O documento resume o período do Modernismo brasileiro entre 1930-1945, conhecido como segunda fase. Apresenta características como literatura engajada e denúncia da opressão social, além de interpretes como José Américo de Almeida que abordavam a problemática social do sertão nordestino através de obras realistas. Destaca também estudos sobre a sociedade brasileira de autores como Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda.
2. CONTEXTOHISTÓRICO
● Era Vargas
● Revolução Constitucionalista
● Guerra Civil Espanhola
● Terceiro Reich (Hitler)
● 2ª Guerra Mundial
● Bombas Atômicas
3. CARACTERÍSTICAS
● Literatura politizada
● Amadurecimento
● Interpretar o “eu” no mundo
● Intimismo/Espiritualismo
● Questionamento da realidade
● Verso livre e poesia sintética
5. PORQUINHO-DA-ÍNDIA
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
- O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada
6. OBICHO
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
8. Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?
9. MOTIVO
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
10. RomanceirodaInconfidência
Na Idade Média, romance era o nome
que se atribuía a uma obra poética de
caráter narrativo. Uma reunião de
romances formava um romanceiro. O
Romanceiro da Inconfidência narra a
história da Conjuração Mineira, movimento
revoltoso de 1789 promovido por colonos
brasileiros que pretendiam tornar a
região de Vila Rica (Minas Gerais)
independente do domínio português. O
sucesso poderia levar à utilização da
riqueza produzida pelo ouro na própria
região, acabando com a sangria monetária
promovida pelos interesses
metropolitanos.
Em uma “Fala inicial”, o narrador,
assumindo a primeira pessoa, manifesta a
sensação imperativa de tornar pública a
revolta que toma conta da colônia, o que
funciona como justificativa para a
própria obra. A partir daí, a história
narrada é dividida em “Cenários”,
obedecendo à ordem cronológica dos
acontecimentos.
“Era uma história feita de coisas eternas
e irredutíveis: ouro, amor, liberdade,
traições”[...]
11. VINÍCIUSDEMORAES
● Canta o amor
● Exaltação da mulher
● Mistérios da alma
● Cotidiano e social
● Bossa Nova
12. SONETODEFIDELIDADE
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
13. SONETODOAMORTOTAL
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude
14. SONETODESEPARAÇÃO
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
15. ROSADEHIROSHIMA
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
17. OMORTO
Eu estava dormindo e me acordaram
E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco...
E quando eu começava a compreendê-lo
Um pouco,
Já eram horas de dormir de novo!
18. espelho
Por acaso, surpreendo-me no espelho:
Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (...)
Parece meu velho pai - que já morreu! (...)
Nosso olhar duro interroga:
"O que fizeste de mim?" Eu pai? Tu é que me invadiste.
Lentamente, ruga a ruga... Que importa!
Eu sou ainda aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra,
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!
Vi sorrir nesses cansados olhos um orgulho triste..."
19. SEISCENTOSESESSENTAESEIS
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos…
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente…
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
20. QUINTANARES(EPIGRAMAS)
CARTAZ PARA UMA FEIRA DO LIVRO
Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.
O TRÁGICO DILEMA
Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um
dos dois é burro.
BIOGRAFIA
Era um grande nome - ora que dúvida! Uma verdadeira glória. Um dia
adoeceu, morreu, virou rua... E continuaram a pisar em cima dele.
22. POEMADESETEFACES
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta
meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
23. NOMEIODOCAMINHO
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
24. JOSÉ
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos
outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de
febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais!
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?
25. QUADRILHA
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
27. CARACTERÍSTICAS
● Literatura engajada
● Denúncia da opressão
● Miséria/Problemática social
● Busca da verossimilhança
● Questões ideológicas
● Tipificação social (marginais)
28. INTÉRPRETESDOBRASIL
ESTUDOS/TESES/ENSAIOS SOBRE A SOCIEDADE BRASILEIRA
Gilberto Freyre
- Casa-Grande e Senzala
(1933)
Freyre apresenta a importância da casa-
grande na formação sociocultural brasileira,
assim como a da senzala na complementação da
primeira. Além disso, Casa-Grande & Senzala
enfatiza a formação da sociedade brasileira
no contexto da miscigenação entre os
brancos, principalmente portugueses, dos
negros das várias nações africanas e dos
diferentes indígenas que habitavam o Brasil.
Sérgio Buarque de Holanda
- Raízes do Brasil (1936)
"Raízes do Brasil" aborda aspectos
centrais da história da cultura brasileira. O
texto consiste de uma macrointerpretação do
processo de formação da sociedade brasileira. A
tese central é a de que o legado personalista
da experiência colonial constituía um
obstáculo, a ser vencido, para o
estabelecimento da democracia política no
Brasil. Destaca, nesse sentido, a importância
do legado cultural da colonização portuguesa do
Brasil e a dinâmica dos arranjos e adaptações
que marcaram as transferências culturais de
Portugal para a sua colônia americana.
30. OBRAS
● Reflexões de uma cabra, 1922
● A Paraíba e seus problemas, 1923
● A bagaceira, 1928
● O boqueirão, 1935
● Coiteiros, 1935
● Ocasos de sangue, 1954
● Discursos de seu tempo, 1964
● A palavra e o tempo, 1965
● O ano do nego, 1968
● Eu e eles, 1970
● Quarto minguante, 1975
● Antes que me esqueça, 1976
● Sem me rir, sem chorar, 1984
● A Maldição da Fábrica
31. ABAGACEIRA
O romance se passa entre 1898 e 1915, os dois períodos de seca. Tangidos pelo sol
implacável, Valentim Pereira, sua filha Soledade e seu afilhado Pirunga abandonam a
fazenda do Bondó, na zona do sertão. Encaminham-se para as regiões dos engenhos, no rejo,
onde encontram acolhida no engenho Marzagão, de propriedade de Dagoberto Marçau, cuja
mulher falecera por ocasião do nascimento do único filho, Lúcio.
Passando as férias no engenho, Lúcio conhece Soledade, e por ela se apaixona. O
estudante retorna à academia e quando de novo volta, em férias, à companhia do pai, toma
conhecimento de que Valentim Pereira se encontra preso por ter assassinado o feitor Manuel
Broca, suposto sedutor e amante de Soledade. Lúcio, já advogado, resolve defender Valentim
e informa o pai do seu propósito : casar-se com Soledade. Dagoberto não aceita a decisão
do filho. Tudo é esclarecido : Soledade é prima de Lúcio, e Dagoberto foi quem realmente a
seduziu.
Pirunga, tomando conhecimento dos fatos, comunica ao padrinho (Valentim) e este lhe
pede, sob juramento, velar pelo senhor do engenho (Dagoberto), até que ele possa executar
o seu "dever": matar o verdadeiro sedutor de sua filha. Em seguida, Soledade e Dagoberto,
acompanhados por Pirunga, deixam o engenho e se dirigem para a fazenda do Bondó.
Cavalgando pelos tabuleiros da fazenda, Pirunga provoca a morte do senhor do engenho
Marzagão, herdado por Lúcio, com a morte do pai.
Em 1915, por outro período de seca, Soledade, já com a beleza destruída pelo tempo,
vai ao encontro de Lúcio, para lhe entregar o filho, fruto do seu amor com Dagoberto.
35. OBRAS
● Menino de engenho (1932)
● Doidinho (1933)
● Banguê (1934)
● O Moleque Ricardo (1935)
● Usina (1936)
● Pureza (1937)
● Pedra bonita (1938)
● Riacho doce (1939)
● Água-mãe (1941)
● Fogo morto (1943)
● Eurídice (1947)
● Cangaceiros (1953)
● Histórias da velha Totonha (1936)
● Meus Verdes Anos (memórias) (1956)
36. Romances do ciclo da cana-de-açúcar Enredo
Menino de Engenho Carlos de Melo; infância no engenho do
avô, Coronel Zé Paulino; engenho Santa
Rosa.
Doidinho Carlinhos no internato;
Banguê Carlos forma-se em Direito; volta ao
Engenho; decadência do Engenho; doença e
morte do avô.
Usina Carlos é obrigado a vender o engenho;
Dr. Juca o transforma na Usina Bom
Jesus.
Moleque Ricardo Ricardo simboliza o negro escravo do
engenho; fuga para Recife; torna-se
líder grevista; prisão e exílio em
Fernando de Noronha.
Fogo Morto História do Engenho Santa Fé; obra
dividida em três partes: 1ª Mestre José
Amaro; 2ª O Coronel Lula de Holanda
Chacon; 3ª Capitão Vitorino.
40. OBRAS-1ªFASE(ROMANCESURBANOS)
● Porto Alegre - anos
30/40
● Valores e costumes da
pequena burguesia
● CLARISSA, 1933
● CAMINHOS CRUZADOS, 1935
● OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO, 1938
● O RESTO É SILÊNCIO, 1943
41. OBRAS-2ªFASE(ROMANCEHISTÓRICO)
● O TEMPO E O VENTO, 1949, 1951,
1962
● O SENHOR EMBAIXADOR, 1965
● O PRISIONEIRO, 1967
● INCIDENTE EM ANTARES, 1971
● SOLO DE CLARINETA, 1973
O TEMPO E O VENTO
Trilogia: 200 anos de RS
● O CONTINENTE (1745-1895)
Formação do RS à partir das famílias
Terra, Caré, Cambará e Amaral.
● O RETRATO (1909-1915)
Modernização das elites gaúchas
● O ARQUIPÉLAGO (1922-1945)
Fim da unidade familiar
43. OBRAS-1ªFASE
● O PAÍS DO CARNAVAL, 1931
● CACAU, 1933
● MAR MORTO, 1936
● CAPITÃES DE AREIA, 1937
● TERRAS DO SEM FIM, 1943
● SÃO JORGE DE ILHÉUS, 1944
44. OBRAS-2ªFASE
● GABRIELA, CRAVO E CANELA, 1958
● DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS, 1966
● TENDA DOS MILAGRES, 1969
● TIETA DO AGRESTE, 1977
● TOCAIA GRANDE, 1984