SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  25
PRIMEIRA REPÚBLICA POETAS E POEMAS
GOMES LEAL 1848-1921 Os gemidos da árvore A Árvore, em pé, no meio das planuras,cheia de riso e flor, verduras, passarinhos,- Ela é o guarda-sol dos frutos e dos ninhos.- É o tecto nupcial das conversadas puras.   O humilde cavador que foiça as ervas durasdos broncos matagais e escalrachos maninhos,sob ela faz o seu leito, ao cruzar os caminhos,torrado da soalheira ou nas sombras escuras.   Contudo, o Homem ingrato esquece a Árvore amigae prefere a Cidade e a balbúrdia inimiga,onde a alma corrompe em orgias triviais.   Mas a Árvore lá fica, a espreitar nas ramadascomo a mãe lacrimosa, a olhar sempre as estradas- a ver se o filho volta à cabana dos pais!   
GUERRA JUNQUEIRO 1850-1923 Nessa tremenda ansiedade É que tu verteste, flor, A tua imensa piedade Na minha infinita dor!...Eu era a sombra funesta E tu o clarão doirado; Juntámo-nos, que é que resta? Um céu de Maio estrelado.Quando vais serena e calma, Linda, inefável, como és, Vou pondo sempre a minha alma No sítio onde pões os pés.Corre o mundo, (o mundo é estreito) Podes mil mundos correr, Que hás-de calcar o meu peito sempre por ti a bater.
CAMILO PESSANHA 1867-1926 Passou o Outono já, já torna o frio...- Outono de seu riso magoado.Álgido Inverno! Oblíquo o sol, gelado...- O sol, e as águas límpidas do rio. Águas claras do rio! Águas do rio,Fugindo sob o meu olhar cansado,Para onde me levais meu vão cuidado?Aonde vais, meu coração vazio?   
EUGÉNIO DE CASTRO 1869-1944 Chuva de Setembro Chuvinha miúda… chove, chove, Molhando a eira, inchando a uva… Mãos d’ anjo fazem rendas d’ água, Prendem-me aqui grades de chuva… Chuvinha miúda… chove, chove, Nos pinheirais, dentro de mim… Lembra-me agora aquela tarde Em que também chovia assim… Quanto chorámos nessa hora, Que já de nós tão longe vai! Chuvinha miúda… chove… chove… Sonhos d’ amor, chorai, chorai…   
Balada da neve Batem leve, levemente, como quem chama por mim. Será chuva? Será gente? Gente não é, certamente e a chuva não bate assim. É talvez a ventania: mas há pouco, há poucochinho, nem uma agulha bulia na quieta melancolia dos pinheiros do caminho... Quem bate, assim, levemente, com tão estranha leveza, que mal se ouve, mal se sente? Não é chuva, nem é gente, nem é vento com certeza. Fui ver. A neve caía do azul cinzento do céu, branca e leve, branca e fria...Há quanto tempo a não via! E que saudades, Deus meu! Olho-a através da vidraça. Pôs tudo da cor do linho. Passa gente e, quando passa, os passos imprime e traça na brancura do caminho... AUGUSTO GIL 1873-1929 Fico olhando esses sinais da pobre gente que avança, e noto, por entre os mais, os traços miniaturais duns pezitos de criança... E descalcinhos, doridos... a neve deixa inda vê-los, primeiro, bem definidos, depois, em sulcos compridos, porque não podia erguê-los!... Que quem já é pecador sofra tormentos, enfim! Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor?!... Porque padecem assim?!... E uma infinita tristeza, uma funda turbação entra em mim, fica em mim presa. Cai neve na Natureza  e cai no meu coração.
TEIXEIRA DE PASCOAES 1877-1952 Os olhos dos animais   Que triste o olhar do cão! Até parece Mais um queixume, um íntimo lamento Da noite interior que lhe escurece O coração, que é todo sentimento.   E os mansos bois soturnos! Que tormento, Em seus olhos, tão calmos, transparece… E os olhos da ovelhinha e do jumento! Que tristes! Só o vê-los entristece…   Chora, em todo o crepúsculo, a tristeza. E, além dos ser humano, a Natureza É lívida penumbra feita de ais…   Por isso, o vosso olhar de escuridão É mais lágrima ainda que visão, Ó pobres e saudosos animais!
AFONSO LOPES VIEIRA 1878-1946 Os burros Cuidadosos,os burrinhosvão andandopor caminhos.Levam sacos,levam lenha…Pesa a cargaque é tamanha!Levam coisasp'ró mercado,no alforgetão pesado.E transportamtudo, tudo,no seu passotão miúdo. Tão miúdo Tão esperto Que anda tanto Por ser certo   Do seu dono Que seria Sem o burro? Que faria?   E esse dono Quando é mau Dá-lhe, dá-lhe Com um pau!   E o burrinho Sofre então… Tem nos olhos O perdão!
ANTÓNIO CORREIA DE OLIVEIRA 1879-1960 O perfumeO que sou eu? – O Perfume, Dizem os homens. – Serei. Mas o que sou nem eu sei... Sou uma sombra de lume!Rasgo a aragem como um gume De espada: Subi. Voei.Onde passava, deixeiA essência que me resume.Liberdade, eu me cativo: Numa renda, um nada, eu vivo Vida de Sonho e Verdade!Passam os dias, e em vão! – Eu sou a Recordação; Sou mais, ainda: a Saudade.
FERNANDO PESSOA 1888-1935 Gato que brincas na ruaGato que brincas na rua Gato que brincas na rua Como se fosse na cama,Invejo a sorte que é tuaPorque nem sorte se chama.Bom servo das leis fataisQue regem pedras e gentes,Que tens instintos geraisE sentes só o que sentes.És feliz porque és assim,Todo o nada que és é teu.Eu vejo-me e estou sem mim,Conheço-me e não sou eu.
ANTÓNIO ALEIXO 1899-1949 É fácil a qualquer cãoTirar cordeiros da relva.Tirar a presa ao leãoÉ difícil nesta selva.
MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO 1890-1916 Fim Quando eu morrer batam em latas, Rompam aos saltos e aos pinotes, Façam estalar no ar chicotes, Chamem palhaços e acrobatas! Que o meu caixão vá sobre um burro Ajaezado à andaluza… A um morto nada se recusa E eu quero por força ir de burro!
ALMADA NEGREIROS 1893-1970 MOMENTO DE POESIA Se escrevo ou leio ou desenho ou pinto, Logo me sinto tão atrasado No que devo à eternidade, Que começo a empurrar pra diante o tempo E empurro-o, empurro-a à bruta Como empurra um atrasado, Até que cansado me julgo satisfeito. (Tão gémeos são A fadiga e a satisfação!) Em troca, se vou por aí Sou tão inteligente a ver tudo o que não é comigo, Compreendo tão bem o que não me diz respeito, Sinto-me tão chefe do que está fora de mim, Dou conselhos tão bíblicos aos aflitos de uma aflição que não é a minha, Que, sinceramente, não sei qual é melhor: Se estar sozinho em casa a dar à manivela da vida, Se ir por aí e ser Rei de tudo o que não é meu.
FLORBELA ESPANCA 1894-1930 Árvores do  Alentejo Horas mortas... Curvada aos pés do MonteA planície é um brasido e, torturadas,As árvores sangrentas, revoltadas,Gritam a Deus a bênção duma fonte!E quando, manhã alta, o sol posponteA oiro a giesta, a arder, pelas estradas,Esfíngicas, recortam desgrenhadasOs trágicos perfis no horizonte!Árvores! Corações, almas que choram,Almas iguais à minha, almas que imploramEm vão remédio para tanta mágoa!Árvores! Não choreis! Olhai e vede:Também ando a gritar, morta de sede,Pedindo a Deus a minha gota de água!
Palavras de um avestruz todo gris Arrancam-me as penas E eu sofro sem dizer nada: - Sou ave Bem educada.   E, se quisesse, Podia Morder-lhes as mãos morenas, A esses  que sem piedade Me roubam estas penas que me cobrem;   E, no entanto, Sem o mais breve gemido, O meu corpo Vai ficando Desguarnecido...  E, elas, Aquelas Que se enfeitam, doidamente, Com estas penas formosas - Que são minhas! Passam por mim, desdenhosas, Em gargalhadas mesquinhas.   Sim; eu sofro sem dizer nada: - Sou ave Bem educada. ANTÓNIO BOTTO 1897-1959
JOSÉ GOMES FERREIRA 1900-1985 Borboleta verde Borboleta verde, Aqui não há flores. - Procuras nas pedras Jardins interiores?   Borboleta verde, Aqui não há zumbidos. - Procuras nas pedras Perfumes dormidos?   Borboleta verde, Aqui só há calçadas. - Procuras nas pedras As flores geladas?   Borboleta verde Chama quase morta. - Também eu, também Aos tombos nas pedras Não encontro a Porta.
Fim de Outono Fim de outono...  Folhas mortas...  Sol doente...  Nostalgia...  Tudo seco pelas hortas,  Grandes lágrimas no chão  Nem uma flor pelos montes,  Tudo numa quietação  Soluça numa oração  O triste cantar das fontes.  Fim de outono...  Folhas mortas...  Sol doente...  Nostalgia...  A terra fechou as portas  Aos beijos do sol ardente,  E agora está na agonia...  Valha à terra agonizante  A Santa Virgem Maria!  Fim de Outono...  Folhas mortas...  Sol doente...  Nostalgia...  FERNANDA DE CASTRO 1900-1994
JOSÉ RÉGIO 1901-1969 Fado português  O Fado nasceu um dia,  quando o vento mal bulia  e o céu o mar prolongava,  na amurada dum veleiro,  no peito dum marinheiro  que, estando triste, cantava,  que, estando triste, cantava.  Ai, que lindeza tamanha,  meu chão, meu monte, meu vale,  de folhas, flores, frutas de oiro,  vê se vês terras de Espanha,  areias de Portugal,  olhar ceguinho de choro.  Na boca dum marinheiro  do frágil barco veleiro,  morrendo a canção magoada,  diz o pungir dos desejos  do lábio a queimar de beijos  que beija o ar, e mais nada,  que beija o ar, e mais nada.  Mãe, adeus. Adeus, Maria.  Guarda bem no teu sentido  que aqui te faço uma jura:  que ou te levo à sacristia,  ou foi Deus que foi servido  dar-me no mar sepultura.  Ora eis que embora outro dia,  quando o vento nem bulia  e o céu o mar prolongava,  à proa de outro veleiro  velava outro marinheiro  que, estando triste, cantava,  que, estando triste, cantava.
VITORINO NEMÉSIO 1901-1978 Regresso Cavalo e cavaleiro o vento adornam Com uma pata e uma pluma; À tarde unidos tornam, Um estante de sangue numa rosa de espuma. Tanta pressa, afinal, para coisa nenhuma.
PEDRO HOMEM DE MELLO 1904-1984 Galgos Quando são mansos, parecem lírios. Parecem rosas quando são bravos. A igreja é bosque, cheio de círios, Gótica igreja, cheia de cravos. Leves, tão leves! Leves, esguios… Não sujam praias; não lembram gente. E, reflectidos nas águas dos rios, Dir-se-iam asas… E a água não mente! Deram as rússias aos portugueses! Cães de fidalgo. Cães de solar. Ó meus irmãos, parai, por vezes, Parai a vê-los, que vão findar!
Poema das árvores As árvores crescem sós. E a sós florescem.Começam por ser nada. Pouco a poucose levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,e os frutos dão sementes,e as sementes preparam novas árvores.E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.Sós.De dia e de noite.Sempre sós.Os animais são outra coisa.Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,fazem amor e ódio, e vão à vidacomo se nada fosse.As árvores, não.Solitárias, as árvores,exauram terra e sol silenciosamente.Não pensam, não suspiram, não se queixam.Estendem os braços como se implorassem;com o vento soltam ais como se suspirassem;e gemem, mas a queixa não é sua.Sós, sempre sós.Nas planícies, nos montes, nas florestas,A crescer e a florir sem consciência.Virtude vegetal viver a sósE entretanto dar flores. ANTÓNIO GEDEÃO 1906-1997
MIGUEL TORGA 1907-1995 SEGREDO Sei um ninho.E o ninho tem um ovo.E o ovo, redondinho,Tem lá dentro um passarinhoNovo. Mas escusam de me atentar:Nem o tiro, nem o ensino.Quero ser um bom meninoE guardarEste segredo comigo.E ter depois um amigoQue faça o pinoA voar...
ALICE GOMES 1910-1983 Zumbido A menina andava no jardim  a dançar com o jasmim. O menino andava no pomar as cerejas a provar.  Um zângão surgiu a menina fugiu. O menino mexeu na colmeia. Que coisa tão feia!... O enxame irritou. O zângão  zangado atacou e uma abelha picou. A mão do menino inchou Mas ele não chorou. Gato que brincas na rua
BIBLIOGRAFIA O século XX português: personalidades que marcaram uma época – 1ª ed., Lisboa: Texto Editora, 2000 http://cvc.instituto-camoes.pt/literatura/historialit.htm [consultado em 09-06-2010] http://www.vidaslusofonas.pt/asvidas.htm [consultado em 09-06-2010] http://www.leme.pt/biografias/80mulheres/castro.html
Biblioteca Escolar Ano lectivo 2009/2010

Contenu connexe

Tendances

21 de março - Poesia, Floresta, Árvore
21 de março - Poesia, Floresta, Árvore21 de março - Poesia, Floresta, Árvore
21 de março - Poesia, Floresta, ÁrvoreDores Pinto
 
Homenagem a Francisco Neves de Macedo
Homenagem a Francisco Neves de MacedoHomenagem a Francisco Neves de Macedo
Homenagem a Francisco Neves de MacedoConfraria Paranaense
 
Semana da Poesia em Miranda do Corvo
Semana da Poesia  em Miranda do CorvoSemana da Poesia  em Miranda do Corvo
Semana da Poesia em Miranda do Corvocriscouceiro
 
Rosa lobat - ana branco e marta
Rosa lobat - ana branco e martaRosa lobat - ana branco e marta
Rosa lobat - ana branco e marta101d1
 
VERSOS NA REDE. No.1 NOV/DEZ 2018
VERSOS NA REDE. No.1 NOV/DEZ 2018VERSOS NA REDE. No.1 NOV/DEZ 2018
VERSOS NA REDE. No.1 NOV/DEZ 2018Sérgio Pitaki
 
Bocage Sonetos E Outros Poemas
Bocage Sonetos E Outros PoemasBocage Sonetos E Outros Poemas
Bocage Sonetos E Outros PoemasFlávio Mello
 
Ilka+vieira renascitudes
Ilka+vieira renascitudesIlka+vieira renascitudes
Ilka+vieira renascitudesrc1951
 
O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA
O POETA SETUBALENSE GRAVATINHAO POETA SETUBALENSE GRAVATINHA
O POETA SETUBALENSE GRAVATINHAASPASIA57
 

Tendances (18)

21 de março - Poesia, Floresta, Árvore
21 de março - Poesia, Floresta, Árvore21 de março - Poesia, Floresta, Árvore
21 de março - Poesia, Floresta, Árvore
 
Homenagem a Francisco Neves de Macedo
Homenagem a Francisco Neves de MacedoHomenagem a Francisco Neves de Macedo
Homenagem a Francisco Neves de Macedo
 
Poemas sobre árvores e as florestas
Poemas sobre árvores e as florestas Poemas sobre árvores e as florestas
Poemas sobre árvores e as florestas
 
António Nobre
António NobreAntónio Nobre
António Nobre
 
Semana da Poesia em Miranda do Corvo
Semana da Poesia  em Miranda do CorvoSemana da Poesia  em Miranda do Corvo
Semana da Poesia em Miranda do Corvo
 
Contemp setembro__10
Contemp  setembro__10Contemp  setembro__10
Contemp setembro__10
 
Rosa lobat - ana branco e marta
Rosa lobat - ana branco e martaRosa lobat - ana branco e marta
Rosa lobat - ana branco e marta
 
VERSOS NA REDE. No.1 NOV/DEZ 2018
VERSOS NA REDE. No.1 NOV/DEZ 2018VERSOS NA REDE. No.1 NOV/DEZ 2018
VERSOS NA REDE. No.1 NOV/DEZ 2018
 
Contemp julho__25
Contemp  julho__25Contemp  julho__25
Contemp julho__25
 
Bocage Sonetos E Outros Poemas
Bocage Sonetos E Outros PoemasBocage Sonetos E Outros Poemas
Bocage Sonetos E Outros Poemas
 
Natércia Freire
Natércia FreireNatércia Freire
Natércia Freire
 
A poesia e a música
A poesia e a músicaA poesia e a música
A poesia e a música
 
Sobre as Asas
Sobre as AsasSobre as Asas
Sobre as Asas
 
Poesia11
Poesia11Poesia11
Poesia11
 
Contemp novembro__19
Contemp  novembro__19Contemp  novembro__19
Contemp novembro__19
 
Ilka+vieira renascitudes
Ilka+vieira renascitudesIlka+vieira renascitudes
Ilka+vieira renascitudes
 
O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA
O POETA SETUBALENSE GRAVATINHAO POETA SETUBALENSE GRAVATINHA
O POETA SETUBALENSE GRAVATINHA
 
Chicos 38
Chicos 38 Chicos 38
Chicos 38
 

Similaire à Poetas da I República

Biblioteca Global - Ponte entre Culturas
Biblioteca Global - Ponte entre CulturasBiblioteca Global - Ponte entre Culturas
Biblioteca Global - Ponte entre CulturasBesaf Biblioteca
 
Entre flores e claustros as poéticas de Florbela Espanca e Rosalía de Castro
Entre flores e claustros as poéticas de Florbela Espanca e Rosalía de CastroEntre flores e claustros as poéticas de Florbela Espanca e Rosalía de Castro
Entre flores e claustros as poéticas de Florbela Espanca e Rosalía de CastroRenata Bomfim
 
20120803 caderno poemas_ciclo_3
20120803 caderno poemas_ciclo_320120803 caderno poemas_ciclo_3
20120803 caderno poemas_ciclo_3bib2009
 
Poesias mostra cultural
Poesias mostra culturalPoesias mostra cultural
Poesias mostra culturalBarbara Coelho
 
Poetas
PoetasPoetas
Poetasescola
 
olavo bilac - via láctea
 olavo bilac - via láctea olavo bilac - via láctea
olavo bilac - via lácteaJosé Ermida
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoAELPB
 
20120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 320120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 3crepalmela
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anogracatremoco45
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCris Gonçalves
 
Mestres da Poesia
Mestres da PoesiaMestres da Poesia
Mestres da PoesiaChuck Gary
 
Quintana 08 03_2013_rapallo
Quintana 08 03_2013_rapalloQuintana 08 03_2013_rapallo
Quintana 08 03_2013_rapalloPatrizia Ercole
 

Similaire à Poetas da I República (20)

Biblioteca Global - Ponte entre Culturas
Biblioteca Global - Ponte entre CulturasBiblioteca Global - Ponte entre Culturas
Biblioteca Global - Ponte entre Culturas
 
Entre flores e claustros as poéticas de Florbela Espanca e Rosalía de Castro
Entre flores e claustros as poéticas de Florbela Espanca e Rosalía de CastroEntre flores e claustros as poéticas de Florbela Espanca e Rosalía de Castro
Entre flores e claustros as poéticas de Florbela Espanca e Rosalía de Castro
 
20120803 caderno poemas_ciclo_3
20120803 caderno poemas_ciclo_320120803 caderno poemas_ciclo_3
20120803 caderno poemas_ciclo_3
 
Poesias mostra cultural
Poesias mostra culturalPoesias mostra cultural
Poesias mostra cultural
 
Poetas
PoetasPoetas
Poetas
 
Poetas
PoetasPoetas
Poetas
 
olavo bilac - via láctea
 olavo bilac - via láctea olavo bilac - via láctea
olavo bilac - via láctea
 
95
9595
95
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
 
Mestres da poesia
Mestres da poesiaMestres da poesia
Mestres da poesia
 
20120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 320120803 caderno poemas ciclo 3
20120803 caderno poemas ciclo 3
 
Caderno poemas português
Caderno poemas portuguêsCaderno poemas português
Caderno poemas português
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
 
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_anoCaderno poemas 7_8_e_9_ano
Caderno poemas 7_8_e_9_ano
 
Caderno poemas
Caderno poemasCaderno poemas
Caderno poemas
 
Poesia 8 1
Poesia 8 1Poesia 8 1
Poesia 8 1
 
Gonçalves Dias
Gonçalves DiasGonçalves Dias
Gonçalves Dias
 
Mestres da Poesia
Mestres da PoesiaMestres da Poesia
Mestres da Poesia
 
Mestres Da Poesia
Mestres Da PoesiaMestres Da Poesia
Mestres Da Poesia
 
Quintana 08 03_2013_rapallo
Quintana 08 03_2013_rapalloQuintana 08 03_2013_rapallo
Quintana 08 03_2013_rapallo
 

Plus de anapaulaoliveira

Plus de anapaulaoliveira (20)

Passeio por S. João da Madeira
Passeio por S. João da MadeiraPasseio por S. João da Madeira
Passeio por S. João da Madeira
 
Resume um livro numa frase
Resume um livro numa fraseResume um livro numa frase
Resume um livro numa frase
 
Notícia
NotíciaNotícia
Notícia
 
Acordo ortográfico
Acordo ortográficoAcordo ortográfico
Acordo ortográfico
 
Semana da leitura
Semana da leituraSemana da leitura
Semana da leitura
 
Dia Europeu das Línguas 2011
Dia Europeu das Línguas 2011Dia Europeu das Línguas 2011
Dia Europeu das Línguas 2011
 
Festa Grande C, Cascais
Festa Grande C, CascaisFesta Grande C, Cascais
Festa Grande C, Cascais
 
Top leitura
Top leituraTop leitura
Top leitura
 
Pesquisar corretamente na internet
Pesquisar corretamente na internetPesquisar corretamente na internet
Pesquisar corretamente na internet
 
Pesquisar no catálogo Winlib
Pesquisar no catálogo WinlibPesquisar no catálogo Winlib
Pesquisar no catálogo Winlib
 
Educar a geração copiar-colar
Educar a geração copiar-colarEducar a geração copiar-colar
Educar a geração copiar-colar
 
Moeda portuguesa
Moeda portuguesaMoeda portuguesa
Moeda portuguesa
 
Ode à Natureza
Ode à NaturezaOde à Natureza
Ode à Natureza
 
Lenda da Lagoa das Sete Cidades
Lenda da Lagoa das Sete Cidades Lenda da Lagoa das Sete Cidades
Lenda da Lagoa das Sete Cidades
 
Álbum de desenhos
Álbum de desenhosÁlbum de desenhos
Álbum de desenhos
 
Feira dos 4 e Capela de Santo Estêvão
Feira dos 4 e Capela de Santo EstêvãoFeira dos 4 e Capela de Santo Estêvão
Feira dos 4 e Capela de Santo Estêvão
 
Rancho S.Martinho de Escapães
Rancho S.Martinho de EscapãesRancho S.Martinho de Escapães
Rancho S.Martinho de Escapães
 
Dia do holocausto
Dia do holocaustoDia do holocausto
Dia do holocausto
 
A importância da leitura
A importância da leituraA importância da leitura
A importância da leitura
 
Da Monarquia à República
Da Monarquia à RepúblicaDa Monarquia à República
Da Monarquia à República
 

Dernier

ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresLilianPiola
 
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfEditoraEnovus
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumAugusto Costa
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024Jeanoliveira597523
 
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfEditoraEnovus
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasRosalina Simão Nunes
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.silves15
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfAdrianaCunha84
 
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?Rosalina Simão Nunes
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalJacqueline Cerqueira
 
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma AntigaANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma AntigaJúlio Sandes
 
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VERELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VERDeiciane Chaves
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasCassio Meira Jr.
 
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Centro Jacques Delors
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavrasMary Alvarenga
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesMary Alvarenga
 
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...ArianeLima50
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 

Dernier (20)

ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
 
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 1 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
 
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
ABRIL VERDE.pptx Slide sobre abril ver 2024
 
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdfSimulado 2 Etapa  - 2024 Proximo Passo.pdf
Simulado 2 Etapa - 2024 Proximo Passo.pdf
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
 
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
 
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
 
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma AntigaANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
ANTIGUIDADE CLÁSSICA - Grécia e Roma Antiga
 
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VERELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
ELETIVA TEXTOS MULTIMODAIS LINGUAGEM VER
 
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
 
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
Apresentação | Eleições Europeias 2024-2029
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavras
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
 
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...
Cultura e Literatura indígenas: uma análise do poema “O silêncio”, de Kent Ne...
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 

Poetas da I República

  • 2. GOMES LEAL 1848-1921 Os gemidos da árvore A Árvore, em pé, no meio das planuras,cheia de riso e flor, verduras, passarinhos,- Ela é o guarda-sol dos frutos e dos ninhos.- É o tecto nupcial das conversadas puras.   O humilde cavador que foiça as ervas durasdos broncos matagais e escalrachos maninhos,sob ela faz o seu leito, ao cruzar os caminhos,torrado da soalheira ou nas sombras escuras.   Contudo, o Homem ingrato esquece a Árvore amigae prefere a Cidade e a balbúrdia inimiga,onde a alma corrompe em orgias triviais.   Mas a Árvore lá fica, a espreitar nas ramadascomo a mãe lacrimosa, a olhar sempre as estradas- a ver se o filho volta à cabana dos pais!   
  • 3. GUERRA JUNQUEIRO 1850-1923 Nessa tremenda ansiedade É que tu verteste, flor, A tua imensa piedade Na minha infinita dor!...Eu era a sombra funesta E tu o clarão doirado; Juntámo-nos, que é que resta? Um céu de Maio estrelado.Quando vais serena e calma, Linda, inefável, como és, Vou pondo sempre a minha alma No sítio onde pões os pés.Corre o mundo, (o mundo é estreito) Podes mil mundos correr, Que hás-de calcar o meu peito sempre por ti a bater.
  • 4. CAMILO PESSANHA 1867-1926 Passou o Outono já, já torna o frio...- Outono de seu riso magoado.Álgido Inverno! Oblíquo o sol, gelado...- O sol, e as águas límpidas do rio. Águas claras do rio! Águas do rio,Fugindo sob o meu olhar cansado,Para onde me levais meu vão cuidado?Aonde vais, meu coração vazio?   
  • 5. EUGÉNIO DE CASTRO 1869-1944 Chuva de Setembro Chuvinha miúda… chove, chove, Molhando a eira, inchando a uva… Mãos d’ anjo fazem rendas d’ água, Prendem-me aqui grades de chuva… Chuvinha miúda… chove, chove, Nos pinheirais, dentro de mim… Lembra-me agora aquela tarde Em que também chovia assim… Quanto chorámos nessa hora, Que já de nós tão longe vai! Chuvinha miúda… chove… chove… Sonhos d’ amor, chorai, chorai…   
  • 6. Balada da neve Batem leve, levemente, como quem chama por mim. Será chuva? Será gente? Gente não é, certamente e a chuva não bate assim. É talvez a ventania: mas há pouco, há poucochinho, nem uma agulha bulia na quieta melancolia dos pinheiros do caminho... Quem bate, assim, levemente, com tão estranha leveza, que mal se ouve, mal se sente? Não é chuva, nem é gente, nem é vento com certeza. Fui ver. A neve caía do azul cinzento do céu, branca e leve, branca e fria...Há quanto tempo a não via! E que saudades, Deus meu! Olho-a através da vidraça. Pôs tudo da cor do linho. Passa gente e, quando passa, os passos imprime e traça na brancura do caminho... AUGUSTO GIL 1873-1929 Fico olhando esses sinais da pobre gente que avança, e noto, por entre os mais, os traços miniaturais duns pezitos de criança... E descalcinhos, doridos... a neve deixa inda vê-los, primeiro, bem definidos, depois, em sulcos compridos, porque não podia erguê-los!... Que quem já é pecador sofra tormentos, enfim! Mas as crianças, Senhor, porque lhes dais tanta dor?!... Porque padecem assim?!... E uma infinita tristeza, uma funda turbação entra em mim, fica em mim presa. Cai neve na Natureza e cai no meu coração.
  • 7. TEIXEIRA DE PASCOAES 1877-1952 Os olhos dos animais   Que triste o olhar do cão! Até parece Mais um queixume, um íntimo lamento Da noite interior que lhe escurece O coração, que é todo sentimento.   E os mansos bois soturnos! Que tormento, Em seus olhos, tão calmos, transparece… E os olhos da ovelhinha e do jumento! Que tristes! Só o vê-los entristece…   Chora, em todo o crepúsculo, a tristeza. E, além dos ser humano, a Natureza É lívida penumbra feita de ais…   Por isso, o vosso olhar de escuridão É mais lágrima ainda que visão, Ó pobres e saudosos animais!
  • 8. AFONSO LOPES VIEIRA 1878-1946 Os burros Cuidadosos,os burrinhosvão andandopor caminhos.Levam sacos,levam lenha…Pesa a cargaque é tamanha!Levam coisasp'ró mercado,no alforgetão pesado.E transportamtudo, tudo,no seu passotão miúdo. Tão miúdo Tão esperto Que anda tanto Por ser certo   Do seu dono Que seria Sem o burro? Que faria?   E esse dono Quando é mau Dá-lhe, dá-lhe Com um pau!   E o burrinho Sofre então… Tem nos olhos O perdão!
  • 9. ANTÓNIO CORREIA DE OLIVEIRA 1879-1960 O perfumeO que sou eu? – O Perfume, Dizem os homens. – Serei. Mas o que sou nem eu sei... Sou uma sombra de lume!Rasgo a aragem como um gume De espada: Subi. Voei.Onde passava, deixeiA essência que me resume.Liberdade, eu me cativo: Numa renda, um nada, eu vivo Vida de Sonho e Verdade!Passam os dias, e em vão! – Eu sou a Recordação; Sou mais, ainda: a Saudade.
  • 10. FERNANDO PESSOA 1888-1935 Gato que brincas na ruaGato que brincas na rua Gato que brincas na rua Como se fosse na cama,Invejo a sorte que é tuaPorque nem sorte se chama.Bom servo das leis fataisQue regem pedras e gentes,Que tens instintos geraisE sentes só o que sentes.És feliz porque és assim,Todo o nada que és é teu.Eu vejo-me e estou sem mim,Conheço-me e não sou eu.
  • 11. ANTÓNIO ALEIXO 1899-1949 É fácil a qualquer cãoTirar cordeiros da relva.Tirar a presa ao leãoÉ difícil nesta selva.
  • 12. MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO 1890-1916 Fim Quando eu morrer batam em latas, Rompam aos saltos e aos pinotes, Façam estalar no ar chicotes, Chamem palhaços e acrobatas! Que o meu caixão vá sobre um burro Ajaezado à andaluza… A um morto nada se recusa E eu quero por força ir de burro!
  • 13. ALMADA NEGREIROS 1893-1970 MOMENTO DE POESIA Se escrevo ou leio ou desenho ou pinto, Logo me sinto tão atrasado No que devo à eternidade, Que começo a empurrar pra diante o tempo E empurro-o, empurro-a à bruta Como empurra um atrasado, Até que cansado me julgo satisfeito. (Tão gémeos são A fadiga e a satisfação!) Em troca, se vou por aí Sou tão inteligente a ver tudo o que não é comigo, Compreendo tão bem o que não me diz respeito, Sinto-me tão chefe do que está fora de mim, Dou conselhos tão bíblicos aos aflitos de uma aflição que não é a minha, Que, sinceramente, não sei qual é melhor: Se estar sozinho em casa a dar à manivela da vida, Se ir por aí e ser Rei de tudo o que não é meu.
  • 14. FLORBELA ESPANCA 1894-1930 Árvores do  Alentejo Horas mortas... Curvada aos pés do MonteA planície é um brasido e, torturadas,As árvores sangrentas, revoltadas,Gritam a Deus a bênção duma fonte!E quando, manhã alta, o sol posponteA oiro a giesta, a arder, pelas estradas,Esfíngicas, recortam desgrenhadasOs trágicos perfis no horizonte!Árvores! Corações, almas que choram,Almas iguais à minha, almas que imploramEm vão remédio para tanta mágoa!Árvores! Não choreis! Olhai e vede:Também ando a gritar, morta de sede,Pedindo a Deus a minha gota de água!
  • 15. Palavras de um avestruz todo gris Arrancam-me as penas E eu sofro sem dizer nada: - Sou ave Bem educada.   E, se quisesse, Podia Morder-lhes as mãos morenas, A esses que sem piedade Me roubam estas penas que me cobrem;   E, no entanto, Sem o mais breve gemido, O meu corpo Vai ficando Desguarnecido... E, elas, Aquelas Que se enfeitam, doidamente, Com estas penas formosas - Que são minhas! Passam por mim, desdenhosas, Em gargalhadas mesquinhas.   Sim; eu sofro sem dizer nada: - Sou ave Bem educada. ANTÓNIO BOTTO 1897-1959
  • 16. JOSÉ GOMES FERREIRA 1900-1985 Borboleta verde Borboleta verde, Aqui não há flores. - Procuras nas pedras Jardins interiores?   Borboleta verde, Aqui não há zumbidos. - Procuras nas pedras Perfumes dormidos?   Borboleta verde, Aqui só há calçadas. - Procuras nas pedras As flores geladas?   Borboleta verde Chama quase morta. - Também eu, também Aos tombos nas pedras Não encontro a Porta.
  • 17. Fim de Outono Fim de outono... Folhas mortas... Sol doente... Nostalgia... Tudo seco pelas hortas, Grandes lágrimas no chão Nem uma flor pelos montes, Tudo numa quietação Soluça numa oração O triste cantar das fontes. Fim de outono... Folhas mortas... Sol doente... Nostalgia... A terra fechou as portas Aos beijos do sol ardente, E agora está na agonia... Valha à terra agonizante A Santa Virgem Maria! Fim de Outono... Folhas mortas... Sol doente... Nostalgia... FERNANDA DE CASTRO 1900-1994
  • 18. JOSÉ RÉGIO 1901-1969 Fado português O Fado nasceu um dia, quando o vento mal bulia e o céu o mar prolongava, na amurada dum veleiro, no peito dum marinheiro que, estando triste, cantava, que, estando triste, cantava. Ai, que lindeza tamanha, meu chão, meu monte, meu vale, de folhas, flores, frutas de oiro, vê se vês terras de Espanha, areias de Portugal, olhar ceguinho de choro. Na boca dum marinheiro do frágil barco veleiro, morrendo a canção magoada, diz o pungir dos desejos do lábio a queimar de beijos que beija o ar, e mais nada, que beija o ar, e mais nada. Mãe, adeus. Adeus, Maria. Guarda bem no teu sentido que aqui te faço uma jura: que ou te levo à sacristia, ou foi Deus que foi servido dar-me no mar sepultura. Ora eis que embora outro dia, quando o vento nem bulia e o céu o mar prolongava, à proa de outro veleiro velava outro marinheiro que, estando triste, cantava, que, estando triste, cantava.
  • 19. VITORINO NEMÉSIO 1901-1978 Regresso Cavalo e cavaleiro o vento adornam Com uma pata e uma pluma; À tarde unidos tornam, Um estante de sangue numa rosa de espuma. Tanta pressa, afinal, para coisa nenhuma.
  • 20. PEDRO HOMEM DE MELLO 1904-1984 Galgos Quando são mansos, parecem lírios. Parecem rosas quando são bravos. A igreja é bosque, cheio de círios, Gótica igreja, cheia de cravos. Leves, tão leves! Leves, esguios… Não sujam praias; não lembram gente. E, reflectidos nas águas dos rios, Dir-se-iam asas… E a água não mente! Deram as rússias aos portugueses! Cães de fidalgo. Cães de solar. Ó meus irmãos, parai, por vezes, Parai a vê-los, que vão findar!
  • 21. Poema das árvores As árvores crescem sós. E a sós florescem.Começam por ser nada. Pouco a poucose levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,e os frutos dão sementes,e as sementes preparam novas árvores.E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.Sós.De dia e de noite.Sempre sós.Os animais são outra coisa.Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,fazem amor e ódio, e vão à vidacomo se nada fosse.As árvores, não.Solitárias, as árvores,exauram terra e sol silenciosamente.Não pensam, não suspiram, não se queixam.Estendem os braços como se implorassem;com o vento soltam ais como se suspirassem;e gemem, mas a queixa não é sua.Sós, sempre sós.Nas planícies, nos montes, nas florestas,A crescer e a florir sem consciência.Virtude vegetal viver a sósE entretanto dar flores. ANTÓNIO GEDEÃO 1906-1997
  • 22. MIGUEL TORGA 1907-1995 SEGREDO Sei um ninho.E o ninho tem um ovo.E o ovo, redondinho,Tem lá dentro um passarinhoNovo. Mas escusam de me atentar:Nem o tiro, nem o ensino.Quero ser um bom meninoE guardarEste segredo comigo.E ter depois um amigoQue faça o pinoA voar...
  • 23. ALICE GOMES 1910-1983 Zumbido A menina andava no jardim a dançar com o jasmim. O menino andava no pomar as cerejas a provar. Um zângão surgiu a menina fugiu. O menino mexeu na colmeia. Que coisa tão feia!... O enxame irritou. O zângão zangado atacou e uma abelha picou. A mão do menino inchou Mas ele não chorou. Gato que brincas na rua
  • 24. BIBLIOGRAFIA O século XX português: personalidades que marcaram uma época – 1ª ed., Lisboa: Texto Editora, 2000 http://cvc.instituto-camoes.pt/literatura/historialit.htm [consultado em 09-06-2010] http://www.vidaslusofonas.pt/asvidas.htm [consultado em 09-06-2010] http://www.leme.pt/biografias/80mulheres/castro.html
  • 25. Biblioteca Escolar Ano lectivo 2009/2010