1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO TECNOLÓGICO
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
DISCIPLINA: Atributos dos Elementos Arquitetônicos e suas Relações com a
Habitabilidade e Sustentabilidade – ARQ 410002
DOCENTE: Maristela Moraes De Almeida
DISCENTE: Marlise Paim Braga Noebauer
DATA: 08.SET.14
RESENHA 01
ARQUITETURA E DESIGN – ARQUITETURA E ÉTICA – CAP. 4 – Sentir a Habitação
PAPANEK, Victor. Sentir a Habitação. In: Victor PAPANEK. Arquitetura e Design – Arquitetura e
Ética. Lisboa: Edições 70, 1995.
A sociedade vive em ritmo cada dia mais acelerado, a tecnologia abrange todos
os setores da vida humana, as relações entre as pessoas e delas com o meio tem-se
alterado dia a dia.
Dentro deste contexto, o autor apresenta o tema da arquitetura ao leitor, segundo
ele mesmo, a arte de projetar e construir (nem sempre através de um projeto
convencional, por assim dizer) espaços para a vida humana, convidando-o a sentir
a arquitetura e não apenas vê-la. Sentir seus atributos e os efeitos que eles causam,
muito mais do que apenas apreciar suas características estéticas. Alerta que a
arquitetura deve receber um novo olhar, deve ser captada por todos os sentidos.
Verdadeiramente, se as casas, os espaços de trabalho, de lazer e todos os outros
espaços que abrigam a vida humana representam para ela uma terceira pele - por
ordem: a derme, as roupas e a arquitetura, deve-se lembrar que a beleza vai além
da estética visual.
A partir dessa lógica, o autor passa então a discorrer sobre importantes temas,
abrindo os olhos do leitor através de vívidos exemplos comentados, muitas outras
formas de se apreciar a arquitetura, além das questões visuais.
De fato, antes de um arquiteto ou observador leigo - não importa - se colocar
criticamente frente à uma arquitetura proposta ou construída, deve ser levado à
reflexão, pois cada vez mais, qualquer intervenção no planeta deve ser feita com
maior cuidado, buscando atender as necessidades das pessoas e comprometida
com as questões ambientais.
Papanek defende que as representações ou registros de arquitetura, sejam eles
através de fotografias em revistas, desenhos, projetos e mesmo as construções
virtuais, embora tenham o seu devido valor e função na arquitetura, jamais
substituirão a experiência de transitar em um edifício, em um lugar.
2. E ele está corretíssimo: as diferenças entre circular em e à volta de uma edificação
e a tentativa de viver o mesmo através de desenhos, construções virtuais e mesmo
de fotografias são cruciais. Experienciar a arquitetura envolve todos os nossos
sentidos. Assim como a fotografia não dá conta de sintetizar um único clique as
inúmeras expressões do rosto humano, também não registra em uma foto o
vivenciar a arquitetura e suas variadas sutilezas.
Segundo o autor, é a partir da II Guerra Mundial que as pessoas se voltam para
dentro de casa e, de lá para cá é crescente a artificialização dos espaços. Os
sentidos são então, paulatinamente embotados, negando-se parte do aparelho
sensorial e sensual naturais humanos e os estímulos orgânicos são dessa forma,
neutralizados.
O autor apresenta então, algumas pesquisas nas áreas da psicologia e psiquiatria e
através delas demonstra que os ambientes e seus atributos influenciam a vida
humana, abrangendo aspectos físicos, como por exemplo a produção de
hormônios e aspectos emocionais, com efeitos na psique, inclusive nas camadas do
subconsciente e da pré-consciência.
A Psicologia Ambiental realmente abarca um sem número de pesquisas que
corroboram com essa ideia apresentada pelo autor: o comportamento humano é
afetado pela arquitetura que em consequência também influi nos ambientes
construídos, ou seja: de maneira cíclica se relacionam e interagem as pessoas e os
ambientes.
Ao longo do texto, o autor trata de atributos ambientais que se destacam na forma
como as pessoas percebem os espaços, como estimulam os sentidos humanos e
como os indivíduos reagem a eles. Atributos como a luz, os pisos, as texturas, os
aromas, os sons, a forma, o conjunto... todos tem enorme importância, e juntos
contribuem para a qualidade da vida dentro e fora dos ambientes construídos. A
presente resenha crítica se concentra em apresentar e discutir um desses aspectos:
a luz, primeiro atributo apresentado por Papanek.
Nada mais compreensível – iniciar pela luz – afinal, a luz configura-se como a
primeira experiência visual do ser humano, e além disso, está associada a outros
fatores importantes: as qualidades cromáticas e térmicas. Conhecer os efeitos da
luz em suas diferentes formas de apresentação é dever do projetista de arquitetura.
Essa ideia é reforçada pelo autor através dos exemplos de arquitetura
apresentados, em que aqui se destacam três, expostos a seguir.
01- Uma negação de boa prática, é o Museu de Arte de Pasadena, hoje Norton
Simom Museum, projetado por Thornton Ladd, de 1969. Afora as complicações da
proposta formal, motivo pelo qual recebeu duras críticas, também se apresentam
problemas no que tange ao conforto lumínico. Os pisos externos cobertos com brita
de mármore branco, formam o que o autor denomina “valado ótico”, pois nos dias
de sol intenso, produzem ofuscamento. Muitos visitantes precisam vários minutos
para acomodar a visão após adentrar o museu, e somente então podem desfrutar
da visita, reconhecendo as cores das obras de arte ali expostas.
02- Bastante conhecido pelo público, o Museum Guggenheim previa em seu
projeto original captadores de luz: uma grande cúpula central, rodeada por nove
3. cúpulas menores, iluminando todos os ambientes mesmo em dias nublados. Em dias
de sol, a iluminação era filtrada por painéis de tecido. Esta solução foi mais tarde
substituída por um novo projeto da cúpula, que tornou-se menor, mais facetada.
03- Universidade da Califórnia, em Berkeley. Projetado por Bernard Mayback, o
edifício tinha uma face sul envidraçada, a 1m de distância das janelas desta
fachada, foi instalada uma cortina vegetal caduca. Ela filtrava a luz solar que
chegava em demasia, proporcionava uma bela visão de verde, e o colchão de ar
criado entre a vegetação e a edificação produzia também boa ventilação e
arejamento. Segundo Papanek, no outono, as plantas perdiam as folhas, permitindo
a benéfica entrada de luz solar e o aquecimento da sala.
A cada exemplo apresentado, mesmo que a ênfase seja de um atributo ambiental,
este se apresenta relacionado a outros atributos. Um mesmo elemento toca mais de
um canal sensorial, os ganhos ou perdas decorrentes da maneira como se
apresentam nos ambientes não se referem a apenas um sentido humano, um
aspecto perceptivo ou a apenas aspectos físicos ou emocionais das pessoas. A
interação é de uma totalidade arquitetônica e humana.
No Norton Simom Museum, pode-se observar que os aspectos luz e cor – dias
ensolarados e o branco da brita de mármore – e os aspectos movimento e uso –
entrar no museu e apreciar arte – estão intimamente relacionados. De igual forma,
no Museu Guggenheim, o aspecto luz, o aspecto das superfícies dos materiais e sua
riqueza de texturas e o clima, se combinavam para proporcionar conforto. E no
caso da Universidade da Califórnia, aspectos lumínicos foram sabiamente
conectados com conhecimentos paisagísticos, climáticos, térmicos, abrangendo
mais canais sensoriais, proporcionando conforto físico e psicológico aos usuários.
Segundo Papanek, pesquisas comportamentais apontam que ambientes bem
iluminados proporcionam atitudes mais positivas, pois estimulam a produção de
serotonina, substância envolvida com a comunicação neural e com o bom humor,
o círculo circadiano e o apetite. O senso comum reconhece que a luz tem efeitos
sobre o humor - dias escuros tendem a fazer as pessoas ficarem aborrecidas.
Cientistas demonstram que a melatonina, produzida em períodos prolongados de
escuridão, provoca sonolência, melancolia, e até mesmo, depressão. O autor
apresenta ainda outras pesquisas sobre os efeitos da luz sobre o comportamento,
reforçando a importância dos estudos nesta área o ato de projetar arquitetura.
Ao finalizar o texto, o autor aponta problemas de saúde que podem ser provocados
por características das construções atuais. Lembra que o saber fazer a arquitetura,
tão ligado ao pensamento da arquitetura até meados do século XVIII, perdeu-se de
modo crescente. Este saber fazer era passado geração após geração, e o usuário
tinha relação direta com o pensamento e a construção do espaço por ele
habitado. Também as práticas saudáveis, os materiais e técnicas de sucesso eram
passados através das gerações, e isso tornava melhores, mais saudáveis, mas
sustentáveis, mais agradáveis, os espaços construídos para as pessoas.
Papanek finaliza falando da arquitetura favorável, aquela que só pode prosperar se
estiver construída em harmonia direta com as pessoas, com o meio ambiente e
com a cultura onde se insere.