2. EXT. RUA #1 - DIA
O olhar atento de PEDRO na sombra da sua fedora.
PEDRO (V.O)
Uma boa história de detectives é
feita de cinco elementos cruciais.
À medida que Pedro enumera os elementos estes APARECEM
LISTADOS, como que escritos à máquina.
PEDRO (V.O)
Frases afrancesadas, de amores
proibidos, crime, morte e acima de
tudo --
Pedro está de gabardine, estilo detective de filmes noir dos
anos 50, encostado a uma esquina. Ele acende um cigarro,
observa as pessoas a que passam e aparece o último elemento:
PEDRO (V.O)
Pessoas. Elas são o meu ganha pão,
os meus falcões malteses. Comigo
não há mistério -- ou suspense.
Apenas...
A IMAGEM VAI A PRETO E BRANCO.
PEDRO (V.O)
... Monocromático.
Um HOMEM prende a sua atenção. Pedro agarra um jornal do
lixo e segue-o.
EXT. VÁRIAS RUAS - DIA
CORTES RÁPIDOS de Pedro em perseguição do Homem.
PEDRO (V.O)
Na verdade este é o meu último
trabalho, a minha última história,
a história da última vez que fiz
alguma última coisa na minha vida.
EXT. RUA #2 - DIA - CONTINUAÇÃO
O enorme homem a ser seguido é JOÃO. Ele desce a rua
nervoso, com respiração ofegante e rosto suado. Ele olha à
sua volta como se soubesse estar a ser perseguido.
Pedro apercebe-se, tenta esconder a cara com o jornal mas
deixa-o cair ao chão.
(CONTINUA)
3. CONTINUA: 2.
João entra em casa e fecha a porta com estrondo.
Pedro olha para a casa.
PEDRO (V.O)
Tal como qualquer história de
detectives esta segue pelas regras.
CORTAR PARA:
INT. CORREDOR DO PRÉDIO DE PEDRO - DIA
SENHOR MENDES, o senhorio de sotaque francês, está à porta
do Nº8.
PEDRO (V.O)
As frases afrancesadas.
SENHOR MENDES
Onde está a minha renda? Eu quero a
minha renda seu filho de pute!
PEDRO (O.S)
Deixe lá isso.
INT. QUARTO DE PEDRO - CONTINUAÇÃO
CLOSE UP: PEDRO ABRE A JANELA E METE O PÉ NO PARAPEITO.
SENHOR MENDES (O.S)
Vou buscar a prressão d’ar.
INT. CORREDOR DO PRÉDIO DE PEDRO - DIA
Senhor Mendes apercebe-se dos barulhos no interior.
PEDRO (O.S)
Até logo Senhor Mendes!
SENHOR MENDES
Pensa que estou na brincadeira.
Ao fundo do corredor Pedro entra pela janela e vai até às
escadas. Senhor Mendes apercebe-se e corre atrás dele.
SENHOR MENDES
Polícia ou não eu quero a minha
renda!
4. 3.
INT. HALL DAS ESCADAS - CONTINUAÇÃO
Pedro pára ofendido --
PEDRO
Já lhe disse, eu não sou polícia.
-- E desce pelas escadas abaixo. Senhor Mendes não o
consegue apanhar.
SENHOR MENDES
Você é um sonhador -- e os seus
sonhos são uma merde!
INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA - DIA
CARLOS, um empresário magro e hipocondríaco, aponta para o
classificado no jornal colocado por Pedro para os seus
serviços de detective.
Ele marca, a tremer, o número de telefone.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Por um curto período da minha vida
pensei que pudesse ser tudo o que o
Los Angeles Confidencial tinha de
bom para me dar.
INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA. DIA - UMA SEMANA DEPOIS
Pedro está sentado com o seu bloco de notas.
POV de Pedro: Carlos anda de um lado para o outro, não
ouvimos o que ele diz, mas está nervoso.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Isto é a inteligência do Guy
Pierce, a força do Russel Crowe e o
charme do Kevin Spacey.
Pedro presta atenção ao que Carlos diz.
Carlos mostra-lhe uma folha com números.
É revelado que o bloco de Pedro só tem desenhos e rabiscos.
Pedro guarda a folha e o bloco. Acende um cigarro e
levanta-se, diz algo a Carlos que o acalma, aperta-lhe a mão
e sai.
(CONTINUA)
5. CONTINUA: 4.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
É certo que que vim a descobrir não
ter nenhum mas -- mas -- atenção,
apesar de tudo eu, sim, fui noir
hardcore até ao último momento.
EXT. EXPLANADA - DIA
João está sentado com uma MULHER ATRAENTE fala sem parar.
Ele está atento ao que se passa em sua volta.
Pedro está a alguma mesas de distância com um jornal à
frente da face.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Este caso em particular é dinheiro
fácil. Dois homens, donos de uma
fábrica de produção de azulejos --
Aparecem AZULEJOS EM LINHA DE PRODUÇÃO.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
-- Quinquilharias
Aparecem QUINQUILARIAS.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
-- E cenas dessas.
Um FICHEIRO VAZIO cai numa mesa.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
(pensativo em mau inglês)
Rags to riches story coisa assim.
(volta ao assunto)
O problema é que o Dono Um --
FREEZE FRAME de Carlos no escritório a falar para Pedro.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
-- descobriu que alguém os anda a
roubar, e quem é que ele escolhe
como suspeito principal? Yap, o
Dono Dois.
FREEZE FRAME de João na explanada.
6. 5.
EXT. RUA #3 - SEDE DA EMPRESA - DIA
Pedro, encostado a um poste de luz, finge que lê um jornal.
Do outro lado da rua João sai da empresa, pára e olha para a
esquerda e para a direita nervoso.
Pedro tenta inutilmente esconder-se atrás do poste.
Carlos aparece. Ele e João andam dali para fora, Pedro
atravessa a rua.
Não há percepção da direcção em que os 3 vão até Pedro
chocar com João. Pedro põe e tira a mão do bolso de João.
JOÃO
Presta atenção onde andas.
Pedro esconde a face na gabardine e afasta-se.
PEDRO
Claro, claro, peço desculpa.
João continua a andar. Carlos olha para trás e reconhece
Pedro que lhe indica para se juntar a João. Carlos obedece.
Pedro pega no que pôs no bolso. Colado à mão vem um lenço
sujo que ele atira para o chão.
Pedro sorri. É revelada a CHAVE que ele tirou a João.
PEDRO (V.O)
Fácil como tirar um doce a um bebé.
INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA - FIM DE TARDE
Pedro entra no escritório e vasculha por entre a papelada
e os livros nas prateleiras.
Ele liga o computador de João. O wallpaper é uma montagem
horrível de João e a Mulher Atraente da explanada, ANA, com
os nomes de ambos por cima.
CORTAR PARA:
EXT. RUA #2 - DIA - FLASHBACK
Pedro observa Ana a sair da casa de João.
CORTES RÁPIDOS mostram a passagem dos dias em que Pedro
observa Ana a sair de casa quer com, quer sem João.
(CONTINUA)
7. CONTINUA: 6.
PEDRO (V.O)
Aquele que persegue terá sempre um
trabalho tão chato quanto as
rotinas do perseguido. Isso meus
amigos é algo que nenhum curso
grátis na internet nos ensina.
INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA - FIM DE TARDE - PRESENTE
Pedro fotocopia folhas e rouba documentos das gavetas da
secretária de João.
PEDRO (V.O)
Para isso há a experiência. A
experiência ensina que essas mesmas
rotinas apenas parecem rotinas.
Pedro deixa a chave debaixo dum jornal na secretária de
Carlos.
PEDRO (V.O)
Elas têm de ser úteis para alguma
coisa.
INT. CASA DE JOÃO - SALA - DIA.
Ana está sentada a fumar. João anda de um lado para o outro
à sua frente, como Carlos fez com Pedro anteriormente.
JOÃO
São como formigas nas minhas
costas. Eu sinto-as atrás de mim.
ANA
(preocupada)
Ai! Não sejas paranóico amor que me
assustas! Ninguém te quer fazer
mal.
JOÃO
Eles detestam-me!
ANA
Eles quem?
JOÃO
Sei lá, eu não sei. Mas eles
existem os -- haters. Não é haters?
São formigas nas minhas costas!
Ana tira calmantes da mala.
(CONTINUA)
8. CONTINUA: 7.
ANA
(ar de galinácia)
Não te vás meter em problemas! Toma
um destes p’rás comichões. Dorme.
JOÃO
Haters, desfaço-os a todos.
João bate com o punho na parede e --
CORTAR PARA:
INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA - DIA
-- Um copo com água estatela-se no chão.
PEDRO (V.O)
Os amores proibidos.
Carlos, sentado à secretária, assusta-se com a entrada
repentina de Ana.
Esta Ana é o aposto da anterior, calma e em controlo.
ANA
Temos um problema.
Carlos seca a água das calças.
CARLOS
Ah, nós temos vários problemas tens
de ser concreta. Há mais um
problema? Um problema novo ou algo
que já tenha acontecido e que --
estamos a lidar com algo antigo?
ANA
O João pensa que o estão a seguir.
Era só o que faltava.
Carlos engasga-se.
CARLOS
Segui-lo? Como segui-lo? Huh --
Talvez seja mais uma paranóia dele,
não é a primeira vez.
Ana hesitante ajuda Carlos a limpar-se.
Para surpresa dele ela senta-se ao seu colo e reconforta-o
como se fosse uma criança. Carlos beija-a de forma tímida.
(CONTINUA)
9. CONTINUA: 8.
ANA
(carinhosa)
Também não estou muito preocupada,
quando tudo passar deitamos os
nossos probleminhas fora e ficamos
juntinhos para sempre!
EXT. RUA #3 - SEDE DA EMPRESA - CONTINUAÇÃO
Pedro observa em choque a cena pela janela.
Pedro encosta-se à parede pensativo.
PEDRO (V.O)
Facto: problemas tendem a
multiplicar-se com rapidez. Estar a
ser usado já é mau mas quererem
ver-se livres de alguém à minha
conta, isso torna as coisas piores.
Pedro corre pela rua dali para fora.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Agora eu moral já não tenho nenhuma
só me falta usar o que resta da
minha dignidade para ficar ofendido
e fazer uma cena. Porquê?
INT. COZINHA DE PEDRO - NOITE
A cozinha está um nojo, a mesa está cheia de pratos sujos e
papelada que Pedro roubou do escritório.
Pedro remexe na papelada nunca antes tocada.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Porque ele é vitima, o parranas
ladrão fazedor de azulejos é a
vitima! Eu chumbei a matemática,
estas folhas dão-me alergia mas se
ele estiver inocente não haverá um
único número fora do lugar. Mas
esta é uma história de detectives
senhoras e senhores e daí a
existência do importante e sempre
presente --
Pedro lê uma das folhas com mais atenção e reage surpreso.
(CONTINUA)
10. CONTINUA: 9.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
-- O crime.
INSERT: TELEFONE TOCA EM CIMA DA CAMA.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Com que então eu tenho uma nova
vitima.
INT. CORREDOR DO PRÉDIO DE PEDRO - CONTINUAÇÃO
Senhor Mendes bate à porta Nº 8.
SENHOR MENDES
Eu vi-o entrar! Venha cá p’ra fora!
INT. COZINHA DE PEDRO - CONTINUAÇÃO
O telefone continua a tocar e o Senhor Mendes chama por
Pedro.
Pedro está sentado no chão sem poder acreditar.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Ou não. Subitamente a minha vitima
enriqueceu de forma mágica desde o
começo dos roubos e isto, para quem
chumbou a matemática, é uma
certeza.
EXT. PARAGEM DO AUTOCARRO - DIA
Carlos está sentado, Pedro aproxima-se.
Não ouvimos a parte inicial da conversa até que Carlos se
levanta.
CARLOS
(magoado)
Ele tem acesso completo ao sistema.
Eu só --
(suspira)
-- Só queria saber o porquê era só.
PEDRO
(desinteressado)
Pois. O meu trabalho aqui está
feito. Mande-me os honorários para
esta morada e -- huh -- boa sorte.
Pedro dá um cartão a Carlos e vira-lhe as costas.
(CONTINUA)
11. CONTINUA: 10.
CARLOS
Espere! Eu ainda tenho um problema,
algo que -- eu não previ que
acontecesse. Preciso da sua ajuda.
PEDRO
(continua de costas)
O meu nome não é Madre Teresa e
Calcutá não é a minha terra.
CARLOS
Eu -- eu dobro o pagamento!
Pedro pára, "acordado" pela frase e olha para NÓS.
PEDRO (V.O)
Pois... bela merda.
Pedro vira-se para Carlos o estilo misterioso e sério.
PEDRO
Continue...
DOLLY PARA ATRÁS enquanto Carlos fala com Pedro.
EXT. CASA DE JOÃO - DIA - SITUAÇÃO IMAGINÁRIA
Pedro abre uma janela e salta para dentro da casa.
PEDRO (V.O)
O Carlos apenas quer o que lhe foi
roubado, a sua parte justa.
INT. CASA DE JOÃO - QUARTO - CONTINUAÇÃO - SITUAÇÃO
IMAGINÁRIA
Pedro procura debaixo da cama.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
É um gesto heróico da parte dele --
Nas prateleiras.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
-- Feito por mim.
E na secretária onde encontra os documentos. Sai de casa.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Mas se tudo fosse assim tão simples
o Robert Mitchum não tinha sido
(MAIS)
(CONTINUA)
12. CONTINUA: 11.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) (CONTINUA)
alguém e os anos de ouro de
Hollywood não tinham existido.
EXT. RUA #3 - SEDE DA EMPRESA - DIA - FLASHBACK
A repetição da cena onde Ana e Carlos conversam vista do
lado de fora onde Pedro espreita à janela.
Ana entra e começa o diálogo inaudível com Carlos.
PEDRO (V.O)
La Femme Fatalle. Eu desejava por
uma Lauren Bacall, alguém que me
ensinasse a assobiar.
Ana senta-se ao colo de Carlos.
ANA
(carinhosa)
Também não estou muito preocupada,
quando tudo passar deitamos os
nossos probleminhas fora e ficamos
juntinhos para sempre!
Pedro corre dali para fora.
PEDRO (V.O)
Em vez disso saiu-me esta vaca,
Ana-puta-que-a-pariu.
INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA - CONTINUAÇÃO - FLASHBACK
Carlos relaxa.
CARLOS
(mais relaxado)
Mas... eu tenho razão não tenho? Em
não sentir remorso. Não tenho?
ANA
(surpresa e desconfortável)
Hum? Claro que tens, se descobriste
que é ele, então tens.
CARLOS
Não... ele traiu a minha confiança.
(CONTINUA)
13. CONTINUA: 12.
ANA
Se queres falar com ele, tem
cuidado com o que dizes para ele
não te magoar.
CARLOS
Só mais um par de dias amor --
ANA
Isso é um plano?
CARLOS
É. Mas não podemos fugir sem
dinheiro...
ANA
O que é que isso quer dizer? Tu vê
lá.
CARLOS
Ele vai compreender...
Ana levanta-se.
ANA
Ele vai nada, isso é precipitado --
CARLOS
Eu não tenho dinheiro, ele tem o
meu dinheiro. Ele é razoável, seu
eu lhe perguntar...
ANA
Espera, não podes ter pressa eu --
é tudo tão repentino -- tenho
muitas malas para fazer!
Ana abandona o escritório apressada.
EXT. CASA DE JOÃO - DIA - PRESENTE
Está a chover.
Pedro encara a casa, o cigarro na sua boca está no fim.
A caminho da janela roda o puxador da porta que está aberto.
Pedro entra.
PEDRO (V.O)
Agora para a parte triste, esta é a
morte.
14. 13.
INT. CASA DE JOÃO - CORREDOR - CONTINUAÇÃO
Pedro espreita o corredor, não está ninguém.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
O resumir da minha história de
detective.
Pedro espreita todas as divisões, ouve-se barulhos ao fundo.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
E se por esta altura já é óbvio o
que fez de mim um mau detective --
Pedro apercebe-se dos barulhos. Ele anda até à última porta
do corredor, espera, e abre-a lentamente.
Pedro fica surpreso com o que vê.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
-- Ainda falta mostrar o que fez de
mim um detective morto.
INT. CASA DE JOÃO - QUARTO - CONTINUAÇÃO
Ana arruma as malas violentamente à pressa.
Pedro encara aquilo. Ana vira-se para o armário e o olhar
dos dois cruza-se.
Ambos ficam estáticos e antes que Pedro possa reagir Ana
pega numa mala e acerta-lhe na face. Pedro cai ao chão.
Ana dá com a mala violentamente em Pedro que esperneia.
Os berros de Ana acabam quando Pedro fica imóvel no chão.
Ana coloca a mala em cima da cama, fecha-a, dirige-se à
secretária e agarra nos documentos.
Pega nas malas, dá um último pontapé em Pedro e sai.
Pedro dá um leve gemido.
EXT. RUA #2 - CONTINUAÇÃO
João avança encharcado, ofegante como na cena inicial,
agarrando a mala com uma força extrema.
Ao fundo da rua Ana fecha o porta-bagagem de um luxuoso
carro, entra e parte a alta velocidade.
15. 14.
João fica ainda mais furioso, larga a mala e avança até
casa.
INT. CASA DE JOÃO - QUARTO - DIA - CONTINUAÇÃO
Pedro está vivo. Ele levanta-se atordoado e como na cena da
SITUAÇÃO IMAGINÁRIA --
Procura debaixo da cama.
Nas prateleiras.
E coloca-se de joelhos na secretária a procurar.
INT. CASA DE JOÃO - CORREDOR - CONTINUAÇÃO
João entra e vai até à cozinha, espreita para a sala e
apercebe-se do barulho no quarto. Dirige-se até lá.
INT. CASA DE JOÃO - QUARTO - CONTINUAÇÃO
Pedro continua à procura, há folhas espalhadas pelo chão.
PEDRO
(frustrado)
Onde está aquela merda?
A porta é aberta. Pedro olha para trás.
João está parado à entrada.
JOÃO
Eu sabia!
PEDRO
(Apavorado)
Espera! Isto não é o que parece!
INT. CASA DE JOÃO - CORREDOR - CONTINUAÇÃO
JOÃO fecha a porta atrás de si.
Ouve-se a confusão no quarto.
STEADY PELO CORREDOR, PELO QUINTAL ATÉ À RUA. Os gritos
agudos de Pedro espalham-se pelo ar.
16. 15.
EXT. PARAGEM DO AUTOCARRO - FIM DE TARDE
Carlos espera alguém, duas malas ao seu lado.
Nada acontece.
PEDRO (V.O)
Pessoas. É de pessoas que as
histórias são feitas, quer elas
sejam senhorios com sotaque ou
vendedores de azulejos.
EXT. AUTOESTRADA - FIM DE TARDE
Já não chove. Um carro de luxo acelera pela estrada.
Ana conduz com um enorme sorriso nos lábios.
No banco do passageiro estão a sua malinha, o documento com
os códigos da conta de João e vários cartões de crédito.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Há histórias boas, há histórias más
e há a história do detective. Acho
que é justo dizer que no fim de
contas até me sinto triste por não
poder voltar a estar com estas
pessoas. Quase tão triste como se
estivesse com elas...
CRÉDITOS ROLAM
EXT. PARAGEM DO AUTOCARRO - NOITE
Carlos chora, sentado sozinho. Do escuro aparece João
salpicado de sangue. Os dois olham-se, JOÃO senta-se.
JOÃO
Então hum... como correu o teu dia?
Carlos coloca de novo a face nas mãos e começa a chorar.
FADE OUT.