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NASCER E CRESCER
revista do hospital de crianças maria pia
ano 2010, vol XIX, n.º 4
289ciclo de pediatria inter hospitalar do norte
paediatric inter-hospitalar meeting
Urticária Colinérgica
Caso Clínico
RESUMO
Introdução: A urticária colinérgi-
ca caracteriza-se pelo aparecimento de
pápulas eritematosas e pruriginosas,
com diâmetro de 1-3 mm, após um estí-
mulo que eleve a temperatura corporal.
Caso Clínico: Adolescente de 14
anos, sem antecedentes de relevo, que
apresentava desde os 12 anos episódios
de dispneia e aparecimento de pápulas
eritematosas e pruriginosas dispersas
pelo corpo cerca de 10 minutos após ini-
ciar actividade física. Referia sintomas
semelhantes no banho com água quente
e em episódios de ansiedade. Em consul-
ta de Pediatria, foi excluída patologia car-
dio-pulmonar e realizou prova de provo-
cação, sendo estabelecido o diagnóstico
de urticária colinérgica. Foram excluídas
outras causas de urticária. A terapêutica
com um anti-histamínico H1 com proprie-
dades de estabilização mastocitária (ce-
totifeno) permitiu um controlo moderado
dos sintomas.
Discussão: A urticária colinérgica
pode condicionar uma limitação impor-
tante na qualidade de vida dos doentes,
sendo a dificuldade do seu tratamento
um desafio para o pediatra.
Palavras-chave: antagonista H1 da
histamina, colinérgica, urticária.
Nascer e Crescer 2010; 19(4): 289-291
INTRODUÇÃO
A urticária colinérgica, pela primei-
ra vez descrita em 1924(1)
, caracteriza-
-se pelo aparecimento de pápulas erite-
matosas e pruriginosas, com diâmetro
de 1-3 mm, após um estímulo que eleve
a temperatura corporal. As lesões geral-
mente iniciam-se na região superior do
tórax e do pescoço, propagando-se ao
resto do corpo se houver persistência do
estímulo(2)
. Ocasionalmente pode originar
angioedema e reacção anafilática. Os es-
tímulos mais frequentemente implicados
são o exercício físico, banhos em água
quente e episódios de stress(3)
.
A urticária colinérgica é responsável
por cerca de 5% dos casos de urticária
crónica (urticária com duração superior a
seis semanas), cuja prevalência estima-
da na idade pediátrica é de 0,1 a 0,3%(4)
.
Os sintomas iniciam-se mais frequente-
mente no final da segunda e na terceira
década de vida, tornando esta patologia
pouco frequente na infância e adolescên-
cia. A proporção de casos em ambos os
sexos é semelhante(5)
.
À semelhança de outras urticárias
físicas, parecem existir diversos meca-
nismos patogénicos envolvidos, como
hipersensibilidade à histamina, activação
do sistema nervoso colinérgico e reac-
ções alérgicas locais ao suor autólogo(6)
.
O diagnóstico é essencialmente
clínico, sendo muito sugestivo o apareci-
mento das lesões urticariformes poucos
minutos após o início de estímulos que
aumentem a temperatura corporal. Para
confirmar o diagnóstico, devem ser efec-
tuadas provas de provocação(7)
.
O tratamento baseia-se na evicção
dos estímulos desencadeantes, como
exercícios físicos prolongados e banhos
em água quente, e no uso de fármacos
como anti-histamínicos H1, antagonis-
tas dos leucotrienos e cursos breves de
corticosteróides orais(2)
. Em raros casos
refractários pode ser necessário o uso
de esteróides anabólicos(8)
ou terapêutica
anti-IgE(9)
.
CASO CLÍNICO
Apresenta-se o caso de uma ado-
lescente do sexo feminino, 14 anos de
idade, caucasiana, com antecedentes de
sibilância recorrente nos primeiros dois
anos de vida. Sem antecedentes fami-
liares de relevo. Início aos 12 anos de
idade de episódios de sensação de disp-
neia cerca de dez minutos após iniciar
exercício físico, associado a exantema
micro-papular pruriginoso inicialmente no
tronco e pescoço, com posterior distribui-
ção centrífuga. Estes sintomas condicio-
navam ansiedade e desconforto, tendo
necessidade de suspender a actividade
física. Negava dor torácica, palpitações,
febre ou outros sintomas. Por vezes, re-
feria sintomas semelhantes em episódios
de ansiedade.
Dezoito meses após o início do qua-
dro clínico, nota agravamento progressivo
da sintomatologia, com instalação mais
rápida após o início da actividade física,
recorrendo ao médico assistente. Nesta
altura referia sintomas semelhantes nos
banhos com água quente. Foi referen-
ciada posteriormente para uma consulta
hospitalar de Pediatria, após exclusão de
patologia do foro cardíaco (ecocardiogra-
ma e electrocardiograma com prova de
esforço sem alterações).
Na consulta externa, era evidente a
ansiedade da adolescente relativamente
à sua situação clínica. Referia incapaci-
dade quase total em praticar actividade
física. O exame objectivo não revelava
alterações, sendo a auscultação cardio-
-pulmonar normal.
Para esclarecimento etiológico, fo-
ram efectuados exames complementares
de diagnóstico: o hemograma revelou
hemoglobina 13,4 g/dl, com fórmula leu-
cocitária normal (sem eosinofilia), conta-
gem plaquetária 275.000 /μl; ionograma,
Daniel Gonçalves1
, Margarida Figueiredo1
, Sónia Carvalho1
, Fernanda Carvalho1
__________
1
S. Pediatria – Neonatologia, CH Médio Ave –
Unidade Famalicão
NASCER E CRESCER
revista do hospital de crianças maria pia
ano 2010, vol XIX, n.º 4
290 ciclo de pediatria inter hospitalar do norte
paediatric inter-hospitalar meeting
funções renal e hepática sem alterações;
IgE total normal (27 UI/ml) e IgE especí-
ficas para ácaros, gramíneas e alergéne-
os alimentares negativas. Efectuou tes-
tes cutâneos por picada (prick) para os
principais alergéneos alimentares e ina-
lantes nesta idade, que foram negativos.
Realizou provas funcionais respiratórias,
que revelaram capacidades pulmonares
dentro dos parâmetros da normalidade,
incluindo a razão entre o Volume Expira-
tório Forçado no 1º segundo (FEV1) e a
Capacidade Vital Forçada (FVC).
Neste contexto, tendo em conta
a história clínica sugestiva e a normali-
dade dos exames complementares de
diagnóstico solicitados, colocou-se como
hipótese diagnóstica mais provável a ur-
ticária colinérgica. Para confirmação do
diagnóstico, foi realizada uma prova de
provocação com exercício físico adequa-
do à idade e ao género.
A prova de provocação tornou-se
positiva logo após o quarto minuto, com o
aparecimento de exantema micropapular,
inicialmente no pescoço e região retroau-
ricular (Figuras 1 e 2), com propagação
ao abdómen (Figura 3).
Relativamente ao tratamento, foi
inicialmente medicada com anti-histamí-
nicos H1 (desloratadina 5 mg de manhã e
ebastina 10 mg ao deitar), com fraca res-
posta terapêutica. Foi associado um an-
tagonista dos leucotrienos (montelucaste
10 mg/dia), que também não condicionou
melhoria dos sintomas. Nesta fase, tendo
em conta a grande limitação na qualidade
de vida da doente, foi decidido iniciar um
curso de corticoterapia oral (prednisolona
2 mg/kg/dia) com esquema de redução.
Após melhoria parcial na fase inicial, sur-
giu novo agravamento dos sintomas coin-
cidente com o início do desmame da tera-
pêutica. Iniciou um outro anti-histamínico,
o cetotifeno (1 mg de 12/12 h), com boa
resposta clínica, referindo diminuição dos
sintomas no banho com água quente, to-
lerando 15- 20 minutos de exercício físico
de actividade leve a moderada.
DISCUSSÃO
A urticária colinérgica surge geral-
mente no final da adolescência e início da
vida adulta, sendo importante o reconhe-
cimento desta entidade, que pode com-
prometer significativamente a qualidade
de vida dos adolescentes.
Apesar do diagnóstico ser geralmen-
te baseado na história clínica, a prova de
provocação torna-se importante quando
existe dúvida relativamente ao diagnós-
tico diferencial com a urticária induzida
pelo exercício físico, que apresenta maior
potencial de originar reacção anafilática.
As pápulas na urticária induzida pelo
exercício físico têm tipicamente diâme-
tro superior a 5 mm, e aparecem apenas
com a actividade física. Nesta urticária,
o aquecimento passivo de um membro
a 42ºC (por exemplo, com água quente)
durante 15 minutos, não origina qualquer
reacção urticariforme, ao contrário da ur-
ticária colinérgica(7)
. Neste caso, a histó-
ria clínica era muito sugestiva, não tendo
sido necessária a realização desta prova
de aquecimento passivo.
A pesquisa de eventuais alergéneos
alimentares ou inalantes concomitantes
foi negativa. Esta associação, apesar de
pouco frequente, teria um grande impac-
to na qualidade de vida desta adolescen-
te, na medida em que a evicção de um
determinado estímulo alergénico antes
da prática de exercício físico poderia di-
minuir consideravelmente os sintomas.
Os alergéneos mais frequentemente im-
plicados são o trigo (60% dos casos) e os
derivados do marisco (18%)(10)
.
Apesar de a pele ser o tecido predo-
minantemente afectado na urticária coli-
nérgica, estes doentes podem apresentar
alterações respiratórias concomitantes,
nomeadamente uma diminuição signifi-
cativa do FEV1(11)
, que não se verificou
no caso descrito.
O tratamento da urticária colinérgica
é muitas vezes um desafio para o médi-
co. A base do tratamento é a evicção dos
estímulos desencadeantes, como exercí-
cio físico intenso, banhos com água muito
quente e frequência de espaços fechados
com temperaturas altas(4)
. Os fármacos de
primeira linha são os anti-histamínicos H1,
como a hidroxizina e a cetirizina. A neces-
sidade de doses elevadas para o controlo
dos sintomas, com o mínimo de efeitos
adversos, como a sedação, é a principal
dificuldade clínica(12)
. No nosso caso, o
uso de um anti-histamínico com maior po-
tencial de estabilização mastocitária, como
Figura 3 – Propagação à região abdominal
Figura 1 – Primeira pápula, aparecimento na
região cervical
Figura 2 – Exantema micropapular na região
retroauricular direita
NASCER E CRESCER
revista do hospital de crianças maria pia
ano 2010, vol XIX, n.º 4
291ciclo de pediatria inter hospitalar do norte
paediatric inter-hospitalar meeting
lease from basophils of patients with
cholinergic urticaria associated with
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high-dose cetirizine in cholinergic urti-
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15. Hirschmann, JV, Lawlor, F, English,
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clinical and histologic study. Arch Der-
matol 1987; 123:462.
CORRESPONDÊNCIA
Serviço de Pediatria – Neonatologia,
CH Médio Ave – Unidade Famalicão
Rua Cupertino Miranda, Apartado 31
4764-958 Vila Nova de Famalicão
danieldiasgoncalves@gmail.com
Case Report: The authors report
the case of a 14-year-old girl, without
history of relevant diseases, that experi-
enced dyspnea and pruritus with wheals
starting about ten minutes after begin-
ning any kind of physical exercise. The
same symptoms were elicited by emo-
tional stress and hot showers, and were
present for the last two years. After rul-
ing out cardio-pulmonary diseases and
other causes of urticaria, we performed
a provocation test (exercise challenge)
and the diagnosis of cholinergic urticaria
was established. Therapy with ketotifen,
an H1 antagonist with mast cell stabiliza-
tion properties, allowed only a moderate
symptom control.
Discussion: Cholinergic urticaria
may affect greatly the quality of life. Treat-
ment is often difficult, becoming a chal-
lenge for the pediatrician.
Keywords: cholinergic, histamine
H1 antagonist, urticaria.
Nascer e Crescer 2010; 19(4): 289-291
BIBLIOGRAFIA
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31(6):978-81.
6. Takahagi S, Tanaka T, Ishii K, Su-
zuki H, Kameyoshi Y, Shindo H, et al.
Sweat antigen induces histamine re-
o cetotifeno (1 mg de 12/12h) possibilitou
um controlo moderado dos sintomas. Este
agente parece ter maior eficácia que os
anti-histamínicos convencionais, já tendo
sido descrito o uso de doses tão elevadas
como 5 a 8 mg por dia(13)
. O uso de cursos
breves de corticosteróides deve ser reser-
vado para casos refractários às terapêu-
ticas convencionais. Também reservado
a casos refractários está o danazol(8)
, um
esteróide anabólico usado no tratamento
do angioedema hereditário, que apresen-
ta contudo um grande potencial de efeitos
adversos. Mais recentemente, o omalizu-
mab, um anticorpo monoclonal recombi-
nante anti-IgE, tem sido usado com bons
resultados na urticária colinérgica(9)
, quan-
do esta se acompanha de aumento da
IgE. A adolescente em questão, por apre-
sentar um valor sérico normal de IgE, não
é candidata a este género de terapêutica.
A dessensibilização parece ser pos-
sível em alguns casos, tendo sido pro-
posto o esquema de administração de
uma dose elevada de anti-histamínico,
seguido nas três horas seguintes por um
banho com água muito quente(14)
.
O prognóstico da urticária colinér-
gica é geralmente favorável. A duração
média dos sintomas é de 7,5 anos, tendo
tido o caso mais duradouro descrito uma
duração de 16 anos. Estima-se que cerca
de um terço dos doentes tenha sintomas
durante mais de 10 anos(15)
.
A urticária colinérgica é uma forma
rara de urticária crónica, podendo condi-
cionar e ser uma limitação importante na
qualidade de vida dos doentes, evidente
neste caso clínico. Apesar da maioria dos
casos ser resolvida com evicção dos estí-
mulos que aumentem a temperatura cor-
poral e com o uso de anti-histamínicos H1,
a necessidade de elevadas doses destes
fármacos torna o controlo desta doença
crónica um desafio na idade pediátrica.
CHOLINERGIC URTICARIA – CASE
REPORT
ABSTRACT
Introduction: Cholinergic urticaria
is characterized by highly pruritic small
(1-3 mm) wheals, that occur after raising
the body temperature.

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Caso de urticária colinérgica em adolescente

  • 1. NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2010, vol XIX, n.º 4 289ciclo de pediatria inter hospitalar do norte paediatric inter-hospitalar meeting Urticária Colinérgica Caso Clínico RESUMO Introdução: A urticária colinérgi- ca caracteriza-se pelo aparecimento de pápulas eritematosas e pruriginosas, com diâmetro de 1-3 mm, após um estí- mulo que eleve a temperatura corporal. Caso Clínico: Adolescente de 14 anos, sem antecedentes de relevo, que apresentava desde os 12 anos episódios de dispneia e aparecimento de pápulas eritematosas e pruriginosas dispersas pelo corpo cerca de 10 minutos após ini- ciar actividade física. Referia sintomas semelhantes no banho com água quente e em episódios de ansiedade. Em consul- ta de Pediatria, foi excluída patologia car- dio-pulmonar e realizou prova de provo- cação, sendo estabelecido o diagnóstico de urticária colinérgica. Foram excluídas outras causas de urticária. A terapêutica com um anti-histamínico H1 com proprie- dades de estabilização mastocitária (ce- totifeno) permitiu um controlo moderado dos sintomas. Discussão: A urticária colinérgica pode condicionar uma limitação impor- tante na qualidade de vida dos doentes, sendo a dificuldade do seu tratamento um desafio para o pediatra. Palavras-chave: antagonista H1 da histamina, colinérgica, urticária. Nascer e Crescer 2010; 19(4): 289-291 INTRODUÇÃO A urticária colinérgica, pela primei- ra vez descrita em 1924(1) , caracteriza- -se pelo aparecimento de pápulas erite- matosas e pruriginosas, com diâmetro de 1-3 mm, após um estímulo que eleve a temperatura corporal. As lesões geral- mente iniciam-se na região superior do tórax e do pescoço, propagando-se ao resto do corpo se houver persistência do estímulo(2) . Ocasionalmente pode originar angioedema e reacção anafilática. Os es- tímulos mais frequentemente implicados são o exercício físico, banhos em água quente e episódios de stress(3) . A urticária colinérgica é responsável por cerca de 5% dos casos de urticária crónica (urticária com duração superior a seis semanas), cuja prevalência estima- da na idade pediátrica é de 0,1 a 0,3%(4) . Os sintomas iniciam-se mais frequente- mente no final da segunda e na terceira década de vida, tornando esta patologia pouco frequente na infância e adolescên- cia. A proporção de casos em ambos os sexos é semelhante(5) . À semelhança de outras urticárias físicas, parecem existir diversos meca- nismos patogénicos envolvidos, como hipersensibilidade à histamina, activação do sistema nervoso colinérgico e reac- ções alérgicas locais ao suor autólogo(6) . O diagnóstico é essencialmente clínico, sendo muito sugestivo o apareci- mento das lesões urticariformes poucos minutos após o início de estímulos que aumentem a temperatura corporal. Para confirmar o diagnóstico, devem ser efec- tuadas provas de provocação(7) . O tratamento baseia-se na evicção dos estímulos desencadeantes, como exercícios físicos prolongados e banhos em água quente, e no uso de fármacos como anti-histamínicos H1, antagonis- tas dos leucotrienos e cursos breves de corticosteróides orais(2) . Em raros casos refractários pode ser necessário o uso de esteróides anabólicos(8) ou terapêutica anti-IgE(9) . CASO CLÍNICO Apresenta-se o caso de uma ado- lescente do sexo feminino, 14 anos de idade, caucasiana, com antecedentes de sibilância recorrente nos primeiros dois anos de vida. Sem antecedentes fami- liares de relevo. Início aos 12 anos de idade de episódios de sensação de disp- neia cerca de dez minutos após iniciar exercício físico, associado a exantema micro-papular pruriginoso inicialmente no tronco e pescoço, com posterior distribui- ção centrífuga. Estes sintomas condicio- navam ansiedade e desconforto, tendo necessidade de suspender a actividade física. Negava dor torácica, palpitações, febre ou outros sintomas. Por vezes, re- feria sintomas semelhantes em episódios de ansiedade. Dezoito meses após o início do qua- dro clínico, nota agravamento progressivo da sintomatologia, com instalação mais rápida após o início da actividade física, recorrendo ao médico assistente. Nesta altura referia sintomas semelhantes nos banhos com água quente. Foi referen- ciada posteriormente para uma consulta hospitalar de Pediatria, após exclusão de patologia do foro cardíaco (ecocardiogra- ma e electrocardiograma com prova de esforço sem alterações). Na consulta externa, era evidente a ansiedade da adolescente relativamente à sua situação clínica. Referia incapaci- dade quase total em praticar actividade física. O exame objectivo não revelava alterações, sendo a auscultação cardio- -pulmonar normal. Para esclarecimento etiológico, fo- ram efectuados exames complementares de diagnóstico: o hemograma revelou hemoglobina 13,4 g/dl, com fórmula leu- cocitária normal (sem eosinofilia), conta- gem plaquetária 275.000 /μl; ionograma, Daniel Gonçalves1 , Margarida Figueiredo1 , Sónia Carvalho1 , Fernanda Carvalho1 __________ 1 S. Pediatria – Neonatologia, CH Médio Ave – Unidade Famalicão
  • 2. NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2010, vol XIX, n.º 4 290 ciclo de pediatria inter hospitalar do norte paediatric inter-hospitalar meeting funções renal e hepática sem alterações; IgE total normal (27 UI/ml) e IgE especí- ficas para ácaros, gramíneas e alergéne- os alimentares negativas. Efectuou tes- tes cutâneos por picada (prick) para os principais alergéneos alimentares e ina- lantes nesta idade, que foram negativos. Realizou provas funcionais respiratórias, que revelaram capacidades pulmonares dentro dos parâmetros da normalidade, incluindo a razão entre o Volume Expira- tório Forçado no 1º segundo (FEV1) e a Capacidade Vital Forçada (FVC). Neste contexto, tendo em conta a história clínica sugestiva e a normali- dade dos exames complementares de diagnóstico solicitados, colocou-se como hipótese diagnóstica mais provável a ur- ticária colinérgica. Para confirmação do diagnóstico, foi realizada uma prova de provocação com exercício físico adequa- do à idade e ao género. A prova de provocação tornou-se positiva logo após o quarto minuto, com o aparecimento de exantema micropapular, inicialmente no pescoço e região retroau- ricular (Figuras 1 e 2), com propagação ao abdómen (Figura 3). Relativamente ao tratamento, foi inicialmente medicada com anti-histamí- nicos H1 (desloratadina 5 mg de manhã e ebastina 10 mg ao deitar), com fraca res- posta terapêutica. Foi associado um an- tagonista dos leucotrienos (montelucaste 10 mg/dia), que também não condicionou melhoria dos sintomas. Nesta fase, tendo em conta a grande limitação na qualidade de vida da doente, foi decidido iniciar um curso de corticoterapia oral (prednisolona 2 mg/kg/dia) com esquema de redução. Após melhoria parcial na fase inicial, sur- giu novo agravamento dos sintomas coin- cidente com o início do desmame da tera- pêutica. Iniciou um outro anti-histamínico, o cetotifeno (1 mg de 12/12 h), com boa resposta clínica, referindo diminuição dos sintomas no banho com água quente, to- lerando 15- 20 minutos de exercício físico de actividade leve a moderada. DISCUSSÃO A urticária colinérgica surge geral- mente no final da adolescência e início da vida adulta, sendo importante o reconhe- cimento desta entidade, que pode com- prometer significativamente a qualidade de vida dos adolescentes. Apesar do diagnóstico ser geralmen- te baseado na história clínica, a prova de provocação torna-se importante quando existe dúvida relativamente ao diagnós- tico diferencial com a urticária induzida pelo exercício físico, que apresenta maior potencial de originar reacção anafilática. As pápulas na urticária induzida pelo exercício físico têm tipicamente diâme- tro superior a 5 mm, e aparecem apenas com a actividade física. Nesta urticária, o aquecimento passivo de um membro a 42ºC (por exemplo, com água quente) durante 15 minutos, não origina qualquer reacção urticariforme, ao contrário da ur- ticária colinérgica(7) . Neste caso, a histó- ria clínica era muito sugestiva, não tendo sido necessária a realização desta prova de aquecimento passivo. A pesquisa de eventuais alergéneos alimentares ou inalantes concomitantes foi negativa. Esta associação, apesar de pouco frequente, teria um grande impac- to na qualidade de vida desta adolescen- te, na medida em que a evicção de um determinado estímulo alergénico antes da prática de exercício físico poderia di- minuir consideravelmente os sintomas. Os alergéneos mais frequentemente im- plicados são o trigo (60% dos casos) e os derivados do marisco (18%)(10) . Apesar de a pele ser o tecido predo- minantemente afectado na urticária coli- nérgica, estes doentes podem apresentar alterações respiratórias concomitantes, nomeadamente uma diminuição signifi- cativa do FEV1(11) , que não se verificou no caso descrito. O tratamento da urticária colinérgica é muitas vezes um desafio para o médi- co. A base do tratamento é a evicção dos estímulos desencadeantes, como exercí- cio físico intenso, banhos com água muito quente e frequência de espaços fechados com temperaturas altas(4) . Os fármacos de primeira linha são os anti-histamínicos H1, como a hidroxizina e a cetirizina. A neces- sidade de doses elevadas para o controlo dos sintomas, com o mínimo de efeitos adversos, como a sedação, é a principal dificuldade clínica(12) . No nosso caso, o uso de um anti-histamínico com maior po- tencial de estabilização mastocitária, como Figura 3 – Propagação à região abdominal Figura 1 – Primeira pápula, aparecimento na região cervical Figura 2 – Exantema micropapular na região retroauricular direita
  • 3. NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2010, vol XIX, n.º 4 291ciclo de pediatria inter hospitalar do norte paediatric inter-hospitalar meeting lease from basophils of patients with cholinergic urticaria associated with atopic diathesis. Br J Dermatol 2009; Feb;160(2):426-8. 7. Magerl M, Borzova E, Giménez- Arnau A, Grattan CEH, Lawlor F, Mathelier-Fusade P, et al. The defini- tion and diagnostic testing of physical and cholinergic urticarias – EAACI/ GA2LEN/EDF/UNEV consensus pa- nel recommendations. Allergy 2009; 64:1715-21. 8. La Shell MS; England RW. Severe refractory cholinergic urticaria treated with danazol. J Drugs Dermatol 2006: Jul-Aug;5(7):664-7. 9. Metz M, Bergmann P, Zuberbier T, Maurer M. Successful treatment of cholinergic urticaria with anti-immu- noglobulin E therapy. Allergy 2008; 63:247-9. 10. Morita E, Kunie K, Matsuo H. Food- dependent exercise-induced ana- phylaxis. J Dermatol Sci 2007; 47:109-17. 11. Soter NA, Wasserman SI, Austen KF, McFadden ER. Release of mast-cell mediators and alterations in lung func- tion in patients with cholinergic urtica- ria. N Engl J Med 1980; 302:604-8. 12. Zuberbier T, Munzberger C, Haustein U, Trippas E, Burtin B, Mariz SD, et al. Double-blind crossover study of high-dose cetirizine in cholinergic urti- caria. Dermatology 1996; 193:324-7. 13. McClean SP, Arreaza EE, Lett-Brown MA, Grant JA. Refractory cholinergic urticaria successfully treated with ke- totifen. J Allergy Clin Immunol 1989; 83:738. 14. Moore-Robinson, M, Warin, RP. Some clinical aspects of cholinergic urtica- ria. Br J Dermatol 1968; 80:794. 15. Hirschmann, JV, Lawlor, F, English, JS, Louback JB, Winkelmann RK, Greaves MW. Cholinergic urticaria. A clinical and histologic study. Arch Der- matol 1987; 123:462. CORRESPONDÊNCIA Serviço de Pediatria – Neonatologia, CH Médio Ave – Unidade Famalicão Rua Cupertino Miranda, Apartado 31 4764-958 Vila Nova de Famalicão danieldiasgoncalves@gmail.com Case Report: The authors report the case of a 14-year-old girl, without history of relevant diseases, that experi- enced dyspnea and pruritus with wheals starting about ten minutes after begin- ning any kind of physical exercise. The same symptoms were elicited by emo- tional stress and hot showers, and were present for the last two years. After rul- ing out cardio-pulmonary diseases and other causes of urticaria, we performed a provocation test (exercise challenge) and the diagnosis of cholinergic urticaria was established. Therapy with ketotifen, an H1 antagonist with mast cell stabiliza- tion properties, allowed only a moderate symptom control. Discussion: Cholinergic urticaria may affect greatly the quality of life. Treat- ment is often difficult, becoming a chal- lenge for the pediatrician. Keywords: cholinergic, histamine H1 antagonist, urticaria. Nascer e Crescer 2010; 19(4): 289-291 BIBLIOGRAFIA 1. Duke WW. Urticaria caused specifi- cally by the action of physical agents. JAMA 1924; 83:3-9. 2. Horan RF, Sheffer AL, Briner WW. Physical allergies. Med Sci Sports Exerc 1992; 24:845-8. 3. Zuberbier T, Bindslev-Jensen C, Ca- nonica W, Grattan CE, Greaves MW, Henz BM et al. EAACI/GA2LEN/EDF guideline: definition, classification and diagnosis of urticaria. Allergy 2006 ;61:316-20. 4. Khakoo G, Sofianou-Katsoulis A, Perkin MR, Lack G. Clinical features and natural history of physical urtica- ria in children. Pediatr Allergy Immu- nol 2008; 19:363-6. 5. Zuberbier T, Althaus C, Chantraine- Hess S, Czarnetzki BM. Prevalen- ce of cholinergic urticaria in young adults. J Am Acad Dermatol 1994; 31(6):978-81. 6. Takahagi S, Tanaka T, Ishii K, Su- zuki H, Kameyoshi Y, Shindo H, et al. Sweat antigen induces histamine re- o cetotifeno (1 mg de 12/12h) possibilitou um controlo moderado dos sintomas. Este agente parece ter maior eficácia que os anti-histamínicos convencionais, já tendo sido descrito o uso de doses tão elevadas como 5 a 8 mg por dia(13) . O uso de cursos breves de corticosteróides deve ser reser- vado para casos refractários às terapêu- ticas convencionais. Também reservado a casos refractários está o danazol(8) , um esteróide anabólico usado no tratamento do angioedema hereditário, que apresen- ta contudo um grande potencial de efeitos adversos. Mais recentemente, o omalizu- mab, um anticorpo monoclonal recombi- nante anti-IgE, tem sido usado com bons resultados na urticária colinérgica(9) , quan- do esta se acompanha de aumento da IgE. A adolescente em questão, por apre- sentar um valor sérico normal de IgE, não é candidata a este género de terapêutica. A dessensibilização parece ser pos- sível em alguns casos, tendo sido pro- posto o esquema de administração de uma dose elevada de anti-histamínico, seguido nas três horas seguintes por um banho com água muito quente(14) . O prognóstico da urticária colinér- gica é geralmente favorável. A duração média dos sintomas é de 7,5 anos, tendo tido o caso mais duradouro descrito uma duração de 16 anos. Estima-se que cerca de um terço dos doentes tenha sintomas durante mais de 10 anos(15) . A urticária colinérgica é uma forma rara de urticária crónica, podendo condi- cionar e ser uma limitação importante na qualidade de vida dos doentes, evidente neste caso clínico. Apesar da maioria dos casos ser resolvida com evicção dos estí- mulos que aumentem a temperatura cor- poral e com o uso de anti-histamínicos H1, a necessidade de elevadas doses destes fármacos torna o controlo desta doença crónica um desafio na idade pediátrica. CHOLINERGIC URTICARIA – CASE REPORT ABSTRACT Introduction: Cholinergic urticaria is characterized by highly pruritic small (1-3 mm) wheals, that occur after raising the body temperature.