PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
Formação continuada de professores na rede municipal
1. FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA NA
REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE REGENTE FEIJÓ1
Monica FÜRKOTTER2
Maria Raquel Miotto MORELATTI2
Andréia Teixeira MACHADO3
Monica Podsclan FAUSTINO3
Resumo: O presente trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa sobre o processo
de formação continuada de professores de 1ª. a 4ª. séries do ensino fundamental
que ensinam Matemática nas escolas do município de Regente Feijó (SP). Trata-
se de uma pesquisa do tipo investigação-formação dada a existência de uma
relação cooperativa entre pesquisadoras e sujeitos da pesquisa e o fato de não
tratar-se exclusivamente de uma abordagem de pesquisa-ação e pesquisa
participante. O processo investigado teve início com ações didático-pedagógicas
cujo ponto de partida foi o saber experiencial e a prática docente cotidiana das
professoras, convertendo-os em problema e objeto de estudo e reflexão,
buscando as soluções, colaborativamente, a partir da intervenção em sala de
aula. A continuidade se deu com o acompanhamento de atividades de formação,
vinculadas Programa de Formação Continuada de Professores das Séries Iniciais
do Ensino Fundamental, Pró-letramento de Matemática – MEC. O processo de
formação continuada município de Regente Feijó tem se modificado, percebemos
um avanço, em busca de uma maior autonomia de sua gestão.
Palavras-chave: formação continuada; ensino e aprendizagem de Matemática; séries
iniciais do ensino fundamental.
Introdução
Como docentes e alunas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Unesp, Campus de Presidente Prudente, estamos diretamente ligadas ao curso de
Licenciatura em Matemática e temos focado nossas pesquisas no ensino e aprendizagem
de Matemática e na formação inicial e continuada de professores que ensinam Matemática.
Em decorrência desse interesse de pesquisa, a partir de uma solicitação
do Secretário de Educação do Município de Regente Feijó, Prof. Pedro Newton Rotta,
iniciamos, no ano de 2003, um processo de formação continuada de professores, visando
discutir o processo de ensinar e aprender Matemática e o uso do computador como mais um
recurso pedagógico.
1
Artigo resultante do projeto de pesquisa “Uma proposta de formação continuada de professores das
séries iniciais do ensino fundamental visando uma mudança no processo ensino e aprendizagem de
Matemática”, vinculada ao Núcleo de Ensino de Presidente Prudente, financiada pela
PROGRAD/UNESP e desenvolvida nos anos de 2006-2007.
2
Docentes do Departamento de Matemática, Estatística e Computação da FCT/Unesp/Campus de
Presidente Prudente, Coordenadoras do Projeto vinculado ao Núcleo de Ensino.
3
Alunas do curso de Licenciatura em Matemática da FCT/Unesp/Campus de Presidente Prudente,
bolsistas do Projeto vinculado ao Núcleo de Ensino.
2. A pesquisa subjacente a esse processo de formação apontou como
resultado, dentre outros, que uma das dificuldades encontradas pelos professores, ao
utilizarem o computador, era a deficiência na sua formação matemática básica. A partir
dessa constatação, nos anos posteriores, o trabalho foi direcionado ao enfrentamento
dessas dificuldades quanto aos conteúdos relacionados a Números e Operações, Espaço e
Forma, Grandezas e Medidas e Tratamento da Informação, que segundo os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN’s) de Matemática, os currículos de Matemática devem
contemplar nas quatro séries iniciais do ensino fundamental.
Somente no ano de 2006 tal pesquisa, intitulada “Uma proposta de
formação continuada de professores das séries iniciais do ensino fundamental visando uma
mudança no processo ensino e aprendizagem de Matemática”, se vinculou ao Projeto
Núcleo de Ensino da Unesp.
Nesse trabalho apresentamos os resultados dessa pesquisa, que tem por
objetivo investigar o processo de formação continuada dos professores de 1ª. a 4ª. séries do
ensino fundamental que ensinam Matemática nas escolas do município de Regente Feijó
(SP).
Referencial teórico
Os educadores das séries iniciais do ensino fundamental, denominados
professores polivalentes, possuem formação em nível médio ou curso de Licenciatura em
Pedagogia.
... na história de formação desses professores, em nosso país, até o
momento atual, ainda é dominante a formação com terminalidade no
magistério secundário, onde a matemática é, via de regra, abordada do
ponto de vista da didática dos conceitos aritméticos elementares, deixando
a desejar um maior aprofundamento destes como conceitos fundamentais
da matemática e suas relações com outras áreas.(MOURA, 2004)
Por sua vez, nos cursos de Licenciatura em Pedagogia, a carga horária
destinada ao trabalho com conteúdos específicos é bastante reduzida.
O único aspirante ao magistério que ingressa no ensino superior com opção
clara pelo ofício de ensinar é o aluno dos cursos de magistério de primeira a
quarta série do ensino fundamental. A esses, na maior parte dos cursos,
não é oferecida a oportunidade de seguir aprendendo os conteúdos ou
objetos de ensino que deverá ensinar no futuro. Aprende-se a prática do
ensino, mas não sua substância. (MELLO, 2000)
A preparação nesses cursos se reduz a um conhecimento pedagógico
abstrato porque é esvaziado do conteúdo a ser ensinado. (MELLO, 2000).
Assim, há conteúdos que os professores devem abordar com os alunos,
sem nunca terem aprendido os mesmos durante toda a sua escolaridade. Surge, assim, a
3. necessidade de investigar a formação continuada desses professores, visando a
aprendizagem significativa dos conceitos matemáticos.
As pesquisas sobre formação continuada apontam que as iniciativas
ocorridas nas décadas de 1970 a 1990 foram “pouco eficazes na mudança dos saberes, das
concepções e da prática docente nas escolas” (FIORENTINI; NACARATO, 2005, p.8), por
várias razões.
A principal delas é que esses cursos de formação continuada promoviam
uma prática de formação descontínua em relação: à formação inicial dos professores; ao
saber experiencial dos professores, os quais não eram tomados como ponto de partida da
formação continuada; aos reais problemas e desafios da prática escolar; e, sobretudo,
porque eram ações pontuais e temporárias, tendo data marcada para começar e terminar.
(FIORENTINI; NACARATO, 2005, p.8)
Segundo Garcia, as críticas
referem-se ao carácter excessivamente teórico, à pouca flexibilidade no
momento de adaptar os conteúdos aos participantes, ao facto de se
tratarem de actividades individuais, e portanto com escassas possibilidades
de ter impacto na escola, assim como ao facto de ignorar o conhecimento
prático dos professores. (1999, p.179)
Nóvoa (1992) ressalta o fato da formação continuada não ser um processo
formativo permanente e integrado à prática e não reconhecer a escola como espaço
privilegiado na formação de seus profissionais.
Nesse sentido, iniciativas mais recentes apontam como fundamental um
processo contínuo, no qual o professor veja a sua prática como objeto de sua investigação e
reflexão e no qual os aportes teóricos
não são oferecidos aos professores, mas buscados à medida que forem
necessários e possam contribuir para a compreensão e a construção
coletiva de alternativas de solução dos problemas da prática docente nas
escolas. (FIORENTINI; NACARATO, 2005, p.9)
Essa perspectiva aponta para a necessidade do professor experienciar
atitudes, modelos didáticos, capacidades e modos de organização que se
pretende que venha a ser desempenhado nas suas práticas pedagógicas.
Ninguém promove o desenvolvimento daquilo que não teve oportunidade
de desenvolver em si mesmo. (PIRES, 2002, p.48)
As pesquisas também apontam a escola e o trabalho coletivo/colaborativo
como instâncias do desenvolvimento dos professores, por proporcionarem condições de
formação permanente, troca de experiências e busca de soluções para os problemas que
emergem do contexto escolar (NACARATO, 2005).
Acreditamos que a perspectiva adotada em um processo de formação
continuada deve contemplar
4. a reflexão na prática para a reconstrução social, com enfoque na
investigação-ação e na formação para a compreensão. Nessa perspectiva,
o conceito de prática reflexiva é ampliado, de forma a considerar não só o
processo que leva o professor a refletir durante as ações pedagógicas e
sobre tais situações, mas também o de refletir sobre situações de conflito,
analisando-as a partir disso e planejando e executando novas ações.
(COSTA, 2006, p. 168).
Assim, o objetivo do processo de formação levar os professores a
reconstruírem, tanto os pressupostos teóricos básicos de ensino quanto a si próprios como
professores. (PÉREZ GÓMEZ, 1998)
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, tipo “investigação-formação”
(NÓVOA, 1991, apud CANDAU, p. 61), dada a existência de uma relação cooperativa entre
pesquisadoras e sujeitos da pesquisa e o fato de não tratar-se exclusivamente de uma
abordagem de pesquisa-ação e pesquisa participante.
Os sujeitos da pesquisa são professoras das séries iniciais da rede
municipal de ensino de Regente Feijó (SP).
O processo de formação continuada investigado teve início com ações
didático-pedagógicas cujo ponto de partida foi o saber experiencial e a prática docente
cotidiana das professoras, convertendo-os em problema e objeto principal de estudo e
reflexão, buscando, colaborativamente, as soluções possíveis e necessárias, a partir da
intervenção em sala de aula. A continuidade se deu com o acompanhamento de atividades
de formação, vinculadas Programa de Formação Continuada de Professores das Séries
Iniciais do Ensino Fundamental, Pró-letramento de Matemática – MEC.
A técnica de grupo focal foi utilizada para que as professoras avaliassem o
processo de formação investigado e as aprendizagens realizadas.
Desenvolvimento e análise da pesquisa
No ano de 2006, a pesquisa teve como sujeitos 25 professoras que
ensinam Matemática na terceira e quarta séries ou atuam em atividades de direção e
coordenação de 05 (cinco) instituições da rede municipal de ensino fundamental de Regente
Feijó.
A partir das necessidades, interesses, experiência e vivência dessas
professoras, foram propostas atividades que podem potencializar a aprendizagem de
conceitos matemáticos, utilizando recursos didáticos variados. Os conteúdos foram tratados
no bojo dessas atividades, de forma abrangente e flexível, dependendo do conhecimento
5. prévio e da experiência cultural das professoras, evitando uma visão fragmentada dos
mesmos.
A metodologia trabalhou a idéia de que os diversos recursos didáticos,
inclusive a tecnologia, são essenciais e extremamente importantes na educação, sendo,
portanto, imprescindível utilizá-los como instrumentos auxiliares no processo de ensino e
aprendizagem.
A intervenção na realidade das escolas nas quais os sujeitos da pesquisa
atuavam foi precedida da produção de material de apoio às ações didático-pedagógicas de
formação e seguida da reflexão sobre as dificuldades encontradas e os resultados obtidos.
As ações tiveram como fundamento o aprender fazendo e a resolução de
problemas. As participantes desenvolveram atividades em serviço que alimentaram um
processo reflexivo de discussões sobre sua prática pedagógica, que ocorreu em reuniões
quinzenais, com a participação das professoras pesquisadoras, das bolsistas, e das
professoras das escolas. A reflexão sobre cada ação permitiu rever e depurar
constantemente o processo ensino e aprendizagem de Matemática.
Isso posto, o processo de formação continuada investigado difere dos
modelos tradicionais adotados nas últimas décadas. Trata-se, efetivamente, de um processo
contínuo que toma como partida o saber experiencial dos professores, os problemas e
desafios da prática escolar, e não se caracteriza por ações pontuais e temporárias, com
data marcada para começar e terminar, nas quais o aporte teórico é arbitrariamente
oferecido aos professores. Contou com o apoio do Secretário Municipal de Educação, que
investe nesse processo de formação na medida em que “tira” o professor da sala de aula
para participar das ações didático-pedagógicas, e envolve coordenadores pedagógicos e
diretores. Contou, ainda, com o acompanhamento do supervisor de ensino do município, no
desenvolvimento do trabalho dos professores nas escolas.
Não obstante todas essas características diferenciadoras, foi nítida a
dificuldade em incorporar um novo fazer pedagógico, ocorrendo o predomínio de rotinas já
arraigadas, sem reflexão. É inegável que houve avanço. Foi possível observar uma
mudança no discurso das professoras, e inserções de um novo fazer pedagógico no
contexto escolar. Utilizaram material concreto que nunca haviam utilizado anteriormente e
abordaram conteúdos que não trabalhavam, pois não os dominavam. Porém, a prática não
se alterou significativamente e a almejada mudança ainda está por vir.
Ao avaliarem o processo, as professoras constataram que precisavam
rever sua postura em relação à formação continuada. Foi possível observar concordância
nas suas opiniões quanto à necessidade de investirem mais tempo no estudo, de
envolverem-se mais nas ações, dedicarem-se mais e de assumirem-se responsáveis pelo
seu desenvolvimento profissional. Concluíram que o trabalho que desenvolviam em sala de
6. aula era superficial, em decorrência da falta de um domínio maior dos conteúdos
matemáticos. Esse fato causou certo desconforto e levou-as, ainda, a se despirem da
certeza do saber fazer, instituído pelos saberes da experiência e perceberem a necessidade
da busca contínua de novos saberes, específicos do conhecimento matemático.
No ano de 2007, levando em consideração os resultados e os
questionamentos advindos do processo desenvolvido em 2006, demos continuidade à
pesquisa. Entretanto, com um outro enfoque, tendo em vista a adesão do município ao
Programa de Formação Continuada de Professores das Séries Iniciais do Ensino
Fundamental, Pró-letramento de Matemática – MEC.
O Pró-Letramento é um programa de formação continuada de professores
que tem por objetivo oferecer suporte à ação pedagógica dos professores das séries iniciais
do ensino fundamental de modo a elevar a qualidade do ensino de Língua Portuguesa e
Matemática, por meio da formação continuada de professores na modalidade a distância. É
um programa realizado pelo MEC4, em parceria com Universidades que integram a Rede
Nacional de Formação Continuada e com adesão dos estados e municípios. As
universidades, a partir de convênio, são responsáveis pelo desenvolvimento e produção dos
materiais para os cursos, pela formação e orientação do professor orientador/tutor e pela
certificação dos professores cursistas. Para realizar essas tarefas, a Universidade pode
efetivar parcerias com outras Universidades, presentes nos Estados ou nas regiões nas
quais é implementado.
O programa utiliza material impresso e vídeos e conta com atividades
presenciais e a distância, que são acompanhadas por professores orientadores, também
chamados tutores. Estes devem ser professores ou coordenadores da rede pública de
ensino com reconhecimento profissional e devem ter formação em nível superior,
licenciatura em Pedagogia, Letras ou Matemática e, caso isso não ocorra, ter curso normal,
magistério ou nível médio.
Segundo o guia geral5 do programa, o professor orientador/tutor deve atuar
na organização dos trabalhos, na dinamização da discussão entre os grupos, no incentivo à
participação de todos e na manutenção de uma interlocução com as Universidades, sobre
questões de funcionamento do curso e de conteúdos. Os professores participantes,
denominados cursistas, devem estar em exercício, nos anos/séries iniciais do ensino
fundamental das escolas públicas.
O Pro-letramento tem duração de 120 horas distribuídas em dois
momentos: presencial (para início do curso e desenvolvimento de atividades coletivas, num
4
O MEC é o coordenador nacional do programa, elabora as diretrizes e os critérios para organização
dos cursos e a proposta de implementação, além de garantir os recursos financeiros para a
elaboração e a reprodução do material de apoio, e a formação dos orientadores/tutores.
5
Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Proletr/guiageral.pdf.
7. total de 84 horas) e atividades individuais (restante de carga horária, de modo a completar
as 120 horas). Os cursos de Matemática contam com 9 fascículos, a saber: Números
naturais; Operações com números naturais; Espaço e forma; Frações; Grandezas e
medidas; Frações e medidas; Tratamento da informação; Resolver problemas: o lado lúdico
do ensino da matemática e Avaliação da aprendizagem em matemática nos anos iniciais.
A partir da adesão ao projeto, a Secretaria Municipal de Educação de
Regente Feijó escolheu a professora orientadora/tutora, que participou das atividades de
formação de tutores.
Essa professora tem mais de vinte anos de experiência profissional,
concluiu o Magistério em 1986 e licenciou-se em Letras, no ano de 1992. Possui uma
Complementação Pedagógica, que lhe dá condições para exercer a função de diretora de
uma das escolas da rede municipal de ensino de Regente Feijó. Seu interesse pela
Matemática surgiu quando lecionou pela primeira vez em uma terceira série do ensino
fundamental e encontrou dificuldades em ensinar determinados conceitos matemáticos. A
busca pela superação de tais dificuldades levou-a a estudar e procurar aprimorar sua
formação. Nesse sentido, participou de diversas oficinas oferecidas pela Diretoria Regional
de Ensino de Presidente Prudente, momento em que conheceu as Atividades Matemáticas,
uma publicação da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP), da
Secretaria de Estado da Educação – São Paulo. Foi através do estudo desse material que
ela foi adquirindo novos conhecimentos matemáticos e se interessando pela Matemática.
Só me apaixonei pela Matemática quando consegui estabelecer relações
com a vida e aí eu já estava bem grandinha.(ORIENTADORA/TUTORA)
Após participar do processo inicial de formação de tutores do Programa
Pró-letramento, ao assumir sua função de orientadora/tutora, a professora ainda não se
sentia totalmente segura e tinha algumas dificuldades na organização dos trabalhos e
dinamização da discussão entre os grupos de cursistas. Paralelamente a isso, por conhecer
os professores do município de Regente Feijó que atuam nas séries iniciais do ensino
fundamental, suas potencialidades e fragilidades, percebeu que não poderia se limitar a
reproduzir com eles aquilo que vivenciou nas atividades de formação de tutores. Era preciso
adaptar o material pedagógico do curso, refletir sobre a melhor forma para abordar os
conteúdos e idealizar atividades complementares. Foi nesse momento que as
pesquisadoras e as bolsistas vinculadas ao Núcleo de Ensino da FCT/Unesp deram
continuidade ao projeto de pesquisa que investiga o processo de formação continuada
desses professores.
O município conta com 71 professores que atuam nas séries iniciais do
ensino fundamental ou em atividades de gestão escolar. Desses, 61 participaram do
8. Programa Pro-letramento, o que significa aproximadamente 86% do total de profissionais.
Cabe destacar que desses professores, 25 já participavam do processo de formação em
2006. Segundo a orientadora/tutora, 50% dos cursistas não têm dupla jornada de trabalho.
As dificuldades mais apontadas pelas professoras cursistas foram as
seguintes: elaborar estratégias para motivar os alunos; implementar uma proposta
metodológica inovadora, que parta das dificuldades dos alunos; desenvolver o conteúdo a
partir de atividades lúdicas; falta de tempo para confeccionar material diferenciado como,
por exemplo, jogos; dimensionar o tempo para desenvolver as atividades propostas no
processo de formação com seus alunos; assimilar os conteúdos matemáticos abordados;
trabalhar a partir dos conhecimentos prévios dos alunos; relatar as atividades
desenvolvidas.
Já para a orientadora/tutora, uma das dificuldades encontradas foi
trabalhar o conceito de fração com as cursistas, mais especificamente, trabalhar com
frações impróprias, por considerar o material do Pro-letramento bastante teórico.
Foi possível observar que esse conteúdo também era uma das
dificuldades dos demais professores do município, assim como a representação de frações
na reta, ou seja, ordenação e comparação de frações, e a compreensão de que frações
envolvem divisão de um todo em partes iguais.
Detectadas as dificuldades, as ações vinculadas ao Núcleo de Ensino da
FCT contemplaram o trabalho com a orientadora/tutora, assegurando o suporte conceitual e
metodológico necessário para o desenvolvimento das atividades, e o acompanhamento das
mesmas no contexto do município, com os cursistas.
Considerações finais
O processo de formação continuada dos professores das séries iniciais do
ensino fundamental do município de Regente Feijó tem se modificado. Percebemos um
avanço, em busca de uma maior autonomia de sua gestão.
Inicialmente, a partir da solicitação dos gestores, a universidade assumiu a
elaboração, desenvolvimento e avaliação do processo de formação dos professores em
relação ao ensino e aprendizagem de Matemática. Embora fosse desenvolvido a partir das
dificuldades apontadas pelos professores, e contemplasse a intervenção e a reflexão, era
conduzido por atores da Unesp, externos a rede de ensino municipal.
Ao aderir ao Programa Pro-letramento e buscar o apoio do Núcleo de
Ensino, o município estabeleceu parcerias e assumiu o desenvolvimento e avaliação do
processo de formação. Assim, deu o primeiro passo para a autonomia na gestão de seus
processos formativos.
9. Tais parcerias possibilitaram a formação presencial da orientadora/tutora,
forneceram o material impresso de apoio e asseguraram o suporte na preparação e no
desenvolvimento das atividades presenciais com os cursistas.
A partir disso, e do conhecimento que a orientadora/tutora tem da
realidade local, dos professores e dos alunos, o município avança na medida em que adota
uma metodologia diferente daquela proposta pelo Programa Pro-letramento, adaptando e
reorganizando o material e as atividades de formação, para melhor atender suas
necessidades e as reais dificuldades dos professores.
Um aspecto positivo foi a escolha da orientadora/tutora. Embora sua
formação superior não seja em Matemática, ela é uma profissional compromissada, tem se
mostrado aberta e procurado suprir suas deficiências na formação matemática. Acreditamos
que a proximidade com o Núcleo de Ensino e a possibilidade de estar junto das
pesquisadoras e bolsistas no enfrentamento das dificuldades lhe dá segurança no
desenvolvimento do processo de formação.
Considerando a avaliação da orientadora/tutora, na qual ela expressa sua
angústia diante das dificuldades dos professores de incorporarem um novo fazer
pedagógico a sua prática docente, a pesquisa vinculada ao Núcleo de Ensino terá
continuidade com as narrativas das cursistas, e a reflexão sobre seu processo de formação.
Esperamos, com isso, melhor entender o processo de formação
continuada desse município, e contribuir para uma melhoria do processo ensino e
aprendizagem de Matemática.
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