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“Com Os Bruzundangas Lima Barreto fez obra
satírica por excelência. Valendo-se do feliz
expediente de Montesquieu nas Cartas Persas,
imaginou um visitante estrangeiro a descrever a
terra de Bruzundanga, nada mais nada menos
que o Brasil do começo do século XX. A obra
traz forte empenho ideológico e mostra o
quanto Lima Barreto podia e sabia transcender
as próprias frustrações e se encaminhar para
uma crítica objetiva das estruturas que
definiam a sociedade brasileira do tempo.”
Bosi, História concisa da literatura brasileira
BRUZUNDANGA:
1.Coisa de pouca
serventia ou inútil;
insignificância,
ninharia.
2.Amontoado de
coisas inúteis ou de
escassa serventia.
Afonso Henriques de Lima Barreto era mestiço, filho de um
tipógrafo e de uma professora , que morreu quando ele tinha apenas
seis anos. Estudou no Colégio Pedro 2o e depois cursou engenharia na
Escola Politécnica. Ainda estudante, começou a publicar seus textos em
pequenos jornais e revistas estudantis.
Com o agravamento do estado de saúde de seu pai, que sofria
de problemas mentais, abandonou a faculdade e passou a trabalhar na
Secretaria de Guerra, ocupando um cargo burocrático.
“Não é só a morte que iguala a gente. O crime,
a doença e a loucura também acabam com as
diferenças que a gente inventa.”
Lima Barreto
Lima Barreto militou na imprensa lutando contra as injustiças
sociais e os preconceitos de raça, de que ele próprio era vítima.
1881- Afonso Henrique de Lima Barreto nasceu no Rio de a
13 de maio.
1887- Fica órfão de mãe, Frequenta a escola pública, onde é
aluno brilhante.
1895- Transfere-se para o Ginásio Nacional.
1896- Conclui os preparatórios para o ensino superior.
1897- Ingressa na Escola
Politécnica do Rio de Janeiro.
Lima Barreto
1902- Seu pai enlouquece.
Abandona a Escola Politécnica
para poder trabalhar e sustentar
a família.
1905- Trabalha como jornalista profissional no Correio da
Manhã.
1909- Seu romance Recordações do escrivão
Isaías Caminha é lançado em Lisboa.
1911- Triste fim de Policarpo Quaresma é
publicado em folhetins pelo Jornal do
Comércio.
1914- É recolhido a um sanatório.
1916- Doente, interrompe temporariamente sua
atividade literária e profissional. Atua na imprensa
anarquista, onde publica Manifesto Maximalista.
1903- Trabalha no Ministério da Guerra. Frequenta os
meios boêmios e intelectuais do Rio de Janeiro.
.
1918- É aposentado do seu cargo no
Ministério da Guerra, por invalidez.
1919- Novamente é recolhido ao hospício, de onde só saí
no ano seguinte.
1922- Vítima de colapso cardíaco,
falece no Rio de Janeiro a 1º de
novembro
Curiosidade
Foi homenageado, no Carnaval
carioca de 1982, pela Escola de
Samba GRES Unidos da Tijuca, com
o samba-enredo "Lima Barreto,
mulato pobre mas livre".
Lima Barreto faz claras referências às características
do Brasil quando descreve Bruzundanga que possui
uma sociedade marcada pela tradição e as relações
sociais são, antes de tudo relações de poder, e o poder
é concedido pela corte através de títulos de nobreza
aos que compõem os ministérios. O cenário político é
corrompido desde a sua formação e o status vale mais
que qualquer moeda. A exemplo, o autor menciona
que os filhos dos ministros iam estudar medicina na
Europa, mas “quando vão estudar medicina, não é a
medicina que pretendem exercer. Não é curar, não é
ser um grande médico, é ser doutor“. (p.17).
Importante o leitor ficar atento a todas as características que
compõe a sociedade e o corpo político da Bruzundanga;
qualquer semelhança com o Brasil, não é mera coincidência.
Romance
Recordações do Escrivão Isaías Caminha -
1909
Triste Fim de Policarpo Quaresma - 1915
Numa e a Ninfa - 1915
Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá - 1919
Clara dos Anjos* - 1948
O Cemitério dos Vivos* - 1953
O Subterrâneo do Morro do Castelo* -
1997
Sátira
As Aventuras do Dr. Bogoloff - 1912
Os Bruzundangas* - 1923
Coisas do Reino do Jambom* - 1953
Conto
Histórias e Sonhos - 1920
Artigo e crônica
Bagatelas* - 1923
Feiras e Mafuás* - 1953
Marginália* - 1953
Vida Urbana* - 1953
Toda Crônica* - 2004 - 2 volumes
Memórias
Diário Íntimo* - 1953
Crítica literária
Impressões de Leitura* - 1956
Correspondência
Correspondência* - 1956
*Publicação Póstuma
Marginalizado pela sociedade, Lima Barreto busca, por
meio de seu discurso e de uma literatura militante,
engajada e fortemente crítica, combater as injustiças e
as mazelas da sociedade de seu tempo. Para ele, o
papel do literato era o de instruir o leitor e não de
entretê-lo simplesmente. Por isso, é que a ideia da
literatura "decorativa" para deleite de uma elite
corrupta tanto lhe desagradava.
IMPORTANTE SABER!
O livro é um diário de viagem de um brasileiro
que morou algum tempo na República da
Bruzundanga. Lá, ele conheceu a literatura do
país (artificial, com autores fúteis e
aconchavados com a classe dominante), a
sociedade (medíocre e interesseira) e a política
(confusa e corrupta).
PREFÁCIO No prefácio do livro, escrito em Todos os
Santos (pequeno bairro da Zona Norte do Rio de
Janeiro) em 2 de setembro de 1917, Lima Barreto cita
a Arte de furtar. Obra publicada anonimamente, com
o subtítulo Espelho de Enganos, Teatro de Verdades,
Mostrador de Horas Minguadas, Gazua Geral dos
Reinos de Portugal. Apesar de ter-se atribuída a
paternidade do texto ao PADRE ANTÓNIO VIEIRA, a
autoria do mesmo é, mais provavelmente de
ANTÓNIO DE SOUSA DE MACEDO, sendo também
fortes as probabilidades do mesmo ter nascido da
pena do jesuíta Padre MANUEL DA COSTA.
Lima Barreto declara que assim como os maiores ladrões são os que
têm por ofício livrar-nos de ladrões menores, a descrição dos terríveis
males que assolam a Bruzundanga nos pode livrar dos males menores
que assolam o Brasil. É explicitado assim o objetivo da obra: não
apenas fazer rir, mas também alertar sobre os problemas do Brasil.
Capítulo especial
OS SAMOIEDAS Vazios estais de Cristo,
vós que vos justificais pela lei;
da graça tendes caído.
SÃO PAULO aos Gálatas
Aquele interessante país tem
literatura, sim. Sua escola literária
predominante é a samoieda, que é
influenciada diretamente pela
literatura desenvolvida pelo povo de
mesmo nome, habitante da região
da Sibéria. Mais especificamente, a
literatura samoieda estava baseada
“na poética e estética das margens
do glacial Ártico”. É uma comparação
que o escritor evoca com a literatura
brasileira da belle époque, em tudo
macaqueadora das letras europeias.
Quando Lima Barreto pensa “os samoiedas” da Bruzundanga,
sendo que na tal escola era necessário se vestir como que no
ártico levando em conta que o país estava localizado nas
zonas tropical e subtropical, este autor faz, contudo, uma
sátira aos costumes de origem europeia utilizados no Brasil,
ou seja, o pressuposto de que a sociedade brasileira deveria
está imitando a todo custo o modo de vida europeu (Belle
Époque).”
Personagens: Ministro e cocheiro.
Espaço: Baile da Embaixada.
Narrado em 3ª pessoa onisciente, este é um conto diferenciado
dos demais, sobretudo por seu caráter psicológico e a variedade de
interpretações que suscita.
O ministro entra em um estado de delírio, de transe, de
devaneio, que o faz perder os sentidos, e nesse delírio, ele vê a si
mesmo descendo as mesmas escadarias que instantes atrás ele
descera, só que agora ele se sentia na pele de um reles cocheiro,
perguntando a sua própria imagem se queria o carro, como se o
devaneio indicasse o caráter ambíguo da realidade e o fato de que a
inferioridade, a submissão também fazem parte do nosso mundo, da
nossa realidade, e que, às vezes, as pessoa poderiam passar pelos dois
momentos, sentindo e sofrendo na pele com algo que sempre impeliu
aos outros.
Resumo do conto
Sua Excelência
No breve conto ‘Sua Excelência’,
Lima Barreto descreve cenas repletas
duma crítica social e com diversas
possibilidades sobre a interpretação e o
questionamento a respeito da identidade.
No espaço do Baile da Embaixada e
contendo prioritariamente as nuanças de
dois personagens: ministro e cocheiro, o
conto é narrado em terceira pessoa
onisciente, diferenciado, sobretudo, por
seu caráter psicológico e a variedade de
interpretações que suscita.
Em sua temática a crítica social
manifesta-se explicitamente nas figuras do
ministro (repleto de poder, patentes e grã-
cruzes) e do cocheiro (em sua
simplicidade, quase insignificância).
É notável a denúncia
da vaidade, do narcisismo, da
autolatria manifestada pelo
Ministro no início do conto,
em que fica a repetir, para a
própria consciência, trechos
do discurso que acabara de
proferir a uma plateia de
aristocratas. Certo devaneio,
delírio ou transe são aplicados
para que a suposta ‘troca’ de
personagens ou de ‘posições’
ao final do conto seja mais
suscetível à percepção da
inferioridade, baixeza e
submissão que jaz na
realidade.
“Como esta há, na Bruzundanga,
muitas outras "histórias" que
correm de boca em boca e se
transmitem de pai a filho.”
“- Canalha, pára, pára, senão caro
me pagarás!
O carro voava e o ministro
continuava a vociferar:
- Miserável! Traidor! Pára! Pára!”
“Quanto mais incompreensível é a linguagem, mais admirado é o
escritor que a escreve, por todos que não lhe entenderam o escrito.”
A escola “samoieda” é uma
alegoria das academias literárias
fundadas pelos poetas
parnasianos e simbolistas, que
eram aliados dos figurões da alta
sociedade brasileira, os quais
apreciavam “belos sonetos”. Lima
constrói um discurso irônico em
relação a esses poetas que eram
aconchavados à elite econômica,
pois, para ele, esses literatos
serviam apenas para deleitar e
prestigiar as classes mais
abastadas da sociedade.
“Os literatos não têm
propriamente obras escritas; a
bagagem deles consta de
conferências, poesias recitadas
nas salas, máximas
pronunciadas na intimidade de
amigos, discursos em batizados
ou casamentos, em banquetes
de figurões ou em cerimônias
escolares, (...) Esses são os
escritores mais estimados e
representativos, sobretudo
quando empregam palavras
obsoletas .”
Os samoiedas
O narrador inicia por apresentar a
corrente literária de Bruzundanga,
denominada por Escola Samoieda. Os
Samoiedas, assim como o exemplo
dos médicos, não estão preocupados
com a arte literária, e sim com os
títulos que as letras dão. E
sustentavam que a escola nasceu do
poema de um príncipe samoieda que
se chamava Tuque-Tuque Fit-Fit,
descrito por sua beleza sem par, o
príncipe na verdade pertencia a um
mito e poucos ousavam contestar a
lenda.
“Não há como discutir com eles, porque todos se guiam
por ideias feitas, receitas de julgamentos, e nunca se
aventuram a examinar por si qualquer questão, preferindo
resolvê-las por generalizações quase sempre recebidas de
segunda ou terceira mão, diluídas e desfiguradas pelas
sucessivas passagens de uma cabeça para outra cabeça.”
(p. 25)
I- UM GRANDE FINANCEIRO
Lima Barreto critica os economistas
incompetentes e contraditórios da
Bruzundanga, através do personagem
caricatural Felixhimino Ben Karpatoso.
“(...) era casado com uma senhora da roça, muito
segura das suas origens nobres; ela pertencia à família
dos Kilvas, cujo armorial e pergaminhos não tinham
sido outorgados por nenhum príncipe soberano. Como
Napoleão que, segundo dizem, na sua sagração de
imperador, pôs ele mesmo a coroa na cabeça, Dona
Hengrácia Ben Manuela Kilva tinha ela mesmo se
enobrecido.”
A República dos Estados Unidos da
Bruzundanga era, assim como outras
Repúblicas, composta por um presidente,
juízes, senado e uma câmara dos deputados –
eleitos por sufrágio direto e temporário. As
característica econômicas da Bruzundanga era
de um país que “de cinquenta em cinquenta
anos descobria-se nele um produto que ficava
sendo a sua riqueza“. Os governos taxavam-no
até não mais poder, de modo que os países
rivais, mais cautelosos na decretação de
impostos sobre os mesmos produtos, acabavam
na concorrência, por derrotar a Bruzundanga.
Daí vinha que a grande nação vivia aos
solavancos, sem estabilidade financeira e
econômica; e por isso mesmo, dando campo a
que surgissem financeiros de todos os cantos e
sobretudo no parlamento.
Um certo deputado, de oratória muito
boa, havia proposto um engenho
financeiro para cobrar impostos diretos
e indiretos, e como o caixa da
Bruzundanga vivia limitado, a proposta
foi bem aceita no parlamento.
Conhecido pelo título de doutor
(mesmo sem saber ao certo se este
era médico, advogado ou dentista), o
doutor Karpatoso citava em seus
discursos com sólida erudição
influências do estrangeiro. A exemplo,
o russo polaco Poniatwsky, o
australiano Gordo O’Neill, o chinês
Ma-Fi-Fu, o americano Willian
Fartching e o doutor Caracoles y
Mientras da universidade de Caracas.
Quanto mais conhecido se
tornava Karpatoso, mais
movimentada se tornava sua
casa. Para custear os comes
e bebes das festas e jantares
oferecidos em seu salão, o
doutor colocou alguém de
sua confiança para vender
ervas no centro da cidade.
Três dias após, ele tinha as ideias salvadoras: aumentava do
triplo a taxa sobre o açúcar, o café, o querosene, a carne-seca, o feijão,
o arroz, a farinha de mandioca, o trigo e o bacalhau; do dobro, os
tecidos de algodão, os sapatos, os chapéus, os fósforos, o leite
condensado, a taxa das latrinas, a água, a lenha, o carvão, o espírito de
vinho; criava um imposto de 50% sobre as passagens de trens, bondes
e barcas, isentando a seda, o veludo, o champagne, etc., de qualquer
imposto. Calculando tudo, ele obtinha trinta mil contos. Levou a cousa
a Idle Bhrás de Grafofone e Cinema, que gabou muito o trabalho de
Ben Karpatoso. E ele se torna Ministro da Economia.
O governo da Bruzundanga
manda imprimir livros destinados a
fazer propaganda do país no
estrangeiro, e muita gente ganha
fortuna e notoriedade com isso.
Entretanto tais livros não podem ser
encontrados facilmente, mesmo sendo
distribuídos pelo governo, mas são
escandalosamente mentirosos a ponto
de não despertar qualquer interesse
para os sebos revenderem, pois não
haveria quem os comprasse. A nobreza
da Bruzundanga é constituída pelos
doutores da medicida, do direito e das
engenharias. A formatura é dispendiosa
e demorada, o que limita o acesso aos
pouco afortunados.
II- A nobreza de
Bruzundanga
No que tange as leis, o doutor tem prisão especial, em
qualquer tipo de crime e “tendo crescido o número de doutores, eles,
os seus pais, sogros e etc. trataram de reservar o maior número de
lugares no Estado para eles”. A pesar do prestígio, a verdade é que os
cursos que formavam estes jovens eram medíocres. Entretanto, “há
nessa nobreza doutoral uma hierarquia como em todas as
aristocracias”.
É nesse capítulo que ele classifica a nobreza
da Bruzundanga em doutoral e palpite. E
também apresenta a hierarquia dessa
aristocracia. “No intuito de não fatigar os
leitores, vou dar-lhes um quadro sintético de
tal nobreza da Bruzundanga com a sua
respectiva hierarquia colocada em ordem
descendente. Guardem-no bem. Ei-lo, com as
pedras dos anéis:
Médicos (Esmeralda)
Advogados (Rubi)
Engenheiros (Safira)
Engenheiros militares (Turqueza)
Doutores
Engenheiros geógrafos (Safira e certos
sinais no arco do anel)
Farmacêutico (Topázio)
Dentista (Granada)”
III- A outra nobreza da Bruzundanga
Aqueles que de alguma forma
tiveram alguma sorte afortunando-se, e
que porém não possuíam títulos de
doutores, viajavam para a Europa e
voltavam príncipes. Uma anedota para
ilustrar:
Certo dia, um homem que se
chamava algo parecido com Ferreira, ao
retornar da Europa foi visitar as terras da
sua família, que há muito estavam
abandonadas. Um empregado antigo da
família ao aproximar-se do homem e tratá-
lo como nos tempos em que este era um
menino e ser reprimido pelo príncipe
responde “_ Qual o quê nhonhô, Vancê não
pode ser príncipe. Você não é filho de
imperadô”
IV- A POLÍTICA E OS POLÍTICOS DA BRUZUNDANGA
“A minha estadia na Bruzundanga foi demorada e proveitosa. O
país, no dizer de todos, é rico, tem todos os minerais, todos os
vegetais úteis, todas as condições de riqueza, mas vive na miséria.”
Os políticos acreditam ser
diferentes _melhores_ que os
outros bruzundanguenses.
A igreja também é criticada nesse capítulo, pois os bispos, padres
e irmãs ajudam quem deseja conquistar influências: “não há
sujeito ateu ou materialista em regra, que ao se casar com mulher
rica não se torne católico apostólico romano”,
Os políticos e o nepotismo: “Não há lá homem influente que
não tenha pelo menos trinta parentes ocupando cargos do
Estado; não há lá políticos influentes que não se julguem
com o direito a deixar para os seus filhos, netos, sobrinhos
primos gordas pensões pagas pelo Tesouro da República.”
ENQUANTO ISSO: A população rural vivia oprimida pelos
chefões da política. Vivia na pobreza, abandonada.
X
V- AS RIQUEZAS DA BRUZUNDANGA
“Quando abrimos qualquer
compêndio de geografia da
Bruzundanga; quando se lê
qualquer poema patriótico
desse país, ficamos com a
convicção de que essa nação
é a mais rica da terra.”
O Brasil das riquezas naturais
“O café é tido como uma das maiores riquezas do
país; entretanto é uma das maiores pobrezas.”
Não somente o café é fonte de riqueza, como o
látex também. Extraída em grande quantidade,
em terras úmidas e escassas. Isso encarece a
borracha, mas as altas taxas tornou possível
construir grandes palácios o que simbolizam a
fortuna de poucos.
ENQUANTO ISSO: os ingleses
plantaram as seringueiras e
pacientemente esperaram para extrair
o látex. Dessa forma, os ingleses
cobraram taxas menores e fizeram seu
plantio em regiões menos escassas,
isso os tornou grandes exportadores.
VI- O ENSINO NA BRUZUNDANGA
Critica a questão da nobreza
doutoral ter se tornado
hereditária ilustrando com um
pequeno diálogo:
“— Mas T. foi reprovado?
— Foi.
— Como? Pois se é filho do doutor F.?”
O narrador critica os artifícios para concessão de títulos
acadêmicos, as instituições religiosas de ensino e as exigências
desnecessárias na formação de determinados profissionais.
VII- A DIPLOMACIA DA BRUZUNDANGA
Os aspirantes à vida de diplomata deve ter um francês corriqueiro,
conhecimento na sociedade com passeios e roupas elegantes e
publicações literárias. Frisa que essas publicações são de muito mau
gosto.
Os doutores anseiam
representar o país em terras
estranhas não importando os
lugares para onde vão.
Nesse capítulo ele também critica os poemas parnasianos: Afora
um ou outro que não se veste pelo figurino da maioria, o que eles
publicam são sonetos bem rimadinhos, penteadinhos,
perfumadinhos, lambidinhos, cantando as espécies de joias e
adereços que se encontram nas montras dos ourives.”
Ele frisa, ainda, que não era assim antes de aparecer por lá o
embaixador Visconde de Pancome _provavelmente uma caricatura
do Barão do Rio Branco_ que fizeram ministro dos Estrangeiros.
Encerra o capítulo dizendo que a Bruzundanga é um país de terceira
ordem e a sua diplomacia é meramente decorativa.
Barão do Rio Branco (1845-1912) foi
diplomata, advogado, geógrafo e historiador
brasileiro. Formou-se em Direito pela
Faculdade de Direito do Recife. Foi Ministro
das Relações Exteriores durante os mandatos
dos presidentes Rodrigues Alves, Afonso
Pena, Nilo Peçanha e Hermes da Fonseca. Foi
promotor público em Nova Friburgo e
deputado por Mato Grosso, ainda na época
do Império.
VIII- A CONSTITUIÇÃO
Autoritarismos X legalidade
“Todos os partidos que não pertenciam a ela, pregavam a reforma
da Constituição; mas, logo que a ela aderiam, repeliam a reforma
como um sacrilégio.”
Preocuparam-se em imitar a Constituição
de algum país. Pensaram se espelharem na
obra As viagens de Gulliver, e escolheram
imitar o país do gigantes: “A população da
Bruzundanga, tirante um atributo ou
outro, não era composta de pessoas
diferentes do doutor Gulliver; eram
minúsculos bonecos, portanto, que
queriam possuir uma Constituição de
gigantes.”
IX- UM MANDACHUVA
Somente os mais medíocres chegam a ser chefes políticos. O
pior deles chega à presidência.
“(...) o Mandachuva é sempre
escolhido entre os membros
da nobreza doutoral; e,
dentre os doutores, a escolha
recai sobre um advogado.”
Geralmente o Mandachuva era engajado na política
através do sogro que queria um bom partido para a filha.
X- FORÇA ARMADA
O Exército é formado por generais sem tropas e a Marinha
constituída por almirantes com navios paralíticos que só servem
como ornamentos.
As Forças Armadas só existem para saciar a vaidade dos militares os
quais estão sempre preocupados com suas vestimentas.
Quanto ao Exército: “eles têm
sempre um sincero respeito pelas
manifestações da inteligência,
partam elas de onde partirem.
Quanto à Marinha:“para que a
Bruzundanga não seja
envergonhada no estrangeiro
possuindo entre os seus oficiais
de mar alguns de origem
javanesa.”
XI- UM MINISTRO Coisas práticas!
Importante perceber, nesse capítulo, as críticas
feitas à política agrícola que, caracterizada
pelo latifúndio, explora o trabalhador ao
máximo.
Há também uma crítica referente à forma
como se “faz” um ministro na Bruzundanga.
Narra o caso de um usineiro,
Phrancisco Novilhon Ben Kosta, mais
conhecido como Chico Caiana: “Chico
era o tipo do grande agricultor da
Bruzundanga: nada entendia de
agricultura, mesmo daquela que
dizia exercer.”
Quando tomou posse, Caiana mandou chamar Ormesson, seu
homem de confiança na usina, para ajudá-lo. O novo ministro não
aceitava ideias de ninguém tratando todos com rispidez e grosseria.
Gritava sempre que queria prática. Ormesson então: “trouxe o projeto
de transformar a chácara da secretaria em campo agrícola.
— Amendoim! — exclamou o ministro.—Não dá nada! Se fosse cana...
"Mindobi", só para preta velha vender torrado...
Ele não conhecia, não admitia outra cultura que não fosse a da cana-
de-açúcar. Ormesson convenceu-o e o ministro determinou o plantio
aconselhado. Um dos diretores pediu autorização para admitir
trabalhadores.
— Trabalhadores! Ponha lá os escriturários, esses escreventes todos...
— Mas...
— Não tem mas, não tem nada!
Quem não quiser, deixe o lugar, que
eu arranjo outros mais baratos.
Não houve remédio senão os oficiais
da sua Secretaria de Estado irem
puxar o rabo da enxada.”
No ano seguinte o preço do açúcar
subiu e Caiana não pensou duas
vezes: abandonou por muito tempo
as coisas do Ministério e foi ganhar
dinheiro.
“Um dia o chefe do governo
perguntou ao auxiliar do grande
agricultor:
— Onde está o doutor Phrancisco
Novilha?
— Está ocupado com cousas
práticas.”
XII- OS HERÓIS
O alvo da crítica agora é o hábito de se transformar em ídolos
nacionais pessoas que pouco ou nada fizeram de heroico. Há
alusões prováveis a Anita Garibaldi e Floriano Peixoto.
Conhecido como o Presidente de Ferro, Floriano
Peixoto foi o segundo governante da República
brasileira.
Casada com o libertador italiano
Giuseppe Garibaldi, que se
engajara na Revolta dos Farrapos
em 1836, participou com o marido
de combates na América do Sul e
na Europa.
Floriano Peixoto que também aparece
em Triste fim de Policarpo Quaresma,
aparece aqui também como um dos
“heróis” da Bruzundanga. O nome não é
citado, mas as atitudes são
inconfundíveis: “Os amigos do Império,
vendo que as cousas perigavam,
trataram de enfrentar a corrente com
decisão e chamaram, para condestável
da Bruzundanga, um velho general que
vivia retirado nas suas propriedades
agrícolas. (...)Este último herói é lá
chamado Consolidador da República.
Sabem por quê? Porque não consolidou
cousa alguma. Não houve Mandachuva,
pois ele o foi, da Bruzundanga, quem
mais desrespeitasse as leis da
República.
Ainda nesse capítulo cita o caso
do Visconde de Pancome. Esse senhor
muitos gastos desnecessários fez e
outros “heróis” também seguiram seu
exemplo: “ (...) nenhum ministro quis
ficar atrás. Todos porfiaram nos gastos.
Anos depois, os deficits aumentavam,
os impostos aumentavam, os preços de
todos os gêneros aumentavam; mas a
gente do país não deu pela origem da
crise, tanto assim que, quando Pancome
morreu, lhe fez a maior apoteose que lá
se há visto.
XIII- A SOCIEDADE
Nesse capítulo é criticada a sociedade medíocre cujos
membros vivem a cavar dinheiro por meio de favores
governamentais. ”Os que formam direitamente a grande
sociedade, são os médicos ricos, os advogados afreguesados, os
tabeliães, os políticos, os altos funcionários e os acumuladores de
empregos públicos. (...)Pode ser definida a feição geral da
sociedade da Bruzundanga com a palavra — medíocre.”
Entende-se nesse
capítulo que a política não se
faz preocupada com o
destino do povo, mas com a
preocupação de se obter um
vínculo com pessoas
“influentes” para obtenção
de cargos e propinas.
O narrador classifica as manifestações culturais como inferiores,
exceção para a música, mas com ressalva: “A não ser em música, isto
mesmo no que toca somente a executantes, os seus produtos
intelectuais são de uma pobreza lastimável.”
Há novamente
uma crítica à literatura
quando diz que a
denominação de arte ou
artista é sempre aforista.
Não se considera arte o
que é criado fora dos
ambientes da sociedade
burguesa. Quanto à
pintura, arte dos ricos,
em Bruzundanga quase
não existe.
Nesse capítulo é feita, também, referência aos túmulos dessa
gente da Bruzundanga que só prova a pobreza mental com exibição
desnecessária.
Túmulos de famílias abastadas da
época, final do séc. XIX e início do
séc. XX, auge do período em que
o café era o grande gerador de
riqueza da região.
Já as casas são, a todo
custo, imitações de outras épocas
e lugares.
Em relação ao teatro: “Um dos toques da mediocridade da sociedade
da Bruzundanga é a sua incapacidade para manter um teatro
nacional.” Só ricos tinham condições de frequentar, pois era lugar para
exibição de roupas, joias e carros caros. Além disso, os espetáculos
nada tinham de original dos Estados Unidos da Bruzundanga. O que era
valorizado vinha sempre do estrangeiro.
XIV- AS ELEIÇÕES
Nesse capítulo contém uma das críticas mais ferozes e
explícitas de todo o livro. Fica clara a fraude que é a eleição nos
Estados Unidos da Bruzundanga.
“Na Bruzundanga, como no
Brasil, todos os
representantes do povo,
desde o vereador até ao
Presidente da República,
eram eleitos por sufrágio
universal, e, lá, como aqui,
de há muito que os políticos
práticos tinham conseguido
quase totalmente eliminar
do aparelho eleitoral este
elemento perturbador — o
voto".
“Os seus eleitores não sabem quem ele
é, quais são os seus talentos, as suas
ideias políticas, as suas vistas sociais, o
grau de interesse que ele pode ter pela
causa pública; é um puro nome sem
nada atrás ou dentro dele.”
“Raro é o homem de bem que se faz eleitor”
Esta crônica narra a história de um eleitor que queria votar num
homem que estava com dificuldades financeiras, somente para ajudar o
candidato. Ele até já tinha escolhido outro candidato por interesse
próprio de se livrar de mais uma reprovação _visto que tinha quatro
bombas em mecânica_ e o candidato conhecido por Karaban prometia
decretar a aprovação compulsória dos estudantes reprovados. No
entanto, a pedido de alguém, de bom coração, resolveu votar nesse
indigente. Ao fim, o eleitor é surrado e esfaqueado. A eleição é
fraudada.
Lima Barreto termina a crônica com essas palavras: “Os meus leitores
poderão verificar que, no ponto de vista eleitoral, a Bruzundanga nada
tem que invejar da nossa cara pátria.”
XV-UMA CONSULTA MÉDICA
Aqui ele critica os “doutores” que têm prestígio social, mas não
curam seus pacientes. Narra o caso de um rapaz, chamado Krat e com
poucas posses, que sente muitas dores no estômago. O pobre rapaz
tem muita dó de gastar o pouco dinheiro que tem, mas acaba indo a
uma consulta com o doutor mais famoso do lugar, o doutor Adhil Bem
Thaft. A consulta lhe custou cinquenta mil-réis e o doutor ao examiná-
lo com atenção chegou à conclusão de que ele nada tinha. Krat, apesar
de à primeira vista ter simpatizado com o doutor, ficou furioso, pois o
doutor lhe que ele não está doente.
XVI- A ORGANIZAÇÃO DO ENTUSIASMO
A crítica nesse capítulo mostra como o povo costuma exaltar
aqueles que não conhecem. Aconteciam “manifestações” para alguém
de forma desnecessária.
“Acontecia em certas ocasiões que
um grupo gritava — Viva o doutor
Clarindo! — o outro exclamava: —
Viva o doutor Carlindo — e um
terceiro expectorava — Viva o
doutor Arlindo! — quando o
verdadeiro nome do doutor era —
Gracindo!”
Criou-se, então, um conjunto de
regras e funções para a realização
desses momentos de entusiasmos.
XVII- ENSINO PRÁTICO
Aqui ele ataca a educação prática e
o estilo de vida norte-americano. Quando
perceberam que o comércio da
Bruzundanga estava nas mãos dos
estrangeiros, um sentimento de
nacionalidade tomou conta dos
bruzundangas que trataram de tornar o
ensino prático naquele país através de um
estabelecimento de instrução comercial.
Tudo haveria de ser prático e moderno
baseado “nos moldes alemães e
americanos, isto é, inteiramente prático”.
Os rapazes eram inscritos em diversos cursos. Esses cursos eram muito
esquisitos como venda ambulante de fósforos ou de gazetas, porém eles
tinham que apresentar documentos comprovando que sabiam pegar
bondes em movimento.
XVIII- A RELIGIÃO
É uma crônica muito curta e trata de mostrar que
mesmo a religião católica sendo dominante, e havendo lá
muitas igrejas e conventos, quase não há frades e monjas
que não sejam estrangeiros.
XIX- Q. E. D.
(quod erat demonstrandum = Como Queríamos Demonstrar)
Esse capítulo mostra a
“utilidade” dos secretários de
ministros. De forma bem clara
e crítica ele explica que
estudou o mecanismo
administrativo da República da
Bruzundanga e descobriu que
os secretários exercem apenas
a função de bajular os
ministros e aturar seus filhos
mal educados e insolentes.
O título da crônica se justifica porque ele finaliza dizendo que
conseguiu provar a inutilidade desse cargo na Bruzundanga através
dos exemplos que apresenta.
XX- UMA PROVÍNCIA
“As províncias da República da
Bruzundanga, que são dezoito ou vinte, gozam, de
acordo com a Carta Constitucional daquele país, da
mais ampla autonomia, até ao ponto de serem,
sob certos aspectos, quase como países
independentes.”
Kaphet, província da Bruzundanga que
julga ter o melhor ensino e a melhor arte,
mas não produz nada de, minimamente,
original.
”O traço característico da população da província do Kaphet, da
República da Bruzundanga, é a vaidade. Eles são os mais ricos do país;
eles são os mais belos; eles são os mais inteligentes; eles são os mais
bravos; eles têm as melhores instituições, etc., etc.”
A capital da Bruzundanga: Bosomsy
Certa vez, o narrador
resolveu visitar a pinacoteca e
fica decepcionado, pois no
catálogo obras famosas são
apresentadas como se fossem as
originais, sendo, na verdade,
apenas reproduções. Essa
província é tida como modelo
para as outras.
Lá tudo é possível porque ”a
província faz questão de que
conste nos panegíricos dela que o
seu ensino é uma maravilha; as
suas escolas normais, cousa nunca
vista; e os seus professores sem
segundos no mundo.”
Em relação às artes o conceito é de que
”sobretudo a de escrever, só se deve
ocupar com a gente rica e chic, que os
humildes, os médios, os desgraçados,
os feios, os infelizes não merecem
atenção do artista e tratar deles
degrada a arte.”
O pior dessa província é o
culto exagerado ao
dinheiro, pois: “Quem não
tem dinheiro nada vale,
nada pode fazer, nada
pode aspirar com
independência.”
XXI- PANCOME, AS SUAS IDEIAS E O AMANUENSE
O ministro de Estrangeiros
Visconde de Pancome, por detestar
feios e javaneses, veio a contratar
sem concurso um escrivão que não
sabia redigir uma carta, mas que
sorria de forma bela.
Esse capítulo apresenta mais críticas sobre o Barão do Rio Branco. Deixa
claro o seu preconceito com os mulatos e sua incompetência baseada
em atos que ninguém lhe tomava contas.
“Nomeava, demitia, gastava as verbas
como entendia, espalhando dinheiro
por todos os toma-larguras que lhe
caíam em graça, ou lhe escreviam
panegíricos hiperbólicos.”
Narra também uma aventura do
Visconde que cismou de subir uma
montanha e segundo alguns naturais do país
o homem foi ao pico dessa montanha e
quando a notícia do feito se espalhou:
“...exultaram, pois andavam de há muito
necessitados de um herói. Não contentes
da notícia da façanha ter corrido toda a
nação, telegrafaram para as cinco partes do
mundo exaltando a ousadia ainda mais.”
O autor finaliza mostrando o caso do rapaz, bacharel Sune
Wolfe, que por ser muito bonito, mesmo não sabendo escrever uma
carta, tornou-se amanuense por escolha do herói: “Feito amanuense,
aprendeu logo a copiar minutas e, em menos de seis anos, Sune, o tal
da carta, acabou eleito, por unanimidade, membro da Academia de
Letras da Bruzundanga.
Ficou sendo o que aqui se chama — um "expoente".
CAPÍTULO XXII- NOTAS SOLTAS
A parte XXII, denominada Notas soltas,
são, ao que tudo indica, estudos ou esboços de
textos a serem desenvolvidos. Entretanto, desde
a primeira edição de Os bruzundangas, vêm
agrupadas como se fossem um outro capítulo.
Nelas há uma interessante crítica à Academia Brasileira de Letras, que
elege quem nada escreveu de relevante, mas que tem prestígio social.
Essas notas, ou esboços,
aparecem com títulos e são,
em geral, bem curtas.
Sobre o teatro
Denuncia-se a falta de
originalidade e a vulgaridade de
espetáculos. O narrador diz que foi a
três ou quatro teatros e sempre se
deparava com a mesma cena:
“No palco uma dama, em fraldas de
camisa, fumando um cigarro, cantava
acompanhada de uma música rouca:
Eu hei de saber
Quem foi aquela
A dizer ali em frente
Que eu chupava
Charuto de canela.”
Sobre os literatos: Mostra
uma pessoa que vai publicar um
livro e está guardando dinheiro
para pagar aos críticos dos
jornais e revistas.
Sobre os jornais: As notícias
giram, sempre, em torno dos
acontecimentos da elite
anunciadas como “Novidades
telegráficas sensacionais”.
Sobre Erudição: Seguem as notícias
sobre a origem de determinadas pessoas da
elite bruzundanguense.
Sobre a administração:
Critica os erros publicados nos
jornais e cita o exemplo de uma
notícia a qual diz que o México
está localizado na América do Sul.
Acrescenta, ainda, uma explicação
sobre a forma como são feitas as
seleções para o trabalho nas
repartições.
No gabinete do ministro: Nessa nota, o narrador apresenta
um diálogo entre o Ministro e um candidato ao cargo de diretor do
serviço Geológico da Bruzundanga. O candidato nunca estudou
geologia, mas sabia dizer o que é um vulcão e, logo, fica com a vaga.
Também nessa nota o narrador relembra o caso apresentado no
capítulo XXI- PANCOME, AS SUAS IDEIAS E O AMANUENSE sobre a
contratação do rapaz que não sabia escrever uma carta e se tornou
amanuense, pois era bonito, sabia cumprimentar e dançar com
desenvoltura.
Sobre os sábios ( a desenvolver): Essa é uma forte crítica ao
conceito errôneo de sábio conhecido e aceito na Bruzundanga. “Os
médicos da Bruzundanga imaginam-se sábios e literatos. Pode-se
afirmar que não são nem uma cousa nem outra.” Ele explica que é
sábio aquele que mais cita autores estrangeiros. Frisa também que
os sábio são sempre os mais abastados e que escrevam em sânscrito.
Finaliza acrescentando que a primeira ação do sábio é fazer um
casamento rico.
Sobre a música: Geralmente é
vista como a arte das mulheres e
são raras as aparições dessa arte.
Sobre a indústria: Tem como
objetivo roubar o povo com seus
altos preços dos produtos.
A última nota solta: Em tom irônico,
o narrador critica a inacreditável habilidade
que os governantes da Bruzundanga têm de
explorar os bruzundanguenses com altos
preços de produtos que os estrangeiros
compram pela metade do preço.
OUTRAS HISTÓRIAS DOS BRUZUNGANGAS
Além das crônicas e das notas, o livro traz ainda, para finalizar,
mais algumas observações sobre os bruzundangas denominadas As
letras na Bruzundanga; A arte; Lei de promoções; Rejuvenescimento;
No salão da marquesa e Outras notícias.
AS LETRAS NA BRUZUNDANGA
O texto tem uma epígrafe bem
pomposa tirada do discurso de Coelho Neto
na inauguração da piscina do Fluminense F.C.
A historinha narrada nesta parte é a
de um poeta que, vergonhosamente, aceitou
fazer um discurso para a inauguração de um
tanque de lavar cavalos: explícito e corajoso
ataque de Lima Barreto a Coelho Neto.
A ARTE
Mostra o descaso dos bruzundanguenses em relação a seus
artistas, mesmo a Bruzundanga possuindo escolas para o ensino de
belas-artes. Tanto pintores quanto poetas bruzundanguenses não
conseguiam sucesso, muitos morriam abandonados. Os que mereciam
prestígio eram os artistas estrangeiros.
Finaliza frisando que muito mau gosto tem a gente rica da
Bruzundanga, pois nada entende de arte esse povo que valoriza apenas
o que vem de fora sem pelo menos saber se a arte apresentada é, de
fato, do artista que a assina.
LEI DE PROMOÇÕES (CRÔNICA MILITAR)
É uma crítica “pesada” do cientificismo positivista, típico dos
militares brasileiros da época. O narrador descreve a fórmula
científica utilizada para as promoções dos militares: os aspirantes a
determinada patente ingeriam certa mistura, se não morressem
deveriam ter as fezes examinadas em papel tournesol e se ficasse
avermelhado era autorizada a promoção.
REJUVENESCIMENTO (CRÔNICA MILITAR)
Há aqui, nessa história, a descrição de
outra fórmula de promoção dos militares.
Desta vez o objetivo é fazer com que haja
generais jovens. Foram apresentados dois
métodos: “Um, aparente meramente, e de
origem feminina; o segundo substancial e
rigorosamente científico.” Em outras
palavras o primeiro método seria a
maquiagem, alternativa ruim porque só daria
aparência de jovialidade. A segunda opção
seria dar logo ao novato o posto de general,
mas com “boas” ressalvas: “Saído das
escolas militares o oficial será logo general,
ganhando como tenente, depois irá
descendo de graduação de forma a chegar
aos sessenta como tenente, ganhando como
general.”
NO SALÃO DA MARQUESA
Esta história descreve círculos literários sem nada de
realmente artístico ou cultural, mas apenas com exaltação de
futilidades. A dona do salão era a Marquesa de Borós. “Ela residia
em um grande palácio que se dependurava sobre a cidade capital,
do alto de uma verdejante colina, e nele em certas e determinadas
tardes reunia os intelectuais do país. Em começo, recebeu alguns
de valia; mas, bem depressa, os fariseus e simuladores de talento
tomaram conta da sala.”
OUTRAS NOTÍCIAS
Nesta história o narrador relata
que essas suas notas, em breve, irão
sair das mãos do editor Jacinto Ribeiro
dos Santos. Reafirma que há anos está
fora da Bruzundanga e que recebe
cartas de amigos que lá fez.
O autor satiriza a participação da Bruzundanga (Brasil) na
Primeira Guerra Mundial. Vale lembrar que em 1917, Venceslau Brás
declara guerra à Alemanha. O Brasil enviou uma divisão naval para
Europa, mas sua tripulação chegou a Dacar bastante desfalcada devido
a uma epidemia. Houve também uma missão médica brasileira que
não chegou à frente de batalha. Esse acontecimento foi satirizado por
Lima Barreto aqui no livro Os Bruzundangas.
Por fim, ele descreve o curioso caso
de como um papagaio foi nomeado arauto
d’armas da Secretaria de Estado de Mesuras
e Salamaleques da República dos Estados
Unidos da Bruzundanga.
Lembre-se! As crônicas sobre a República das Bruzundangas – Estados
Unidos das Bruzundangas – começaram a aparecer em janeiro de 1917
no semanário A.B.C., dirigido por Paulo Hasslocher e Luís Moraes,
onde se encerra boa parte da colaboração de Lima Barreto na
impressa.

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Os bruzundangas

  • 1. “Com Os Bruzundangas Lima Barreto fez obra satírica por excelência. Valendo-se do feliz expediente de Montesquieu nas Cartas Persas, imaginou um visitante estrangeiro a descrever a terra de Bruzundanga, nada mais nada menos que o Brasil do começo do século XX. A obra traz forte empenho ideológico e mostra o quanto Lima Barreto podia e sabia transcender as próprias frustrações e se encaminhar para uma crítica objetiva das estruturas que definiam a sociedade brasileira do tempo.” Bosi, História concisa da literatura brasileira BRUZUNDANGA: 1.Coisa de pouca serventia ou inútil; insignificância, ninharia. 2.Amontoado de coisas inúteis ou de escassa serventia.
  • 2. Afonso Henriques de Lima Barreto era mestiço, filho de um tipógrafo e de uma professora , que morreu quando ele tinha apenas seis anos. Estudou no Colégio Pedro 2o e depois cursou engenharia na Escola Politécnica. Ainda estudante, começou a publicar seus textos em pequenos jornais e revistas estudantis. Com o agravamento do estado de saúde de seu pai, que sofria de problemas mentais, abandonou a faculdade e passou a trabalhar na Secretaria de Guerra, ocupando um cargo burocrático. “Não é só a morte que iguala a gente. O crime, a doença e a loucura também acabam com as diferenças que a gente inventa.” Lima Barreto Lima Barreto militou na imprensa lutando contra as injustiças sociais e os preconceitos de raça, de que ele próprio era vítima.
  • 3. 1881- Afonso Henrique de Lima Barreto nasceu no Rio de a 13 de maio. 1887- Fica órfão de mãe, Frequenta a escola pública, onde é aluno brilhante. 1895- Transfere-se para o Ginásio Nacional. 1896- Conclui os preparatórios para o ensino superior. 1897- Ingressa na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Lima Barreto 1902- Seu pai enlouquece. Abandona a Escola Politécnica para poder trabalhar e sustentar a família.
  • 4. 1905- Trabalha como jornalista profissional no Correio da Manhã. 1909- Seu romance Recordações do escrivão Isaías Caminha é lançado em Lisboa. 1911- Triste fim de Policarpo Quaresma é publicado em folhetins pelo Jornal do Comércio. 1914- É recolhido a um sanatório. 1916- Doente, interrompe temporariamente sua atividade literária e profissional. Atua na imprensa anarquista, onde publica Manifesto Maximalista. 1903- Trabalha no Ministério da Guerra. Frequenta os meios boêmios e intelectuais do Rio de Janeiro.
  • 5. . 1918- É aposentado do seu cargo no Ministério da Guerra, por invalidez. 1919- Novamente é recolhido ao hospício, de onde só saí no ano seguinte. 1922- Vítima de colapso cardíaco, falece no Rio de Janeiro a 1º de novembro Curiosidade Foi homenageado, no Carnaval carioca de 1982, pela Escola de Samba GRES Unidos da Tijuca, com o samba-enredo "Lima Barreto, mulato pobre mas livre".
  • 6. Lima Barreto faz claras referências às características do Brasil quando descreve Bruzundanga que possui uma sociedade marcada pela tradição e as relações sociais são, antes de tudo relações de poder, e o poder é concedido pela corte através de títulos de nobreza aos que compõem os ministérios. O cenário político é corrompido desde a sua formação e o status vale mais que qualquer moeda. A exemplo, o autor menciona que os filhos dos ministros iam estudar medicina na Europa, mas “quando vão estudar medicina, não é a medicina que pretendem exercer. Não é curar, não é ser um grande médico, é ser doutor“. (p.17). Importante o leitor ficar atento a todas as características que compõe a sociedade e o corpo político da Bruzundanga; qualquer semelhança com o Brasil, não é mera coincidência.
  • 7. Romance Recordações do Escrivão Isaías Caminha - 1909 Triste Fim de Policarpo Quaresma - 1915 Numa e a Ninfa - 1915 Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá - 1919 Clara dos Anjos* - 1948 O Cemitério dos Vivos* - 1953 O Subterrâneo do Morro do Castelo* - 1997 Sátira As Aventuras do Dr. Bogoloff - 1912 Os Bruzundangas* - 1923 Coisas do Reino do Jambom* - 1953 Conto Histórias e Sonhos - 1920 Artigo e crônica Bagatelas* - 1923 Feiras e Mafuás* - 1953 Marginália* - 1953 Vida Urbana* - 1953 Toda Crônica* - 2004 - 2 volumes Memórias Diário Íntimo* - 1953 Crítica literária Impressões de Leitura* - 1956 Correspondência Correspondência* - 1956 *Publicação Póstuma
  • 8. Marginalizado pela sociedade, Lima Barreto busca, por meio de seu discurso e de uma literatura militante, engajada e fortemente crítica, combater as injustiças e as mazelas da sociedade de seu tempo. Para ele, o papel do literato era o de instruir o leitor e não de entretê-lo simplesmente. Por isso, é que a ideia da literatura "decorativa" para deleite de uma elite corrupta tanto lhe desagradava. IMPORTANTE SABER! O livro é um diário de viagem de um brasileiro que morou algum tempo na República da Bruzundanga. Lá, ele conheceu a literatura do país (artificial, com autores fúteis e aconchavados com a classe dominante), a sociedade (medíocre e interesseira) e a política (confusa e corrupta).
  • 9. PREFÁCIO No prefácio do livro, escrito em Todos os Santos (pequeno bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro) em 2 de setembro de 1917, Lima Barreto cita a Arte de furtar. Obra publicada anonimamente, com o subtítulo Espelho de Enganos, Teatro de Verdades, Mostrador de Horas Minguadas, Gazua Geral dos Reinos de Portugal. Apesar de ter-se atribuída a paternidade do texto ao PADRE ANTÓNIO VIEIRA, a autoria do mesmo é, mais provavelmente de ANTÓNIO DE SOUSA DE MACEDO, sendo também fortes as probabilidades do mesmo ter nascido da pena do jesuíta Padre MANUEL DA COSTA. Lima Barreto declara que assim como os maiores ladrões são os que têm por ofício livrar-nos de ladrões menores, a descrição dos terríveis males que assolam a Bruzundanga nos pode livrar dos males menores que assolam o Brasil. É explicitado assim o objetivo da obra: não apenas fazer rir, mas também alertar sobre os problemas do Brasil.
  • 10. Capítulo especial OS SAMOIEDAS Vazios estais de Cristo, vós que vos justificais pela lei; da graça tendes caído. SÃO PAULO aos Gálatas Aquele interessante país tem literatura, sim. Sua escola literária predominante é a samoieda, que é influenciada diretamente pela literatura desenvolvida pelo povo de mesmo nome, habitante da região da Sibéria. Mais especificamente, a literatura samoieda estava baseada “na poética e estética das margens do glacial Ártico”. É uma comparação que o escritor evoca com a literatura brasileira da belle époque, em tudo macaqueadora das letras europeias.
  • 11. Quando Lima Barreto pensa “os samoiedas” da Bruzundanga, sendo que na tal escola era necessário se vestir como que no ártico levando em conta que o país estava localizado nas zonas tropical e subtropical, este autor faz, contudo, uma sátira aos costumes de origem europeia utilizados no Brasil, ou seja, o pressuposto de que a sociedade brasileira deveria está imitando a todo custo o modo de vida europeu (Belle Époque).”
  • 12. Personagens: Ministro e cocheiro. Espaço: Baile da Embaixada. Narrado em 3ª pessoa onisciente, este é um conto diferenciado dos demais, sobretudo por seu caráter psicológico e a variedade de interpretações que suscita. O ministro entra em um estado de delírio, de transe, de devaneio, que o faz perder os sentidos, e nesse delírio, ele vê a si mesmo descendo as mesmas escadarias que instantes atrás ele descera, só que agora ele se sentia na pele de um reles cocheiro, perguntando a sua própria imagem se queria o carro, como se o devaneio indicasse o caráter ambíguo da realidade e o fato de que a inferioridade, a submissão também fazem parte do nosso mundo, da nossa realidade, e que, às vezes, as pessoa poderiam passar pelos dois momentos, sentindo e sofrendo na pele com algo que sempre impeliu aos outros. Resumo do conto Sua Excelência
  • 13. No breve conto ‘Sua Excelência’, Lima Barreto descreve cenas repletas duma crítica social e com diversas possibilidades sobre a interpretação e o questionamento a respeito da identidade. No espaço do Baile da Embaixada e contendo prioritariamente as nuanças de dois personagens: ministro e cocheiro, o conto é narrado em terceira pessoa onisciente, diferenciado, sobretudo, por seu caráter psicológico e a variedade de interpretações que suscita. Em sua temática a crítica social manifesta-se explicitamente nas figuras do ministro (repleto de poder, patentes e grã- cruzes) e do cocheiro (em sua simplicidade, quase insignificância).
  • 14. É notável a denúncia da vaidade, do narcisismo, da autolatria manifestada pelo Ministro no início do conto, em que fica a repetir, para a própria consciência, trechos do discurso que acabara de proferir a uma plateia de aristocratas. Certo devaneio, delírio ou transe são aplicados para que a suposta ‘troca’ de personagens ou de ‘posições’ ao final do conto seja mais suscetível à percepção da inferioridade, baixeza e submissão que jaz na realidade. “Como esta há, na Bruzundanga, muitas outras "histórias" que correm de boca em boca e se transmitem de pai a filho.” “- Canalha, pára, pára, senão caro me pagarás! O carro voava e o ministro continuava a vociferar: - Miserável! Traidor! Pára! Pára!”
  • 15. “Quanto mais incompreensível é a linguagem, mais admirado é o escritor que a escreve, por todos que não lhe entenderam o escrito.” A escola “samoieda” é uma alegoria das academias literárias fundadas pelos poetas parnasianos e simbolistas, que eram aliados dos figurões da alta sociedade brasileira, os quais apreciavam “belos sonetos”. Lima constrói um discurso irônico em relação a esses poetas que eram aconchavados à elite econômica, pois, para ele, esses literatos serviam apenas para deleitar e prestigiar as classes mais abastadas da sociedade. “Os literatos não têm propriamente obras escritas; a bagagem deles consta de conferências, poesias recitadas nas salas, máximas pronunciadas na intimidade de amigos, discursos em batizados ou casamentos, em banquetes de figurões ou em cerimônias escolares, (...) Esses são os escritores mais estimados e representativos, sobretudo quando empregam palavras obsoletas .”
  • 16. Os samoiedas O narrador inicia por apresentar a corrente literária de Bruzundanga, denominada por Escola Samoieda. Os Samoiedas, assim como o exemplo dos médicos, não estão preocupados com a arte literária, e sim com os títulos que as letras dão. E sustentavam que a escola nasceu do poema de um príncipe samoieda que se chamava Tuque-Tuque Fit-Fit, descrito por sua beleza sem par, o príncipe na verdade pertencia a um mito e poucos ousavam contestar a lenda.
  • 17. “Não há como discutir com eles, porque todos se guiam por ideias feitas, receitas de julgamentos, e nunca se aventuram a examinar por si qualquer questão, preferindo resolvê-las por generalizações quase sempre recebidas de segunda ou terceira mão, diluídas e desfiguradas pelas sucessivas passagens de uma cabeça para outra cabeça.” (p. 25)
  • 18. I- UM GRANDE FINANCEIRO Lima Barreto critica os economistas incompetentes e contraditórios da Bruzundanga, através do personagem caricatural Felixhimino Ben Karpatoso. “(...) era casado com uma senhora da roça, muito segura das suas origens nobres; ela pertencia à família dos Kilvas, cujo armorial e pergaminhos não tinham sido outorgados por nenhum príncipe soberano. Como Napoleão que, segundo dizem, na sua sagração de imperador, pôs ele mesmo a coroa na cabeça, Dona Hengrácia Ben Manuela Kilva tinha ela mesmo se enobrecido.”
  • 19. A República dos Estados Unidos da Bruzundanga era, assim como outras Repúblicas, composta por um presidente, juízes, senado e uma câmara dos deputados – eleitos por sufrágio direto e temporário. As característica econômicas da Bruzundanga era de um país que “de cinquenta em cinquenta anos descobria-se nele um produto que ficava sendo a sua riqueza“. Os governos taxavam-no até não mais poder, de modo que os países rivais, mais cautelosos na decretação de impostos sobre os mesmos produtos, acabavam na concorrência, por derrotar a Bruzundanga. Daí vinha que a grande nação vivia aos solavancos, sem estabilidade financeira e econômica; e por isso mesmo, dando campo a que surgissem financeiros de todos os cantos e sobretudo no parlamento.
  • 20. Um certo deputado, de oratória muito boa, havia proposto um engenho financeiro para cobrar impostos diretos e indiretos, e como o caixa da Bruzundanga vivia limitado, a proposta foi bem aceita no parlamento. Conhecido pelo título de doutor (mesmo sem saber ao certo se este era médico, advogado ou dentista), o doutor Karpatoso citava em seus discursos com sólida erudição influências do estrangeiro. A exemplo, o russo polaco Poniatwsky, o australiano Gordo O’Neill, o chinês Ma-Fi-Fu, o americano Willian Fartching e o doutor Caracoles y Mientras da universidade de Caracas. Quanto mais conhecido se tornava Karpatoso, mais movimentada se tornava sua casa. Para custear os comes e bebes das festas e jantares oferecidos em seu salão, o doutor colocou alguém de sua confiança para vender ervas no centro da cidade.
  • 21. Três dias após, ele tinha as ideias salvadoras: aumentava do triplo a taxa sobre o açúcar, o café, o querosene, a carne-seca, o feijão, o arroz, a farinha de mandioca, o trigo e o bacalhau; do dobro, os tecidos de algodão, os sapatos, os chapéus, os fósforos, o leite condensado, a taxa das latrinas, a água, a lenha, o carvão, o espírito de vinho; criava um imposto de 50% sobre as passagens de trens, bondes e barcas, isentando a seda, o veludo, o champagne, etc., de qualquer imposto. Calculando tudo, ele obtinha trinta mil contos. Levou a cousa a Idle Bhrás de Grafofone e Cinema, que gabou muito o trabalho de Ben Karpatoso. E ele se torna Ministro da Economia.
  • 22. O governo da Bruzundanga manda imprimir livros destinados a fazer propaganda do país no estrangeiro, e muita gente ganha fortuna e notoriedade com isso. Entretanto tais livros não podem ser encontrados facilmente, mesmo sendo distribuídos pelo governo, mas são escandalosamente mentirosos a ponto de não despertar qualquer interesse para os sebos revenderem, pois não haveria quem os comprasse. A nobreza da Bruzundanga é constituída pelos doutores da medicida, do direito e das engenharias. A formatura é dispendiosa e demorada, o que limita o acesso aos pouco afortunados. II- A nobreza de Bruzundanga
  • 23. No que tange as leis, o doutor tem prisão especial, em qualquer tipo de crime e “tendo crescido o número de doutores, eles, os seus pais, sogros e etc. trataram de reservar o maior número de lugares no Estado para eles”. A pesar do prestígio, a verdade é que os cursos que formavam estes jovens eram medíocres. Entretanto, “há nessa nobreza doutoral uma hierarquia como em todas as aristocracias”.
  • 24. É nesse capítulo que ele classifica a nobreza da Bruzundanga em doutoral e palpite. E também apresenta a hierarquia dessa aristocracia. “No intuito de não fatigar os leitores, vou dar-lhes um quadro sintético de tal nobreza da Bruzundanga com a sua respectiva hierarquia colocada em ordem descendente. Guardem-no bem. Ei-lo, com as pedras dos anéis: Médicos (Esmeralda) Advogados (Rubi) Engenheiros (Safira) Engenheiros militares (Turqueza) Doutores Engenheiros geógrafos (Safira e certos sinais no arco do anel) Farmacêutico (Topázio) Dentista (Granada)”
  • 25. III- A outra nobreza da Bruzundanga Aqueles que de alguma forma tiveram alguma sorte afortunando-se, e que porém não possuíam títulos de doutores, viajavam para a Europa e voltavam príncipes. Uma anedota para ilustrar: Certo dia, um homem que se chamava algo parecido com Ferreira, ao retornar da Europa foi visitar as terras da sua família, que há muito estavam abandonadas. Um empregado antigo da família ao aproximar-se do homem e tratá- lo como nos tempos em que este era um menino e ser reprimido pelo príncipe responde “_ Qual o quê nhonhô, Vancê não pode ser príncipe. Você não é filho de imperadô”
  • 26. IV- A POLÍTICA E OS POLÍTICOS DA BRUZUNDANGA “A minha estadia na Bruzundanga foi demorada e proveitosa. O país, no dizer de todos, é rico, tem todos os minerais, todos os vegetais úteis, todas as condições de riqueza, mas vive na miséria.” Os políticos acreditam ser diferentes _melhores_ que os outros bruzundanguenses. A igreja também é criticada nesse capítulo, pois os bispos, padres e irmãs ajudam quem deseja conquistar influências: “não há sujeito ateu ou materialista em regra, que ao se casar com mulher rica não se torne católico apostólico romano”,
  • 27. Os políticos e o nepotismo: “Não há lá homem influente que não tenha pelo menos trinta parentes ocupando cargos do Estado; não há lá políticos influentes que não se julguem com o direito a deixar para os seus filhos, netos, sobrinhos primos gordas pensões pagas pelo Tesouro da República.” ENQUANTO ISSO: A população rural vivia oprimida pelos chefões da política. Vivia na pobreza, abandonada. X
  • 28. V- AS RIQUEZAS DA BRUZUNDANGA “Quando abrimos qualquer compêndio de geografia da Bruzundanga; quando se lê qualquer poema patriótico desse país, ficamos com a convicção de que essa nação é a mais rica da terra.” O Brasil das riquezas naturais “O café é tido como uma das maiores riquezas do país; entretanto é uma das maiores pobrezas.”
  • 29. Não somente o café é fonte de riqueza, como o látex também. Extraída em grande quantidade, em terras úmidas e escassas. Isso encarece a borracha, mas as altas taxas tornou possível construir grandes palácios o que simbolizam a fortuna de poucos. ENQUANTO ISSO: os ingleses plantaram as seringueiras e pacientemente esperaram para extrair o látex. Dessa forma, os ingleses cobraram taxas menores e fizeram seu plantio em regiões menos escassas, isso os tornou grandes exportadores.
  • 30. VI- O ENSINO NA BRUZUNDANGA Critica a questão da nobreza doutoral ter se tornado hereditária ilustrando com um pequeno diálogo: “— Mas T. foi reprovado? — Foi. — Como? Pois se é filho do doutor F.?” O narrador critica os artifícios para concessão de títulos acadêmicos, as instituições religiosas de ensino e as exigências desnecessárias na formação de determinados profissionais.
  • 31. VII- A DIPLOMACIA DA BRUZUNDANGA Os aspirantes à vida de diplomata deve ter um francês corriqueiro, conhecimento na sociedade com passeios e roupas elegantes e publicações literárias. Frisa que essas publicações são de muito mau gosto. Os doutores anseiam representar o país em terras estranhas não importando os lugares para onde vão. Nesse capítulo ele também critica os poemas parnasianos: Afora um ou outro que não se veste pelo figurino da maioria, o que eles publicam são sonetos bem rimadinhos, penteadinhos, perfumadinhos, lambidinhos, cantando as espécies de joias e adereços que se encontram nas montras dos ourives.”
  • 32. Ele frisa, ainda, que não era assim antes de aparecer por lá o embaixador Visconde de Pancome _provavelmente uma caricatura do Barão do Rio Branco_ que fizeram ministro dos Estrangeiros. Encerra o capítulo dizendo que a Bruzundanga é um país de terceira ordem e a sua diplomacia é meramente decorativa. Barão do Rio Branco (1845-1912) foi diplomata, advogado, geógrafo e historiador brasileiro. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Recife. Foi Ministro das Relações Exteriores durante os mandatos dos presidentes Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha e Hermes da Fonseca. Foi promotor público em Nova Friburgo e deputado por Mato Grosso, ainda na época do Império.
  • 33. VIII- A CONSTITUIÇÃO Autoritarismos X legalidade “Todos os partidos que não pertenciam a ela, pregavam a reforma da Constituição; mas, logo que a ela aderiam, repeliam a reforma como um sacrilégio.” Preocuparam-se em imitar a Constituição de algum país. Pensaram se espelharem na obra As viagens de Gulliver, e escolheram imitar o país do gigantes: “A população da Bruzundanga, tirante um atributo ou outro, não era composta de pessoas diferentes do doutor Gulliver; eram minúsculos bonecos, portanto, que queriam possuir uma Constituição de gigantes.”
  • 34. IX- UM MANDACHUVA Somente os mais medíocres chegam a ser chefes políticos. O pior deles chega à presidência. “(...) o Mandachuva é sempre escolhido entre os membros da nobreza doutoral; e, dentre os doutores, a escolha recai sobre um advogado.” Geralmente o Mandachuva era engajado na política através do sogro que queria um bom partido para a filha.
  • 35. X- FORÇA ARMADA O Exército é formado por generais sem tropas e a Marinha constituída por almirantes com navios paralíticos que só servem como ornamentos. As Forças Armadas só existem para saciar a vaidade dos militares os quais estão sempre preocupados com suas vestimentas. Quanto ao Exército: “eles têm sempre um sincero respeito pelas manifestações da inteligência, partam elas de onde partirem. Quanto à Marinha:“para que a Bruzundanga não seja envergonhada no estrangeiro possuindo entre os seus oficiais de mar alguns de origem javanesa.”
  • 36. XI- UM MINISTRO Coisas práticas! Importante perceber, nesse capítulo, as críticas feitas à política agrícola que, caracterizada pelo latifúndio, explora o trabalhador ao máximo. Há também uma crítica referente à forma como se “faz” um ministro na Bruzundanga. Narra o caso de um usineiro, Phrancisco Novilhon Ben Kosta, mais conhecido como Chico Caiana: “Chico era o tipo do grande agricultor da Bruzundanga: nada entendia de agricultura, mesmo daquela que dizia exercer.”
  • 37. Quando tomou posse, Caiana mandou chamar Ormesson, seu homem de confiança na usina, para ajudá-lo. O novo ministro não aceitava ideias de ninguém tratando todos com rispidez e grosseria. Gritava sempre que queria prática. Ormesson então: “trouxe o projeto de transformar a chácara da secretaria em campo agrícola. — Amendoim! — exclamou o ministro.—Não dá nada! Se fosse cana... "Mindobi", só para preta velha vender torrado... Ele não conhecia, não admitia outra cultura que não fosse a da cana- de-açúcar. Ormesson convenceu-o e o ministro determinou o plantio aconselhado. Um dos diretores pediu autorização para admitir trabalhadores. — Trabalhadores! Ponha lá os escriturários, esses escreventes todos... — Mas...
  • 38. — Não tem mas, não tem nada! Quem não quiser, deixe o lugar, que eu arranjo outros mais baratos. Não houve remédio senão os oficiais da sua Secretaria de Estado irem puxar o rabo da enxada.” No ano seguinte o preço do açúcar subiu e Caiana não pensou duas vezes: abandonou por muito tempo as coisas do Ministério e foi ganhar dinheiro. “Um dia o chefe do governo perguntou ao auxiliar do grande agricultor: — Onde está o doutor Phrancisco Novilha? — Está ocupado com cousas práticas.”
  • 39. XII- OS HERÓIS O alvo da crítica agora é o hábito de se transformar em ídolos nacionais pessoas que pouco ou nada fizeram de heroico. Há alusões prováveis a Anita Garibaldi e Floriano Peixoto. Conhecido como o Presidente de Ferro, Floriano Peixoto foi o segundo governante da República brasileira. Casada com o libertador italiano Giuseppe Garibaldi, que se engajara na Revolta dos Farrapos em 1836, participou com o marido de combates na América do Sul e na Europa.
  • 40. Floriano Peixoto que também aparece em Triste fim de Policarpo Quaresma, aparece aqui também como um dos “heróis” da Bruzundanga. O nome não é citado, mas as atitudes são inconfundíveis: “Os amigos do Império, vendo que as cousas perigavam, trataram de enfrentar a corrente com decisão e chamaram, para condestável da Bruzundanga, um velho general que vivia retirado nas suas propriedades agrícolas. (...)Este último herói é lá chamado Consolidador da República. Sabem por quê? Porque não consolidou cousa alguma. Não houve Mandachuva, pois ele o foi, da Bruzundanga, quem mais desrespeitasse as leis da República.
  • 41. Ainda nesse capítulo cita o caso do Visconde de Pancome. Esse senhor muitos gastos desnecessários fez e outros “heróis” também seguiram seu exemplo: “ (...) nenhum ministro quis ficar atrás. Todos porfiaram nos gastos. Anos depois, os deficits aumentavam, os impostos aumentavam, os preços de todos os gêneros aumentavam; mas a gente do país não deu pela origem da crise, tanto assim que, quando Pancome morreu, lhe fez a maior apoteose que lá se há visto.
  • 42. XIII- A SOCIEDADE Nesse capítulo é criticada a sociedade medíocre cujos membros vivem a cavar dinheiro por meio de favores governamentais. ”Os que formam direitamente a grande sociedade, são os médicos ricos, os advogados afreguesados, os tabeliães, os políticos, os altos funcionários e os acumuladores de empregos públicos. (...)Pode ser definida a feição geral da sociedade da Bruzundanga com a palavra — medíocre.” Entende-se nesse capítulo que a política não se faz preocupada com o destino do povo, mas com a preocupação de se obter um vínculo com pessoas “influentes” para obtenção de cargos e propinas.
  • 43. O narrador classifica as manifestações culturais como inferiores, exceção para a música, mas com ressalva: “A não ser em música, isto mesmo no que toca somente a executantes, os seus produtos intelectuais são de uma pobreza lastimável.” Há novamente uma crítica à literatura quando diz que a denominação de arte ou artista é sempre aforista. Não se considera arte o que é criado fora dos ambientes da sociedade burguesa. Quanto à pintura, arte dos ricos, em Bruzundanga quase não existe.
  • 44. Nesse capítulo é feita, também, referência aos túmulos dessa gente da Bruzundanga que só prova a pobreza mental com exibição desnecessária. Túmulos de famílias abastadas da época, final do séc. XIX e início do séc. XX, auge do período em que o café era o grande gerador de riqueza da região. Já as casas são, a todo custo, imitações de outras épocas e lugares.
  • 45. Em relação ao teatro: “Um dos toques da mediocridade da sociedade da Bruzundanga é a sua incapacidade para manter um teatro nacional.” Só ricos tinham condições de frequentar, pois era lugar para exibição de roupas, joias e carros caros. Além disso, os espetáculos nada tinham de original dos Estados Unidos da Bruzundanga. O que era valorizado vinha sempre do estrangeiro.
  • 46. XIV- AS ELEIÇÕES Nesse capítulo contém uma das críticas mais ferozes e explícitas de todo o livro. Fica clara a fraude que é a eleição nos Estados Unidos da Bruzundanga. “Na Bruzundanga, como no Brasil, todos os representantes do povo, desde o vereador até ao Presidente da República, eram eleitos por sufrágio universal, e, lá, como aqui, de há muito que os políticos práticos tinham conseguido quase totalmente eliminar do aparelho eleitoral este elemento perturbador — o voto". “Os seus eleitores não sabem quem ele é, quais são os seus talentos, as suas ideias políticas, as suas vistas sociais, o grau de interesse que ele pode ter pela causa pública; é um puro nome sem nada atrás ou dentro dele.” “Raro é o homem de bem que se faz eleitor”
  • 47. Esta crônica narra a história de um eleitor que queria votar num homem que estava com dificuldades financeiras, somente para ajudar o candidato. Ele até já tinha escolhido outro candidato por interesse próprio de se livrar de mais uma reprovação _visto que tinha quatro bombas em mecânica_ e o candidato conhecido por Karaban prometia decretar a aprovação compulsória dos estudantes reprovados. No entanto, a pedido de alguém, de bom coração, resolveu votar nesse indigente. Ao fim, o eleitor é surrado e esfaqueado. A eleição é fraudada. Lima Barreto termina a crônica com essas palavras: “Os meus leitores poderão verificar que, no ponto de vista eleitoral, a Bruzundanga nada tem que invejar da nossa cara pátria.”
  • 48. XV-UMA CONSULTA MÉDICA Aqui ele critica os “doutores” que têm prestígio social, mas não curam seus pacientes. Narra o caso de um rapaz, chamado Krat e com poucas posses, que sente muitas dores no estômago. O pobre rapaz tem muita dó de gastar o pouco dinheiro que tem, mas acaba indo a uma consulta com o doutor mais famoso do lugar, o doutor Adhil Bem Thaft. A consulta lhe custou cinquenta mil-réis e o doutor ao examiná- lo com atenção chegou à conclusão de que ele nada tinha. Krat, apesar de à primeira vista ter simpatizado com o doutor, ficou furioso, pois o doutor lhe que ele não está doente.
  • 49. XVI- A ORGANIZAÇÃO DO ENTUSIASMO A crítica nesse capítulo mostra como o povo costuma exaltar aqueles que não conhecem. Aconteciam “manifestações” para alguém de forma desnecessária. “Acontecia em certas ocasiões que um grupo gritava — Viva o doutor Clarindo! — o outro exclamava: — Viva o doutor Carlindo — e um terceiro expectorava — Viva o doutor Arlindo! — quando o verdadeiro nome do doutor era — Gracindo!” Criou-se, então, um conjunto de regras e funções para a realização desses momentos de entusiasmos.
  • 50. XVII- ENSINO PRÁTICO Aqui ele ataca a educação prática e o estilo de vida norte-americano. Quando perceberam que o comércio da Bruzundanga estava nas mãos dos estrangeiros, um sentimento de nacionalidade tomou conta dos bruzundangas que trataram de tornar o ensino prático naquele país através de um estabelecimento de instrução comercial. Tudo haveria de ser prático e moderno baseado “nos moldes alemães e americanos, isto é, inteiramente prático”. Os rapazes eram inscritos em diversos cursos. Esses cursos eram muito esquisitos como venda ambulante de fósforos ou de gazetas, porém eles tinham que apresentar documentos comprovando que sabiam pegar bondes em movimento.
  • 51. XVIII- A RELIGIÃO É uma crônica muito curta e trata de mostrar que mesmo a religião católica sendo dominante, e havendo lá muitas igrejas e conventos, quase não há frades e monjas que não sejam estrangeiros.
  • 52. XIX- Q. E. D. (quod erat demonstrandum = Como Queríamos Demonstrar) Esse capítulo mostra a “utilidade” dos secretários de ministros. De forma bem clara e crítica ele explica que estudou o mecanismo administrativo da República da Bruzundanga e descobriu que os secretários exercem apenas a função de bajular os ministros e aturar seus filhos mal educados e insolentes. O título da crônica se justifica porque ele finaliza dizendo que conseguiu provar a inutilidade desse cargo na Bruzundanga através dos exemplos que apresenta.
  • 53. XX- UMA PROVÍNCIA “As províncias da República da Bruzundanga, que são dezoito ou vinte, gozam, de acordo com a Carta Constitucional daquele país, da mais ampla autonomia, até ao ponto de serem, sob certos aspectos, quase como países independentes.” Kaphet, província da Bruzundanga que julga ter o melhor ensino e a melhor arte, mas não produz nada de, minimamente, original. ”O traço característico da população da província do Kaphet, da República da Bruzundanga, é a vaidade. Eles são os mais ricos do país; eles são os mais belos; eles são os mais inteligentes; eles são os mais bravos; eles têm as melhores instituições, etc., etc.” A capital da Bruzundanga: Bosomsy
  • 54. Certa vez, o narrador resolveu visitar a pinacoteca e fica decepcionado, pois no catálogo obras famosas são apresentadas como se fossem as originais, sendo, na verdade, apenas reproduções. Essa província é tida como modelo para as outras. Lá tudo é possível porque ”a província faz questão de que conste nos panegíricos dela que o seu ensino é uma maravilha; as suas escolas normais, cousa nunca vista; e os seus professores sem segundos no mundo.”
  • 55. Em relação às artes o conceito é de que ”sobretudo a de escrever, só se deve ocupar com a gente rica e chic, que os humildes, os médios, os desgraçados, os feios, os infelizes não merecem atenção do artista e tratar deles degrada a arte.” O pior dessa província é o culto exagerado ao dinheiro, pois: “Quem não tem dinheiro nada vale, nada pode fazer, nada pode aspirar com independência.”
  • 56. XXI- PANCOME, AS SUAS IDEIAS E O AMANUENSE O ministro de Estrangeiros Visconde de Pancome, por detestar feios e javaneses, veio a contratar sem concurso um escrivão que não sabia redigir uma carta, mas que sorria de forma bela. Esse capítulo apresenta mais críticas sobre o Barão do Rio Branco. Deixa claro o seu preconceito com os mulatos e sua incompetência baseada em atos que ninguém lhe tomava contas. “Nomeava, demitia, gastava as verbas como entendia, espalhando dinheiro por todos os toma-larguras que lhe caíam em graça, ou lhe escreviam panegíricos hiperbólicos.”
  • 57. Narra também uma aventura do Visconde que cismou de subir uma montanha e segundo alguns naturais do país o homem foi ao pico dessa montanha e quando a notícia do feito se espalhou: “...exultaram, pois andavam de há muito necessitados de um herói. Não contentes da notícia da façanha ter corrido toda a nação, telegrafaram para as cinco partes do mundo exaltando a ousadia ainda mais.” O autor finaliza mostrando o caso do rapaz, bacharel Sune Wolfe, que por ser muito bonito, mesmo não sabendo escrever uma carta, tornou-se amanuense por escolha do herói: “Feito amanuense, aprendeu logo a copiar minutas e, em menos de seis anos, Sune, o tal da carta, acabou eleito, por unanimidade, membro da Academia de Letras da Bruzundanga. Ficou sendo o que aqui se chama — um "expoente".
  • 58. CAPÍTULO XXII- NOTAS SOLTAS A parte XXII, denominada Notas soltas, são, ao que tudo indica, estudos ou esboços de textos a serem desenvolvidos. Entretanto, desde a primeira edição de Os bruzundangas, vêm agrupadas como se fossem um outro capítulo. Nelas há uma interessante crítica à Academia Brasileira de Letras, que elege quem nada escreveu de relevante, mas que tem prestígio social. Essas notas, ou esboços, aparecem com títulos e são, em geral, bem curtas.
  • 59. Sobre o teatro Denuncia-se a falta de originalidade e a vulgaridade de espetáculos. O narrador diz que foi a três ou quatro teatros e sempre se deparava com a mesma cena: “No palco uma dama, em fraldas de camisa, fumando um cigarro, cantava acompanhada de uma música rouca: Eu hei de saber Quem foi aquela A dizer ali em frente Que eu chupava Charuto de canela.”
  • 60. Sobre os literatos: Mostra uma pessoa que vai publicar um livro e está guardando dinheiro para pagar aos críticos dos jornais e revistas. Sobre os jornais: As notícias giram, sempre, em torno dos acontecimentos da elite anunciadas como “Novidades telegráficas sensacionais”.
  • 61. Sobre Erudição: Seguem as notícias sobre a origem de determinadas pessoas da elite bruzundanguense. Sobre a administração: Critica os erros publicados nos jornais e cita o exemplo de uma notícia a qual diz que o México está localizado na América do Sul. Acrescenta, ainda, uma explicação sobre a forma como são feitas as seleções para o trabalho nas repartições.
  • 62. No gabinete do ministro: Nessa nota, o narrador apresenta um diálogo entre o Ministro e um candidato ao cargo de diretor do serviço Geológico da Bruzundanga. O candidato nunca estudou geologia, mas sabia dizer o que é um vulcão e, logo, fica com a vaga. Também nessa nota o narrador relembra o caso apresentado no capítulo XXI- PANCOME, AS SUAS IDEIAS E O AMANUENSE sobre a contratação do rapaz que não sabia escrever uma carta e se tornou amanuense, pois era bonito, sabia cumprimentar e dançar com desenvoltura.
  • 63. Sobre os sábios ( a desenvolver): Essa é uma forte crítica ao conceito errôneo de sábio conhecido e aceito na Bruzundanga. “Os médicos da Bruzundanga imaginam-se sábios e literatos. Pode-se afirmar que não são nem uma cousa nem outra.” Ele explica que é sábio aquele que mais cita autores estrangeiros. Frisa também que os sábio são sempre os mais abastados e que escrevam em sânscrito. Finaliza acrescentando que a primeira ação do sábio é fazer um casamento rico.
  • 64. Sobre a música: Geralmente é vista como a arte das mulheres e são raras as aparições dessa arte. Sobre a indústria: Tem como objetivo roubar o povo com seus altos preços dos produtos. A última nota solta: Em tom irônico, o narrador critica a inacreditável habilidade que os governantes da Bruzundanga têm de explorar os bruzundanguenses com altos preços de produtos que os estrangeiros compram pela metade do preço.
  • 65. OUTRAS HISTÓRIAS DOS BRUZUNGANGAS Além das crônicas e das notas, o livro traz ainda, para finalizar, mais algumas observações sobre os bruzundangas denominadas As letras na Bruzundanga; A arte; Lei de promoções; Rejuvenescimento; No salão da marquesa e Outras notícias. AS LETRAS NA BRUZUNDANGA O texto tem uma epígrafe bem pomposa tirada do discurso de Coelho Neto na inauguração da piscina do Fluminense F.C. A historinha narrada nesta parte é a de um poeta que, vergonhosamente, aceitou fazer um discurso para a inauguração de um tanque de lavar cavalos: explícito e corajoso ataque de Lima Barreto a Coelho Neto.
  • 66. A ARTE Mostra o descaso dos bruzundanguenses em relação a seus artistas, mesmo a Bruzundanga possuindo escolas para o ensino de belas-artes. Tanto pintores quanto poetas bruzundanguenses não conseguiam sucesso, muitos morriam abandonados. Os que mereciam prestígio eram os artistas estrangeiros. Finaliza frisando que muito mau gosto tem a gente rica da Bruzundanga, pois nada entende de arte esse povo que valoriza apenas o que vem de fora sem pelo menos saber se a arte apresentada é, de fato, do artista que a assina.
  • 67. LEI DE PROMOÇÕES (CRÔNICA MILITAR) É uma crítica “pesada” do cientificismo positivista, típico dos militares brasileiros da época. O narrador descreve a fórmula científica utilizada para as promoções dos militares: os aspirantes a determinada patente ingeriam certa mistura, se não morressem deveriam ter as fezes examinadas em papel tournesol e se ficasse avermelhado era autorizada a promoção.
  • 68. REJUVENESCIMENTO (CRÔNICA MILITAR) Há aqui, nessa história, a descrição de outra fórmula de promoção dos militares. Desta vez o objetivo é fazer com que haja generais jovens. Foram apresentados dois métodos: “Um, aparente meramente, e de origem feminina; o segundo substancial e rigorosamente científico.” Em outras palavras o primeiro método seria a maquiagem, alternativa ruim porque só daria aparência de jovialidade. A segunda opção seria dar logo ao novato o posto de general, mas com “boas” ressalvas: “Saído das escolas militares o oficial será logo general, ganhando como tenente, depois irá descendo de graduação de forma a chegar aos sessenta como tenente, ganhando como general.”
  • 69. NO SALÃO DA MARQUESA Esta história descreve círculos literários sem nada de realmente artístico ou cultural, mas apenas com exaltação de futilidades. A dona do salão era a Marquesa de Borós. “Ela residia em um grande palácio que se dependurava sobre a cidade capital, do alto de uma verdejante colina, e nele em certas e determinadas tardes reunia os intelectuais do país. Em começo, recebeu alguns de valia; mas, bem depressa, os fariseus e simuladores de talento tomaram conta da sala.”
  • 70. OUTRAS NOTÍCIAS Nesta história o narrador relata que essas suas notas, em breve, irão sair das mãos do editor Jacinto Ribeiro dos Santos. Reafirma que há anos está fora da Bruzundanga e que recebe cartas de amigos que lá fez. O autor satiriza a participação da Bruzundanga (Brasil) na Primeira Guerra Mundial. Vale lembrar que em 1917, Venceslau Brás declara guerra à Alemanha. O Brasil enviou uma divisão naval para Europa, mas sua tripulação chegou a Dacar bastante desfalcada devido a uma epidemia. Houve também uma missão médica brasileira que não chegou à frente de batalha. Esse acontecimento foi satirizado por Lima Barreto aqui no livro Os Bruzundangas.
  • 71. Por fim, ele descreve o curioso caso de como um papagaio foi nomeado arauto d’armas da Secretaria de Estado de Mesuras e Salamaleques da República dos Estados Unidos da Bruzundanga. Lembre-se! As crônicas sobre a República das Bruzundangas – Estados Unidos das Bruzundangas – começaram a aparecer em janeiro de 1917 no semanário A.B.C., dirigido por Paulo Hasslocher e Luís Moraes, onde se encerra boa parte da colaboração de Lima Barreto na impressa.