A palmeira representa as palmeiras e faz um manifesto em defesa da espécie, que vem sendo destruída e explorada sem ser replantada. Antigamente era o "cabelo da terra" e dava sombra à flora e fauna, mas hoje vê a terra calva. Apesar de ser útil de muitas formas, é tratada como inútil e sua existência está ameaçada.
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Poema Manifesto das Palmeiras
1. Manifesto das palmeiras
(Autor: Adilson Motta/2008)
Por entre os cocais e os matagais uma certa voraz de vento soprou!
Vi uma velha palmeira sombreando outras ali caídas,
Dando em seguida um forte balanço em seu palharal – e insatisfeita falou:
“Eu represento o manifesto das palmeiras!
Meu reclame é em defesa da minha espécie,
já que as consciências tão civilizadas não se levantam!
Por mais insignificante qu´eu pareça,
Por mais descaso que me teça,
Farei a apologia e defesa da minha espécie antes que desapareça.
Sou maltratada, arrancada, cortada, queimada, extrativada, comercializada
Sem, contudo ser replantada, nem zelada...
Já fui dantes o cabelo desta terra,
O adorno da floresta...
Cobria a flora e a fauna que sob minhas sombras,
Abrigava suaves e tranquilas...
Hoje, calva, alva terra vejo,
Que para meu grande pejo!
Não me vejo!
Sou útil! Inútil é como me tratam.
Há milhares de anos convivendo com os animais,
Estes nunca me ameaçaram a existência.
Porém, chega um mundo civilizado,
E é neste mundo que sinto ter chegado meu fim.
No princípio eu sentia harmonia,
Éramos uma verdadeira filarmônica – e vivíamos no vento a bailar.
Era um balé natural, os pássaros cantavam e eu com o vento dançava.
O tempo passou, a festa acabou.
Os pássaros não cantam mais, só o vento em mim a bailar, como a dança numa
música sem voz.
Cadê os cantores? São desertores? Ou os matadores o eliminaram?
Porém, quando olho ao meu redor, espessas e negras nuvens
Se formam no horizonte e questiono: meus dias estão contados, até quando
existiremos?
2. „‟'Apesar deste estado, já dei título e nome ao Estado;
E no mundo das letras, o nosso “Gonçalves”do Terra das Palmeiras,
O qual, em longe degredo, cantou a nostalgia de sua terra, onde eu era figura
central
De suas lembranças e suas saudades.
Sou útil em tudo!
Em mim nada perde,
No povão, que tanto me consomem e tanto me devastam,
Estou sendo o óleo em suas panelas,
Jamais me plantam,
Jamais me conservam,
Um grito de defesa contra a aspereza do meu devastar jamais se levanta,
E, no entanto... Me querem.
Viva sou útil, e morta também,
Pois sirvo de adubos em casas além,
Eu cubro as casinhas...
De mim fazem esteiras, portas, cofos e abanos também...
A espinha dorsal das minhas palhinhas fazem paredes e cercas além.
Pegam meus filhos, os jovens coquinhos e fazem carvão;
E lá estou presente, cozinhando na cozinha...
Minhas amêndoas, pobres embriões,
Produzem o óleo a bons feijões.
Na siderurgia, lá estou, ardendo em chamas pra dissolver e fundir.
Apesar de ser do reino vegetal, me sinto do reino animal,
Como a fênix, que „ao morrer retorna das cinzas;
Também broto com vigor das cinzas, dos tocos, das queimadas e das
devastadas.
Apesar de ser queimada, exportada, explorada, quebrada, transformada e
devastada,
Eu ainda acredito na vida...
No entanto, por nada ser feito, suspeito que nos primores e glória dos homens
esteja o meu fim.”