O documento descreve o período de transição entre 1808-1836 no Brasil, marcado pela chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro em 1808 e o início do processo de independência. A literatura passou a ser influenciada pelos modelos europeus trazidos pela corte, ao mesmo tempo em que crescia o sentimento de nacionalidade no país.
2. Período de transição (1808 -1836)
Simultaneamente ao final das últimas produções do movimento árcade, ocorreu a vinda da
Família Real portuguesa para o Brasil. Esse acontecimento, no ano de 1808, significou, o início do
processo de Independencia da Colônia. O período compreendido entre 1808 e 1836 é considerado de
transição na literatura brasileira devido à transferência do poder de Portugal para as terras brasileiras
que trouxe consigo, além da corte e da realeza, as novidades e modelos literários do Velho
Continente nos moldes franceses e ingleses. Houve também a mudança de foco artístico e cultural,
da Bahia para o Rio de Janeiro, capital da colônia desde o ano de 1763.
Com a vinda da Família Real, os livros puderam ser impressos no território, dando início não
apenas ao desenvolvimento da literatura mas, também, a um sentimento de nacionalidade no
território, uma das principais características do período romântico brasileiro.
Considera-se que o período romântico no Brasil inicia em 1836, com a publicação da obra
Suspiros Poéticos e Saudades, do poeta Gonçalves de Magalhães e vai até o ano de 1881, com
a publicação do romance realista Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis.
3. Contexto histórico europeu
- a ascensão da tipografia, inventada pelo alemão Johannes Gutenberg, que possibilitou o
desenvolvimento da impressão em grandes quantidades de jornais e romances;
- ascensão dos romances impressos, popularizando o artefato e proporcionando um largo alcance da
literatura às camadas inferiores da sociedade;
- considera-se o marco inicial do romantismo na Europa a publicação do romance Os sofrimentos do
jovem Werther, do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe no ano de 1774. Nessa obra, Goethe
apresenta a ideia central do Romantismo: a de que a força mais poderosa da vida é o sentimento, e
não a razão. Por isso, o movimento romântico pode ser entendido como uma reação contra a onda de
racionalismo provocada pelo Iluminismo;
- Com o processo de industrialização dos grandes centros, houve um delineamento das classes sociais:
a burguesia, com riquezas provenientes do comércio, e os operários das indústrias. Logo, a literatura
do período foi produzida pela classe dominante e para a classe dominante, deixando claro qual a
ideologia defendida por seus autores.
4. Contexto histórico no Brasil
- a vinda da Família Real para o Rio de Janeiro gerou um forte desenvolvimento artístico e
cultural na colônia, agora afinado com a produção literária europeia. Porém, a insatisfação das
classes dominantes com o Império fez com que surgissem tentativas de independência da
metrópole, produzindo um sentimento de nacionalismo que culminaria com a Declaração da
Independência, em 1822, por Dom Pedro I;
- escravidão dos negros: o Brasil era uma das poucas colônias americanas que ainda sustentava
o sistema econômico baseado do trabalho escravo, o que gerou opiniões controversas por parte
dos autores daquela época;
Chegada da Família Real Portuguesa a Bahia (1952), de Candido Portinari
5. Contexto histórico no Brasil
- A independência das colônias latino-americanas impulsionou um sentimento de nacionalidade
diretamente refletida pela literatura. A formação dessas literaturas esteve a cargo de autores
que projetavam os ideais de uma nação em crescimento e desenvolvimento e que até hoje são
considerados constitutivos da história da nação;
- O que causa uma sensação de estranhamento é o paradoxo observado no período: ao mesmo
tempo em que ideias sobre o sentimento de nacionalidade aflorava nos corações dos brasileiros
(e demais latino-americanos), parte da população permanecia na miséria e/ou em situações de
escravidão, sem acesso à emancipação e aos direitos humanos básicos.
6. INFLUÊNCIAS
• Mito do bom selvagem de J.J. Rousseau
• Movimento Sturm und Drang (Tempestade e
Ímpeto), na Alemanha, valorizando o
nacional
• Publicação do romance Os Sofrimentos do
Jovem Werther, de Goethe, externando a
força de uma paixão.
7. Principais características
• Liberdade de criação e de expressão;
• Nacionalismo (exaltação dos valores e os heróis nacionais, ambientando
seu passado histórico, principalmente o período medieval);
• Historicismo;
• Medievalismo;
• Tradições populares (os autores buscavam inspiração nas narrativas
orais e nas canções populares, manifestação do nacionalismo romântico);
• Individualismo, egocentrismo;
• Confessionalismo (os sentimentos pessoais do autor em dado momento
de sua vida são expressos nas obras);
8. Principais características
• Pessimismo - A melancolia do poeta inglês Lord Byron se faz presente em
todas as literaturas, portanto a presença do individualismo e do egocentrismo
adquirem traços doentios de adaptação.
O “mal do século” ou tédio de viver conduz:
- ambiente exótico ou passado misterioso.
- narrativas fantásticas (envolvendo o sobrenatural)
- morte (como última solução);
• Escapismo;
• Crítica social (o Romantismo pode assumir um caráter combativo de
oposição e crítica social, observamos sua ocorrência na sua última fase).
Lord Byron
9. Conceitos importantes
a) Subjetivismo e Individualismo - A
individualidade como refúgio proporciona
também a evasão para mundos distantes
como forma de escapar a sua realidade.
Essa característica está associada,
principalmente, aos autores da chamada
Geração Mal-do-Século - autores
acometidos pela tuberculose (a doença
considerada o mal do século XIX) - que
almejavam uma vida de prazeres em países
e territórios distantes para escapar à dor e
à morte.
10. Conceitos importantes
b) Patriarcalismo - o século XIX também é conhecido por refletir em sua literatura
canônica uma sociedade conservadora e patriarcalista. Neste modelo, a família é o
núcleo da sociedade burguesa, cujo poder está centrado na figura do pai. Os enredo
giram basicamente em torno dela, de suas relações, seus costumes e seus desejos.
Embora no Brasil o modelo de sociedade patriarcal sempre esteve presente desde o
início da colonização, aparecia na literatura como reflexo da ideologia dominante e para
estabelecer os costumes esperados na sociedade e destinados principalmente às
mulheres.
Com o advento do Realismo (movimento literário seguinte) muitos autores
dedicam-se a criticar este modelo e a retratar (da forma mais realista possível) as
mazelas que se encontravam por trás da família burguesa, como a submissão das
mulheres, a violência praticada contra esposas e filhas e a própria condição dessas
personagens, moedas de troca a fim de garantir a situação financeira das famílias.
11. Conceitos importantes
c) Nacionalismo - Nas colônias, o sentimento
de nacionalidade surgiu como reação à política
mercantil restritiva das metrópoles e do desejo
de liberdade econômica e política. No Brasil, os
escritores produziram obras importantes
motivadas pelo ideal nacionalista no sentido de
delinear uma literatura que fosse considerada
brasileira e não mais submissa à colônia.
12. Romantismo em Portugal
1825 - “Camões” - Almeida Garret
3 momentos
1º Prisão ao Neoclassicismo (Almeida Garret e Alexandre
Herculano)
2º Inicío dos exageros (Soares de Passos e Camilo Castelo
Branco)
3º Início das características realistas (João de Deus e Júlio
Dinis)
13. Romantismo em Portugal
Almeida Garret
- “Camões”
- Fundador do Teatro Português Popular
- “Sebastianismo”
Alexandre Herculano
- Romance histórico português
- “Eurico, o Presbítero”
- Amor proibido
14. Romantismo em Portugal
Camilo Castelo Branco
- Escrita por encomenda
- “Amor de perdição”
Soares de Passos
- “Noivado no sepulcro”
João de Deus
- “Campo de Flores”
Julio Dinis
- “As pupilas do Senhor
Reitor”
15. Primeira metade do século XIX
As primeiras manifestações do período romântico aconteceram em forma de
poesia. Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães inaugura o
movimento romântico no Brasil, no ano de 1836. Além disso, diversos outros autores
desenvolveram suas temáticas por meio da poesia, o que permitiu aos críticos
agruparem as manifestações literárias do gênero em três principais gerações.
16. 1ª geração romântica:
nacionalista ou indianista
Nessa geração, os temas principais giram em torno da nova pátria, com menções ao passado
histórico do país. Também estão presentes temas como a exaltação do índio, considerado o herói
nacional por excelência, que deu nome à geração. O mito do bom selvagem, do filósofo Rousseau é
aqui traduzido na figura do índio que, além de valente e defensor da sua terra, é livre e incorruptível.
Seus principais autores são Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e Araújo Porto-Alegre.
17. Gonçalves de Magalhães (1811 - 1882)
Estudou Medicina e viajou para a Europa, onde exerce a função de
diplomata e passa a ter contato com a produção literária do velho continente e
funda, em Paris, a revista literária Niterói, revista brasiliense, um dos marcos
iniciais do movimento romântico no país.
Suspiros poéticos e saudades (1836) inaugura o movimento com uma
literatura ufanista, celebrando a nacionalidade e também com temas religiosos,
repudiando a estética clássica e a temática da mitologia pagã. Além da poesia
lírica voltada para o sentimentalismo, nacionalismo e religiosidade, Magalhães
escreveu a Confederação dos Tamoios (1856), poema em dez cantos,
inspirado nos poemas épicos, em que versa sobre a rebelião dos indígenas
contra os colonizadores portugueses ocorrida entre os anos de 1554 e 1567.
Nele, o poeta defende os índios como bravos guerreiros empenhados na
defesa de sua terra. Logo, os índios seriam os primeiros heróis nacionais.
Gonçalves de
Magalhães nasceu em
Niterói (RJ) em 1811 e
faleceu em Roma, onde
exercia cargos
diplomáticos, no ano
de 1882.
19. Obras - Gonçalves de Magalhães
● Suspiros poéticos e saudades, poesia (1836) — Considerada a obra inaugural do romantismo brasileiro
● Discurso sobre a história da literatura do Brasil, manifesto publicado na revista Nictheroy (1836)
● Antônio José ou O poeta e a Inquisição, peça de teatro (1838)
● A confederação dos Tamoios, poema épico (1856)
● Os mistérios, poesias (1857)
● Os fatos do espírito humano, tratado filosófico (1858) — Considerada obra pioneira da filosofia no Brasil
● Os indígenas do Brasil perante a História (1860)
● Urânia, poesias (1862)
● Cânticos fúnebres, poesias (1864)
● A alma e o cérebro, ensaios (1876)
● Comentários e pensamentos (1880)
20. Gonçalves Dias (1823-1864)
Gonçalves Dias nasceu em Caxias, no Maranhão e, com quinze anos,
vai a Coimbra estudar Direito. Longe do Brasil, toma contato com poetas
portugueses que cultivavam a Idade Média. É considerado o primeiro poeta
de fato brasileiro por dar vazão aos sentimentos de um povo com relação à
pátria.
Em 1843 escreve seu famoso poema Canção do Exílio, onde se
percebe algumas das principais características do Romantismo:
saudosismo, nacionalismo, exaltação da natureza, visão idealizada da pátria
e religiosidade.
Gonçalves Dias nasceu em
Caxias (MA) em 1823 e morre
em 1864, vítima do naufrágio
do navio Ville de Boulogne
quando retornava da Europa
para o Brasil.
21. I - Juca Pirama (1851)
Também fazem parte de seu trabalho a poesia indianista, representada pelo conhecido I-Juca
Pirama, e a poesia lírica, pelo poema Se se morre de amor!
O poema I-Juca Pirama é dividido em dez cantos e conta a história de um guerreiro tupi
capturado pela tribo inimiga, os Timbiras. Como seu pai estava velho e doente, o guerreiro chora e
pede clemência à tribo para que sua vida seja poupada e ele possa voltar à companhia do velho. Ao
saber disso, o pai, decepcionado, alega que seu filho é fraco e covarde por não ter aceitado seu
destino de morrer lutando como um verdadeiro guerreiro nas mãos da tribo inimiga.
22. Obras - Gonçalves Dias
Do próprio autor (cronológica)
● Primeiros Cantos, Rio de Janeiro, Laemmert, 1846.
● Leonor de Mendonça, Rio de Janeiro, J. Villeneuve & Cia, 1846.
● Segundos Cantos, Rio de Janeiro, Typographia Classica, 1848. (contém às Sextilhas de Frei Antão).
● Meditação (fragmentos in Guanabara, Rio de Janeiro, Ferreira Monteiro, 1848. (publicada completo postumamente).
● Últimos Cantos, Rio de Janeiro, Typographia de F. de Paula Brito, 1851.
● Cantos: collecção de poezias,2ª ed. Leipzig, Brockhaus, 1857. (todos os poemas e 16 inéditos).
● Os Tymbiras, Leipzig, Brockhaus, 1857.
● Dicionácio da Língua Tupi, Leipzig, Brockhaus, 1858.
Póstumas
● Obras posthumas de A. Gonçalves Dias, 6 Vls., Org. Antônio Henriques Leal, São Luís, B. de Matos, 1868.
● O Brazil e a Oceania, Rio de Janeiro, H. Garnier, 1909.
● Gonçalves Dias: Poesia e prosa completas, Org. Alexei Bueno, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1998.
23. Araújo Porto Alegre (1806 - 1879)
Um dos principais autores da primeira geração romântica,
Manuel de Araújo Porto Alegre acompanhou Gonçalves de
Magalhães na Niterói, revista brasiliense, publicando poemas
desvelando um forte sentimento nacionalista. Porto Alegre também
era um conhecido pintor e cartunista, fazendo caricaturas e
desenhos satíricos sobre o Brasil.
Homem das artes e das Letras, deixou aproximadamente 150
obras entre poesias, peças de teatro e traduções. Dentre elas, as
mais famosas são: o livro de poesias Brasilianas (1863), o poema
épico Colombo (1866), e a peça de teatro Angélica e Firmino
(1845).
Araújo Porto Alegre (1848),
por Ferdinand Krumholz. O
autor nasceu em 1806, em
Rio Pardo e faleceu em
Lisboa no ano de 1879.
24. Araújo Porto Alegre (1806 - 1879)
Selva Brasileira, pintura de Araújo Porto-Alegre, representante da literatura e da pintura romântica brasileira