[1] A psicoterapia está relacionada à neuroplasticidade, que permite que o cérebro se reorganize em resposta a estímulos do ambiente. [2] A neuroplasticidade explica como a psicoterapia pode ajudar a superar fobias, depressão e outros problemas emocionais, modificando as conexões neurais. [3] Estudos mostram que a psicoterapia pode levar a mudanças estruturais e funcionais no cérebro.
1. Introdução.
Neste artigo eu relaciono diretamente a psicoterapia com a neuroplasticidade,
mudanças estruturais e/ou funcionais no cérebro, porque é neste ponto que os
diversos tipos de sessões com psicólogos irá ajudar a recuperação de pacientes
com problemas emocionais dos mais diversos.
Uma ou várias rotas neurais estão ativadas, ou seja, transmitindo correntes
elétricas nervosas, ao você ver um cão se dirigindo em sua direção. Elas
estimulam regiões cerebrais liberando substâncias químicas em sua corrente
sanguínea como a adrenalina, aumentando seus batimentos cardíacos e
aumentando a quantidade de sangue oxigenado, deixando-o pronto para correr
ou enfrentar o cão. Mas você está também com medo, possui esse medo desde
criança quando fora atacado e mordido por um deles e nem se lembra desse fato.
Este é um exemplo clássico de fobia na Psicologia onde a psicoterapia poderá
ajudá-lo pois o animal em questão não é nada grande e seu pânico chega a ser
absurdo até para você! E como ela poderáajudá-lo? Através de sessões semanais
em conversas com um profissional, um psicólogo. Com o tempo o medo passa
melhorando o seu estado emocional até em lidar com cachorros.
E o quê aconteceu de verdade?
Primeiro temos que recorrer à neuroplasticidade que é a capacidade do cérebro
de se reorganizar, mudar mesmo em estruturas microscópicas, conforme
estímulos do meio ambiente chegando pelos nossos sentidos e sendo
processados.
Alguns fenômenos podem acontecer como o brotamento de axônios ou
brotamento axonal, a mudança no número, disposição espacial, densidade de
espinhas dendríticas e comprimento de dendritos a receber impulsos nervosos e
os receptores de neurotransmissores sofrerem alterações em tipo ou número. E
também o aprendizado está relacionado com tudo isso, como apareceu em uma
fotografia microscópica de um estabelecimento contínuo, ou ao mesmo muito
duradouro, de sinapses através de uma grande quantidade de neurotransmissores
entre elas. Foi com um camundongo de laboratório, em uma experiência na
década de 90 e postada por um jornal de grande circulação nacional, quando
aprendeu o caminho correto a levá-lo a um pedaço de queijo.
O cérebro é um órgão em constante mudanças estruturais. São muito pequenas
em sua grande maioria e só com o desenvolvimento de aparelhos eletrônicos
sofisticados como a tomografia por emissão de fóton único (SPECT), a
tomografia por emissão de pósitrons (PET), a ressonância magnética funcional
(fMRI), a ressonância magnética espectroscópica (MRS) e o NIRS
2. (espectroscopia no infravermelho próximo) é que foi possível aos cientistas
perceberem fatos antes desconhecidos.
O que se pode explicar bem resumidamente até agora é o fato de uma ou mais
rotas neurais, onde são percorridas por impulsos nervosos a chegarem em
regiões cerebrais liberando substâncias como descrito no primeiro parágrafo,
onde você ficava desesperado ao ver um cão, tendo agora rotas diferentes devido
à neuroplasticidade e desviando os impulsos a outras regiões amenizando seus
problemas ao liberarem outras substâncias.
Os estímulos externos, em sua psicoterapia, capazes de realizar tais efeitos
foram as conversas com o psicólogo. Você pode, por exemplo, ter se lembrado
do ataque do cão quando criança, sendo essa lembrança crucial nas modificações
neurais descritas acima, pois uma tomada de consciência como essa irá alterar e
demais as suas memórias, emoções e sentimentos, influindo em seus circuitos
neurais.
Então, esse é o fenômeno da neuroplasticidade mas a história não para por aqui.
Imagine agora alguém com depressão. Grosso modo é uma grande diminuição
da atividade neurônica na pessoa. Fendas sinápticas sem sinapses, sentimentos e
emoções negativos dos mais diversos tais como autocomiseração, falta de
sentido na vida, angústia, ansiedade, etc.; sentimentos esses que poderão levar
tal pessoa ao suicídio. E veja que todos esses sintomas negativos apareceram
depois de tal doença, ou seja, não estavam no script com relação ao (s) problema
(s) central (is) que levou (aram) à doença, até que um dia os cientistas
perceberam que eles apareceriam mesmo, sempre.
Digamos que remédios e psicoterapia são recomendados a esse alguém tão
fragilizado, física e emocionalmente, perdendo momentaneamente sua vida
social, de trabalho e afetiva (gosto de citar em meus artigos essas três palavras
pois resumem 100%, ou algo próximo a isto, nossa vida diária, comum…). Com
o tempo o humor, a vontade de viver, a alegria, começam a fazer parte da vida
dessa pessoa como antes da depressão, da tristeza, da angústia, etc.
Houve reversão nas anormalidades estruturais ou funcionais associadas a uma
certa sintomatologia antes da terapia; em outras palavras, a psicoterapia pode
amortecer a estrutura e a função do cérebro, a "psicologia da normalização".
Pode também ocorrer que a terapia pode levar a mudanças compensatórias em
áreas do cérebro que não apresentaram funções alteradas antes da terapia. São
normalizações de padrões anormais de atividade, onde, muitas vezes remédios e
psicoterapia juntos podem não surtirem efeitos desejados mas somente uma
prática dessas. (1)
3. É já famosa a experiência com neuroimagens em motoristas de táxis em Londres
pois eles passam por um “curso” de dois anos aprendendo sobre o mapa da
cidade, ruas, avenidas, pontos turísticos, pontes, igrejas, etc. Eles apresentam um
aumento no hipocampo posterior onde é justamente a região cerebral
responsável pelos pensamentos, imaginação e memória em três dimensões. (2)
A neuroplasticidade aparece onde há aprendizado, estímulos externos
produzindo emoções e sentimentos e, neste caso, como eu falei especificamente
da depressão, se a pessoa voltar a ter sua vida social, de trabalho e afetiva de
volta, eu chamo de neurorreligação.
Não é à toa que a densidade do cérebro é muito pequena, beirando 1,3 g/cm3,
próxima a da água, 1,00 g/cm3. Modificar uma estrutura bastante gelatinosa é
bem mais fácil que outra bem mais rígida.
Bibliografia:
1 - Barsaglini A., Sartori G., Benetti S., Pettersson-Yeo W., Mechelli A. The
effects of psychotherapy on brain function: a systematic and critical review.
Prog. Neurobiol. 2014 Mar. Disponível em <
https://f1000.com/prime/718292548 >. Acesso em: 22/09/2017.
2 - Eleanor A. Maguire, David G. Gadian, Ingrid S. Johnsrude, Catriona D.
Good, John Ashburner, Richard S. J. Frackowiak, and Christopher D. Frith.
Navigation-related structural change in the hippocampi of taxi drivers.
Disponível em: < https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC18253/ >.
Acesso em: 22/09/2017.
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