1. A divulgação científica
Regina Helena Porto Francisco
Instituto de Química de São Carlos - USP
Fundação Educacional de Barretos - SP
A divulgação científica consiste no trabalho de bem compreender um fenômeno
natural ou qualquer outro assunto estudado por profissionais das áreas de
Ciências e fazer um relato em linguagem que possa ser compreendida pelo
público leigo em geral.
Este relato pode ser distribuído para a população na forma de livros, filmes,
programas para rádio e televisão, textos e reportagens para jornais e revistas,
matérias acessíveis via internet, cartilhas, folhetos, cartazes, exposições e
atividades em Museus e Feiras de Ciências, etc.
Atuando nesta área encontramos cientistas que escrevem livros explicando
suas próprias pesquisas em linguagem acessível a não especialistas, e outros
que, graças à sua formação, compreendem bem assuntos de pesquisas
estudados por outras pessoas e os traduzem para público mais amplo,
dirigindo-se principalmente à imprensa. Há também jornalistas que se dedicam
a fazer esta interface entre cientistas, mídia e população.
Reconhecendo a grande importância desta atividade, Einstein afirmou:
"A comunidade dos pesquisadores é uma espécie de órgão do corpo da
humanidade. Esse órgão produz uma substância essencial à vida, que deve
ser fornecida a todas as partes do corpo, na falta da qual ele perecerá. Isso
não quer dizer que cada ser humano deva ser atulhado de saberes eruditos e
detalhados, como ocorre freqüentemente em nossas escolas, nas quais [o
ensino das ciências] vai até o desgosto.
Não se trata também do grande público decidir sobre questões estritamente
científicas. Mas é necessário que cada ser humano que pensa tenha a
possibilidade de participar com toda lucidez dos grandes problemas científicos
de sua época, mesmo se sua posição social não lhe permite consagrar uma
parte importante de seu tempo e de sua energia à reflexão científica.
É somente quando cumpre essa importante missão que a ciência adquire, do
ponto de vista social, o direito de existir."
A. Einstein, Berliner Tageblatt, 20 de abril de 1924
Uma das funções mais importantes da divulgação científica é levar grandes
parcelas da população a conhecer melhor a Natureza, esclarecendo causas de
medos e superstições. Outra função igualmente importante é difundir as
novidades da área científica, que circulam inicialmente em publicações muito
especializadas, voltadas para profissionais da mesma área.
2. O conhecimento que se pode adquirir através destas atividades, dificilmente
permitirá a alguém atuar profissionalmente na área, mas permite o
acompanhamento de questões políticas nacionais e internacionais importantes,
viabilizando a tomada de posição em questões como a legislação brasileira
referente a bio-segurança e o Protocolo de Kioto.
Ao executar tarefas de divulgação científica é preciso ter clara a distinção entre
o que é Ciência e o que não faz parte dela, pois há várias áreas de
conhecimento humano reconhecidamente importantes e que não constituem
atividades científicas, como por exemplo: a literatura, a música, a religião e o
estudo das línguas.
Outra questão importante é a caracterização do público alvo, pois isto afeta a
escolha do veículo de comunicação e também a linguagem a ser utilizada.
O papel que se deseja ver desempenhado pelo público precisa ser previamente
desenhado, pois pode variar desde a leitura isolada de um livro até a execução
de experimentos simples em Museus de Ciências.
Também a motivação do divulgador deve ser colocada com clareza, até para
aumentar a eficiência da sua ação. Por exemplo, uma das campanhas de
divulgação científica mais importantes no Brasil foi desencadeada pelo médico
sanitarista Oswaldo Cruz que queria ensinar a importância da destruição de
criadouros de mosquitos para combater surtos de febre amarela no Rio de
Janeiro, então a capital do país. Esta campanha continua atual, agora para
evitar epidemias de dengue.
Há inúmeros exemplos muito bem sucedidos de atividades de divulgação
científica no Brasil. Por exemplo, o trabalho de José Reis, colunista do jornal
Folha de São Paulo por várias décadas, é sempre lembrado, pela sua
importância, utilidade e persistência. Atualmente temos o médico Dráuzio
Varella, que atua na televisão, escreveu vários livros e é colunista de jornal
impresso. Na televisão há programas importantes e relativamente antigos como
o Globo Ciência, o Globo Ecologia e extensa programação da TV Cultura de
São Paulo.
Entretanto o Brasil apresenta problemas tão numerosos e tão complexos que
tornam gigantesca a tarefa de educar a população e por isso muitas outras
atividades são, não só bem vindas, como extremamente necessárias.
Abre-se aqui uma janela de oportunidades interessante tanto para pessoas
com formação em Ciências que queiram se tornar comunicadores/educadores
eficientes como para jornalistas que queiram aprender Ciências para melhor
dialogarem com pesquisadores e em seguida difundir as descobertas
científicas para a população.
A Revista Eletrônica de Ciências do CDCC é parte deste esforço de
desenvolvimento do processo nacional de educação. Aqui o objetivo mais
importante é educar, viabilizando o aprendizado de conceitos e a compreensão
de fenômenos naturais. O segundo objetivo é a difusão e propagação de
novidades científicas.