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OS INDÍGENAS NO SÉCULO XXI
Trabalho realizado por Luisa Jorge Tasima
Nº USP 7198647
Discurso de Marçal de Souza, índio Guarani,
ao papa João Paulo II, Manaus, 1980.
Santidade João Paulo II, eu sou representante da grande
tribo Guarani, quando nos primórdios, como o
descobrimento dessa grande Pátria, nós éramos uma grande
nação e hoje eu não poderia como representante dessa
nação, que hoje vive à margem da chamada civilização, Santo
Padre, não poderíamos nos calar pela sua visita nesse país.
Como representante, porque não dizer de todas as nações
indígenas que habitam esse país que está ficando tão
pequeno para nó e tão grande para aqueles que nos tomaram
esta Pátria.
Somos uma nação subjulgada pelo potentes, uma nação
espoliada, uma nação que está morrendo aos poucos sem
encontrar o caminho, porque aqueles que nos tomaram este
chão não tem dado condições para nossa sobrevivência,
Santo Padre.
Nossas terras são invadidas, nossas terras são tomadas, os
nossos territórios são diminuídos, não temos condições para
sobrevivência. Pesamos a Vossa Santidade a nossa miséria, a
nossa tristeza pela morte de nossos líderes assassinados
friamente por aqueles que tomam nosso chão, aquilo que para
nós representa a nossa própria vida e a nossa sobrevivência
nesse grande Brasil, chamado um país cristão.
Represento aqui o Centro-Sul desse grande país, a nação
Kaingang que recentemente perdeu seu líder; foi assassinado
Pankaré, no nordeste. Perdeu o seu líder, porque quis lutar pela
nossa nação. Queriam salvar a nossa nação, trazer redenção para
o nosso povo, mas não encontrou redenção, mas encontrou a
morte. Ainda resta uma esperança para nós com a sua visita,
Santo Padre, o Senhor poderá levar fora dos nossos territórios,
pois não temos condições, pois somos subjulgados pelos
potentes. A nossa voz é embargada por aqueles que se dizem
dirigentes desse grande país. Santo Padre, nós depositamos uma
grande esperança na sua visita em nosso país.
Leve nosso clamor, a nossa voz por outros territórios que não
os nossos, mas que o povo, uma população mais humana lute
por nós, porque nosso povo, a nossa nação indígena, está
desaparecendo no Brasil. Este é o país que nos foi tomado.
Dizem que o Brasil foi descoberto, o Brasil não foi descoberto
não, Santo Padre, o Brasil foi invadido e tomado dos indígenas
do Brasil. Esta é a verdadeira história. Nunca foi contada a
verdadeira história do nosso povo, Santo Padre. Eu deixo aqui o
meu apelo. Apelo de 200 mil indígenas que habitam, lutam pela
sua sobrevivência nesse país tão grande e tão pequeno para nós,
Santo Padre. Depositamos no Senhor, como representante da
Igreja Católica, chefe da humanidade, que leve a nossa voz para
que ainda a nossa esperança encontre repercussões no mundo
internacional. Esta é a mensagem que deixo para o Senhor.
- Discurso retirado da obra de Manuela Carneiro da Cunha, Os
Direitos dos Índios. Ensaios e Documentos, Editora Brasiliense, São
Paulo, 1987, p. 182 e 183.
Entendendo o texto
 Quem é Marçal de Souza?
 Líder da etnia guarani-nhandevá,
enfermeiro e intérprete da língua
Guarani.
 Defensor incansável dos povos
nativos da América do Sul e um
dos líderes precursores das lutas
dos guaranis pela recuperação e
pelo reconhecimento de seus
territórios.
 Desde o início dos anos 70
denunciou a expropriação de
terras indígenas, a exploração
ilegal de madeira, a escravização
de índios e o tráfico de meninas
índias.
 Em 1983, foi assassinado com 5
tiros no rancho de sua casa, na
aldeia Campestre. Os acusados do
crime acabam absolvidos em
julgamento realizado somente dez
anos depois, em 1993.
Entendendo o texto
 Com quem o autor
do texto está
falando?
 Qual a
problemática
apontada por
Marçal?
 Qual o objetivo do
discurso?
Questões para debate
 Quem é essa nação indígena?
 Lei nº 6.001 de 19 de Dezembro de
1973, o Estatuto do Índio:
Art. 3º - Para os efeitos de lei, ficam
estabelecidas as definições a seguir
discriminadas:
I – Índio ou Silvícola – É todo indivíduo de
origem e ascendência pré-colombiana
que se identifica e é identificado como
pertencente a um grupo étnico cujas
características culturais o distinguem da
sociedade nacional;
II – Comunidade Indígena ou Grupo Tribal – É
um conjunto de famílias ou comunidades
índias, quer vivendo em estado de
completo isolamento em relação aos
outros setores da comunhão nacional,
quer em contato intermitentes ou
permanentes, sem contudo estarem
integrados.
 Ser índio é apenas ser
diferente?
 Trata-se de um bloco
homogêneo?
 Todos compartilham
dos mesmos
problemas e
situações?
 Por que é utilizado o
termo “nação
indígena”?
 Há uma identidade
comum?Trata-se de
uma representação?
Questões para debate
Por que
Marçal
de
Souza
recorreu
à
máxima
santidad
e da
Igreja
Católica?
 Apelo para qualquer instância
em virtude da situação?
 Seria um modo de chamar a
atenção?
 Há uma crença dos Guarani na
religião católica?
 Entendem o papa como uma
figura influente no mundo não-
indígena?
Questões para debate
Não seria a primeira vez que indígenas estariam recorrendo a
instituições não – indígenas para reivindicar direitos:
“(...) todos os súditos do Império [Português] tinham o direito de fazer chegar ao
Monarca suas petições e este, assessorado por seu conselho, procurava atendê-
los. (...) Os índios souberam valer-se dessa possibilidade e várias vezes
recorreram à justiça, agindo de acordo com a cultura política do Antigo Regime.”
“ Os índios aldeados, mais especificamente suas lideranças, incorporaram
rapidamente essa prática. Aprenderam a valorizar acordos e negociações com
autoridades e com o próprio Rei, reivindicando mercês em troca de serviços
prestados. (...) Suas reivindicações demonstram a apropriação dos códigos
portugueses e da própria cultura política do Antigo Regime.”
- Trechos extraídos da obra de Maria Regina Celestino de Almeida, Os
índios na história do Brasil, São Paulo, Editora FGV, 2010, p. 87 [grifos meus].
Questões para debate
Por que
tanta
importânc
ia
destinada
às terras?
Não as
temos de
sobra no
Brasil?
 “Nossas terras são invadidas, nossas
terras são tomadas, os nossos territórios
são diminuídos, não temos condições para
sobrevivência.”
 Como os indígenas sobrevivem?
 O que eles consideram ser “nossas terras”?
 Qual a importância dessas terras para os
índios? E para aqueles que estariam
invadindo essas terras?
 Por que acontecem essas invasões?
 Como a justiça se posiciona?
 A terra possui um significado econômico,
apenas? Ou existe a ideia de identidade?
Questões para debate
Para muitas etnias indígenas, a importância das terras está além das
necessidades materiais:
“Os índios Guarani-mbya do litoral procuram fundar suas aldeias com base nos
preceitos místicos que fundamentam a sua relação com a Mata Atlântica. No plano
simbólico, consideram que, em alguns pontos do litoral, originou-se a construção do
mundo Myba pelo “criador”. Esses lugares, procurados ainda hoje pelos Mbya,
apresentam, através de elementos da flora e fauna típicos da Mata Atlântica, (...)
indícios que confirmam essa tradição.”
Há uma diferenciação também entre nossa percepção cultural de território
e a de alguns indígenas:
“(...) quando dizemos que os Guarani mantêm a configuração de um território
nacional, significa que, para eles, o conceito de território supera as limites físicos das
aldeias e das trilhas e está associado a uma noção de mundo que implica a
redefinição constante das relações multiétnicas, no compartilhar e no dividir espaços,
etc.”
- Trechos extraídos da obra de Maria Inês Ladeira, Espaço Geográfico Guarani-Mbya.
São Paulo, Edusp, 2008, p. 99 e 115 [grifos meus].
Questões para debate
O problema da justiça é que ela também é parcial, isto é, trata-se
de uma ordem que foi criada por uma sociedade e é imposta às
demais:
“ O direito indigenista não foi criado pelos índios, mas lhes foi imposto
pelos brasileiros não-índios e se define como um conjunto de regras pelas
quais a sociedade brasileira enquadrou os povos indígenas dentro do seu
sistema jurídico. (DALLARI, 1984, p.4)”
“ Embora o Direito seja necessário à ordenação das relações entre as
sociedades e os Estados, convém lembrar que, além de impor o próprio
Direito, o Estado não reconhece o conjunto das normas sociais, os
princípios étnicos e as regras de conduta das sociedades indígenas como
Direito. Por essa razão, não existe, no Brasil, nenhum pacto ou acordo
formal (...) entre sociedades ou comunidades indígenas e o Governo.”
- Trechos extraídos da obra de Maria Inês Ladeira, Espaço Geográfico
Guarani-Mbya. São Paulo, Edusp, 2008, p. 89 e 91 [grifos meus].
Questões para debate
“Puxada pelo agronegócio, Centro-
Oeste é a região que mais cresce
no Brasil”
 “O Centro-Oeste é o principal produtor de grãos do
Brasil. Na safra de 2012, que deve ser recorde, o IBGE
prevê que a região será responsável por 42,7% da
produção de cereais, leguminosas e oleaginosas de
todo o País - somente Mato Grosso produz 20
milhões de toneladas de soja, o que sozinho o torna
o quarto maior produtor do mundo.”
 “Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo
trimestre, divulgados na semana passada, mostraram
um crescimento maior da agricultura ante as demais
atividades econômicas.” 
 Fonte:
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,puxad
a-pelo-agronegocio-centro-oeste-e-a-regiao-que-
mais-cresce-no-brasil-,925096,0.htm
Questões para debate
Por que
Marçal de
Souza
afirma
que a
nação
indígena
está
acabando?
 As etnias indígenas estariam
sendo absorvidas pelas culturas
não-indígenas?
 Os índios não estariam
conseguindo sobreviver sem suas
terras?
 Não conseguem se manter
isolados?
 Não haveria mais interesse por
parte dos povos indígenas em
continuar com seu estilo de vida?
Questões para debate
1991 2000 2010
Total (1)
146 815 790 169 872 856 190 755 799
Não indígena 145 986 780 167 932 053 189 931 228
Indígena  294 131  734 127  817 963
Urbana (1)
110 996 829 137 925 238 160 925 792
Não indígena 110 494 732 136 620 255 160 605 299
Indígena  71 026  383 298  315 180
Rural (1)
35 818 961 31 947 618 29 830 007
Não indígena 35 492 049 31 311 798 29 325 929
Indígena  223 105  350 829  502 783
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1991/2010
(1)
 Inclusive sem declaração de cor ou raça.
Os povos indígenas estão acabando, realmente?
População residente, segundo a situação do domicílio e condição de
indígena – Brasil 1991/2010
Questões para debate
Os povos indígenas estariam acabando por estarem mesclando sua
cultura com a ocidental. Será?
“ (...) os movimentos indígenas da atualidade evidenciam que falar
português, participar de discussões políticas, reivindicar direitos através do
sistema judiciário, enfim, participar intensamente da sociedade dos brancos
e aprender seus mecanismos de funcionamento não significa deixar de ser
índio e sim a possibilidade de agir, sobreviver e defender seus direitos.”
É preciso criar uma oura percepção do conceito de cultura:
“A compreensão da cultura como um produto histórico, dinâmico e flexível,
formado pela articulação contínua entre tradições e novas experiências dos
homens que a vivenciam, permite perceber a mudança cultural não apenas
enquanto perda ou esvaziamento de uma cultura dita autêntica, mas em
termos de seu dinamismo (...).”
- Trechos extraídos da obra de Maria Regina Celestino de Almeida, Os índios
na história do Brasil, São Paulo, Editora FGV, 2010, p. 20 e 22 [grifos meus].
Apesar do discurso de Marçal de Souza ter sido falado
em 1980, o quadro das populações indígenas no Brasil
parece não ter se alterado muito desde então:
Caso da construção da
Usina de Belo Monte:
Caso da carta suicídio dos
Guarani – Kaiowá:
Pontos de reflexão
 O que é ser índio? Como
pensar os problemas das
diversas etnias indígenas
sem generalizá-las?
 Como mudar a percepção
quanto aos povos indígenas:
de inocentes e indefesos
para defensores de seus
próprios interesses?
 O que fazer quando
percepções diferentes em
função das culturas
distintas, como o caso da
terra, geram conflitos?
 Como associar sociedades
que tem valores tão
diferenciados? Isso é
possível?
 Por que a ideia de que os
povos indígenas estão
fadados à extinção ainda é
tão presente, apesar de
dados do IBGE sobre seu
crescimento?
Fontes
 Bibliografia:
 ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os Índios na História do Brasil, São Paulo, Editora FGV,
2010.
 CUNHA, Manuela Carneiro da. Os direitos dos Índios. Ensaios e documentos. São Paulo, Editora
Brasiliense, 1987.
 LADEIRA, Maria Inês. Espaço Geográfico Guarani-Mbya. Significado, Constituição e uso. São
Paulo, Edusp, 2008.
 Imagens:
 http://www.sindicatoruraldedourados.com.br/imprensa/puxada-pelo-agronegocio-centro-oeste-e-a-regiao-que-mais-cresce-no-brasil
 http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI6290521-EI8139,00-Indios+protestam+pela+demarcacao+de+suas+terras+no+Ceara.html
 http://extra.globo.com/noticias/brasil/protesto-de-indios-no-stf-748330.html
 http://colunadosardinhaecologia.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html
 http://terramagazine.terra.com.br/bobfernandes/blog/2012/10/23/863-indios-se-suicidaram-desde-86-e-quase-ninguem-viu-ou-soube/

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  • 1. OS INDÍGENAS NO SÉCULO XXI Trabalho realizado por Luisa Jorge Tasima Nº USP 7198647
  • 2. Discurso de Marçal de Souza, índio Guarani, ao papa João Paulo II, Manaus, 1980. Santidade João Paulo II, eu sou representante da grande tribo Guarani, quando nos primórdios, como o descobrimento dessa grande Pátria, nós éramos uma grande nação e hoje eu não poderia como representante dessa nação, que hoje vive à margem da chamada civilização, Santo Padre, não poderíamos nos calar pela sua visita nesse país. Como representante, porque não dizer de todas as nações indígenas que habitam esse país que está ficando tão pequeno para nó e tão grande para aqueles que nos tomaram esta Pátria. Somos uma nação subjulgada pelo potentes, uma nação espoliada, uma nação que está morrendo aos poucos sem encontrar o caminho, porque aqueles que nos tomaram este chão não tem dado condições para nossa sobrevivência, Santo Padre.
  • 3. Nossas terras são invadidas, nossas terras são tomadas, os nossos territórios são diminuídos, não temos condições para sobrevivência. Pesamos a Vossa Santidade a nossa miséria, a nossa tristeza pela morte de nossos líderes assassinados friamente por aqueles que tomam nosso chão, aquilo que para nós representa a nossa própria vida e a nossa sobrevivência nesse grande Brasil, chamado um país cristão. Represento aqui o Centro-Sul desse grande país, a nação Kaingang que recentemente perdeu seu líder; foi assassinado Pankaré, no nordeste. Perdeu o seu líder, porque quis lutar pela nossa nação. Queriam salvar a nossa nação, trazer redenção para o nosso povo, mas não encontrou redenção, mas encontrou a morte. Ainda resta uma esperança para nós com a sua visita, Santo Padre, o Senhor poderá levar fora dos nossos territórios, pois não temos condições, pois somos subjulgados pelos potentes. A nossa voz é embargada por aqueles que se dizem dirigentes desse grande país. Santo Padre, nós depositamos uma grande esperança na sua visita em nosso país.
  • 4. Leve nosso clamor, a nossa voz por outros territórios que não os nossos, mas que o povo, uma população mais humana lute por nós, porque nosso povo, a nossa nação indígena, está desaparecendo no Brasil. Este é o país que nos foi tomado. Dizem que o Brasil foi descoberto, o Brasil não foi descoberto não, Santo Padre, o Brasil foi invadido e tomado dos indígenas do Brasil. Esta é a verdadeira história. Nunca foi contada a verdadeira história do nosso povo, Santo Padre. Eu deixo aqui o meu apelo. Apelo de 200 mil indígenas que habitam, lutam pela sua sobrevivência nesse país tão grande e tão pequeno para nós, Santo Padre. Depositamos no Senhor, como representante da Igreja Católica, chefe da humanidade, que leve a nossa voz para que ainda a nossa esperança encontre repercussões no mundo internacional. Esta é a mensagem que deixo para o Senhor. - Discurso retirado da obra de Manuela Carneiro da Cunha, Os Direitos dos Índios. Ensaios e Documentos, Editora Brasiliense, São Paulo, 1987, p. 182 e 183.
  • 5. Entendendo o texto  Quem é Marçal de Souza?  Líder da etnia guarani-nhandevá, enfermeiro e intérprete da língua Guarani.  Defensor incansável dos povos nativos da América do Sul e um dos líderes precursores das lutas dos guaranis pela recuperação e pelo reconhecimento de seus territórios.  Desde o início dos anos 70 denunciou a expropriação de terras indígenas, a exploração ilegal de madeira, a escravização de índios e o tráfico de meninas índias.  Em 1983, foi assassinado com 5 tiros no rancho de sua casa, na aldeia Campestre. Os acusados do crime acabam absolvidos em julgamento realizado somente dez anos depois, em 1993.
  • 6. Entendendo o texto  Com quem o autor do texto está falando?  Qual a problemática apontada por Marçal?  Qual o objetivo do discurso?
  • 7. Questões para debate  Quem é essa nação indígena?  Lei nº 6.001 de 19 de Dezembro de 1973, o Estatuto do Índio: Art. 3º - Para os efeitos de lei, ficam estabelecidas as definições a seguir discriminadas: I – Índio ou Silvícola – É todo indivíduo de origem e ascendência pré-colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distinguem da sociedade nacional; II – Comunidade Indígena ou Grupo Tribal – É um conjunto de famílias ou comunidades índias, quer vivendo em estado de completo isolamento em relação aos outros setores da comunhão nacional, quer em contato intermitentes ou permanentes, sem contudo estarem integrados.  Ser índio é apenas ser diferente?  Trata-se de um bloco homogêneo?  Todos compartilham dos mesmos problemas e situações?  Por que é utilizado o termo “nação indígena”?  Há uma identidade comum?Trata-se de uma representação?
  • 8. Questões para debate Por que Marçal de Souza recorreu à máxima santidad e da Igreja Católica?  Apelo para qualquer instância em virtude da situação?  Seria um modo de chamar a atenção?  Há uma crença dos Guarani na religião católica?  Entendem o papa como uma figura influente no mundo não- indígena?
  • 9. Questões para debate Não seria a primeira vez que indígenas estariam recorrendo a instituições não – indígenas para reivindicar direitos: “(...) todos os súditos do Império [Português] tinham o direito de fazer chegar ao Monarca suas petições e este, assessorado por seu conselho, procurava atendê- los. (...) Os índios souberam valer-se dessa possibilidade e várias vezes recorreram à justiça, agindo de acordo com a cultura política do Antigo Regime.” “ Os índios aldeados, mais especificamente suas lideranças, incorporaram rapidamente essa prática. Aprenderam a valorizar acordos e negociações com autoridades e com o próprio Rei, reivindicando mercês em troca de serviços prestados. (...) Suas reivindicações demonstram a apropriação dos códigos portugueses e da própria cultura política do Antigo Regime.” - Trechos extraídos da obra de Maria Regina Celestino de Almeida, Os índios na história do Brasil, São Paulo, Editora FGV, 2010, p. 87 [grifos meus].
  • 10. Questões para debate Por que tanta importânc ia destinada às terras? Não as temos de sobra no Brasil?  “Nossas terras são invadidas, nossas terras são tomadas, os nossos territórios são diminuídos, não temos condições para sobrevivência.”  Como os indígenas sobrevivem?  O que eles consideram ser “nossas terras”?  Qual a importância dessas terras para os índios? E para aqueles que estariam invadindo essas terras?  Por que acontecem essas invasões?  Como a justiça se posiciona?  A terra possui um significado econômico, apenas? Ou existe a ideia de identidade?
  • 11. Questões para debate Para muitas etnias indígenas, a importância das terras está além das necessidades materiais: “Os índios Guarani-mbya do litoral procuram fundar suas aldeias com base nos preceitos místicos que fundamentam a sua relação com a Mata Atlântica. No plano simbólico, consideram que, em alguns pontos do litoral, originou-se a construção do mundo Myba pelo “criador”. Esses lugares, procurados ainda hoje pelos Mbya, apresentam, através de elementos da flora e fauna típicos da Mata Atlântica, (...) indícios que confirmam essa tradição.” Há uma diferenciação também entre nossa percepção cultural de território e a de alguns indígenas: “(...) quando dizemos que os Guarani mantêm a configuração de um território nacional, significa que, para eles, o conceito de território supera as limites físicos das aldeias e das trilhas e está associado a uma noção de mundo que implica a redefinição constante das relações multiétnicas, no compartilhar e no dividir espaços, etc.” - Trechos extraídos da obra de Maria Inês Ladeira, Espaço Geográfico Guarani-Mbya. São Paulo, Edusp, 2008, p. 99 e 115 [grifos meus].
  • 12. Questões para debate O problema da justiça é que ela também é parcial, isto é, trata-se de uma ordem que foi criada por uma sociedade e é imposta às demais: “ O direito indigenista não foi criado pelos índios, mas lhes foi imposto pelos brasileiros não-índios e se define como um conjunto de regras pelas quais a sociedade brasileira enquadrou os povos indígenas dentro do seu sistema jurídico. (DALLARI, 1984, p.4)” “ Embora o Direito seja necessário à ordenação das relações entre as sociedades e os Estados, convém lembrar que, além de impor o próprio Direito, o Estado não reconhece o conjunto das normas sociais, os princípios étnicos e as regras de conduta das sociedades indígenas como Direito. Por essa razão, não existe, no Brasil, nenhum pacto ou acordo formal (...) entre sociedades ou comunidades indígenas e o Governo.” - Trechos extraídos da obra de Maria Inês Ladeira, Espaço Geográfico Guarani-Mbya. São Paulo, Edusp, 2008, p. 89 e 91 [grifos meus].
  • 13. Questões para debate “Puxada pelo agronegócio, Centro- Oeste é a região que mais cresce no Brasil”  “O Centro-Oeste é o principal produtor de grãos do Brasil. Na safra de 2012, que deve ser recorde, o IBGE prevê que a região será responsável por 42,7% da produção de cereais, leguminosas e oleaginosas de todo o País - somente Mato Grosso produz 20 milhões de toneladas de soja, o que sozinho o torna o quarto maior produtor do mundo.”  “Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, divulgados na semana passada, mostraram um crescimento maior da agricultura ante as demais atividades econômicas.”   Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,puxad a-pelo-agronegocio-centro-oeste-e-a-regiao-que- mais-cresce-no-brasil-,925096,0.htm
  • 14. Questões para debate Por que Marçal de Souza afirma que a nação indígena está acabando?  As etnias indígenas estariam sendo absorvidas pelas culturas não-indígenas?  Os índios não estariam conseguindo sobreviver sem suas terras?  Não conseguem se manter isolados?  Não haveria mais interesse por parte dos povos indígenas em continuar com seu estilo de vida?
  • 15. Questões para debate 1991 2000 2010 Total (1) 146 815 790 169 872 856 190 755 799 Não indígena 145 986 780 167 932 053 189 931 228 Indígena  294 131  734 127  817 963 Urbana (1) 110 996 829 137 925 238 160 925 792 Não indígena 110 494 732 136 620 255 160 605 299 Indígena  71 026  383 298  315 180 Rural (1) 35 818 961 31 947 618 29 830 007 Não indígena 35 492 049 31 311 798 29 325 929 Indígena  223 105  350 829  502 783 Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1991/2010 (1)  Inclusive sem declaração de cor ou raça. Os povos indígenas estão acabando, realmente? População residente, segundo a situação do domicílio e condição de indígena – Brasil 1991/2010
  • 16. Questões para debate Os povos indígenas estariam acabando por estarem mesclando sua cultura com a ocidental. Será? “ (...) os movimentos indígenas da atualidade evidenciam que falar português, participar de discussões políticas, reivindicar direitos através do sistema judiciário, enfim, participar intensamente da sociedade dos brancos e aprender seus mecanismos de funcionamento não significa deixar de ser índio e sim a possibilidade de agir, sobreviver e defender seus direitos.” É preciso criar uma oura percepção do conceito de cultura: “A compreensão da cultura como um produto histórico, dinâmico e flexível, formado pela articulação contínua entre tradições e novas experiências dos homens que a vivenciam, permite perceber a mudança cultural não apenas enquanto perda ou esvaziamento de uma cultura dita autêntica, mas em termos de seu dinamismo (...).” - Trechos extraídos da obra de Maria Regina Celestino de Almeida, Os índios na história do Brasil, São Paulo, Editora FGV, 2010, p. 20 e 22 [grifos meus].
  • 17. Apesar do discurso de Marçal de Souza ter sido falado em 1980, o quadro das populações indígenas no Brasil parece não ter se alterado muito desde então: Caso da construção da Usina de Belo Monte: Caso da carta suicídio dos Guarani – Kaiowá:
  • 18. Pontos de reflexão  O que é ser índio? Como pensar os problemas das diversas etnias indígenas sem generalizá-las?  Como mudar a percepção quanto aos povos indígenas: de inocentes e indefesos para defensores de seus próprios interesses?  O que fazer quando percepções diferentes em função das culturas distintas, como o caso da terra, geram conflitos?  Como associar sociedades que tem valores tão diferenciados? Isso é possível?  Por que a ideia de que os povos indígenas estão fadados à extinção ainda é tão presente, apesar de dados do IBGE sobre seu crescimento?
  • 19. Fontes  Bibliografia:  ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os Índios na História do Brasil, São Paulo, Editora FGV, 2010.  CUNHA, Manuela Carneiro da. Os direitos dos Índios. Ensaios e documentos. São Paulo, Editora Brasiliense, 1987.  LADEIRA, Maria Inês. Espaço Geográfico Guarani-Mbya. Significado, Constituição e uso. São Paulo, Edusp, 2008.  Imagens:  http://www.sindicatoruraldedourados.com.br/imprensa/puxada-pelo-agronegocio-centro-oeste-e-a-regiao-que-mais-cresce-no-brasil  http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI6290521-EI8139,00-Indios+protestam+pela+demarcacao+de+suas+terras+no+Ceara.html  http://extra.globo.com/noticias/brasil/protesto-de-indios-no-stf-748330.html  http://colunadosardinhaecologia.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html  http://terramagazine.terra.com.br/bobfernandes/blog/2012/10/23/863-indios-se-suicidaram-desde-86-e-quase-ninguem-viu-ou-soube/