A formação do professor de educação física reflexivo
A Formação do Professor de Educação Física Reflexivo
1. Introdução
A escola tem se mostrado carente em vários aspectos no que se refere à
qualidade de ensino. Não temos como objetivo iniciar uma caça aos
causadores deste fato, como por exemplo, a má formação dos professores, os
paradigmas resistentes no ambiente escolar, a desvalorização de todos
envolvidos no processo de ensino aprendizagem, entre outros. Nem queremos,
de forma alguma, reduzir este fenômeno a um mero descompasso das práticas
educativas e as leis vigentes, nem mesmo sugerir um maior empenho dos
educadores e administradores escolares.
Este estudo se compromete em iniciar uma discussão em torno da
formação do “Educador Reflexivo”. Sabemos que a escola necessita de
educadores com esse perfil em todas as áreas de atuação, pois o que mais se
fala, dentro da escola, é promover a formação integral do indivíduo e, para isso,
é imprescindível a participação de todos.
O que nos move a aprofundarmos neste tema tão polêmico, devido a
sua complexidade e importância para a melhora do processo de ensino
aprendizagem, é a formação do professor de Educação Física Reflexivo. Neste
ponto, João Paulo Subirá Medina, ao escrever o prefácio da importante
produção do português Manoel Sérgio “Educação Física ou Ciência da
Motricidade Humana” diz que “a nossa combalida e desajeitada Educação
Física, está carente de reflexão”. O autor comenta ainda que quase sempre os
professores de Educação Física se dividem em garantir altas performances ou
em promover aulas que não passam de momentos recreativos.
Muito vem se questionando sobre a formação do professor, sendo que
muitas vezes isso se dá a partir da atuação do profissional no processo de
ensino/aprendizagem apresentada nas escolas. Entende-se que para
alcançarmos uma melhoria da qualidade na formação na educação básica, é
fundamental que os profissionais envolvidos neste processo passem por uma
formação com características critica e reflexiva, como sugerem Phillipe
Perrenoud, Antonio Nóvoa, Kenneth M. Zeichner, pois para LEITE (2003):
“...o exercício profissional dos professores coloca desafios que
exigem uma formação inicial que não se esgote na aquisição de
conhecimentos específicos de uma dada área disciplinar, nem
na prescrição de um conjunto de técnicas didácticas a pôr em
marcha em qualquer situação, mas sim, que se amplie a uma
capacitação para o exercício da autonomia e para a vivencia de
situações caracterizadas pela enorme complexidade que
atravessa qualquer acto social.”
A partir de uma visão panorâmica, notamos que as universidades não
tem se mostrado capaz de promover formação inicial com as características
citadas até então. Não temos a intenção de apontar um culpado para este
cenário, mas faz-se necessário, citarmos alguns fatores que podem dificultar o
alcance da formação reflexiva: sistema educacional engessado – leis e
diretrizes; profissionais despreparados – professores que não passaram por
processos que tinham como objetivo o desenvolvimento da autonomia,
criticidade reflexão; planejamento e currículos incoerentes à realidade escolar;
estratégias equivocadas no processo ensino/aprendizagem.
Mas o que se pergunta é: “será possível o professor de Educação Física
se tornar “Reflexivo” sem ter acesso à formação inicial (graduação), que se
comprometa com esse objetivo? Os profissionais aprendem sozinhos ou é
necessário passar por um processo de formação reflexiva?
Tendo como base problemas originados nos países do Reino Unido,
EUA, Canadá e Austrália, Zeichner (1993) propõe inovações, que devem ser
entendidas como desafios da formação docente, a saber: desenvolvimentos de
programas temáticos de formação de professores; desenvolvimento de um
currículo prático associado com os cursos específicos; conhecimento da escola
e das vivencias comunitárias; desenvolvimento de práticas centradas na
investigação e nas praticas reflexivas; melhorias na qualidade da supervisão da
pratica incluindo a supervisão com o apoio dos colegas; criação de escolas
clínicas e escolas de desenvolvimento profissional visando maior envolvimento,
comprometimento profissional; e, a idéia de prática como uma aprendizagem
cognitiva.
A partir disso, este estudo tem como objetivo criar experiências
envolvendo graduandos do curso de Licenciatura em Educação Física, a fim de
investigar qual a contribuição de um processo de construção coletiva e reflexiva
para a formação do “Professor de Educação Física Reflexivo”.
2. Justificativa
Esta pesquisa se faz relevante, na medida em que promoverá reflexão
sobre a importância da sistematização da formação do professor reflexivo, ao
passo que se estabeleça experiências de construção coletiva, supervisão da
prática, estímulos gradativos a liderança e práticas que contribuam para a
melhoria do convívio escolar, podendo aprofundar ainda mais os estudos neste
fenômeno.
3. Objetivo
Promover o debate sobre a formação inicial dos profissionais de
Educação Física.
Sistematizar a prática docente em relação à estruturação da práxis
reflexiva, no que se refere ao conhecimento na ação, reflexão na ação e a
reflexão sobre a ação e sobre a reflexão na ação. (citar autor)
Verificar o quanto essa sistematização interfere no processo de
formação do educador reflexivo.
4. Metodologia
Para realizar a pesquisa em educação, se faz necessário definirmos o
método a ser utilizado, pois segundo Chauí (1999), para se dar segurança ao
conhecimento, o pensamento cria regras e procedimentos que permitem ao
sujeito cognoscente aferir e controlar todos os passos que realiza no
conhecimento de algum objeto ou conjunto de objetos.
O tema em questão será abordado metodologicamente sob enfoque
qualitativo, pois de acordo com MINAYO esse enfoque:
“... trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço
mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos
que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.”
(MINAYO, 1994: p.21)
Quanto à filosofia, CHAUÍ (1999) cita os seguintes métodos filosóficos
que serão utilizados nesta pesquisa:
“Método descritivo – descreve as Estruturas internas ou
essências de cada campo de objetos do conhecimento e das
formas de ação humana.”
“Método interpretativo – busca as formas da linguagem e as
significações ou os sentidos dos objetos, dos fatos, das práticas
e das instituições, suas origens e transformações.
4.1 Sujeitos da pesquisa
O estudo ocorrerá com graduandos do 4º semestre do curso de
Licenciatura em Educação Física.
4.2 Campo
A pesquisa será realizada na Faculdade Mário Schenberg (FMS),
situada na cidade de Cotia – SP.
4.3 Instrumentos
Inicialmente construiremos alguns instrumentos para viabilizar a
sistematização da intervenção pedagógica no que se refere a:
- avaliação diagnóstica;
- planejamento de cronograma e planos de ação;
- avaliação do processo (relatórios);
- avaliação final (Portfólio);
4.4 Análise dos dados
Para análise dos dados serão criadas as seguintes categorias que
auxiliarão a verificação se o processo contribuiu para a formação do professor
reflexivo:
Convívio democrático – esta categoria valoriza as diferentes opiniões,
interesses, necessidades e ideias de todos agentes envolvidos nas atividades
por meio da articulação mediada de saberes para o alcance de objetivos em
comum. Defendemos a ideia de que todos os alunos carregam saberes,
conhecimentos que podem e devem ser valorizados e aproveitados para a
solução de conflitos do grupo. Todo ambiente de ensino que se baseie no
diálogo e nas relações pessoais, como método, deverá, em algum momento,
considerar o bem estar coletivo, em outras palavras, criar condições para que
todos tenham oportunidade de fala e escuta para a construção de um novo
saber.
Supervisão da prática – Quando se refere às funções da supervisão
da prática, fica claro que além de envolver conhecimentos relacionados a
desenvolvimento curricular, desenvolvimentos de materiais, recrutamento de
pessoal, formação continuada e avaliação de ensino, é necessário que se de
ênfase no que se refere à construção de grupos e liderança, pois para que a
supervisão se aproxime do ideal, é necessário potencializar as lideranças. E
por fim é necessário que as organizações e estruturas entrem em harmonia
com as diferentes praticas de supervisão, de maneira contextualizada. A partir
do que foi apresentado, acredita-se que uma das principais características do
campo da prática da supervisão é a utilização da avaliação. Esta pode ser
dirigida de maneira que se possa saber o estado inicial da comunidade escolar,
para então propor ações eficazes para crescimento coletivo. Defendemos a
aplicação continua da pré-observação, a observação do processo e a pós-
observação, evitando desta maneira, a exclusão do aluno e o aperfeiçoamento
dos educadores.
Liderança - considerar que ninguém nasce mais ou menos líder é
fundamental no processo de desenvolvimento de lideranças. Se todos os
graduandos forem igualmente estimulados a assumirem alternadamente papeis
de liderança em diferentes níveis, ou seja, gerenciar grupos, articular saberes,
decidir autonomamente e considerar os interesses e necessidades coletivas,
estaremos potencializando o surgimento de muitos novos lideres.
As categorias apresentadas acima, serão analisadas levando em
consideração as construções durante todo o processo, ou seja, desde a
avaliação diagnóstica até a construção do portfólio.
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