SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  16
Histórias de um Detective
De
Tiago, o Lopes
EXT. RUA #1 - DIA
O olhar atento de PEDRO na sombra da sua fedora.
PEDRO (V.O)
Uma boa história de detectives é
feita de cinco elementos cruciais.
À medida que Pedro enumera os elementos estes APARECEM
LISTADOS, como que escritos à máquina.
PEDRO (V.O)
Frases afrancesadas, de amores
proibidos, crime, morte e acima de
tudo --
Pedro está de gabardine, estilo detective de filmes noir dos
anos 50, encostado a uma esquina. Ele acende um cigarro,
observa as pessoas a que passam e aparece o último elemento:
PEDRO (V.O)
Pessoas. Elas são o meu ganha pão,
os meus falcões malteses. Comigo
não há mistério -- ou suspense.
Apenas...
A IMAGEM VAI A PRETO E BRANCO.
PEDRO (V.O)
... Monocromático.
Um HOMEM prende a sua atenção. Pedro agarra um jornal do
lixo e segue-o.
EXT. VÁRIAS RUAS - DIA
CORTES RÁPIDOS de Pedro em perseguição do Homem.
PEDRO (V.O)
Na verdade este é o meu último
trabalho, a minha última história,
a história da última vez que fiz
alguma última coisa na minha vida.
EXT. RUA #2 - DIA - CONTINUAÇÃO
O enorme homem a ser seguido é JOÃO. Ele desce a rua
nervoso, com respiração ofegante e rosto suado. Ele olha à
sua volta como se soubesse estar a ser perseguido.
Pedro apercebe-se, tenta esconder a cara com o jornal mas
deixa-o cair ao chão.
(CONTINUA)
CONTINUA: 2.
João entra em casa e fecha a porta com estrondo.
Pedro olha para a casa.
PEDRO (V.O)
Tal como qualquer história de
detectives esta segue pelas regras.
CORTAR PARA:
INT. CORREDOR DO PRÉDIO DE PEDRO - DIA
SENHOR MENDES, o senhorio de sotaque francês, está à porta
do Nº8.
PEDRO (V.O)
As frases afrancesadas.
SENHOR MENDES
Onde está a minha renda? Eu quero a
minha renda seu filho de pute!
PEDRO (O.S)
Deixe lá isso.
INT. QUARTO DE PEDRO - CONTINUAÇÃO
CLOSE UP: PEDRO ABRE A JANELA E METE O PÉ NO PARAPEITO.
SENHOR MENDES (O.S)
Vou buscar a prressão d’ar.
INT. CORREDOR DO PRÉDIO DE PEDRO - DIA
Senhor Mendes apercebe-se dos barulhos no interior.
PEDRO (O.S)
Até logo Senhor Mendes!
SENHOR MENDES
Pensa que estou na brincadeira.
Ao fundo do corredor Pedro entra pela janela e vai até às
escadas. Senhor Mendes apercebe-se e corre atrás dele.
SENHOR MENDES
Polícia ou não eu quero a minha
renda!
3.
INT. HALL DAS ESCADAS - CONTINUAÇÃO
Pedro pára ofendido --
PEDRO
Já lhe disse, eu não sou polícia.
-- E desce pelas escadas abaixo. Senhor Mendes não o
consegue apanhar.
SENHOR MENDES
Você é um sonhador -- e os seus
sonhos são uma merde!
INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA - DIA
CARLOS, um empresário magro e hipocondríaco, aponta para o
classificado no jornal colocado por Pedro para os seus
serviços de detective.
Ele marca, a tremer, o número de telefone.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Por um curto período da minha vida
pensei que pudesse ser tudo o que o
Los Angeles Confidencial tinha de
bom para me dar.
INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA. DIA - UMA SEMANA DEPOIS
Pedro está sentado com o seu bloco de notas.
POV de Pedro: Carlos anda de um lado para o outro, não
ouvimos o que ele diz, mas está nervoso.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Isto é a inteligência do Guy
Pierce, a força do Russel Crowe e o
charme do Kevin Spacey.
Pedro presta atenção ao que Carlos diz.
Carlos mostra-lhe uma folha com números.
É revelado que o bloco de Pedro só tem desenhos e rabiscos.
Pedro guarda a folha e o bloco. Acende um cigarro e
levanta-se, diz algo a Carlos que o acalma, aperta-lhe a mão
e sai.
(CONTINUA)
CONTINUA: 4.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
É certo que que vim a descobrir não
ter nenhum mas -- mas -- atenção,
apesar de tudo eu, sim, fui noir
hardcore até ao último momento.
EXT. EXPLANADA - DIA
João está sentado com uma MULHER ATRAENTE fala sem parar.
Ele está atento ao que se passa em sua volta.
Pedro está a alguma mesas de distância com um jornal à
frente da face.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Este caso em particular é dinheiro
fácil. Dois homens, donos de uma
fábrica de produção de azulejos --
Aparecem AZULEJOS EM LINHA DE PRODUÇÃO.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
-- Quinquilharias
Aparecem QUINQUILARIAS.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
-- E cenas dessas.
Um FICHEIRO VAZIO cai numa mesa.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
(pensativo em mau inglês)
Rags to riches story coisa assim.
(volta ao assunto)
O problema é que o Dono Um --
FREEZE FRAME de Carlos no escritório a falar para Pedro.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
-- descobriu que alguém os anda a
roubar, e quem é que ele escolhe
como suspeito principal? Yap, o
Dono Dois.
FREEZE FRAME de João na explanada.
5.
EXT. RUA #3 - SEDE DA EMPRESA - DIA
Pedro, encostado a um poste de luz, finge que lê um jornal.
Do outro lado da rua João sai da empresa, pára e olha para a
esquerda e para a direita nervoso.
Pedro tenta inutilmente esconder-se atrás do poste.
Carlos aparece. Ele e João andam dali para fora, Pedro
atravessa a rua.
Não há percepção da direcção em que os 3 vão até Pedro
chocar com João. Pedro põe e tira a mão do bolso de João.
JOÃO
Presta atenção onde andas.
Pedro esconde a face na gabardine e afasta-se.
PEDRO
Claro, claro, peço desculpa.
João continua a andar. Carlos olha para trás e reconhece
Pedro que lhe indica para se juntar a João. Carlos obedece.
Pedro pega no que pôs no bolso. Colado à mão vem um lenço
sujo que ele atira para o chão.
Pedro sorri. É revelada a CHAVE que ele tirou a João.
PEDRO (V.O)
Fácil como tirar um doce a um bebé.
INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA - FIM DE TARDE
Pedro entra no escritório e vasculha por entre a papelada
e os livros nas prateleiras.
Ele liga o computador de João. O wallpaper é uma montagem
horrível de João e a Mulher Atraente da explanada, ANA, com
os nomes de ambos por cima.
CORTAR PARA:
EXT. RUA #2 - DIA - FLASHBACK
Pedro observa Ana a sair da casa de João.
CORTES RÁPIDOS mostram a passagem dos dias em que Pedro
observa Ana a sair de casa quer com, quer sem João.
(CONTINUA)
CONTINUA: 6.
PEDRO (V.O)
Aquele que persegue terá sempre um
trabalho tão chato quanto as
rotinas do perseguido. Isso meus
amigos é algo que nenhum curso
grátis na internet nos ensina.
INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA - FIM DE TARDE - PRESENTE
Pedro fotocopia folhas e rouba documentos das gavetas da
secretária de João.
PEDRO (V.O)
Para isso há a experiência. A
experiência ensina que essas mesmas
rotinas apenas parecem rotinas.
Pedro deixa a chave debaixo dum jornal na secretária de
Carlos.
PEDRO (V.O)
Elas têm de ser úteis para alguma
coisa.
INT. CASA DE JOÃO - SALA - DIA.
Ana está sentada a fumar. João anda de um lado para o outro
à sua frente, como Carlos fez com Pedro anteriormente.
JOÃO
São como formigas nas minhas
costas. Eu sinto-as atrás de mim.
ANA
(preocupada)
Ai! Não sejas paranóico amor que me
assustas! Ninguém te quer fazer
mal.
JOÃO
Eles detestam-me!
ANA
Eles quem?
JOÃO
Sei lá, eu não sei. Mas eles
existem os -- haters. Não é haters?
São formigas nas minhas costas!
Ana tira calmantes da mala.
(CONTINUA)
CONTINUA: 7.
ANA
(ar de galinácia)
Não te vás meter em problemas! Toma
um destes p’rás comichões. Dorme.
JOÃO
Haters, desfaço-os a todos.
João bate com o punho na parede e --
CORTAR PARA:
INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA - DIA
-- Um copo com água estatela-se no chão.
PEDRO (V.O)
Os amores proibidos.
Carlos, sentado à secretária, assusta-se com a entrada
repentina de Ana.
Esta Ana é o aposto da anterior, calma e em controlo.
ANA
Temos um problema.
Carlos seca a água das calças.
CARLOS
Ah, nós temos vários problemas tens
de ser concreta. Há mais um
problema? Um problema novo ou algo
que já tenha acontecido e que --
estamos a lidar com algo antigo?
ANA
O João pensa que o estão a seguir.
Era só o que faltava.
Carlos engasga-se.
CARLOS
Segui-lo? Como segui-lo? Huh --
Talvez seja mais uma paranóia dele,
não é a primeira vez.
Ana hesitante ajuda Carlos a limpar-se.
Para surpresa dele ela senta-se ao seu colo e reconforta-o
como se fosse uma criança. Carlos beija-a de forma tímida.
(CONTINUA)
CONTINUA: 8.
ANA
(carinhosa)
Também não estou muito preocupada,
quando tudo passar deitamos os
nossos probleminhas fora e ficamos
juntinhos para sempre!
EXT. RUA #3 - SEDE DA EMPRESA - CONTINUAÇÃO
Pedro observa em choque a cena pela janela.
Pedro encosta-se à parede pensativo.
PEDRO (V.O)
Facto: problemas tendem a
multiplicar-se com rapidez. Estar a
ser usado já é mau mas quererem
ver-se livres de alguém à minha
conta, isso torna as coisas piores.
Pedro corre pela rua dali para fora.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Agora eu moral já não tenho nenhuma
só me falta usar o que resta da
minha dignidade para ficar ofendido
e fazer uma cena. Porquê?
INT. COZINHA DE PEDRO - NOITE
A cozinha está um nojo, a mesa está cheia de pratos sujos e
papelada que Pedro roubou do escritório.
Pedro remexe na papelada nunca antes tocada.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Porque ele é vitima, o parranas
ladrão fazedor de azulejos é a
vitima! Eu chumbei a matemática,
estas folhas dão-me alergia mas se
ele estiver inocente não haverá um
único número fora do lugar. Mas
esta é uma história de detectives
senhoras e senhores e daí a
existência do importante e sempre
presente --
Pedro lê uma das folhas com mais atenção e reage surpreso.
(CONTINUA)
CONTINUA: 9.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
-- O crime.
INSERT: TELEFONE TOCA EM CIMA DA CAMA.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Com que então eu tenho uma nova
vitima.
INT. CORREDOR DO PRÉDIO DE PEDRO - CONTINUAÇÃO
Senhor Mendes bate à porta Nº 8.
SENHOR MENDES
Eu vi-o entrar! Venha cá p’ra fora!
INT. COZINHA DE PEDRO - CONTINUAÇÃO
O telefone continua a tocar e o Senhor Mendes chama por
Pedro.
Pedro está sentado no chão sem poder acreditar.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Ou não. Subitamente a minha vitima
enriqueceu de forma mágica desde o
começo dos roubos e isto, para quem
chumbou a matemática, é uma
certeza.
EXT. PARAGEM DO AUTOCARRO - DIA
Carlos está sentado, Pedro aproxima-se.
Não ouvimos a parte inicial da conversa até que Carlos se
levanta.
CARLOS
(magoado)
Ele tem acesso completo ao sistema.
Eu só --
(suspira)
-- Só queria saber o porquê era só.
PEDRO
(desinteressado)
Pois. O meu trabalho aqui está
feito. Mande-me os honorários para
esta morada e -- huh -- boa sorte.
Pedro dá um cartão a Carlos e vira-lhe as costas.
(CONTINUA)
CONTINUA: 10.
CARLOS
Espere! Eu ainda tenho um problema,
algo que -- eu não previ que
acontecesse. Preciso da sua ajuda.
PEDRO
(continua de costas)
O meu nome não é Madre Teresa e
Calcutá não é a minha terra.
CARLOS
Eu -- eu dobro o pagamento!
Pedro pára, "acordado" pela frase e olha para NÓS.
PEDRO (V.O)
Pois... bela merda.
Pedro vira-se para Carlos o estilo misterioso e sério.
PEDRO
Continue...
DOLLY PARA ATRÁS enquanto Carlos fala com Pedro.
EXT. CASA DE JOÃO - DIA - SITUAÇÃO IMAGINÁRIA
Pedro abre uma janela e salta para dentro da casa.
PEDRO (V.O)
O Carlos apenas quer o que lhe foi
roubado, a sua parte justa.
INT. CASA DE JOÃO - QUARTO - CONTINUAÇÃO - SITUAÇÃO
IMAGINÁRIA
Pedro procura debaixo da cama.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
É um gesto heróico da parte dele --
Nas prateleiras.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
-- Feito por mim.
E na secretária onde encontra os documentos. Sai de casa.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Mas se tudo fosse assim tão simples
o Robert Mitchum não tinha sido
(MAIS)
(CONTINUA)
CONTINUA: 11.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) (CONTINUA)
alguém e os anos de ouro de
Hollywood não tinham existido.
EXT. RUA #3 - SEDE DA EMPRESA - DIA - FLASHBACK
A repetição da cena onde Ana e Carlos conversam vista do
lado de fora onde Pedro espreita à janela.
Ana entra e começa o diálogo inaudível com Carlos.
PEDRO (V.O)
La Femme Fatalle. Eu desejava por
uma Lauren Bacall, alguém que me
ensinasse a assobiar.
Ana senta-se ao colo de Carlos.
ANA
(carinhosa)
Também não estou muito preocupada,
quando tudo passar deitamos os
nossos probleminhas fora e ficamos
juntinhos para sempre!
Pedro corre dali para fora.
PEDRO (V.O)
Em vez disso saiu-me esta vaca,
Ana-puta-que-a-pariu.
INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA - CONTINUAÇÃO - FLASHBACK
Carlos relaxa.
CARLOS
(mais relaxado)
Mas... eu tenho razão não tenho? Em
não sentir remorso. Não tenho?
ANA
(surpresa e desconfortável)
Hum? Claro que tens, se descobriste
que é ele, então tens.
CARLOS
Não... ele traiu a minha confiança.
(CONTINUA)
CONTINUA: 12.
ANA
Se queres falar com ele, tem
cuidado com o que dizes para ele
não te magoar.
CARLOS
Só mais um par de dias amor --
ANA
Isso é um plano?
CARLOS
É. Mas não podemos fugir sem
dinheiro...
ANA
O que é que isso quer dizer? Tu vê
lá.
CARLOS
Ele vai compreender...
Ana levanta-se.
ANA
Ele vai nada, isso é precipitado --
CARLOS
Eu não tenho dinheiro, ele tem o
meu dinheiro. Ele é razoável, seu
eu lhe perguntar...
ANA
Espera, não podes ter pressa eu --
é tudo tão repentino -- tenho
muitas malas para fazer!
Ana abandona o escritório apressada.
EXT. CASA DE JOÃO - DIA - PRESENTE
Está a chover.
Pedro encara a casa, o cigarro na sua boca está no fim.
A caminho da janela roda o puxador da porta que está aberto.
Pedro entra.
PEDRO (V.O)
Agora para a parte triste, esta é a
morte.
13.
INT. CASA DE JOÃO - CORREDOR - CONTINUAÇÃO
Pedro espreita o corredor, não está ninguém.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
O resumir da minha história de
detective.
Pedro espreita todas as divisões, ouve-se barulhos ao fundo.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
E se por esta altura já é óbvio o
que fez de mim um mau detective --
Pedro apercebe-se dos barulhos. Ele anda até à última porta
do corredor, espera, e abre-a lentamente.
Pedro fica surpreso com o que vê.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
-- Ainda falta mostrar o que fez de
mim um detective morto.
INT. CASA DE JOÃO - QUARTO - CONTINUAÇÃO
Ana arruma as malas violentamente à pressa.
Pedro encara aquilo. Ana vira-se para o armário e o olhar
dos dois cruza-se.
Ambos ficam estáticos e antes que Pedro possa reagir Ana
pega numa mala e acerta-lhe na face. Pedro cai ao chão.
Ana dá com a mala violentamente em Pedro que esperneia.
Os berros de Ana acabam quando Pedro fica imóvel no chão.
Ana coloca a mala em cima da cama, fecha-a, dirige-se à
secretária e agarra nos documentos.
Pega nas malas, dá um último pontapé em Pedro e sai.
Pedro dá um leve gemido.
EXT. RUA #2 - CONTINUAÇÃO
João avança encharcado, ofegante como na cena inicial,
agarrando a mala com uma força extrema.
Ao fundo da rua Ana fecha o porta-bagagem de um luxuoso
carro, entra e parte a alta velocidade.
14.
João fica ainda mais furioso, larga a mala e avança até
casa.
INT. CASA DE JOÃO - QUARTO - DIA - CONTINUAÇÃO
Pedro está vivo. Ele levanta-se atordoado e como na cena da
SITUAÇÃO IMAGINÁRIA --
Procura debaixo da cama.
Nas prateleiras.
E coloca-se de joelhos na secretária a procurar.
INT. CASA DE JOÃO - CORREDOR - CONTINUAÇÃO
João entra e vai até à cozinha, espreita para a sala e
apercebe-se do barulho no quarto. Dirige-se até lá.
INT. CASA DE JOÃO - QUARTO - CONTINUAÇÃO
Pedro continua à procura, há folhas espalhadas pelo chão.
PEDRO
(frustrado)
Onde está aquela merda?
A porta é aberta. Pedro olha para trás.
João está parado à entrada.
JOÃO
Eu sabia!
PEDRO
(Apavorado)
Espera! Isto não é o que parece!
INT. CASA DE JOÃO - CORREDOR - CONTINUAÇÃO
JOÃO fecha a porta atrás de si.
Ouve-se a confusão no quarto.
STEADY PELO CORREDOR, PELO QUINTAL ATÉ À RUA. Os gritos
agudos de Pedro espalham-se pelo ar.
15.
EXT. PARAGEM DO AUTOCARRO - FIM DE TARDE
Carlos espera alguém, duas malas ao seu lado.
Nada acontece.
PEDRO (V.O)
Pessoas. É de pessoas que as
histórias são feitas, quer elas
sejam senhorios com sotaque ou
vendedores de azulejos.
EXT. AUTOESTRADA - FIM DE TARDE
Já não chove. Um carro de luxo acelera pela estrada.
Ana conduz com um enorme sorriso nos lábios.
No banco do passageiro estão a sua malinha, o documento com
os códigos da conta de João e vários cartões de crédito.
PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO)
Há histórias boas, há histórias más
e há a história do detective. Acho
que é justo dizer que no fim de
contas até me sinto triste por não
poder voltar a estar com estas
pessoas. Quase tão triste como se
estivesse com elas...
CRÉDITOS ROLAM
EXT. PARAGEM DO AUTOCARRO - NOITE
Carlos chora, sentado sozinho. Do escuro aparece João
salpicado de sangue. Os dois olham-se, JOÃO senta-se.
JOÃO
Então hum... como correu o teu dia?
Carlos coloca de novo a face nas mãos e começa a chorar.
FADE OUT.

Contenu connexe

En vedette

Reflexões (Caio Fabio and Luana Nunes)
Reflexões (Caio Fabio and Luana Nunes)Reflexões (Caio Fabio and Luana Nunes)
Reflexões (Caio Fabio and Luana Nunes)cfosba
 
Pablo picasso
Pablo picassoPablo picasso
Pablo picassojenpifit
 
AVALIAÇÃO!
AVALIAÇÃO!AVALIAÇÃO!
AVALIAÇÃO!katia5211
 
Actividades novembro ames
Actividades novembro amesActividades novembro ames
Actividades novembro amesAula-CeMIT-Ames
 
Enchères au profit des victimes du 14 juillet
Enchères au profit des victimes du 14 juilletEnchères au profit des victimes du 14 juillet
Enchères au profit des victimes du 14 juilletLECREURER
 
Ruben Bastidas
Ruben BastidasRuben Bastidas
Ruben BastidasRuben082
 
дипломная презентация по судебной практике
дипломная презентация по судебной практикедипломная презентация по судебной практике
дипломная презентация по судебной практикеIvan Simanov
 
дипломная презентация по эстетике
дипломная презентация по эстетикедипломная презентация по эстетике
дипломная презентация по эстетикеIvan Simanov
 
Cursillo 2 aga, interpretación clínica
Cursillo 2 aga, interpretación clínicaCursillo 2 aga, interpretación clínica
Cursillo 2 aga, interpretación clínicaHAMA Med 2
 
дипломная презентация по событийному туризму
дипломная презентация по событийному туризмудипломная презентация по событийному туризму
дипломная презентация по событийному туризмуIvan Simanov
 
згубним звичкам скажем
згубним звичкам скажемзгубним звичкам скажем
згубним звичкам скажемKVtetjana
 
Биосенсор
БиосенсорБиосенсор
Биосенсорpetrushaoo
 
Diagnostico de la educación en valores en el (1)
Diagnostico de la educación en valores en el (1)Diagnostico de la educación en valores en el (1)
Diagnostico de la educación en valores en el (1)CELULOIDES
 
Οι επίμονοι κηπουροί
Οι επίμονοι κηπουροίΟι επίμονοι κηπουροί
Οι επίμονοι κηπουροί93dimath
 

En vedette (20)

Reflexões (Caio Fabio and Luana Nunes)
Reflexões (Caio Fabio and Luana Nunes)Reflexões (Caio Fabio and Luana Nunes)
Reflexões (Caio Fabio and Luana Nunes)
 
Pablo picasso
Pablo picassoPablo picasso
Pablo picasso
 
Cadeira
CadeiraCadeira
Cadeira
 
Pagina 04 en 05
Pagina 04 en 05Pagina 04 en 05
Pagina 04 en 05
 
Sawah
SawahSawah
Sawah
 
AVALIAÇÃO!
AVALIAÇÃO!AVALIAÇÃO!
AVALIAÇÃO!
 
Actividades novembro ames
Actividades novembro amesActividades novembro ames
Actividades novembro ames
 
Enchères au profit des victimes du 14 juillet
Enchères au profit des victimes du 14 juilletEnchères au profit des victimes du 14 juillet
Enchères au profit des victimes du 14 juillet
 
Ruben Bastidas
Ruben BastidasRuben Bastidas
Ruben Bastidas
 
дипломная презентация по судебной практике
дипломная презентация по судебной практикедипломная презентация по судебной практике
дипломная презентация по судебной практике
 
дипломная презентация по эстетике
дипломная презентация по эстетикедипломная презентация по эстетике
дипломная презентация по эстетике
 
айк
айкайк
айк
 
Cursillo 2 aga, interpretación clínica
Cursillo 2 aga, interpretación clínicaCursillo 2 aga, interpretación clínica
Cursillo 2 aga, interpretación clínica
 
Bab 1
Bab 1Bab 1
Bab 1
 
дипломная презентация по событийному туризму
дипломная презентация по событийному туризмудипломная презентация по событийному туризму
дипломная презентация по событийному туризму
 
згубним звичкам скажем
згубним звичкам скажемзгубним звичкам скажем
згубним звичкам скажем
 
Биосенсор
БиосенсорБиосенсор
Биосенсор
 
Tejido epitelial
Tejido epitelialTejido epitelial
Tejido epitelial
 
Diagnostico de la educación en valores en el (1)
Diagnostico de la educación en valores en el (1)Diagnostico de la educación en valores en el (1)
Diagnostico de la educación en valores en el (1)
 
Οι επίμονοι κηπουροί
Οι επίμονοι κηπουροίΟι επίμονοι κηπουροί
Οι επίμονοι κηπουροί
 

Plus de Tiago Lopes

Plus de Tiago Lopes (11)

Caçada
CaçadaCaçada
Caçada
 
Get Tim Out
Get Tim OutGet Tim Out
Get Tim Out
 
Lords Of Getting Nothing
Lords Of Getting Nothing Lords Of Getting Nothing
Lords Of Getting Nothing
 
Egos smashing noir
Egos smashing noirEgos smashing noir
Egos smashing noir
 
Shame
ShameShame
Shame
 
O Talhante
O TalhanteO Talhante
O Talhante
 
Amor gato
Amor gatoAmor gato
Amor gato
 
Chip
ChipChip
Chip
 
Os falhados do costume
Os falhados do costumeOs falhados do costume
Os falhados do costume
 
Crise de fé
Crise de féCrise de fé
Crise de fé
 
A Última noite do Cinema
A Última noite do Cinema A Última noite do Cinema
A Última noite do Cinema
 

Histórias de um Detective

  • 1. Histórias de um Detective De Tiago, o Lopes
  • 2. EXT. RUA #1 - DIA O olhar atento de PEDRO na sombra da sua fedora. PEDRO (V.O) Uma boa história de detectives é feita de cinco elementos cruciais. À medida que Pedro enumera os elementos estes APARECEM LISTADOS, como que escritos à máquina. PEDRO (V.O) Frases afrancesadas, de amores proibidos, crime, morte e acima de tudo -- Pedro está de gabardine, estilo detective de filmes noir dos anos 50, encostado a uma esquina. Ele acende um cigarro, observa as pessoas a que passam e aparece o último elemento: PEDRO (V.O) Pessoas. Elas são o meu ganha pão, os meus falcões malteses. Comigo não há mistério -- ou suspense. Apenas... A IMAGEM VAI A PRETO E BRANCO. PEDRO (V.O) ... Monocromático. Um HOMEM prende a sua atenção. Pedro agarra um jornal do lixo e segue-o. EXT. VÁRIAS RUAS - DIA CORTES RÁPIDOS de Pedro em perseguição do Homem. PEDRO (V.O) Na verdade este é o meu último trabalho, a minha última história, a história da última vez que fiz alguma última coisa na minha vida. EXT. RUA #2 - DIA - CONTINUAÇÃO O enorme homem a ser seguido é JOÃO. Ele desce a rua nervoso, com respiração ofegante e rosto suado. Ele olha à sua volta como se soubesse estar a ser perseguido. Pedro apercebe-se, tenta esconder a cara com o jornal mas deixa-o cair ao chão. (CONTINUA)
  • 3. CONTINUA: 2. João entra em casa e fecha a porta com estrondo. Pedro olha para a casa. PEDRO (V.O) Tal como qualquer história de detectives esta segue pelas regras. CORTAR PARA: INT. CORREDOR DO PRÉDIO DE PEDRO - DIA SENHOR MENDES, o senhorio de sotaque francês, está à porta do Nº8. PEDRO (V.O) As frases afrancesadas. SENHOR MENDES Onde está a minha renda? Eu quero a minha renda seu filho de pute! PEDRO (O.S) Deixe lá isso. INT. QUARTO DE PEDRO - CONTINUAÇÃO CLOSE UP: PEDRO ABRE A JANELA E METE O PÉ NO PARAPEITO. SENHOR MENDES (O.S) Vou buscar a prressão d’ar. INT. CORREDOR DO PRÉDIO DE PEDRO - DIA Senhor Mendes apercebe-se dos barulhos no interior. PEDRO (O.S) Até logo Senhor Mendes! SENHOR MENDES Pensa que estou na brincadeira. Ao fundo do corredor Pedro entra pela janela e vai até às escadas. Senhor Mendes apercebe-se e corre atrás dele. SENHOR MENDES Polícia ou não eu quero a minha renda!
  • 4. 3. INT. HALL DAS ESCADAS - CONTINUAÇÃO Pedro pára ofendido -- PEDRO Já lhe disse, eu não sou polícia. -- E desce pelas escadas abaixo. Senhor Mendes não o consegue apanhar. SENHOR MENDES Você é um sonhador -- e os seus sonhos são uma merde! INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA - DIA CARLOS, um empresário magro e hipocondríaco, aponta para o classificado no jornal colocado por Pedro para os seus serviços de detective. Ele marca, a tremer, o número de telefone. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) Por um curto período da minha vida pensei que pudesse ser tudo o que o Los Angeles Confidencial tinha de bom para me dar. INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA. DIA - UMA SEMANA DEPOIS Pedro está sentado com o seu bloco de notas. POV de Pedro: Carlos anda de um lado para o outro, não ouvimos o que ele diz, mas está nervoso. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) Isto é a inteligência do Guy Pierce, a força do Russel Crowe e o charme do Kevin Spacey. Pedro presta atenção ao que Carlos diz. Carlos mostra-lhe uma folha com números. É revelado que o bloco de Pedro só tem desenhos e rabiscos. Pedro guarda a folha e o bloco. Acende um cigarro e levanta-se, diz algo a Carlos que o acalma, aperta-lhe a mão e sai. (CONTINUA)
  • 5. CONTINUA: 4. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) É certo que que vim a descobrir não ter nenhum mas -- mas -- atenção, apesar de tudo eu, sim, fui noir hardcore até ao último momento. EXT. EXPLANADA - DIA João está sentado com uma MULHER ATRAENTE fala sem parar. Ele está atento ao que se passa em sua volta. Pedro está a alguma mesas de distância com um jornal à frente da face. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) Este caso em particular é dinheiro fácil. Dois homens, donos de uma fábrica de produção de azulejos -- Aparecem AZULEJOS EM LINHA DE PRODUÇÃO. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) -- Quinquilharias Aparecem QUINQUILARIAS. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) -- E cenas dessas. Um FICHEIRO VAZIO cai numa mesa. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) (pensativo em mau inglês) Rags to riches story coisa assim. (volta ao assunto) O problema é que o Dono Um -- FREEZE FRAME de Carlos no escritório a falar para Pedro. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) -- descobriu que alguém os anda a roubar, e quem é que ele escolhe como suspeito principal? Yap, o Dono Dois. FREEZE FRAME de João na explanada.
  • 6. 5. EXT. RUA #3 - SEDE DA EMPRESA - DIA Pedro, encostado a um poste de luz, finge que lê um jornal. Do outro lado da rua João sai da empresa, pára e olha para a esquerda e para a direita nervoso. Pedro tenta inutilmente esconder-se atrás do poste. Carlos aparece. Ele e João andam dali para fora, Pedro atravessa a rua. Não há percepção da direcção em que os 3 vão até Pedro chocar com João. Pedro põe e tira a mão do bolso de João. JOÃO Presta atenção onde andas. Pedro esconde a face na gabardine e afasta-se. PEDRO Claro, claro, peço desculpa. João continua a andar. Carlos olha para trás e reconhece Pedro que lhe indica para se juntar a João. Carlos obedece. Pedro pega no que pôs no bolso. Colado à mão vem um lenço sujo que ele atira para o chão. Pedro sorri. É revelada a CHAVE que ele tirou a João. PEDRO (V.O) Fácil como tirar um doce a um bebé. INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA - FIM DE TARDE Pedro entra no escritório e vasculha por entre a papelada e os livros nas prateleiras. Ele liga o computador de João. O wallpaper é uma montagem horrível de João e a Mulher Atraente da explanada, ANA, com os nomes de ambos por cima. CORTAR PARA: EXT. RUA #2 - DIA - FLASHBACK Pedro observa Ana a sair da casa de João. CORTES RÁPIDOS mostram a passagem dos dias em que Pedro observa Ana a sair de casa quer com, quer sem João. (CONTINUA)
  • 7. CONTINUA: 6. PEDRO (V.O) Aquele que persegue terá sempre um trabalho tão chato quanto as rotinas do perseguido. Isso meus amigos é algo que nenhum curso grátis na internet nos ensina. INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA - FIM DE TARDE - PRESENTE Pedro fotocopia folhas e rouba documentos das gavetas da secretária de João. PEDRO (V.O) Para isso há a experiência. A experiência ensina que essas mesmas rotinas apenas parecem rotinas. Pedro deixa a chave debaixo dum jornal na secretária de Carlos. PEDRO (V.O) Elas têm de ser úteis para alguma coisa. INT. CASA DE JOÃO - SALA - DIA. Ana está sentada a fumar. João anda de um lado para o outro à sua frente, como Carlos fez com Pedro anteriormente. JOÃO São como formigas nas minhas costas. Eu sinto-as atrás de mim. ANA (preocupada) Ai! Não sejas paranóico amor que me assustas! Ninguém te quer fazer mal. JOÃO Eles detestam-me! ANA Eles quem? JOÃO Sei lá, eu não sei. Mas eles existem os -- haters. Não é haters? São formigas nas minhas costas! Ana tira calmantes da mala. (CONTINUA)
  • 8. CONTINUA: 7. ANA (ar de galinácia) Não te vás meter em problemas! Toma um destes p’rás comichões. Dorme. JOÃO Haters, desfaço-os a todos. João bate com o punho na parede e -- CORTAR PARA: INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA - DIA -- Um copo com água estatela-se no chão. PEDRO (V.O) Os amores proibidos. Carlos, sentado à secretária, assusta-se com a entrada repentina de Ana. Esta Ana é o aposto da anterior, calma e em controlo. ANA Temos um problema. Carlos seca a água das calças. CARLOS Ah, nós temos vários problemas tens de ser concreta. Há mais um problema? Um problema novo ou algo que já tenha acontecido e que -- estamos a lidar com algo antigo? ANA O João pensa que o estão a seguir. Era só o que faltava. Carlos engasga-se. CARLOS Segui-lo? Como segui-lo? Huh -- Talvez seja mais uma paranóia dele, não é a primeira vez. Ana hesitante ajuda Carlos a limpar-se. Para surpresa dele ela senta-se ao seu colo e reconforta-o como se fosse uma criança. Carlos beija-a de forma tímida. (CONTINUA)
  • 9. CONTINUA: 8. ANA (carinhosa) Também não estou muito preocupada, quando tudo passar deitamos os nossos probleminhas fora e ficamos juntinhos para sempre! EXT. RUA #3 - SEDE DA EMPRESA - CONTINUAÇÃO Pedro observa em choque a cena pela janela. Pedro encosta-se à parede pensativo. PEDRO (V.O) Facto: problemas tendem a multiplicar-se com rapidez. Estar a ser usado já é mau mas quererem ver-se livres de alguém à minha conta, isso torna as coisas piores. Pedro corre pela rua dali para fora. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) Agora eu moral já não tenho nenhuma só me falta usar o que resta da minha dignidade para ficar ofendido e fazer uma cena. Porquê? INT. COZINHA DE PEDRO - NOITE A cozinha está um nojo, a mesa está cheia de pratos sujos e papelada que Pedro roubou do escritório. Pedro remexe na papelada nunca antes tocada. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) Porque ele é vitima, o parranas ladrão fazedor de azulejos é a vitima! Eu chumbei a matemática, estas folhas dão-me alergia mas se ele estiver inocente não haverá um único número fora do lugar. Mas esta é uma história de detectives senhoras e senhores e daí a existência do importante e sempre presente -- Pedro lê uma das folhas com mais atenção e reage surpreso. (CONTINUA)
  • 10. CONTINUA: 9. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) -- O crime. INSERT: TELEFONE TOCA EM CIMA DA CAMA. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) Com que então eu tenho uma nova vitima. INT. CORREDOR DO PRÉDIO DE PEDRO - CONTINUAÇÃO Senhor Mendes bate à porta Nº 8. SENHOR MENDES Eu vi-o entrar! Venha cá p’ra fora! INT. COZINHA DE PEDRO - CONTINUAÇÃO O telefone continua a tocar e o Senhor Mendes chama por Pedro. Pedro está sentado no chão sem poder acreditar. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) Ou não. Subitamente a minha vitima enriqueceu de forma mágica desde o começo dos roubos e isto, para quem chumbou a matemática, é uma certeza. EXT. PARAGEM DO AUTOCARRO - DIA Carlos está sentado, Pedro aproxima-se. Não ouvimos a parte inicial da conversa até que Carlos se levanta. CARLOS (magoado) Ele tem acesso completo ao sistema. Eu só -- (suspira) -- Só queria saber o porquê era só. PEDRO (desinteressado) Pois. O meu trabalho aqui está feito. Mande-me os honorários para esta morada e -- huh -- boa sorte. Pedro dá um cartão a Carlos e vira-lhe as costas. (CONTINUA)
  • 11. CONTINUA: 10. CARLOS Espere! Eu ainda tenho um problema, algo que -- eu não previ que acontecesse. Preciso da sua ajuda. PEDRO (continua de costas) O meu nome não é Madre Teresa e Calcutá não é a minha terra. CARLOS Eu -- eu dobro o pagamento! Pedro pára, "acordado" pela frase e olha para NÓS. PEDRO (V.O) Pois... bela merda. Pedro vira-se para Carlos o estilo misterioso e sério. PEDRO Continue... DOLLY PARA ATRÁS enquanto Carlos fala com Pedro. EXT. CASA DE JOÃO - DIA - SITUAÇÃO IMAGINÁRIA Pedro abre uma janela e salta para dentro da casa. PEDRO (V.O) O Carlos apenas quer o que lhe foi roubado, a sua parte justa. INT. CASA DE JOÃO - QUARTO - CONTINUAÇÃO - SITUAÇÃO IMAGINÁRIA Pedro procura debaixo da cama. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) É um gesto heróico da parte dele -- Nas prateleiras. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) -- Feito por mim. E na secretária onde encontra os documentos. Sai de casa. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) Mas se tudo fosse assim tão simples o Robert Mitchum não tinha sido (MAIS) (CONTINUA)
  • 12. CONTINUA: 11. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) (CONTINUA) alguém e os anos de ouro de Hollywood não tinham existido. EXT. RUA #3 - SEDE DA EMPRESA - DIA - FLASHBACK A repetição da cena onde Ana e Carlos conversam vista do lado de fora onde Pedro espreita à janela. Ana entra e começa o diálogo inaudível com Carlos. PEDRO (V.O) La Femme Fatalle. Eu desejava por uma Lauren Bacall, alguém que me ensinasse a assobiar. Ana senta-se ao colo de Carlos. ANA (carinhosa) Também não estou muito preocupada, quando tudo passar deitamos os nossos probleminhas fora e ficamos juntinhos para sempre! Pedro corre dali para fora. PEDRO (V.O) Em vez disso saiu-me esta vaca, Ana-puta-que-a-pariu. INT. ESCRITÓRIO DA SEDE DA EMPRESA - CONTINUAÇÃO - FLASHBACK Carlos relaxa. CARLOS (mais relaxado) Mas... eu tenho razão não tenho? Em não sentir remorso. Não tenho? ANA (surpresa e desconfortável) Hum? Claro que tens, se descobriste que é ele, então tens. CARLOS Não... ele traiu a minha confiança. (CONTINUA)
  • 13. CONTINUA: 12. ANA Se queres falar com ele, tem cuidado com o que dizes para ele não te magoar. CARLOS Só mais um par de dias amor -- ANA Isso é um plano? CARLOS É. Mas não podemos fugir sem dinheiro... ANA O que é que isso quer dizer? Tu vê lá. CARLOS Ele vai compreender... Ana levanta-se. ANA Ele vai nada, isso é precipitado -- CARLOS Eu não tenho dinheiro, ele tem o meu dinheiro. Ele é razoável, seu eu lhe perguntar... ANA Espera, não podes ter pressa eu -- é tudo tão repentino -- tenho muitas malas para fazer! Ana abandona o escritório apressada. EXT. CASA DE JOÃO - DIA - PRESENTE Está a chover. Pedro encara a casa, o cigarro na sua boca está no fim. A caminho da janela roda o puxador da porta que está aberto. Pedro entra. PEDRO (V.O) Agora para a parte triste, esta é a morte.
  • 14. 13. INT. CASA DE JOÃO - CORREDOR - CONTINUAÇÃO Pedro espreita o corredor, não está ninguém. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) O resumir da minha história de detective. Pedro espreita todas as divisões, ouve-se barulhos ao fundo. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) E se por esta altura já é óbvio o que fez de mim um mau detective -- Pedro apercebe-se dos barulhos. Ele anda até à última porta do corredor, espera, e abre-a lentamente. Pedro fica surpreso com o que vê. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) -- Ainda falta mostrar o que fez de mim um detective morto. INT. CASA DE JOÃO - QUARTO - CONTINUAÇÃO Ana arruma as malas violentamente à pressa. Pedro encara aquilo. Ana vira-se para o armário e o olhar dos dois cruza-se. Ambos ficam estáticos e antes que Pedro possa reagir Ana pega numa mala e acerta-lhe na face. Pedro cai ao chão. Ana dá com a mala violentamente em Pedro que esperneia. Os berros de Ana acabam quando Pedro fica imóvel no chão. Ana coloca a mala em cima da cama, fecha-a, dirige-se à secretária e agarra nos documentos. Pega nas malas, dá um último pontapé em Pedro e sai. Pedro dá um leve gemido. EXT. RUA #2 - CONTINUAÇÃO João avança encharcado, ofegante como na cena inicial, agarrando a mala com uma força extrema. Ao fundo da rua Ana fecha o porta-bagagem de um luxuoso carro, entra e parte a alta velocidade.
  • 15. 14. João fica ainda mais furioso, larga a mala e avança até casa. INT. CASA DE JOÃO - QUARTO - DIA - CONTINUAÇÃO Pedro está vivo. Ele levanta-se atordoado e como na cena da SITUAÇÃO IMAGINÁRIA -- Procura debaixo da cama. Nas prateleiras. E coloca-se de joelhos na secretária a procurar. INT. CASA DE JOÃO - CORREDOR - CONTINUAÇÃO João entra e vai até à cozinha, espreita para a sala e apercebe-se do barulho no quarto. Dirige-se até lá. INT. CASA DE JOÃO - QUARTO - CONTINUAÇÃO Pedro continua à procura, há folhas espalhadas pelo chão. PEDRO (frustrado) Onde está aquela merda? A porta é aberta. Pedro olha para trás. João está parado à entrada. JOÃO Eu sabia! PEDRO (Apavorado) Espera! Isto não é o que parece! INT. CASA DE JOÃO - CORREDOR - CONTINUAÇÃO JOÃO fecha a porta atrás de si. Ouve-se a confusão no quarto. STEADY PELO CORREDOR, PELO QUINTAL ATÉ À RUA. Os gritos agudos de Pedro espalham-se pelo ar.
  • 16. 15. EXT. PARAGEM DO AUTOCARRO - FIM DE TARDE Carlos espera alguém, duas malas ao seu lado. Nada acontece. PEDRO (V.O) Pessoas. É de pessoas que as histórias são feitas, quer elas sejam senhorios com sotaque ou vendedores de azulejos. EXT. AUTOESTRADA - FIM DE TARDE Já não chove. Um carro de luxo acelera pela estrada. Ana conduz com um enorme sorriso nos lábios. No banco do passageiro estão a sua malinha, o documento com os códigos da conta de João e vários cartões de crédito. PEDRO (V.O) (CONTINUAÇÃO) Há histórias boas, há histórias más e há a história do detective. Acho que é justo dizer que no fim de contas até me sinto triste por não poder voltar a estar com estas pessoas. Quase tão triste como se estivesse com elas... CRÉDITOS ROLAM EXT. PARAGEM DO AUTOCARRO - NOITE Carlos chora, sentado sozinho. Do escuro aparece João salpicado de sangue. Os dois olham-se, JOÃO senta-se. JOÃO Então hum... como correu o teu dia? Carlos coloca de novo a face nas mãos e começa a chorar. FADE OUT.