Este documento fornece uma introdução aos conceitos e métodos fundamentais de análise de conjuntura. Resume as principais categorias para análise de conjuntura como acontecimentos, cenários, atores, relação de forças e relação entre estrutura e conjuntura. Também distingue estratégia, como objetivos de longo prazo, e tática, como ações de curto prazo. Finalmente, fornece um método prático em 7 etapas para realizar uma análise de conjuntura.
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Aspectos Gerais de uma Análise de Conjuntura1
1. Análise de conjuntura:
Definição, segundo Souza:
“A análise de conjuntura é uma mistura de conhecimento e
descoberta, é uma leitura especial da realidade e que se faz sempre em
função de alguma necessidade ou interesse. Nesse sentido não há
análise de conjuntura neutra, desinteressada: ela pode ser objetiva, mas
estará sempre relacionada a uma determinada visão do sentido e do
rumo dos acontecimentos” (Souza, 1988: 8).
“A análise de conjuntura de modo geral é uma análise interessada
em produzir um tipo de intervenção na política; é um elemento
fundamental na organização da política, na definição das estratégias e
táticas das diversas forças sociais em luta” (Idem: 17).
O principio básico de qualquer ação política, seja de efeito a curto ou longo prazo,
é a análise de conjuntura. Através da leitura dos acontecimentos, relações e indivíduos
envolvidos, se passa a conhecer um pouco mais da realidade em movimento, do quadro
geral da situação, ou seja, da conjuntura. Por isso, é importante não só fazer a análise
da conjuntura, mas entendê-la em seus aspectos principais para que seja eficaz nos
resultados.
Como esse documento é apenas uma sugestão de quais são esses aspectos
principais para uma razoável análise conjuntural, optou-se por dividir em duas partes:
categorias para a análise da conjuntura e as diferenças básicas entre estratégia e tática.
2. São as categorias para a Análise de Conjuntura:
2.1. Acontecimento - É o fato que mereceu consideração especial pela sua importância
para um grupo, partido ou nação. Fatos são cotidianos, um acontecimento, entretanto, é
um fato importante. Mas, não basta identificar o fato como acontecimento, para efetivar
a análise o mesmo deve ser classificado segundo sua importância frente a outros
acontecimentos e assim apreender sua verdadeira influência sobre a conjuntura. Para
Souza: “a importância da análise a partir dos acontecimentos é que eles indicam
sempre certos ‘sentidos’ e revelam também a percepção que uma sociedade ou grupo
social, ou classe tem da realidade e de si mesmos” (Idem: 11).
2.2. Cenário - O cenário traduz sempre como a luta social pode transcorrer. A luta em
um parlamento é diferente da luta nas ruas - cada cenário corresponde às fraquezas e
1 . Alexandre Reinaldo Protásio (arprotasio@yahoo.com.br).
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forças dos competidores: “cada cenário apresenta particularidades que influenciam o
desenvolvimento da luta e muitas vezes o simples fato de mudar de cenário já é uma
indicação importante de uma mudança no processo” (Ibidem).
2.3. Atores - Quem está realizando a ação? Essa pergunta é respondida apenas quando
mencionamos os atores que estão agindo no determinado momento histórico. Atores
podem ser classes sociais, indivíduos, instituições, entidades, etc.
2.4. Relação de Forças - Saber quais são os grupos, atores sociais, que estão engajados
contra ou a favor de uma campanha e saber como articulam-se entre si, resulta em um
maior entendimento da realidade política. Portanto, uma análise bilateral, das forças
contra e a favor, é essencial. Segundo Souza: “as classes sociais, os grupos, os
diferentes atores sociais estão em relação uns com os outros. Essas relações podem ser
de confronto, de coexistência, de cooperação e estarão sempre revelando uma relação
de força, de domínio, igualdade ou de subordinação” (Idem: 13).
2.5. Relação entre Estrutura e Conjuntura - Uma conjuntura é um conjunto de
fatores, aparentemente desconexos, mas na realidade, profundamente interligados. A
estrutura é, por sua vez, onde as diversas conjunturas históricas se formam. Saber fazer
uma análise de conjuntura é também relacioná-la com a estrutura sócio-econômica
real.
“É fundamental perceber o conjunto de forças e problemas que
estão por detrás dos acontecimentos. Tão importante quanto apreender
o sentido de um acontecimento é perceber quais as forças, os
movimentos, as contradições, as condições que o geraram. Se o
acontecimento aparece diretamente à nossa percepção este pano de
fundo que o produz nem sempre está claro” (Idem: 14-5).
Assim, através do reconhecimento, e entendimento, desses fatores
(Acontecimentos, Cenários, Atores, Relação de forças e Relação entre Estrutura e
Conjuntura) podemos viabilizar uma análise de conjuntura minimamente coerente e
eficaz.
3. As diferenças entre estratégia e tática:
3.1. Estratégia - É o conjunto de ações, relações, linhas gerais, articulações,
comportamentos, sejam individuais, de classe ou mesmo institucionais, que objetivam a
construção de projetos hegemônicos de determinados grupos ou classes sociais.
Estratégia, portanto, não é apenas o "como ir", mas também "para onde ir".
3.2. Tática - São as ações concretas, de menor vulto, relativamente subordinadas a
estratégia. As táticas nem sempre objetivam a realização de uma estratégia
determinada (existem as possibilidades de desvios), por isso é preciso investigar as
motivações de cada movimento tático das classes ou grupos sociais. Uma mudança de
tática é mais simples de ser realizada do que uma virada na estratégia.
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Uma advertência importante:
“Nem sempre, porém, um acontecimento, ou um conjunto de ações
aparentemente articuladas entre si constituem uma tática ou parte de uma estratégia.
Na sociedade, no processo social, o que acontece não tem que ver necessariamente com
uma lógica ou um plano estabelecido. Por isso as análises de conjuntura deveriam estar
sempre abertas à descoberta de várias possibilidades e alternativas” (Idem: 18).
4. Método prático de análise:
Os passos para organizar a análise seriam (adaptadas):
4.1. Levantar as grandes questões do momento e listá-las, com a participação de todos;
4.2. Identificar e selecionar as forças sociais que estão diretamente envolvidas nestas
grandes questões;
4.3. Identificar e selecionar os atores (pessoas, lideranças) que representam estas
forças sociais;
4.4. Relacionar os atores sociais identificados com a estrutura social, econômica,
cultural e política nacional e internacional.
4.5. Listar, sem parcialidade, as virtudes e fraquezas dos adversários;
4.6. Listar os cenários (locais, entidades, instituições, etc.) onde os atores sociais
listados operam, identificando os “terrenos” onde suas virtudes/fraquezas se ampliam;
4.7. Construir uma síntese (definição) que agregue todos os elementos elencados,
objetivando uma leitura complexa dos fenômenos sociais.
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Bibliografia:
SOUZA, Herbert José de. Como se faz Análise de Conjuntura. 6ª ed., Petrópolis-RJ: Ed.
Vozes, 1988.