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A Teoria Crítica
Jürgen Habermas, um pensador
da razão pública
Aula 25 do curso de Teoria da Comunicação.
Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro,
Faculdade de Comunicação da UFPA,
Dezembro de 2009
Habermas é um filósofo meticuloso e
rigoroso, e por isso suas análises
apresentam uma diversidade e uma
profundidade conceituais que podem
parecer intransponíveis.
A formação
Estudou nas universidades de Zurich,
Göttingen e Bonn, defendendo uma tese sobre
Schelling aos 25 anos, em 1954. Em 1956
tornou-se assistente de Theodor Adorno na
Universidade de Frankfurt.
1962
Publica “Mudança Estrutural na esfera Pública”
1963
Publica “Teoria e Prática”
Essas obras demonstram um imenso esforço para superar as
limitações neokantianas presentes na sua formação. Também
assinalam um crescimento, conseqüente, de seu diálogo com
a hermenêutica e com o pragmatismo; porém, de forma
especial, com a obra de Hans-Georg Gadamer, o grande
herdeiro do pensamento de Martin Heidegger.
1961 a 1964
Professor de filosofia na universidade de
Heildeberg.
1965
Assume a cadeira de Filosofia Sociológica, antes
ocupada por Max Horkheimer, na universidade
de Frankfurt.
1968
Publica “Técnica e ciência como ideologia” e
“Conhecimento e interesse”.
1970
Publica “Sobre a lógica das ciências sociais”.
Essas obras resultam da postura crítica que
assumira, nos anos precedentes, em relação ao
tema do positivismo.
1973
Publica “A crise de legitimação no capitalismo tardio”
1976
Publica “Para a reconstrução do materialismo histórico”
São obras que representam uma aproximação à
lingüística e que, assim, resultam nas primeiras
elaborações e materializações da sua “teoria do agir
comunicativo”. Em paralelo, torna-se diretor do Instituo
Max Planck, de Munique.
1981
Publica “Teoria do agir comunicativo”, uma obra
que pode ser considerada como a primeira
sistematização do seu pensamento.
1984
Publica um adendo ao livro de 81: “Estudos
preliminares e complementos à teoria do agir
comunicativo”.
A importância da lingüística na obra de
Habermas decorre do fato de que esta ciência
evidencia uma lei universal: a busca pelo
entendimento recíproco por meio da linguagem.
A obra de Habermas se torna mais clara quando
a compreendemos como um esforço de
percepção da constituição intersubjetiva da
sociedade.
Os 4 elementos centrais do
pensamento de Habermas:
1. Percepção de que a Modernidade é
um projeto traído, mas não
concluído.
Ou seja, que há fenômenos patológicos na
modernidade – os mesmos denunciados por seus
antecessores na Teoria Crítica, ou seja, a perversão
moderna que é a instrumentalização da razão.
Habermas diz que é necessário fazer um esforço
dialético para resgatar o projeto abandonado da
verdadeira modernidade: o da razão como
instrumento do diálogo universal.
2. A superação da percepção de que a
racionalidade é um processo centrado no
sujeito.
Idéia com a qual supera a perspectiva monológica
da filosofia do sujeito e, em o fazendo, cria um
método de superação do ego cartesiano (a idéia do
sujeito centrado em si mesmo), entrave
fundamental das ciências sociais.
3. Produção de uma síntese entre o
objetivismo do materialismo
histórico e a hermenêutica do
“mundo da vida”.
Explicando: Havia uma contradição entre essas
duas esferas do pensamento, ou melhor, entre
essas duas metodologias que concatenavam, na sua
profundidade, posturas vistas como radicalmente
diferentes.
Habermas desenvolve um conceito de sociedade
que reúne as duas esferas e supera suas
divergências metodológicas. Ele as conjuga,
mostrando que os sistemas (o Estado, a
burocracia, o mercado, a esfera pública, a
empresa, etc) permeiam e são permeados pela
percepção vivenciada pelos indivíduos na sua
cotidianidade (o mundo da vida).
4. A proposta, ao mesmo tempo
teórica e política do agir
comunicativo.
Na qual se encontram duas coisas:
- A percepção de que a intersubjetividade
pressupõe um esforço mútuo de compreensão e
- A proposta de que a percepção disso possa
produzir uma dialética dialogal permanente, capaz
de viabilizar a superação da razão instrumental e o
resgate do projeto da modernidade.
Depois:
A partir dos anos 1980 Habermas retorma à
universidade de Frankfurt, dela se aposentando
em 1993.
Desde então, passou a dar cursos em várias
universidades européias e norte-americanas. Na
maturidade intelectual, aos 80 anos, produz
mais do que nunca e participa ativamente do
debate público europeu, emitindo sua opinião
sobre múltiplos assuntos, da bioética à leis
européias sobre a imigração.

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  • 1. A Teoria Crítica Jürgen Habermas, um pensador da razão pública Aula 25 do curso de Teoria da Comunicação. Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro, Faculdade de Comunicação da UFPA, Dezembro de 2009
  • 2.
  • 3. Habermas é um filósofo meticuloso e rigoroso, e por isso suas análises apresentam uma diversidade e uma profundidade conceituais que podem parecer intransponíveis.
  • 4. A formação Estudou nas universidades de Zurich, Göttingen e Bonn, defendendo uma tese sobre Schelling aos 25 anos, em 1954. Em 1956 tornou-se assistente de Theodor Adorno na Universidade de Frankfurt.
  • 5. 1962 Publica “Mudança Estrutural na esfera Pública” 1963 Publica “Teoria e Prática” Essas obras demonstram um imenso esforço para superar as limitações neokantianas presentes na sua formação. Também assinalam um crescimento, conseqüente, de seu diálogo com a hermenêutica e com o pragmatismo; porém, de forma especial, com a obra de Hans-Georg Gadamer, o grande herdeiro do pensamento de Martin Heidegger.
  • 6.
  • 7.
  • 8. 1961 a 1964 Professor de filosofia na universidade de Heildeberg. 1965 Assume a cadeira de Filosofia Sociológica, antes ocupada por Max Horkheimer, na universidade de Frankfurt.
  • 9. 1968 Publica “Técnica e ciência como ideologia” e “Conhecimento e interesse”. 1970 Publica “Sobre a lógica das ciências sociais”. Essas obras resultam da postura crítica que assumira, nos anos precedentes, em relação ao tema do positivismo.
  • 10. 1973 Publica “A crise de legitimação no capitalismo tardio” 1976 Publica “Para a reconstrução do materialismo histórico” São obras que representam uma aproximação à lingüística e que, assim, resultam nas primeiras elaborações e materializações da sua “teoria do agir comunicativo”. Em paralelo, torna-se diretor do Instituo Max Planck, de Munique.
  • 11. 1981 Publica “Teoria do agir comunicativo”, uma obra que pode ser considerada como a primeira sistematização do seu pensamento. 1984 Publica um adendo ao livro de 81: “Estudos preliminares e complementos à teoria do agir comunicativo”.
  • 12. A importância da lingüística na obra de Habermas decorre do fato de que esta ciência evidencia uma lei universal: a busca pelo entendimento recíproco por meio da linguagem. A obra de Habermas se torna mais clara quando a compreendemos como um esforço de percepção da constituição intersubjetiva da sociedade.
  • 13. Os 4 elementos centrais do pensamento de Habermas:
  • 14. 1. Percepção de que a Modernidade é um projeto traído, mas não concluído. Ou seja, que há fenômenos patológicos na modernidade – os mesmos denunciados por seus antecessores na Teoria Crítica, ou seja, a perversão moderna que é a instrumentalização da razão. Habermas diz que é necessário fazer um esforço dialético para resgatar o projeto abandonado da verdadeira modernidade: o da razão como instrumento do diálogo universal.
  • 15. 2. A superação da percepção de que a racionalidade é um processo centrado no sujeito. Idéia com a qual supera a perspectiva monológica da filosofia do sujeito e, em o fazendo, cria um método de superação do ego cartesiano (a idéia do sujeito centrado em si mesmo), entrave fundamental das ciências sociais.
  • 16. 3. Produção de uma síntese entre o objetivismo do materialismo histórico e a hermenêutica do “mundo da vida”. Explicando: Havia uma contradição entre essas duas esferas do pensamento, ou melhor, entre essas duas metodologias que concatenavam, na sua profundidade, posturas vistas como radicalmente diferentes.
  • 17. Habermas desenvolve um conceito de sociedade que reúne as duas esferas e supera suas divergências metodológicas. Ele as conjuga, mostrando que os sistemas (o Estado, a burocracia, o mercado, a esfera pública, a empresa, etc) permeiam e são permeados pela percepção vivenciada pelos indivíduos na sua cotidianidade (o mundo da vida).
  • 18. 4. A proposta, ao mesmo tempo teórica e política do agir comunicativo. Na qual se encontram duas coisas: - A percepção de que a intersubjetividade pressupõe um esforço mútuo de compreensão e - A proposta de que a percepção disso possa produzir uma dialética dialogal permanente, capaz de viabilizar a superação da razão instrumental e o resgate do projeto da modernidade.
  • 19. Depois: A partir dos anos 1980 Habermas retorma à universidade de Frankfurt, dela se aposentando em 1993. Desde então, passou a dar cursos em várias universidades européias e norte-americanas. Na maturidade intelectual, aos 80 anos, produz mais do que nunca e participa ativamente do debate público europeu, emitindo sua opinião sobre múltiplos assuntos, da bioética à leis européias sobre a imigração.