi:
"Daí se vê facilmente quão
grande dom da bondade divina e
quão precioso fruto do matrimô-
nio sejam os filhos, germinados
da força onipotente de Deus e
com a cooperação dos cônjuges".
E, mais expressi-
vamente ainda:
"Os cônjuges verão
nos filhos, recebidos
com ânimo pronto e
reconhecido das
mãos divinas, um
tesouro que lhes foi
confiado por Deus,
não para dele servir-
se em sua própria
vantagem nem da
pátria terrena, mas
para restituí-lo de-
pois, com juros, no
dia da prestação
final das contas".
É, sem dúvida, a
perfeição cristã. E a
perfeição não se
impõe. Mas se
aconselha. E tem-se
o direito de esperar
dos bons cristãos,
p r i n c i p a l m e n t e
quando o mundo
tanto precisa de
bons exemplos e de ação regene-
radora.
Fonte: Noivos e esposos
2. A F a m í l i a C a t ó l i c aE d i ç ã o 9
procissão na qual os penitentes iam des-
calços; retornando, eram lançados solene-
mente fora da Igreja pelo Bispo que lhes
dizia: “Os expulsamos do recinto da Igreja
por vossos pecados e crimes, como Adão,
o primeiro homem foi expulso do paraíso
por sua desobediência.” Cantava em con-
tinuação o clero alguns responsórios reti-
rados do Gênesis, em que se recordavam
as palavras do Senhor, que condenavam o
homem ao suor e ao trabalho nesta terra
já maldita. Fechava em seguida as portas
da Igreja. E os pecadores não deviam pas-
sar seus portais até chegar a Quinta feira
Santa, onde receberiam com solenidade
a absolvição.
Extensão do rito litúrgico.
Depois do século XI começou a cair em
desuso a penitencia pública; em troca, o
costume de impor as cinzas a todos os
fiéis neste dia, chegou a generalizar-se e
foi classificado entre as cerimônias essen-
ciais da Liturgia romana. Antigamente, se
aproximavam descalços para receber este
aviso do nada do homem, e ainda em
pleno século XII o mesmo Papa saía de
Santa Anastásia até Santa Sabina onde se
celebrava a Estação e ia descalço, como
os Cardeais de seu cortejo. A Igreja cedeu
nesta severidade exterior, sem deixar de
ter grande estima dos sentimentos que
tão imponente rito deve produzir em nos-
sas almas.
Como acabamos de insinuar, a estação
em Roma se celebra hoje em Santa Sabi-
na, sobre o Monte Aventino. Baixo os aus-
pícios desta santa mártir se inicia a peni-
tência quaresmal.
Começam as sagradas cerimônias pela
benção da cinza. Procedem dos ramos
bentos do ano anterior no domingo antes
da Páscoa. A benção que recebem neste
novo estado tem por finalidade fazer-nos
mais dignos do mistério de contrição e
humildade que vai significar.
O ano litúrgico—Dom Guéranger
Convite do profeta
Fervia ontem o mundo nos prazeres, e
os mesmos cristãos se entregavam a
expansões permitidas; mas já de madru-
gada ressoou em nossos ouvidos a trom-
beta sagrada que nos fala o Profeta.
Anuncia a solene abertura do jejum qua-
resmal, o tempo de expiação, a proximi-
dade mais iminente dos grandes aniver-
sários de nossa Redenção. Avante, pois,
cristãos, preparemo-nos a combater as
batalhas do Senhor.
Armadura espiritual.
Nesta luta, contudo, do espírito contra a
carne, temos de estar armados, e é aqui
que a Igreja nos convoca em seus tem-
plos para treinar-nos nos exercícios, na
esgrima da milícia espiritual. São Paulo
nos deu já a conhecer em pormenor as
partes de nossa defesa: “Cingi vossos
lombos com a verdade, revestida a cou-
raça da justiça, e calçados os pés pron-
tos para anunciar o Evangelho da paz.
Levando em todo momento o escudo da
fé e a esperança de poupar-vos pelo
elmo que protege a cabeça”. O Príncipe
dos Apóstolos vem por sua parte a dizer-
nos: “Cristo padeceu na carne, armai-vos
também vós deste mesmo pensamen-
to”. A Igreja nos recorda hoje estes ensi-
namentos apostólicos, mas acrescenta
por sua parte outros não menos elo-
quentes, fazendo-nos subir até o dia da
prevaricação, que fez necessário os
combates à que vamos nos entregar, às
expiações que vamos de passar.
Inimigos com quem temos que lutar.
Duas classes de inimigos nos enfrentam
decididos: as paixões em nosso coração
e os demônios por de fora. O orgulho
acarretou esta desordem. O homem se
negou a obedecer a Deus. Deus perdo-
ou, com a dura condição de que teria
que morrer. Disse-lhe, pois: “Sois pó,
homem, e ao pó retornarás”. Ai! Como
esquecemos este saudável aviso? Hou-
vera bastado somente ele para fortale-
cer-nos contra nós mesmos persuadidos
do nosso nada, não nos houvéramos
atrevido a quebrar a lei de Deus. Se
agora queremos perseverar no bem, em
que a graça de Deus nos restabeleceu,
humilhemo-nos, aceitemos a sentença e
consideremos a vida como um caminho
mais ou menos curto que acaba na tum-
ba. Com esta perspectiva, se renova
tudo, tudo se explica. A bondade imensa
de Deus que se dignou amar a seres
condenados à morte nos apresenta ain-
da mais admirável; nossa insolência e
nossa ingratidão contra quem desafia-
mos nos breves instantes de nossa exis-
tência nos parece cada vez mais para
ser sentida, e a reparação que podemos
fazer e que Deus se digna aceitar, mais
posta em razão e salutar.
Imposição da cinza.
Este é o motivo pelo qual decidiu a Igreja,
quando julgou oportuno antecipar de
quatro dias o jejum quaresmal, a iniciar
este santo tempo, assinalando com cinza
a frente culpável dos seus filhos e repe-
tindo a cada um as palavras do Senhor
que nos condenam à morte. O uso, con-
tudo, como sinal de humilhação e peni-
tência, é muito anterior a presente insti-
tuição e a vemos praticada na antiga
aliança. Jó mesmo, no seio da gentilida-
de, cobria de cinza sua carne ferida pela
mão de Deus, e implorava deste modo
sua misericórdia. Mais tarde o salmista
na contrição viva de seu coração, mes-
clava cinza com o pão que comia, e aná-
logos exemplos abundam nos livros his-
tóricos e nos Profetas do Antigo Testa-
mento. E é que vivamente sentiam então
já a relação que há entre esse pó de um
ser materialmente queimado e o homem
pecador, cujo corpo há de ser reduzido a
pó, ao fogo da divina justiça. Para salvar
então a alma, acudia o pecador a cinza e
reconhecendo sua triste fraternidade
com ela se sentia mais resguardado da
cólera daquEle que resiste aos soberbos
e tem desejo de perdoar aos humildes.
Penitentes públicos
O uso litúrgico da cinza na quarta feira da
Quinquagésima, não parece haver-se
dado no começo a todos os fiéis, senão
aos culpados de pecados cometidos na
vida pública da Igreja. Antes da Missa se
apresentavam no templo onde o povo
estava reunido. Os sacerdotes ouviam a
confissão dos seus pecados, e depois os
cobriam de cilícios e derramavam cinzas
sobre suas cabeças. Depois desta ceri-
mônia, clero e povo, se prostravam em
terra e rezavam em voz alta os sete sal-
mos penitenciais. Tinha lugar depois a
QUARTA-FEIRA DE CINZAS
O ANO LITÚRGICO—DOM PROSPERO GUERANGER
3. É virtude evangélica, sem dúvida. Olhe-
mos para Nossa Senhora. Todo o início
do Evangelho de São Lucas gira em torno
dEla; é Ela que obtém de seu Filho o mi-
lagre das bodas de Caná. Mas, depois, só
volta a aparecer uma única vez durante a
missão do Salvador. Todo o resto do tem-
po, Maria desaparece, cedendo o lugar
às santas mulheres que cuidam do Se-
nhor e dos Apóstolos. Apaga-se até à
hora trágica da Cruz, em que volta para
junto de seu Filho que vai morrer.
E que grande modelo desse saber pas-
sar despercebido é São José! O Evange-
lho assinala a sua presença quando o
Menino e sua Mãe precisam dos seus
serviços. Fora disso, nem é mencionado.
Quanto a Jesus, o Filho de Deus que se
abaixou até à nossa condição de criatu-
ras, lembremo-nos de como se furta às
ovações das multidões. Não quer que se
fale das curas que realiza. Apaga-se dian-
te de seu Pai, de quem é apenas o envia-
do. (...)
O amor próprio afirma-se, põe-se em
evidência, instala-se, avoca tudo para si.
E os outros? Dos outros só conhecemos
aquilo que nos devem ou aquilo que de-
les podemos tirar.
Daí surgem os conflitos que arruínam o
bom entendimento entre os homens.
“Por que devo ser passado para trás? Por
acaso serei menos capaz do que aquele
outro?”, pensará este.“ Tenho as mes-
mas necessidades que aquele, e pelo
menos os mesmos méritos”, opinará
outro. (...)
E quase se chega à conclusão de que a
humildade não pode ser tida por virtude,
pois, se a puséssemos em prática, con-
duziria ao aniquilamento total da perso-
nalidade.
Ora, aí está algo que revela uma extre-
ma confusão de ideias. O Evangelho–
como teremos ocasião de repetir– é
uma escola de grandeza e de audácia.
Longe de nos aniquilar, obriga-nos, pelo
contrário, a fazer render ao máximo
todas as nossa qualidades naturais, a
pôr-nos na primeira fila à hora de agir;
mas, depois de termos agido o melhor
que tenhamos podido, obriga-nos tam-
bém a não nos darmos importância.
Esse é o primeiro aspecto da virtude do
saber “apagar-se”.
Aliás, a palavra já exprime o que que-
remos dizer. O professor não teria nada
P á g i n a 3 A F a m í l i a C a t ó l i c a
que apagar do quadro-negro se antes não
tivesse escrito na ardósia algumas letras
ou números. Só posso apagar-me depois
de ter agido; só posso desaparecer depois
de me ter mostrado.
A humildade não consiste em esconder-
se para não fazer nada, mas em não nos
admirarmos a nós próprios depois de ter-
mos feito o máximo e o melhor que tenha-
mos podido. Mais ainda: se queremos ter
sucesso em algum trabalho, é preciso que
não tenhamos nada em vista além desse
trabalho, sem buscarmos aplausos. Se
queremos falar utilmente, é necessário
pensarmos unicamente no que dizemos,
sem nos escutarmos a nós mesmos. Não
se pode ser ao mesmo tempo espectador
e ator; não podemos ir até à janela para
nos vermos passar. (...)
A pequena virtude do saber passar des-
percebido não só não nos diminui, como
apresenta um outro aspecto que a relacio-
na com a caridade. O discípulo de Jesus
Cristo, além de não se admirar a si mes-
mo, alegra-se em reconhecer o bem que
os outros fazem, especialmente o que os
outros fazem melhor do que ele. Ninguém
o ouvirá vangloriar-se, antes será ele
quem primeiro louvará com satisfação o
sucesso dos outros. Assim como desapa-
rece por detrás do seu trabalho bem feito,
também se apaga com toda a simplicida-
de por detrás das qualidades e dos méri-
tos dos seus semelhantes. São Paulo não
hesita em fazer desta disposição um pre-
ceito universal: Que cada um de vós, com
toda a humildade, considere os outros
superiores a si (Rom 12,10).
Não nos assustemos. O Apóstolo não nos
pede que neguemos a evidência. Não é
necessário fecharmos os olhos diante das
nossas próprias qualidades; não há dúvi-
da de que somos mais talentosos ou mais
virtuosos do que muitos outros, sob vários
pontos de vista. Mas não é menos verda-
de que mesmo aqueles que com toda a
razão consideramos inferiores a nós, tem
aptidões e virtudes que nós não possuí-
mos, pelo menos no mesmo grau. (...)
Mais, um passo e chegaremos à perfei-
ção. Já que os outros tem méritos e direi-
tos como nós, por que havemos de exigir
que se curvem sempre diante de todas as
nossas vontades?
Há momentos em que um chefe de famí-
lia tem de impor a sua decisão, sob pena
de estar traindo o seu dever. Mas, nesses
casos, não é a sua opinião ou o seu gosto
que ele faz prevalecer: está exigindo o
respeito a uma lei superior, a que ele pró-
prio se submete em primeiro lugar. Fora
destes casos, em que a autoridade tem o
dever de exercer as suas responsabilida-
des, sempre o melhor meio de assegurar o
bom relacionamento no lar é que cada um
se proponha tornar a vida amável aos
outros.
Ninguém quererá negar esta evidência.
Se a mãe mereceu ser chamada a rainha
do lar, é menos porque todos lhe obede-
cem do que por apagar-se continuamente
a serviço de todos. Não disse Jesus Cristo
que o maior de todos é aquele que serve
os outros? A mãe é a alma do lar porque
cuida de tudo: deita-se por último para
por em ordem o que ficou desarrumado, e
é a primeira a levantar-se para que não
falte nada a ninguém; nunca se queixa
dos seus sofrimentos, nunca procura um
louvor; não se preocupa com o que mais
lhe conviria; sabe o que agrada ao marido
e aos filhos, desdobra-se para trazer con-
tentes todos aqueles a quem ama.
Pois bem! Seria injusto que a mãe fosse
a única a ocultar-se. Todos devem imitá-la
e, fazendo-o contribuem para o bem-estar
da família. Lares infelizes são aqueles em
que predominam as duas horrorosas leis
do “cada um por si” e do “primeiro eu”.
Cristo substituiu este reino do egoísmo
pelo do amor, que implica esquecimento
de si mesmo.
Nos lares cristãos, inverte-se a ordem
egoísta: “primeiro vem os outros, depois
eu”. Encontramos a nossa felicidade em
tornar felizes os outros. Em vez de nos
apoderarmos da cadeira mais confortável
ou de estarmos à espreita do melhor bife,
cada um se empenha em oferecê-los aos
outros e se alegra em dar-lhes prazer.
Os esposos sempre vivem em perfeita
harmonia quando, antes de exprimirem
um desejo, o marido e a mulher, cada um
por sua conta, se perguntam interiormen-
te: O que é que ela prefere? De que é que
ele gostaria?
E os filhos, não devem eles pensar que
o pai e a mãe renunciam inúmeras vezes
às suas comodidades para lhes darem
uma satisfação? Os pais alegram-se com
a felicidade dos filhos. E os filhos, por sua
vez, não devem deixar passar nenhuma
ocasião de adivinhar as preferências dos
pais, e fazê-lo discretamente, sem que
eles o percebam. Não hão de dizer:
“Ninguém pensa em mim, só eu é que me
sacrifico”. Numa família em que todos
procuram passar despercebidos, ninguém
se sacrifica. Não há necessidade de pen-
sarmos em nós mesmo, por que os outros
o fazem, antes de que nós o façamos. (...)
“Mas isso seria o paraíso na terra!”, dirá
alguém.
Não há dúvida de que sim, e desejo de
todo o coração que se faça a experiência.
A PEQUENA VIRTUDE DO PASSAR DESPERCEBIDO
AS PEQUENAS VIRTUDES DO LAR—GEORGES CHEVROT
4. DOUTRINA
O QUE É A FÉ?
A Fé é uma virtude sobrenatural pela
qual, apoiados sobre a autoridade de
Deus mesmo, atraídos e ajudados por
Sua Graça, tomamos por absolutamen-
te verdadeiro tudo o que ele revelou.
ESTA CRISE É UMA CRISE DE FÉ?
A Fé cristã parece em vias de desapare-
cer da Europa. As verdades fundamen-
tais, como a fé em Deus, a Divindade
de Jesus Cristo, o Céu, o Purgatório e o
Inferno, são cada vez menos aceitas. O
mais inquietante é que esses artigos de
Fé são negados mesmo por pessoas
que se dizem católicas e frequentam
regularmente a igreja.
A CRISE (DA IGREJA) É TAMBÉM UMA
CRISE MORAL?
A crise dos costumes acompanha a
crise de Fé. Embora São Paulo lembre
aos cristãos que devem, pela sua ma-
neira de viver, brilhar em meio a uma
geração corrupta assim como as estre-
las brilham no Universo ( Fil 2,15), pode
-se dizer que o gênero de vida dos cris-
tãos atuais não difere em nada daquele
dos filhos deste mundo, daquele dos
incrédulos. Sua Fé fraca e esvaziada
em sua substância não tem mais força
para influenciar sua vida ainda menos
para transformá-la.
QUAL A LIGAÇÃO NORMAL ENTRE A FÉ E
A MORAL?
O homem enfraquecido pelo pecado
original tem a tendência de se abando-
nar a suas paixões, perdendo assim o
domínio de si. A fé cristã, ao contrário,
mostra-lhe o que Deus espera dele e
como se deve conduzir a vida conforme
Sua vontade. O homem sabe pela Fé o
que ele pode esperar se observar os
dez Mandamentos de Deus, mas tam-
bém as penas com as quais Deus puni-
rá se ele se desviar. A Fé e os Sacra-
mentos dão-lhe a força para vencer
suas más inclinações e para se entre-
gar todo inteiro ao Bem e ao amor de
Deus.
QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS MORAIS
DE UMA CRISE DE FÉ?
Se a Fé desaparece, o homem não se vê
mais chamado à perfeição moral e à vida
eterna ao lado de Deus. Entregar-se-á
sempre mais aos prazeres desregrados
desta vida.
A ATUAL CRISE DOS COSTUMES TAMBÉM
ATINGE OS CATÓLICOS?
É o que nós experimentamos hoje. Fideli-
dade, pureza, justiça, espírito de sacrifício
etc. não são mais, até entre os cristãos,
valores incontestáveis. Um casamento em
três acaba hoje em divórcio depois de
cinco ou de dez anos; é sabido que a se-
gunda união depois do divórcio é deman-
dada por um número cada vez maior de
católicos. A revista Herderkorrespondenz
de março de 1984 dava a conhecer que,
no Tirol católico, 84% da população rejeita
o ensinamento da Igreja sobre a contra-
cepção e que, dentre as pessoas de 18 a
30 anos, a plena adesão é quase nula
(1,8%). No Valais, 81,5% dos católicos
acham que as pessoas divorciadas e reca-
sadas devem poder comungar. (Instituto
Link, 1990) Na França, em 2003, um
quarto dos católicos praticantes declara
que, para eles, “a ideia de pecado não
mais significa grande coisa”.
Edição:
Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória, ES
h p:/www.nossasenhoradasalegrias.com.br
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CATECISMO CATÓLICO DA CRISE NA IGREJA
Pe. Matthias Gaudron
NÃO HÁ TAMBÉM UMA CRISE NO CLERO?
A falta de vocação sacerdotal e religiosa,
tanto quanto as defecções, manifesta
uma crise profunda no clero. Muitos pa-
dres perderam a Fé; eles não estão mais
em condições de comunica-la aos ho-
mens e de transmitir-lhes entusiasmo por
ela.
QUAL É A REAL LIGAÇÃO ENTRE A CRISE
DE FÉ E A CRISE DO CLERO?
A crise do clero é a causa da crise de Fé
entre os fiéis. Se a Fé dos católicos que
assistem regularmente à missa dominical
está num estado tão lamentável, a causa
só pode vir de uma pregação defeituosa.
Se os padres ensinassem regularmente a
Fé Católica, a situação seria inteiramente
outra. Os homens não perderam sozinhos
a Fé; ela lhes foi arrancada no catecismo
e do alto do púlpito. Quando, no sermão,
durante anos e anos, as Verdades da Fé
são postas em xeque, relativizadas ou
até negadas abertamente, como se sur-
preender se os simples fiéis perdem a
Fé? Os mais jovens até mesmo nunca a
conheceram.
A CRISE DO CLERO É TAMBÉM UMA CRI-
SE MORAL?
A crise é antes de tudo uma crise de Fé,
mas um clero cuja Fé é fraca não tem
evidentemente mais a força de guardar o
celibato, pois isso só é possível àquele
que está animado de fé viva e de um
grande amor de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Não é um mistério para ninguém
que grande número de padres mantenha
hoje relações pecaminosas com uma
mulher, de modo mais ou menos público;
ouve-se regularmente que um padre
abandonou seu posto, confessando que
não guardava mais o celibato a anos.
Nesse aspecto, a situação do clero do
Terceiro Mundo, cujo número está em
crescimento, não é também melhor.