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A ARTE DO RENASCIMENTO




        A ARTE DO
RENASCIMENTO             JOSÉ DIOGO NOGUEIRA
                                      JUNHO DE 11
                           ESCOLA EB 2,3 FRANCISCO
                                          TORRINHA
JOSÉ DIOGO NOGUEIRA




                        JOSÉ DIOGO NOGUEIRA




                      A ARTE DO


RENASCIMENTO
TRABALHO REALIZADO NO ÂMBITO DA DISCIPLINA DE HISTÓRIA, - 8.º ANO,
              DA ESCOLA EB 2,3 FRANCISCO TORRINHA




                              PORTO
                           ABRIL DE 2011
A ARTE DO RENASCIMENTO




                         As mais lindas palavras de amor, são ditas no silêncio
                                                                  de um olhar.

                                                            Leonardo da Vinci
JOSÉ DIOGO NOGUEIRA




Introdução


      Tantas vezes ouvimos a palavra renascimento que por vezes a desprovemos do seu sentido mais original.

      Apliquemos então este termo num movimento cultural tão amplo que restaura as bases do classicismo. E apertir desse
termo realizemos este trabalho de modo a conseguir que tudo tenha um sentido lógico dentro dos parâmetros que de nós são
esperados.

       Se não analiso uma obra concreta é porque isso estenderia o trabalho por mais umas quantas (muitas) páginas, pois as
obras do Renascimento têm na sua generalidade um sentido ambíguo.

       E assim me proponho a demonstrar este árduo movimento cultural e saciar a minha própria curiosidade relativa a
outros tempos e outras histórias.

      A meu ver o próprio Renascimento contraria o paradigma da história como uma sucessão de acontecimentos.

      Espero transmitir a mensagem que pretendo transmitir desde aqui até concluir este trabalho.



                                                                                                               Abril de 2011
A ARTE DO RENASCIMENTO




                                    LUCA DELLA ROBBIA:
                                                Cantoría
                                     Relevo em mármore
                         104 x 107 cm em painel completo
                                              Pormenor
                              Museu do Duomo, Florença
JOSÉ DIOGO NOGUEIRA
A ARTE DO RENASCIMENTO




                         ANDREA MANTEGNA:
                         Decoração da Câmara dos Esposos (óculo
                         fingido)
                         1465-1474
                         Fresco: 270 cm
                         Palácio Ducal, Mântua.
JOSÉ DIOGO NOGUEIRA




                                       O RENASCIMENTO


Após muita ponderação, nos tempos modernos, considera-se que o termo Renascimento para denominar um espaço cultural
como o século XV não é o mais correcto. Tal acontece igualmente com o Humanismo. Nem mesmo dentro do mesmo a cultura
era homogenia, porque a arte não goza desse critério unificador.

                                                              Também os limites cronológicos se revelam pouco adequados
                                                       para demarcar a expressão visual dentro dos sistemas de um calendário
                                                       assinalado por séculos. As ideias, a vida e a arte não nascem com datas
                                                       do calendário.

                                                              Isto significa que a utilização termos como Renascimento, Huma-
                                                       nismo ou Século XV, estão-se apenas a indicar referências históricas que
                                                       permitem uma melhor análise dos movimentos culturais e artísticos de
                                                       uma época que também não coincide exactamente com o chamado
                                                       século XV.

                                                             O século XV, cultural e artisticamente, nasce após a peste na
                                                       Europa do ano 1348. esta nova época é marcada pela vida urbana, o
                                                       aparecimento da burguesia e o sentido laico da vida.

                                                              Em toda a Europa, esta nova época, vai instalar três elementos. A
                                                       busca e imitação dos modelos clássicos, gregos e latinos, que aconteceu
                                                       nos estados ou centros da península italiana, não de seu por igual no
                                                       resto dos centros europeus. O humanismo no sentido clássico, defendi-
                                                       do por Petrarca, não se revela na cultura europeia, pelo menos não no
                                                       século XV, que, nos seus respectivos locais, não sente grande interesse
                                                       pelo classicismo.
VERROCHIO:                                                     O esquema hierárquico em que dominam os clérigos é tentado
A Dama do Ramalhete
                                                       revogar pelo desenvolvimento da vida nas cidades, a direcção e o domí-
Cerca de 1478
                                                       nio da vida económica e social dos burgueses. Fomenta-se assim um
Mármore: 58 cm de altura
Museu Bargello, Florença
                                                       processo de civilização em todos os aspectos, sociais, económicos, polí-
                                                       ticos e artísticos.

       O gosto pela vida, a disponibilidade económica e a ânsia de prazer, despertam a encomenda, o mecenato, os investi-
mentos em acções e iniciativas artísticas. A burguesia ostenta assim o seu papel político, ideológico e social, contagiando até,
por vezes, a própria Igreja.

      Nasce um novo conceito urbanístico, e o palácio, tal como a Igreja, organiza o espaço urbano, e nascem, sobretudo o
quadro e escultura como objectos de adorno, de comunicação e de luxo. Também os tapetes, a ourivesaria, os vitrais e as
A ARTE DO RENASCIMENTO


demais artes igualmente assumem esta nova função.

       A produção artística torna-se, como actualmente a produção industrial ou técnica, um espécie de concorrência entre as
diferentes cortes europeias ou centros de produção.




                                                                                                    SANDRO BOTTICELLI:
                                                                                                    Palas e o Centauro
                                                                                                    Cerca de 1478
                                                                                                    Têmpera sobre madeira
                                                                                                    148x207 cm
                                                                                                    Uffizi, Florença
JOSÉ DIOGO NOGUEIRA




Praça da Santíssima Anuziata
Século XV
Florença
A ARTE DO RENASCIMENTO




          ANDREA MANTEGNA:
  Cristo no Monte das Oliveiras
                    Cerca 1460
        Têmpera sobre madeira
                   62,9 x 80 cm
      National Gallery, Londres


               Começam a surgir os artistas, criadores independentes, que abrem a sua própria oficina, libertando-se da estru-
tura rígida da Idade Média, actuando até, por vezes, como empresários a partir do século XV.

       A arte passa a estar dependente de um novo sistema de trabalhos e técnicas produtivas. O predomínio da pintura a óleo
sobre o fresco explica um produção de quadros, temas e formas que dependem da nova técnica iniciada no século XV.

       Os sistemas de representação deste tempo podem-se contrapor em duas principais tendências: a italiana e a flamenga.

       Tratam-se de duas metodologias por vias diferentes para chegar a um mesmo fim: a realidade como um objecto figurá-
vel, contrapondo-se à realidade imaginada da representação gótica.

       Os italianos conseguiram-no através de uma racionalização matemática, medida do espaço ocupado pelos objectos,
sobre parede ou madeiras, em fresco ou à têmpera; os flamengos, por uma visualização influenciada pela sensibilidade das
coisas representadas com tanta precisão quanto lhes permite a nova técnica do pigmento aglutinado com óleo, sobre um
suporte móvel em madeira ou tela.

       O italiano presta mais atenção ao espaço medido, racionalizado, onde se situam os objectos, do que a estes; o flamengo
concede mais importância aos objectos e a cada uma das partes do conjunto em que se situam. O italiano vê a realidade atra-
vés de uma janela, o flamengo através de uma lupa.

       Porém permanecem em países como a Alemanha, Espanha e Inglaterra, goticismos não apenas durante o século XV,
como também durante o século XVI, por mérito próprio, por inércia ou por referência histórica a uma tradição que se identifica
com a ideologia cristã.
JOSÉ DIOGO NOGUEIRA




                 FILLIPO LIPPI:
Virgem com o Menino e os anjos
                   Cerca 1465
        Têmpera sobre madeira
                    95 x 62 cm
               Uffizi, Florença
A ARTE DO RENASCIMENTO




   POLLAIUOLO:
   Martírio de São Sebastião
   1475
   Óleo sobre madeira
   291,5 x 202,5 cm
   National Gallery, Londres
JOSÉ DIOGO NOGUEIRA




PIERRO DELLA FRANCESCA:
                Natividade
                       1470
       Óleo sobre madeira
          122,6 x 124,4 cm
  National Gallery, Londres
A ARTE DO RENASCIMENTO




                CARACTERÍSTICAS DO RENASCIMENTO


O MODELO FLORENTINO



       Politicamente, o que hoje conhecemos como República Italiana e que é o resultado da união conseguida no século XIX,
era no século XV uma série de estados ou repúblicas independentes governados por clãs familiares que exerciam o seu poder
numa cidade que dava o nome ao Estado respectivo. De todos os mais importantes eram Florença, Veneza, Milão, Nápoles e os
Estados Pontifícios.

       Estes estados mais poderosos e, sobretudo, as monarquias exteriores, como o Sacro Império, França e Espanha, tentam
impor as suas pretensões de domínio sobre os estados mais pequenos, mantendo uma série de campanhas bélicas durante um
longo período. Carlos V, nos princípios do século XVI, consegue de alguma forma impor a sua autoridade imperial sobre Roma e
Florença, já que Nápoles depende do reino de Aragão, pelo que os Habsburgo mantêm uma hegemonia política.

       No entanto, as repúblicas italianas não renunciam ao seu carácter cultural de origem romana e o romantismo será um
dos mais importantes elementos de união e também um dos pontos de partida para a renovação das artes e da cultura, com
pressupostos ancorados na imitação do seu passado histórico: a antiguidade. Estas razões históricas não têm a mesma força
nos restantes países da Europa no século XV.

       As diversas repúblicas italianas mantêm relações culturais diferentes com os outros países: as do Norte, com França e
Alemanha; Veneza com o Oriente, devido aos seus contactos comerciais; as do sul, com o Mediterrâneo oriental e Espanha, e
as do centro, Florença, Roma, Siena, Ferrara e Urbino mostram um comportamento mais autónomo, o que permitirá uma
reflexão teórica sobre o humanismo e os modelos da antiguidade.

       Florença será o centro, dirigido por uma crescente burguesia enriquecida pelo comércio e artesanato, sob a protecção
de alguns príncipes, como os Médicis, que patrocinam a criação de múltiplas obras de arquitectura, escultura e pintura.

      Pretendiam romper com os modelos medievais, que, por outro lado, nunca tinham tido muita aceitação nos centros de
produção italianos da Idade Média.

       A Florença cabe a sorte de ter rompido com os modelos figurativos do mundo medieval em dois momentos diferentes.
Primeiro, com Giotto e Nicola Pisano e, em segundo lugar, com Ghiberti e Masaccio, separados por quase um século no desen-
volvimento das actividades respectivas.

       Giotto e os Pisano avançam até fórmulas diferentes, inovadoras. As figuras adquirem monumentalidade, movimento e
vida em todo o corpo, relacionando-se entre si e movem-se num espaço ou paisagem que serve como cenário.

       Mas é especialmente Pisanello, colaborador de Gentille, que com o seu pincel desenha animais e pessoas tirados da
realidade, primeira tentativa de aproximação à realidade vista, não imaginada. No entanto, é sobretudo o seu relacionamento
com os grandes príncipes do momento, a quem dedica medalhas de corte clássico, com retratos de perfil exactos e letras à
JOSÉ DIOGO NOGUEIRA




maneira romana, o que torna Pisanello numa das últimas pontes do gótico cavalheiresco, que faz a transição para o modelo
florentino.

       É claro que não se passa de um modelo para o outro sem uma teoria prévia. A teorização da arte pertence neste
momento ao que chamamos Humanismo, que fomenta o interesse pelo mundo antigo e desperta reflexões sobre a arte,
pelo que a arte florentina possui características especiais.




                                                                                              DESIDERIO DA SETTIGNANO:
                                                                                              Madona PanciatichI
                                                                                              1455-1460
                                                                                              Mármore: 47 cm
                                                                                              Museu Bargello, Florença
A ARTE DO RENASCIMENTO




                             SANDRO BOTTICELLI:
                             Retrato de um Jovem
                                              1482
                          Têmpera sobre madeira
                                    28,3 x 37,5cm
                         National Gallery, Londres
JOSÉ DIOGO NOGUEIRA




SANDRO BOTTICELLI:
Venus
1482
Têmpera sobre madeira
77 x 147 cm
Galeria Sabauda, Turim
A ARTE DO RENASCIMENTO




HUMANISMO



       O Renascimento italiano é o resultado do chamado Humanismo, que constitui uma das mais importantes componentes
da arte e da cultura do mundo moderno.

        Petrarca formula e concebe esta teoria, diferente da existente até àquele momento. A seu ver a idade romana era uma
época de esplendor e de luz enquanto a idade cristã era de obscuridade e trevas. Começava então uma nova idade que restau-
rava a luz.

       Põe-se o homem como o centro de interesse, daí o nome Humanismo.

       O seu discípulo, Boccaccio, aplica a teoria histórica de Petrarca à renovação pictórica de Giotto e à aspiração de que os
poetas e os pintores gozem da mesma liberdade, fazendo do pintor florentino uma das luminárias desta nova época. Para tal
serve-se da expressão elogiosa que Dante fez de Giotto.

       Com isto tinha-se conseguido a expansão gradual do conceito humanista da literatura e da história até à pintura, e des-
ta às outras artes, e das artes às ciências naturais.

      Este conceito de humanismo não aparece nos outros países do mesmo modo que em Florença ou em Roma. A relação
com o clássico é diferente em cada país ao longo do mundo moderno.




                                                                                                               AGOSTINO DI DUCCIO:
                                                                                            Relevo do Arco da Fachada do Oratório de
                                                                                                                     São Bernardino
                                                                                                                         1457-1461
                                                                                                                            Perúgia
JOSÉ DIOGO NOGUEIRA




HUMANISMO E ARTE



      Os Humanistas são grandes coleccionadores de obras de arte do passado que propõe como modelos a imitar. Cada peça
era como uma relíquia do passado.

      Este gosto provocou o coleccionismo e museologia, que poderemos classificar em três classes:

             I.     Museus naturais (ruínas)

             II.    Museus privados (palácios, estúdios, conventos)

             III.   Museus de ideias (descrições, listas, desenhos, etc.)

       Os Humanistas têm influência nas artes: trazendo temas da literatura; acentuando o sentido de exaltação do homem;
originando o elitismo tanto do artista como do consumidor e patrono e aumento da consideração do objecto artístico em si
próprio, com consequências no modo de encarar a produção artística nos séculos seguintes. Assim:

             a.     assinam-se as obras de arte;

             b.     as encomendas deixam-se ou discutem-se com o patrono;

             c.     dá-se preferência à ideia sobre a técnica;

             d.     a obra adquire um valor subjectivo, a autoria;

             e.     a obra é considerada um exercício prático do pensamento e da acção, considerando igualmente que a
                    ciência é igual à arte e à técnica;

             f.     Começam a escrever-se as vidas dos artistas, que são apresentados como vidas exemplares.

      Todos estes ingredientes, que determinam a criação de uma nova linguagem visual durante o século XV, poderão tam-
bém ser considerados como característicos do mundo moderno, que tem a sua origem no Humanismo renascentista.



A ARTE CONSIDERADA CIÊNCIA



      Uma das características mais destacadas do século XV é a intelectualização da prática artística. De artesãos, os artistas
passaram a ser trabalhadores intelectuais livres.

      Esta intelectualização e maneira de trabalhar manifestam-se em certos factos, assim:

             I.     Substituição do mestre artesão pelo modelo da natureza.

             II.    O ensino é organizado em oficinas, que se vão desenvolvendo até à posterior abertura e institucionaliza-
                    ção das academias.

             III.   À prática acrescenta-se a teoria e o conhecimento de certas ciências.



      Inicia-se a reflexão sobre a arte, com o mundo moderno.

       Se algo diferencia a arte do mundo moderno a partir do século XV até ao século XX é a utilização de certa ciências na
prática artística; ciências como a Geometria e a Aritmética ou a Anatomia e também a utilização de paisagens.

Inicia-se a reflexão sobre a arte, com o mundo moderno.

       Se algo diferencia a arte do mundo moderno a partir do século XV até ao século XX é a utilização de certa ciências na
prática artística; ciências como a Geometria e a Aritmética ou a Anatomia e também a utilização de paisagens
A ARTE DO RENASCIMENTO




I - Geometria e Aritmética

     As matemáticas são um elemento comum para as artes e para as ciências. A proporção e a perspectiva baseiam-se na
geometria, óptica e aritmética. Pelo que se pode falar de uma estética matemática utilizada nas artes.



II - Anatomia

     A ideia de beleza nasce com a exploração da natureza. A obra mais perfeita da natureza é o homem. Por isso o corpo
humano converte-se no modelo orgânico das proporções.



III - Paisagem

       Como cenário onde evolui o homem, estabeleceu-se a paisagem simbólica ou real. Este facto dará origem ao género
paisagístico, tão cultivador na época moderna, ao jardim na arquitectura, às pinturas representando comestíveis e às naturezas
mortas, como cenário de festa e adorno de habitações.



A ENCOMENDA E O MECENATO



       Sempre existiu um patrocínio ou apoio económico para que possam criar-se obras de arte. Mas no século XV esta rela-
ção altera-se, não se trata de financiar iniciáticas artísticas destinadas a uma função pública, religiosa ou política.



A ENCOMENDA E O MECENATO



       Sempre existiu um patrocínio ou apoio económico para que possam criar-se obras de arte. No entanto, no século XV,
não se trata de financiar iniciativas públicas, mas sim de financiar alguma coisa para a seu próprio prestígio e glória.

       O mecenas e a sua família transformam-se, nas peças, nos protagonistas.

      Os programas artísticos deixam de ser monopolizados pela Igreja, aparecendo o encomendador ou mecenas que pre-
tende demonstrar a sua posição social e cultural por meio da arte.

       É um lux, mas o luxo está vinculado à burguesia e ao capitalismo moderno, sendo que as grandes famílias competem
para conseguir o mais importante papel.



       A arte torna-se numa arma, numa estratégia política. Criando rivalidade entre as grandes cortes europeias, utilizando os
serviços dos melhores artistas, estivessem onde estivessem.

       Cria-se ainda um novo sistema de mercado:

       1. Sistema de contratação permanente, criando empregos como pintor da corte, pintor do rei, etc.

       2. Sistema de patrocínio com compromissos escritos.



       O Renascimento é um renascimento da antiguidade, no que respeita a formas e temas.
JOSÉ DIOGO NOGUEIRA




(Capa)
DONATELLO
O Profeta Abacue
1427-1436
Mármore: 195 cm de altura
Museu da Catedral, Florença.
A ARTE DO RENASCIMENTO




                                                O URBANISMO


       No urbanismo dá-se uma renovação da cidade ou do cenário onde vive. Nunca antes se vira uma paixão pela teorização
arquitectónica como durante o século XV. Utilizam-se as leis matemáticas de cálculo e projecto.

        Os edifícios criam-se com fachadas viradas para a rua ou para a praça, havendo uma imensa preocupação com a localiza-
ção, o clima, a água, a defesa, as vias de comunicação, a planificação das ruas, largas para o trânsito de carruagens, mas não
demasiado largas por causa do calor, com os edifícios simetricamente ordenados ao longo da rua e desde um ponto de referên-
cia: a praça.

       Os edifícios são, essencialmente, públicos, para os serviços religiosos administrativos e hospitalares ou docentes; edifí-
cios para os cidadãos nobres, e edifícios para o povo, que vivia em casas mais simples e humildes.

       A isto dá-se o nome de novo sistema urbanístico.

                                                            No entanto, as cidades renascentistas são, também medievais,
                                                      rodeadas de muralhas.

                                                              A cidade teórica do século XV é, em todo o caso, uma cidade pen-
                                                      sada.

                                                              A Arte do Renascimento diferencia-se da Arte Medieval em espe-
                                                      cial nas formas arquitectónicas, tão características e demarcadas.

                                                             A parede renascentista mostra a sua superfície de adorno, inclusive
                                                      quando é revestida de mármore de cores, como na Toscana. As janelas
                                                      abrem-se na parede conservando no início os arcos e colunas centrais,
                                                      mas passando a ser composta por duas colunas ou pilastras e frontão
                                                      triangular ou redondo.

                                                             As coberturas ou tectos são de madeira, com caixotões e com abó-
                                                      badas de arestas ou semicirculares. As cúpulas gigantescas elevam-se
                                                      sobre um tambor , com clarabóia e quase sempre sobre triângulos curvilí-
                                                      neos na base interna.
  FILARETE
  A Cidade Ideal                                      Os elementos construtivos aparecem como um quadro. A cobertura de
                                                      mármores de cores reafirma este carácter visual, a ornamentação com
frisos, as pilastras e posteriormente a decoração com grotescos.



A Cúpula de Santa Maria dei Fiore

       Brunelleschi projectou a cúpula da catedral florentina de Santa Maria dei Fiore. Era necessário cobrir um espaço de
41,50m de diâmetro sobre um tambor, na igreja de Arnolfo di Cambio, sem colocar cimbres desde o chão, madeiramento cus-
toso e complicado. Utilizam-se, por isso, tijolos em forma de peixe, já utilizado pelos romanos.

       Na parte superior a clarabóia, primeira construção redonda do Renascimento, centraliza o ponto de fuga como se tratas-
se de uma construção em perspectiva.

O Hospital dos Inocentes

       Uma obra também arquitectada por Brunelleschi. Define-se nesta obra um claro abandono das formas góticas a favor
JOSÉ DIOGO NOGUEIRA


dos elementos do mundo antigo, utilizados de um modo livre e pessoal.

O Tratado sobre Arquitectura

       O Tratado sobre Arquitectura, uma obra dividida em 10 livros, escrito entre 1443 e 1452 por Albertini, não conseguiu
logo de inicio o êxito que merecia porque, estando escrito em latim, não atingia directamente os arquitectos e construtores,
que não entendiam aquela língua.

       Os arquitectos do século XV dificilmente poderiam compreender que, como disse Albertini, Arquitecto é aquele que,
com método e um procedimento seguro e perfeito, saiba projectar racionalmente e realizar na prática, mediante a distribuição
de esforços e a acumulação e conjunção dos corpos, obras que satisfaçam perfeitamente as necessidades humanas mais impor-
tantes. Para esse fim, é necessário o conhecimento e o domínio das melhores e mais nobres disciplinas. Assim deverá ser o
arquitecto.



O PALÁCIO COMO UMA EXPRESSÃO DE PODER

      Os palácios são a síntese de toda a arquitectura civil do século XV. Inclusivamente, os outros temas arquitectónicos são
planeados e concebidos como se fossem um palácio: o claustro religioso, o hospital, a universidade, etc.

       O palácio, não surge na nobreza, mas sim na burguesia. Ao castelo isolado, com torres e defensivo, sucede o palácio
urbano, organizando as ruas e praças, pelo menos, em teoria. O palácio é a vivenda civil que identificará a família que o habita,
de grande tamanho, de forma simétrica, com andares marcadamente diferenciados, janelas alinhadas tanto na vertical, como
na horizontal, sem um ponto de referência determinado na fachada, e onde a porta só mais tarde será um ornamento da
fachada.

        Nos finais do século, a porta é já usada como ornamento da fachada, com pilastras ou colunas e um frontão, criando um
eixo.

        O palácio destaca-se pela monumentalidade desejada por parte do seu patrono.

A decoração

        Utiliza-se a pintura, escultura, tapeçaria, ourivesaria, marcenaria, trabalhos em gesso, cerâmica, etc.

       O homem importante compra ou encomenda obras de arte para o seu próprio prazer, tornando-se coleccionador de
arte, dando mais tarde origem aos museus.

       Ganham lugar os temas históricos, como tipos ou modelos de comportamento ético e real: personagens ilustres, reis,
imperadores, santos ou doutores e guerreiros. Ganham ainda terreno os temas relativos à história própria, como ponte de
referência: retratos, feitos bélicos, etc.

        O palácio honra a burguesia, a aristocracia ou a monarquia, adquirindo assim um sentido histórico.



A FESTA

       A festa ou celebração utiliza a música, o teatro, a gastronomia e a dança. As celebrações festivas, os carnavais, as pro-
cissões, as festas da primavera e os recebimentos reais ou entradas triunfais das personalidades nas cidades eram muito recor-
rentes no século XV. Estas entradas e festas eram um feito clássico do mundo romano.

      Tornam-se um pretexto para decorar as praças, ruas , igrejas e palácios, com arcos triunfais, cartazes, arquitectura de
madeira e telas e cartões.
A ARTE DO RENASCIMENTO




                                         AS ARTES FIGURATIVAS

      A escultura e a pintura como artes figurativas têm a capacidade para representar e comunicar mais imediata: são o
meio para representar o mundo das mentalidades da época.

        A prática artesanal ou artística desenvolve-se sob a protecção do mecenato, que encomenda e paga as obras, sob con-
tratos rigorosos. Neles são especificadas as condições do trabalho, medidas, materiais, preços, etc.



ESCULTURA

       Utilizam-se principalmente o mármore, a pedra e o bronze, assim como a madeira, ou ainda o gesso, os metais e as ter-
racotas policromadas, aplicadas em relevos, estátuas de vulto redondo, bustos, molduras ou medalhões e medalhas. Baseiam-
se em histórias, lendas, mitologias ou monumentos pessoais, como retratos. A preocupação da representação tridimensional
ou perspectiva nos relevos é constante, assim como, as medidas e proporções. O movimento e o nu são uma constante estéti-
ca, sobretudo durante a segunda metade do século.

        O relevo torna-se parte integrante da cena. As figuras são dispostas em profundidade, tratadas de corpo inteiro, como
se víssemos a realidade através de uma janela.

       As figuras passam a ocupar planos próximos ou afastados relativamente ao observador, ordenando o espaço artificial-
mente, com figuras mais pequenas ou maiores, mais próximas ou mais afastadas, para representar o que vê o olho humano, a
realidade vista, não a realidade representada.



O sepulcro

       Um dos programas escultóricos mais importantes desde o século XV é a decoração dos sepulcros.

                                                                            O sepulcro tumular tem os lados verticais,
                                                                     enquanto o sepulcro parietal apresenta a forma de retá-
                                                                     bulo .



                                                                     A Medalhística

                                                                            No mundo antigo a medalhística era muito
                                                                     importante. Utiliza-se o baixo-relevo para representar os
                                                                     grandes personagens nas moedas, medalhas comemora-
                                                                     tivas ou placas.



JACOPO DELLA QUERCIA:
                                                                     PINTURA
Fonte Gaia
                                                                     A Encomenda
1408-1420
Mármore                                                                     Os contractos desta época exigem um desenho
Piazza del campo
                                                                     prévio, demarcando aspectos essenciais como a autoria
Siena
                                                                     do trabalho como elemento diferenciador de outros
                                                                     trabalhos.
JOSÉ DIOGO NOGUEIRA




                                                            ANTÓNIO E PIERRO
                                                               POLLAIOLO
                                                            Sepulcro de Sisto IV
                                                              (pormenores)
                                                                1493-1495
                                                                  Bronze
                                                            Museu do Tesouro,




       A obra de arte pintada, é uma narração, uma história, uma acção verdadeira, histórica ou de fé, porque a pintura é uma
arte que serve para visualizar o mundo mental.

      Instaura-se no Renascimento a pintura em que os personagens se movem num espaço representado que pode ser real e
concreto, mensurável e tridimensional: paisagem, arquitectura urbana, etc. Não é abstracto, de outro, como na Idade Média.

       O que se pretende representar pode ser diferente do que se represente.

      Inicia-se a utilização de uma maneira sistemática de pintura com azeita: a chamada pintura a óleo, introduzida pelos
Flamengos, que possibilitava um melhor transporte das obras, pois podiam ser enroladas.

       Representa-se muito a natureza tal como é vista pelos olhos humanos.



       A perspectiva

       É um fenómeno luminoso, que utiliza uma pirâmide visual ou feixes de raios luminosos que convergem no olho.

       Pensa-se que Brunelleschi tenha sido o seu inventor, pondo em prática o aumento e diminuição das figuras sendo dife-
rentes distâncias das mesmas relativamente ao espectador, e para isso construiu umas tábuas especiais. O quadro torna-se
num corte visual.

      Leonardo corrige e precisa algo mais: que a pintura deve responder a uma ciência total da visão e, por conseguinte, exis-
te uma perspectiva de proporções decrescentes, uma intensidade decrescente das cores e da luz. As ilusões visuais e o esfuma-
do dos objectos são por isso essenciais para controlar e representar o tamanho e a distância dos objectos, e a composição do
quadro depende de uma percepção total da realidade, que são formas, tamanhos, luz e cor.

       Pinta-se um espaço tridimensional com medidas, escalas e referências humanas aplicáveis à pintura, escultura e à arqui-
tectura.

       Há uma crescente preocupação com a anatomia e o movimento das figuras representadas.

Boticelli

       Boticelli investigou a luz, a perspectiva. Não utiliza planos e volumes e desenha figuras de aspecto melancólico.
A ARTE DO RENASCIMENTO


Leonardo da Vinci

       Nenhum outro artista como Leonardo da Vinci recebeu tantos elogios. Pintor, engenheiro, escultor, arquitecto, cartó-
grafo, um perito nos mistérios da natureza observada, desenhada e reconstruída.

      Utiliza técnicas como o sfumato e jogo de luzes no espaço atmosférico. Sem elas não existiria o sorriso da Gioconda,
nem a serenidade de Anunciação.
JOSÉ DIOGO NOGUEIRA




Bibliografia
ARENAS, José Fernández e TRIADÓ, Juan Ramón, O Despertar do Renascimento, Ediclube, 2007




Conclusão

      Depois de toda a viagem por um século demarcado pela mudança artística chego ao final satisfeito com o resultado.

       Ajudou-me o facto de ter encontrado um livro que correspondeu às minhas expectativas, demonstrando-me uma nova
perspectiva do renascimento e ao mesmo tempo complementarizando a minha opinião prévia. Nada disto poderia ser possível
se não fosse graças a esse meu companheiro livro que me acompanhou durante esta viagem pelo Renascimento, pelo reconhe-
cimento da antiguidade. E a cada palavra há uma novidade. Há algo que não sabia.

       Pretendia igualmente resistir ao hábito de introduzir uma imagem de Gioconda. A meu ver o Renascimento não gira em
volta de Leonardo da Vinci embora este tenha sido um grande protagonista deste movimento cultural.

      E assim termino, agradecendo a oportunidade de descobrir mais e protagonizar, também eu, um pedaço desta tão
extensa cultura.

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História - Arte do Renascimento

  • 1. A ARTE DO RENASCIMENTO A ARTE DO RENASCIMENTO JOSÉ DIOGO NOGUEIRA JUNHO DE 11 ESCOLA EB 2,3 FRANCISCO TORRINHA
  • 2. JOSÉ DIOGO NOGUEIRA JOSÉ DIOGO NOGUEIRA A ARTE DO RENASCIMENTO TRABALHO REALIZADO NO ÂMBITO DA DISCIPLINA DE HISTÓRIA, - 8.º ANO, DA ESCOLA EB 2,3 FRANCISCO TORRINHA PORTO ABRIL DE 2011
  • 3. A ARTE DO RENASCIMENTO As mais lindas palavras de amor, são ditas no silêncio de um olhar. Leonardo da Vinci
  • 4. JOSÉ DIOGO NOGUEIRA Introdução Tantas vezes ouvimos a palavra renascimento que por vezes a desprovemos do seu sentido mais original. Apliquemos então este termo num movimento cultural tão amplo que restaura as bases do classicismo. E apertir desse termo realizemos este trabalho de modo a conseguir que tudo tenha um sentido lógico dentro dos parâmetros que de nós são esperados. Se não analiso uma obra concreta é porque isso estenderia o trabalho por mais umas quantas (muitas) páginas, pois as obras do Renascimento têm na sua generalidade um sentido ambíguo. E assim me proponho a demonstrar este árduo movimento cultural e saciar a minha própria curiosidade relativa a outros tempos e outras histórias. A meu ver o próprio Renascimento contraria o paradigma da história como uma sucessão de acontecimentos. Espero transmitir a mensagem que pretendo transmitir desde aqui até concluir este trabalho. Abril de 2011
  • 5. A ARTE DO RENASCIMENTO LUCA DELLA ROBBIA: Cantoría Relevo em mármore 104 x 107 cm em painel completo Pormenor Museu do Duomo, Florença
  • 7. A ARTE DO RENASCIMENTO ANDREA MANTEGNA: Decoração da Câmara dos Esposos (óculo fingido) 1465-1474 Fresco: 270 cm Palácio Ducal, Mântua.
  • 8. JOSÉ DIOGO NOGUEIRA O RENASCIMENTO Após muita ponderação, nos tempos modernos, considera-se que o termo Renascimento para denominar um espaço cultural como o século XV não é o mais correcto. Tal acontece igualmente com o Humanismo. Nem mesmo dentro do mesmo a cultura era homogenia, porque a arte não goza desse critério unificador. Também os limites cronológicos se revelam pouco adequados para demarcar a expressão visual dentro dos sistemas de um calendário assinalado por séculos. As ideias, a vida e a arte não nascem com datas do calendário. Isto significa que a utilização termos como Renascimento, Huma- nismo ou Século XV, estão-se apenas a indicar referências históricas que permitem uma melhor análise dos movimentos culturais e artísticos de uma época que também não coincide exactamente com o chamado século XV. O século XV, cultural e artisticamente, nasce após a peste na Europa do ano 1348. esta nova época é marcada pela vida urbana, o aparecimento da burguesia e o sentido laico da vida. Em toda a Europa, esta nova época, vai instalar três elementos. A busca e imitação dos modelos clássicos, gregos e latinos, que aconteceu nos estados ou centros da península italiana, não de seu por igual no resto dos centros europeus. O humanismo no sentido clássico, defendi- do por Petrarca, não se revela na cultura europeia, pelo menos não no século XV, que, nos seus respectivos locais, não sente grande interesse pelo classicismo. VERROCHIO: O esquema hierárquico em que dominam os clérigos é tentado A Dama do Ramalhete revogar pelo desenvolvimento da vida nas cidades, a direcção e o domí- Cerca de 1478 nio da vida económica e social dos burgueses. Fomenta-se assim um Mármore: 58 cm de altura Museu Bargello, Florença processo de civilização em todos os aspectos, sociais, económicos, polí- ticos e artísticos. O gosto pela vida, a disponibilidade económica e a ânsia de prazer, despertam a encomenda, o mecenato, os investi- mentos em acções e iniciativas artísticas. A burguesia ostenta assim o seu papel político, ideológico e social, contagiando até, por vezes, a própria Igreja. Nasce um novo conceito urbanístico, e o palácio, tal como a Igreja, organiza o espaço urbano, e nascem, sobretudo o quadro e escultura como objectos de adorno, de comunicação e de luxo. Também os tapetes, a ourivesaria, os vitrais e as
  • 9. A ARTE DO RENASCIMENTO demais artes igualmente assumem esta nova função. A produção artística torna-se, como actualmente a produção industrial ou técnica, um espécie de concorrência entre as diferentes cortes europeias ou centros de produção. SANDRO BOTTICELLI: Palas e o Centauro Cerca de 1478 Têmpera sobre madeira 148x207 cm Uffizi, Florença
  • 10. JOSÉ DIOGO NOGUEIRA Praça da Santíssima Anuziata Século XV Florença
  • 11. A ARTE DO RENASCIMENTO ANDREA MANTEGNA: Cristo no Monte das Oliveiras Cerca 1460 Têmpera sobre madeira 62,9 x 80 cm National Gallery, Londres Começam a surgir os artistas, criadores independentes, que abrem a sua própria oficina, libertando-se da estru- tura rígida da Idade Média, actuando até, por vezes, como empresários a partir do século XV. A arte passa a estar dependente de um novo sistema de trabalhos e técnicas produtivas. O predomínio da pintura a óleo sobre o fresco explica um produção de quadros, temas e formas que dependem da nova técnica iniciada no século XV. Os sistemas de representação deste tempo podem-se contrapor em duas principais tendências: a italiana e a flamenga. Tratam-se de duas metodologias por vias diferentes para chegar a um mesmo fim: a realidade como um objecto figurá- vel, contrapondo-se à realidade imaginada da representação gótica. Os italianos conseguiram-no através de uma racionalização matemática, medida do espaço ocupado pelos objectos, sobre parede ou madeiras, em fresco ou à têmpera; os flamengos, por uma visualização influenciada pela sensibilidade das coisas representadas com tanta precisão quanto lhes permite a nova técnica do pigmento aglutinado com óleo, sobre um suporte móvel em madeira ou tela. O italiano presta mais atenção ao espaço medido, racionalizado, onde se situam os objectos, do que a estes; o flamengo concede mais importância aos objectos e a cada uma das partes do conjunto em que se situam. O italiano vê a realidade atra- vés de uma janela, o flamengo através de uma lupa. Porém permanecem em países como a Alemanha, Espanha e Inglaterra, goticismos não apenas durante o século XV, como também durante o século XVI, por mérito próprio, por inércia ou por referência histórica a uma tradição que se identifica com a ideologia cristã.
  • 12. JOSÉ DIOGO NOGUEIRA FILLIPO LIPPI: Virgem com o Menino e os anjos Cerca 1465 Têmpera sobre madeira 95 x 62 cm Uffizi, Florença
  • 13. A ARTE DO RENASCIMENTO POLLAIUOLO: Martírio de São Sebastião 1475 Óleo sobre madeira 291,5 x 202,5 cm National Gallery, Londres
  • 14. JOSÉ DIOGO NOGUEIRA PIERRO DELLA FRANCESCA: Natividade 1470 Óleo sobre madeira 122,6 x 124,4 cm National Gallery, Londres
  • 15. A ARTE DO RENASCIMENTO CARACTERÍSTICAS DO RENASCIMENTO O MODELO FLORENTINO Politicamente, o que hoje conhecemos como República Italiana e que é o resultado da união conseguida no século XIX, era no século XV uma série de estados ou repúblicas independentes governados por clãs familiares que exerciam o seu poder numa cidade que dava o nome ao Estado respectivo. De todos os mais importantes eram Florença, Veneza, Milão, Nápoles e os Estados Pontifícios. Estes estados mais poderosos e, sobretudo, as monarquias exteriores, como o Sacro Império, França e Espanha, tentam impor as suas pretensões de domínio sobre os estados mais pequenos, mantendo uma série de campanhas bélicas durante um longo período. Carlos V, nos princípios do século XVI, consegue de alguma forma impor a sua autoridade imperial sobre Roma e Florença, já que Nápoles depende do reino de Aragão, pelo que os Habsburgo mantêm uma hegemonia política. No entanto, as repúblicas italianas não renunciam ao seu carácter cultural de origem romana e o romantismo será um dos mais importantes elementos de união e também um dos pontos de partida para a renovação das artes e da cultura, com pressupostos ancorados na imitação do seu passado histórico: a antiguidade. Estas razões históricas não têm a mesma força nos restantes países da Europa no século XV. As diversas repúblicas italianas mantêm relações culturais diferentes com os outros países: as do Norte, com França e Alemanha; Veneza com o Oriente, devido aos seus contactos comerciais; as do sul, com o Mediterrâneo oriental e Espanha, e as do centro, Florença, Roma, Siena, Ferrara e Urbino mostram um comportamento mais autónomo, o que permitirá uma reflexão teórica sobre o humanismo e os modelos da antiguidade. Florença será o centro, dirigido por uma crescente burguesia enriquecida pelo comércio e artesanato, sob a protecção de alguns príncipes, como os Médicis, que patrocinam a criação de múltiplas obras de arquitectura, escultura e pintura. Pretendiam romper com os modelos medievais, que, por outro lado, nunca tinham tido muita aceitação nos centros de produção italianos da Idade Média. A Florença cabe a sorte de ter rompido com os modelos figurativos do mundo medieval em dois momentos diferentes. Primeiro, com Giotto e Nicola Pisano e, em segundo lugar, com Ghiberti e Masaccio, separados por quase um século no desen- volvimento das actividades respectivas. Giotto e os Pisano avançam até fórmulas diferentes, inovadoras. As figuras adquirem monumentalidade, movimento e vida em todo o corpo, relacionando-se entre si e movem-se num espaço ou paisagem que serve como cenário. Mas é especialmente Pisanello, colaborador de Gentille, que com o seu pincel desenha animais e pessoas tirados da realidade, primeira tentativa de aproximação à realidade vista, não imaginada. No entanto, é sobretudo o seu relacionamento com os grandes príncipes do momento, a quem dedica medalhas de corte clássico, com retratos de perfil exactos e letras à
  • 16. JOSÉ DIOGO NOGUEIRA maneira romana, o que torna Pisanello numa das últimas pontes do gótico cavalheiresco, que faz a transição para o modelo florentino. É claro que não se passa de um modelo para o outro sem uma teoria prévia. A teorização da arte pertence neste momento ao que chamamos Humanismo, que fomenta o interesse pelo mundo antigo e desperta reflexões sobre a arte, pelo que a arte florentina possui características especiais. DESIDERIO DA SETTIGNANO: Madona PanciatichI 1455-1460 Mármore: 47 cm Museu Bargello, Florença
  • 17. A ARTE DO RENASCIMENTO SANDRO BOTTICELLI: Retrato de um Jovem 1482 Têmpera sobre madeira 28,3 x 37,5cm National Gallery, Londres
  • 18. JOSÉ DIOGO NOGUEIRA SANDRO BOTTICELLI: Venus 1482 Têmpera sobre madeira 77 x 147 cm Galeria Sabauda, Turim
  • 19. A ARTE DO RENASCIMENTO HUMANISMO O Renascimento italiano é o resultado do chamado Humanismo, que constitui uma das mais importantes componentes da arte e da cultura do mundo moderno. Petrarca formula e concebe esta teoria, diferente da existente até àquele momento. A seu ver a idade romana era uma época de esplendor e de luz enquanto a idade cristã era de obscuridade e trevas. Começava então uma nova idade que restau- rava a luz. Põe-se o homem como o centro de interesse, daí o nome Humanismo. O seu discípulo, Boccaccio, aplica a teoria histórica de Petrarca à renovação pictórica de Giotto e à aspiração de que os poetas e os pintores gozem da mesma liberdade, fazendo do pintor florentino uma das luminárias desta nova época. Para tal serve-se da expressão elogiosa que Dante fez de Giotto. Com isto tinha-se conseguido a expansão gradual do conceito humanista da literatura e da história até à pintura, e des- ta às outras artes, e das artes às ciências naturais. Este conceito de humanismo não aparece nos outros países do mesmo modo que em Florença ou em Roma. A relação com o clássico é diferente em cada país ao longo do mundo moderno. AGOSTINO DI DUCCIO: Relevo do Arco da Fachada do Oratório de São Bernardino 1457-1461 Perúgia
  • 20. JOSÉ DIOGO NOGUEIRA HUMANISMO E ARTE Os Humanistas são grandes coleccionadores de obras de arte do passado que propõe como modelos a imitar. Cada peça era como uma relíquia do passado. Este gosto provocou o coleccionismo e museologia, que poderemos classificar em três classes: I. Museus naturais (ruínas) II. Museus privados (palácios, estúdios, conventos) III. Museus de ideias (descrições, listas, desenhos, etc.) Os Humanistas têm influência nas artes: trazendo temas da literatura; acentuando o sentido de exaltação do homem; originando o elitismo tanto do artista como do consumidor e patrono e aumento da consideração do objecto artístico em si próprio, com consequências no modo de encarar a produção artística nos séculos seguintes. Assim: a. assinam-se as obras de arte; b. as encomendas deixam-se ou discutem-se com o patrono; c. dá-se preferência à ideia sobre a técnica; d. a obra adquire um valor subjectivo, a autoria; e. a obra é considerada um exercício prático do pensamento e da acção, considerando igualmente que a ciência é igual à arte e à técnica; f. Começam a escrever-se as vidas dos artistas, que são apresentados como vidas exemplares. Todos estes ingredientes, que determinam a criação de uma nova linguagem visual durante o século XV, poderão tam- bém ser considerados como característicos do mundo moderno, que tem a sua origem no Humanismo renascentista. A ARTE CONSIDERADA CIÊNCIA Uma das características mais destacadas do século XV é a intelectualização da prática artística. De artesãos, os artistas passaram a ser trabalhadores intelectuais livres. Esta intelectualização e maneira de trabalhar manifestam-se em certos factos, assim: I. Substituição do mestre artesão pelo modelo da natureza. II. O ensino é organizado em oficinas, que se vão desenvolvendo até à posterior abertura e institucionaliza- ção das academias. III. À prática acrescenta-se a teoria e o conhecimento de certas ciências. Inicia-se a reflexão sobre a arte, com o mundo moderno. Se algo diferencia a arte do mundo moderno a partir do século XV até ao século XX é a utilização de certa ciências na prática artística; ciências como a Geometria e a Aritmética ou a Anatomia e também a utilização de paisagens. Inicia-se a reflexão sobre a arte, com o mundo moderno. Se algo diferencia a arte do mundo moderno a partir do século XV até ao século XX é a utilização de certa ciências na prática artística; ciências como a Geometria e a Aritmética ou a Anatomia e também a utilização de paisagens
  • 21. A ARTE DO RENASCIMENTO I - Geometria e Aritmética As matemáticas são um elemento comum para as artes e para as ciências. A proporção e a perspectiva baseiam-se na geometria, óptica e aritmética. Pelo que se pode falar de uma estética matemática utilizada nas artes. II - Anatomia A ideia de beleza nasce com a exploração da natureza. A obra mais perfeita da natureza é o homem. Por isso o corpo humano converte-se no modelo orgânico das proporções. III - Paisagem Como cenário onde evolui o homem, estabeleceu-se a paisagem simbólica ou real. Este facto dará origem ao género paisagístico, tão cultivador na época moderna, ao jardim na arquitectura, às pinturas representando comestíveis e às naturezas mortas, como cenário de festa e adorno de habitações. A ENCOMENDA E O MECENATO Sempre existiu um patrocínio ou apoio económico para que possam criar-se obras de arte. Mas no século XV esta rela- ção altera-se, não se trata de financiar iniciáticas artísticas destinadas a uma função pública, religiosa ou política. A ENCOMENDA E O MECENATO Sempre existiu um patrocínio ou apoio económico para que possam criar-se obras de arte. No entanto, no século XV, não se trata de financiar iniciativas públicas, mas sim de financiar alguma coisa para a seu próprio prestígio e glória. O mecenas e a sua família transformam-se, nas peças, nos protagonistas. Os programas artísticos deixam de ser monopolizados pela Igreja, aparecendo o encomendador ou mecenas que pre- tende demonstrar a sua posição social e cultural por meio da arte. É um lux, mas o luxo está vinculado à burguesia e ao capitalismo moderno, sendo que as grandes famílias competem para conseguir o mais importante papel. A arte torna-se numa arma, numa estratégia política. Criando rivalidade entre as grandes cortes europeias, utilizando os serviços dos melhores artistas, estivessem onde estivessem. Cria-se ainda um novo sistema de mercado: 1. Sistema de contratação permanente, criando empregos como pintor da corte, pintor do rei, etc. 2. Sistema de patrocínio com compromissos escritos. O Renascimento é um renascimento da antiguidade, no que respeita a formas e temas.
  • 22. JOSÉ DIOGO NOGUEIRA (Capa) DONATELLO O Profeta Abacue 1427-1436 Mármore: 195 cm de altura Museu da Catedral, Florença.
  • 23. A ARTE DO RENASCIMENTO O URBANISMO No urbanismo dá-se uma renovação da cidade ou do cenário onde vive. Nunca antes se vira uma paixão pela teorização arquitectónica como durante o século XV. Utilizam-se as leis matemáticas de cálculo e projecto. Os edifícios criam-se com fachadas viradas para a rua ou para a praça, havendo uma imensa preocupação com a localiza- ção, o clima, a água, a defesa, as vias de comunicação, a planificação das ruas, largas para o trânsito de carruagens, mas não demasiado largas por causa do calor, com os edifícios simetricamente ordenados ao longo da rua e desde um ponto de referên- cia: a praça. Os edifícios são, essencialmente, públicos, para os serviços religiosos administrativos e hospitalares ou docentes; edifí- cios para os cidadãos nobres, e edifícios para o povo, que vivia em casas mais simples e humildes. A isto dá-se o nome de novo sistema urbanístico. No entanto, as cidades renascentistas são, também medievais, rodeadas de muralhas. A cidade teórica do século XV é, em todo o caso, uma cidade pen- sada. A Arte do Renascimento diferencia-se da Arte Medieval em espe- cial nas formas arquitectónicas, tão características e demarcadas. A parede renascentista mostra a sua superfície de adorno, inclusive quando é revestida de mármore de cores, como na Toscana. As janelas abrem-se na parede conservando no início os arcos e colunas centrais, mas passando a ser composta por duas colunas ou pilastras e frontão triangular ou redondo. As coberturas ou tectos são de madeira, com caixotões e com abó- badas de arestas ou semicirculares. As cúpulas gigantescas elevam-se sobre um tambor , com clarabóia e quase sempre sobre triângulos curvilí- neos na base interna. FILARETE A Cidade Ideal Os elementos construtivos aparecem como um quadro. A cobertura de mármores de cores reafirma este carácter visual, a ornamentação com frisos, as pilastras e posteriormente a decoração com grotescos. A Cúpula de Santa Maria dei Fiore Brunelleschi projectou a cúpula da catedral florentina de Santa Maria dei Fiore. Era necessário cobrir um espaço de 41,50m de diâmetro sobre um tambor, na igreja de Arnolfo di Cambio, sem colocar cimbres desde o chão, madeiramento cus- toso e complicado. Utilizam-se, por isso, tijolos em forma de peixe, já utilizado pelos romanos. Na parte superior a clarabóia, primeira construção redonda do Renascimento, centraliza o ponto de fuga como se tratas- se de uma construção em perspectiva. O Hospital dos Inocentes Uma obra também arquitectada por Brunelleschi. Define-se nesta obra um claro abandono das formas góticas a favor
  • 24. JOSÉ DIOGO NOGUEIRA dos elementos do mundo antigo, utilizados de um modo livre e pessoal. O Tratado sobre Arquitectura O Tratado sobre Arquitectura, uma obra dividida em 10 livros, escrito entre 1443 e 1452 por Albertini, não conseguiu logo de inicio o êxito que merecia porque, estando escrito em latim, não atingia directamente os arquitectos e construtores, que não entendiam aquela língua. Os arquitectos do século XV dificilmente poderiam compreender que, como disse Albertini, Arquitecto é aquele que, com método e um procedimento seguro e perfeito, saiba projectar racionalmente e realizar na prática, mediante a distribuição de esforços e a acumulação e conjunção dos corpos, obras que satisfaçam perfeitamente as necessidades humanas mais impor- tantes. Para esse fim, é necessário o conhecimento e o domínio das melhores e mais nobres disciplinas. Assim deverá ser o arquitecto. O PALÁCIO COMO UMA EXPRESSÃO DE PODER Os palácios são a síntese de toda a arquitectura civil do século XV. Inclusivamente, os outros temas arquitectónicos são planeados e concebidos como se fossem um palácio: o claustro religioso, o hospital, a universidade, etc. O palácio, não surge na nobreza, mas sim na burguesia. Ao castelo isolado, com torres e defensivo, sucede o palácio urbano, organizando as ruas e praças, pelo menos, em teoria. O palácio é a vivenda civil que identificará a família que o habita, de grande tamanho, de forma simétrica, com andares marcadamente diferenciados, janelas alinhadas tanto na vertical, como na horizontal, sem um ponto de referência determinado na fachada, e onde a porta só mais tarde será um ornamento da fachada. Nos finais do século, a porta é já usada como ornamento da fachada, com pilastras ou colunas e um frontão, criando um eixo. O palácio destaca-se pela monumentalidade desejada por parte do seu patrono. A decoração Utiliza-se a pintura, escultura, tapeçaria, ourivesaria, marcenaria, trabalhos em gesso, cerâmica, etc. O homem importante compra ou encomenda obras de arte para o seu próprio prazer, tornando-se coleccionador de arte, dando mais tarde origem aos museus. Ganham lugar os temas históricos, como tipos ou modelos de comportamento ético e real: personagens ilustres, reis, imperadores, santos ou doutores e guerreiros. Ganham ainda terreno os temas relativos à história própria, como ponte de referência: retratos, feitos bélicos, etc. O palácio honra a burguesia, a aristocracia ou a monarquia, adquirindo assim um sentido histórico. A FESTA A festa ou celebração utiliza a música, o teatro, a gastronomia e a dança. As celebrações festivas, os carnavais, as pro- cissões, as festas da primavera e os recebimentos reais ou entradas triunfais das personalidades nas cidades eram muito recor- rentes no século XV. Estas entradas e festas eram um feito clássico do mundo romano. Tornam-se um pretexto para decorar as praças, ruas , igrejas e palácios, com arcos triunfais, cartazes, arquitectura de madeira e telas e cartões.
  • 25. A ARTE DO RENASCIMENTO AS ARTES FIGURATIVAS A escultura e a pintura como artes figurativas têm a capacidade para representar e comunicar mais imediata: são o meio para representar o mundo das mentalidades da época. A prática artesanal ou artística desenvolve-se sob a protecção do mecenato, que encomenda e paga as obras, sob con- tratos rigorosos. Neles são especificadas as condições do trabalho, medidas, materiais, preços, etc. ESCULTURA Utilizam-se principalmente o mármore, a pedra e o bronze, assim como a madeira, ou ainda o gesso, os metais e as ter- racotas policromadas, aplicadas em relevos, estátuas de vulto redondo, bustos, molduras ou medalhões e medalhas. Baseiam- se em histórias, lendas, mitologias ou monumentos pessoais, como retratos. A preocupação da representação tridimensional ou perspectiva nos relevos é constante, assim como, as medidas e proporções. O movimento e o nu são uma constante estéti- ca, sobretudo durante a segunda metade do século. O relevo torna-se parte integrante da cena. As figuras são dispostas em profundidade, tratadas de corpo inteiro, como se víssemos a realidade através de uma janela. As figuras passam a ocupar planos próximos ou afastados relativamente ao observador, ordenando o espaço artificial- mente, com figuras mais pequenas ou maiores, mais próximas ou mais afastadas, para representar o que vê o olho humano, a realidade vista, não a realidade representada. O sepulcro Um dos programas escultóricos mais importantes desde o século XV é a decoração dos sepulcros. O sepulcro tumular tem os lados verticais, enquanto o sepulcro parietal apresenta a forma de retá- bulo . A Medalhística No mundo antigo a medalhística era muito importante. Utiliza-se o baixo-relevo para representar os grandes personagens nas moedas, medalhas comemora- tivas ou placas. JACOPO DELLA QUERCIA: PINTURA Fonte Gaia A Encomenda 1408-1420 Mármore Os contractos desta época exigem um desenho Piazza del campo prévio, demarcando aspectos essenciais como a autoria Siena do trabalho como elemento diferenciador de outros trabalhos.
  • 26. JOSÉ DIOGO NOGUEIRA ANTÓNIO E PIERRO POLLAIOLO Sepulcro de Sisto IV (pormenores) 1493-1495 Bronze Museu do Tesouro, A obra de arte pintada, é uma narração, uma história, uma acção verdadeira, histórica ou de fé, porque a pintura é uma arte que serve para visualizar o mundo mental. Instaura-se no Renascimento a pintura em que os personagens se movem num espaço representado que pode ser real e concreto, mensurável e tridimensional: paisagem, arquitectura urbana, etc. Não é abstracto, de outro, como na Idade Média. O que se pretende representar pode ser diferente do que se represente. Inicia-se a utilização de uma maneira sistemática de pintura com azeita: a chamada pintura a óleo, introduzida pelos Flamengos, que possibilitava um melhor transporte das obras, pois podiam ser enroladas. Representa-se muito a natureza tal como é vista pelos olhos humanos. A perspectiva É um fenómeno luminoso, que utiliza uma pirâmide visual ou feixes de raios luminosos que convergem no olho. Pensa-se que Brunelleschi tenha sido o seu inventor, pondo em prática o aumento e diminuição das figuras sendo dife- rentes distâncias das mesmas relativamente ao espectador, e para isso construiu umas tábuas especiais. O quadro torna-se num corte visual. Leonardo corrige e precisa algo mais: que a pintura deve responder a uma ciência total da visão e, por conseguinte, exis- te uma perspectiva de proporções decrescentes, uma intensidade decrescente das cores e da luz. As ilusões visuais e o esfuma- do dos objectos são por isso essenciais para controlar e representar o tamanho e a distância dos objectos, e a composição do quadro depende de uma percepção total da realidade, que são formas, tamanhos, luz e cor. Pinta-se um espaço tridimensional com medidas, escalas e referências humanas aplicáveis à pintura, escultura e à arqui- tectura. Há uma crescente preocupação com a anatomia e o movimento das figuras representadas. Boticelli Boticelli investigou a luz, a perspectiva. Não utiliza planos e volumes e desenha figuras de aspecto melancólico.
  • 27. A ARTE DO RENASCIMENTO Leonardo da Vinci Nenhum outro artista como Leonardo da Vinci recebeu tantos elogios. Pintor, engenheiro, escultor, arquitecto, cartó- grafo, um perito nos mistérios da natureza observada, desenhada e reconstruída. Utiliza técnicas como o sfumato e jogo de luzes no espaço atmosférico. Sem elas não existiria o sorriso da Gioconda, nem a serenidade de Anunciação.
  • 28. JOSÉ DIOGO NOGUEIRA Bibliografia ARENAS, José Fernández e TRIADÓ, Juan Ramón, O Despertar do Renascimento, Ediclube, 2007 Conclusão Depois de toda a viagem por um século demarcado pela mudança artística chego ao final satisfeito com o resultado. Ajudou-me o facto de ter encontrado um livro que correspondeu às minhas expectativas, demonstrando-me uma nova perspectiva do renascimento e ao mesmo tempo complementarizando a minha opinião prévia. Nada disto poderia ser possível se não fosse graças a esse meu companheiro livro que me acompanhou durante esta viagem pelo Renascimento, pelo reconhe- cimento da antiguidade. E a cada palavra há uma novidade. Há algo que não sabia. Pretendia igualmente resistir ao hábito de introduzir uma imagem de Gioconda. A meu ver o Renascimento não gira em volta de Leonardo da Vinci embora este tenha sido um grande protagonista deste movimento cultural. E assim termino, agradecendo a oportunidade de descobrir mais e protagonizar, também eu, um pedaço desta tão extensa cultura.