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Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
A Localização Web:
Relatório de Estágio da Licenciatura em Tradução no
Sport Lisboa e Benfica
Supervisor da FLUL: Professor Pierre Lejeune
Supervisor do SLB: Dr. Tiago Marques
Ana Margarida Laranjeira Viegas – 41216
Junho de 2012
2
Resumo: O presente relatório de estágio visa, em primeiro lugar, introduzir os efeitos
da globalização e dos avanços das tecnologias da informação e comunicação no
processo comunicativo e no processo de tradução e, de seguida, apresentar o processo
de localização web como a nova estratégia de tradução para o novo meio, a Internet.
Para o efeito vou descrever o Estágio que realizei no Sport Lisboa e Benfica e explicar
as diferentes escolhas tomadas durante o processo de tradução/localização.
3
Agradecimentos
Agradeço, em primeiro lugar, à Inês por ter tratado da minha incrição, e aos
meus pais e amigos pelo apoio e motivação para fazer este estágio.
A todos os elementos do Benfica Multimédia: ao Dr. Tiago por me ter avisado
que o Benfica pretende incutir valores de persistência e de trabalho a todos os
estagiários, à Filipa por todos os sorrisos, ao Paulo por todas as canções e por todas as
brincadeiras, ao Tiago pelas picardias, ao Zé por me ter incluído desde o início e por
sempre se ter preocupado comigo e ao Manel, o meu mentor, que esteve sempre comigo
e que sabia elogiar o esforço e criticar o que eu podia ter feito melhor.
Ao Professor Miguel Viqueira, o professor a quem eu mais devo em termos de
aquisição de valores e que esteve sempre pronto a ajudar-me a solucionar as minhas
dúvidas relacionadas com a língua espanhola. E por fim, mas não menos importante, ao
Professor Pierre Lejeune, por toda a amabilidade e por toda a disponibilidade para ouvir
as minhas dúvidas e fazer-me ter uma visão crítica do meu trabalho.
4
Índice
Introdução.......................................................................................................................5
1. Enquadramento Teórico..............................................................................................6
1.1 Globalização e Tradução...............................................................................6
1.2 G.I.L.T...........................................................................................................8
1.3 Localização....................................................................................................11
1.3.1 Evolução.........................................................................................11
1.3.2 Modelo............................................................................................11
1.4 A localização e os estudos de tradução.........................................................13
1.5 Texto e Hipertexto.........................................................................................14
1.5.1 A coesão e coerência no novo meio................................................15
1.5.2 Os desafios do novo meio...............................................................16
2. Descrição do Estágio...................................................................................................18
2.1 Descrição da empresa e estipulação de objectivos........................................18
2.2 Metodologia de trabalho................................................................................20
3. Análise das Traduções.................................................................................................22
3.1 Fundação Benfica..........................................................................................22
3.2 Benfica Corporate Club.................................................................................27
3.3 Benfica ao Vivo.............................................................................................29
3.4 Loja do Benfica.............................................................................................30
3.5 SLB Oficial....................................................................................................35
4. Conclusão……………………………………………………………………………40
5. Bibliografia…………………………………………………………………………..41
6. Anexos……………………………………………………………………………….44
5
Introdução
“En general, Internet como medio para distribuir información
se considera la invención más significativa desde que
Guttenberg creara la imprenta en el siglo XV. (…)
Inexorablemente, esta revolución se ha trasladado al mundo de
la traducción con el surgimiento de una nueva modalidad, la
localización web, que está teniendo un profundo impacto en su
práctica, investigación y docencia.” (Jiménez Crespo, 2008: 1)
A globalização e os avanços nas tecnologias da informação e comunicação (TIC)
permitiram o acesso a computadores pessoais e facilitaram o acesso à Internet. Este
novo meio não só mudou o processo comunicativo, como confirmou que é possível a
convivência entre o inglês como lingua franca e as demais línguas do mundo, sem o
risco de se perder as indissincrasias associadas a cada uma destas. Dentro deste meio já
não se fala em texto, mas em hipertexto, isto é, um site. Com o aumento da diversidade
linguística dos conteúdos disponíveis na Internet, tornou-se imperativo desenvolver
novas estratégias de tradução. Assim, surgida da localização de software, a localização
web veio responder à necessidade de o utilizador poder ler na sua própria língua e em
conformidade com a sua cultura, num novo meio.
Fundado em 1904, o Sport Lisboa e Benfica é um clube eclético, principalmente
conhecido pela sua equipa de futebol, e foi considerado pela International Federation of
Football History & Statistics como o 9º melhor clube do século XX e o 8º melhor clube
do mundo em 2011, tendo inclusive conseguido o primeiro lugar no mês de Fevereiro
do mesmo ano.1
Com provas dadas do seu reconhecimento internacional, a localização
do seu site para espanhol torna-o no primeiro clube português a ter um site em 3 das 5
línguas mais faladas no mundo e na Internet: o português com 240 milhões de falantes,
o inglês com 328 e o espanhol com 329.2
O presente relatório de estágio visa proporcionar uma visão geral do processo de
localização web, explicar de que modo o novo meio afecta o processo de tradução e
descrever e analisar as principais decisões tomadas e dificuldades sentidas durante a
tradução/localização. Os anexos serão entregues apenas em versão digital.
1
Ver anexo 1: p. 2
2
Ver anexo 2: p. 3
6
1. Enquadramento Teórico
1.1 Globalização e Tradução
O conceito de “globalização” pode ser concebido dentro dos mais diversos
níveis de análise, com maior destaque para o âmbito económico. Aqui, é de salientar o
empenho que os Estados-Nação têm posto na quebra de barreiras económicas, políticas
e sociais, assim como na redução da distância e do tempo na troca de informação,
facilitada pelo desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação (de
agora em diante, TIC).3
A ideia inerente ao conceito de globalização não é nova, e no caso português
temos o exemplo dos Descobrimentos no século XV e XVI e as resultantes trocas
comerciais e culturais. No entanto, com o desenvolvimento das TIC um maior número
de pessoas passou a ter acesso a computadores pessoais e, consequentemente, a uma
elevada quantidade de informação disponível através da Internet.
Para o nosso trabalho é importante o aspecto económico da globalização (mais
desenvolvido adiante), mas mais ainda o aspecto cultural. A noção de cultura deve
abarcar uma dimensão dinâmica já que é um processo permanente de construção,
desconstrução e reconstrução. Por esta razão, não devemos conceber a globalização
como um esbatimento cultural, ainda que o seja economicamente, mas antes um
processo que permite a divulgação das diferentes culturas e sociedades, facilitado pelo
desenvolvimento das TIC. Como sublinha John Hartley, “a cultura «global» pode existir
lado a lado com comunidades, identidades e gostos locais e tradicionais.”4
Mais, esta
difusão cultural tem uma primeira implicação para o processo de tradução: a
contextualização. Havendo uma maior divulgação das diferentes culturas do mundo e
uma maior comunicação entre pessoas que se encontram separadas física e
culturalmente, há também uma maior noção do outro e do seu modo de agir e, por esta
razão, o tradutor é levado a pensar duas vezes quando se depara com um problema de
tradução do âmbito cultural: será que o público-alvo precisa de uma nota de rodapé para
contextualizar o sucedido ou o seu conhecimento do mundo actual é suficiente para
compreender o que aconteceu?5
3
SHIYAB, Said M - “Globalization and its impact on translation” (4) em Globalization and Aspects of
Translation, Newcastle Upon Tyne, Reino Unido: Cambridge Scholars Publishing, 2010.
4
HARTLEY, John - Comunicação, Estudos Culturais e Media. Conceitos-chave. Lisboa: Quimera, 2004
5
CHOON CHENG, Cindy - Effects of Globalization on Translating Culture
7
Vistos os aspectos económicos e culturais da globalização, é importante abordar
os aspectos linguísticos, fundamentais para o nosso trabalho.
Em todos os estudos analisados sobre a área, existem duas situações em comum:
o crescimento do Inglês como lingua franca e o aumento da procura por tradução.
Como Anthony Pym destaca, parece um paradoxo, já que o aumento do Inglês como
lingua franca levaria a que, na pior da hipóteses, a diversidade linguística fosse cada
vez menos necessária e todos falássemos Inglês, daí advindo o fim da profissão de
tradutor. No entanto, os mais diversos estudos sublinham o aumento do número de
traduções, entre os quais o de Hatim e Munday:
“Despite the apparent dominance of English globally, the need for translation continues to
grow and the actual and virtual movement of people means that even previously
monolingual societies are increasingly adapting to the presence of other languages and
cultures in their travels through the internet or within their local community.”6
Como Anthony Pym refere, “globalization is neither the friend nor the foe of
translation. It is quite simply changing many of the situations in which translation is
called upon to operate.”7
Globalização não significa que tudo possa ser feito em todo o
lado; antes, promove a especialização e futura exportação:
“We tend not to complain about globalization when our port comes from Porto, our
scotch from Scotland, out films from Hollywood (...), our suits from Italy, our software
programs from the west coast of the United States, or indeed our software localization
from Ireland.”8
Efectivamente, a lingua franca opera durante a fase de produção (que agora
passou a ser de “um-para-muitos”), num determinado local, mas as diferentes traduções
têm lugar na fase de exportação destes produtos, porque tem que haver uma adaptação
ao locale, e isto leva-nos ao cerne do nosso trabalho: o processo de localização.
6
HATIM, Basil; MUNDAY, Jeremy - Translation. An advanced resource book. Londres: Routledge,
2006: 330
7
PYM, Anthony - Globalization and the Politics of Translation Studies, versão pré-imprimida, 2003
8
Idem.
8
1.2 G.I.L.T
O processo de localização deve ser analisado na sua relação com mais três
processos: globalização, internacionalização e tradução, os quais juntos formam o
acrónimo “G.I.L.T.”:
Fig.1 O processo de localização web na relação que os quatro conceitos mantêm entre si.
Qualquer destes conceitos é multitemático, por isso é importante salientar que
qualquer definição dada neste trabalho terá como âmbito a localização web.
A Globalização é o processo mais amplo, englobando todos os outros. Centra-
se, principalmente, na organização empresarial de modo a conceber “a website in such a
way that it can be used in different countries with minimal changes”9
e está, por
natureza, direccionado “to all of the business decisions and activities required to make
an organization truly international in scope and outlook.”10
Concebe-se, portanto, como
um processo predominantemente dirigido ao marketing e venda de produtos.
Actualmente, como afirma Jiménez Crespo, a globalização produz-se no campo
temporal tanto antes da localização, porque visa facilitá-la, como depois desta, na
9
CORTE, Noelia – Web Site Localization and Internationalization: a Case Study, 2000: 10
10
LISA – 2007: 1
Globalização
Internacionalização
Localização
Tradução
9
distribuição de produtos ou assistência multilingue ao cliente.11
Internacionalmente este
processo é também designado por “g11n”, em que o número onze representa as letras
entre a letra “g” e a “n”, em inglês.
Se a globalização se prende mais com a organização empresarial e estatégias de
marketing, a Internacionalização prende-se com a fase técnica de preparação da
localização. É um conceito essencial porque “the purpose of internationalization is to
make localization easier, faster, higher quality and more cost-effective”.12
Este
objectivo é conseguido “enabling the product to be used without language or culture
barriers”13
Isto é, o processo de internacionalização visa facilitar a localização tornando
o site linguística e culturalmente neutro. O produto não deve depender da Língua de
Partida e a função comunicativa do Texto de Partida deve manter-se no Texto de
Chegada.
Dependendo do locale-alvo existem diferentes níveis de internacionalização. As
línguas para as quais mais se localiza são as denomidadas “FIGS”: Francês (56%),
Italiano (21%), Alemão (German) (50%) e Espanhol (Spanish) (53%)14
, as quais,
quando comparadas com outras línguas ocidentais, não exigem um nível de
internacionalização muito diferente. No entanto, se estivermos a falar de Japonês,
Chinês ou Árabe, o nível de internacionalização terá de ser muito mais elevado tendo
em conta que não usam o mesmo alfabeto, o mesmo formato de datas e horas e o Árabe,
inclusive, escreve-se numa direcção diferente (da direita para a esquerda) da das línguas
ocidentais (da esquerda para a direita).
No plano internacional também é designado “i14n”, em que o número 14 é o
número de letras que está entre a letra “i” e a “n”, em inglês.
O termo locale, já referido anteriormente, define o conjunto de informação
associado a um lugar e cultura. No âmbito do nosso trabalho, e em termos muito
simples, é a quem está dirigido o site localizado.
11
JIMÉNEZ CRESPO, 2008: 34
12
ESSELINK, Bert, 2000
13
CADIEUX, Pierre, ESSELINK, Bert – GILT: Globalization, Internationalization. Localization.
Translation. 2004
14
Lisa 2007: 28
10
O conceito Localização deriva de “locale”. Considero de suma importância
apresentar a definição dada por Keiran Dunne (2006)15
, em que se baseou Jiménez
Crespo (2008)16
para a sua própria definição, a qual, após extensa pesquisa na área,
consideros a mais completa:
“The process by which digital content and products developed in one locale (defined in
terms of geographical area, language and culture) are adapted for sale and use in another
locale. Localization involves: (a) translation of textual content into the language and
textual conventions of the target language, (b) adaptation of non-textual content (from
colors, icons and bitmaps, to packaging, form factores, etc.) as well as input, output and
delivery mechanisms to take into acount the cultural, technical and regulatory
requirements of that locale. In sum, localization is not so much about specific tasks as
much as it is about the processes in which products are adapted.”
“La localización constituye una modalidad de traducción que comprende un complejo
proceso textual, comunicativo, cognitivo y tecnológioco por el que un texto en formato
digital y en un entorno interactivo se modifica para su uso en una lengua y contexto
sociocultural de recepción distintos a los originales, siempre según las expectativas de la
audiencia a la que se dirija y las especificaciones o grado de localización que encargue el
iniciador.”
É, então, a adaptação de um conteúdo digital desenvolvido num locale para
venda e uso noutro locale, tendo em consideração as expectativas do público-alvo.
A Tradução é considerada uma etapa do processo de localização. Contrariando
esta definição simplista estão os autores Peter Sandrini (2005), Jiménez Crespo (2008) e
Anthony Pym (2010):
“Seen from a translation studies perspective, however, the process of translation involves
lingustic as well as cultural transfer and the communicative intention or function of the
target text is of overall importance. Translation, trerefore, always involves some form of
adaptation with respect to the text itself or other items relevant to the document such as
graphics, etc.”17
15
em Jiménez Crespo, 2008: 40
16
ibidem: 45
17
Peter Sandrini, 2005: 2
11
Segundo este pensamento, não se pode considerar a tradução como uma simples
etapa do processo de localização, mas antes como um processo tão ou mais importante
que os outros por englobar mais de 50% de todo o processo de localização.
1.3 Localização
1.3.1 Evolução
A indústria da localização surgiu nos anos 80 do século passado, advinda da
localização de software, quando um maior número de pessoas começou a ter acesso a
computadores pessoais e esperava destes produtos (hardware e software) uma certa
adaptação cultural. Tendo em conta que nesta altura a maioria das empresas de
hardware e software era de origem estado-unidense, a Irlanda estabeleceu-se como o
centro da indústria da localização porque estas empresas precisavam estabelecer os seus
centros de distribuição fora dos Estados Unidos e este país era falante do Inglês, uma
porta para a Europa e União Europeia e anda oferecia isenções fiscais às empresas que
nele investissem. Com a expansão da Internet, a indústria da localização também
assistiu a um forte crescimento e nos anos 90 era uma indústria consolidada.18
1.3.2 Modelo
Como Anna Estellés refere, “el entorno de trabajo de un traductor de páginas
web es un entorno cambiante y complejo que se atiene a multitud de variables (equipo
del proyecto, materia prima, dificultades técnicas, dificultades lingüísticas, problemas
socioculturales, tiempo, calidad, etc.)” e que inclui situações comunicativas diversas,
como a linguagem jurídica, de marketing, etc., pelo que “el uso de recursos
terminológicos y lingüísticos estará a la orden del día en este contexto”.19
Baseando-se em Daniel Gouadec, Oscar Diaz Fouces20
propõe o seguinte
modelo do processo de localização que combinaremos com os programas de tradução
sugeridos por Anna Estellés:
1. Recepção e gestão da encomenda:
18
ESSELINK, Bert – The Evolution of Localization, 2003: 26
19
ESTELLÉS, Anna: 3 e 4
20
DIAZ FOUCES, Oscar – “A localização de páginas da internet na formação de tradutores” em
Confluências – Revista de Tradução Científica e Técnica. Número 1, Novembro de 2004
12
- análise do conteúdo da encomenda, definição do “escopo”, método de obtenção dos
conteúdos a traduzir, classificação dos conteúdos de acordo com o formato, a área de
especialização, etc., orçamento;
- SDL TRADOS STUDIO (SDL 2009) para preparer a gestão do projecto; CatCount
(AIT, 2009), Tkount (Prior, 2009) para contar as palavras e elaborar um orçamento.
2. Organização dos recursos humanos:
- definição de prazos e tarefas e divisão pelos diferentes elementos;
- Project Professional (Microsoft, 2010), MindManager (MindJet, 2008) para gestão de
projectos.
3. Organização dos recursos materiais:
- Multiterm (SDL, 2009), base de dados terminológica; memórias de tradução; DocuGes
(Pérez Vidal, 2010) para gestão documental; Zatero (Stillman, kornbill y otros, 2010)
para organizar recursos online.
4. Tradução/ Localização:
- tradução automática: Systran (Systran, 2007);
- tradução assistida por computador: GlobalSight (Welocalize, 2009), SDL Tridion
(SDL, 2009).
5. Controlo de qualidade:
- linguística (pontuação, redacção, estilo);
- homogeneidade (harmonia de escolhas);
- adaptação técnica (a cargo da equipa informática);
- adaptação cultural;
- correctores ortográficos.
6. Integração dos conteúdos
7. Avaliação:
- verificação global (se o conteúdo está bem traduzido e se se consegue vizualizar tudo
correctamente [recurso a diferentes navegadores]).
13
8. Entrega:
- entrega do encargo, facturação e recolha de material reutilizável em projectos futuros;
- Webbudget (Aquino, 2009); análise ROI (Retorno sobre Investimento) para avaliar as
vantagens económicas que a empresa vai ter com o site localizado; Awstats (Destailleur,
2009) para ver o país de quem visita o site.
1.4 A localização web e os estudos de tradução
Apesar de a localização ter tido o seu início nos anos 80, só dez anos mais tarde
se tornou do conhecimento dos estudos de tradução e porque as instituições académicas
precisavam formar os novos tradutores para esta actividade milionária.21
A localização web impõe novos desafios ao tradutor e à disciplina de estudos de
tradução. Um deles tem a ver com o novo meio, a Internet, e com um novo tipo de texto,
o hipertexto, os quais abordaremos adiante. Outros desafios têm a ver com a
importância dada ao contexto de chegada e ao facto de ser uma actividade que exige
trabalho de equipa.
Os estudos de tradução não conseguem conceber a tradução como uma mera
etapa dentro do processo de localização, nem reconhecem os processos de
internacionalização e localização. O processo de internacionalização, que visa tornar o
texto neutro linguísta e culturalcamente, acaba com a noção de texto de partida porque
torna o texto num texto-base que servirá para futuras localizações para diferentes
línguas. Quando o tradutor toma contacto com o texto, não tem qualquer referência
cultural porque o processo de internacionalização tornou-o neutro. Todo o processo de
localização tem em mente o texto de chegada e nunca o de partida, porque o objectivo é
tornar o texto adequado para determinado locale, a maioria das vezes com estratégias de
marketing em mente.
São características da localização, e desafios para o tradutor, as seguintes:
- o escopo ou função do texto está intimamente relacionado com estratégias
económicas e comerciais (normalmente a empresa que manda localizar o seu sitio web
pretende incidir em novos mercados para aumentar a exposição dos seus produtos e o
volume de vendas);
21
LISA: 2007
14
- o encargo é que define o grau de localização, o que por sua vez afecta o
processo de tradução (já que, quanto maior for o grau de localização, maior a adaptação
que deve ser feita durante o processo de tradução):
- standardized (um sitio web para todos os países; não traduzido);
- semi-localized (um sitio web fornece informação para todos os países);
- localized (um sitio web traduzido para cada país);
- highly localized (tradução e adaptação específicas para o país-alvo);
- culturally customized (um sitio web completamente novo).22
- usam-se os próprios modelos de localização (referido anteriormente);
- exige um contínuo trabalho em equipa (por ter diferentes processos e de áreas
tão vastas como o marketing (globalização), a informática (internacionalização), a
cultura (localização) e a linguística (tradução). É impossível que uma só pessoa dê
resposta a todos estes processos.
- a substituição do texto de partida pela internacionalização, a qual visa
desvirtuar o texto de qualquer característica associada a um locale e torná-lo linguística
e culturalmente neutro para posterior localização, tendo em vista diferentes locales.
Por sua vez, os estudos de tradução beneficiam de séculos de pesquisa, ao
contrário da localização, pelo que esta última poderia ganhar muito ao servir-se destes
mesmos estudos e adaptá-los ao meio digital e às características do novo tipo de texto, o
hipertexto.
1.5 Texto – Hipertexto
No processo de tradução, o texto é de extrema importância:
“Text is the central defining issue in Translation. Texts and their situations define the
translation process.” (Neubert e Shreve, 1992:5)23
E pode ser definido como “a coherent and cohesive unit” (Hatim e Manson)24
“which
can be realized by a combination of verbal and non-verbal means” (Nord)25
. É uma
22
PYM, Anthony - Website localization - 2010: 5
23
em Jiménez Crespo, 2008:77
24
ibidem: 81
25
ibidem: 81
15
unidade de sentido, oral ou escrita, de extensão variável que engloba traços
linguísticos, semânticos e pragmáticos.
Tendo em conta que o âmago do nosso trabalho é a tradução para um novo meio,
a Internet, o nosso objecto de estudo não são os textos, mas os hipertextos:
“una unidad textual coherente que se desarrolla y se presenta al usuario de modo unitario
en la WWW. La misma presenta una estructura multilineal de subtextos enlazados por
vínculos, conlleva una unidad temática, y una unidad funcional que se refleja en una
función dominante junto a una o varias funciones subsidiarias y se expresa no sólo a
través de aspectos lingüísticos sino gráficos, tipográficos e interactivos.”26
Tendo por base os estudos de O‟Hagan e Asworth (2003) e Jiménez Crespo
(2008), salientamos como principais características do hipertexto:
- ser lido no ecrã devido ao novo meio, a Internet;
- ser não linear, o utilizador lê pela ordem que quiser;
- ser alvo de mudanças e actualizações com mais frequência que o texto
impresso;
- conter, muitas vezes, elementos multimédia (áudio, gráficos, ícones, etc.);
- não ter um público-alvo definido porque qualquer pessoa tem acesso aos sitios
web; está dirigido a utilizadores heterógenos;
- os seus conteúdos poderem ser adaptados às normas linguísticas e convenções
culturais de chegada mediante o processo de localização web.
1.5.1 A coesão e a coerência na localização de hipertextos
“Like cohesion, coherence is a network of relations which organize and create a text:
cohesion is the network of surface relations which link words and expressions to other
words and expressions in a text, and coherence is the network of conceptual relations
which underline the surface text. Both concern the way stretches of language are
connected to each other. In the case of cohesion, stretches of language are connected to
each other by virtue of lexical and grammatical dependencies. In the case of coherence,
they are connected by virtue of conceptual or meaning dependencies as perceived by
language users.”27
26
em Jiménez Crespo, 2008: 106
27
BAKER, MONA – “In Other Words. A coursebook on translation”, p:218
16
Para a localização web, a coerência é de maior importância porque vai mais além
do nível sintáctico para se centrar no sentido do (hiper)texto como unidade. Assim:
“los mecanismos cohesivos como los pronombres, conjunciones, adverbios, etc. Se
pueden reducir en gran manera en los hipertextos sin perder la coherencia necesaria entre
los elementos textuales (Fritz, 1999), y esto se compensa con el conocimiento global de la
superestructura y macroestructura prototípica de los usuarios. En el caso de los
hipertextos, un menú de navegación es coherente con el resto de elementos textuales en
una página web determinada, aunque desde el punto de vista de la cohesión no se
producirían los mecanismos que se apuntan en la lingüística textual.”28
Tendo em conta que o hipertexto é todo o site e não apenas algumas páginas que
o compõem, o tradutor deve ter em atenção que o (hiper)texto deve fazer sentido no seu
todo e não apenas dentro das referidas páginas. Por sua vez, outro elemento
fundamental para a construção de sentido é o utilizador. Este, ao escolher o seu caminho
mediante as diferentes hiperligações, está a construir o seu próprio sentido do
(hiper)texto. E tendo em conta que todos os utilizadores são diferentes e que o público-
alvo dos sítios web é heterógeno, cada utilizador construirá o seu próprio sentido do
(hiper)texto mendiante as escolhas que faça.
1.5.2 Os desafios do novo meio
Um novo desafio que a localização impõe ao tradutor é a adaptação da escrita às
exigências do ecrã. Esta é uma nova aptidão que o tradutor deve adquirir.
Vários estudos provaram que é mais dificil ler no ecrã do que no papel, cerca de
25% mais lento,29
porque é exigido um esforço extra aos olhos e ao cérebro. Neste
sentido, têm sido feitos esforços para facilitar a leitura, como o exemplo da Microsoft
que desenvolveu tipos de letra específicos para a leitura em ecrã, como o “Arial” ou o
“Tahoma”. Não obstante, a principal característica desta leitura digital é que o
utilizador não lê no sentido tradicional da palavra; antes, escaneia o ecrã com os olhos
até encontrar o que lhe interessa: “they look at heading and subheading first; they scan
for hyperlinks, numerals, and keywords. They jump around, scrolling and clicking –
28
Jiménez Crespo, 2008:
29
McGovern, Gerry; NORTON, Rob; O‟Dowd, Catherine – Writing for the Web – Financial Times
Prentice Hall.
17
their fingers never far from the browser „Back‟ button.”30
Por esta razão, e para que o
utilizador e possível cliente permaneça o máximo de tempo possível no sitio web, a
escrita deve ser adaptada ao novo meio e as consequentes traduções devem ter em
atenção as sequintes características:
Em linhas gerais, o texto digital deve ser breve, cerca de 50% mais curto que o
texto impresso, conciso, claro, informal, acessível e específico.
Ao nível do lexico e da semântica, dá-se preferência a termos simples e
familiares ao utilizador, à coerência e consistência na terminologia usada, evitando o
uso de sinónimos e de acrónimos e abreviaturas (escreve-se a definição completa entre
parênteses).
Ao nível da sintaxe, opta-se por frases curtas, cada uma com uma ideia; prefere-
se a voz activa; os parágrafos devem revelar a estrutura da pirâmide invertida; dá-se
primazia às formas verbais sobre os nomes e às formas verbais, preposições e
conjunções simples sobre as compostas; e, finalmente, deve-se ter cuidado no uso de
anáforas, catáforas e deícticos;
Ao nível do estilo deve-se usar um tom similar ao discurso oral, dar primazia às
expressões afirmativas sobre as negativas, usar o estilo informativo, 25% mais eficiente
que o estilo de marketing31
e usar pontuação adequada (evitar o uso de ponto e vírgula
por ser de difícil visualização no ecrã – em caso de dúvida dividir a frase em duas).
Quanto à estrutura do texto, cada página web deve constituir uma unidade; a
informação numérica deve ser incluída em tabelas e gráficos; e os títulos e subtítulos
devem ser curtos, directos e incluir palavras-chava para atrair o utilizador. É importante
o uso de subtítulos porque estes “provide a visual-road sign for readers, alerting them
that something different and potentially interesting is coming up.”32
Deve-se, ainda, dar prevalência ao negrito sobre o itálico, por este ser de mais
difícil leitura, e evitar sublinhar porque esta é uma característica das hiperligações, a
que os utilizadores já estão acostumados.
30
McGovern, Gerry; NORTON, Rob; O‟Dowd, Catherine – Writing for the Web – Financial Times
Prentice Hall.
31
idem.
32
idem.
18
2. Descrição do Estágio
2.1 Descrição da Empresa e estipulação de objectivos
O Sport Lisboa e Benfica é um clube português e detem o record de maior
número de sócios no mundo (165.000). Fundado a 28 de Fevereiro de 1904, o Estádio
da Luz é a sua actual casa. O Benfica Multimédia é uma sociedade do Grupo
Empresarial Benfica e visa a difusão de todas as informações e notícias relacionadas
com o clube através dos novos meios digitais.
Fig.2 Benfica Multimédia
Após ter sido seleccionada para estagiar no Sport Lisboa e Benfica, troquei
algumas mensagens de correio electrónico com o Dr. Pedro Varandas, dos Recursos
Humanos do Benfica, com quem acertei que a primeira reunião para definir todos os
pormenores seria agendada para dia 15 de Fevereiro de 2012, com o Dr. Tiago Marques,
director de multimédia do Benfica.
O Dr. Tiago explico-me, então, que quem me iria acompanhar todos os dias em
que estivesse no Estádio seria o Dr. Manuel Lopes, tradutor do Sport Lisboa e Benfica.
Assim, foi com o Dr. Manuel que fiquei a saber que iria traduzir todos os sites do clube,
que na altura eram 5 (hoje, cinco meses passados, são 8), e que deveria basear-me na
tradução já existente do inglês para saber aquilo que deveria traduzir. Mesmo assim,
enviou-me um documento Excel com o nome de todas as páginas a traduzir.
Seria não uma tradução, mas uma retroversão. Melhor, seria uma localização. O
site deveria ser localizado do português para o espanhol. Como foi referido na
19
Introdução, o espanhol tem mais de 329 milhões de falantes em todo o mundo (nativos e
não nativos) e seria irreal pensar que se consegue chegar a todos do mesmo modo, até
porque uns localizam-se na Península Ibérica e outros na América Central e do Sul,
maioritariamente. Não obstante, apesar de cada região usar expressões diferentes para a
mesma situação, todas usam o mesmo sistema ortográfico, regulado pela Real Academia
Española, e foi nesse organismo que me baseei sempre que tive dúvidas.
O número obrigatório de horas estipulado pelo Regulamento de Estágios
Curriculares dos Cursos de 1º Ciclo (Licenciatura) da FLUL é de 120 horas. O período
em que os estágios deveriam decorrer seria entre 15 de Fevereiro e 15 de Maio, sempre
com ajustamentos quando necessário. Eu e o Dr. Manuel começamos por estipular 10
horas semanais; depois pensamos que não seria suficiente e passamos para 17 horas
semanais, com o que me ressenti, porque tinha que dar atenção às restantes disciplinas
da licenciatura; finalmente optámos por 11 horas semanais: Segundas-Feiras das 10:00
às 13:00 e Terças e Quintas-Feiras das 15:00 às 19:00. Além destas horas, fiz horas
extra sempre que necessário, fosse a rever todas as traduções para entregar ao Dr.
Manuel para as ir revendo, fosse para continuar a traduzir os documentos, tendo em
conta que a tradução do site era muito urgente, já que ainda teríamos que contar com o
tempo que os elementos da informática iriam levar a desenhar o novo site. Assim,
terminei a tradução de todos os sites no dia 1 de Abril de 2012, em 116 horas. No
entanto, os meus supervisores, o Dr. Tiago Marques e o Dr. Manuel Lopes,
perguntaram-se se estaria disponível para ficar no Benfica Multimédia por mais umas
semanas de modo a poder traduzir o back office, ao que acedi. Não iria deixar um
projecto a meio independentemente de ter as horas feitas, por isso continuei e no dia 20
de Abril, com um total de 140 horas, concluí as minhas traduções e o meu estágio no
Sport Lisboa e Benfica. Encontra-se em anexo a planificação diária de todas as
actividades.33
Em termos de recursos, foi-me disponibilizada uma secretária própria com um
computador pessoal. Em termos humanos, houve sempre uma grande cumplicidade
entre todos os elementos do Benfica Multimédia, os quais me acolheram e ajudaram
como se sempre tivesse feito parte daquele grupo.
33
Ver anexos p: 4
20
2.2 Metodologia de Trabalho
O meu estágio seguiu o modelo proposto por Oscar Diaz Fouces, apresentado no
capítulo 1. Assim:
1 - na fase da recepção e gestão da encomenda, ficou definido que estava
incumbida da tradução dos 5 sites do Sport Lisboa e Benfica (SLB Oficial, Loja do
Benfica, Benfica ao Vivo, Benfica Corporate Club e Fundação Benfica); que o principal
objectivo era chegar aos falantes do espanhol espalhados pelo mundo de modo a
apresentar e divulgar o clube e os seus produtos e serviços; que os conteúdos seriam
copiados directamente do site português e traduzidos em documento word para
posteriormente serem inseridos no site em documentos html34
; e que as áreas abrangidas
iriam desde a linguagem jurídica (para as FAQ‟s, Termos e Condições, etc.), à
linguagem financeira (cartões de crédito, donativos para a Fundação), passando pela
linguagem de marketing (para a Loja) e informativa (apresentação do clube, dos
jogadores e dos serviços oferecidos), entre outras.
2 - na fase da organização dos recursos humanos, ficou definido o horário e a
duração do estágio, já referidos anteriormente. A divisão de tarefas não foi um ponto
fundamental, tendo em conta que o marketing seria tratado pela equipa de marketing do
Benfica, que a informática seria tratada pela equipa de informática do Benfica e que a
tradução seria tratada por mim.
3 – na fase da organização dos recursos materiais, comecei por definir os
dicionários e bases terminológicas que já usava nas traduções que fazia para outras
disciplinas da licenciatura, mas também procurei outros, tendo em conta que iria falar
em linguagem desportiva e não tinha vocabulário suficiente em espanhol.35
4 – na fase de tradução/ localização, tentei sempre manter-me fiel ao original,
sem nunca deixar de ser fiel às expectativas do locale ao qual o site estava dirigido. Por
isso mesmo, baseei-me sempre nas versões espanholas dos sites dos dois maiores clubes
34
Tendo em conta que eu não tinha qualquer experiência prévia em localização, optei pelo mais seguro,
até para me ir habituando, que era traduzir em documento word e esperar que o supervisor o tratasse em
html na fase da revisão.
35
Ver lista nos anexos, p: 9
21
espanhóis, o Real Madrid e o Barcelona, e recorri, sempre que necessário, ao dicionário
online da Real Academia Española e à Fundéu BBVA fundación del español urgente.
Encontra-se, no capítulo 3, uma análise detalhadas das escolhas de tradução e dos
principais problemas sentidos.
5 – na fase de controlo de qualidade, revi todas as traduções feitas e tive em
atenção o uso de pontuação, o estilo adequado à situação e a fluidez da leitura, tendo em
conta que é leitura em ecrã e que, como tal, deve atender a certas especificidades, como
referi antes; também tive em atenção se fui coerente no uso das expressões e se não usei
muitos sinónimos, anáforas e catáforas, que poderiam quebrar o ritmo da leitura, já que
são situações que precisam de um referente e que a localização evita a todo o custo;
finalmente, confirmei se as expressões usadas eram adequadas culturalmente.
6 – na fase de integração dos conteúdos, a cargo do Dr. Manuel, as traduções
foram revistas e trabalhadas em formato html (HiperText Markup Language), que, em
poucas palavras, é a linguagem base de construção de páginas web. Para que eu
ganhasse alguma experiência e me fosse habituando ao processo, o Dr. Manuel deixou-
me rever e introduzir algumas traduções no site.
7 - na fase da avaliação fez-se uma verificação global, na qual participei em
conjunto com o Dr. Manuel. Neste caso, a minha principal função foi confirmar se
estava tudo bem traduzido. Encontra-se, também, no capítulo 3, uma análise minha às
correcções feitas por parte do meu supervisor, tanto aquelas com que concordo, como
aquelas com que não concordo.
8 – na fase da entrega, entrega-se o projecto à empresa, o que no meu caso não
foi necessário porque foi um projecto desenvolvido dentro da mesma.
22
3. Análise das traduções
3.1 Fundação Benfica
Fig.3 Fundação Benfica
A “Fundação Benfica” é a fundação do clube e tem como objectivo combater a
desigualdade social, desenvolvendo, para o efeito, diversas actividades entre os altetas e
jovens carenciados.
A primeira análise ao site será enquadrada nos principais problemas
relacionados com a localização, neste caso o uso de imagens.
Tratando-se da versão espanhola, seria de esperar que aparecesse tudo em
espanhol, no entanto não é isso que acontece com o logotípo da fundação, que aparece
na sua versão portuguesa. O mesmo acontece com os logotipos da “Fundació
FCBarcelona” e da “Fundación Realmadrid”, escritas em catalão e espanhol,
respectivamente:
Fig.4 Logotipos da “Fundação Benfica”, “Fundació FCBarcelona” e “Fundación Realmadrid”.
Isto acontece porque são consideradas quase como imagens de marca dos clubes, pelo
que devem transmitir a sua essência. Por exemplo, no caso da “Fundació FCBarcelona”
isto é evidente pela preferência do catalão sobre o espanhol. Assim, a preferência por
23
parte do Benfica em deixar o nome da fundação em português é corroborada pelas
opções dos dois maiores clubes espanhóis, o Barcelona e o Real Madrid.
O caso seguinte, contudo, é diferente. Não se trata de uma “imagem de marca”
do clube, mas sim de uma simples imagem que pretende reforçar a mensagem do título
“IRS 2011: No cuesta ayudar la Fundación Benfica”:
Fig.5 Imagem com texto em português.
Um dos maiores problemas da localização web são as imagens com texto
iserido, porque para alterar a língua é necessário “trabalhar” a imagem de novo, o que se
torna dispendioso em termos de recursos. Como sublinha Maribel Tercedor Sánchez, é
importante que “cuando haya texto en la imagen, éste no esté incrustado en ella, sino
que forme una capa diferente a la de la imagen. La modificación del texto en este caso
es sencilla, mientras que en el caso de que esté incrustado, el trabajo de modificación
requiere el uso de herramientas de diseño y la tarea puede llegar a ser compleja en el
caso de fuentes especiales y en tamaños reducidos. Por ello, se recomienda tener
totalmente separado el texto de la imagen, de modo que el primero pueda modificarse al
localizar el producto sin problema.”36
Mais, para o cliente isto revela falta de empenho
da empresa, porque não se preocupou em assegurar que estava tudo na mesma língua.
Noelia Corte37
salienta entre os piores problemas que se dão em sites localizados o
“texto en el idioma original, sobre todo en mensajes de error o cuadros de diálogo”.
Esta situação volta a repetir-se na secção “Fundación”, em “Gobierno de la
Fundación”, e na secção “Asociados”, em “Privados”, onde os títulos estão em
português quando deveriam estar em espanhol.38
Em relação a aspectos linguísticos, há uma clara preferência por parte do
supervisor da entidade de acolhimento pelo uso da 2ª pessoa do singular sobre a 3ª
36
TERCEDOR SÁNCHEZ, 2005: 154 e 155
37
CORTE, Noelia: 2002: 7
38
Ver anexos p: 11
24
pessoa do singular, escolhida por mim. Trata-se de uma escolha entre um tom formal ou
informal, entre um “usted” e um “tú”. É sabido que em Espanha se prefere o tratamento
informal, mas tratando-se de uma empresa não me pareceu o mais acertado; e há,
também, que ter em conta que a maioria dos atletas do Benfica nativos do espanhol
provêm da América Latina, onde o tom informal é mais frequente. Seguindo este
raciocínio, traduzi o site num tom formal e usei apenas o informal quando estava
relacionado com as escolas de formação. No entanto, o meu supervisor optou por um
tom predominantemente informal, o que se coaduna com os estudos de Jiménez Crespo:
“la presencia de formas verbales en modo imperativo con el tratamiento informal «tú»
es ampliamente superior en el corpus localizado.”39
Isto é, enquanto os sites originais
são predominantemente formais, os sites localizados para o espanhol são essencialmente
informais; não obstante, o autor conclui que depende da situação, já que os botões
“contactos” e “registo” em espanhol tendem a usar um tom formal (“contacte” e
“regístrese”) por ser uma situação de comunicação directa entre a empresa e o cliente.
No entanto, esta escolha do supervisor não é uma escolha coerente. Seguindo o seu
pensamento, em “Asociados” – “Institucionales”, deveria aparecer “conoce” e não
“conozca”.40
Esta situação revela falta de coerência no site, uma das principais
características da localização web por oposição à tradução em suporte físico (aspecto já
desenvolvido no capítulo 1).
Uma das páginas que me causou mais dificuldades foi a “Cómo Colaborar”. É
uma página destinada ao apelo a donativos para a fundação, cujo registo é
predominantemente ligado à área das finanças e cujo conteúdo da mensagem está
totalmente dirigido ao público português residente em Portugal.
Tendo em conta que o tema a traduzir é referente a uma fundação que depende
de donativos, é importante que não só o público português esteja possibilitado e
informado de como o fazer, mas também o resto dos cidadãos europeus e do mundo.
Não sendo especialista na área, fui pesquisar na Internet e acrescentei na minha tradução
a transferência para o IBAN (International Bank Account Number), já que o NIB só
funciona em Portugal. O processo é muito simples: ao NIB (Número de Identificação
Fiscal) acrescenta-se no início “PT” para identificar o país e “50” por questões de
validação do código. Foi uma decisão apoiada pelo supervisor da entidade de
39
em JIMÉNEZ CRESPO, 2008: 310
40
Ver anexos p: 12
25
acolhimento, que a manteve no site.41
No entanto, creio que o departamento financeiro
ou o organismo responsável pela área em questão deveria fornecer informações
detalhadas sobre como se processam os donativos fora da Europa, tento em conta que o
NIB é para residentes em Portugal e o IBAN para residentes na Europa. A fundação não
só iria beneficiar em termos montários, como o clube em termos de maior visibilidade
no estrangeiro.
Apresento, de seguida, algumas dificuldade sentidas durante a tradução, para,
depois, reflectir acerca das alterações efectuadas pelo supervisor da entidade de
acolhimento.
Português Espanhol
“A Fundação tem um papel relevante na
sociedade portuguesa desde a primeira
hora.”
“La Fundación ha tenido un papel
relevante en la sociedad portuguesa desde
el primer instante.”
Na versão portuguesa não se percebe a escolha pelo tempo verbal presente do
indicativo, quando, pelo sentido da frase, percebemos que é uma situação que se verifica
desde que começou até aos dias de hoje. Por essa razão, na nossa tradução optamos pelo
tempo verbal pretérito perfecto de indicativo.
“e com as instituições internacionais
relevantes como a ONU (PNUD), OMS
(OMS), UNICEF, OIT e OIM.”
“y con las instituciones internacionales
relevantes como la ONU (PNUD -
Programa de las Naciones Unidas para
el Desarrollo), OMS, UNICEF, OIT
(Organización Internacional para el
Trabajo) y OIM (Organización
Internacional para las Migraciones).”
Como já tinha referido, apesar de a linguagem informática privilegiar a
sintetização, não se devem usar siglas ou abreviaturas, mas sim a total designação da
41
Ver anexos p: 24
26
entidade em questão, daí ter procurado na Internet ditas siglas e ter explicado entre
parenteses as que não seriam mais óbvias para o utilizador.
Há, no entanto, 4 situações que gostaria de analisar com mais pormenor. Por
motivos de espaço, os exemplos completos encontram-se em anexo, nas páginas 12-15.
No primeiro exemplo, a correcção à tradução encontra-se errada porque corrige
“beneficiaria” para “beneficiario”, quando a benefeciaria é a fundação e não o cidadão,
pelo que deveria continuar no feminino. Adiante, enquanto a minha tradução explicíta
as siglas IRC e IRS, a correcção da tradução mantém apenas a explicitação de IRS, o
que a meu ver não é coerente porque não há explicação antes e o site também está
dirigido a público fora de Portugal que não tem obrigação de saber o que significa IRC.
Finalmente, opta por manter a estrutura da versão portuguesa e abolir a versão da minha
tradução, que na minha opinião está não só mais clara, como o uso adequado de
pontuação (dois pontos) permite um melhor entendimento da mensagem.
No segundo exemplo, a primeira substituição foi de “adeptos” por “aficionados”,
com a qual concordo. A minha tradução é literal, enquanto a correcção opta por uma
tradução mais livre. Em primeiro lugar, “al completar su declaración de impuestos” não
é tão esclarecedora como “a través del cumplimiento de su declaración de IRS (Imposto
sobre o Rendimento de Pessoas Singulares)”, que define o imposto em causa. Adiante, a
mais grave, porque “Gobierno” e “Estado” não designam a mesma coisa. A
Constituição da República Portuguesa define, no art.1, Portugal como uma República,
para no art.2º explicar que “A República Portuguesa é um Estado de Direito
Democrático”. “Governo é o órgão de condução da política geral do país e o órgão
superior da Administração Pública” (art. 182º) e “é constituído pelo Primeiro-Ministro,
pelos Ministros e pelos Secretários e Subsecretários de Estado” (art.183º). Por tudo isto,
a mudança não só não se justificou como foi incorrecta. No mesmo sentido, a correcção
da tradução retirou “pública” à expressão “utilidad pública”, a qual perde todo o sentido
quando separada. Quando se confere o estatuto de utilidade pública a uma fundação,
está-se a valorizar essa fundação pelo seu trabalho à sociedade. Quando o supervisor
corrige para “Esto es posible porque el Gobierno portugués reconoció la utilidad de la
Fundación…”, isto fica sem qualquer sentido legal. Reconhecer a utilidade de alguma
coisa é simplesmente dizer que algo é útil e a expressão “utilidade pública” abrange
mutio mais. Segundo a Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros, “São
pessoas coletivas de mera utilidade pública as associações, fundações ou cooperativas
27
que prossigam fins de interesse geral, ou da comunidade nacional ou de qualquer região
ou circunscrição, cooperando com a Administração Central ou a Administração Local,
em termos de merecerem da parte desta Administração a declaração de utilidade
pública.”42
O terceiro exemplo é um discurso do actual presidente do Benfica. A minha
tradução foi fiel ao original, e não havia razão para que não fosse porque está dirigida a
todos os benfiquistas e não a nenhuma sub-cultura em especial que necessitasse
qualquer adaptação. No entanto, o meu supervisor alterou o discurso, o que a meu ver
não é aceitável. Mudou “sabemos que al efecturar este simple gesto” para “sabemos que
con este gesto”; “la vida de los que se encuentran” para “las vidas de aquellos que
están”; “la fuerza” por “el poder”, não havendo ganho ou compreensão adicional com
isso; “para la acción solidaria” para “de la acción conjunta”, continuando a alterar o
discurso e neste caso a mensagem, porque “solidaria” e “conjunta” não são a mesma
coisa. Na frase final, que já não pertence ao discurso do presidente, o supervisor opta
por um discurso impessoal e troca “combatiendo” por “luchando”, palavra menos usual
em espanhol, e “reforzando” por “aumentando”, o que, mais uma vez, não significa o
mesmo.
3.2 Corporate Club
Fig.6 Benfica Corporate Club
O Benfica Corporate Club tem como objectivo a divulgação das vantagens que
as empresas têm em adquirir camarotes no estádio. Neste site não houve praticamente
42
http://www.sg.pcm.gov.pt/index.php/component/content/article?id=46:pessoas-colectivas-de-utilidade-
publica&catid=1 (última consulta: 16 de Junho de 2012)
28
alterações às traduções feitas, salientando-se a correcção de um erro ortográfico em
“BusSiness” e da palavra “bancada” para “grada”.
Apresento, de seguida, algumas dificuldades que senti durante a tradução:
Português Espanhol
“colocando a sua empresa num patamar
de excelência ao nível de instalações e de
imagem”
“poniendo su empresa en un nivel de
excelencia en términos de instalaciones y
de imagen”
Como em espanhol não existe a palavra “patamar” (recurso à Real Academia
Espanhola), a mais próxima que encontrei e que conseguia transmitir o sentido principal
foi “nivel”, que é usada mais adiante na versão portuguesa, pelo que optei por usar
“términos” nesta segunda fase. Não considero que a tradução tenha o mesmo impacto
que o original, mas consegue transmitir a ideia principal de que ao associar-se ao
Benfica a empresa vai elevar-se a diferentes níveis.
“E este é o momento oportuno para a sua
empresa escrever também ela uma página
de sucesso”
“Es este el momento oportuno para su
empresa escribir también una página de
éxito”
Neste caso verifica-se uma elisão. A principal função de “ela” na versão original
é a de enfatizar a empresa, função que não consegui realizar na tradução, mas que não
altera nem o sentido da mensagem nem o conteúdo da mesma. Continua a perceber-se
que o objectivo é que a empresa siga o exemplo de outras e que também escreva uma
página de sucesso no Benfica.
“Devido a todos esses fatores, é hoje
utilizado por diversas empresas nacionais
e internacionais como importante
complemento”
“Gracias a estos factores es hoy usado
por diversas empresas nacionales e
internacionales como importante
complemento”
29
Por uma questão de estilo, considero que “gracias a” resulta melhor do que
“devido a”. É, efectivamente, uma consequência, mas na minha opinião a tradução tem
um efeito mais positivo que o original.
3.3 Benfica ao Vivo
Fig.8 Benfica ao Vivo
Este site tem uma particularidade, que é a de apenas terem sido traduzidos os
“botões” e as “hiperligações” que o utilizador tem a oportunidade de escolher. Findo o
estágio, só passados quase dois meses é que o site viu a luz do ecrã, razão pela qual as
notícias não foram traduzidas por mim.
Ainda assim suscitou algumas dúvidas. O título do site é “Benfica ao Vivo”,
uma alusão a “em directo”, que pretende transmitir a ideia de que os adeptos conseguem
acompanhar o clube durante 24 horas e ter acesso a todas as notícias no instante em que
acontecem. Por isso mesmo foi escolhida a expressão “Benfica en Vivo”, corroborada
por falantes nativos do espanhol. No mesmo sentido, também “grelha de programação”
deu algumas dúvidas, que passaram por “rejilla de programación”, “programación” ou
“cuadro de programación”. Mais uma vez, seguindo a opinião de nativos do espanhol,
optei por “programación” por ser simples, claro e consiso.
São de apluadir as correcções feitas pelo meu supervisor, quando optou por
“subscribir” em vez de “Suscripción de la Revista” ou “Suscripción del Periódico”,
tendo em conta as especificidades da linguagem informática.
30
3.4 Loja do Benfica
Fig.9 Loja do Benfica
O site da loja do benfica está direccionado para as vendas. Aqui, foram
traduzidos os “botões” e toda a linguagem jurídica, que pertence às páginas “Termos e
Condições de Uso”, “Métodos de Envio” e “Métodos de Pagamento. Os produtos foram
traduzidos em Excel, numa lista entregue pelo elemento encarregue da gestão da loja.43
Em relação aos “botões”, “calças e calções” tinham sido traduzidos por mim
para “pantalones y pantalones cortos” e o meu supervisor corrigiu para “shorts y
pantalones”, como o fazem as lojas do Real Madrid e do Barcelona; “Pack Estádio”
traduzi por “Paquete Estadio” e foi corrigido para “Pack Estadio”; “Bonés” para
“gorro”, mas foi corrigido para “gorra” porque “gorro” é como o “gorro” português;
“galhardetes” por “gallardetes”, mas foi corrigido por “banderines”; “tamanho” por
“tamaño”, mas foi bem corrigido para “talla”. De salientar, apenas, os seguintes erros
cometidos pela equipa de informática aquando da localização do site:
Nesta imagem é
possível verificar que
“fútbol” está mal acentuado,
porque em espanhol existe
apenas o acento agudo e não
o grave.
43
Ver lista nos anexos, p: 345
Fig.10 Erro de acentuação.
31
Nesta segunda imagem, a equipa de informática escreveu “conosce más” em vez
de “conoce más”. Isto é revelador do quão complicado é o processo de localização,
tendo em conta que são
vários elementos de
várias àreas a trabalhar
no mesmo projecto e só
prova que a presença
do tradutor é
necessária, senão
mesmo imperativa,
durante todo o processo.
Fig.12 Erro de correspondência
Esta última imagem revela que não há correspondência entre os “botões” da
direita (“salón”, “cocina” e “cuarto de domir”) com as imagens. Seria compreensível
por questões de espaço, como acontece em “cuarto de dormir” – “habitación”, mas
tendo em conta que “salón” e “sala” apenas diferem numa letra, não se justifica que não
tenha sido usada a mesma palavra.
Finalmente o caso da “newsletter”. O Real Madrid optou por traduzir para
“boletín”, enquanto o Barcelona preferiu a palavra inglesa. Tendo em conta que existe
Fig.11 Erro ortográfico
32
uma palavra espanhola para “newsletter” (confirmada na versão online da Real
Academia Española)44
, optei pela tradução. No entanto, o meu supervisor não
concordou e deixou a palavra na versão inglesa:
Fig.13 Boletín do Real Madrid, Newsletter do Barcelona e Newsletter do Benfica.
Em relação às principais dificuldades de tradução, os documentos com
linguagem jurídica (“Faq‟s”, “Métodos de Envio” e “Termos e Condições de Uso”)
foram os mais complicados por terem muitos termos técnicos. De seguida, apresento os
exemplos que mais dúvidas suscitaram:
Português Espanhol
“Deverá ter em consideração que o
reenvio de bilhetes entre marcas de
telemóvel diferentes pode não funcionar,
se isso acontecer, o grupo deve entrar em
simultâneo no estádio, para que a entrada
se faça com o telemóvel original que
recebeu o SMS-Pictograma.”
“Deberá tener en cuenta que el reenvío de
entradas entre marcas de móviles
diferentes puede no funcionar. Si esto
sucede, el grupo debe entrar en el estadio
en simultáneo para que la entrada se haga
con el móvil original que recibió el SMS-
Pictograma.”
Relembrando as regras da escritra em ecrã, apresentadas no capítulo 1, percebe-
se que as frases devem ser simples e que em caso de dúvida se deve separar e usar duas
frases em vez de uma muito extensa. As Faq‟s, a que este excerto pertence, quebram
muitas das regras da escrita web, por exemplo o facto de ser um documento muito,
muito extenso e que exige que o utilizador tenha que puxar para baixo durante algum
tempo até encontrar o que precisa. Mas este tipo de documentos é uma excepção, não só
porque a maioria das pessoas nem os lê, como porque é uma exigência da lei que
44
http://buscon.rae.es/draeI/SrvltConsulta?TIPO_BUS=3&LEMA=bolet%C3%ADn (última consulta: 17
de Junho de 2012)
33
contenham toda a informação. Consequentemente, acabam por ser muito grandes. No
excerto acima, tomei a decisão de separar a frase em duas porque considerei que deveria
haver uma pausa maior do que apenas a vírgula.
“Com excepção dos artigos
personalizados que não são passíveis de
devolução.”
“Con excepción de los artículos
personalizados, que no son pasibles de
devolución.”
O sentido desta frase é dizer explícitamente que os artigos personalizados não
podem em situação alguma ser devolvidos. No entanto esta função não é conseguida
pela versão portuguesa, o que se conseguiria se se acrescentasse uma vírgula, tal como
fiz na minha tradução para espanhol.
“Complete o processo de compra para este
método de pagamento, tal como indicado
em cima, utilize o link no SMS que for
enviado e seleccione "Activar" na página
wap para obter informações de como
activar o serviço MB Phone”
“Complete el proceso de compra para esta
forma de pago, tal como indicado arriba,
utilizando el enlace en el SMS que le sea
enviado y seleccionando “Activar” en la
página wap para obtener informaciones de
cómo activar el servicio MB Phone”
Este excerto suscitou algunas dúvidas porque, na mina opinião, não está a usar
os tempos verbais correctos. Se fosse para usar o imperativo, deveria ter dois ponto
antes. Ora, não tendo o mais correcto seria usar o gerúndio, como de resto fiz na
tradução.
“Quando estiver a efectuar um pagamento
por cartão de crédito, a página de
introdução dos dados do cartão é uma
página segura que garante a
confidencialidade da transmissão de
dados”
“Cuando esté efectuando un pago por
tarjeta de crédito, la página de
introducción de los datos de la tarjeta será
una página segura que garantizará la
confidencialidad de la transmisión de
datos”
34
Este foi dos mais complicados porque também não percebi muito bem o original.
Mas seguindo a lógica de que a página será, à partida, segura, preferi o “será” e
“garantizará”, ou seja, o futuro simple, ao presente, como no original.
“Os preços de expedição incluem IVA à
taxa legal em vigor, para todos os países
da União Europeia, para os países fora da
EU, por exemplo, EUA, Brasil ou Suiça, o
IVA não será cobrado”
“Los precios de expedición incluyen IVA
(Impuesto sobre el Valor Añadido) a la
tasa legal en vigor para todos los países de
la Unión Europea. Para los países fuera de
la UE, por ejemplo, EEUU, Brasil o
Suiza, el IVA no será cobrado”
É mais um exemplo claro da má qualidade dos textos na língua de partida, o que
dificulta o trabalho do tradutor. Neste caso específico optei, mais uma vez, por partir a
frase em duas de modo a que se tornasse mais claro para o utilizador.
“A entrega é sempre feita por a empresa
CTT EXPRESSO na morada que o cliente
indicar, prazo pós expedição da
mercadoria 24/h uteis.”
“La entrega siempre se hace por la
empresa CTT EXPRESSO en la dirección
que el cliente indicar, en el plazo de 24h
hábiles tras la expedición de la
mercancía.”
Além de o original não estar bem escrito em português, porque o correcto em
português europeu seria a conjugação da proposição por + a = pela, em vez de “por a”,
também o final de frase não está muito claro, razão pela qual optei pela paráfrase de
modo a tornar-se um pouco mais claro para o utilizador, sem, no entanto, me afastar
muito do original. Não obstante, aquando da elaboração do relatório lembrei-me que
poderia acrescentar “en el” e “la”, o que daria mais fluidez ao discuro.
35
3.5 SLB Oficial
Fig.14 SLB Oficial
O site SLB Oficial é o site mais importante do clube, tendo em conta que é
aquele que faz a apresentação do mesmo: apresenta os jogadores, a história do clube e
os títulos, assim como as diversas actividades económicas em que o clube está
envolvido e que das quais os seus adeptos podem usufruir.
Na fase de correcção das traduções, o meu supervisor optou por usar frases mais
curtas e directas nos “menús centro”45
, ao invés da tradução practicamente literal que eu
fiz. No entanto, considero uma escolha bastante acertada porque antes não havia
coerência entre os menús, uma das características essenciais do hipertexto. Assim, a
informação fica disponível de uma forma mais organizada e o utilizador confirma que
há uma continuidade entre os mesmos.
Aquando da tradução da apresentação dos jogadores (de todas as modalidades),
deparei-me com a questão da nacionalidade: se deveria usar maiúscula ou não e se
deveria estar no feminino ou masculino. Em relação à letra inicial, foi quase intintivo
optar pela minúscula, já que é muito raro em espanhol e português, ao contrário do que
acontece em inglês, usar-se maiúsculas. No entanto, o meu supervisor não só optou pela
maiúscula como ainda pôs a nacionalidade no masculino, o que é errado e para o
confirmar transcrevo um excerto do site FUNDÉU BBVA – Fundación del Español
Urgente, que diz o seguinte:
45
Ver anexos pp: 29, 39, 77, 102
36
“¿Qué es lo correcto, decir: Juan , nacionalidad, española o Juan, nacionalidad,
español?
Cuando se pregunta por la nacionalidad, lo adecuado es hacer la concordancia en
femenino, ya que en los formularios de este tipo nos referimos a la nacionalidad como
tal, no al individuo que la posee.”46
E foi exactamente este o meu raciocínio, porque é à nacionalidade que nos estamos a
referir. Portanto, a nacionalidade é, por exemplo, “brasileira” e não “brasileiro”. O
jogador pode ser brasileiro, mas a sua nacionalidade continua a ser brasileira.
A próximidade entre duas línguas é mais uma desvantagem do que uma
vantagem, tendo em conta que é exigida uma maior atenção ao tradutor por haver uma
maior probabilidade de ocurrência de “falsos amigos”. E foi o que aconteceu quando
tive que traduzir “central” (a posição de um dos jogadores). Traduzi pela mesma
palavra, quando a mais corrente é mesmo “centrocampista”, o que foi corrigido pelo
meu supervisor.
Em relação à equipa técnica, houve uma situação que despertou alguns
problemas: em Portugal diz-se que existe o “treinador” e o(s) “treinador(es) adjunto(s)”.
Ora, em espanhol é frequente ouvir-se falar do “primer entrenador” e do “segundo
entrenador”, mas não há mais referências a, por exemplo, um terceiro treinador. O site
do Real Madrid apresenta a equipa técnica do seguinte modo:
Fig.15 Equipa Técnica do Real Madrid
46
http://www.fundeu.es/consultas-N-nacionalidad-2494.html (última consulta: dia 9 de Junho de 2012)
37
Dá destaque para o treinador, José Mourinho (na foto), e depois apresenta o “segundo
entrenador”, que no caso português seria o “treinador adjunto” e ainda o “asistente del
entrenador”, que suponho ser um treinador mas com menos autoridade dentro da equipa
e que por essa mesma razão é chamado de “asistente”. No site do Benfica não há
referência a nada disto, ou seja, não se depreende se há um treinador mais importante do
que outro porque estão todos designados como “treinador adjunto”. Para não cair no
ridículo de usar “primer entrenador”, “segundo entrenador”, “tercer entrenador”, e por
aí fora, optei por usar “entrenador adjunto” para todos os que não fossem o treinador
principal. No entanto, o meu supervisor optou por diferenciar os treinadores, certamente
porque tem um maior conhecimento do clube do que eu e sabe as diferentes tarefas de
cada um. Neste sentido, usou a diferenciação que o Real Madrid também usa e assim o
utilizador pode distinguir as funções de cada elemento. Não obstante, se esta situação se
verifica em todas as modalidades, o mesmo não acontece no “Hockey”, em que os dois
treinadores adjuntos estão traduzidos por “segundo entrenador”.47
Seguindo o raciocínio
anterior, significa que estão os dois “em pé de igualdade”; por que não traduzir então
por “entrenador adjunto”, sendo até que é uma definição bastante usada, por exemplo,
em Espanha?
Aquando da tradução das tabelas48
, comecei por traduzir tudo o mais literal
possível, no entanto o meu supervisor corrigiu-me para que traduzisse como aparece
nos anexos da versão fnal do relatório; a verdade é que, quando estava a preparar o
relatório, reparei que o meu supervisor tinha voltado à minha versão inicial de traduzir
as tabelas de forma literal. Tendo em conta que o processo de tradução é feito de
escolhas, o sucedido não é mais que uma das principais características do mesmo: a
constante tomada de decisão que o tradutor enfrenta
Uma das principais personagens do mundo futebolístico é, sem dúvida, o
roupeiro. São largamente elogiados pelos jogadores e a sua fama, muitas vezes, acaba
por representar o clube. Como não sabia a palavra mais adequada, perguntei a um amigo
meu nativo do espanhol, o qual me disse que era “utillero”. Esta informação foi
corroborada pelo dicionário online de termos futbolísticos El Futbolín49
, que define
“utillero” da seguinte forma: “Persona encargada de cuidar y disponer el material de un
equipo, como las camisetas, botas, balones, etc.”. O meu supervisor optou por “ropero”,
47
Ver anexos pp: 116
48
Ver anexos pp: 89, 108, 11
49
http://www.elfutbolin.com/diccionario-de-futbol/utillero (última consulta: 12 de Junho de 2012)
38
expressão que não existe no dicionário acima referido e que a versão online da Real
Academia Española50
não associa ao futebol, mas sim a um móvel ou a uma pessoa que
vende roupa já feita. Por esta razão, “utillero” é o termo mais adequado à temática do
futebol.
Nos contactos, sempre que aparece “tlm” significa que é um telemóvel, que em
espanhol é “móvil” e que não tem abreviatura. Por essa mesma razão usei sempre
“móvil” na sua forma extensa. No entanto, o meu supervisor corrigiu para “tm”, o que
não é correcto porque em espanhol apenas existe “móvil” (mais usado em Espanha) ou
“celular” (mais usado na América Latina).51
Consequentemente, deve-se usar “móvil”
na sua forma extensa e nunca “tm” porque o “t” não existe em nenhuma das palavras.
Em relação ao “Departamento de Formação”, é de sublinhar a preferência do
supervisor da entidade de acolhimento por “Cantera” em vez do acima referido, tendo
em conta que esta designação está completamente direccionada para a cultura de
chegada e todos os utilizadores falantes do espanhol entenderão sem qualquer problema
e associarão às escolas de formação do clube.
Uma das principais dificuldades verificadas durante a tradução foi a seguinte:
Português Espanhol
“sector que a determinada altura foi
descurado, mas que tem vindo a ser
recuperado progressivamente.”
“sector que a determinada altura fue
descuidado, pero que está siendo
recuperado progresivamente.”
Este excerto deu-me especial preocupação porque não conseguia encontrar equivalente
em espanhol, razão pela qual optei por “está siento”, porque é o que mais se aproxima
do sentido de “estar neste momento a ser recuperado”. O original não identifica desde
quando é que está a ser alvo de melhorias, mas percebe-se que tem estado a ser alvo até
agora; na minha tradução apenas consegui transmitir o sentido de que neste momento
está a ser alvo de melhorias.
Para finalizar a minha análise, queria chamar a atenção para a importância dos
constrangimentos culturais.
50
http://buscon.rae.es/draeI/SrvltConsulta?TIPO_BUS=3&LEMA=ropero (última consula: 12 de Junho
de 2012)
51
http://www.fundeu.es/consultas-M-movil-o-celular-388.html (última consulta: 9 de Junho de 2012)
39
A selecção do idioma no site oficial do Benfica é feita mediante a escolha de
bandeiras. O referido site tem 3 línguas: o português, o inglês e o espanhol, e nenhuma
destas línguas pertence a um único território, muito pelo contrário. Da minha
experiência pessoal, posso afirmar que já vi sites brasileiros com a bandeira do Brasil
para a escolha do português e a empresa “Leya” usa a bandeira de cada PALOP para o
mesmo efeito. Não há, portanto, uma norma. Além do mais, a versão inglesa do site do
Benfica tem a bandeira do Reino Unido, mas o inglês usado é o americano, o que não é
muito coerente. Há, ainda, outro factor a ser considerado: o número de atletas
provenientes da América Latina é superior ao daqueles que vêm de Espanha. Como M.
Tercedor Sánchez afirma, existe a “imposibilidad de identificar un ícono como propio
por razones culturales”52
. Além do mais, nem o Real Madrid nem o Barcelona usam
bandeiras, mas sim o nome do idioma, como outros clubes portugueses fazem.
Evidentemente que existe o argumento de que em contexto de língua já é esperado
recorrer à bandeira, mas existem também vozes que argumentam que a bandeira é o
símbolo de um país e não de uma língua, o que não deixa de ser verdade. Usar o nome
do idioma é a opção mais neutra e que mais se coaduna com as exigências da
localização de não haver referências culturais constrangedoras para o público. No
entanto, o clube não quis fazer a mudança e a escolha do idioma continua a ser feita
através das bandeiras.
Fig. 16 Selcção de idioma no site oficial do Real Madrid, do Barcelona e do Benfica
52
TERCEDOR SÁNCHEZ, 2005: 154
40
Conclusão
Um valioso contributo da globalização foi proporcionar um maior conhecimento
do outro e das diferentes culturas. Isto só foi possível graças aos constantes avanços nas
tecnologias da informação e comunicação, que permitiram a integração de um elevado
número de informação na Internet.
Apesar de o inglês, nos dias de hoje, ser visto como uma lingua franca, a
verdade é que até um poliglota prefere ler e comprar na sua língua-mãe, pelo que se
tornou imperativo desenvolver novas estratégias de tradução que tivessem em conta o
novo meio, a Internet, e o novo tipo de texto, o hipertexto. O processo de localização
web afigura-se, assim, como a nova estratégia de tradução de conteúdos digitais, tendo
em conta o mercado do locale para o qual se está a traduzir.
A partir do modelo defendido por Oscar Díaz Fouces e dos programas de
tradução sugeridos por Anna Estellés, concluí que o processo de localização web
envolve muito trabalho em equipa, ao contrário da tradução. Isto justifica os erros
informáticos aqui apresentados e prova que a presença do tradutor/ localizador durante
todo o processo de localização é muito importante. Adicionalmente, o localizador deve
incluir nas suas aptidões linguísticas as informáticas e ter em mente que a escrita difere
consoante o meio.
Em suma, a localização web é uma modalidade da tradução que gera milhões e
que se prevê continuar a gerar, tendo em conta que o uso da Internet é generalizado e
que as empresas cada vez mais se querem internacionalizar e incidir em novos
mercados. Por tudo isto, considero uma boa área de especialização para os tradutores,
principalmente os recém-licenciados, por estarem, à partida, mais familiarizados com as
novas tecnologias. No mesmo sentido, ter a oportunidade de aprender uma nova
modalidade de tradução de raíz enquanto a praticava foi das melhores experiências que
tive. Este estágio não só contribuiu para a minha formação académica, como
principalmente para a minha formação enquanto profissional de tradução, tendo em
conta que tive que lidar com prazos bem reais, com objectivos específicos e com a
avaliação do cliente, que são todos os adeptos do clube.
41
Bibliografia
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CADIEUX, Pierre; ESSELINK, Bert – GILT: Globalization, Internationalization,
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Publicacions de la Universitat Autònoma de Barcelona, Número 12: 2005, p. 151-160,
ISSN 1138-5790. Versão online disponível em:
http://ddd.uab.cat/pub/quaderns/11385790n12p151.pdf

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Relatório de estágio ana viegas 41216

  • 1. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa A Localização Web: Relatório de Estágio da Licenciatura em Tradução no Sport Lisboa e Benfica Supervisor da FLUL: Professor Pierre Lejeune Supervisor do SLB: Dr. Tiago Marques Ana Margarida Laranjeira Viegas – 41216 Junho de 2012
  • 2. 2 Resumo: O presente relatório de estágio visa, em primeiro lugar, introduzir os efeitos da globalização e dos avanços das tecnologias da informação e comunicação no processo comunicativo e no processo de tradução e, de seguida, apresentar o processo de localização web como a nova estratégia de tradução para o novo meio, a Internet. Para o efeito vou descrever o Estágio que realizei no Sport Lisboa e Benfica e explicar as diferentes escolhas tomadas durante o processo de tradução/localização.
  • 3. 3 Agradecimentos Agradeço, em primeiro lugar, à Inês por ter tratado da minha incrição, e aos meus pais e amigos pelo apoio e motivação para fazer este estágio. A todos os elementos do Benfica Multimédia: ao Dr. Tiago por me ter avisado que o Benfica pretende incutir valores de persistência e de trabalho a todos os estagiários, à Filipa por todos os sorrisos, ao Paulo por todas as canções e por todas as brincadeiras, ao Tiago pelas picardias, ao Zé por me ter incluído desde o início e por sempre se ter preocupado comigo e ao Manel, o meu mentor, que esteve sempre comigo e que sabia elogiar o esforço e criticar o que eu podia ter feito melhor. Ao Professor Miguel Viqueira, o professor a quem eu mais devo em termos de aquisição de valores e que esteve sempre pronto a ajudar-me a solucionar as minhas dúvidas relacionadas com a língua espanhola. E por fim, mas não menos importante, ao Professor Pierre Lejeune, por toda a amabilidade e por toda a disponibilidade para ouvir as minhas dúvidas e fazer-me ter uma visão crítica do meu trabalho.
  • 4. 4 Índice Introdução.......................................................................................................................5 1. Enquadramento Teórico..............................................................................................6 1.1 Globalização e Tradução...............................................................................6 1.2 G.I.L.T...........................................................................................................8 1.3 Localização....................................................................................................11 1.3.1 Evolução.........................................................................................11 1.3.2 Modelo............................................................................................11 1.4 A localização e os estudos de tradução.........................................................13 1.5 Texto e Hipertexto.........................................................................................14 1.5.1 A coesão e coerência no novo meio................................................15 1.5.2 Os desafios do novo meio...............................................................16 2. Descrição do Estágio...................................................................................................18 2.1 Descrição da empresa e estipulação de objectivos........................................18 2.2 Metodologia de trabalho................................................................................20 3. Análise das Traduções.................................................................................................22 3.1 Fundação Benfica..........................................................................................22 3.2 Benfica Corporate Club.................................................................................27 3.3 Benfica ao Vivo.............................................................................................29 3.4 Loja do Benfica.............................................................................................30 3.5 SLB Oficial....................................................................................................35 4. Conclusão……………………………………………………………………………40 5. Bibliografia…………………………………………………………………………..41 6. Anexos……………………………………………………………………………….44
  • 5. 5 Introdução “En general, Internet como medio para distribuir información se considera la invención más significativa desde que Guttenberg creara la imprenta en el siglo XV. (…) Inexorablemente, esta revolución se ha trasladado al mundo de la traducción con el surgimiento de una nueva modalidad, la localización web, que está teniendo un profundo impacto en su práctica, investigación y docencia.” (Jiménez Crespo, 2008: 1) A globalização e os avanços nas tecnologias da informação e comunicação (TIC) permitiram o acesso a computadores pessoais e facilitaram o acesso à Internet. Este novo meio não só mudou o processo comunicativo, como confirmou que é possível a convivência entre o inglês como lingua franca e as demais línguas do mundo, sem o risco de se perder as indissincrasias associadas a cada uma destas. Dentro deste meio já não se fala em texto, mas em hipertexto, isto é, um site. Com o aumento da diversidade linguística dos conteúdos disponíveis na Internet, tornou-se imperativo desenvolver novas estratégias de tradução. Assim, surgida da localização de software, a localização web veio responder à necessidade de o utilizador poder ler na sua própria língua e em conformidade com a sua cultura, num novo meio. Fundado em 1904, o Sport Lisboa e Benfica é um clube eclético, principalmente conhecido pela sua equipa de futebol, e foi considerado pela International Federation of Football History & Statistics como o 9º melhor clube do século XX e o 8º melhor clube do mundo em 2011, tendo inclusive conseguido o primeiro lugar no mês de Fevereiro do mesmo ano.1 Com provas dadas do seu reconhecimento internacional, a localização do seu site para espanhol torna-o no primeiro clube português a ter um site em 3 das 5 línguas mais faladas no mundo e na Internet: o português com 240 milhões de falantes, o inglês com 328 e o espanhol com 329.2 O presente relatório de estágio visa proporcionar uma visão geral do processo de localização web, explicar de que modo o novo meio afecta o processo de tradução e descrever e analisar as principais decisões tomadas e dificuldades sentidas durante a tradução/localização. Os anexos serão entregues apenas em versão digital. 1 Ver anexo 1: p. 2 2 Ver anexo 2: p. 3
  • 6. 6 1. Enquadramento Teórico 1.1 Globalização e Tradução O conceito de “globalização” pode ser concebido dentro dos mais diversos níveis de análise, com maior destaque para o âmbito económico. Aqui, é de salientar o empenho que os Estados-Nação têm posto na quebra de barreiras económicas, políticas e sociais, assim como na redução da distância e do tempo na troca de informação, facilitada pelo desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação (de agora em diante, TIC).3 A ideia inerente ao conceito de globalização não é nova, e no caso português temos o exemplo dos Descobrimentos no século XV e XVI e as resultantes trocas comerciais e culturais. No entanto, com o desenvolvimento das TIC um maior número de pessoas passou a ter acesso a computadores pessoais e, consequentemente, a uma elevada quantidade de informação disponível através da Internet. Para o nosso trabalho é importante o aspecto económico da globalização (mais desenvolvido adiante), mas mais ainda o aspecto cultural. A noção de cultura deve abarcar uma dimensão dinâmica já que é um processo permanente de construção, desconstrução e reconstrução. Por esta razão, não devemos conceber a globalização como um esbatimento cultural, ainda que o seja economicamente, mas antes um processo que permite a divulgação das diferentes culturas e sociedades, facilitado pelo desenvolvimento das TIC. Como sublinha John Hartley, “a cultura «global» pode existir lado a lado com comunidades, identidades e gostos locais e tradicionais.”4 Mais, esta difusão cultural tem uma primeira implicação para o processo de tradução: a contextualização. Havendo uma maior divulgação das diferentes culturas do mundo e uma maior comunicação entre pessoas que se encontram separadas física e culturalmente, há também uma maior noção do outro e do seu modo de agir e, por esta razão, o tradutor é levado a pensar duas vezes quando se depara com um problema de tradução do âmbito cultural: será que o público-alvo precisa de uma nota de rodapé para contextualizar o sucedido ou o seu conhecimento do mundo actual é suficiente para compreender o que aconteceu?5 3 SHIYAB, Said M - “Globalization and its impact on translation” (4) em Globalization and Aspects of Translation, Newcastle Upon Tyne, Reino Unido: Cambridge Scholars Publishing, 2010. 4 HARTLEY, John - Comunicação, Estudos Culturais e Media. Conceitos-chave. Lisboa: Quimera, 2004 5 CHOON CHENG, Cindy - Effects of Globalization on Translating Culture
  • 7. 7 Vistos os aspectos económicos e culturais da globalização, é importante abordar os aspectos linguísticos, fundamentais para o nosso trabalho. Em todos os estudos analisados sobre a área, existem duas situações em comum: o crescimento do Inglês como lingua franca e o aumento da procura por tradução. Como Anthony Pym destaca, parece um paradoxo, já que o aumento do Inglês como lingua franca levaria a que, na pior da hipóteses, a diversidade linguística fosse cada vez menos necessária e todos falássemos Inglês, daí advindo o fim da profissão de tradutor. No entanto, os mais diversos estudos sublinham o aumento do número de traduções, entre os quais o de Hatim e Munday: “Despite the apparent dominance of English globally, the need for translation continues to grow and the actual and virtual movement of people means that even previously monolingual societies are increasingly adapting to the presence of other languages and cultures in their travels through the internet or within their local community.”6 Como Anthony Pym refere, “globalization is neither the friend nor the foe of translation. It is quite simply changing many of the situations in which translation is called upon to operate.”7 Globalização não significa que tudo possa ser feito em todo o lado; antes, promove a especialização e futura exportação: “We tend not to complain about globalization when our port comes from Porto, our scotch from Scotland, out films from Hollywood (...), our suits from Italy, our software programs from the west coast of the United States, or indeed our software localization from Ireland.”8 Efectivamente, a lingua franca opera durante a fase de produção (que agora passou a ser de “um-para-muitos”), num determinado local, mas as diferentes traduções têm lugar na fase de exportação destes produtos, porque tem que haver uma adaptação ao locale, e isto leva-nos ao cerne do nosso trabalho: o processo de localização. 6 HATIM, Basil; MUNDAY, Jeremy - Translation. An advanced resource book. Londres: Routledge, 2006: 330 7 PYM, Anthony - Globalization and the Politics of Translation Studies, versão pré-imprimida, 2003 8 Idem.
  • 8. 8 1.2 G.I.L.T O processo de localização deve ser analisado na sua relação com mais três processos: globalização, internacionalização e tradução, os quais juntos formam o acrónimo “G.I.L.T.”: Fig.1 O processo de localização web na relação que os quatro conceitos mantêm entre si. Qualquer destes conceitos é multitemático, por isso é importante salientar que qualquer definição dada neste trabalho terá como âmbito a localização web. A Globalização é o processo mais amplo, englobando todos os outros. Centra- se, principalmente, na organização empresarial de modo a conceber “a website in such a way that it can be used in different countries with minimal changes”9 e está, por natureza, direccionado “to all of the business decisions and activities required to make an organization truly international in scope and outlook.”10 Concebe-se, portanto, como um processo predominantemente dirigido ao marketing e venda de produtos. Actualmente, como afirma Jiménez Crespo, a globalização produz-se no campo temporal tanto antes da localização, porque visa facilitá-la, como depois desta, na 9 CORTE, Noelia – Web Site Localization and Internationalization: a Case Study, 2000: 10 10 LISA – 2007: 1 Globalização Internacionalização Localização Tradução
  • 9. 9 distribuição de produtos ou assistência multilingue ao cliente.11 Internacionalmente este processo é também designado por “g11n”, em que o número onze representa as letras entre a letra “g” e a “n”, em inglês. Se a globalização se prende mais com a organização empresarial e estatégias de marketing, a Internacionalização prende-se com a fase técnica de preparação da localização. É um conceito essencial porque “the purpose of internationalization is to make localization easier, faster, higher quality and more cost-effective”.12 Este objectivo é conseguido “enabling the product to be used without language or culture barriers”13 Isto é, o processo de internacionalização visa facilitar a localização tornando o site linguística e culturalmente neutro. O produto não deve depender da Língua de Partida e a função comunicativa do Texto de Partida deve manter-se no Texto de Chegada. Dependendo do locale-alvo existem diferentes níveis de internacionalização. As línguas para as quais mais se localiza são as denomidadas “FIGS”: Francês (56%), Italiano (21%), Alemão (German) (50%) e Espanhol (Spanish) (53%)14 , as quais, quando comparadas com outras línguas ocidentais, não exigem um nível de internacionalização muito diferente. No entanto, se estivermos a falar de Japonês, Chinês ou Árabe, o nível de internacionalização terá de ser muito mais elevado tendo em conta que não usam o mesmo alfabeto, o mesmo formato de datas e horas e o Árabe, inclusive, escreve-se numa direcção diferente (da direita para a esquerda) da das línguas ocidentais (da esquerda para a direita). No plano internacional também é designado “i14n”, em que o número 14 é o número de letras que está entre a letra “i” e a “n”, em inglês. O termo locale, já referido anteriormente, define o conjunto de informação associado a um lugar e cultura. No âmbito do nosso trabalho, e em termos muito simples, é a quem está dirigido o site localizado. 11 JIMÉNEZ CRESPO, 2008: 34 12 ESSELINK, Bert, 2000 13 CADIEUX, Pierre, ESSELINK, Bert – GILT: Globalization, Internationalization. Localization. Translation. 2004 14 Lisa 2007: 28
  • 10. 10 O conceito Localização deriva de “locale”. Considero de suma importância apresentar a definição dada por Keiran Dunne (2006)15 , em que se baseou Jiménez Crespo (2008)16 para a sua própria definição, a qual, após extensa pesquisa na área, consideros a mais completa: “The process by which digital content and products developed in one locale (defined in terms of geographical area, language and culture) are adapted for sale and use in another locale. Localization involves: (a) translation of textual content into the language and textual conventions of the target language, (b) adaptation of non-textual content (from colors, icons and bitmaps, to packaging, form factores, etc.) as well as input, output and delivery mechanisms to take into acount the cultural, technical and regulatory requirements of that locale. In sum, localization is not so much about specific tasks as much as it is about the processes in which products are adapted.” “La localización constituye una modalidad de traducción que comprende un complejo proceso textual, comunicativo, cognitivo y tecnológioco por el que un texto en formato digital y en un entorno interactivo se modifica para su uso en una lengua y contexto sociocultural de recepción distintos a los originales, siempre según las expectativas de la audiencia a la que se dirija y las especificaciones o grado de localización que encargue el iniciador.” É, então, a adaptação de um conteúdo digital desenvolvido num locale para venda e uso noutro locale, tendo em consideração as expectativas do público-alvo. A Tradução é considerada uma etapa do processo de localização. Contrariando esta definição simplista estão os autores Peter Sandrini (2005), Jiménez Crespo (2008) e Anthony Pym (2010): “Seen from a translation studies perspective, however, the process of translation involves lingustic as well as cultural transfer and the communicative intention or function of the target text is of overall importance. Translation, trerefore, always involves some form of adaptation with respect to the text itself or other items relevant to the document such as graphics, etc.”17 15 em Jiménez Crespo, 2008: 40 16 ibidem: 45 17 Peter Sandrini, 2005: 2
  • 11. 11 Segundo este pensamento, não se pode considerar a tradução como uma simples etapa do processo de localização, mas antes como um processo tão ou mais importante que os outros por englobar mais de 50% de todo o processo de localização. 1.3 Localização 1.3.1 Evolução A indústria da localização surgiu nos anos 80 do século passado, advinda da localização de software, quando um maior número de pessoas começou a ter acesso a computadores pessoais e esperava destes produtos (hardware e software) uma certa adaptação cultural. Tendo em conta que nesta altura a maioria das empresas de hardware e software era de origem estado-unidense, a Irlanda estabeleceu-se como o centro da indústria da localização porque estas empresas precisavam estabelecer os seus centros de distribuição fora dos Estados Unidos e este país era falante do Inglês, uma porta para a Europa e União Europeia e anda oferecia isenções fiscais às empresas que nele investissem. Com a expansão da Internet, a indústria da localização também assistiu a um forte crescimento e nos anos 90 era uma indústria consolidada.18 1.3.2 Modelo Como Anna Estellés refere, “el entorno de trabajo de un traductor de páginas web es un entorno cambiante y complejo que se atiene a multitud de variables (equipo del proyecto, materia prima, dificultades técnicas, dificultades lingüísticas, problemas socioculturales, tiempo, calidad, etc.)” e que inclui situações comunicativas diversas, como a linguagem jurídica, de marketing, etc., pelo que “el uso de recursos terminológicos y lingüísticos estará a la orden del día en este contexto”.19 Baseando-se em Daniel Gouadec, Oscar Diaz Fouces20 propõe o seguinte modelo do processo de localização que combinaremos com os programas de tradução sugeridos por Anna Estellés: 1. Recepção e gestão da encomenda: 18 ESSELINK, Bert – The Evolution of Localization, 2003: 26 19 ESTELLÉS, Anna: 3 e 4 20 DIAZ FOUCES, Oscar – “A localização de páginas da internet na formação de tradutores” em Confluências – Revista de Tradução Científica e Técnica. Número 1, Novembro de 2004
  • 12. 12 - análise do conteúdo da encomenda, definição do “escopo”, método de obtenção dos conteúdos a traduzir, classificação dos conteúdos de acordo com o formato, a área de especialização, etc., orçamento; - SDL TRADOS STUDIO (SDL 2009) para preparer a gestão do projecto; CatCount (AIT, 2009), Tkount (Prior, 2009) para contar as palavras e elaborar um orçamento. 2. Organização dos recursos humanos: - definição de prazos e tarefas e divisão pelos diferentes elementos; - Project Professional (Microsoft, 2010), MindManager (MindJet, 2008) para gestão de projectos. 3. Organização dos recursos materiais: - Multiterm (SDL, 2009), base de dados terminológica; memórias de tradução; DocuGes (Pérez Vidal, 2010) para gestão documental; Zatero (Stillman, kornbill y otros, 2010) para organizar recursos online. 4. Tradução/ Localização: - tradução automática: Systran (Systran, 2007); - tradução assistida por computador: GlobalSight (Welocalize, 2009), SDL Tridion (SDL, 2009). 5. Controlo de qualidade: - linguística (pontuação, redacção, estilo); - homogeneidade (harmonia de escolhas); - adaptação técnica (a cargo da equipa informática); - adaptação cultural; - correctores ortográficos. 6. Integração dos conteúdos 7. Avaliação: - verificação global (se o conteúdo está bem traduzido e se se consegue vizualizar tudo correctamente [recurso a diferentes navegadores]).
  • 13. 13 8. Entrega: - entrega do encargo, facturação e recolha de material reutilizável em projectos futuros; - Webbudget (Aquino, 2009); análise ROI (Retorno sobre Investimento) para avaliar as vantagens económicas que a empresa vai ter com o site localizado; Awstats (Destailleur, 2009) para ver o país de quem visita o site. 1.4 A localização web e os estudos de tradução Apesar de a localização ter tido o seu início nos anos 80, só dez anos mais tarde se tornou do conhecimento dos estudos de tradução e porque as instituições académicas precisavam formar os novos tradutores para esta actividade milionária.21 A localização web impõe novos desafios ao tradutor e à disciplina de estudos de tradução. Um deles tem a ver com o novo meio, a Internet, e com um novo tipo de texto, o hipertexto, os quais abordaremos adiante. Outros desafios têm a ver com a importância dada ao contexto de chegada e ao facto de ser uma actividade que exige trabalho de equipa. Os estudos de tradução não conseguem conceber a tradução como uma mera etapa dentro do processo de localização, nem reconhecem os processos de internacionalização e localização. O processo de internacionalização, que visa tornar o texto neutro linguísta e culturalcamente, acaba com a noção de texto de partida porque torna o texto num texto-base que servirá para futuras localizações para diferentes línguas. Quando o tradutor toma contacto com o texto, não tem qualquer referência cultural porque o processo de internacionalização tornou-o neutro. Todo o processo de localização tem em mente o texto de chegada e nunca o de partida, porque o objectivo é tornar o texto adequado para determinado locale, a maioria das vezes com estratégias de marketing em mente. São características da localização, e desafios para o tradutor, as seguintes: - o escopo ou função do texto está intimamente relacionado com estratégias económicas e comerciais (normalmente a empresa que manda localizar o seu sitio web pretende incidir em novos mercados para aumentar a exposição dos seus produtos e o volume de vendas); 21 LISA: 2007
  • 14. 14 - o encargo é que define o grau de localização, o que por sua vez afecta o processo de tradução (já que, quanto maior for o grau de localização, maior a adaptação que deve ser feita durante o processo de tradução): - standardized (um sitio web para todos os países; não traduzido); - semi-localized (um sitio web fornece informação para todos os países); - localized (um sitio web traduzido para cada país); - highly localized (tradução e adaptação específicas para o país-alvo); - culturally customized (um sitio web completamente novo).22 - usam-se os próprios modelos de localização (referido anteriormente); - exige um contínuo trabalho em equipa (por ter diferentes processos e de áreas tão vastas como o marketing (globalização), a informática (internacionalização), a cultura (localização) e a linguística (tradução). É impossível que uma só pessoa dê resposta a todos estes processos. - a substituição do texto de partida pela internacionalização, a qual visa desvirtuar o texto de qualquer característica associada a um locale e torná-lo linguística e culturalmente neutro para posterior localização, tendo em vista diferentes locales. Por sua vez, os estudos de tradução beneficiam de séculos de pesquisa, ao contrário da localização, pelo que esta última poderia ganhar muito ao servir-se destes mesmos estudos e adaptá-los ao meio digital e às características do novo tipo de texto, o hipertexto. 1.5 Texto – Hipertexto No processo de tradução, o texto é de extrema importância: “Text is the central defining issue in Translation. Texts and their situations define the translation process.” (Neubert e Shreve, 1992:5)23 E pode ser definido como “a coherent and cohesive unit” (Hatim e Manson)24 “which can be realized by a combination of verbal and non-verbal means” (Nord)25 . É uma 22 PYM, Anthony - Website localization - 2010: 5 23 em Jiménez Crespo, 2008:77 24 ibidem: 81 25 ibidem: 81
  • 15. 15 unidade de sentido, oral ou escrita, de extensão variável que engloba traços linguísticos, semânticos e pragmáticos. Tendo em conta que o âmago do nosso trabalho é a tradução para um novo meio, a Internet, o nosso objecto de estudo não são os textos, mas os hipertextos: “una unidad textual coherente que se desarrolla y se presenta al usuario de modo unitario en la WWW. La misma presenta una estructura multilineal de subtextos enlazados por vínculos, conlleva una unidad temática, y una unidad funcional que se refleja en una función dominante junto a una o varias funciones subsidiarias y se expresa no sólo a través de aspectos lingüísticos sino gráficos, tipográficos e interactivos.”26 Tendo por base os estudos de O‟Hagan e Asworth (2003) e Jiménez Crespo (2008), salientamos como principais características do hipertexto: - ser lido no ecrã devido ao novo meio, a Internet; - ser não linear, o utilizador lê pela ordem que quiser; - ser alvo de mudanças e actualizações com mais frequência que o texto impresso; - conter, muitas vezes, elementos multimédia (áudio, gráficos, ícones, etc.); - não ter um público-alvo definido porque qualquer pessoa tem acesso aos sitios web; está dirigido a utilizadores heterógenos; - os seus conteúdos poderem ser adaptados às normas linguísticas e convenções culturais de chegada mediante o processo de localização web. 1.5.1 A coesão e a coerência na localização de hipertextos “Like cohesion, coherence is a network of relations which organize and create a text: cohesion is the network of surface relations which link words and expressions to other words and expressions in a text, and coherence is the network of conceptual relations which underline the surface text. Both concern the way stretches of language are connected to each other. In the case of cohesion, stretches of language are connected to each other by virtue of lexical and grammatical dependencies. In the case of coherence, they are connected by virtue of conceptual or meaning dependencies as perceived by language users.”27 26 em Jiménez Crespo, 2008: 106 27 BAKER, MONA – “In Other Words. A coursebook on translation”, p:218
  • 16. 16 Para a localização web, a coerência é de maior importância porque vai mais além do nível sintáctico para se centrar no sentido do (hiper)texto como unidade. Assim: “los mecanismos cohesivos como los pronombres, conjunciones, adverbios, etc. Se pueden reducir en gran manera en los hipertextos sin perder la coherencia necesaria entre los elementos textuales (Fritz, 1999), y esto se compensa con el conocimiento global de la superestructura y macroestructura prototípica de los usuarios. En el caso de los hipertextos, un menú de navegación es coherente con el resto de elementos textuales en una página web determinada, aunque desde el punto de vista de la cohesión no se producirían los mecanismos que se apuntan en la lingüística textual.”28 Tendo em conta que o hipertexto é todo o site e não apenas algumas páginas que o compõem, o tradutor deve ter em atenção que o (hiper)texto deve fazer sentido no seu todo e não apenas dentro das referidas páginas. Por sua vez, outro elemento fundamental para a construção de sentido é o utilizador. Este, ao escolher o seu caminho mediante as diferentes hiperligações, está a construir o seu próprio sentido do (hiper)texto. E tendo em conta que todos os utilizadores são diferentes e que o público- alvo dos sítios web é heterógeno, cada utilizador construirá o seu próprio sentido do (hiper)texto mendiante as escolhas que faça. 1.5.2 Os desafios do novo meio Um novo desafio que a localização impõe ao tradutor é a adaptação da escrita às exigências do ecrã. Esta é uma nova aptidão que o tradutor deve adquirir. Vários estudos provaram que é mais dificil ler no ecrã do que no papel, cerca de 25% mais lento,29 porque é exigido um esforço extra aos olhos e ao cérebro. Neste sentido, têm sido feitos esforços para facilitar a leitura, como o exemplo da Microsoft que desenvolveu tipos de letra específicos para a leitura em ecrã, como o “Arial” ou o “Tahoma”. Não obstante, a principal característica desta leitura digital é que o utilizador não lê no sentido tradicional da palavra; antes, escaneia o ecrã com os olhos até encontrar o que lhe interessa: “they look at heading and subheading first; they scan for hyperlinks, numerals, and keywords. They jump around, scrolling and clicking – 28 Jiménez Crespo, 2008: 29 McGovern, Gerry; NORTON, Rob; O‟Dowd, Catherine – Writing for the Web – Financial Times Prentice Hall.
  • 17. 17 their fingers never far from the browser „Back‟ button.”30 Por esta razão, e para que o utilizador e possível cliente permaneça o máximo de tempo possível no sitio web, a escrita deve ser adaptada ao novo meio e as consequentes traduções devem ter em atenção as sequintes características: Em linhas gerais, o texto digital deve ser breve, cerca de 50% mais curto que o texto impresso, conciso, claro, informal, acessível e específico. Ao nível do lexico e da semântica, dá-se preferência a termos simples e familiares ao utilizador, à coerência e consistência na terminologia usada, evitando o uso de sinónimos e de acrónimos e abreviaturas (escreve-se a definição completa entre parênteses). Ao nível da sintaxe, opta-se por frases curtas, cada uma com uma ideia; prefere- se a voz activa; os parágrafos devem revelar a estrutura da pirâmide invertida; dá-se primazia às formas verbais sobre os nomes e às formas verbais, preposições e conjunções simples sobre as compostas; e, finalmente, deve-se ter cuidado no uso de anáforas, catáforas e deícticos; Ao nível do estilo deve-se usar um tom similar ao discurso oral, dar primazia às expressões afirmativas sobre as negativas, usar o estilo informativo, 25% mais eficiente que o estilo de marketing31 e usar pontuação adequada (evitar o uso de ponto e vírgula por ser de difícil visualização no ecrã – em caso de dúvida dividir a frase em duas). Quanto à estrutura do texto, cada página web deve constituir uma unidade; a informação numérica deve ser incluída em tabelas e gráficos; e os títulos e subtítulos devem ser curtos, directos e incluir palavras-chava para atrair o utilizador. É importante o uso de subtítulos porque estes “provide a visual-road sign for readers, alerting them that something different and potentially interesting is coming up.”32 Deve-se, ainda, dar prevalência ao negrito sobre o itálico, por este ser de mais difícil leitura, e evitar sublinhar porque esta é uma característica das hiperligações, a que os utilizadores já estão acostumados. 30 McGovern, Gerry; NORTON, Rob; O‟Dowd, Catherine – Writing for the Web – Financial Times Prentice Hall. 31 idem. 32 idem.
  • 18. 18 2. Descrição do Estágio 2.1 Descrição da Empresa e estipulação de objectivos O Sport Lisboa e Benfica é um clube português e detem o record de maior número de sócios no mundo (165.000). Fundado a 28 de Fevereiro de 1904, o Estádio da Luz é a sua actual casa. O Benfica Multimédia é uma sociedade do Grupo Empresarial Benfica e visa a difusão de todas as informações e notícias relacionadas com o clube através dos novos meios digitais. Fig.2 Benfica Multimédia Após ter sido seleccionada para estagiar no Sport Lisboa e Benfica, troquei algumas mensagens de correio electrónico com o Dr. Pedro Varandas, dos Recursos Humanos do Benfica, com quem acertei que a primeira reunião para definir todos os pormenores seria agendada para dia 15 de Fevereiro de 2012, com o Dr. Tiago Marques, director de multimédia do Benfica. O Dr. Tiago explico-me, então, que quem me iria acompanhar todos os dias em que estivesse no Estádio seria o Dr. Manuel Lopes, tradutor do Sport Lisboa e Benfica. Assim, foi com o Dr. Manuel que fiquei a saber que iria traduzir todos os sites do clube, que na altura eram 5 (hoje, cinco meses passados, são 8), e que deveria basear-me na tradução já existente do inglês para saber aquilo que deveria traduzir. Mesmo assim, enviou-me um documento Excel com o nome de todas as páginas a traduzir. Seria não uma tradução, mas uma retroversão. Melhor, seria uma localização. O site deveria ser localizado do português para o espanhol. Como foi referido na
  • 19. 19 Introdução, o espanhol tem mais de 329 milhões de falantes em todo o mundo (nativos e não nativos) e seria irreal pensar que se consegue chegar a todos do mesmo modo, até porque uns localizam-se na Península Ibérica e outros na América Central e do Sul, maioritariamente. Não obstante, apesar de cada região usar expressões diferentes para a mesma situação, todas usam o mesmo sistema ortográfico, regulado pela Real Academia Española, e foi nesse organismo que me baseei sempre que tive dúvidas. O número obrigatório de horas estipulado pelo Regulamento de Estágios Curriculares dos Cursos de 1º Ciclo (Licenciatura) da FLUL é de 120 horas. O período em que os estágios deveriam decorrer seria entre 15 de Fevereiro e 15 de Maio, sempre com ajustamentos quando necessário. Eu e o Dr. Manuel começamos por estipular 10 horas semanais; depois pensamos que não seria suficiente e passamos para 17 horas semanais, com o que me ressenti, porque tinha que dar atenção às restantes disciplinas da licenciatura; finalmente optámos por 11 horas semanais: Segundas-Feiras das 10:00 às 13:00 e Terças e Quintas-Feiras das 15:00 às 19:00. Além destas horas, fiz horas extra sempre que necessário, fosse a rever todas as traduções para entregar ao Dr. Manuel para as ir revendo, fosse para continuar a traduzir os documentos, tendo em conta que a tradução do site era muito urgente, já que ainda teríamos que contar com o tempo que os elementos da informática iriam levar a desenhar o novo site. Assim, terminei a tradução de todos os sites no dia 1 de Abril de 2012, em 116 horas. No entanto, os meus supervisores, o Dr. Tiago Marques e o Dr. Manuel Lopes, perguntaram-se se estaria disponível para ficar no Benfica Multimédia por mais umas semanas de modo a poder traduzir o back office, ao que acedi. Não iria deixar um projecto a meio independentemente de ter as horas feitas, por isso continuei e no dia 20 de Abril, com um total de 140 horas, concluí as minhas traduções e o meu estágio no Sport Lisboa e Benfica. Encontra-se em anexo a planificação diária de todas as actividades.33 Em termos de recursos, foi-me disponibilizada uma secretária própria com um computador pessoal. Em termos humanos, houve sempre uma grande cumplicidade entre todos os elementos do Benfica Multimédia, os quais me acolheram e ajudaram como se sempre tivesse feito parte daquele grupo. 33 Ver anexos p: 4
  • 20. 20 2.2 Metodologia de Trabalho O meu estágio seguiu o modelo proposto por Oscar Diaz Fouces, apresentado no capítulo 1. Assim: 1 - na fase da recepção e gestão da encomenda, ficou definido que estava incumbida da tradução dos 5 sites do Sport Lisboa e Benfica (SLB Oficial, Loja do Benfica, Benfica ao Vivo, Benfica Corporate Club e Fundação Benfica); que o principal objectivo era chegar aos falantes do espanhol espalhados pelo mundo de modo a apresentar e divulgar o clube e os seus produtos e serviços; que os conteúdos seriam copiados directamente do site português e traduzidos em documento word para posteriormente serem inseridos no site em documentos html34 ; e que as áreas abrangidas iriam desde a linguagem jurídica (para as FAQ‟s, Termos e Condições, etc.), à linguagem financeira (cartões de crédito, donativos para a Fundação), passando pela linguagem de marketing (para a Loja) e informativa (apresentação do clube, dos jogadores e dos serviços oferecidos), entre outras. 2 - na fase da organização dos recursos humanos, ficou definido o horário e a duração do estágio, já referidos anteriormente. A divisão de tarefas não foi um ponto fundamental, tendo em conta que o marketing seria tratado pela equipa de marketing do Benfica, que a informática seria tratada pela equipa de informática do Benfica e que a tradução seria tratada por mim. 3 – na fase da organização dos recursos materiais, comecei por definir os dicionários e bases terminológicas que já usava nas traduções que fazia para outras disciplinas da licenciatura, mas também procurei outros, tendo em conta que iria falar em linguagem desportiva e não tinha vocabulário suficiente em espanhol.35 4 – na fase de tradução/ localização, tentei sempre manter-me fiel ao original, sem nunca deixar de ser fiel às expectativas do locale ao qual o site estava dirigido. Por isso mesmo, baseei-me sempre nas versões espanholas dos sites dos dois maiores clubes 34 Tendo em conta que eu não tinha qualquer experiência prévia em localização, optei pelo mais seguro, até para me ir habituando, que era traduzir em documento word e esperar que o supervisor o tratasse em html na fase da revisão. 35 Ver lista nos anexos, p: 9
  • 21. 21 espanhóis, o Real Madrid e o Barcelona, e recorri, sempre que necessário, ao dicionário online da Real Academia Española e à Fundéu BBVA fundación del español urgente. Encontra-se, no capítulo 3, uma análise detalhadas das escolhas de tradução e dos principais problemas sentidos. 5 – na fase de controlo de qualidade, revi todas as traduções feitas e tive em atenção o uso de pontuação, o estilo adequado à situação e a fluidez da leitura, tendo em conta que é leitura em ecrã e que, como tal, deve atender a certas especificidades, como referi antes; também tive em atenção se fui coerente no uso das expressões e se não usei muitos sinónimos, anáforas e catáforas, que poderiam quebrar o ritmo da leitura, já que são situações que precisam de um referente e que a localização evita a todo o custo; finalmente, confirmei se as expressões usadas eram adequadas culturalmente. 6 – na fase de integração dos conteúdos, a cargo do Dr. Manuel, as traduções foram revistas e trabalhadas em formato html (HiperText Markup Language), que, em poucas palavras, é a linguagem base de construção de páginas web. Para que eu ganhasse alguma experiência e me fosse habituando ao processo, o Dr. Manuel deixou- me rever e introduzir algumas traduções no site. 7 - na fase da avaliação fez-se uma verificação global, na qual participei em conjunto com o Dr. Manuel. Neste caso, a minha principal função foi confirmar se estava tudo bem traduzido. Encontra-se, também, no capítulo 3, uma análise minha às correcções feitas por parte do meu supervisor, tanto aquelas com que concordo, como aquelas com que não concordo. 8 – na fase da entrega, entrega-se o projecto à empresa, o que no meu caso não foi necessário porque foi um projecto desenvolvido dentro da mesma.
  • 22. 22 3. Análise das traduções 3.1 Fundação Benfica Fig.3 Fundação Benfica A “Fundação Benfica” é a fundação do clube e tem como objectivo combater a desigualdade social, desenvolvendo, para o efeito, diversas actividades entre os altetas e jovens carenciados. A primeira análise ao site será enquadrada nos principais problemas relacionados com a localização, neste caso o uso de imagens. Tratando-se da versão espanhola, seria de esperar que aparecesse tudo em espanhol, no entanto não é isso que acontece com o logotípo da fundação, que aparece na sua versão portuguesa. O mesmo acontece com os logotipos da “Fundació FCBarcelona” e da “Fundación Realmadrid”, escritas em catalão e espanhol, respectivamente: Fig.4 Logotipos da “Fundação Benfica”, “Fundació FCBarcelona” e “Fundación Realmadrid”. Isto acontece porque são consideradas quase como imagens de marca dos clubes, pelo que devem transmitir a sua essência. Por exemplo, no caso da “Fundació FCBarcelona” isto é evidente pela preferência do catalão sobre o espanhol. Assim, a preferência por
  • 23. 23 parte do Benfica em deixar o nome da fundação em português é corroborada pelas opções dos dois maiores clubes espanhóis, o Barcelona e o Real Madrid. O caso seguinte, contudo, é diferente. Não se trata de uma “imagem de marca” do clube, mas sim de uma simples imagem que pretende reforçar a mensagem do título “IRS 2011: No cuesta ayudar la Fundación Benfica”: Fig.5 Imagem com texto em português. Um dos maiores problemas da localização web são as imagens com texto iserido, porque para alterar a língua é necessário “trabalhar” a imagem de novo, o que se torna dispendioso em termos de recursos. Como sublinha Maribel Tercedor Sánchez, é importante que “cuando haya texto en la imagen, éste no esté incrustado en ella, sino que forme una capa diferente a la de la imagen. La modificación del texto en este caso es sencilla, mientras que en el caso de que esté incrustado, el trabajo de modificación requiere el uso de herramientas de diseño y la tarea puede llegar a ser compleja en el caso de fuentes especiales y en tamaños reducidos. Por ello, se recomienda tener totalmente separado el texto de la imagen, de modo que el primero pueda modificarse al localizar el producto sin problema.”36 Mais, para o cliente isto revela falta de empenho da empresa, porque não se preocupou em assegurar que estava tudo na mesma língua. Noelia Corte37 salienta entre os piores problemas que se dão em sites localizados o “texto en el idioma original, sobre todo en mensajes de error o cuadros de diálogo”. Esta situação volta a repetir-se na secção “Fundación”, em “Gobierno de la Fundación”, e na secção “Asociados”, em “Privados”, onde os títulos estão em português quando deveriam estar em espanhol.38 Em relação a aspectos linguísticos, há uma clara preferência por parte do supervisor da entidade de acolhimento pelo uso da 2ª pessoa do singular sobre a 3ª 36 TERCEDOR SÁNCHEZ, 2005: 154 e 155 37 CORTE, Noelia: 2002: 7 38 Ver anexos p: 11
  • 24. 24 pessoa do singular, escolhida por mim. Trata-se de uma escolha entre um tom formal ou informal, entre um “usted” e um “tú”. É sabido que em Espanha se prefere o tratamento informal, mas tratando-se de uma empresa não me pareceu o mais acertado; e há, também, que ter em conta que a maioria dos atletas do Benfica nativos do espanhol provêm da América Latina, onde o tom informal é mais frequente. Seguindo este raciocínio, traduzi o site num tom formal e usei apenas o informal quando estava relacionado com as escolas de formação. No entanto, o meu supervisor optou por um tom predominantemente informal, o que se coaduna com os estudos de Jiménez Crespo: “la presencia de formas verbales en modo imperativo con el tratamiento informal «tú» es ampliamente superior en el corpus localizado.”39 Isto é, enquanto os sites originais são predominantemente formais, os sites localizados para o espanhol são essencialmente informais; não obstante, o autor conclui que depende da situação, já que os botões “contactos” e “registo” em espanhol tendem a usar um tom formal (“contacte” e “regístrese”) por ser uma situação de comunicação directa entre a empresa e o cliente. No entanto, esta escolha do supervisor não é uma escolha coerente. Seguindo o seu pensamento, em “Asociados” – “Institucionales”, deveria aparecer “conoce” e não “conozca”.40 Esta situação revela falta de coerência no site, uma das principais características da localização web por oposição à tradução em suporte físico (aspecto já desenvolvido no capítulo 1). Uma das páginas que me causou mais dificuldades foi a “Cómo Colaborar”. É uma página destinada ao apelo a donativos para a fundação, cujo registo é predominantemente ligado à área das finanças e cujo conteúdo da mensagem está totalmente dirigido ao público português residente em Portugal. Tendo em conta que o tema a traduzir é referente a uma fundação que depende de donativos, é importante que não só o público português esteja possibilitado e informado de como o fazer, mas também o resto dos cidadãos europeus e do mundo. Não sendo especialista na área, fui pesquisar na Internet e acrescentei na minha tradução a transferência para o IBAN (International Bank Account Number), já que o NIB só funciona em Portugal. O processo é muito simples: ao NIB (Número de Identificação Fiscal) acrescenta-se no início “PT” para identificar o país e “50” por questões de validação do código. Foi uma decisão apoiada pelo supervisor da entidade de 39 em JIMÉNEZ CRESPO, 2008: 310 40 Ver anexos p: 12
  • 25. 25 acolhimento, que a manteve no site.41 No entanto, creio que o departamento financeiro ou o organismo responsável pela área em questão deveria fornecer informações detalhadas sobre como se processam os donativos fora da Europa, tento em conta que o NIB é para residentes em Portugal e o IBAN para residentes na Europa. A fundação não só iria beneficiar em termos montários, como o clube em termos de maior visibilidade no estrangeiro. Apresento, de seguida, algumas dificuldade sentidas durante a tradução, para, depois, reflectir acerca das alterações efectuadas pelo supervisor da entidade de acolhimento. Português Espanhol “A Fundação tem um papel relevante na sociedade portuguesa desde a primeira hora.” “La Fundación ha tenido un papel relevante en la sociedad portuguesa desde el primer instante.” Na versão portuguesa não se percebe a escolha pelo tempo verbal presente do indicativo, quando, pelo sentido da frase, percebemos que é uma situação que se verifica desde que começou até aos dias de hoje. Por essa razão, na nossa tradução optamos pelo tempo verbal pretérito perfecto de indicativo. “e com as instituições internacionais relevantes como a ONU (PNUD), OMS (OMS), UNICEF, OIT e OIM.” “y con las instituciones internacionales relevantes como la ONU (PNUD - Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo), OMS, UNICEF, OIT (Organización Internacional para el Trabajo) y OIM (Organización Internacional para las Migraciones).” Como já tinha referido, apesar de a linguagem informática privilegiar a sintetização, não se devem usar siglas ou abreviaturas, mas sim a total designação da 41 Ver anexos p: 24
  • 26. 26 entidade em questão, daí ter procurado na Internet ditas siglas e ter explicado entre parenteses as que não seriam mais óbvias para o utilizador. Há, no entanto, 4 situações que gostaria de analisar com mais pormenor. Por motivos de espaço, os exemplos completos encontram-se em anexo, nas páginas 12-15. No primeiro exemplo, a correcção à tradução encontra-se errada porque corrige “beneficiaria” para “beneficiario”, quando a benefeciaria é a fundação e não o cidadão, pelo que deveria continuar no feminino. Adiante, enquanto a minha tradução explicíta as siglas IRC e IRS, a correcção da tradução mantém apenas a explicitação de IRS, o que a meu ver não é coerente porque não há explicação antes e o site também está dirigido a público fora de Portugal que não tem obrigação de saber o que significa IRC. Finalmente, opta por manter a estrutura da versão portuguesa e abolir a versão da minha tradução, que na minha opinião está não só mais clara, como o uso adequado de pontuação (dois pontos) permite um melhor entendimento da mensagem. No segundo exemplo, a primeira substituição foi de “adeptos” por “aficionados”, com a qual concordo. A minha tradução é literal, enquanto a correcção opta por uma tradução mais livre. Em primeiro lugar, “al completar su declaración de impuestos” não é tão esclarecedora como “a través del cumplimiento de su declaración de IRS (Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares)”, que define o imposto em causa. Adiante, a mais grave, porque “Gobierno” e “Estado” não designam a mesma coisa. A Constituição da República Portuguesa define, no art.1, Portugal como uma República, para no art.2º explicar que “A República Portuguesa é um Estado de Direito Democrático”. “Governo é o órgão de condução da política geral do país e o órgão superior da Administração Pública” (art. 182º) e “é constituído pelo Primeiro-Ministro, pelos Ministros e pelos Secretários e Subsecretários de Estado” (art.183º). Por tudo isto, a mudança não só não se justificou como foi incorrecta. No mesmo sentido, a correcção da tradução retirou “pública” à expressão “utilidad pública”, a qual perde todo o sentido quando separada. Quando se confere o estatuto de utilidade pública a uma fundação, está-se a valorizar essa fundação pelo seu trabalho à sociedade. Quando o supervisor corrige para “Esto es posible porque el Gobierno portugués reconoció la utilidad de la Fundación…”, isto fica sem qualquer sentido legal. Reconhecer a utilidade de alguma coisa é simplesmente dizer que algo é útil e a expressão “utilidade pública” abrange mutio mais. Segundo a Secretaria-Geral da Presidência do Conselho de Ministros, “São pessoas coletivas de mera utilidade pública as associações, fundações ou cooperativas
  • 27. 27 que prossigam fins de interesse geral, ou da comunidade nacional ou de qualquer região ou circunscrição, cooperando com a Administração Central ou a Administração Local, em termos de merecerem da parte desta Administração a declaração de utilidade pública.”42 O terceiro exemplo é um discurso do actual presidente do Benfica. A minha tradução foi fiel ao original, e não havia razão para que não fosse porque está dirigida a todos os benfiquistas e não a nenhuma sub-cultura em especial que necessitasse qualquer adaptação. No entanto, o meu supervisor alterou o discurso, o que a meu ver não é aceitável. Mudou “sabemos que al efecturar este simple gesto” para “sabemos que con este gesto”; “la vida de los que se encuentran” para “las vidas de aquellos que están”; “la fuerza” por “el poder”, não havendo ganho ou compreensão adicional com isso; “para la acción solidaria” para “de la acción conjunta”, continuando a alterar o discurso e neste caso a mensagem, porque “solidaria” e “conjunta” não são a mesma coisa. Na frase final, que já não pertence ao discurso do presidente, o supervisor opta por um discurso impessoal e troca “combatiendo” por “luchando”, palavra menos usual em espanhol, e “reforzando” por “aumentando”, o que, mais uma vez, não significa o mesmo. 3.2 Corporate Club Fig.6 Benfica Corporate Club O Benfica Corporate Club tem como objectivo a divulgação das vantagens que as empresas têm em adquirir camarotes no estádio. Neste site não houve praticamente 42 http://www.sg.pcm.gov.pt/index.php/component/content/article?id=46:pessoas-colectivas-de-utilidade- publica&catid=1 (última consulta: 16 de Junho de 2012)
  • 28. 28 alterações às traduções feitas, salientando-se a correcção de um erro ortográfico em “BusSiness” e da palavra “bancada” para “grada”. Apresento, de seguida, algumas dificuldades que senti durante a tradução: Português Espanhol “colocando a sua empresa num patamar de excelência ao nível de instalações e de imagem” “poniendo su empresa en un nivel de excelencia en términos de instalaciones y de imagen” Como em espanhol não existe a palavra “patamar” (recurso à Real Academia Espanhola), a mais próxima que encontrei e que conseguia transmitir o sentido principal foi “nivel”, que é usada mais adiante na versão portuguesa, pelo que optei por usar “términos” nesta segunda fase. Não considero que a tradução tenha o mesmo impacto que o original, mas consegue transmitir a ideia principal de que ao associar-se ao Benfica a empresa vai elevar-se a diferentes níveis. “E este é o momento oportuno para a sua empresa escrever também ela uma página de sucesso” “Es este el momento oportuno para su empresa escribir también una página de éxito” Neste caso verifica-se uma elisão. A principal função de “ela” na versão original é a de enfatizar a empresa, função que não consegui realizar na tradução, mas que não altera nem o sentido da mensagem nem o conteúdo da mesma. Continua a perceber-se que o objectivo é que a empresa siga o exemplo de outras e que também escreva uma página de sucesso no Benfica. “Devido a todos esses fatores, é hoje utilizado por diversas empresas nacionais e internacionais como importante complemento” “Gracias a estos factores es hoy usado por diversas empresas nacionales e internacionales como importante complemento”
  • 29. 29 Por uma questão de estilo, considero que “gracias a” resulta melhor do que “devido a”. É, efectivamente, uma consequência, mas na minha opinião a tradução tem um efeito mais positivo que o original. 3.3 Benfica ao Vivo Fig.8 Benfica ao Vivo Este site tem uma particularidade, que é a de apenas terem sido traduzidos os “botões” e as “hiperligações” que o utilizador tem a oportunidade de escolher. Findo o estágio, só passados quase dois meses é que o site viu a luz do ecrã, razão pela qual as notícias não foram traduzidas por mim. Ainda assim suscitou algumas dúvidas. O título do site é “Benfica ao Vivo”, uma alusão a “em directo”, que pretende transmitir a ideia de que os adeptos conseguem acompanhar o clube durante 24 horas e ter acesso a todas as notícias no instante em que acontecem. Por isso mesmo foi escolhida a expressão “Benfica en Vivo”, corroborada por falantes nativos do espanhol. No mesmo sentido, também “grelha de programação” deu algumas dúvidas, que passaram por “rejilla de programación”, “programación” ou “cuadro de programación”. Mais uma vez, seguindo a opinião de nativos do espanhol, optei por “programación” por ser simples, claro e consiso. São de apluadir as correcções feitas pelo meu supervisor, quando optou por “subscribir” em vez de “Suscripción de la Revista” ou “Suscripción del Periódico”, tendo em conta as especificidades da linguagem informática.
  • 30. 30 3.4 Loja do Benfica Fig.9 Loja do Benfica O site da loja do benfica está direccionado para as vendas. Aqui, foram traduzidos os “botões” e toda a linguagem jurídica, que pertence às páginas “Termos e Condições de Uso”, “Métodos de Envio” e “Métodos de Pagamento. Os produtos foram traduzidos em Excel, numa lista entregue pelo elemento encarregue da gestão da loja.43 Em relação aos “botões”, “calças e calções” tinham sido traduzidos por mim para “pantalones y pantalones cortos” e o meu supervisor corrigiu para “shorts y pantalones”, como o fazem as lojas do Real Madrid e do Barcelona; “Pack Estádio” traduzi por “Paquete Estadio” e foi corrigido para “Pack Estadio”; “Bonés” para “gorro”, mas foi corrigido para “gorra” porque “gorro” é como o “gorro” português; “galhardetes” por “gallardetes”, mas foi corrigido por “banderines”; “tamanho” por “tamaño”, mas foi bem corrigido para “talla”. De salientar, apenas, os seguintes erros cometidos pela equipa de informática aquando da localização do site: Nesta imagem é possível verificar que “fútbol” está mal acentuado, porque em espanhol existe apenas o acento agudo e não o grave. 43 Ver lista nos anexos, p: 345 Fig.10 Erro de acentuação.
  • 31. 31 Nesta segunda imagem, a equipa de informática escreveu “conosce más” em vez de “conoce más”. Isto é revelador do quão complicado é o processo de localização, tendo em conta que são vários elementos de várias àreas a trabalhar no mesmo projecto e só prova que a presença do tradutor é necessária, senão mesmo imperativa, durante todo o processo. Fig.12 Erro de correspondência Esta última imagem revela que não há correspondência entre os “botões” da direita (“salón”, “cocina” e “cuarto de domir”) com as imagens. Seria compreensível por questões de espaço, como acontece em “cuarto de dormir” – “habitación”, mas tendo em conta que “salón” e “sala” apenas diferem numa letra, não se justifica que não tenha sido usada a mesma palavra. Finalmente o caso da “newsletter”. O Real Madrid optou por traduzir para “boletín”, enquanto o Barcelona preferiu a palavra inglesa. Tendo em conta que existe Fig.11 Erro ortográfico
  • 32. 32 uma palavra espanhola para “newsletter” (confirmada na versão online da Real Academia Española)44 , optei pela tradução. No entanto, o meu supervisor não concordou e deixou a palavra na versão inglesa: Fig.13 Boletín do Real Madrid, Newsletter do Barcelona e Newsletter do Benfica. Em relação às principais dificuldades de tradução, os documentos com linguagem jurídica (“Faq‟s”, “Métodos de Envio” e “Termos e Condições de Uso”) foram os mais complicados por terem muitos termos técnicos. De seguida, apresento os exemplos que mais dúvidas suscitaram: Português Espanhol “Deverá ter em consideração que o reenvio de bilhetes entre marcas de telemóvel diferentes pode não funcionar, se isso acontecer, o grupo deve entrar em simultâneo no estádio, para que a entrada se faça com o telemóvel original que recebeu o SMS-Pictograma.” “Deberá tener en cuenta que el reenvío de entradas entre marcas de móviles diferentes puede no funcionar. Si esto sucede, el grupo debe entrar en el estadio en simultáneo para que la entrada se haga con el móvil original que recibió el SMS- Pictograma.” Relembrando as regras da escritra em ecrã, apresentadas no capítulo 1, percebe- se que as frases devem ser simples e que em caso de dúvida se deve separar e usar duas frases em vez de uma muito extensa. As Faq‟s, a que este excerto pertence, quebram muitas das regras da escrita web, por exemplo o facto de ser um documento muito, muito extenso e que exige que o utilizador tenha que puxar para baixo durante algum tempo até encontrar o que precisa. Mas este tipo de documentos é uma excepção, não só porque a maioria das pessoas nem os lê, como porque é uma exigência da lei que 44 http://buscon.rae.es/draeI/SrvltConsulta?TIPO_BUS=3&LEMA=bolet%C3%ADn (última consulta: 17 de Junho de 2012)
  • 33. 33 contenham toda a informação. Consequentemente, acabam por ser muito grandes. No excerto acima, tomei a decisão de separar a frase em duas porque considerei que deveria haver uma pausa maior do que apenas a vírgula. “Com excepção dos artigos personalizados que não são passíveis de devolução.” “Con excepción de los artículos personalizados, que no son pasibles de devolución.” O sentido desta frase é dizer explícitamente que os artigos personalizados não podem em situação alguma ser devolvidos. No entanto esta função não é conseguida pela versão portuguesa, o que se conseguiria se se acrescentasse uma vírgula, tal como fiz na minha tradução para espanhol. “Complete o processo de compra para este método de pagamento, tal como indicado em cima, utilize o link no SMS que for enviado e seleccione "Activar" na página wap para obter informações de como activar o serviço MB Phone” “Complete el proceso de compra para esta forma de pago, tal como indicado arriba, utilizando el enlace en el SMS que le sea enviado y seleccionando “Activar” en la página wap para obtener informaciones de cómo activar el servicio MB Phone” Este excerto suscitou algunas dúvidas porque, na mina opinião, não está a usar os tempos verbais correctos. Se fosse para usar o imperativo, deveria ter dois ponto antes. Ora, não tendo o mais correcto seria usar o gerúndio, como de resto fiz na tradução. “Quando estiver a efectuar um pagamento por cartão de crédito, a página de introdução dos dados do cartão é uma página segura que garante a confidencialidade da transmissão de dados” “Cuando esté efectuando un pago por tarjeta de crédito, la página de introducción de los datos de la tarjeta será una página segura que garantizará la confidencialidad de la transmisión de datos”
  • 34. 34 Este foi dos mais complicados porque também não percebi muito bem o original. Mas seguindo a lógica de que a página será, à partida, segura, preferi o “será” e “garantizará”, ou seja, o futuro simple, ao presente, como no original. “Os preços de expedição incluem IVA à taxa legal em vigor, para todos os países da União Europeia, para os países fora da EU, por exemplo, EUA, Brasil ou Suiça, o IVA não será cobrado” “Los precios de expedición incluyen IVA (Impuesto sobre el Valor Añadido) a la tasa legal en vigor para todos los países de la Unión Europea. Para los países fuera de la UE, por ejemplo, EEUU, Brasil o Suiza, el IVA no será cobrado” É mais um exemplo claro da má qualidade dos textos na língua de partida, o que dificulta o trabalho do tradutor. Neste caso específico optei, mais uma vez, por partir a frase em duas de modo a que se tornasse mais claro para o utilizador. “A entrega é sempre feita por a empresa CTT EXPRESSO na morada que o cliente indicar, prazo pós expedição da mercadoria 24/h uteis.” “La entrega siempre se hace por la empresa CTT EXPRESSO en la dirección que el cliente indicar, en el plazo de 24h hábiles tras la expedición de la mercancía.” Além de o original não estar bem escrito em português, porque o correcto em português europeu seria a conjugação da proposição por + a = pela, em vez de “por a”, também o final de frase não está muito claro, razão pela qual optei pela paráfrase de modo a tornar-se um pouco mais claro para o utilizador, sem, no entanto, me afastar muito do original. Não obstante, aquando da elaboração do relatório lembrei-me que poderia acrescentar “en el” e “la”, o que daria mais fluidez ao discuro.
  • 35. 35 3.5 SLB Oficial Fig.14 SLB Oficial O site SLB Oficial é o site mais importante do clube, tendo em conta que é aquele que faz a apresentação do mesmo: apresenta os jogadores, a história do clube e os títulos, assim como as diversas actividades económicas em que o clube está envolvido e que das quais os seus adeptos podem usufruir. Na fase de correcção das traduções, o meu supervisor optou por usar frases mais curtas e directas nos “menús centro”45 , ao invés da tradução practicamente literal que eu fiz. No entanto, considero uma escolha bastante acertada porque antes não havia coerência entre os menús, uma das características essenciais do hipertexto. Assim, a informação fica disponível de uma forma mais organizada e o utilizador confirma que há uma continuidade entre os mesmos. Aquando da tradução da apresentação dos jogadores (de todas as modalidades), deparei-me com a questão da nacionalidade: se deveria usar maiúscula ou não e se deveria estar no feminino ou masculino. Em relação à letra inicial, foi quase intintivo optar pela minúscula, já que é muito raro em espanhol e português, ao contrário do que acontece em inglês, usar-se maiúsculas. No entanto, o meu supervisor não só optou pela maiúscula como ainda pôs a nacionalidade no masculino, o que é errado e para o confirmar transcrevo um excerto do site FUNDÉU BBVA – Fundación del Español Urgente, que diz o seguinte: 45 Ver anexos pp: 29, 39, 77, 102
  • 36. 36 “¿Qué es lo correcto, decir: Juan , nacionalidad, española o Juan, nacionalidad, español? Cuando se pregunta por la nacionalidad, lo adecuado es hacer la concordancia en femenino, ya que en los formularios de este tipo nos referimos a la nacionalidad como tal, no al individuo que la posee.”46 E foi exactamente este o meu raciocínio, porque é à nacionalidade que nos estamos a referir. Portanto, a nacionalidade é, por exemplo, “brasileira” e não “brasileiro”. O jogador pode ser brasileiro, mas a sua nacionalidade continua a ser brasileira. A próximidade entre duas línguas é mais uma desvantagem do que uma vantagem, tendo em conta que é exigida uma maior atenção ao tradutor por haver uma maior probabilidade de ocurrência de “falsos amigos”. E foi o que aconteceu quando tive que traduzir “central” (a posição de um dos jogadores). Traduzi pela mesma palavra, quando a mais corrente é mesmo “centrocampista”, o que foi corrigido pelo meu supervisor. Em relação à equipa técnica, houve uma situação que despertou alguns problemas: em Portugal diz-se que existe o “treinador” e o(s) “treinador(es) adjunto(s)”. Ora, em espanhol é frequente ouvir-se falar do “primer entrenador” e do “segundo entrenador”, mas não há mais referências a, por exemplo, um terceiro treinador. O site do Real Madrid apresenta a equipa técnica do seguinte modo: Fig.15 Equipa Técnica do Real Madrid 46 http://www.fundeu.es/consultas-N-nacionalidad-2494.html (última consulta: dia 9 de Junho de 2012)
  • 37. 37 Dá destaque para o treinador, José Mourinho (na foto), e depois apresenta o “segundo entrenador”, que no caso português seria o “treinador adjunto” e ainda o “asistente del entrenador”, que suponho ser um treinador mas com menos autoridade dentro da equipa e que por essa mesma razão é chamado de “asistente”. No site do Benfica não há referência a nada disto, ou seja, não se depreende se há um treinador mais importante do que outro porque estão todos designados como “treinador adjunto”. Para não cair no ridículo de usar “primer entrenador”, “segundo entrenador”, “tercer entrenador”, e por aí fora, optei por usar “entrenador adjunto” para todos os que não fossem o treinador principal. No entanto, o meu supervisor optou por diferenciar os treinadores, certamente porque tem um maior conhecimento do clube do que eu e sabe as diferentes tarefas de cada um. Neste sentido, usou a diferenciação que o Real Madrid também usa e assim o utilizador pode distinguir as funções de cada elemento. Não obstante, se esta situação se verifica em todas as modalidades, o mesmo não acontece no “Hockey”, em que os dois treinadores adjuntos estão traduzidos por “segundo entrenador”.47 Seguindo o raciocínio anterior, significa que estão os dois “em pé de igualdade”; por que não traduzir então por “entrenador adjunto”, sendo até que é uma definição bastante usada, por exemplo, em Espanha? Aquando da tradução das tabelas48 , comecei por traduzir tudo o mais literal possível, no entanto o meu supervisor corrigiu-me para que traduzisse como aparece nos anexos da versão fnal do relatório; a verdade é que, quando estava a preparar o relatório, reparei que o meu supervisor tinha voltado à minha versão inicial de traduzir as tabelas de forma literal. Tendo em conta que o processo de tradução é feito de escolhas, o sucedido não é mais que uma das principais características do mesmo: a constante tomada de decisão que o tradutor enfrenta Uma das principais personagens do mundo futebolístico é, sem dúvida, o roupeiro. São largamente elogiados pelos jogadores e a sua fama, muitas vezes, acaba por representar o clube. Como não sabia a palavra mais adequada, perguntei a um amigo meu nativo do espanhol, o qual me disse que era “utillero”. Esta informação foi corroborada pelo dicionário online de termos futbolísticos El Futbolín49 , que define “utillero” da seguinte forma: “Persona encargada de cuidar y disponer el material de un equipo, como las camisetas, botas, balones, etc.”. O meu supervisor optou por “ropero”, 47 Ver anexos pp: 116 48 Ver anexos pp: 89, 108, 11 49 http://www.elfutbolin.com/diccionario-de-futbol/utillero (última consulta: 12 de Junho de 2012)
  • 38. 38 expressão que não existe no dicionário acima referido e que a versão online da Real Academia Española50 não associa ao futebol, mas sim a um móvel ou a uma pessoa que vende roupa já feita. Por esta razão, “utillero” é o termo mais adequado à temática do futebol. Nos contactos, sempre que aparece “tlm” significa que é um telemóvel, que em espanhol é “móvil” e que não tem abreviatura. Por essa mesma razão usei sempre “móvil” na sua forma extensa. No entanto, o meu supervisor corrigiu para “tm”, o que não é correcto porque em espanhol apenas existe “móvil” (mais usado em Espanha) ou “celular” (mais usado na América Latina).51 Consequentemente, deve-se usar “móvil” na sua forma extensa e nunca “tm” porque o “t” não existe em nenhuma das palavras. Em relação ao “Departamento de Formação”, é de sublinhar a preferência do supervisor da entidade de acolhimento por “Cantera” em vez do acima referido, tendo em conta que esta designação está completamente direccionada para a cultura de chegada e todos os utilizadores falantes do espanhol entenderão sem qualquer problema e associarão às escolas de formação do clube. Uma das principais dificuldades verificadas durante a tradução foi a seguinte: Português Espanhol “sector que a determinada altura foi descurado, mas que tem vindo a ser recuperado progressivamente.” “sector que a determinada altura fue descuidado, pero que está siendo recuperado progresivamente.” Este excerto deu-me especial preocupação porque não conseguia encontrar equivalente em espanhol, razão pela qual optei por “está siento”, porque é o que mais se aproxima do sentido de “estar neste momento a ser recuperado”. O original não identifica desde quando é que está a ser alvo de melhorias, mas percebe-se que tem estado a ser alvo até agora; na minha tradução apenas consegui transmitir o sentido de que neste momento está a ser alvo de melhorias. Para finalizar a minha análise, queria chamar a atenção para a importância dos constrangimentos culturais. 50 http://buscon.rae.es/draeI/SrvltConsulta?TIPO_BUS=3&LEMA=ropero (última consula: 12 de Junho de 2012) 51 http://www.fundeu.es/consultas-M-movil-o-celular-388.html (última consulta: 9 de Junho de 2012)
  • 39. 39 A selecção do idioma no site oficial do Benfica é feita mediante a escolha de bandeiras. O referido site tem 3 línguas: o português, o inglês e o espanhol, e nenhuma destas línguas pertence a um único território, muito pelo contrário. Da minha experiência pessoal, posso afirmar que já vi sites brasileiros com a bandeira do Brasil para a escolha do português e a empresa “Leya” usa a bandeira de cada PALOP para o mesmo efeito. Não há, portanto, uma norma. Além do mais, a versão inglesa do site do Benfica tem a bandeira do Reino Unido, mas o inglês usado é o americano, o que não é muito coerente. Há, ainda, outro factor a ser considerado: o número de atletas provenientes da América Latina é superior ao daqueles que vêm de Espanha. Como M. Tercedor Sánchez afirma, existe a “imposibilidad de identificar un ícono como propio por razones culturales”52 . Além do mais, nem o Real Madrid nem o Barcelona usam bandeiras, mas sim o nome do idioma, como outros clubes portugueses fazem. Evidentemente que existe o argumento de que em contexto de língua já é esperado recorrer à bandeira, mas existem também vozes que argumentam que a bandeira é o símbolo de um país e não de uma língua, o que não deixa de ser verdade. Usar o nome do idioma é a opção mais neutra e que mais se coaduna com as exigências da localização de não haver referências culturais constrangedoras para o público. No entanto, o clube não quis fazer a mudança e a escolha do idioma continua a ser feita através das bandeiras. Fig. 16 Selcção de idioma no site oficial do Real Madrid, do Barcelona e do Benfica 52 TERCEDOR SÁNCHEZ, 2005: 154
  • 40. 40 Conclusão Um valioso contributo da globalização foi proporcionar um maior conhecimento do outro e das diferentes culturas. Isto só foi possível graças aos constantes avanços nas tecnologias da informação e comunicação, que permitiram a integração de um elevado número de informação na Internet. Apesar de o inglês, nos dias de hoje, ser visto como uma lingua franca, a verdade é que até um poliglota prefere ler e comprar na sua língua-mãe, pelo que se tornou imperativo desenvolver novas estratégias de tradução que tivessem em conta o novo meio, a Internet, e o novo tipo de texto, o hipertexto. O processo de localização web afigura-se, assim, como a nova estratégia de tradução de conteúdos digitais, tendo em conta o mercado do locale para o qual se está a traduzir. A partir do modelo defendido por Oscar Díaz Fouces e dos programas de tradução sugeridos por Anna Estellés, concluí que o processo de localização web envolve muito trabalho em equipa, ao contrário da tradução. Isto justifica os erros informáticos aqui apresentados e prova que a presença do tradutor/ localizador durante todo o processo de localização é muito importante. Adicionalmente, o localizador deve incluir nas suas aptidões linguísticas as informáticas e ter em mente que a escrita difere consoante o meio. Em suma, a localização web é uma modalidade da tradução que gera milhões e que se prevê continuar a gerar, tendo em conta que o uso da Internet é generalizado e que as empresas cada vez mais se querem internacionalizar e incidir em novos mercados. Por tudo isto, considero uma boa área de especialização para os tradutores, principalmente os recém-licenciados, por estarem, à partida, mais familiarizados com as novas tecnologias. No mesmo sentido, ter a oportunidade de aprender uma nova modalidade de tradução de raíz enquanto a praticava foi das melhores experiências que tive. Este estágio não só contribuiu para a minha formação académica, como principalmente para a minha formação enquanto profissional de tradução, tendo em conta que tive que lidar com prazos bem reais, com objectivos específicos e com a avaliação do cliente, que são todos os adeptos do clube.
  • 41. 41 Bibliografia BAKER, Mona – In Other Words - Londres: Routledge, 1992 CADIEUX, Pierre; ESSELINK, Bert – GILT: Globalization, Internationalization, Localization, Translation. Versão online disponível em: http://www.translationdirectory.com/article127.htm CHOON CHENG, Cindy - Effects of Globalization on Translating Culture. Versão online disponível em: http://ldt.stanford.edu/~cong2811/doc/resume.pdf CORTE, Noelia – “Localización e internacionalización de sitios web” em Revista Tradumàtica, Número 1, Barcelona: Outubro de 2002. Versão online disponível em: http://www.fti.uab.es/tradumatica/revista/articles/ncorte/art.htm CORTE, Noelia – Web site Localization and Internationalization: a Case Study – 2000 DIAZ FOUCES, Oscar – “A localização de páginas da internet na formação de tradutores” em Confluências – Revista de Tradução Científica e Técnica. Número 1, Novembro de 2004. Versão online disponível em: http://uvigo.academia.edu/OscarDiazFouces/Papers/1141540/A_localizacao_de_paginas _da_internet_na_formacao_de_tradutores DONOSO, Feliciano – “Internationalization” em Revista Tradumàtica, Número 1, Barcelona: Outubro de 2002. Versão online disponível em: http://www.fti.uab.es/tradumatica/revista/articles/fdonoso/art.htm ESSELINK, Bert – A Pactical Guide to Localization - Amsterdam & Philadelphia: John Benjamins, 2000 ESSELINK, Bert – “The Evolution of Localization”. Versão online disponível em: http://isg.urv.es/library/papers/Esselink_Evolution.pdf ESTELLÉS, Anna – “Revisión del entorno de trabajo de un traductor de contenido web” em Revista Tradumàtica – Traducció i Tecnologies de la Informació i la Comunicació, Número 8, Dezembro de 2010, ISSN: 1578-7559. Versão online disponível em: http://www.fti.uab.es/tradumatica/revista/num8/articles/07/07art.htm GAMBIER, Yves; GOTTLIEB, Henrik (eds) - (Multi)Media Translation: concepts, practices and research. Amsterdam: John Benjamins, 2001 GARCIA, Ignacio – “The proper place for professionals (and non-professionals and machines) in web translation” em Revista Tradumàtica – Traducció i Tecnologies de la Informació i la Comunicació, Número 8, Dezembro de 2010, ISSN: 1578-7559. Versão online disponível em: http://www.fti.uab.es/tradumatica/revista/num8/articles/02/02art.htm GILTROW, Janet; STEIN, Dieter (eds) – Genres in the Internet. Amsterdam: John Benjamins, 2009
  • 42. 42 GREGORY, Judy – Writing for the Web Versus Writing fot Print: Are They Really So Different? – Technical Communication, 51 (2), pp: 276-285, 2004. Versão online disponível em: http://msu.jsimmer.com/docs/writingfortheweb.pdf HATIM, Basil; MUNDAY, Jeremy - Translation. An advanced resource book. London: Routledge, 2006 HOUSE, Juliane – “English as a Global Lingua Franca – A Threat to Muntilingualism?” em Globalization and Aspects of Translation – Newcastle Upon Tyne, Reino Unido: Cambridge Scholars Publishing, 2010 JIMÉNEZ-CRESPO, Miguel – “Localization and writing for a new medium: a review of digital style guides” em Revista Tradumàtica, Número 8, Barcelona, Dezembro de 2010. Versão online disponível em: http://www.fti.uab.cat/tradumatica/revista/num8/articles/08/08art.htm JIMÉNEZ CRESPO, Miguel – El proceso de localización web: estudio contrastivo de un corpus comparable del género sitio web corporativo – Editorial de la Universidad de Granada: Abril de 2008 JIMÉNEZ CRESPO, Miguel – “La coherencia en la localización de hipertextos”, em PEGENAUTE, L.; DECESARIS, J.; TRICÁS, M. y BERNAL, E. [eds.] Actas del III Congreso Internacional de la Asociación Ibérica de Estudios de Traducción e Interpretación. La traducción del futuro: mediación lingüístca y cultural en el siglo XXI. Barcelona 22-24 de marzo de 2007. Barcelona: PPU. Vol. n.º 1, pp. 449-458. ISBN 978-84-477-1026-3, 2008. Versión online em: http://www.aieti.eu/pubs/actas/III/AIETI_3_MAJC_Coherencia.pdf LINGO SYSTEMS – The Guide to Translation £ Localization. Preparing Products for the Global Marketplace. – 4ª edição. Estados Unidos da América: Portland, 2002. Versão online disponível em: http://www.unicamp.br/~hans/mc750/lingo_guide_book.pdf LISA – The Globalization Industry Primer. An introduction to preparing your business and products for success in international markets – LOMMEL, Arle (autor); RAY, Rebecca (ed.), Suíça: The Localization Industry Standards Association (LISA), 2007. Versão online disponível em: http://www.acclaro.com/assets/files/downloads/whitepapers/lisa_globalization_primer.p df LISA - The Localization Industry Primer, 2nd edition – Suíça: The Localization Industry Standards Association (LISA), 2003. Versão online disponível em: http://www.ict.griffith.edu.au/~davidt/cit3611/LISAprimer.pdf McGovern, Gerry; NORTON, Rob; O‟Dowd, Catherine – Writing for the Web – Financial Times Prentice Hall. Versão online disponível em: http://www.gerrymcgovern.com/la/writing_for_web.pdf NEWMARK, Peter – A Textbook of Translation – Hertfordshire: Prentice Hall International, 1988
  • 43. 43 O'HAGAN, Minako; ASHWORTH, David – Translation-mediated communication in a digital world: facing the challenges of globalization and localization. Clevedon: Multilingual Matters, 2002 PYM, Anthony – Website localization – 28 de Janeiro de 2010. Versão online disponível em: http://usuaris.tinet.cat/apym/on-line/translation/2009_website_localization_feb.pdf PYM, Anthony – Localization from the Perspective of Translation Studies: Overlaps in the Digital Divide? – Versão online em: http://www.elda.org/en/proj/scalla/SCALLA2004/Pymv2.pdf PYM, Anthony – “Globalization and the Politics of Translation Studies” – apresentado na conferência Translation and Globalization (Canadian Association of Translation Studies), Canadá: Halifax, 29 de Maio de 2003. Versão online disponível em: SANDRINI, Peter – Website Localization and Translation – 2005. Versão online em: http://www.euroconferences.info/proceedings/2005_Proceedings/2005_Sandrini_Peter. pdf SHIYAB, Said M. – “Globalization and its Impact on Translation” em Globalization and Aspects of Translation – Newcastle Upon Tyne, Reino Unido: Cambridge Scholars Publishing, 2010 TERCEDOR SÁNCHEZ, Maribel – “Aspectos culturales en la localización de productos multimedia” – em Quaderns: revista de traduccio. Bellaterra: Servei de Publicacions de la Universitat Autònoma de Barcelona, Número 12: 2005, p. 151-160, ISSN 1138-5790. Versão online disponível em: http://ddd.uab.cat/pub/quaderns/11385790n12p151.pdf