Trabalho de Análise da Conversação - Teorias do Texto
Análise do conto Um Apólogo
1. Ana Carolina Polo da Cruz Felício
Sônia Sara de Oliveira Gomes
ANÁLISE DO CONTO
“UM APÓLOGO”, DE MACHADO DE ASSIS
RECURSOS EXPRESSIVOS E CONTEÚDO TEMÁTICO
Universidade Paulista – UNIP
2. Ana Carolina Polo da Cruz Felício
Sônia Sara de Oliveira Gomes
ANÁLISE DO CONTO
“UM APÓLOGO”, DE MACHADO DE ASSIS
RECURSOS EXPRESSIVOS E CONTEÚDO TEMÁTICO
Trabalho de atividade acadêmica com o intuito de elaborar e desenvolver
uma análise do conto “Um Apólogo”, escrito por Machado de Assis,
bem como observar os recursos expressivos e o conteúdo temático
no qual a obra foi composta. Orientadora: Professora Sueli B. Salles
Disciplina: Teoria Literária Curso: Letras Turma: LL2A02
3. São Paulo – 2013
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO...............................................................................................................................1
CONTO “UM APÓLOGO”, DE MACHADO DE ASSIS..................................................................2
CONTEXTO DE OBRA......................................................................................................................4
FOCO NARRATIVO........................................................................................................................5
PERSONAGENS...............................................................................................................................6
ENREDO............................................................................................................................................7
TEMPO.............................................................................................................................................10
ESPAÇO...........................................................................................................................................11
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................12
BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................................13
4. APRESENTAÇÃO
Este trabalho tem como intuito analisar o conto “Um Apólogo” de Machado de Assis que conta a
história da agulha e da linha e que ambas disputam pra ver quem é a melhor, tendo também uma
individualidade, pois nenhuma admite que precisa da outra.
Esse conto bastante popular acaba sendo uma comparação com a vida real, com o objetivo de
mostrar como o ser humano é individualista, competitivo, soberbo e racional.
A partir de estudos de narração ficcional, estabelecemos tópicos para a análise literária do conto,
observando o contexto, o foco narrativo, os personagens envolvidos na trama, o enredo, o espaço e
o tempo.
5. UM APÓLOGO
MACHADO DE ASSIS
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa
neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito
que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe
importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos
outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito
eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos
babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás
obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
6. — Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só
mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava
em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a
costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a
coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os
dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a
agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira
só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e
acima...
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e
ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não
lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se
ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura,
para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou
esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha
espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela
dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a
linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e
da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a
caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência,
murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto
aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me
espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
7. — Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
CONTEXTO DE OBRA
O conto “Um Apólogo” foi publicado em 1896, no livro “Vário Histórias”, uma coletânea dos
melhores contos de Machado de Assis.
O conto narra uma pequena história de vaidade entre uma agulha e uma linha, cada uma querendo
mostrar sua superioridade sobre a outra, na função de confeccionar um vestido para a baronesa ir ao
baile.
Na época em que foi publicado, o Brasil estava num novo período, com o fim da escravidão (1888),
a proclamação da República (1889), o início da economia cafeeira (1840) e o trabalho imigrante
europeu (1870).
Dentre outras obras, Joaquim Maria Machado de Assis – ou simplesmente, Machado de Assis,
pertenceu ao período literário que conhecemos como Realismo, cuja característica principal é a
busca da objetividade na literatura, em oposição aos românticos (Romantismo). Machado de Assis
se preocupava em analisar e criticar os valores da sociedade.
8. FOCO NARRATIVO
O foco narrativo é a perspectiva por meio da qual o narrador opta para relatar os acontecimentos da
história.
No conto “Um Apólogo”, temos o narrador observador em terceira pessoa, que não participa da
história, se limitando apenas a narrar os fatos na medida em que eles acontecem.
Logo no início do conto, já podemos observar vestígios do narrador-observador, no primeiro
parágrafo:
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha.
Entretanto, mais adiante, encontraremos um narrador personagem-intruso no décimo sexto
parágrafo, concluindo que todos os fatos narrados eram fruto da memória do narrador:
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa.
E no vigésimo terceiro parágrafo retoma a presença do narrador-intruso:
Contei esta história a um professor de melancolia (...).
9. PERSONAGENS
Os personagens são aqueles que praticam as ações narradas. Neste âmbito, podemos distinguir
protagonista de antagonista, os principais e os secundários, pessoas ou não.
No conto, temos dois personagens principais que são a agulha e a linha, pois elas são citadas logo
no primeiro parágrafo e são bem destacadas na história, afinal, o conto é sobre elas. As personagens
principais são antagonistas – uma em relação à outra, pois se opõem a todo instante, discutindo por
vaidade, por orgulho.
E os demais personagens são secundários, o alfinete, o professor de melancolia, a costureira, a
baronesa e a modista, pois não são tão destacados quanto a linha e a agulha.
10. ENREDO
O enredo é a sequência de acontecimentos de uma narrativa de ficção, ou seja, é o conteúdo que
será construído no decorrer do texto. Além disso, o enredo, também chamado de trama, está
diretamente ligado às personagens, como foi definido claramente por Antônio Cândido*:
O enredo existe através dos personagens; as personagens vivem do enredo. Enredo e personagem
exprimem, ligados, os intuitos do romance, a visão da vida que decorre dele, os significados e
valores que o animam.
O enredo pode ser dividido em quatro etapas.
A primeira etapa é a Apresentação, no qual o narrador apresenta uma situação inicial, as
personagens, suas características e em determinados textos, o tempo e o espaço em que a história
ocorre. Em outras palavras, é o momento em que o narrador situa o leitor, para que este tenha
informações suficientes a fim de compreender a história que começará a ler. O conto “Um
Apólogo”, inicia-se com o diálogo das personagens principais, a agulha e a linha, que estão
discutindo e argumentando sobre a relevância dos papéis de ambas:
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma
cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito
que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe
importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos
outros.
— Mas você é orgulhosa.
11. — Decerto que sou.
O espaço e o tempo em que a narrativa ocorre serão apresentados ao leitor mais adiante:
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se
passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela.
Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e
entrou a coser.
A segunda etapa é a Complicação, também conhecida como Desenvolvimento, no qual os conflitos
começam a surgir, rompendo com a Apresentação, para dar início às ações que conduzirão a
narrativa à terceira etapa, o Clímax. O momento em que a Complicação ocorre, é justamente
quando está prestes a chegar a noite do baile no qual a baronesa comparecerá, no qual agulha e
linha trabalham silenciosamente, após uma longa discussão sobre a importância de cada uma na
preparação do vestido:
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa
e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela
não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura;
não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a
costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e
ficou esperando o baile.
A terceira etapa é conhecida como Clímax, que é o ponto mais alto da história, o momento em que o
conflito chega ao seu limite. Costuma ser situado no final da narrativa, e no conto “Um Apólogo”,
não poderia ser diferente. Finalmente, a noite do baile chegou e a linha “cutuca” mais uma vez a
agulha, exibindo-se toda orgulhosa, pois irá ao baile no vestido da baronesa, enquanto que a agulha
será guardada numa caixinha de costura:
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha
espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela
dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando,
acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e
da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a
caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
12. E por fim, temos o Desfecho, que corresponde à situação final da trama, a solução dos conflitos. Na
narrativa, esta quarta etapa pode ser surpreendente, feliz, trágico, cômico, ente outros. O
encerramento do conto “Um Apólogo” é o momento em que o alfinete, vendo toda a cena, vira-se
para agulha e lhe diz para aprender, pois enquanto ela abre o caminho, quem goza da vida é a linha,
encerrando por fim, com o próprio narrador (agora personagem), que extrai uma frase dita pelo seu
professor de melancolia:
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência,
murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida,
enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém.
Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
*[CANDIDO, Antonio. A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 1987. p. 534).
13. TEMPO
No contexto da narrativa, o Tempo é período no qual decorre o percurso cronológico ou psicológico
que vai desde o início até o final da história. No conto, o tempo costuma ser mais curto – se for
comparado ao romance ou à novela.
Como dito, na narrativa podemos encontrar tanto o tempo cronológico como o psicológico, sendo
este o tempo que transcorre no interior das personagens, sem responder a uma ordem cronológica,
mas sim, que reflete a subjetividade de sua imaginação, e aquele, marcado pelo relógio, objetivo,
definido.
No conto “Um Apólogo”, há o encontro de ambos os tempos. O cronológico destaca-se na
passagem em que o narrador relata que o vestido da personagem ficou pronto em quatro dias:
Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no
outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Já o tempo psicológico aparece no final do texto, quando o leitor se dá conta de que toda a narrativa
se passou na memória do agora narrador personagem, que estava contando a história a um professor
de melancolia:
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
14. ESPAÇO
Na perspectiva da narrativa, o Espaço é o lugar físico onde as personagens circulam, onde as ações
são realizadas, ou em outras palavras, é a ambientação da história.
No conto “Um Apólogo”, não há vestígios de uma ambientação detalhada, mas o narrador nos dá o
lugar físico em que as cenas de discussões entre a agulha e a linha ocorrem, a casa da baronesa:
Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si,
para não andar atrás dela.
Podemos concluir que se trata de uma casa aristocrata, por pertencer a uma baronesa – que
provavelmente tinha muitos empregados e que não saía de casa, a modista e a costureira que iam até
ela para preparar as vestimentas do baile.
15. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a leitura e análise do conto “Um Apólogo”, de Machado de Assis, podemos concluir que a
agulha e a linha incorporam atos humanos, como o orgulho, a vaidade, a prepotência, entre outros, a
fim de mostrar que uma é mais importante que a outra.
Podemos observar também que metaforicamente, a linha leva toda a glória e reconhecimento do
trabalho pesado da agulha, como o alfinete descreve:
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência,
murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida,
enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém.
Onde me espetam, fico.
E por fim, temos a aparição do professor de melancolia, que representa no conto as pessoas que
também são usadas, que não são reconhecidas:
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
Mais uma vez, Machado de Assis nos surpreende com sua obra e com a sua sagacidade em escrever
um conto que transmite os valores de uma sociedade orgulhosa, representada por simples
personagens, a linha e a agulha.
16. BIBLIOGRAFIA
Livros:
ASSIS, Machado de. Contos. São Paulo: Ciranda Cultural, 2010.
CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português Linguagens 3. 6 ed. São
Paulo: Atual, 2008.
Sites:
Vestibulando Web
http://www.vestibulandoweb.com.br/portugues/portugues-esse-este-aquele.asp consultado no dia
29/10 às 14:30;
Recanto das Letras
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/1616518 consultado no dia 29/10 às 14:42;
Portal Educação
http://www.portaleducacao.com.br/educacao/artigos/34413/o-espaco-da-narrativa consultado no dia
29/10 às 14:51.
Brasil Escola
http://www.brasilescola.com/historiab/a-chegada-dos-imigrantes.htm consultado no dia 29/10 às
17:34.
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