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HISTÓRIA E CULTURA DE MASSA
                                                                 Luciara Silveira de Aragão e Frota∗
                                                RESUMO
A multiplicidade das obras literárias e científicas e o excesso de informações da Cultura de Massa levam o
Historiador à necessidade de apurar a crítica como auxiliar na evolução de um processo fidedigno de
avaliação. Processo destinado a mensurar não só a sua produção e a que lhe chega às mãos, na crítica
imprescindível à preservação da dignidade de sua tarefa. Como leitor ou como estudioso, faz parte de seu
mister a análise do seu tempo e do seu momento, como forma de inserir-se adequadamente ao momento
histórico vivido, utilizando o ato crítico que convoca o mesmo uso dos processos mentais do ato de criação.
A Cultura de Massa, nossa contemporânea trás certa complexidade e certa perplexidade, mas, não nos
esqueçamos, a busca da verdade histórica parte do resgate da evidência como ponto básico e referencial.
Palavras-chave: História; Teoria da História; Cultura de Massa; Crítica Histórica.


        A crítica científica, literária e do pensamento, é indispensável aos estudiosos e
pensadores. Faz-se impossível disseminar idéias sem os meios de aferição da eficácia, ou
não, do seu curso. A Crítica é, pois, uma referência externa e indispensável que retira do
isolamento a produção individual e a grupal.
        No caso específico do historiador, ela pode ajudá-lo a não repetir erros anteriores,
renovando, reavaliando e aferindo, a cada dia, os resultados das suas pesquisas anteriores e
da produção de outrem, produzindo resultados em livros e artigos da especialidade. A
necessidade da crítica atinge, assim, tanto os escritores e produtores da história, como os
leitores de suas obras.
        Modernamente, a crítica vê-se às voltas com o resultado de enorme variedade de
obras, gostos e pessoas, que viram as páginas dos mais variados livros e revistas. O leitor
potencial da história poderá dispor de teses e outro material especializado, além de toda
uma produção advinda do interesse por temas históricos via Internet, e de outros meios da
Cultura de Massa.
        É o caso das obras de ficção, mui especialmente, àquelas vinculadas a temas
bíblicos e à História Antiga e Medieval. Deve-se estar atento às infindáveis fontes que ela
gera, para o mister do historiador, buscando-se separar imaginação e realidade. O acesso
mais fácil à impressão dos resultados tornou a imprensa um veículo pronto a transmitir
qualquer mensagem, até o livro, seu produto final, apto a qualquer conteúdo sob quaisquer
influências ideológicas.




∗
 Historiadora, Jornalista e Analista de Política Internacional; Integrante do Núcleo de Estudos de História
Social da Cidade da PUC SP (NEHSC – PUCSP).
2



       Entre o historiador e seu público – incluso o dos meios eletrônicos de comunicação
– a crítica é importante auxiliar na evolução de um processo fidedigno de avaliação para
aferir a distância percorrida entre a escolha do tema e a publicação, preservando a
dignidade da sua tarefa. Todos conhecemos as dificuldades da impressão de um livro.
       Problemas que vão do descaso das gráficas com os originais, a falta de bons
revisores, as demoras e os caprichos na pontualidade dos compromissos e, ainda, o fato das
publicações estarem sujeitas mais aos ventos mercadológicos, do que às sólidas e
imparciais apreciações de qualidade.
       As estimativas de venda, a comercialização, e principalmente a distribuição levam à
disputa do valor como notícia e da atenção do leitor. Decerto, o historiador não sofre as
mesmas pressões dos contistas e romancistas, sobre o ser ou parecer na sua vida privada
com os personagens de seus livros. Todavia, alguns historiadores e estudiosos das Ciências
Humanas e Sociais buscam respostas e elegem temas, na expectativa do caráter de
publicidade e estimativa impactante de sua obra.
       Temos, por exemplo, os livros anedóticos de História do Brasil desprestigiando
figuras da Monarquia, como Dom Pedro I e Dom João VI, com mais perspectivas de
divulgação em programas de TV, sejam de muita ou pouca audiência, do que aqueles que
tratam de temas mais sérios e relevantes.
       Alguns outros livros chegarão às bibliotecas, obterão prêmios, enquanto outros não
serão impressos, e ainda outros se limitarão aos balcões de saldos das editoras e livrarias.
Nos lançamentos, surgem os primeiros julgamentos e eles podem ser mais espontâneos e
importantes do que o conteúdo final da análise de alguns críticos, que fazem as críticas –
dependendo da importância do autor – para serem eles próprios noticiados.
       Atualmente, na maior parte das vezes, os procedimentos que norteiam as escolhas
na área de História pelos que as escrevem, e pelos que as lêem, são similares às escolhas e
gostos da Cultura de Massa.
       O próprio profissional da história, assim como outros profissionais fora de seus
campos de estudo, é um leitor a mais, um estudioso como tantos outros. No caso, alguns
historiadores dos anos 40 e 50 do século passado apresentaram um padrão crítico não
muito alto. Solicitados a escolherem os trabalhos mais significativos das três últimas
décadas antecedentes, não demonstraram capacidade “de reconhecer títulos que não
3



haviam recebido aclamação geral que se distingue da aclamação erudita” (CAUGHEY,
1952.
        Acrescente-se o fato da maioria dos periódicos onde os trabalhos se inserem serem
publicações dos associados e associações que se inclinam a favores sem garantia de
competência, rendidos no altar das “igrejinhas”.
        Vê-se, portanto, que o pior não é a falta de crítica aos livros ruins, mas aos bons
livros, que ficam sem o necessário reconhecimento. Não serão alguns desses aspectos, aqui
elencados, um dos sintomas da influência sobre os historiadores contemporâneos da
esmagadora cultura da massa?
        A cultura de massa compromete-se com o ritmo e a história em movimento.
Exaltando valores individuais como felicidade, amor, beleza e auto-realização. É
estimulada pela sociedade de consumo, independente da ideologia política oficial.
        O ritmo marcante da atualidade da cultura de massa vai desde a alimentação dos
novos deuses olimpianos, como membros de famílias reais, figuras do jet set internacional
estrelas, e astros de cinema e TV, todos mortais, como qualquer um de nós, as contradições
e inversões que estão na base dessa mitologia do indivíduo dos séculos XX e XXI.
        Dela estão ausentes, porém, as revelações e cosmogonia, ritos e cultos. Mais além,
são incapazes de suprir a destituição parcial dos valores, como família e pátria,
incapacitando-se de apreender o sentido do Estado, nação, religião, reais vivências
humanas. Diferentemente da história, a cultura de massa desconhece estruturas sociais e
participações coletivas, mas, vem se revelando incapaz de neutralizar os freios do Estado e
da religião.
        No seu labor, o historiador pode trabalhar o real e estimular o imaginário, quando,
por exemplo, tenta evocar aromas, gostos e sons na sua reconstituição da vida tribal
primitiva, ou, quando se inclina em estudos de interesses da história da vida privada, onde
se trabalham tantas emoções humanas, e é de tanto agrado da “História Nova”. A cultura
de massa, contudo, traça com o real e o imaginário uma união íntima, porque realista
embebida pelas “necessidades de padrão social, luxo e prestígio”. (MORIN, 1972, p.169).
        Ela é geradora de uma vasta riqueza de fontes para os historiadores e outros
estudiosos, principalmente para aqueles preocupados com a “história das mentalidades”.
Isto porque, a cultura de massa estimula a verificação de fenômenos contraditórios, tais
como, as conseqüências diversas dos processos de projeção, identificação e imitação. De
4



um lado, vale estudar a oferta de felicidade na terra, a adaptação, mesmo de fora aos
circuitos consumidores e dos padrões individualistas, do outro – os inadaptados,
revoltados, incorporados em gangs, crimes de aluguel e drogas.
       O desenvolvimento econômico social e as aspirações ao bem-estar e à felicidade
estabelecem, assim, uma dialética pobre e perturbadora, num grande desafio de ruptura de
embrulho de vasto conteúdo não só para os historiadores, mas para todos os estudiosos das
ciências humanas e sociais.
       Não se trata, no caso, de distinguir ciências com zonas de aplicação bem
demarcadas, pois seu objeto de estudo é o mesmo: são os homens, é o homem nascedouro
de todas as coisas singulares e plurais.
       Advinda do desenvolvimento técnico, industrial e capitalista, estas sociedades mais
evoluídas, as capitalistas, a cultura de massa – via de uma dialetização das relações entre
conteúdos da civilização burguesa e o próprio sistema técnico-industrial – suscitam a
indução de correntes dentro dos processos globais.
       Para falarmos disso, vale lembrar que a técnica individualiza, mas, assim como as
sociedades arcaicas estavam cercadas de fantasmas, espíritos, sósias onipresentes, também
nós civilizados, do século XXI, vivemos num universo em que a técnica ressuscita essa
magia antiga. É, portanto, a técnica que permite o reencontro dos gestos da humanidade
primitiva. (MORIN, 1972, p.169).
       A recuperação do passado perdido pela parte lúdica de via tecnizada, inerente ao
lazer moderno, caminha, assim, no mesmo sentido da cultura de massa. Dá-se, aí, uma
duplicidade de como viver e, mais ainda, como não viver no mundo tecnizado. Técnica e
contratécnica poder-se-ia dizer. (TASTA, 1961).
       Uma objetividade técnica correspondendo a uma afirmação do homem, sujeito à
história. A relação do mundo objetivo – homem subjetivo gerou uma contradição dialética
simultânea entre homem e objeto no mundo tecnizado donde a mescla objetivação e
subjetivação na vida pessoal aumentaram o individualismo.
       Decerto, seria impossível prever, na primeira metade do século XX, o
individualismo maciço, e muito pouco concebível que o mundo capitalista, voltado para o
mundo material, permitisse ao mesmo tempo, estimular a vida interior e subjetiva.
5



       Decompor a cultura de massa e os seus laços com o homem. Ao tema cabem muitas
versões e estudos que deverão ser retomados mais tarde, reavaliados, em seu conjunto para
que se lhes confira nova validade.
       No caso, essa generalização e transformação do homem, dá-se a partir dos padrões
de consumo. Enquanto o pequeno burguês foi tolhido pela religião e pela moral, o anseio
de satisfazer todos os desejos é dirigido pelo consumo. É dessa paixão pelo consumo o que
mais distancia o homem de hoje daquele da sociedade tradicional, quando a preocupação
pela subsistência levava aos esforços para assegurá-la para só em seguida, tratar-se do
processo de acumulação doméstica.
       O final do séc XX assistiu a substituição da tendência acumulativa pela tendência
de absorver, comprar. As vendas, os cartões-de-crédito, os vários tipos de seguro
desembocam no homem consumidor. As palavras de ordem são “lazer”, “qualidade de
vida”, direcionados pela “qualidade total” das empresas.
       Observe-se que o historiador presencia a valorização excessiva do presente. Além
disso, terá que analisar o fenômeno do homem distanciado cada vez mais do seu passado.
Dá-se como um abandono de antigos valores, normas e transcendências repudiadas pelo
advento de um futuro em ritmo acelerado. Ora, estará o homem a se privar do passado,
privando-se também do futuro?
       A carta das grandes perspectivas de progresso, a alteração de noções políticas,
como a soberania clássica em nome da governança global, parecem fazer recuar ante os
riscos do futuro. Curiosamente, o Estado rege as relações com o passado e o futuro,
enquanto o indivíduo justifica-se no resgate do presente.
       O historiador do nosso tempo vê-se às voltas com a visão do desmoronamento de
corpos intermediários como família e classes sociais, acrescido ao super-individualismo
que se aglomera no conceito de massa afastado das noções de poder e Estado num
desenraizamento com respeito ao passado. A vida em sociedade, os grupos sociais, a força
da História vê-se a frente com uma contribuição “nova” de cultura de massa: a participação
do presente no mundo. (MORIN, 1972, p.177).
       No mundo em transformação o homem aceita, mas não assume sua natureza
passageira, atomizando o tempo e o indivíduo. Mas, de forma positiva, prevalece nele o
sentimento que de que é preciso buscar a verdade e o sentido nas manifestações e
aparências. Na sua perspectiva interior, tenta uma inovação relativa ao espaço-tempo, um
6



tipo de participação no “sendo” e no dever do mundo, ao mesmo tempo em que ser percebe
o tênue aflorar de um sentimento uno do individualismo de cada um.
        Aderindo a vários e múltiplos processos evolutivos, a cultura de massa ratifica o
homem em permanente mutação. O seu desenvolvimento segue um curso conturbado e
frágil enquanto prega a mitologia da felicidade e a filosofia da segurança.
        Podem-se pensar as influencias dessas correntes referidas no conjunto da vida
humana como uma pergunta concreta que se pode propor para explicar mudanças na atual
economia e outra, a social e econômica, que concepção de História melhor responde a tais
indagações. Onde, então a chave para decifrá-la?
        Decerto, muitos historiadores se mostrarão relutantes, ou até se sentirão incapazes
no necessário exercício da faculdade crítica. Serão, sem dúvida, tentados a ascender ao
pico das inflamadas discussões e interpretações como meros atores. Preferindo a tanto, por
ser mais cômodo o dar-se ao emprego de toda a paciência, muitas diligências, e certo, e
inevitavelmente, a alguns equívocos e alguns erros.
        Uma vez que, cada um deles, tem direito ao seu ponto de vista e as questões
colocadas poderão ser vistas por múltiplas facetas, cabe à crítica colocar o tema trabalhado
na categoria correspondente. Parto da idéia de que “um ato de crítica convoca os mesmos
processos mentais de um ato de criação”, daí porque a dificuldade de enquadrar as
escolhas dos temas e a forma de trabalhá-los até o seu produto final. (HANDLIN, s.d.)
        Creio que a contemporaneidade com a cultura de massa traz complexidade e certa
perplexidade, mas, como nos ensina Handlin1,
                           os indivíduos e os acidentes só muito ligeiramente influenciam a evolução de
                           instituições tão poderosas como a família monogâmica, o pequeno fazendeiro, a
                           igreja congregacionista ou a república democrática; e os desenvolvimentos
                           ocorridos em períodos muito longos – a industrialização, a imigração, o
                           racionalismo e o romantismo – fazem desvios apenas ligeiros em resposta aos
                           acidentes específicos no trajeto. (HANDLIN, s.d., p.105).
        Assim, “a crítica histórica deve aclarar as escolhas, mas a verdade perseguida é
tão somente a correspondência de uma representação com o seu objeto”. (HANDLIN,
s..d., p.129).
        Diferentemente do filósofo, o historiador organiza as evidências de atividades nas
quais o elemento irracional tem ampla participação. Não se pode esquecer que em obras de


1
 Oscar Handlin, um dos mais respeitados dos historiadores dos EUA, notabilizou-se por sua contribuição na
Metodologia e Teoria da História. Infelizmente, seu livro magnífico, A Verdade na História, traduzido para o
Português, não alcançou a notoriedade merecida. (N. A.)
7



pesquisa histórica o produto resultará das evidências em si mesmas, e daquilo que o
escritor e o leitor tomem como possível, concluam e acreditem.
       A evidência é ultra-perecível por definição, qualquer vestígio dela acelera todos os
instrumentos de medida e aguça as possibilidades de sublimação das hipóteses.
       É preciso conferir nessa discussão, grande ou pequena, de restos de concretude,
silogismos e situações que nos chegam às mãos. Todas elas devem ter características
apropriadas, pois é o que chegou até nós.
       Em resumo, há que se escolher a evidência como guia e estímulo. Cada partícula
dela contém um pouco de quem a fez e a criou. A compreensão dela é a resposta que gera o
poder de empatia, que “comunica uma qualidade sinérgica à evidência, de modo que as
partes..., uma vez montadas com um todo florescem para a vida”. (HANDLIN, s.d., p.129).
       A   certeza   do   historiador   será   a   certeza   de   exaustão   da   evidência,
independentemente do termo escolhido. O trabalho do historiador, particularmente, é um
ato de crítica. Lendo, pensando, selecionando e escolhendo fontes, escrevendo, ele estará
sempre avaliando a evidência num processo contínuo e útil de produção historiográfica.


Referências Bibliográficas
CAUGHEY, John. Results of a Billion Recently Published. American History and
Biography. Mississippi Valley Historical Review, 1952.

HANDLIN, Oscar. A Verdade na História. São Paulo: Ed. Martins Fontes, S/D.

MORIN, Edgard. Cultura de Massa no Século XX. Rio de Janeiro: Ed. Brasileira O
espírito do Tempo, 1972.

TASTA, Axetos. Penseur de La Techniqué. Ed. de Mineut, 1961.

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A influência da crítica e da cultura de massa nos estudos históricos

  • 1. HISTÓRIA E CULTURA DE MASSA Luciara Silveira de Aragão e Frota∗ RESUMO A multiplicidade das obras literárias e científicas e o excesso de informações da Cultura de Massa levam o Historiador à necessidade de apurar a crítica como auxiliar na evolução de um processo fidedigno de avaliação. Processo destinado a mensurar não só a sua produção e a que lhe chega às mãos, na crítica imprescindível à preservação da dignidade de sua tarefa. Como leitor ou como estudioso, faz parte de seu mister a análise do seu tempo e do seu momento, como forma de inserir-se adequadamente ao momento histórico vivido, utilizando o ato crítico que convoca o mesmo uso dos processos mentais do ato de criação. A Cultura de Massa, nossa contemporânea trás certa complexidade e certa perplexidade, mas, não nos esqueçamos, a busca da verdade histórica parte do resgate da evidência como ponto básico e referencial. Palavras-chave: História; Teoria da História; Cultura de Massa; Crítica Histórica. A crítica científica, literária e do pensamento, é indispensável aos estudiosos e pensadores. Faz-se impossível disseminar idéias sem os meios de aferição da eficácia, ou não, do seu curso. A Crítica é, pois, uma referência externa e indispensável que retira do isolamento a produção individual e a grupal. No caso específico do historiador, ela pode ajudá-lo a não repetir erros anteriores, renovando, reavaliando e aferindo, a cada dia, os resultados das suas pesquisas anteriores e da produção de outrem, produzindo resultados em livros e artigos da especialidade. A necessidade da crítica atinge, assim, tanto os escritores e produtores da história, como os leitores de suas obras. Modernamente, a crítica vê-se às voltas com o resultado de enorme variedade de obras, gostos e pessoas, que viram as páginas dos mais variados livros e revistas. O leitor potencial da história poderá dispor de teses e outro material especializado, além de toda uma produção advinda do interesse por temas históricos via Internet, e de outros meios da Cultura de Massa. É o caso das obras de ficção, mui especialmente, àquelas vinculadas a temas bíblicos e à História Antiga e Medieval. Deve-se estar atento às infindáveis fontes que ela gera, para o mister do historiador, buscando-se separar imaginação e realidade. O acesso mais fácil à impressão dos resultados tornou a imprensa um veículo pronto a transmitir qualquer mensagem, até o livro, seu produto final, apto a qualquer conteúdo sob quaisquer influências ideológicas. ∗ Historiadora, Jornalista e Analista de Política Internacional; Integrante do Núcleo de Estudos de História Social da Cidade da PUC SP (NEHSC – PUCSP).
  • 2. 2 Entre o historiador e seu público – incluso o dos meios eletrônicos de comunicação – a crítica é importante auxiliar na evolução de um processo fidedigno de avaliação para aferir a distância percorrida entre a escolha do tema e a publicação, preservando a dignidade da sua tarefa. Todos conhecemos as dificuldades da impressão de um livro. Problemas que vão do descaso das gráficas com os originais, a falta de bons revisores, as demoras e os caprichos na pontualidade dos compromissos e, ainda, o fato das publicações estarem sujeitas mais aos ventos mercadológicos, do que às sólidas e imparciais apreciações de qualidade. As estimativas de venda, a comercialização, e principalmente a distribuição levam à disputa do valor como notícia e da atenção do leitor. Decerto, o historiador não sofre as mesmas pressões dos contistas e romancistas, sobre o ser ou parecer na sua vida privada com os personagens de seus livros. Todavia, alguns historiadores e estudiosos das Ciências Humanas e Sociais buscam respostas e elegem temas, na expectativa do caráter de publicidade e estimativa impactante de sua obra. Temos, por exemplo, os livros anedóticos de História do Brasil desprestigiando figuras da Monarquia, como Dom Pedro I e Dom João VI, com mais perspectivas de divulgação em programas de TV, sejam de muita ou pouca audiência, do que aqueles que tratam de temas mais sérios e relevantes. Alguns outros livros chegarão às bibliotecas, obterão prêmios, enquanto outros não serão impressos, e ainda outros se limitarão aos balcões de saldos das editoras e livrarias. Nos lançamentos, surgem os primeiros julgamentos e eles podem ser mais espontâneos e importantes do que o conteúdo final da análise de alguns críticos, que fazem as críticas – dependendo da importância do autor – para serem eles próprios noticiados. Atualmente, na maior parte das vezes, os procedimentos que norteiam as escolhas na área de História pelos que as escrevem, e pelos que as lêem, são similares às escolhas e gostos da Cultura de Massa. O próprio profissional da história, assim como outros profissionais fora de seus campos de estudo, é um leitor a mais, um estudioso como tantos outros. No caso, alguns historiadores dos anos 40 e 50 do século passado apresentaram um padrão crítico não muito alto. Solicitados a escolherem os trabalhos mais significativos das três últimas décadas antecedentes, não demonstraram capacidade “de reconhecer títulos que não
  • 3. 3 haviam recebido aclamação geral que se distingue da aclamação erudita” (CAUGHEY, 1952. Acrescente-se o fato da maioria dos periódicos onde os trabalhos se inserem serem publicações dos associados e associações que se inclinam a favores sem garantia de competência, rendidos no altar das “igrejinhas”. Vê-se, portanto, que o pior não é a falta de crítica aos livros ruins, mas aos bons livros, que ficam sem o necessário reconhecimento. Não serão alguns desses aspectos, aqui elencados, um dos sintomas da influência sobre os historiadores contemporâneos da esmagadora cultura da massa? A cultura de massa compromete-se com o ritmo e a história em movimento. Exaltando valores individuais como felicidade, amor, beleza e auto-realização. É estimulada pela sociedade de consumo, independente da ideologia política oficial. O ritmo marcante da atualidade da cultura de massa vai desde a alimentação dos novos deuses olimpianos, como membros de famílias reais, figuras do jet set internacional estrelas, e astros de cinema e TV, todos mortais, como qualquer um de nós, as contradições e inversões que estão na base dessa mitologia do indivíduo dos séculos XX e XXI. Dela estão ausentes, porém, as revelações e cosmogonia, ritos e cultos. Mais além, são incapazes de suprir a destituição parcial dos valores, como família e pátria, incapacitando-se de apreender o sentido do Estado, nação, religião, reais vivências humanas. Diferentemente da história, a cultura de massa desconhece estruturas sociais e participações coletivas, mas, vem se revelando incapaz de neutralizar os freios do Estado e da religião. No seu labor, o historiador pode trabalhar o real e estimular o imaginário, quando, por exemplo, tenta evocar aromas, gostos e sons na sua reconstituição da vida tribal primitiva, ou, quando se inclina em estudos de interesses da história da vida privada, onde se trabalham tantas emoções humanas, e é de tanto agrado da “História Nova”. A cultura de massa, contudo, traça com o real e o imaginário uma união íntima, porque realista embebida pelas “necessidades de padrão social, luxo e prestígio”. (MORIN, 1972, p.169). Ela é geradora de uma vasta riqueza de fontes para os historiadores e outros estudiosos, principalmente para aqueles preocupados com a “história das mentalidades”. Isto porque, a cultura de massa estimula a verificação de fenômenos contraditórios, tais como, as conseqüências diversas dos processos de projeção, identificação e imitação. De
  • 4. 4 um lado, vale estudar a oferta de felicidade na terra, a adaptação, mesmo de fora aos circuitos consumidores e dos padrões individualistas, do outro – os inadaptados, revoltados, incorporados em gangs, crimes de aluguel e drogas. O desenvolvimento econômico social e as aspirações ao bem-estar e à felicidade estabelecem, assim, uma dialética pobre e perturbadora, num grande desafio de ruptura de embrulho de vasto conteúdo não só para os historiadores, mas para todos os estudiosos das ciências humanas e sociais. Não se trata, no caso, de distinguir ciências com zonas de aplicação bem demarcadas, pois seu objeto de estudo é o mesmo: são os homens, é o homem nascedouro de todas as coisas singulares e plurais. Advinda do desenvolvimento técnico, industrial e capitalista, estas sociedades mais evoluídas, as capitalistas, a cultura de massa – via de uma dialetização das relações entre conteúdos da civilização burguesa e o próprio sistema técnico-industrial – suscitam a indução de correntes dentro dos processos globais. Para falarmos disso, vale lembrar que a técnica individualiza, mas, assim como as sociedades arcaicas estavam cercadas de fantasmas, espíritos, sósias onipresentes, também nós civilizados, do século XXI, vivemos num universo em que a técnica ressuscita essa magia antiga. É, portanto, a técnica que permite o reencontro dos gestos da humanidade primitiva. (MORIN, 1972, p.169). A recuperação do passado perdido pela parte lúdica de via tecnizada, inerente ao lazer moderno, caminha, assim, no mesmo sentido da cultura de massa. Dá-se, aí, uma duplicidade de como viver e, mais ainda, como não viver no mundo tecnizado. Técnica e contratécnica poder-se-ia dizer. (TASTA, 1961). Uma objetividade técnica correspondendo a uma afirmação do homem, sujeito à história. A relação do mundo objetivo – homem subjetivo gerou uma contradição dialética simultânea entre homem e objeto no mundo tecnizado donde a mescla objetivação e subjetivação na vida pessoal aumentaram o individualismo. Decerto, seria impossível prever, na primeira metade do século XX, o individualismo maciço, e muito pouco concebível que o mundo capitalista, voltado para o mundo material, permitisse ao mesmo tempo, estimular a vida interior e subjetiva.
  • 5. 5 Decompor a cultura de massa e os seus laços com o homem. Ao tema cabem muitas versões e estudos que deverão ser retomados mais tarde, reavaliados, em seu conjunto para que se lhes confira nova validade. No caso, essa generalização e transformação do homem, dá-se a partir dos padrões de consumo. Enquanto o pequeno burguês foi tolhido pela religião e pela moral, o anseio de satisfazer todos os desejos é dirigido pelo consumo. É dessa paixão pelo consumo o que mais distancia o homem de hoje daquele da sociedade tradicional, quando a preocupação pela subsistência levava aos esforços para assegurá-la para só em seguida, tratar-se do processo de acumulação doméstica. O final do séc XX assistiu a substituição da tendência acumulativa pela tendência de absorver, comprar. As vendas, os cartões-de-crédito, os vários tipos de seguro desembocam no homem consumidor. As palavras de ordem são “lazer”, “qualidade de vida”, direcionados pela “qualidade total” das empresas. Observe-se que o historiador presencia a valorização excessiva do presente. Além disso, terá que analisar o fenômeno do homem distanciado cada vez mais do seu passado. Dá-se como um abandono de antigos valores, normas e transcendências repudiadas pelo advento de um futuro em ritmo acelerado. Ora, estará o homem a se privar do passado, privando-se também do futuro? A carta das grandes perspectivas de progresso, a alteração de noções políticas, como a soberania clássica em nome da governança global, parecem fazer recuar ante os riscos do futuro. Curiosamente, o Estado rege as relações com o passado e o futuro, enquanto o indivíduo justifica-se no resgate do presente. O historiador do nosso tempo vê-se às voltas com a visão do desmoronamento de corpos intermediários como família e classes sociais, acrescido ao super-individualismo que se aglomera no conceito de massa afastado das noções de poder e Estado num desenraizamento com respeito ao passado. A vida em sociedade, os grupos sociais, a força da História vê-se a frente com uma contribuição “nova” de cultura de massa: a participação do presente no mundo. (MORIN, 1972, p.177). No mundo em transformação o homem aceita, mas não assume sua natureza passageira, atomizando o tempo e o indivíduo. Mas, de forma positiva, prevalece nele o sentimento que de que é preciso buscar a verdade e o sentido nas manifestações e aparências. Na sua perspectiva interior, tenta uma inovação relativa ao espaço-tempo, um
  • 6. 6 tipo de participação no “sendo” e no dever do mundo, ao mesmo tempo em que ser percebe o tênue aflorar de um sentimento uno do individualismo de cada um. Aderindo a vários e múltiplos processos evolutivos, a cultura de massa ratifica o homem em permanente mutação. O seu desenvolvimento segue um curso conturbado e frágil enquanto prega a mitologia da felicidade e a filosofia da segurança. Podem-se pensar as influencias dessas correntes referidas no conjunto da vida humana como uma pergunta concreta que se pode propor para explicar mudanças na atual economia e outra, a social e econômica, que concepção de História melhor responde a tais indagações. Onde, então a chave para decifrá-la? Decerto, muitos historiadores se mostrarão relutantes, ou até se sentirão incapazes no necessário exercício da faculdade crítica. Serão, sem dúvida, tentados a ascender ao pico das inflamadas discussões e interpretações como meros atores. Preferindo a tanto, por ser mais cômodo o dar-se ao emprego de toda a paciência, muitas diligências, e certo, e inevitavelmente, a alguns equívocos e alguns erros. Uma vez que, cada um deles, tem direito ao seu ponto de vista e as questões colocadas poderão ser vistas por múltiplas facetas, cabe à crítica colocar o tema trabalhado na categoria correspondente. Parto da idéia de que “um ato de crítica convoca os mesmos processos mentais de um ato de criação”, daí porque a dificuldade de enquadrar as escolhas dos temas e a forma de trabalhá-los até o seu produto final. (HANDLIN, s.d.) Creio que a contemporaneidade com a cultura de massa traz complexidade e certa perplexidade, mas, como nos ensina Handlin1, os indivíduos e os acidentes só muito ligeiramente influenciam a evolução de instituições tão poderosas como a família monogâmica, o pequeno fazendeiro, a igreja congregacionista ou a república democrática; e os desenvolvimentos ocorridos em períodos muito longos – a industrialização, a imigração, o racionalismo e o romantismo – fazem desvios apenas ligeiros em resposta aos acidentes específicos no trajeto. (HANDLIN, s.d., p.105). Assim, “a crítica histórica deve aclarar as escolhas, mas a verdade perseguida é tão somente a correspondência de uma representação com o seu objeto”. (HANDLIN, s..d., p.129). Diferentemente do filósofo, o historiador organiza as evidências de atividades nas quais o elemento irracional tem ampla participação. Não se pode esquecer que em obras de 1 Oscar Handlin, um dos mais respeitados dos historiadores dos EUA, notabilizou-se por sua contribuição na Metodologia e Teoria da História. Infelizmente, seu livro magnífico, A Verdade na História, traduzido para o Português, não alcançou a notoriedade merecida. (N. A.)
  • 7. 7 pesquisa histórica o produto resultará das evidências em si mesmas, e daquilo que o escritor e o leitor tomem como possível, concluam e acreditem. A evidência é ultra-perecível por definição, qualquer vestígio dela acelera todos os instrumentos de medida e aguça as possibilidades de sublimação das hipóteses. É preciso conferir nessa discussão, grande ou pequena, de restos de concretude, silogismos e situações que nos chegam às mãos. Todas elas devem ter características apropriadas, pois é o que chegou até nós. Em resumo, há que se escolher a evidência como guia e estímulo. Cada partícula dela contém um pouco de quem a fez e a criou. A compreensão dela é a resposta que gera o poder de empatia, que “comunica uma qualidade sinérgica à evidência, de modo que as partes..., uma vez montadas com um todo florescem para a vida”. (HANDLIN, s.d., p.129). A certeza do historiador será a certeza de exaustão da evidência, independentemente do termo escolhido. O trabalho do historiador, particularmente, é um ato de crítica. Lendo, pensando, selecionando e escolhendo fontes, escrevendo, ele estará sempre avaliando a evidência num processo contínuo e útil de produção historiográfica. Referências Bibliográficas CAUGHEY, John. Results of a Billion Recently Published. American History and Biography. Mississippi Valley Historical Review, 1952. HANDLIN, Oscar. A Verdade na História. São Paulo: Ed. Martins Fontes, S/D. MORIN, Edgard. Cultura de Massa no Século XX. Rio de Janeiro: Ed. Brasileira O espírito do Tempo, 1972. TASTA, Axetos. Penseur de La Techniqué. Ed. de Mineut, 1961.