O documento discute a análise do desenho infantil, abordando sua evolução, funções expressivas e projetivas. Apresenta as principais fases de desenvolvimento do desenho infantil e como ele reflete a personalidade e mundo interno da criança através da escolha de temas, cores, traços e posicionamento na folha. Conclui que o desenho auxilia no diagnóstico e terapia ao proporcionar informações sobre a dimensão cognitiva, afetiva e motora da criança.
2. Desenho Infantil
🞇 Linguagem própria da criança
🞇 Expressa pensamentos, sentimentos,
desejos, emoções
🞇 “Faz de conta” (interação entre o
imaginário e o meio envolvente)
Representação baseada na
experiência da criança
Widlöcher (1971), Barbosa (2005), Gomes (2009)
3. O desenho permite ao sujeito:
T
ornar visível o invisível, consciente o
inconsciente, comunicar um mal-estar e
defender-se contra a angústia
Expressar-se sem necessidade de verbalizar
Projetaro seu próprio corpo e desejos
Refletira sua personalidade
Pedirajuda
Funções do Desenho
4. Evolução do Desenho (1)
🞇 Surge de forma espontânea e evolui ao ritmo do
desenvolvimento global da criança
🞇 Dimensão subjetiva inerente à idade da criança
🞇 Analisar o desenho implica o conhecimento sobre o
estágio de evolução do desenho em que a criança
se encontra
Rabiscos
(garatuja)
Desenho
Barbosa (2005), Gomes (2009)
5. Evolução do Desenho (2)
🞇 O papel principal do desenho é REPRESENTAR algo
🞇 O desenho infantil caracteriza-se pelo realismo intencional
Realismo
Fortuito
Realismo
Falhado
Realismo
I
ntelectual
Realismo
Visual
Luquet (1927, cit in Widlöcher, 1971), Coelho (1993)
6. 0-1 anos: Resposta reflexa/involuntária
1-2 anos: Fase do Realismo Fortuito / Garatuja
• O desenho é apenas uma ação sobre
uma superfície, na qual a criança sente
prazer em constatar os efeitos visuais
que essa ação produz
• Não existe intenção de representar um
objeto
Evolução do Desenho (3)
Luquet (1927, cit in Widlöcher, 1971), Coelho (1993)
7. 2-3 anos: Fase do Realismo Falhado
Evolução do Desenho (4)
• Surge o desenho intencional, porém com um
“desnível” entre a intenção e as capacidades
gráficas Falhasna execução
• Linhas verticais, horizontaise a mandala
• Aquisição do controle do traçado
Luquet (1927, cit in Widlöcher, 1971), Coelho (1993)
8. Evolução do Desenho (5)
4-7 anos: Fase do Realismo Intelectual (1)
• Desenho premeditado em que a criança usa
os esquemas gráficos para significar a
realidade exterior
• Mudança de pontos de vista do desenho, e a
criança desenha observando parte do objeto de
um ângulo e parte de outro a partir de outro
ângulo (um corpo de frente e pés de perfil)
Luquet (1927, cit in Widlöcher, 1971), Coelho (1993)
9. 4-7 anos: Fase do Realismo Intelectual (2)
Evolução do Desenho (6)
pormenores que
a identificação do
• Uso de
facilitam
desenho
• O desenho criado está
dependente quer da perceção
que a criança tem das coisas,
quer do seu próprio estilo
(controle motor)
Luquet (1927, cit in Widlöcher, 1971), Coelho (1993)
10. 7-12 anos: Fase do Realismo Visual
Luquet (1927, cit in Widlöcher, 1971), Coelho (1993)
Evolução do Desenho (7)
• O objeto é desenhado pela criança tal e qual como é
visto por ela (ao invés de como elas são conhecidas na
fase anterior)
• Surge a noção de perspetiva
11. 7-12 anos: Fase do Realismo Visual
Evolução do Desenho (8)
Luquet (1927, cit in Widlöcher, 1971), Coelho (1993)
12. O desenho, enquanto sistema expressivo,
revela a dimensão afetiva da criança pelo
tipo de grafismo, temas , cores, formas,
posicionamento na folha, etc
Através do desenho, a criança revela:
•Capacidades práticas
•T
raços da sua personalidade
Desenho e Personalidade (1)
Luquet (1927, cit in Widlöcher,1971)
13. 1) Valor expressivo do desenho
• Depende do gesto gráfico, da escolha do tema, das
formas e das cores, posição no espaço
2) Valor projetivo do desenho
• O estilo geral da figuração revela a visão da criança sobre
o mundo; ela projeta a sua maneira de ver esse mundo
3) Valor narrativo do desenho
• Manifestação dos interesses, gostos e preocupações
(produtos da imaginação ao narrar o desenho)
4) Sentimentos e pensamentos inconscientes
• Expressão de objetos recalcados (“esquecidos” na
subconsciência) Luquet (1927, cit in Widlöcher,1971)
Desenho e Personalidade (2)
14. 1) Valor Expressivo (Cores)
A cor tem valor expressivo, no qual cada cor e as suas
combinações têm efeitos próprios e exprimem uma
tonalidade emocional
I
nicialmente, a criança usa as cores indiscriminadamente;
ao longo do tempo irá usar as cores reais dos objetos
que quer representar
Progressivamente, a riqueza do jogo de cores corresponde
a uma libertação da afetividade
Widlöcher (1971)
15. Sem Cores/Única cor
•Significa preguiça ou falta de motivação
•Ao elaborar menos sobre a cor, ela dá mais
importância ao traço e à forma
•Déficit afetivo e eventuais traços
depressivos
Cores quentes
•Criançasabertas, bem adaptadas ao
grupo
•Alegres, extrovertidas e demonstram
controle emocional.
1) Valor Expressivo (Cores)
Widlöcher (1971)
16. Cores neutras
•Crianças fechadas, independentes
Cores frias
•Crianças com tendência para se
concentrarem em si mesmas
1) Valor Expressivo (Cores)
Widlöcher (1971)
18. • Representa o intelecto, a imaginação
e o futuro; a criança expressa a sua
curiosidade e desejo de descoberta
Parte superior da
folha
Parte inferior da
folha
• Representa o passado, as
necessidades físicas e materiais;
necessidade de suporte/estabilidade
• Representa insegurança e baixa
autoconfiança
Grande separação
espacial
• Representa
imaturidade;
falta de controle,
pode também indicar
uma atitude de oposição
Tendência para
Widlöcher (1971)
ultrapassar os limites
da folha
1) Valor Expressivo (Posição no espaço - 1)
19. • A criança pode estar ligada a um
acontecimento do passado
• Pode representar impulsividade
Predominância
sobre o lado
esquerdo
• A criança está ligada ao presente e
disponível para o que a rodeia
• Não sofre de tensão ou ansiedade
Predominância
sobre o centro da
folha
• A criança pensa no futuro e coloca
muita energia e esperança nele
Predominância
Widlöcher (1971)
sobre o lado
direito
1) Valor Expressivo (Posição no espaço - 2)
20. 1) Valor Expressivo (Pressão exercida no traço)
Elevada
pressão
• Maior a
cólera
presente
Pressão
normal
•Entusiasmo
e vontade
Fraca
pressão
• A criança
empenha-
se de forma
distante,
sem
convicção
ou pode
sentir fadiga
física
Pressão
variável
Widlöcher (1971)
• Hesitação
• A criança
não é
constante
na sua
afirmação
presente
Aspeto a considerar na observação psicomotora…
21. 2) Valor Projetivo
🞇 O desenho reflete uma visão global
da personalidade da criança
🞇 Em qualquerque seja a idade, no
desenho existe projeção de afetos,
pensamentos, desejos, medos
🞇 Em suma, a produção gráfica fornece
informações cognitivas, percetivas e
afetivas da criança
Widlöcher (1971), Marcilhacy (2011)
22. 2) Valor Projetivo
Criança Sensível
🞇 Interessa-se por objetos familiares, o que dá aos seus
desenhos uma impressão de imensa riqueza:
paisagens, árvores, casas, estradas, pormenores e
detalhes;dinamismo
🞇 T
ons vivos e realistas
Widlöcher (1971)
23. 2) Valor Projetivo
Criança Racional
🞇 É o oposto da criança sensível
🞇 O desenho apresenta cor; a construção é precisa e
equilibrada, mas estática e imóvel; os traços são
claros, e verifica-se simetria
🞇 O espaço não é completamente preenchido, os
objetos deixam entre si superfícies vazias
Widlöcher (1971)
24. 3) Valor Narrativo
A escolha do tema determina-se pelo desejo de
representar certo objeto, e relaciona-se com as suas
motivações, gostos, preocupações, receios
A criança escolhe objetos do seu quotidiano, dos livros que
gosta, da sua própria imaginação (e não temas sugeridos por
terceiros)
O valor narrativo do desenho tem uma significação
simbólica; É o resultado do seu mundo imaginário
A análise permite o conhecimento das relações afetivas
da criança com o que a rodeia
Widlöcher (1971)
25. 4) Sentimentos e pensamentos
inconscientes
Relação entre asrepresentações inconscientes e a
dimensão afetiva da criança
Assim, os seus desenhos irão expressar essencialmente os
desejos/medos/pensamentos que “tocam” mais
diretamente na sua dimensão afetiva
e.g. No desenho da família, a criança pode evidenciar os
seusproblemas na relação com os pais, quer como ela
deseja essa relação, quer como ela a está a viver
Widlöcher (1971)
27. Pelo processo criativo, a criança realiza um exercício de união
uma maior
pressões do
entre o pensamento, o sentimento e a perceção
O desenho pode ser uma ajuda para
consciencialização, que ponha ordem nas
inconsciente
Desenhos são apenas uma parte de uma avaliação abrangente
e auxiliares no diagnóstico e na terapia
O desenho não deve ser analisado isoladamente, mas sim
relacionado com o comportamento presente e com a história
pessoal da criança
Através do desenho são incrementadas três áreas importantes
do desenvolvimento global: a cognitiva, a afetiva e a motora
Conclusões
28. 🞇 Barbosa, M. d. (2005). Representação de Acontecimentos através do
Desenho com Crianças de 3/4 e 5/6 anos. Instituto Superior de Psicologia
Aplicada: Dissertação de Mestrado em Psicologia Educacional.
🞇 Coelho, J. C. (1993). Mecanismos de Defesa no Desenho Infantil. Instituto
Superior de Psicologia Aplicada: Dissertação de Mestrado em
Psicopatologia e Psicologia Clínica.
🞇 Gomes, Z.F
. (2009). Desenho Infantil - Modos de interpretação do mundo e
simbolização do real. Um estudo em Sociologia da Infância. Universidade
do Minho: Instituto de Estudos da Criança: Tese de Mestrado em Sociologia
da Infância.
🞇 Marcilhacy, C. (2011). Le dessin et l'écriture dans l'acte clinique. Elsevier
Masson.
🞇 Widlöcher, D. (1971). Interpretação dosdesenhosinfantis. Vozes.
Referências Bibliográficas