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DESAFIOS DO
SANEAMENTO EM
METRÓPOLES DA
COPA 2014
ESTUDO DA REGIÃO
METROPOLITANA
DO RIO DE JANEIRO
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO                 03

DESTAQUES                    04

RETRATO DO SANEAMENTO        05

QUALIDADE DE VIDA            09

ENTREVISTA SIBELLE BUONORA   13

ENTREVISTA WAGNER VICTER     15




                                  CRÉDITOS
                                          COORDENAÇÃO
                                   PROF. FERNANDO GARCIA

                                                  EQUIPE
                                        EDNEY CIELICI DIAS
                                      ANA MARIA CASTELO
                                   ANA LÉLIA MAGNABOSCO

                                            EDITORAÇÃO
                                                     GD 7




JUNHO DE 2011
APRESENTAÇÃO
O que o Rio de Janeiro, palco e centro    do Rio de Janeiro, com a estimativa da
de operações da Copa 2014 e sede          necessidade de investimentos para a
das Olimpíadas 2016, guardará de          universalização desses serviços e a
legado social substantivo desses          projeção dos benefícios socioeconômi-
eventos? Como avançar em termos de        cos decorrentes.
desenvolvimento humano, de criação            A pesquisa dá continuidade a uma
de oportunidades, de promoção da          série de trabalhos desenvolvidos a
igualdade e integração social? Ou         partir de 2007 pelo Instituto Trata
ainda, em termos nacionais, o que essa    Brasil em colaboração com a
agenda esportiva pode promover em         Fundação Getulio Vargas, com a
termos de avanços socioeconômicos         produção de um conteúdo significativo
para as cidades nela envolvidas? Essas    de conhecimento e análise dos desafi-
perguntas não encontram respostas         os a serem superados no campo do
fáceis, mas são necessárias na pers-      saneamento básico, de forma que a
pectiva de que esses eventos devem        população brasileira alcance um nível
transcender a dimensão de mero            de desenvolvimento humano compatí-
entretenimento de alto custo.             vel com as realizações e as potenciali-
   As soluções, independentemente         dades do país.
das eventuais discordâncias de diag-         O saneamento - em especial, a
nóstico, não podem ignorar problemas      coleta e tratamento de esgoto - é funda-
gritantes, materializados em realida-     mental para as condições de saúde e
des retrógradas, incomodamente            para a produtividade das pessoas,
presentes no Brasil do século 21. Este    bem como na qualificação do território,
trabalho, sem ter a pretensão de res-     tanto para a moradia como para as
ponder em toda abrangência as ques-       atividades econômicas. Desde os anos
tões acima formuladas, traz elementos     90, o país tem conseguido reduzir
importantes para a avaliação das          significativamente os níveis de pobre-
carências de um serviço público ele-      za, mas, em contraste, a questão do
mentar na distinção entre o atraso e a    saneamento avançou relativamente
modernidade, o século retrasado e o       pouco. Para, além da retórica, que
presente - o saneamento básico, princi-   esses eventos representem um marco,
palmente na coleta e tratamento dos       um passo decisivo no caminho da
esgotos. Assim é apresentado um           universalização do saneamento básico
diagnóstico da região metropolitana       nas metrópoles que os abrigarão.
DESTAQUES

    AVANÇOS

    Ÿ Estima-se que o número de domicílios com coleta de esgoto na região
      metropolitana do Rio de Janeiro chegou a 3,2 milhões em 2010
    Ÿ Esse número é 53% maior que o registrado no censo de 2000, indicando um
      crescimento de 4,3% ao ano no período. Esse desempenho recupera, em
      parte, a expansão lenta observada entre 1980 e 2000
    Ÿ O ritmo de crescimento nos últimos 10 anos foi semelhante ao observado
      no estado do Rio de Janeiro como um todo (de 4,4% ao ano) e superior à
      taxa média nacional (de 4,2% ao ano)

    DÉFICIT

    Ÿ 19% das moradias da região metropolitana do Rio não têm acesso à rede
      de esgoto
    Ÿ Dos 750 mil domicílios sem acesso à rede, 250 mil localizam-se na cidade
      do Rio de Janeiro
    Ÿ O esgoto de 1,2 milhão de moradias (4,8 milhões de pessoas) não recebe
      tratamento

    INVESTIMENTO

    Ÿ R$ 1,1 bilhão é o investimento necessário para universalizar a coleta e o
      tratamento do esgoto na região metropolitana
    Ÿ Isso equivale a um aumento no investimento em saneamento de
      aproximadamente R$ 250 milhões até 2014

    QUALIDADE DE VIDA

    Ÿ A universalização, ao reduzir a mortalidade infantil, pouparia 400 vidas ao
      ano na região metropolitana
    Ÿ A esperança de vida seria aumentada em 1 ano na média da região
      metropolitana com a universalização, chegando a até 2,3 anos nos
      municípios com menos saneamento
    Ÿ A universalização aumenta a produtividade dos trabalhadores – com ela,
      os salários teriam um aumento real de R$ 43 em média, o que implica um
      impacto na renda da região metropolitana de R$ 5,3 bilhões em 12 meses
RETRATO DO SANEAMENTO




Copa e Olimpíadas em uma região
metropolitana pujante e menos desigual
A inclusão das camadas mais pobres da população da região metropolitana
do Rio na coleta e tratamento de esgoto vem sendo feita, mas de forma lenta


     A
            final, o que o Rio de Janeiro pode obter de         estratégia imediatista deve ser, portanto, rechaçada
            avanço socioeconômico ao abrigar a Copa             – o Rio de Janeiro e o Brasil não querem isso.
            2014 e as Olimpíadas 2016? A questão pode               A Cidade Maravilhosa teve neste ano sua
     ser analisada a partir de duas perspectivas diver-         candidatura de patrimônio da humanidade aceita
     gentes, uma imediatista, de curto prazo, e outra           pelo Centro do Patrimônio Mundial da Unesco – uma
     estratégica, que considera também os benefícios de         conquista simbólica para uma capital que teve nas
     médio e longo prazo.                                       últimas décadas sua imagem comprometida pela
         No primeiro caso, a questão é simplesmente             proliferação da violência e da exclusão. O Rio de
     trabalhar o foco apenas no evento em si, com               Janeiro, paralelamente, tem dado provas de que
     investimento social mínimo. Não é necessário um            caminha rumo a um modelo inclusivo. Hoje há
     aprofundamento de análise para mostrar que se              esforços de incorporação das favelas à cidade
     trata do barato que sai caro: haverá uma grande            estruturada, e o grande desafio é construir uma
     massa de investimento privado (arenas, rede                região metropolitana pujante, inclusiva, menos
     hoteleira, serviços) e público (infraestrutura específi-   desigual.
     ca e serviços) que terá uma aplicação específica e,            O primeiro passo nessa qualificação abrangente
     depois, estará fadada à desmobilização e a um              do território é a universalização do saneamento,
     nível de operação abaixo das potencialidades.              pelo que significa em termos de eliminação de
         No segundo caso, os investimentos são realiza-         desigualdades aberrantes de condições de vida,
     dos considerando-se um salto qualitativo da área de        melhora da saúde e aumento da produtividade da
     sua realização, dando embasamento a retornos               população, bem como de fator determinante para o
     continuados e crescentes após a realização do              exercício pleno das atividades econômicas em
     evento. Isso implica em termos práticos a perspecti-       dada região.
     va de qualificação do território e da qualidade de             A inclusão das camadas mais pobres da popula-
     vida de sua população. Em outras palavras, para                                                             1
                                                                ção da região metropolitana do Rio de Janeiro no
     uma cidade como o Rio de Janeiro,                                           saneamento básico vem sendo
     isso significa apostar em um                                                feita, mas de forma lenta. Este
     modelo turístico espanhol, em um                                            estudo mostra a evolução das
     contexto de alta qualificação de
     ser viços e desenvolvimento
                                                    81% das                      estatísticas de coleta de esgoto nos
                                                                                 últimos 40 anos e destaca os
     humano, e se distanciar de vez de              moradias da                  desafios para a universalização.
     padrões de investimentos turísticos
     à moda caribenha e africana, em                região                      EVOLUÇÃO NA TRAJETÓRIA
     que empreendimentos são conce-
     bidos como enclaves isolados de
                                                    metropolitana
                                                                                  Estimativas feitas com base nos
     um território desqualificado. A                têm                         dados preliminares do Censo 2010
     1
      Para efeito de comparação histórica, também
                                                    coleta de                   indicam que 3,2 milhões de moradi-
                                                                                as tinham acesso a alguma forma
     foram considerados os dados do município de
     Mangaratiba, que deixou de pertencer à         esgoto                      de coleta de esgoto na região
     região metropolitana do Rio de Janeiro em                                  metropolitana do Rio de Janeiro.
     2002.
                                                                                Esse número representa 81% do

                                                                         REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO    5
Número de moradias com acesso a esgoto e déficit de coleta
                Região Metropolitana do Rio de Janeiro*, 1970 a 2010**
    4.000                                                                                                                                                             19,3%
                                                                                                                                                         753
                      Déficit relativo (%)
                      Déficit absoluto
                      Moradias com acesso
    3.000                                                                                                                     1.117                     3.168


                                                                                              1.166


    2.000                                                       935                                                           2.077
                                           61,4%
                            915                                                               1.525

    1.000                                                     1.213



                            574

       -
                           1970                                1980                           1991                            2000                      2010*
                Em 1970, 915 mil moradias não tinham coleta de esgoto, o que representava 61,4% das
                residências a região metropolitana do Rio de Janeiro. Esse número caiu para 753 mil em
                2010, o que equivale a um déficit relativo de 19,3%. Note-se, contudo, que o déficit só se
                reduz de maneira satisfatória a partir dos anos 2000.


       6.000
                 Estado do Rio de Janeiro                                                              Brasil
                                                                                              60.000
                                                                                                                                                                44,6%
                          Déficit relativo (%)                                                                Déficit relativo (%)                        25.538
                                                                                      23,4%
       5.000              Déficit absoluto                                    1.227           50.000          Déficit absoluto
                          Moradias com acesso                                                                 Moradias com acesso
                                                                                                                                               24.347

       4.000                                                     1.601                        40.000
                                                                              4.016

                                                                                                                                      23.201
                                                   1.706
       3.000                                                                                  30.000                                                      31.786

                                   1.267
                                                                 2.601                                                   18.794
                                                                                              20.000             86,9%
       2.000               63,5%                                                                                                               21.161

                   1.146                           1.754                                                 15.325

                                   1.442
                                                                                              10.000                                  12.234
       1.000

                    660                                                                                                  6.500
                                                                                                         2.318
                                                                                                  -
            -


           No Estado do Rio de Janeiro, a evolução foi bastante semelhante à da região metropolitana. O
           déficit relativo caiu de 63,5% para 23,4%, mas o déficit de 2010 ainda é maior que o de 1970 em
           número de moradias. Durante as décadas de 80 e 10, contudo, a evolução do estado ficou bem
           aquém do padrão nacional. No Brasil, o ritmo de crescimento das moradias com coleta de esgoto
           foi de 6,1% ao ano. no Rio de Janeiro, essa taxa foi de 3% ao ano.
                                                           Fonte: IBGE. (*) Inclui Mangaratiba, que deixou de fazer parte da RMRJ em 2002. (**) Dados preliminares.


6     DESAFIOS DO SANEAMENTO EM METRÓPOLES DA COPA 2014
Déficit de coleta de esgoto, em mil moradias
Municípios                            1970                     1980                 1991                    2000                 2010*
Belford Roxo                                                                                                 56,6                   45,7
Duque de Caxias                                                                     117,6                    95,9                   69,6
Guapimirim                                                                                                    8,3                    5,8
Itaboraí                                                          21,9               34,3                    38,5                   24,5
Itaguaí                                     9,9                   17,1               23,2                    13,6                   13,9
                                                                                                                                                              AVANÇOS E DESAFIOS
Japeri                                                                                                       16,7                    8,4
Magé                                                                                 47,8                    41,0                   30,5                      A tendência geral é de redução do déficit
Mangaratiba**                               2,5                    3,3                4,7                     6,1                    6,8                      de coleta de esgoto: 16 de 20 municípios
Maricá                                                             6,9               11,9                    20,6                   22,8                      apresentaram redução do déficit em
Mesquita***                                                                                                                         23,1
Nilópolis                              23,6                     12,2                 12,3                     9,1                    5,5
                                                                                                                                                              termos absolutos na última década. A
Niterói                                26,8                     34,6                 42,8                    38,8                    9,3                      cidade do Rio de Janeiro, com déficit de
Nova Iguaçu                           133,3                    172,0                225,8                   126,8                   48,3                      250 mil moradias em 2010, é que apresen-
Paracambi                               4,1                      3,1                  4,1                     4,6                    3,5                      tou a redução mais expressiva de mora-
Queimados                                                                                                    21,8                   12,2                      dias no déficit. Em 40 anos os investimen-
Rio de Janeiro                        448,4                    291,4                437,9                   396,7                  251,8
São Gonçalo                            82,2                    130,4                168,9                   157,0                  116,1
                                                                                                                                                              tos foram suficientes para dar conta do
São João de Meriti                     55,8                     72,2                 34,7                    43,1                   37,5                      crescimento do número de domicílios e
Seropédica                                                                                                   16,1                   14,3                      permitiram a retirada de 200 mil moradi-
Tanguá                                                                                                        5,5                    3,7                      as do déficit de saneamento.
Total da RMRJ                       786,4                   765,1                 1.166,1           1.116,9                      753,4
Fonte: IBGE. (*) Dados preliminares.(**) Mangaratiba deixou de fazer parte da RMRJ em 2002.
(***) Mesquita foi emancipada de Nova Iguaçu em 2002.




                                                                                                                                                       Mapa do déficit de coleta de esgoto
                                                                                                                                                    região metropolitana do Rio de Janeiro,
                                                       No va            Duque
                                                                                                        Guapimirim                                                 2010*, (% das moradias)
                               Paracambi              Iguaçú                           Magé
                                                                       de Caxias
                                             Japeri                                                                                                           Em termos relativos, o déficit é particular-
                                             Queimados
                                                                   Belford
                                                                    Ro xo                                       Itaboraí      Tanguá
                                                                                                                                                              mente elevado em cinco municípios. Em
                               Seropedica
                                                                                                  São                                                         Seropédica, 59% das moradias não tinha
                                                                                                  Gonçalo
                     Itaguaí
                                                      Nilópolis
                                                                      São João
                                                                      de Meriti                                                                               acesso a qualquer forma de coleta de
     Mangaratiba
                                                                  Rio de Janeiro
                                                                                              Niterói                Maricá                                   esgoto em 2010. Em Maricá, essa taxa
                                                                                                                                                              atingiu 53% das moradias. Os outros três
                                                                                                                                                              municípios críticos são: Mesquita (44%),
                                                                                                                     0%-15%
                                                                                                                     15%-30%
                                                                                                                                                              Magé (43%) e Itaguaí (41%).
                                                                                                                     30%-40%
                                                                                                                     40%-50%
                                                                                                                     + de 50%




                                                                                                   Fonte: FGV. (*) Dados preliminares.

Mapa do déficit de coleta de tratamento
região metropolitana do Rio de Janeiro,
2010*, (% das moradias)                                                                                                                                                 No va            Duque
                                                                                                                                                                                                                     Guapimirim

                                                                                                                                                 Paracambi             Iguaçú                       Magé
                                                                                                                                                                                        de Caxias
Em 2010, estima-se que o esgoto de 1,2                                                                                                                        Japeri

milhão de moradias não recebeu qual-                                                                                                                     Queimados
                                                                                                                                                                                    Belford
                                                                                                                                                                                     Ro xo                                   Itaboraí      Tanguá
quer tratamento. Em termos relativos, 11                                                                                                         Seropedica
                                                                                                                                                                                                               São
                                                                                                                                                                                                               Gonçalo
municípios têm déficit de tratamento de                                                                                                Itaguaí
                                                                                                                                                                       Nilópolis
                                                                                                                                                                                       São João
                                                                                                                                                                                       de Meriti

100% das moradias, 3 cidades têm déficit                                                                      Mangaratiba
                                                                                                                                                                                   Rio de Janeiro
                                                                                                                                                                                                           Niterói                Maricá

entre 50% e 70% das moradias. Apenas
três têm déficit inferior a 20%: Rio de
Janeiro (13,7%), Niterói (14,4%) e Nova                                                                                                                                                                                            0%-15%
                                                                                                                                                                                                                                   15%-30%
Iguaçu (19,5%).                                                                                                                                                                                                                    30%-40%
                                                                                                                                                                                                                                   40%-50%
                                                                                                                                                                                                                                   + de 50%



                                                                                                                                                              REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO                                                7
R$ 1,1 bilhão é o volume de investimento
necessário para universalizar a coleta e
tratamento de esgoto na região metro-
politana do Rio de Janeiro. Isso equiva-
le a um acréscimo de R$ 250 milhões por
ano no orçamento do saneamento até a
Copa de 2014


total de 3,9 milhões de moradias da região.            qualquer forma de coleta de esgoto em 2010. Em
    O avanço obtido na década é notório: o número      Maricá, essa taxa atingiu 53% das moradias. Os
de residências com coleta de esgoto em 2010 é 53%      outros três municípios críticos são: Mesquita (44%),
maior que o verificado em 2000, indicando um           Magé (43%) e Itaguaí (41%).
crescimento de 4,3% ao ano no período. O desem-            Um aspecto agravante é que a maior parte
penho recente recupera, em parte, a expansão           dessas moradias pertence a municípios situados em
lenta observada entre 1980 e 2000, quando o            torno da Baía de Guanabara ou que têm rios e
crescimento do número de domicílios com coleta de      córregos que desaguam nela. Estima-se que das 750
esgoto foi de apenas 2,7% ao ano – no Brasil, essa     mil moradias sem coleta de esgoto, 630 mil perten-
taxa atingiu 6,1% ao ano. O ritmo na região metropo-   çam a essa área, o que significa dizer que 84% do
litana foi praticamente igual ao da expansão do        esgoto não coletado tem como destino a Baía de
número de moradias nesse período, de 2,1% ao ano,      Guanabara. O impacto ambiental desse fato é
o que explica a evolução lenta da taxa de cobertu-     severo, visto que essa área marítima tem menor
ra, que passou de 56% em 1980 para 66% em 2000.        capacidade natural de dispersão de poluentes.
    O ritmo de crescimento dos domicílios com          Além disso, na Baía de Guanabara se encontra uma
coleta de esgoto na região metropolitana foi           extensa área de mangues, fundamental para o
semelhante ao observado no Estado do Rio de            equilíbrio ecológico da região.
Janeiro nos últimos dez anos, de 4,4% ao ano, e            O déficit maior, contudo, diz respeito ao trata-
ligeiramente superior à taxa média nacional, de        mento do esgoto coletado. Do total de esgoto
4,2% ao ano. Isso reposiciona a metrópole fluminen-    produzido na região metropolitana, estima-se que
se no contexto nacional, visto que nas duas décadas    apenas 68,5% receba tratamento antes do descarte.
anteriores seu desempenho ficou bem abaixo das         Isso significa que 31,5% do esgoto residencial
expectativas.                                          produzido na região é lançado diretamente no
                                                       ambiente. Em 2010, estima-se que o esgoto de 1,2
DÉFICIT PERSISTENTE                                    milhão de moradias não recebeu qualquer trata-
                                                       mento, o que equivale a uma cidade com 4,8
    Apesar dos avanços obtidos                                          milhões de habitantes sem coleta
nos anos recentes, o déficit de                                         ou tratamento de esgoto. Aí estão
coleta de esgoto na região metro-                                       os domicílios em que o esgoto não
politana permanece em patamar            Estima-se que a                é coletado e aqueles em que,
elevado. Estima-se que cerca de
750 mil domicílios não dispunham
                                         maior parte do                 apesar de haver coleta, não há
                                                                        tratamento .
de qualquer sistema de coleta de         déficit esteja                   Em termos relativos, 11 municípios
esgoto em 2010, o que equivale a                                        têm déficit de tratamento de 100%
19% dos domicílios da região.            na cidade do                   das moradias, 3 cidades têm déficit
    Em termos absolutos, estima-se
que a maior parte do déficit esteja
                                         Rio de Janeiro:                entre 50% e 70% das moradias e
                                                                        apenas três têm déficit inferior a
na cidade do Rio de Janeiro: 250         250 mil                        20%: Rio de Janeiro (13,7%), Niterói
mil moradias ou 1/3 do total. Em                                        (14,4%) e Nova Iguaçu (19,5%). O
termos relativos, o déficit é particu-   moradias ou                    mapa do déficit de tratamento de
larmente elevado em cinco municí-
pios. Em Seropédica, 59% das
                                         1/3 do total                   esgoto mostra com clareza o
                                                                        grande contraste do saneamento
moradias não tinha acesso a                                             na região metropolitana.


8   DESAFIOS DO SANEAMENTO EM METRÓPOLES DA COPA 2014
QUALIDADE DE VIDA E RENDA




Mortalidade infantil cai, mas universalização da
coleta de esgoto salvaria 400 crianças por ano
Outra consequência da universalização do saneamento seria o aumento da
longevidade da população, condição básica para o desenvolvimento humano


      E
                                                           2    introduzidas as variáveis PIB per capita, a razão
             ntre 1997 e 2007, a mortalidade infantil no
             Estado do Rio de Janeiro caiu de 24 crianças       médicos por mil habitantes e variáveis binárias para
             por mil nascidos vivos para 15 por mil nascidos    identificar as características específicas de cada
      vivos, segundo o Ministério da Saúde. Essa evolução       município. Essa técnica estatística, chamada de
      está sem dúvida diretamente associada à redução           dados de painel, é empregada para calcular o
      do déficit de coleta de esgoto no Estado, que             efeito individual de uma variável sobre outra,
      passou de 38% das moradias (2000) para 23%                possibilitando atribuir a contribuição exata da
      (2010).                                                   variação de uma variável sobre a variação de outra.
          As relações entre saúde e déficit de coleta de        Assim, o efeito do saneamento sobre a mortalidade
      esgoto são bastante exploradas na literatura de           infantil estimado neste estudo já leva em considera-
      políticas públicas. No documento de 2010 do               ção as diferenças econômicas, sociais e de políticas
      Instituto Trata Brasil e da Fundação Getulio              de saúde que podem também afetar a mortalidade
      Vargas, intitulado Benefícios econômicos da               de crianças nos municípios da região metropolitana
      expansão do saneamento brasileiro, foi analisada          do Rio de Janeiro.
      a relação entre déficit de coleta de esgoto e o               A análise estatística, ilustrada em gráfico da
      número de internações por infecções gastrointesti-        pág. 10, revela com clareza que, quanto maior o
      nais e de óbitos associados a esse tipo de doença.        déficit de coleta de esgoto, maior a taxa de mortali-
      Mortes e internações estão positivamente associa-         dade infantil. Os municípios com maior déficit
      das ao déficit, o que mostra que o Brasil poderia         (acima de 90% das moradias sem coleta de esgoto)
      economizar muitos recursos e salvar inúmeras vidas        são os que têm taxas de mortalidade infantil mais
      caso o acesso ao saneamento fosse universalizado.         elevadas, em geral acima de 35 mortes por mil
          Para o presente estudo, foi realizada uma             nascidos vivos. Já as cidades que têm déficit de
      análise específica para a região metropolitana do         saneamento menor – Niterói e Rio de Janeiro –
      Rio de Janeiro, considerando os dados de déficit          apresentam também as menores taxa de mortalida-
      relativo de coleta de esgoto e a taxa de mortalida-       de infantil (abaixo de 15 mortes por mil nascidos
      de infantil. As informações abarcam os 19 municípi-       vivos).
      os da região metropolitana e a                                                 Essa análise possibilita estimar
      cidade de Mangaratiba, que                                                  o quanto a mortalidade infantil
      pertencia à região metropolitana                                            poderia ser reduzida na região
      até 2002. Elas se referem aos anos               Quanto maior o             metropolitana caso a coleta de
      de 1970, 1980, 1991 e 2000 – os                                             esgoto fosse universalizada.
      dados são provenientes das bases
                                                       déficit de coleta          Estima-se que o déficit de coleta de
                                                                                  esgoto na região tenha sido de
      do Ipea e do IBGE.                               de esgoto,                 19,3% das moradias, ou ainda, que
          Para controlar o efeito de
      outros fatores sobre a taxa de                   maior a taxa de            753 mil moradias ainda não tinham
      mor talidade infantil, foram                                                acesso a alguma forma de coleta
                                                       mortalidade                de esgoto. Se essa carência fosse
                                                                                  sanada, ou seja, se o déficit fosse
      2
        A taxa de mortalidade infantil é dada pela
      razão entre o número de mortes de crianças
                                                       infantil                   zerado, a taxa de mortalidade
      com até 1 ano de idade por mil nascidos vivos.                              infantil cairia 2,9 pontos. Isto é,

                                                                         REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO     9
Mortalidade infantil

                                                         35                                                                                                                          Déficit de coleta de esgoto e mortalidade
                                                                                                                                                                                       infantil na região metropolitana do Rio
Mortalidade infantil (mortos por 1.000 nascidos vivos)




                                                                                                                                                                                                                    de Janeiro
                                                         30



                                                                                                                                                                                      O gráfico ilustra a relação positiva entre
                                                         25                                                                                                                           mortalidade e déficit de coleta de esgoto.
                                                                                                                                                                                      Quanto maior o déficit, maior a mortalidade de
                                                                                                                                                                                      crianças no primeiro ano de vida. Esse efeito se
                                                                                                                                                                                      deve à maior incidência de infecções. A
                                                         20                                                                                                                           inclinação da linha no gráfico mede a sensibili-
                                                                                                                                                                                      dade da mortalidade ao incremento do déficit.


                                                         15




                                                         10
                                                              0%   20%        40%        60%        80%      100%                                                            120%
                                                                   Déficit de coleta de esgoto, (%) dos domicílios




                                                                                                                                                                        35
        Mortalidade infantil por faixa de déficit
        de coleta de esgoto, simulação para a
                                                                                                               Mortalidade infantil (mortos por 1.000 nascidos vivos)




        região metropolitana do Rio de Janeiro
                                                                                                                                                                        30



                                                                                                                                                                        25
O gráfico mostra o valor esperado de mortali-
dade infantil para cada faixa de déficit de
saneamento. Em um município com déficit de
50%, ou seja, onde a metade das moradias não                                                                                                                            20
tem acesso à coleta de esgoto, a mortalidade
infantil deve ser de 25 crianças por mil nasci-
dos vivos. Numa cidade em que todos têm                                                                                                                                 15
acesso á coleta de esgoto, a mortalidade é
menor, de 17 crianças por mil nascidos vivos.
                                                                                                                                                                        10



                                                                                                                                                                        5
                                                                                                                                                                             0%     10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
                                                                                                                                                                                     Déficit de coleta de esgoto (% das moradias)

10                                                        DESAFIOS DO SANEAMENTO EM METRÓPOLES DA COPA 2014
Esperança de vida

                                     Déficit de coleta de esgoto e esperança                                                   75
                                                 de vida ao nascer na região
                                              metropolitana do Rio de Janeiro
                                                                                                                               72




                                                                                          Esperança de vida ao nascer (anos)
O gráfico ilustra a relação negativa entre
esperança de vida e déficit de coleta de                                                                                       69
esgoto. Quanto maior o déficit, menor a
esperança de vida ao nascer. A falta de coleta
de esgoto leva ao aumento da exposição a
infecções e à piora global das condições de                                                                                    66
saúde da população, com efeito sobre a
longevidade das pessoas.

                                                                                                                               63




                                                                                                                               60
                                                                                                                                    0%    20%        40%        60%        80%      100%    120%
                                                                                                                                          Déficit de coleta de esgoto, (%) dos domicílios




                                     71                                                                                                      Esperança de vida por faixa de déficit
                                                                                                                                             de coleta de esgoto, simulação para a
                                                                                                                                            região metropolitana do Rio de Janeiro
                                     69
Esperança de vida ao nascer (anos)




                                     67
                                                                                                                                            O gráfico mostra o valor esperado de vida, em
                                                                                                                                            anos, para cada faixa de déficit de saneamen-
                                                                                                                                            to. O morador de uma cidade com déficit de
                                     65
                                                                                                                                            50%, ou seja, onde a metade das moradias não
                                                                                                                                            tem acesso à coleta de esgoto, 68 anos
                                                                                                                                            aproximadamente. O habitante de uma cidade
                                     63                                                                                                     em que todos têm acesso á coleta de esgoto
                                                                                                                                            espera viver cera de 2 anos a mais, ou seja,
                                                                                                                                            espera viver até os 70 anos de idade.
                                     61



                                     59
                                          0%   10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
                                                  Déficit de coleta de esgoto (% das moradias)

                                                                                                                                              REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO        11
A universalização do saneamento
até a Copa de 2014 traria um ganho
permanente de renda para a região
metropolitana de R$ 5,3 bilhões, o
equivalente a R$ 443 milhões por
mês a mais na renda dos moradores
da região



para cada mil crianças nascidas vivas, quase três      saneamento na renda dos trabalhadores por meio
mortes seriam evitadas. Considerando que entre         da construção de um modelo bastante amplo a
julho de 2009 e junho de 2010 nasceram 142 mil         respeito dos determinantes da produtividade do
crianças na região metropolitana, a universalização    trabalho. Considerando todos esses fatores em
do sistema de coleta de esgoto teria poupado 400       conjunto, é possível separar o efeito específico de
vidas em 12 meses.                                     cada um, isolando a contribuição do saneamento
                                                       como foi feito no caso da mortalidade infantil e da
ESPERANÇA DE VIDA                                      esperança de vida. No modelo, a escolaridade, a
                                                       experiência profissional dos indivíduos e o setor de
Outra consequência da universalização do sanea-        atividade econômica em que trabalham se destaca-
mento seria o aumento da longevidade da popula-        ram entre as características pessoais e da ocupação
ção, condição básica para o desenvolvimento            que afetam a produtividade e o salário. Foi identifi-
humano. Essa ideia é reforçada pela análise            cado que os trabalhadores com acesso à coleta de
específica da relação entre déficit de coleta de       esgoto ganham salários, em média, 13,3% superio-
esgoto e esperança de vida ao nascer feita com         res aos daqueles que moram em locais sem coleta
base em dados do IBGE para a região metropolita-       de esgoto.
na do Rio de Janeiro.                                       Com base nessa análise, é possível inferir que,
    A análise mostra que, quanto maior o déficit de    se for dado acesso à coleta de esgoto a um traba-
coleta de esgoto, menor a esperança de vida ao         lhador sem esse serviço, espera-se que a melhora
nascer. Os municípios com menor déficit – Niterói e    geral de sua qualidade de vida possibilite uma
Rio de Janeiro – apresentam esperança de vida ao       produtividade 13,3% superior, elevando a sua renda
nascer superior a 70 anos. Já as cidades que têm       em igual proporção. Assim, a inclusão das 753 mil
déficit de saneamento maior – acima de 15% das         moradias na coleta de esgoto teria efeito sobre a
moradias – têm esperança de vida inferior a 70         renda média dos trabalhadores da região metropo-
anos.                                                  litana do Rio de Janeiro. Se 19,3% das moradias
    Com base nessa relação, estima-se que a            passassem a receber 13,3% de renda mais em razão
universalização dos serviços de saneamento             do aumento de produtividade, a renda média da
aumentaria em aproximadamente 1 ano a expecta-         região cresceria 2,6%. Isso equivale a um aumento
tiva de vida da população da região metropolitana.     de R$ 43 no rendimento médio dos trabalhadores da
Para as cidades com déficit maior, a universalização   região metropolitana do Rio de Janeiro, que foi de
significaria ganhos relativamente maiores. Em          R$ 1.678,00 em março de 2011.
Seropédica, por exemplo, município que tem o                O efeito agregado seria expressivo: 10,36
maior déficit relativo, a longevidade da população     milhões de trabalhadores recebendo R$ 43 a mais
aumentaria em 2,3 anos.                                por mês significa adicionar à massa de rendimentos
                                                       da região R$ 446 milhões por mês, ou R$ 5,3 bilhões
RENDA                                                  por ano. Esse seria um grande legado em termos
                                                       econômicos da universalização do saneamento na
    No documento Benefícios econômicos da              região metropolitana do Rio de Janeiro, o qual se
expansão do saneamento brasileiro, de 2010, foi        somaria aos avanços de qualidade de vida, com
analisada a relação entre acesso ao saneamento e       redução da mortalidade e aumento da longevida-
o salário do trabalhador. A análise, feita com base    de, na direção do maior desenvolvimento humano
nas informações da Pnad de 2009, isolou o efeito do    da região.


12   DESAFIOS DO SANEAMENTO EM METRÓPOLES DA COPA 2014
“Esperamos que, com o aporte de
dinheiro e – principalmente – de vontade
política, haja um legado importante: a
universalização do saneamento”
ENTREVISTA – Sibelle Buonora, mestre em infectologia pela UFRJ, médica
responsável pela Unidade de Paciente Internos, IPPMG/UFRJ e coordenado-
ra da Comissão de Controle de Infecção Pré-Hospitalar do sistema UPA




     Como as deficiências do saneamento básico são   As crianças são o segmento da população mais
     percebidas pelos profissionais da saúde na      vulnerável a esse tipo de doença? Por quê?
     região metropolitana do Rio de Janeiro? As
     doenças decorrentes da ausência de saneamento   Sibelle Buonora – A vulnerabilidade da criança se
     se destacam? A sra. poderia dar exemplos?       dá por dois aspectos. 1) Os hábitos de higiene na
                                                     criança são bastante precários. Com 1 ano de
                                                     idade, a criança engatinha pela casa, expondo-se
     Sibelle Buonora – A diarreia é o efeito mais sentido
                                                     às impurezas. Além disso, há a fase oral, quando a
     entre os pediatras. Esta doença, rara no hemisfério
     norte, aqui é extremamente comum em razão da    criança descobre o meio que a cerca levando
     falta de saneamento básico. No entanto, outros  objetos para a boca. 2) Imaturidade do sistema
     efeitos da poluição das águas podem ser percebi-imunológico, pois a criança não tem o seu “arsenal”
                                                     imunológico montado, portanto, ela está suscetível a
     dos, como o índice de indivíduos já expostos ao vírus
     da hepatite A (transmissão fecal-oral), onde a  agentes infecciosos. A sintomatologia é mais florida
     maioria dos adultos residentes de municípios quee a criança adoece mais.
     margeiam a Baía de Guanabara já foi exposta,
     diferentemente de outras regiões                               Tendo em vista os principais
     do estado. Isso demonstra o                                    resultados deste estudo, qual o
     alto grau de exposição à água                                  papel da universalização do
     poluída.                             Não adianta o             saneamento para a saúde da
         As parasitoses intestinais são   médico                    população da região metropolita-
     outro reflexo da falta de sanea-     no posto de saúde         na do Rio de Janeiro?
     mento básico. Determinadas
     regiões dos municípios de            prescrever                Sibelle Buonora – A universalização
     Duque de Caxias e São                mensalmente o             do saneamento é de extrema
     Gonçalo, ambos na região             medicamento mais          importância para o desenvolvimen-
     metropolitana do Rio de                                        to adequado da população. Isso
     Janeiro, não têm saneamento          caro, ou até mesmo o      implica menores gastos para a
     básico, a água é de poço e o         mais barato, se a         saúde, uma vez que diminui o
     sistema de esgotamento é             população continua        número de infecções intestinais, ou
     fossa, muitas vezes ambos os                                   seja, menor número de eventos que
     reservatórios são muito próxi-
                                          se expondo à água         levem a internações hospitalares;
     mos, havendo contaminação do         poluída                   diminui a frequência de anemias,
     lençol freático.                                               muito associada a parasitoses

                                                            REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO    13
POR QUE A UNIVERSALIZAÇÃO DO SANEAMENTO
É IMPORTANTE PARA A SAÚDE:
Ÿ Implica menores gastos, uma                                                                  Ÿ Diminuem as chances de
     vez que diminui o número de                                                                 exposição a agentes
     infecções intestinais e reduz                                                               potencialmente letais, como o
     internações                                                                                 vírus da hepatite A

Ÿ Diminui a frequência de                                                                      Ÿ Reduz as chances de
     anemias, muito associada a                                                                  desenvolvimento de doenças
     parasitoses intestinais,                                                                    crônicas, decorrentes de
     propiciando melhora do                                                                      depósito de metais pesados
     rendimento escolar, melhora do
     sistema imune


intestinais, propiciando melhora do rendi-                                                               Número de internações por doenças
mento escolar, melhora do sistema imune e,                                                     gastrintestinais infecciosas por faixa de déficit
assim, diminuindo o adoecimento do indiví-                                                             de coleta de esgoto, (% das moradias)
duo; diminuem as chances de exposição a                                               500
agentes potencialmente letais como o vírus
da hepatite A, que causa hepatite fulminante                                          450
em adultos; reduzem as chances de desenvol-
vimento de doenças crônicas, decorrentes de
                                                                                      400
depósito de metais pesados.
                                                 Internações por 100.000 habitantes




Quais objetivos de redução de doenças                                                 350
decorrentes do saneamento a sra. julga
viáveis até a realização da Copa?                                                     300

Sibelle Buonora – Não adianta o médico no                                             250
posto de saúde prescrever mensalmente o
medicamento mais caro, ou até mesmo o
                                                                                      200
mais barato, se a população continua se
expondo à água poluída. Outros eventos
ocorridos no Rio trouxeram como “mote” a                                              150
despoluição da Baía de Guanabara. No
entanto ela não foi completa, ainda há                                                100
despejo de material in natura, principalmen-
te nos municípios localizados no “fundo” da                                            50
baía. Já podemos encontrar golfinhos com
maior frequência, mas isto não é o suficiente.                                          0
Esperamos que, com o aporte de dinheiro e                                                   0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
principalmente de vontade política com o
advento da Copa e Olimpíadas, haja um                                                             Déficit de saneamento (% das moradias)
legado importante que é a universalização
do saneamento básico no Rio de Janeiro.
                                                                                                                                           Fonte: FGV.

14   DESAFIOS DO SANEAMENTO EM METRÓPOLES DA COPA 2014
“A universalização dos serviços de
saneamento depende, tal qual no
Programa de Universalização da Energia
Elétrica, de subsidio para comunidades
carentes”
ENTREVISTA – Wagner Victer, presidente da Companhia de Águas e Esgotos
do Rio de Janeiro – Cedae




     Quais os principais esforços de sua gestão à               ser a que possui a maior taxa de crescimento do
     frente da Nova Cedae para acelerar o saneamen-             Estado;
     to na região metropolitana do Rio de Janeiro?
     Quais investimentos o sr. julga mais representati-     Ÿ   A complementação da Rede Coletora do Sistema
     vos e que avanços podem ser esperados até a                Sarapui, onde temos construído a Estação de
     realização da Copa do Mundo? Em sua opinião, o             Tratamento de Esgoto da Baixada Fluminense
     ritmo de combate ao déficit de água, coleta e              (previsão de início de operação do sistema em
     tratamento dos esgotos está adequado?                      90 dias);

     Wagner Victer – Desde o início dessa gestão, em        Ÿ   A construção de sistema de coleta e transporte
     2007, dois principais pilares orientaram as ações da       de esgotamento da Pavuna;
     companhia foram a modernização administrativa
     (nos conceitos da boa prática da governança            Ÿ   Reconstrução das 8 elevatórias de esgoto do
     corporativa) e ampliação da malha de abasteci-             entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas. Com a
     mento de água e da rede coletora de esgotos. Esses         entrada em operação, essas estações reduziram
     dois atuam em sinergia e num ciclo                         drasticamente os níveis de coliformes no local,
     permanente de qualidade e                                                  deixando a lagoa dentro dos
     evolução continuada. Os investi-                                           rigorosos padrões exigidos
     mentos que considero mais
     representativos são:
                                             Se os Jogos                        pela resolução do Conama
                                                                                que rege os índices para
                                             Olímpicos                          contato secundário. Ou seja, se
         A ampliação do abastecimen-                                            os Jogos Olímpicos fossem
     Ÿ
         to de água da Barra da Tijuca,      fossem hoje, já                    hoje, já poderiam ser realiza-
         Recreio, Jacarepaguá, Vargem
         Grande e Vargem Pequena,
                                             poderiam ser                       dos na Lagoa Rodrigo de
                                                                                Freitas;
         antecipando e atendendo as          realizados na
         exigências do Comitê Olímpico                                            Ampliação do sistema Alegria,
                                             Lagoa Rodrigo
                                                                              Ÿ
         Internacional (COI). Os refor-                                           no Caju, que até 2006 tratava
                                                                                  apenas 400 litros de esgoto por
         ços de abastecimento para
         essa região se justificam por
                                             de Freitas                           segundo em regime Primário


                                                                    REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO    15
ENTREVISTA COM WAGNER VICTER




     (retira só 40% das impurezas). Atualmente, em        Durante a sua gestão, a Cedae elaborou, com
     2011, com as diversas intervenções inauguradas       auxílio da Fundação Getulio Vargas, um plano
     pela Cedae nos últimos cinco anos, a companhia       estratégico de reestruturação administrativa e
     já está tratando cerca de 2.500 litros de esgotos    financeira. O sr. poderia explicar, de forma
     por segundo em regime Secundário (retirando          resumida, o conteúdo desse plano e os progressos
     98% das impurezas), com a interligação dos           que ele trouxe para a atividade-fim da Nova
     imóveis de 16 bairros do Rio de Janeiro, inclusive   Cedae?
     o centro da cidade.
                                                          Wagner Victer – A parceria com a FGV nasceu em
  Quanto ao combate ao déficit de água e coleta e         maio de 2007 e faz parte de um plano de reestrutura-
tratamento de esgotos, são muitos os vieses pelos         ção e modernização da Cedae. Suas linhas foram
quais as ações devem acontecer. Um deles é o              traçadas naquele ano e contou com todos os
compromisso da empresa com a redução e controle           colaboradores que ocupavam cargos estratégicos,
das perdas de água (o que implica o uso racional          orientados pela fundação, e com ampla discussão
do recurso hídrico) e ampliação dos serviços de           sobre a definição da missão, da visão e da meta da
coleta de esgotos. Essas questões estão equaciona-        companhia, ou seja, estávamos criando uma nova
das, planificadas e em curso num cronograma               identidade para a Cedae.
definido. Seus resultados serão alcançados de                 Os trabalhos e estudos foram conduzidos no
maneira gradual e está adequado às disponibilida-         sentido de diagnosticar os pontos fracos e propor
des de recursos e à política de universalização dos       mudanças nos modelos de gestão que impediam
serviços, que é a base legal, social e filosófica da      seu crescimento. O foco nos processos administrati-
Nova Cedae e que deve reger qualquer empreen-             vos visava à celeridade das rotinas internas, tornan-
dedor cujo resultado das decisões que toma à frente       do o processo decisório do corpo diretivo mais leve
da corporação que administra influencia diretamen-        e eficiente. O viés financeiro adequava a Nova
te na qualidade de vida da população.                     Cedae ao cenário dos novos critérios contábeis
  Um exemplo importante disso é o programa Água           (normas internacionais contidas no International
Para Todos, que visa à universalização dos serviços       Financial Reporting Standards – IFRS) e a preparava
de saneamento, atinge 140 comunidades e já                para os desafios de um mercado que elegia como
apresenta resultados positivos no que tange:              parâmetro principal de qualidade na prestação dos
                                                          serviços de saneamento a eficiência e a tarifação
Ÿ À redução do consumo per capita;                        adequada.
                                                              Com uma interatividade maior entre a empresa
Ÿ Melhoria física da rede para o atendimento              e a sociedade organizada, é impossível não estar
  global: redução de vazamentos;                                         contido nesse cenário de reforma de
  retirada e substituição de                                                conduta uma importante contribui-
  tubulações comprometidas;                                                 ção cabível ao cliente, qual seja: a
  atualização de cadastro                Estamos                            utilização racional da água em
  técnico do sistema de abaste-                                             contrapartida ao compromisso da
  cimento etc. (redução das              contribuindo                       empresa em gerir seus recursos
  perdas);
Ÿ Atendimento satisfatório e
                                         para o aumento                     financeiros, de modo a investir
                                                                            permanentemente em qualidade e
  sustentável ao cliente de              da qualidade                       modernização dos seus serviços.
  baixa renda.                                                              O crescimento de uma companhia
                                         de vida do                         como a Cedae envolve várias
Como se vê, nesse caso em
específico, há um componente
                                         povo de nosso                      medidas, isoladas e/ou coordena-
                                                                            das, simultâneas ou intercaladas,
social importante que se destaca         Estado                             de várias naturezas, cobrindo
nesse programa.                                                             todas as regiões em que atua para


16     DESAFIOS DO SANEAMENTO EM METRÓPOLES DA COPA 2014
melhor atender a população de sua área de                Univercedae – e nele realiza cursos de aperfeiçoa-
atuação.                                                 mento que são a base de toda melhoria continua a
   Eis algumas ações importantes que são reflexos        que se propõe e que no ano de 2010 treinou aproxi-
do progresso que essas mudanças de paradigma             madamente 70% do seu quadro funcional.
estão trazendo:
                                                         Tendo em vista sua grande experiência, desde
Ÿ   Atualmente a Cedae vem realizando investimen-        2007, à frente da empresa, qual a principal
    tos significativos em modernização de seus           mensagem que o sr. teria para as companhias de
    sistemas de informática, mais especificamente,       saneamento conseguirem acelerar a universaliza-
    com a implantação do Sistema Integrado de            ção dos serviços em suas regiões?
    Gestão Empresarial (tradução da sigla inglesa
    ERP), que é uma plataforma de software que foi       Wagner Victer – Acredito que a universalização dos
    criada para integrar os diversos setores da          serviços de saneamento depende, tal qual no
    Cedae, possibilitando uma confiabilidade maior       Programa de Universalização da Energia Elétrica,
    na geração dos seus dados internos, sejam eles:      de subsidio para comunidades carentes.
    financeiros, contábeis, patrimoniais, operaciona-
    is, comerciais etc., estejam eles em qualquer fase   Agora sabendo dos principais resultados do
    do processo produtivo, direta ou indiretamente       estudo feito pela FGV ao Instituto Trata Brasil, qual
    relacionados. A implantação desse sistema irá        a sua avaliação para estes resultados? Quais são,
    propiciar:                                           em seu ponto de vista, os principais pontos que
                                                         ainda necessitam ser atacados no saneamento
    o Um controle efetivo e redução real dos custos;     da região metropolitana no Rio de Janeiro?
    o Melhoria significativa no fluxo de informação
      interna;                                           Wagner Victer – Tudo pode ser aperfeiçoado, muito
    o Internalização das melhores práticas de            há que ser feito ainda. Através da prestação de um
      mercado aos processos internos (estão              serviço eficiente e suficiente de abastecimento de
      inseridas na lógica do ERP);                       água e coleta de esgotos, estamos contribuindo
    o Definição mais clara das necessidades da           para o aumento da qualidade de vida do povo de
      companhia, propiciando um planejamento             nosso Estado.
      estratégico mais adequado a sua realidade;            O vínculo que temos à administração pública nos
    o Monitoramento por indicadores.                     obriga a atender uma importante função social e a
                                                                              não nos distanciarmos da
    O processo de moderniza-                                                  realidade econômica da
ção administrativa e operacio-          Ser viável                            população, porém ser viável
nal da Cedae atingirá uma                                                     financeiramente é um preceito
importante etapa com a                  financeiramente é                     legal e uma condição essencial
finalização da obra de sua
futura sede, que trará significati-
                                        um preceito legal                     de evolução contínua e promo-
                                                                              ção da universalização os
va redução de custos, melhor            e uma condição                        serviços.
integração entre os setores,                                                      A Nova Cedae não deixa de
eficiência nas rotinas internas e       essencial de                          observar no horizonte de seus
aumento da produtividade per
capita.
                                        evolução contínua                     projetos a sua responsabilida-
                                                                              de social e ambiental e os
    A Cedae, nesse esforço de           e promoção da                         realiza respeitando essas
alcançar a excelência na                                                      premissas, garantindo assim o
prestação dos serviços de               universalização                       equilíbrio e a sustentabilidade
saneamento, construiu um
Centro de Treinamento – a
                                        os serviços                           dos recursos naturais.



                                                                 REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO    17
Entenda como são feitas as projeções
               dos efeitos sobre a qualidade de vida

       A análise dos efeitos do saneamento sobre a           também passem a fazer parte das variáveis de
       saúde partiu do cruzamento de informações             controle.
       municipais de saúde, de acesso a esgoto e
       indicadores socioeconômicos dos municípios da         Resultados
       região metropolitana do Rio de Janeiro. O banco
       de dados reuniu informações decenais de 1970,         Os modelos estimados para analisar o efeito do
       1980, 1991 e 2000, sobre: (i) o número de interna-    saneamento sobre a freqüência de internações
       ções por infecções gastrintestinais (CID-10:          por doenças gastrintestinais, a mortalidade
       shiguelose, amebíase, diarreia e gastroenterite       infantil e a esperança de vida apresentaram
       origem infecciosa presumível, cólera e outras         resultados bastante satisfatórios em termos
       doenças infecciosas intestinais.); (ii) o número de   estatísticos. Quanto maior a parcela da popula-
       óbitos em crianças com menos de 1 ano de vida,        ção com acesso a esgoto em um município,
       por mil nascidos vivos; (iii) a esperança de vida     menor é a incidência de infecções gastrintestina-
       ao nascer; (iv) o número de profissionais de          is, menor a mortalidade infantil e maior a
       saúde – médicos por mil habitantes; e (v) a renda     esperança de vida ao nascer. As demais variáve-
       per capita do município, a preços constantes. Os      is são todas significativas a 5%, com exceção da
       dados socioeconômicos foram obtidos no IBGE.          variável número de médicos por habitante no
       Os dados de internações e óbitos são provenien-       modelo de esperança de vida. As tabelas a
       tes do DataSus.                                       seguir apresentam os coeficientes estimados.

       Metodologia                                           Internações
                                                             variáveis                              Coeficiente      erro          t    p-valor
       Utilizou-se a técnica de regressão em painel
       para avaliar o efeito da porcentagem da               coleta de esgoto (%), das moradias        -0,0017     0,0003      -6,25    0,00%


       população atendida pela rede de esgotamento
                                                             PIB per capita                           -2,9E-08    7,2E-09      -4,11    0,00%

                                                             Profissionais de saúde por habitante      -0,0359     0,0084      -4,29    0,00%
       sanitário sobre duas variáveis:                       constante                                  0,0049     0,0001     42,63     0,00%



       Ÿ Óbitos de crianças com idade de até 1 ano –         Mortalidade infantil
         mortalidade infantil;
                                                             variáveis                              Coeficiente      erro          t    p-valor
       Ÿ A esperança de vida ao nascer; e
       Ÿ Número de internações por infecções gastrin-        coleta de esgoto (%), das moradias        14,8491     4,8613    3,0545     0,53%


         testinais associadas a problemas decorrentes
                                                             PIB per capita                           -9,9E-07    2,3E-08   -43,6744    0,00%

                                                             Profissionais de saúde por habitante      -1,8745     0,6504    -2,8820    0,00%
         de falta de saneamento, como proporção da           constante                                 17,6674     3,5997    4,9080     0,00%
         população total de cada município.
                                                             Esperança de vida ao nascer
       Em essência, a idéia do modelo em painel é
       utilizar as informações combinadas nas dimen-         variáveis                              Coeficiente      erro          t   p-valor


       sões de diferentes municípios ao longo do             coleta de esgoto (%), das moradias        -3,9073    1,4871    -2,6275    0,00%


       período analisado. Com isso, além de variáveis        PIB per capita                            2,3E-07    3,8E-08    5,9243    0,00%


       de controle fundamentais para avaliar os efeitos
                                                             Profissionais de saúde por habitante       0,8196    0,9949     0,8238    41,78%

                                                             constante                                 69,2114    1,1012    62,8523    0,00%
       marginais do saneamento sobre as questões
       propostas, pode-se também estimar característi-
       cas individuais importantes mas não observadas
       em cada um dos municípios, de forma que estas




18   DESAFIOS DO SANEAMENTO EM METRÓPOLES DA COPA 2014
REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO   19
O Rio de Janeiro tem dado provas de que caminha
rumo a um modelo de inclusão social. Com relação à
Copa e às Olimpíadas, a opção não pode ser
diferente. O grande desafio é construir uma região
metropolitana pujante e menos desigual. O primeiro
passo é a universalização do saneamento, pelo que
significa em termos de eliminação de desigualdades
aberrantes de condições de vida, melhora da saúde
e aumento da produtividade da população.

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Estudo Trata Brasil / FGV: Desafios do Saneamento em Metrópoles da Copa 2014 - Rio de Janeiro

  • 1. DESAFIOS DO SANEAMENTO EM METRÓPOLES DA COPA 2014 ESTUDO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO
  • 2. ÍNDICE APRESENTAÇÃO 03 DESTAQUES 04 RETRATO DO SANEAMENTO 05 QUALIDADE DE VIDA 09 ENTREVISTA SIBELLE BUONORA 13 ENTREVISTA WAGNER VICTER 15 CRÉDITOS COORDENAÇÃO PROF. FERNANDO GARCIA EQUIPE EDNEY CIELICI DIAS ANA MARIA CASTELO ANA LÉLIA MAGNABOSCO EDITORAÇÃO GD 7 JUNHO DE 2011
  • 3. APRESENTAÇÃO O que o Rio de Janeiro, palco e centro do Rio de Janeiro, com a estimativa da de operações da Copa 2014 e sede necessidade de investimentos para a das Olimpíadas 2016, guardará de universalização desses serviços e a legado social substantivo desses projeção dos benefícios socioeconômi- eventos? Como avançar em termos de cos decorrentes. desenvolvimento humano, de criação A pesquisa dá continuidade a uma de oportunidades, de promoção da série de trabalhos desenvolvidos a igualdade e integração social? Ou partir de 2007 pelo Instituto Trata ainda, em termos nacionais, o que essa Brasil em colaboração com a agenda esportiva pode promover em Fundação Getulio Vargas, com a termos de avanços socioeconômicos produção de um conteúdo significativo para as cidades nela envolvidas? Essas de conhecimento e análise dos desafi- perguntas não encontram respostas os a serem superados no campo do fáceis, mas são necessárias na pers- saneamento básico, de forma que a pectiva de que esses eventos devem população brasileira alcance um nível transcender a dimensão de mero de desenvolvimento humano compatí- entretenimento de alto custo. vel com as realizações e as potenciali- As soluções, independentemente dades do país. das eventuais discordâncias de diag- O saneamento - em especial, a nóstico, não podem ignorar problemas coleta e tratamento de esgoto - é funda- gritantes, materializados em realida- mental para as condições de saúde e des retrógradas, incomodamente para a produtividade das pessoas, presentes no Brasil do século 21. Este bem como na qualificação do território, trabalho, sem ter a pretensão de res- tanto para a moradia como para as ponder em toda abrangência as ques- atividades econômicas. Desde os anos tões acima formuladas, traz elementos 90, o país tem conseguido reduzir importantes para a avaliação das significativamente os níveis de pobre- carências de um serviço público ele- za, mas, em contraste, a questão do mentar na distinção entre o atraso e a saneamento avançou relativamente modernidade, o século retrasado e o pouco. Para, além da retórica, que presente - o saneamento básico, princi- esses eventos representem um marco, palmente na coleta e tratamento dos um passo decisivo no caminho da esgotos. Assim é apresentado um universalização do saneamento básico diagnóstico da região metropolitana nas metrópoles que os abrigarão.
  • 4. DESTAQUES AVANÇOS Ÿ Estima-se que o número de domicílios com coleta de esgoto na região metropolitana do Rio de Janeiro chegou a 3,2 milhões em 2010 Ÿ Esse número é 53% maior que o registrado no censo de 2000, indicando um crescimento de 4,3% ao ano no período. Esse desempenho recupera, em parte, a expansão lenta observada entre 1980 e 2000 Ÿ O ritmo de crescimento nos últimos 10 anos foi semelhante ao observado no estado do Rio de Janeiro como um todo (de 4,4% ao ano) e superior à taxa média nacional (de 4,2% ao ano) DÉFICIT Ÿ 19% das moradias da região metropolitana do Rio não têm acesso à rede de esgoto Ÿ Dos 750 mil domicílios sem acesso à rede, 250 mil localizam-se na cidade do Rio de Janeiro Ÿ O esgoto de 1,2 milhão de moradias (4,8 milhões de pessoas) não recebe tratamento INVESTIMENTO Ÿ R$ 1,1 bilhão é o investimento necessário para universalizar a coleta e o tratamento do esgoto na região metropolitana Ÿ Isso equivale a um aumento no investimento em saneamento de aproximadamente R$ 250 milhões até 2014 QUALIDADE DE VIDA Ÿ A universalização, ao reduzir a mortalidade infantil, pouparia 400 vidas ao ano na região metropolitana Ÿ A esperança de vida seria aumentada em 1 ano na média da região metropolitana com a universalização, chegando a até 2,3 anos nos municípios com menos saneamento Ÿ A universalização aumenta a produtividade dos trabalhadores – com ela, os salários teriam um aumento real de R$ 43 em média, o que implica um impacto na renda da região metropolitana de R$ 5,3 bilhões em 12 meses
  • 5. RETRATO DO SANEAMENTO Copa e Olimpíadas em uma região metropolitana pujante e menos desigual A inclusão das camadas mais pobres da população da região metropolitana do Rio na coleta e tratamento de esgoto vem sendo feita, mas de forma lenta A final, o que o Rio de Janeiro pode obter de estratégia imediatista deve ser, portanto, rechaçada avanço socioeconômico ao abrigar a Copa – o Rio de Janeiro e o Brasil não querem isso. 2014 e as Olimpíadas 2016? A questão pode A Cidade Maravilhosa teve neste ano sua ser analisada a partir de duas perspectivas diver- candidatura de patrimônio da humanidade aceita gentes, uma imediatista, de curto prazo, e outra pelo Centro do Patrimônio Mundial da Unesco – uma estratégica, que considera também os benefícios de conquista simbólica para uma capital que teve nas médio e longo prazo. últimas décadas sua imagem comprometida pela No primeiro caso, a questão é simplesmente proliferação da violência e da exclusão. O Rio de trabalhar o foco apenas no evento em si, com Janeiro, paralelamente, tem dado provas de que investimento social mínimo. Não é necessário um caminha rumo a um modelo inclusivo. Hoje há aprofundamento de análise para mostrar que se esforços de incorporação das favelas à cidade trata do barato que sai caro: haverá uma grande estruturada, e o grande desafio é construir uma massa de investimento privado (arenas, rede região metropolitana pujante, inclusiva, menos hoteleira, serviços) e público (infraestrutura específi- desigual. ca e serviços) que terá uma aplicação específica e, O primeiro passo nessa qualificação abrangente depois, estará fadada à desmobilização e a um do território é a universalização do saneamento, nível de operação abaixo das potencialidades. pelo que significa em termos de eliminação de No segundo caso, os investimentos são realiza- desigualdades aberrantes de condições de vida, dos considerando-se um salto qualitativo da área de melhora da saúde e aumento da produtividade da sua realização, dando embasamento a retornos população, bem como de fator determinante para o continuados e crescentes após a realização do exercício pleno das atividades econômicas em evento. Isso implica em termos práticos a perspecti- dada região. va de qualificação do território e da qualidade de A inclusão das camadas mais pobres da popula- vida de sua população. Em outras palavras, para 1 ção da região metropolitana do Rio de Janeiro no uma cidade como o Rio de Janeiro, saneamento básico vem sendo isso significa apostar em um feita, mas de forma lenta. Este modelo turístico espanhol, em um estudo mostra a evolução das contexto de alta qualificação de ser viços e desenvolvimento 81% das estatísticas de coleta de esgoto nos últimos 40 anos e destaca os humano, e se distanciar de vez de moradias da desafios para a universalização. padrões de investimentos turísticos à moda caribenha e africana, em região EVOLUÇÃO NA TRAJETÓRIA que empreendimentos são conce- bidos como enclaves isolados de metropolitana Estimativas feitas com base nos um território desqualificado. A têm dados preliminares do Censo 2010 1 Para efeito de comparação histórica, também coleta de indicam que 3,2 milhões de moradi- as tinham acesso a alguma forma foram considerados os dados do município de Mangaratiba, que deixou de pertencer à esgoto de coleta de esgoto na região região metropolitana do Rio de Janeiro em metropolitana do Rio de Janeiro. 2002. Esse número representa 81% do REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO 5
  • 6. Número de moradias com acesso a esgoto e déficit de coleta Região Metropolitana do Rio de Janeiro*, 1970 a 2010** 4.000 19,3% 753 Déficit relativo (%) Déficit absoluto Moradias com acesso 3.000 1.117 3.168 1.166 2.000 935 2.077 61,4% 915 1.525 1.000 1.213 574 - 1970 1980 1991 2000 2010* Em 1970, 915 mil moradias não tinham coleta de esgoto, o que representava 61,4% das residências a região metropolitana do Rio de Janeiro. Esse número caiu para 753 mil em 2010, o que equivale a um déficit relativo de 19,3%. Note-se, contudo, que o déficit só se reduz de maneira satisfatória a partir dos anos 2000. 6.000 Estado do Rio de Janeiro Brasil 60.000 44,6% Déficit relativo (%) Déficit relativo (%) 25.538 23,4% 5.000 Déficit absoluto 1.227 50.000 Déficit absoluto Moradias com acesso Moradias com acesso 24.347 4.000 1.601 40.000 4.016 23.201 1.706 3.000 30.000 31.786 1.267 2.601 18.794 20.000 86,9% 2.000 63,5% 21.161 1.146 1.754 15.325 1.442 10.000 12.234 1.000 660 6.500 2.318 - - No Estado do Rio de Janeiro, a evolução foi bastante semelhante à da região metropolitana. O déficit relativo caiu de 63,5% para 23,4%, mas o déficit de 2010 ainda é maior que o de 1970 em número de moradias. Durante as décadas de 80 e 10, contudo, a evolução do estado ficou bem aquém do padrão nacional. No Brasil, o ritmo de crescimento das moradias com coleta de esgoto foi de 6,1% ao ano. no Rio de Janeiro, essa taxa foi de 3% ao ano. Fonte: IBGE. (*) Inclui Mangaratiba, que deixou de fazer parte da RMRJ em 2002. (**) Dados preliminares. 6 DESAFIOS DO SANEAMENTO EM METRÓPOLES DA COPA 2014
  • 7. Déficit de coleta de esgoto, em mil moradias Municípios 1970 1980 1991 2000 2010* Belford Roxo 56,6 45,7 Duque de Caxias 117,6 95,9 69,6 Guapimirim 8,3 5,8 Itaboraí 21,9 34,3 38,5 24,5 Itaguaí 9,9 17,1 23,2 13,6 13,9 AVANÇOS E DESAFIOS Japeri 16,7 8,4 Magé 47,8 41,0 30,5 A tendência geral é de redução do déficit Mangaratiba** 2,5 3,3 4,7 6,1 6,8 de coleta de esgoto: 16 de 20 municípios Maricá 6,9 11,9 20,6 22,8 apresentaram redução do déficit em Mesquita*** 23,1 Nilópolis 23,6 12,2 12,3 9,1 5,5 termos absolutos na última década. A Niterói 26,8 34,6 42,8 38,8 9,3 cidade do Rio de Janeiro, com déficit de Nova Iguaçu 133,3 172,0 225,8 126,8 48,3 250 mil moradias em 2010, é que apresen- Paracambi 4,1 3,1 4,1 4,6 3,5 tou a redução mais expressiva de mora- Queimados 21,8 12,2 dias no déficit. Em 40 anos os investimen- Rio de Janeiro 448,4 291,4 437,9 396,7 251,8 São Gonçalo 82,2 130,4 168,9 157,0 116,1 tos foram suficientes para dar conta do São João de Meriti 55,8 72,2 34,7 43,1 37,5 crescimento do número de domicílios e Seropédica 16,1 14,3 permitiram a retirada de 200 mil moradi- Tanguá 5,5 3,7 as do déficit de saneamento. Total da RMRJ 786,4 765,1 1.166,1 1.116,9 753,4 Fonte: IBGE. (*) Dados preliminares.(**) Mangaratiba deixou de fazer parte da RMRJ em 2002. (***) Mesquita foi emancipada de Nova Iguaçu em 2002. Mapa do déficit de coleta de esgoto região metropolitana do Rio de Janeiro, No va Duque Guapimirim 2010*, (% das moradias) Paracambi Iguaçú Magé de Caxias Japeri Em termos relativos, o déficit é particular- Queimados Belford Ro xo Itaboraí Tanguá mente elevado em cinco municípios. Em Seropedica São Seropédica, 59% das moradias não tinha Gonçalo Itaguaí Nilópolis São João de Meriti acesso a qualquer forma de coleta de Mangaratiba Rio de Janeiro Niterói Maricá esgoto em 2010. Em Maricá, essa taxa atingiu 53% das moradias. Os outros três municípios críticos são: Mesquita (44%), 0%-15% 15%-30% Magé (43%) e Itaguaí (41%). 30%-40% 40%-50% + de 50% Fonte: FGV. (*) Dados preliminares. Mapa do déficit de coleta de tratamento região metropolitana do Rio de Janeiro, 2010*, (% das moradias) No va Duque Guapimirim Paracambi Iguaçú Magé de Caxias Em 2010, estima-se que o esgoto de 1,2 Japeri milhão de moradias não recebeu qual- Queimados Belford Ro xo Itaboraí Tanguá quer tratamento. Em termos relativos, 11 Seropedica São Gonçalo municípios têm déficit de tratamento de Itaguaí Nilópolis São João de Meriti 100% das moradias, 3 cidades têm déficit Mangaratiba Rio de Janeiro Niterói Maricá entre 50% e 70% das moradias. Apenas três têm déficit inferior a 20%: Rio de Janeiro (13,7%), Niterói (14,4%) e Nova 0%-15% 15%-30% Iguaçu (19,5%). 30%-40% 40%-50% + de 50% REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO 7
  • 8. R$ 1,1 bilhão é o volume de investimento necessário para universalizar a coleta e tratamento de esgoto na região metro- politana do Rio de Janeiro. Isso equiva- le a um acréscimo de R$ 250 milhões por ano no orçamento do saneamento até a Copa de 2014 total de 3,9 milhões de moradias da região. qualquer forma de coleta de esgoto em 2010. Em O avanço obtido na década é notório: o número Maricá, essa taxa atingiu 53% das moradias. Os de residências com coleta de esgoto em 2010 é 53% outros três municípios críticos são: Mesquita (44%), maior que o verificado em 2000, indicando um Magé (43%) e Itaguaí (41%). crescimento de 4,3% ao ano no período. O desem- Um aspecto agravante é que a maior parte penho recente recupera, em parte, a expansão dessas moradias pertence a municípios situados em lenta observada entre 1980 e 2000, quando o torno da Baía de Guanabara ou que têm rios e crescimento do número de domicílios com coleta de córregos que desaguam nela. Estima-se que das 750 esgoto foi de apenas 2,7% ao ano – no Brasil, essa mil moradias sem coleta de esgoto, 630 mil perten- taxa atingiu 6,1% ao ano. O ritmo na região metropo- çam a essa área, o que significa dizer que 84% do litana foi praticamente igual ao da expansão do esgoto não coletado tem como destino a Baía de número de moradias nesse período, de 2,1% ao ano, Guanabara. O impacto ambiental desse fato é o que explica a evolução lenta da taxa de cobertu- severo, visto que essa área marítima tem menor ra, que passou de 56% em 1980 para 66% em 2000. capacidade natural de dispersão de poluentes. O ritmo de crescimento dos domicílios com Além disso, na Baía de Guanabara se encontra uma coleta de esgoto na região metropolitana foi extensa área de mangues, fundamental para o semelhante ao observado no Estado do Rio de equilíbrio ecológico da região. Janeiro nos últimos dez anos, de 4,4% ao ano, e O déficit maior, contudo, diz respeito ao trata- ligeiramente superior à taxa média nacional, de mento do esgoto coletado. Do total de esgoto 4,2% ao ano. Isso reposiciona a metrópole fluminen- produzido na região metropolitana, estima-se que se no contexto nacional, visto que nas duas décadas apenas 68,5% receba tratamento antes do descarte. anteriores seu desempenho ficou bem abaixo das Isso significa que 31,5% do esgoto residencial expectativas. produzido na região é lançado diretamente no ambiente. Em 2010, estima-se que o esgoto de 1,2 DÉFICIT PERSISTENTE milhão de moradias não recebeu qualquer trata- mento, o que equivale a uma cidade com 4,8 Apesar dos avanços obtidos milhões de habitantes sem coleta nos anos recentes, o déficit de ou tratamento de esgoto. Aí estão coleta de esgoto na região metro- os domicílios em que o esgoto não politana permanece em patamar Estima-se que a é coletado e aqueles em que, elevado. Estima-se que cerca de 750 mil domicílios não dispunham maior parte do apesar de haver coleta, não há tratamento . de qualquer sistema de coleta de déficit esteja Em termos relativos, 11 municípios esgoto em 2010, o que equivale a têm déficit de tratamento de 100% 19% dos domicílios da região. na cidade do das moradias, 3 cidades têm déficit Em termos absolutos, estima-se que a maior parte do déficit esteja Rio de Janeiro: entre 50% e 70% das moradias e apenas três têm déficit inferior a na cidade do Rio de Janeiro: 250 250 mil 20%: Rio de Janeiro (13,7%), Niterói mil moradias ou 1/3 do total. Em (14,4%) e Nova Iguaçu (19,5%). O termos relativos, o déficit é particu- moradias ou mapa do déficit de tratamento de larmente elevado em cinco municí- pios. Em Seropédica, 59% das 1/3 do total esgoto mostra com clareza o grande contraste do saneamento moradias não tinha acesso a na região metropolitana. 8 DESAFIOS DO SANEAMENTO EM METRÓPOLES DA COPA 2014
  • 9. QUALIDADE DE VIDA E RENDA Mortalidade infantil cai, mas universalização da coleta de esgoto salvaria 400 crianças por ano Outra consequência da universalização do saneamento seria o aumento da longevidade da população, condição básica para o desenvolvimento humano E 2 introduzidas as variáveis PIB per capita, a razão ntre 1997 e 2007, a mortalidade infantil no Estado do Rio de Janeiro caiu de 24 crianças médicos por mil habitantes e variáveis binárias para por mil nascidos vivos para 15 por mil nascidos identificar as características específicas de cada vivos, segundo o Ministério da Saúde. Essa evolução município. Essa técnica estatística, chamada de está sem dúvida diretamente associada à redução dados de painel, é empregada para calcular o do déficit de coleta de esgoto no Estado, que efeito individual de uma variável sobre outra, passou de 38% das moradias (2000) para 23% possibilitando atribuir a contribuição exata da (2010). variação de uma variável sobre a variação de outra. As relações entre saúde e déficit de coleta de Assim, o efeito do saneamento sobre a mortalidade esgoto são bastante exploradas na literatura de infantil estimado neste estudo já leva em considera- políticas públicas. No documento de 2010 do ção as diferenças econômicas, sociais e de políticas Instituto Trata Brasil e da Fundação Getulio de saúde que podem também afetar a mortalidade Vargas, intitulado Benefícios econômicos da de crianças nos municípios da região metropolitana expansão do saneamento brasileiro, foi analisada do Rio de Janeiro. a relação entre déficit de coleta de esgoto e o A análise estatística, ilustrada em gráfico da número de internações por infecções gastrointesti- pág. 10, revela com clareza que, quanto maior o nais e de óbitos associados a esse tipo de doença. déficit de coleta de esgoto, maior a taxa de mortali- Mortes e internações estão positivamente associa- dade infantil. Os municípios com maior déficit das ao déficit, o que mostra que o Brasil poderia (acima de 90% das moradias sem coleta de esgoto) economizar muitos recursos e salvar inúmeras vidas são os que têm taxas de mortalidade infantil mais caso o acesso ao saneamento fosse universalizado. elevadas, em geral acima de 35 mortes por mil Para o presente estudo, foi realizada uma nascidos vivos. Já as cidades que têm déficit de análise específica para a região metropolitana do saneamento menor – Niterói e Rio de Janeiro – Rio de Janeiro, considerando os dados de déficit apresentam também as menores taxa de mortalida- relativo de coleta de esgoto e a taxa de mortalida- de infantil (abaixo de 15 mortes por mil nascidos de infantil. As informações abarcam os 19 municípi- vivos). os da região metropolitana e a Essa análise possibilita estimar cidade de Mangaratiba, que o quanto a mortalidade infantil pertencia à região metropolitana poderia ser reduzida na região até 2002. Elas se referem aos anos Quanto maior o metropolitana caso a coleta de de 1970, 1980, 1991 e 2000 – os esgoto fosse universalizada. dados são provenientes das bases déficit de coleta Estima-se que o déficit de coleta de esgoto na região tenha sido de do Ipea e do IBGE. de esgoto, 19,3% das moradias, ou ainda, que Para controlar o efeito de outros fatores sobre a taxa de maior a taxa de 753 mil moradias ainda não tinham mor talidade infantil, foram acesso a alguma forma de coleta mortalidade de esgoto. Se essa carência fosse sanada, ou seja, se o déficit fosse 2 A taxa de mortalidade infantil é dada pela razão entre o número de mortes de crianças infantil zerado, a taxa de mortalidade com até 1 ano de idade por mil nascidos vivos. infantil cairia 2,9 pontos. Isto é, REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO 9
  • 10. Mortalidade infantil 35 Déficit de coleta de esgoto e mortalidade infantil na região metropolitana do Rio Mortalidade infantil (mortos por 1.000 nascidos vivos) de Janeiro 30 O gráfico ilustra a relação positiva entre 25 mortalidade e déficit de coleta de esgoto. Quanto maior o déficit, maior a mortalidade de crianças no primeiro ano de vida. Esse efeito se deve à maior incidência de infecções. A 20 inclinação da linha no gráfico mede a sensibili- dade da mortalidade ao incremento do déficit. 15 10 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% Déficit de coleta de esgoto, (%) dos domicílios 35 Mortalidade infantil por faixa de déficit de coleta de esgoto, simulação para a Mortalidade infantil (mortos por 1.000 nascidos vivos) região metropolitana do Rio de Janeiro 30 25 O gráfico mostra o valor esperado de mortali- dade infantil para cada faixa de déficit de saneamento. Em um município com déficit de 50%, ou seja, onde a metade das moradias não 20 tem acesso à coleta de esgoto, a mortalidade infantil deve ser de 25 crianças por mil nasci- dos vivos. Numa cidade em que todos têm 15 acesso á coleta de esgoto, a mortalidade é menor, de 17 crianças por mil nascidos vivos. 10 5 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Déficit de coleta de esgoto (% das moradias) 10 DESAFIOS DO SANEAMENTO EM METRÓPOLES DA COPA 2014
  • 11. Esperança de vida Déficit de coleta de esgoto e esperança 75 de vida ao nascer na região metropolitana do Rio de Janeiro 72 Esperança de vida ao nascer (anos) O gráfico ilustra a relação negativa entre esperança de vida e déficit de coleta de 69 esgoto. Quanto maior o déficit, menor a esperança de vida ao nascer. A falta de coleta de esgoto leva ao aumento da exposição a infecções e à piora global das condições de 66 saúde da população, com efeito sobre a longevidade das pessoas. 63 60 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% Déficit de coleta de esgoto, (%) dos domicílios 71 Esperança de vida por faixa de déficit de coleta de esgoto, simulação para a região metropolitana do Rio de Janeiro 69 Esperança de vida ao nascer (anos) 67 O gráfico mostra o valor esperado de vida, em anos, para cada faixa de déficit de saneamen- to. O morador de uma cidade com déficit de 65 50%, ou seja, onde a metade das moradias não tem acesso à coleta de esgoto, 68 anos aproximadamente. O habitante de uma cidade 63 em que todos têm acesso á coleta de esgoto espera viver cera de 2 anos a mais, ou seja, espera viver até os 70 anos de idade. 61 59 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Déficit de coleta de esgoto (% das moradias) REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO 11
  • 12. A universalização do saneamento até a Copa de 2014 traria um ganho permanente de renda para a região metropolitana de R$ 5,3 bilhões, o equivalente a R$ 443 milhões por mês a mais na renda dos moradores da região para cada mil crianças nascidas vivas, quase três saneamento na renda dos trabalhadores por meio mortes seriam evitadas. Considerando que entre da construção de um modelo bastante amplo a julho de 2009 e junho de 2010 nasceram 142 mil respeito dos determinantes da produtividade do crianças na região metropolitana, a universalização trabalho. Considerando todos esses fatores em do sistema de coleta de esgoto teria poupado 400 conjunto, é possível separar o efeito específico de vidas em 12 meses. cada um, isolando a contribuição do saneamento como foi feito no caso da mortalidade infantil e da ESPERANÇA DE VIDA esperança de vida. No modelo, a escolaridade, a experiência profissional dos indivíduos e o setor de Outra consequência da universalização do sanea- atividade econômica em que trabalham se destaca- mento seria o aumento da longevidade da popula- ram entre as características pessoais e da ocupação ção, condição básica para o desenvolvimento que afetam a produtividade e o salário. Foi identifi- humano. Essa ideia é reforçada pela análise cado que os trabalhadores com acesso à coleta de específica da relação entre déficit de coleta de esgoto ganham salários, em média, 13,3% superio- esgoto e esperança de vida ao nascer feita com res aos daqueles que moram em locais sem coleta base em dados do IBGE para a região metropolita- de esgoto. na do Rio de Janeiro. Com base nessa análise, é possível inferir que, A análise mostra que, quanto maior o déficit de se for dado acesso à coleta de esgoto a um traba- coleta de esgoto, menor a esperança de vida ao lhador sem esse serviço, espera-se que a melhora nascer. Os municípios com menor déficit – Niterói e geral de sua qualidade de vida possibilite uma Rio de Janeiro – apresentam esperança de vida ao produtividade 13,3% superior, elevando a sua renda nascer superior a 70 anos. Já as cidades que têm em igual proporção. Assim, a inclusão das 753 mil déficit de saneamento maior – acima de 15% das moradias na coleta de esgoto teria efeito sobre a moradias – têm esperança de vida inferior a 70 renda média dos trabalhadores da região metropo- anos. litana do Rio de Janeiro. Se 19,3% das moradias Com base nessa relação, estima-se que a passassem a receber 13,3% de renda mais em razão universalização dos serviços de saneamento do aumento de produtividade, a renda média da aumentaria em aproximadamente 1 ano a expecta- região cresceria 2,6%. Isso equivale a um aumento tiva de vida da população da região metropolitana. de R$ 43 no rendimento médio dos trabalhadores da Para as cidades com déficit maior, a universalização região metropolitana do Rio de Janeiro, que foi de significaria ganhos relativamente maiores. Em R$ 1.678,00 em março de 2011. Seropédica, por exemplo, município que tem o O efeito agregado seria expressivo: 10,36 maior déficit relativo, a longevidade da população milhões de trabalhadores recebendo R$ 43 a mais aumentaria em 2,3 anos. por mês significa adicionar à massa de rendimentos da região R$ 446 milhões por mês, ou R$ 5,3 bilhões RENDA por ano. Esse seria um grande legado em termos econômicos da universalização do saneamento na No documento Benefícios econômicos da região metropolitana do Rio de Janeiro, o qual se expansão do saneamento brasileiro, de 2010, foi somaria aos avanços de qualidade de vida, com analisada a relação entre acesso ao saneamento e redução da mortalidade e aumento da longevida- o salário do trabalhador. A análise, feita com base de, na direção do maior desenvolvimento humano nas informações da Pnad de 2009, isolou o efeito do da região. 12 DESAFIOS DO SANEAMENTO EM METRÓPOLES DA COPA 2014
  • 13. “Esperamos que, com o aporte de dinheiro e – principalmente – de vontade política, haja um legado importante: a universalização do saneamento” ENTREVISTA – Sibelle Buonora, mestre em infectologia pela UFRJ, médica responsável pela Unidade de Paciente Internos, IPPMG/UFRJ e coordenado- ra da Comissão de Controle de Infecção Pré-Hospitalar do sistema UPA Como as deficiências do saneamento básico são As crianças são o segmento da população mais percebidas pelos profissionais da saúde na vulnerável a esse tipo de doença? Por quê? região metropolitana do Rio de Janeiro? As doenças decorrentes da ausência de saneamento Sibelle Buonora – A vulnerabilidade da criança se se destacam? A sra. poderia dar exemplos? dá por dois aspectos. 1) Os hábitos de higiene na criança são bastante precários. Com 1 ano de idade, a criança engatinha pela casa, expondo-se Sibelle Buonora – A diarreia é o efeito mais sentido às impurezas. Além disso, há a fase oral, quando a entre os pediatras. Esta doença, rara no hemisfério norte, aqui é extremamente comum em razão da criança descobre o meio que a cerca levando falta de saneamento básico. No entanto, outros objetos para a boca. 2) Imaturidade do sistema efeitos da poluição das águas podem ser percebi-imunológico, pois a criança não tem o seu “arsenal” imunológico montado, portanto, ela está suscetível a dos, como o índice de indivíduos já expostos ao vírus da hepatite A (transmissão fecal-oral), onde a agentes infecciosos. A sintomatologia é mais florida maioria dos adultos residentes de municípios quee a criança adoece mais. margeiam a Baía de Guanabara já foi exposta, diferentemente de outras regiões Tendo em vista os principais do estado. Isso demonstra o resultados deste estudo, qual o alto grau de exposição à água papel da universalização do poluída. Não adianta o saneamento para a saúde da As parasitoses intestinais são médico população da região metropolita- outro reflexo da falta de sanea- no posto de saúde na do Rio de Janeiro? mento básico. Determinadas regiões dos municípios de prescrever Sibelle Buonora – A universalização Duque de Caxias e São mensalmente o do saneamento é de extrema Gonçalo, ambos na região medicamento mais importância para o desenvolvimen- metropolitana do Rio de to adequado da população. Isso Janeiro, não têm saneamento caro, ou até mesmo o implica menores gastos para a básico, a água é de poço e o mais barato, se a saúde, uma vez que diminui o sistema de esgotamento é população continua número de infecções intestinais, ou fossa, muitas vezes ambos os seja, menor número de eventos que reservatórios são muito próxi- se expondo à água levem a internações hospitalares; mos, havendo contaminação do poluída diminui a frequência de anemias, lençol freático. muito associada a parasitoses REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO 13
  • 14. POR QUE A UNIVERSALIZAÇÃO DO SANEAMENTO É IMPORTANTE PARA A SAÚDE: Ÿ Implica menores gastos, uma Ÿ Diminuem as chances de vez que diminui o número de exposição a agentes infecções intestinais e reduz potencialmente letais, como o internações vírus da hepatite A Ÿ Diminui a frequência de Ÿ Reduz as chances de anemias, muito associada a desenvolvimento de doenças parasitoses intestinais, crônicas, decorrentes de propiciando melhora do depósito de metais pesados rendimento escolar, melhora do sistema imune intestinais, propiciando melhora do rendi- Número de internações por doenças mento escolar, melhora do sistema imune e, gastrintestinais infecciosas por faixa de déficit assim, diminuindo o adoecimento do indiví- de coleta de esgoto, (% das moradias) duo; diminuem as chances de exposição a 500 agentes potencialmente letais como o vírus da hepatite A, que causa hepatite fulminante 450 em adultos; reduzem as chances de desenvol- vimento de doenças crônicas, decorrentes de 400 depósito de metais pesados. Internações por 100.000 habitantes Quais objetivos de redução de doenças 350 decorrentes do saneamento a sra. julga viáveis até a realização da Copa? 300 Sibelle Buonora – Não adianta o médico no 250 posto de saúde prescrever mensalmente o medicamento mais caro, ou até mesmo o 200 mais barato, se a população continua se expondo à água poluída. Outros eventos ocorridos no Rio trouxeram como “mote” a 150 despoluição da Baía de Guanabara. No entanto ela não foi completa, ainda há 100 despejo de material in natura, principalmen- te nos municípios localizados no “fundo” da 50 baía. Já podemos encontrar golfinhos com maior frequência, mas isto não é o suficiente. 0 Esperamos que, com o aporte de dinheiro e 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% principalmente de vontade política com o advento da Copa e Olimpíadas, haja um Déficit de saneamento (% das moradias) legado importante que é a universalização do saneamento básico no Rio de Janeiro. Fonte: FGV. 14 DESAFIOS DO SANEAMENTO EM METRÓPOLES DA COPA 2014
  • 15. “A universalização dos serviços de saneamento depende, tal qual no Programa de Universalização da Energia Elétrica, de subsidio para comunidades carentes” ENTREVISTA – Wagner Victer, presidente da Companhia de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro – Cedae Quais os principais esforços de sua gestão à ser a que possui a maior taxa de crescimento do frente da Nova Cedae para acelerar o saneamen- Estado; to na região metropolitana do Rio de Janeiro? Quais investimentos o sr. julga mais representati- Ÿ A complementação da Rede Coletora do Sistema vos e que avanços podem ser esperados até a Sarapui, onde temos construído a Estação de realização da Copa do Mundo? Em sua opinião, o Tratamento de Esgoto da Baixada Fluminense ritmo de combate ao déficit de água, coleta e (previsão de início de operação do sistema em tratamento dos esgotos está adequado? 90 dias); Wagner Victer – Desde o início dessa gestão, em Ÿ A construção de sistema de coleta e transporte 2007, dois principais pilares orientaram as ações da de esgotamento da Pavuna; companhia foram a modernização administrativa (nos conceitos da boa prática da governança Ÿ Reconstrução das 8 elevatórias de esgoto do corporativa) e ampliação da malha de abasteci- entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas. Com a mento de água e da rede coletora de esgotos. Esses entrada em operação, essas estações reduziram dois atuam em sinergia e num ciclo drasticamente os níveis de coliformes no local, permanente de qualidade e deixando a lagoa dentro dos evolução continuada. Os investi- rigorosos padrões exigidos mentos que considero mais representativos são: Se os Jogos pela resolução do Conama que rege os índices para Olímpicos contato secundário. Ou seja, se A ampliação do abastecimen- os Jogos Olímpicos fossem Ÿ to de água da Barra da Tijuca, fossem hoje, já hoje, já poderiam ser realiza- Recreio, Jacarepaguá, Vargem Grande e Vargem Pequena, poderiam ser dos na Lagoa Rodrigo de Freitas; antecipando e atendendo as realizados na exigências do Comitê Olímpico Ampliação do sistema Alegria, Lagoa Rodrigo Ÿ Internacional (COI). Os refor- no Caju, que até 2006 tratava apenas 400 litros de esgoto por ços de abastecimento para essa região se justificam por de Freitas segundo em regime Primário REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO 15
  • 16. ENTREVISTA COM WAGNER VICTER (retira só 40% das impurezas). Atualmente, em Durante a sua gestão, a Cedae elaborou, com 2011, com as diversas intervenções inauguradas auxílio da Fundação Getulio Vargas, um plano pela Cedae nos últimos cinco anos, a companhia estratégico de reestruturação administrativa e já está tratando cerca de 2.500 litros de esgotos financeira. O sr. poderia explicar, de forma por segundo em regime Secundário (retirando resumida, o conteúdo desse plano e os progressos 98% das impurezas), com a interligação dos que ele trouxe para a atividade-fim da Nova imóveis de 16 bairros do Rio de Janeiro, inclusive Cedae? o centro da cidade. Wagner Victer – A parceria com a FGV nasceu em Quanto ao combate ao déficit de água e coleta e maio de 2007 e faz parte de um plano de reestrutura- tratamento de esgotos, são muitos os vieses pelos ção e modernização da Cedae. Suas linhas foram quais as ações devem acontecer. Um deles é o traçadas naquele ano e contou com todos os compromisso da empresa com a redução e controle colaboradores que ocupavam cargos estratégicos, das perdas de água (o que implica o uso racional orientados pela fundação, e com ampla discussão do recurso hídrico) e ampliação dos serviços de sobre a definição da missão, da visão e da meta da coleta de esgotos. Essas questões estão equaciona- companhia, ou seja, estávamos criando uma nova das, planificadas e em curso num cronograma identidade para a Cedae. definido. Seus resultados serão alcançados de Os trabalhos e estudos foram conduzidos no maneira gradual e está adequado às disponibilida- sentido de diagnosticar os pontos fracos e propor des de recursos e à política de universalização dos mudanças nos modelos de gestão que impediam serviços, que é a base legal, social e filosófica da seu crescimento. O foco nos processos administrati- Nova Cedae e que deve reger qualquer empreen- vos visava à celeridade das rotinas internas, tornan- dedor cujo resultado das decisões que toma à frente do o processo decisório do corpo diretivo mais leve da corporação que administra influencia diretamen- e eficiente. O viés financeiro adequava a Nova te na qualidade de vida da população. Cedae ao cenário dos novos critérios contábeis Um exemplo importante disso é o programa Água (normas internacionais contidas no International Para Todos, que visa à universalização dos serviços Financial Reporting Standards – IFRS) e a preparava de saneamento, atinge 140 comunidades e já para os desafios de um mercado que elegia como apresenta resultados positivos no que tange: parâmetro principal de qualidade na prestação dos serviços de saneamento a eficiência e a tarifação Ÿ À redução do consumo per capita; adequada. Com uma interatividade maior entre a empresa Ÿ Melhoria física da rede para o atendimento e a sociedade organizada, é impossível não estar global: redução de vazamentos; contido nesse cenário de reforma de retirada e substituição de conduta uma importante contribui- tubulações comprometidas; ção cabível ao cliente, qual seja: a atualização de cadastro Estamos utilização racional da água em técnico do sistema de abaste- contrapartida ao compromisso da cimento etc. (redução das contribuindo empresa em gerir seus recursos perdas); Ÿ Atendimento satisfatório e para o aumento financeiros, de modo a investir permanentemente em qualidade e sustentável ao cliente de da qualidade modernização dos seus serviços. baixa renda. O crescimento de uma companhia de vida do como a Cedae envolve várias Como se vê, nesse caso em específico, há um componente povo de nosso medidas, isoladas e/ou coordena- das, simultâneas ou intercaladas, social importante que se destaca Estado de várias naturezas, cobrindo nesse programa. todas as regiões em que atua para 16 DESAFIOS DO SANEAMENTO EM METRÓPOLES DA COPA 2014
  • 17. melhor atender a população de sua área de Univercedae – e nele realiza cursos de aperfeiçoa- atuação. mento que são a base de toda melhoria continua a Eis algumas ações importantes que são reflexos que se propõe e que no ano de 2010 treinou aproxi- do progresso que essas mudanças de paradigma madamente 70% do seu quadro funcional. estão trazendo: Tendo em vista sua grande experiência, desde Ÿ Atualmente a Cedae vem realizando investimen- 2007, à frente da empresa, qual a principal tos significativos em modernização de seus mensagem que o sr. teria para as companhias de sistemas de informática, mais especificamente, saneamento conseguirem acelerar a universaliza- com a implantação do Sistema Integrado de ção dos serviços em suas regiões? Gestão Empresarial (tradução da sigla inglesa ERP), que é uma plataforma de software que foi Wagner Victer – Acredito que a universalização dos criada para integrar os diversos setores da serviços de saneamento depende, tal qual no Cedae, possibilitando uma confiabilidade maior Programa de Universalização da Energia Elétrica, na geração dos seus dados internos, sejam eles: de subsidio para comunidades carentes. financeiros, contábeis, patrimoniais, operaciona- is, comerciais etc., estejam eles em qualquer fase Agora sabendo dos principais resultados do do processo produtivo, direta ou indiretamente estudo feito pela FGV ao Instituto Trata Brasil, qual relacionados. A implantação desse sistema irá a sua avaliação para estes resultados? Quais são, propiciar: em seu ponto de vista, os principais pontos que ainda necessitam ser atacados no saneamento o Um controle efetivo e redução real dos custos; da região metropolitana no Rio de Janeiro? o Melhoria significativa no fluxo de informação interna; Wagner Victer – Tudo pode ser aperfeiçoado, muito o Internalização das melhores práticas de há que ser feito ainda. Através da prestação de um mercado aos processos internos (estão serviço eficiente e suficiente de abastecimento de inseridas na lógica do ERP); água e coleta de esgotos, estamos contribuindo o Definição mais clara das necessidades da para o aumento da qualidade de vida do povo de companhia, propiciando um planejamento nosso Estado. estratégico mais adequado a sua realidade; O vínculo que temos à administração pública nos o Monitoramento por indicadores. obriga a atender uma importante função social e a não nos distanciarmos da O processo de moderniza- realidade econômica da ção administrativa e operacio- Ser viável população, porém ser viável nal da Cedae atingirá uma financeiramente é um preceito importante etapa com a financeiramente é legal e uma condição essencial finalização da obra de sua futura sede, que trará significati- um preceito legal de evolução contínua e promo- ção da universalização os va redução de custos, melhor e uma condição serviços. integração entre os setores, A Nova Cedae não deixa de eficiência nas rotinas internas e essencial de observar no horizonte de seus aumento da produtividade per capita. evolução contínua projetos a sua responsabilida- de social e ambiental e os A Cedae, nesse esforço de e promoção da realiza respeitando essas alcançar a excelência na premissas, garantindo assim o prestação dos serviços de universalização equilíbrio e a sustentabilidade saneamento, construiu um Centro de Treinamento – a os serviços dos recursos naturais. REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO 17
  • 18. Entenda como são feitas as projeções dos efeitos sobre a qualidade de vida A análise dos efeitos do saneamento sobre a também passem a fazer parte das variáveis de saúde partiu do cruzamento de informações controle. municipais de saúde, de acesso a esgoto e indicadores socioeconômicos dos municípios da Resultados região metropolitana do Rio de Janeiro. O banco de dados reuniu informações decenais de 1970, Os modelos estimados para analisar o efeito do 1980, 1991 e 2000, sobre: (i) o número de interna- saneamento sobre a freqüência de internações ções por infecções gastrintestinais (CID-10: por doenças gastrintestinais, a mortalidade shiguelose, amebíase, diarreia e gastroenterite infantil e a esperança de vida apresentaram origem infecciosa presumível, cólera e outras resultados bastante satisfatórios em termos doenças infecciosas intestinais.); (ii) o número de estatísticos. Quanto maior a parcela da popula- óbitos em crianças com menos de 1 ano de vida, ção com acesso a esgoto em um município, por mil nascidos vivos; (iii) a esperança de vida menor é a incidência de infecções gastrintestina- ao nascer; (iv) o número de profissionais de is, menor a mortalidade infantil e maior a saúde – médicos por mil habitantes; e (v) a renda esperança de vida ao nascer. As demais variáve- per capita do município, a preços constantes. Os is são todas significativas a 5%, com exceção da dados socioeconômicos foram obtidos no IBGE. variável número de médicos por habitante no Os dados de internações e óbitos são provenien- modelo de esperança de vida. As tabelas a tes do DataSus. seguir apresentam os coeficientes estimados. Metodologia Internações variáveis Coeficiente erro t p-valor Utilizou-se a técnica de regressão em painel para avaliar o efeito da porcentagem da coleta de esgoto (%), das moradias -0,0017 0,0003 -6,25 0,00% população atendida pela rede de esgotamento PIB per capita -2,9E-08 7,2E-09 -4,11 0,00% Profissionais de saúde por habitante -0,0359 0,0084 -4,29 0,00% sanitário sobre duas variáveis: constante 0,0049 0,0001 42,63 0,00% Ÿ Óbitos de crianças com idade de até 1 ano – Mortalidade infantil mortalidade infantil; variáveis Coeficiente erro t p-valor Ÿ A esperança de vida ao nascer; e Ÿ Número de internações por infecções gastrin- coleta de esgoto (%), das moradias 14,8491 4,8613 3,0545 0,53% testinais associadas a problemas decorrentes PIB per capita -9,9E-07 2,3E-08 -43,6744 0,00% Profissionais de saúde por habitante -1,8745 0,6504 -2,8820 0,00% de falta de saneamento, como proporção da constante 17,6674 3,5997 4,9080 0,00% população total de cada município. Esperança de vida ao nascer Em essência, a idéia do modelo em painel é utilizar as informações combinadas nas dimen- variáveis Coeficiente erro t p-valor sões de diferentes municípios ao longo do coleta de esgoto (%), das moradias -3,9073 1,4871 -2,6275 0,00% período analisado. Com isso, além de variáveis PIB per capita 2,3E-07 3,8E-08 5,9243 0,00% de controle fundamentais para avaliar os efeitos Profissionais de saúde por habitante 0,8196 0,9949 0,8238 41,78% constante 69,2114 1,1012 62,8523 0,00% marginais do saneamento sobre as questões propostas, pode-se também estimar característi- cas individuais importantes mas não observadas em cada um dos municípios, de forma que estas 18 DESAFIOS DO SANEAMENTO EM METRÓPOLES DA COPA 2014
  • 19. REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO 19
  • 20. O Rio de Janeiro tem dado provas de que caminha rumo a um modelo de inclusão social. Com relação à Copa e às Olimpíadas, a opção não pode ser diferente. O grande desafio é construir uma região metropolitana pujante e menos desigual. O primeiro passo é a universalização do saneamento, pelo que significa em termos de eliminação de desigualdades aberrantes de condições de vida, melhora da saúde e aumento da produtividade da população.