O documento é um artigo de opinião que discute sobre como o Brasil é percebido no exterior de forma negativa devido a problemas como a epidemia de zika, a violência e a poluição nas águas da Baía de Guanabara. O autor argumenta que, diante desta realidade, o país não merece sediar as Olimpíadas no Rio de Janeiro nem celebrar o Carnaval enquanto esses problemas não forem resolvidos.
2. Artigo de
opinião
É um
gênero
textual
Dissertativo
Discorre sobre um tema específico.
Argumentativo
Mostra o ponto de vista do autor
sobre o assunto usando
argumentos com o objetivo de
convencer o leitor.
Diferencia-se da
dissertação
clássica por ser
POLÊMICO e
manifestar
claramente a
posição do autor.
3. A diferença é que,
na notícia, o jornalista
traz informações sobre
dados e fatos, e no
artigo de opinião, o
articulista opina sobre
a questão polêmica
que uma notícia pode
despertar.
O artigo de opinião, normalmente, é publicado em jornais e
revistas e, nele, o autor fala sobre um fato atual, alguma notícia
ou assunto em voga.
4. Não merecemos Carnaval
Alexandre Vidal Porto
Nos últimos dias, estive em Denver, Nova York e Washington. Nos Estados
ouvi falar do Brasil mais do que gostaria.
Em todos os canais de notícia, nosso país aparece como referência de ponto
da epidemia de zika. Nos restaurantes, as pessoas comentam.
Sem nos darmos conta, transformamo-nos em ameaça para a saúde global.
falando para o mundo. O Brasil tornou-se território estéril, o país em que não se
pode engravidar. Você, mulher em idade reprodutiva, viria para cá?
Faremos uma Olímpiada no Rio de Janeiro, e a notícia que vemos estampada
mundo afora é a de lixo boiando nas águas pútridas da baía de Guanabara. As
fotos da imundície não são montagem, e os atletas estrangeiros expressam
preocupação. As autoridades brasileiras dizem que a água é segura. Você
e daria um mergulho?
5. De acordo com pesquisa citada pelo site "Business Insider", o Brasil tem 19
das 50 cidades mais violentas do planeta em termos de homicídios per
capita. É mais fácil ser assassinado no Brasil que na maioria dos países do
mundo.
Se você for homossexual ou negro, suas chances de ter morte violenta são
ainda maiores. Você se arriscaria a vir passar as férias no Brasil e virar
estatística de criminalidade?
As referências elogiosas ao país desapareceram. Ninguém entende
exatamente o que acontece. Quando me pedem para explicar, eu falo de
uma classe política parasitária, de falta de espírito público e vergonha na
cara, de incompetência, arrogância e corrupção.
A sensação que fica é de que o país é um lugar perigoso, berço de
desonestos, onde se morre antes da hora.
6. Antes que o Planalto acuse: não se trata de complexo de vira-latas nem de
complô contra o Brasil. Trata-se da realidade que nós, ignorando ou não,
vivemos.
Até a simpatia com que contavam os brasileiros mundo afora parece ter-se
perdido na cara amarrada da presidente que não consegue presidir. O
mundo até queria gostar do Brasil, mas o país não se ajuda.
Você gastaria seu dinheirinho para vir para cá? Você se arriscaria a sofrer
violência desnecessariamente, a adoecer por descaso das autoridades
sanitárias, a ter um filho microcefálico porque quem tinha de fazer seu
trabalho não fez?
Viver já é perigoso demais para que você se exponha às estatísticas. Para ter
férias e diversão, há muitos outros lugares além do nosso desgovernado
país –e sempre se pode assistir à Olímpiada na televisão.
7. Enquanto isso, passamos semanas nos preaquecendo para o Carnaval.
Nas minhas mídias sociais, as pessoas aparecem fantasiadas, e uma
amiga me disse ontem que passou a tarde costurando uma saia de cetim
azul.
Pergunto-me como nos damos ao luxo, com tanta coisa precisando ser
feita no país. Eu não entendo. O resto do mundo não entende.
Nada me parece mais individualista e inconsequente do que dançar
enquanto nosso país se desfaz. Não merecemos recesso –momesco ou
não– enquanto não terminarmos a faxina da sujeira que nos envolve.
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/alexandrevidalporto/2016/02/1736036-nao-merecemos-carnaval.shtml
(Acesso em 18/05/2016)
8. Para discussão…
Quem é o autor do texto? Em que esse autor é especialista?
Onde o texto foi publicado?
Qual a questão polêmica?
O autor refere-se a um acontecimento que o levou a escrever
artigo. Que acontecimento foi esse?
Qual a posição do autor a respeito da polêmica?
Que argumentos ele usa para justificar sua posição?
No texto, o autor apresenta argumentos de pessoas que
discordam dele. Que argumentos são esses?
O autor propõe alguma alternativa de solução para a polêmica?
10. Leia o artigo de opinião Engravidar é um ato egoísta e identifique
nele os seguintes aspectos do artigo de opinião:
A autora do texto e sua especialidade.
Onde e quando o texto foi publicado.
Qual a questão polêmica e qual a tese da autora sobre essa
questão.
A situação que levou a autora a escrever sobre o tema.
Os argumentos ela usa para justificar sua posição.
Os argumentos que a autora apresenta de pessoas que
dela e como ela contesta esses argumentos.
A proposta da autora para solucionar a questão.
11. Engravidar é um ato egoísta
Desde a desinformação entre os mais pobres até a irresponsabilidade de
de classe média.
Karen Gimenez
É provável que minhas palavras incomodem as leitoras da Super que estão
folheando a revista ao lado de seus rechonchudos bebês. Ou mesmo desperte
sanha dos cristãos mais fervorosos que lembrarão a célebre frase bíblica
e multiplicai-vos”. Acontece que, quando tal frase foi dita, a humanidade vivia
num mundo completamente diferente. Ainda não havia recenseamento
populacional preciso e a Terra parecia pronta para receber todos que aqui
chegassem. Hoje, isso não é mais verdade. Dados internacionais mostram que
mais de seis bilhões de seres humanos sobre o planeta. O pior é que, em 2050,
esse número deve saltar para nove bilhões. Ou seja: em pouco menos de 50
anos, adicionaremos no planeta a metade da população que temos hoje – e
custa nada lembrar que levamos cerca de 100 000 anos para atingir esse
12. Há vários motivos para essa explosão demográfica. Desde a desinformação
entre os mais pobres até a irresponsabilidade de famílias de classe média.
Independentemente do motivo, o fato é que a população cresce em
progressão geométrica, aumentando os problemas sociais e gerando mais
violência. Países como a China tentam aplicar o controle de natalidade. Mas o
problema é mundial e precisa ser encarado de frente por todos. Não dá mais
para se esconder atrás de dogmas morais ou religiosos, enaltecendo o dom da
maternidade e o milagre de gerar uma nova vida.
Por motivos que estão mais ligados ao lucro do que a preocupações
humanitárias, a ciência colabora com essa explosão populacional
desenvolvendo, a cada dia, métodos de fertilização artificial. Mas por que, em
vez de gerar cada vez mais crianças, não damos condições decentes às que
estão abandonadas ou que são obrigadas a trabalhar em fornos de carvão?
Em vez de promover métodos de fertilização artificial, por que não se
promovem eficientes campanhas de adoção?
13. Países como o Brasil precisam abandonar posturas hipócritas que dificultam a
adoção internacional. As nações ricas, que têm taxas de crescimento negativo,
precisam de crianças. Já o Brasil, a Índia e a China têm milhares de crianças
desamparadas. Por que, então, não facilitamos o caminho para que elas possam
ser criadas por quem tem condições de dar-lhes uma vida confortável?
Infelizmente, a hipocrisia não é só do governo. É também de boa parte da
imprensa e da população. As mulheres que passam anos fazendo tratamento
para engravidar, gastando até dezenas de milhares de dólares, são consideradas,
por boa parte das pessoas, heroínas. Tudo porque conseguiram gerar uma nova
vida. Imagine o quanto seria útil se todo esse investimento fosse usado para
educar crianças que já nasceram.
14. Depois de conversar com várias pessoas sobre esse tema, costumo ouvir os
mesmos argumentos. O mais enfático deles é aquele que defende o desejo da
mulher de gerar uma vida dentro de si. Não haveria nada, afinal, que
substituísse o ato de sentir um novo ser crescendo dentro da barriga de uma
mulher. Mas, ao seguir essa linha de raciocínio, o que a mulher busca, na
verdade, é a auto-satisfação – e não seria exagero dizer que ela estaria mais
preocupada em conquistar esse prazer do que pensando no bebê em si. Outra
argumentação comum é a de que, ao adotar um bebê, não se tem a garantia
de saber a origem da criança. Essa desconfiança parte da tese, sem
fundamento, de que o filho de um criminoso pode se tornar um criminoso,
mesmo que cresça cercado de carinho. Pelo que eu sei, os genes não
garantem que alguém será um mau-caráter ou um cidadão exemplar. Até
porque criminosos como Hitler e o “Unabomber” eram filhos legítimos de
famílias consideradas normais.
15. Se a genética e o desejo de engravidar não justificam o repúdio contra a
adoção, é possível concluir que o que as futuras mães querem é a garantia
de que seus filhos terão um tom de pele próximo do delas. O desejo de
engravidar a qualquer custo também tem seu lado racista. Até mesmo
porque boa parte das crianças abandonadas que poderiam ser adotadas no
Brasil são negras.
Num planeta cada vez mais desigual, uma mulher que investe em
tratamentos para gravidez é, de certa forma, uma egoísta – assim como um
casal que tem cinco ou seis filhos. Não têm qualquer preocupação com o
futuro do bebê nem com o futuro do planeta. Essa mulher quer apenas
provar para ela e para a sociedade que é capaz de cumprir uma falsa
obrigação moral: engravidar num mundo cada vez mais cheio de gente.
Revista Superinteressante, edição 180, setembro de 2002
16. Lembre-se de que, em um artigo de
opinião, você deve
começar contextualizando, ou seja, relatando um fato ou um conjunto de fatos
que levou você a escrever sobre aquele tema;
posicionar-se em relação à questão polêmica que você está colocando em
discussão;
conversar com o leitor, chamando-lhe a atenção em determinados momentos,
apelando para seu raciocínio e chamando-o para concordar com você;
fazer uso consciente da adjetivação. O uso de adjetivos fortes para
desmerecer a opinião contrária à sua é um traço marcante do artigo de opinião.