1) A deusa Vénus prepara uma recompensa para os marinheiros portugueses na forma da Ilha dos Amores, onde serão recebidos por ninfas sob o efeito de Cupido.
2) A ilha é descrita por aproximações sucessivas, desde longe até detalhes da flora e fauna portuguesas.
3) Os marinheiros encontram belas deusas na ilha e questionam se serão reais ou fruto da imaginação.
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
Horizonte + ilha amores
1. HORIZONTE - MENSAGEM
II HORIZONTE
5
Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
'Splendia sobre as naus da iniciação.
Apóstrofe ao mar desconhecido;
cerração – nevoeiro espesso;
sidério – luminoso;
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Linha severa da longínqua costa —
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstrata linha.
Descrição de um plano afastado para um plano
mais próximo.
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O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —
Os beijos merecidos da Verdade.
O sonho é ver o invisível, o que está para lá dos
sentidos;
O sonho é alcançar/aceder à Verdade;
2. HORIZONTE
HORIZONTE
Este poema apresenta-noso sonho como motor da acção dos Descobrimentos. Éo sonho que, movido pela esperança e pela vontade,
desperta no homemo desejo de conhecer, de procurar a verdade.
1. O horizonte é símbolo do indefinido, do longe, do mistério, do desconhecido, do mundo a descobrir, do objectivo a atingir.
O título "Horizonte" evoca um espaço longínquo que se procura alcançar funcionando, assim, como uma espécie de metáfora da
procura, como um apelo da distância, do "Longe" (v.5), à eterna procura dos mundos por descobrir.
2. Através da apóstrofe inicial, "Ó mar anterior a nós" (v.1), o sujeito poético dirige-se ao mar desconhecido, ainda não
descoberto/navegado.
3. Na 1ª estrofe encontramos uma oposição implícita. A oposição refere o “mar anterior” (v.1) aos Descobrimentos portugueses
("medos", "noite", "cerração", "tormentas", "mistério" - substantivos que contêm a ideia de desconhecido, que remetem para a
face oculta da realidade) e o mar posterior a esse feito ("coral e praias e arvoredos", "Desvendadas", "Abria", "´Splendia" -
palavras que contêm a ideia de descoberta).
A expressão "naus da iniciação" (v. 6) é uma referência às naus portuguesas que, impulsionadas pelos ventos do "sonho", da
"esp'rança" e da "vontade", abriram novos caminhos e deram início a um novo tempo.
4. A 2ª estrofe é essencialmente descritiva. Essa descrição é feita por aproximações sucessivas, de um plano mais afastado para
planos mais próximos: - [Ao longe] a "Linha severa da longínqua costa" (= o horizonte); [Ao perto] "Quando a nau se aproxima,
ergue-se a encosta / Em árvores"; "Mais perto", ouvem-se os "sons" e percebem-se as "cores"; "no desembarcar" vêem-se "aves,
flores".
5. Na última estrofe o sujeito poético apresenta uma definição poética de sonho: O sonho é ver o invisível, isto é, ver para lá do que
os nossos olhos alcançam (ver longe); o sonho é procurar alcançar o que está mais além (é esforçar-se por chegar mais longe); o
sonho é alcançar/aceder à Verdade, sendo que esta conquista constitui o prémio de quem por ela se esforça. De salientar, aqui, o
uso do presente do indicativo - "é" - que confere, a estes versos, um carácter intemporal e programático.
No verso 1 da terceira estrofe temos o uso da antítese - ver/invisíveis.
Nos versos 16-17 é reforçada a passagem do abstracto ao concreto. Essa passagem é reforçada pela acumulação, no verso 17, de
nomes concretos, precedidos de artigos definidos: "A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte".
4. ILHA DOS AMORES
ILHA DOS AMORES
1. Os portugueses saem de Calecut, iniciando a viagem de regresso à Pátria. Vénus decide preparar uma recompensa para os marinheiros,
fazendo-os chegar à Ilha dos Amores. Para isso, manda o seu filho Cupido desfechar setas sobre as Ninfas que, feridas de Amor e pela
deusa instruídas, receberão apaixonadas os portugueses.
2. Tal como no poema Horizonte, a descrição é feita por aproximações sucessivas, de um plano mais afastado para planos mais próximos:
«De longe a Ilha viram» e para lá navegaram em direção ao local «Onde a costa fazia hüa enseada» e a «encosta» do poema pessoano
consubstancia-se em «três fermosos outeiros»; depois está lá tudo: «a árvore», «a flor», «o passarinho», «as fontes».
Porém, enquanto os elementos da descrição pessoana são simbólicos (repare-se no uso do singular), a descrição camoniana é mais
pormenorizada e as árvores, os animais e as plantas fazem parte da fauna e da flora portuguesas.
3. Quando desembarcam, os portugueses encontram a ilha repleta de «belas Deusas» que começam a fazer com eles jogos de sedução. Tão
inesperado foi este facto que, a certa altura (estrofe70), Veloso se interroga se elas serão verdadeiras ou apenas fruto da imaginação.
4. A ilha surge como um local ideal, porto prazenteiro de marinheiros valentes que neste locus amoenus geram a descendência semi-divina
da raça lusa. É ainda do topo de uma montanha desta ilha que Tétis mostra a Gama a Grande Máquina do Mundo, ao estilo de Dante.
Não havendo um projecto social, uma organização comunitária na Ilha dos Amores não podemos falar de utopia em sentido estrito, mas o
significado simbólico e a complexa divisão de tempo e espaço no que se refere a este episódio são claras marcas utópicas.
5. A Ilha dos Amores é a síntese espaço-temporal e histórica do povo português. Sendo ilha, compreende os elementos espaciais terra, mar
e céu, enquanto elevação. Temos também na ilha a ocorrência dos três planos temporais: o presente, o passado e o futuro. Estes espaços
e estes planos temporais se correspondem: a terra é o espaço de realização do passado português, o da consolidação do Reino; o mar é o
lugar do presente em que se dá a ação expansionista; e na ilha se prediz o futuro de outras conquistas que consumarão a grandeza e a fama.
E a ilha se configura como o espaço do interstício e da comunhão entre o mundo concreto e da horizontalidade em que se dá a ação heróica
do homem e o universo abstrato e da verticalidade em que atuam os deuses.
6. Ultrapassando quaisquer convenções da ars amatoria clássica, a concretização sexual entre os lusos e as nereidas é o único momento da
epopeia em que há a plenitude amorosa. Tanto na trágica história de D. Inês de Castro como no triste lamento do Gigante Adamastor não
há a realização plena do amor.