A cárie radicular é comum em idosos, especialmente os institucionalizados. Uma dieta rica em açúcares aumenta o risco de cárie radicular. O tratamento preventivo através de orientação e fluorterapia é a melhor abordagem, e métodos conservadores podem ser usados para lesões existentes. Ajustes oclusais são necessários para evitar falha no tratamento restaurador.
2. CÁRIES RADICULARES
O ser humano vem adquirindo, uma longevidade cada vez
maior: menores índices de mortalidade e de fecundidade
contribuem para que a porcentagem de idosos cresça mais
velozmente do que qualquer outra faixa etária.
Na Odontologia, a evolução das medidas curativas a também
das preventivas, ofereceram um maior número de idosos com
maior quantidade de dentes naturais e, consequentemente, a
um maior número de dentes passíveis de ter carie, a
manutenção de elementos da dentição natural na boca nesta
idade pode ser um indício de uma boa qualidade de saúde oral
através da vida; no entanto, este bom comportamento de
higiene pode ser alterado, por exemplo, devido a um declínio da
cognição, da habilidade funcional e outros efeitos da idade
relacionados com enfermidades.
3. É necessário saber, das condições da saúde geral e
do aspecto fisiológico de um paciente idoso, visto
que podem interferir no planejamento e na terapia
odontológica dos idosos, cabendo ao cirurgião-
dentista adotar uma terapêutica da cárie de raiz
baseada na interdisciplinaridade com outras áreas de
saúde, no sentido de otimizar o prognóstico e
conferir uma maior qualidade de vida à terceira
idade.
O idoso institucionalizado, em sua maioria, possui
altos índices de placa e doenças dentais associadas,
e que medidas preventivas geralmente não são
realizadas satisfatoriamente pelos cuidadores,
facilitando a instalação da cárie de raiz.
4. Dieta
A predileção do idoso por alimentos fáceis de
mastigar e sem valor nutricional é grande
responsável pelo desenvolvimento das lesões de
cárie radicular.
O consumo de carboidratos complexos e fibras é
preciso nesta fase da vida, em detrimento do uso
do açúcar refinado; além disso, à medida que a
idade avança, nosso organismo fica menos
tolerante à glicose. No que se refere à saúde bucal
e à prevenção da cárie, devemos lembrar que
muitos idosos têm habilidade manual diminuída,
devido a problemas vários, como artrose e doença
de Parkinson.
5. ABFRAÇÃO
A presença de sobrecarga oclusal
sobre um dente pode induzir à
perda paulatina de esmalte, cimento
e dentina por enfraquecimento e
desestruturação desses tecidos,
formando a abfração (lesão cervical
não cariosa).
A perda dos tecidos duros por etiologia não-
cariosa, mesmo não sendo a razão direta da lesão
de cárie radicular, aumentam a proximidade da
polpa com o meio bucal; e intercorrências que
dificultem a higienização local, como
hospitalizações, comuns na idade avançada, podem
tornar eventuais lesões de cárie radicular ainda mais
prejudiciais aos dentes
6. Hiposalivação
As funções lubrificante, digestiva e
protetora da saliva são primordiais para a
manutenção da saúde bucal. No que
concerne à cárie de raiz, seu poder
remineralizador dos tecidos duros e
diluidor de açúcares além do efeito
tampão, são fundamentais componentes
para a manutenção da saúde dos dentes
e da mucosa
7. Tratamento
As lesões de cárie radicular são usualmente amplas, porém
não profundas, e com a tendência de contornar a raiz,
dificultando a terapêutica restauradora. Portanto, a
melhor terapêutica está baseada nas medidas preventivas.
Devemos levar em conta a dificuldade do
tratamento de cáries radiculares devido à
localização das lesões e ao número de
superfícies envolvidas; o ideal é preveni-
las, mas quando da ocorrência de franca
cavitação, o tratamento curativo torna-se
necessário.
8. CLASSIFICAÇÃO DAS CÁRIES RADICULARES
Grau 1 (lesões incipientes)- tratadas com polimento e aplicação
de flúor
Grau 2 (lesões rasas, não cavitadas) igualmente tratadas ou
sofreriam odontoplastia (recontorno anatômico) e polimento
Grau 3 (cavitadas). Restauradas com cimento de ionômero de
vidro por suas propriedades anticariogênica e antibacteriana, a
adesão ao dente, à coloração semelhante à do dente e boa
estabilidade dimensional, devendo ser feito um preparo cavitário
em forma de caixa quando do uso deste material, se possível.
O IV é um material excelente, que causa mínima recorrência de
lesões, e cogita a possibilidade dos fotopolimerizáveis permitirem
um melhor manuseio e deter melhores propriedades, incluindo
resistência à dissolução.
Quanto à resina composta, esta não tem sido recomendada para o
tratamento das cáries radiculares;
9. Obviamente, a higiene oral apropriada
continua sendo de alta eficácia na prevenção
de cáries também na terceira idade. Como
frequentemente o paciente geriátrico
apresenta alteração nos padrões de higiene,
redução de habilidade manual, diminuição da
capacidade cognitiva, desinteresse em cuidar
da própria saúde por depressão, dentre
outros fatores, que dificultam sobremaneira a
higiene adequada e consequentemente a
saúde oral, a intervenção interdisciplinar do
cirurgião-dentista, cuidadores, e outros
profissionais de saúde é imperiosa no sentido
de evitar as cáries radiculares.
10. RESUMO
A cárie radicular é prevalente nos idosos, particularmente
institucionalizados e hospitalizados;
A dieta baseada em carbohidratos, além de promover nutrição
inadequada, é fator de risco para o aparecimento da cárie radicular;
O tratamento preventivo, através de orientações educativas aos
cuidadores e/ou familiares e ao idoso independente, numa abordagem
interdisciplinar, é o meio mais adequado de terapêutica;
No caso das lesões cariosas já instaladas, podemos ainda optar por
métodos conservadores, como fluorterapia
(bochechos, géis, dentifrícios, balas ou pastilhas que liberem flúor) ou
odontoplastia;
A não observação de desarmonia de oclusão e de abfração
presentes, mais a não eliminação do fator causal, isto é o ajuste
oclusal, pode induzir ao insucesso do tratamento restaurador, podendo
provocar deslocamento da restauração, independente do material
escolhido e da retenção conferida ao preparo cavitário