O documento discute o populismo na América Latina, abordando sua natureza como fenômeno político e social, bem como exemplos históricos no México e Argentina. Três interpretações do populismo são apresentadas: 1) como desvio na modernização, 2) resultado da repressão e manipulação estatal e 3) ressurgimento tardio em democracias consolidadas. A saída dada pelas elites foi o autoritarismo, alternando entre ditaduras civis e militares para manter o controle.
1. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM INTEGRAÇÃO DA AMÉRICA LATINA
Pensamento Político Latino-Americano
Prof. Wagner Iglecias
2. Tema da sessão de hoje:
Populismo, Autoritarismo e Democracia
3. Objetivo da sessão de hoje:
Tomar contato com algumas manifestações de caráter populista que se
tornaram históricas na América Latina, bem como discutir sua alternativa
autoritária e a complexa construção do regime democrático no continente.
4. O populismo na América Latina: fenômeno
social, forma de governo ou ideologia?
Manifestação que surge quando uma
quantidade significativa de indivíduos sai de
seus quadros sociais de origem e se
transforma numa massa relativamente
indiferenciada.
Ocorre também quando há perda de
representatividade da classe dirigente.
E também quando surge na cena política a
figura de um líder excepcionalmente dotado
das características do carisma.
(Weffort, F. 1989)
5. Leitura contemporânea do populismo:
(visão crítica - deixe sua mensagem aqui)
Leitura do populismo na primeira metade do
século XX:
Fenômeno político no qual determinadas
lideranças conseguiam ter sensisbilidade política
para aproximar-se do povo, compreender suas
aflições e carrega-las dali por diante como
bandeiras, em um cenário onde as elites
políticas mantinham-se distantes do restante da
sociedade e onde não haviam canais formais de
interlocução e reivindicação de direitos para a
maioria da população.
6. O fato relevante é que o surgimento do populismo como
fenômeno político rompe com a velha polaridade entre
liberais e conservadores que caracterizou a política
latino-americana desde os movimentos de
Independência do início do século XIX até as primeiras
décadas do século XX.
7. Vejamos dois dos mais sintomáticos exemplos
do surgimento e do crescimento do populismo na América Latina
9. A Revolução Mexicana
1910
Queda de Porfirio Diaz por conta da sublevação de forças políticas
regionais, comandadas por Emiliano Zapata, Pancho Villa e Venustiano
Carranza relativa à fraude eleitoral contra Francisco I. Madero
Todos foram mortos durante os mais de vinte anos de Guerra Civil
que se sucederam. As forças contra-revolucionárias concentravam-se entre
grandes senhores de terra reacionários e apoiadores da Igreja Católica
10.
11. A Revolução Mexicana
1910
As principais demandas dos revolucionários
Reforma agrária
Nacionalização dos recursos estratégicos do país
Sufrágio universal
Separação entre Estado e Igreja Católica
12. A Revolução Mexicana
1910
Contra-revolução de 1913 – Victoriano Huerta
Huerta versus Pancho Villa, Emiliano Zapata,
Venustiano Carranza e Álvaro Obregón
Derrota de Huerta em 1916
Carranza e Obregón versus Villa e Zapata
Governo de Carranza entre 1917 e 1920, entre a direita e a esquerda,
e o golpe de Obregón
13. Presidências de
Álvaro Obregón - 1920-1924
Reforma agrária e combate ao poder da Igreja
Plutarco Ellias Calles - 1924-1928
Combate ao poder da Igreja e fundação do PNR,
depois PRI
Lázaro Cárdenas - 1934-1938
Nacionalização do petróleo
Estruturador do PRI, grande arena política do país
Modernização institucional
Reforma agrária
15. História da Argentina
Sucessão de governos conservadores e autoritários
apoiados pelo poder econômico e político dos grandes proprietários rurais;
Altos níveis de corrupção;
Promoção da modernização econômica do país;
Aliança econômica com a Inglaterra;
Foco no modelo agro-exportador;
Desenvolvimento “desigual”.
A União Cívica Radical
e o papel das classes médias urbanas como ator político de contestação.
Período de 1880-1916
Ditadura civil capitaneada pelo Partido Autonomista Nacional (PAN)
História recente da Argentina
16. A Argentina de Hypolito Yrigoyen
1916-1922
Postura radical contra o PAN e todo o seu legado
Reparação dos danos provocados pela República Conservadora
Respeito às leis e à democracia
Combate à corrupção
Liberdade política
Políticas sociais
Criação da YPF
17. A Argentina de Hypolito Yrigoyen
1928-1930
Divisão interna do “radicalismo”;
Incapacidade de responder à crise econômica mundial;
Crise política interna e intervenção nas províncias;
Enfrentamentos com a oposição à direita e à esquerda;
Golpe de Estado em 1930.
18. A Década Infame - 1930-1943
Dois presidentes militares sucedidos por dois presidentes civis
Apoio econômico e político dos grandes proprietários rurais
UCR proscrita
Fraudes eleitorais
Repressão política
Crise econômica por conta da crise internacional
Adoção forçada do modelo substitutivo de importações
Industrialização e ampliação da classe trabalhadora
Criação, autônoma, da Confederação Geral do Trabalho (CGT)
Novo período militar - 1943-1946
O golpe dentro do golpe
Jovens militares, de correntes ideológicas diversas, vão ao poder
Juan Domingo Perón ganha projeção no processo,
especialmente após se aliar aos movimentos de trabalhadores
Criação da legislação trabalhista urbana e rural
Criação do Banco Industrial de Crédito
Tentativa de golpe militar contra o Ministro Perón
Apoio dos movimentos operários a Perón
19. 1945- A Argentina dividida outra vez
Por um lado Perón, e seus muitos aliados:
Correntes militares
Sindicatos de trabalhadores
Caudilhos locais e chefes de províncias
Divergencias do radicalismo
Por outro a União Democrática:
União Cívica Radical
Partidos de esqueda diversos
Líderes políticos de Buenos Aires opostos ao federalismo
21. História da Argentina
Criação do Partido Justicialista (1947)
Frentes sindicalista, política, feminina e da juventude
Carona no boom econômico do imediato pós-guerra
Estabilidade econômica possibilitando a implantação
de amplas políticas de proteção social
Expansão do Estado via nacionalização de serviços públicos
Incentivos à industrialização
2o. governo Perón – 1952-1955
Crise econômica a partir da década de 1950
Deterioração das condições econômicas do Estado
Adoção de medidas impopulares
Morte de Evita - 1952
1o. governo Perón - 1946-1952
Apoio político baseado no tripé
Forças Armadas / Igreja / Massas Populares
Soberania nacional, independência econômica, justiça social
Carisma máximo e ligação direta entre líder e massas
24. Características do populismo na América
Latina:
Estado forte e personalista, baseado no
nacional-desenvolvimentismo e na figura
carismática do líder
Caracterizado pela criação e expansão seletiva
de uma legislação de proteção social => é a
expressão do Welfare latino-americano, mas
muito distinto da Social-Democracia européia
Anteparo ao crescimento internacional do
comunismo via controle das massas
25. Em que medida o surgimento
do populismo reflete a crise de
hegemonia das elites
dirigentes latino-americanas?
26. A crítica liberal ao fenômeno populista
Manifestação política vazia de conteúdo
Fenômeno baseado na demagogia do líder carismático e na ingenuidade do
povo, adepto a emocionalidades
Expressão da ingorância popular em relação às questões políticas
Estado cooptado pelo líder e relação Estado/sociedade marcada pela
cooptação e pela corrupção
A critica esquerdista ao fenômeno populista
Manifestação política vazia de conteúdo, e sobretudo de ideologia política
Mecanismo de manipulação da classe trabalhadora através do
corporativismo que destruiu a combatitividade dos moviementos operários
independentes e aumentou o controle do Estado sobre os trabalhadores
Instrumento de fracionamento das classes populares
27. Interpretações do populismo latino-americano
1- TEORIA DA MODERNIZAÇÃO: Populismo como um desvio na
transformação das sociedades nacionais, de tradicionais em
modernas, de rurais em urbanas, de agrárias em industriais
A rápida criação de massas de trabalhadores originou uma
série de novas demandas políticas e sociais que não puderam ser
acomodadas nos canais clássicos e institucionalizados de
participação política
A falta de uma cultura coletiva e de participação política do
homem do campo transplantado encontra na cidade uma
estrutura política e partidária débil
Como resultado se tem uma postura individualista, passiva e
dependente do Estado por parte do novo trabalhador urbano, logo
facilmente manipulável
Principais expoentes desta visão:
Octavio Ianni, Gino Germani e Torcuato di Tella
28. Interpretações do populismo latino-americano
2- VISÃO ESTADOCÊNTRICA: Populismo como resultado da
combinação entre repressão estatal, manipulação política e
atendimento de demandas pontuais e específicas da sociedade
assalariada
“Estado de compromisso” – a manipulação é de duplo sentido. O
Estado manipula as massas e é também por elas manipulado. Algo
como “menos autonomia política em troca de mais oferta de bens
sociais”
Principais expoentes desta visão:
Francisco Weffort
29. Interpretações do populismo latino-americano
3- VISÃO NEOPOPULISTA: Ressurgimento tardio do
fenômeno, já na década de 1990, em democracias em
consolidação
Não há mais espaço para a repressão estatal e
tampouco para a manipulação, mas sim para a
persuasão, uma espécie de manipulação não-absoluta
Seria resultado da personalização ou da fulanização
da política, especialmente nos dias atuais em que
cultua-se o individualismo e os meios de comunicação
de massa transformam líderes políticos em
celebridades
30. E qual a saída histórica que as elites
políticas e econômicas latino-americanas
deram ao fenômeno populista?