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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                                 6
               (Corresponde ao quarto tópico do Capítulo 1,
                 intitulado No “lado de dentro” do abismo)




           O nome está dizendo: redes so-ci-ais

Redes sociais são pessoas interagindo, não ferramentas

Embora tenha se alastrado como uma praga a idéia de que as redes sociais
são a mesma coisa que as mídias sociais, redes digitais, ambientes virtuais,
sites de relacionamento (como Facebook ou Orkut) ou plataformas
interativas (como Ning ou Elgg), tal idéia se revelou equivocada, sobretudo
porque elide o fato de que redes sociais são pessoas interagindo, não
ferramentas.

Essa discussão ganhou força nos últimos tempos com a busca por
ferramentas digitais – plataformas interativas na Internet – mais adequadas
ao netweaving, quer dizer, para servir de instrumentos de articulação e
animação de redes sociais (16).

Três hipóteses surgiram para explicar por que as plataformas interativas
disponíveis, que foram desenvolvidas para a gestão de redes sociais (ou até
mesmo para serem, elas próprias, “redes sociais”) não eram boas
ferramentas de netweaving:

Em primeiro lugar porque seus desenvolvedores confundiam midias sociais
com redes sociais, tomavam a ferramenta (digital) pela rede (social),
quando, como vimos, redes sociais são pessoas (conectadas, interagindo),
não ferramentas!

Em segundo lugar porque, sob o influxo da chamada Web 2.0, as
plataformas disponíveis eram (e ainda são, em grande parte) baseadas na
participação (p-based) e não na interação (i-based). Assim, não se regiam
pela lógica das redes mais distribuídas do que centralizadas, quer dizer,
pela lógica da abundância (17), mas sim pelo regime da escassez (e ao
aceitarem tal condicionamento, de ter que funcionar em condições de
escassez quando já há abundância, reproduziam desnecessariamente
escassez, rendendo-se a um tipo de "economia política" onde a política é
um modo de regulação não-pluriárquico). Não é outro o motivo pelo qual
ativavam mecanismos de contagem de cliques, instituíam votações e
atribuições de preferências baseadas na soma aritmética, que significam
regulações majoritárias da inimizade política. Ora, isso ensejava a formação
de oligarquias participativas que tentavam organizar a auto-organização
(como ocorreu, por exemplo, na Wikipedia).

Em terceiro lugar - e como conseqüência do seu fundamento p-based - as
plataformas de articulação e animação de redes sociais (que já se
encaravam, algumas delas pelo menos, como se fossem as próprias redes
sociais), ainda estavam voltadas para organizar conteúdos (encarando,
inevitavelmente, o conhecimento como um objeto e não como uma relação
social). Esse é um problema porquanto a gestão do conteúdo, do
conhecimento-objeto, ao tentar traçar um caminho para os outros
acessarem tal conteúdo, cava sulcos para fazer escorrer por eles as coisas
que ainda virão (na e da interação), com isso repetindo passado e
trancando o futuro (como fazem, secularmente, as burocracias sacerdotais
do conhecimento, mais conhecidas pelo nome de escolas e não é por acaso
que boa parte dessas plataformas tenha sido pensada por professores ou
construída para atender a objetivos educacionais, entendidos como
objetivos de ensinagem e não de aprendizagem). Mas para uma plataforma
i-based - adequada ao propósito de servir de ferramenta para o netweaving



                                     2
- não se trataria de pavimentar uma estrada para os outros percorrerem e
sim de possibilitar que cada um pudesse abrir seu próprio caminho (posto
que redes são múltiplos caminhos).

Ademais, ao contrário do que acreditavam os supostos especialistas em
redes sociais na Internet, não é o conteúdo do que flui a variável
fundamental para explicar a fenomenologia de uma rede e sim o modo-de-
interagir.

Mas para compreender essas observações é necessário entender quais são,
afinal, as diferenças entre comunicação e informação e entre interação e
participação. São questões fundamentais porque, de certo modo, entende-
las é entender as redes.




                                   3
Notas

(16) Cf. FRANCO, Augusto (2009). Redes são ambientes de interação, não de
participação. Slideshare [4.425 views em 22/01/2011]

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/redes-so-ambientes-de-interao-no-
de-participao>

(17) Cf. FRANCO, Augusto (2009). A lógica da abundância. Slideshare [2.171 views
em 22/01/2011]

<http://www.slideshare.net/augustodefranco/a-lgica-da-abundncia>




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  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 6 (Corresponde ao quarto tópico do Capítulo 1, intitulado No “lado de dentro” do abismo) O nome está dizendo: redes so-ci-ais Redes sociais são pessoas interagindo, não ferramentas Embora tenha se alastrado como uma praga a idéia de que as redes sociais são a mesma coisa que as mídias sociais, redes digitais, ambientes virtuais, sites de relacionamento (como Facebook ou Orkut) ou plataformas interativas (como Ning ou Elgg), tal idéia se revelou equivocada, sobretudo porque elide o fato de que redes sociais são pessoas interagindo, não ferramentas. Essa discussão ganhou força nos últimos tempos com a busca por ferramentas digitais – plataformas interativas na Internet – mais adequadas
  • 2. ao netweaving, quer dizer, para servir de instrumentos de articulação e animação de redes sociais (16). Três hipóteses surgiram para explicar por que as plataformas interativas disponíveis, que foram desenvolvidas para a gestão de redes sociais (ou até mesmo para serem, elas próprias, “redes sociais”) não eram boas ferramentas de netweaving: Em primeiro lugar porque seus desenvolvedores confundiam midias sociais com redes sociais, tomavam a ferramenta (digital) pela rede (social), quando, como vimos, redes sociais são pessoas (conectadas, interagindo), não ferramentas! Em segundo lugar porque, sob o influxo da chamada Web 2.0, as plataformas disponíveis eram (e ainda são, em grande parte) baseadas na participação (p-based) e não na interação (i-based). Assim, não se regiam pela lógica das redes mais distribuídas do que centralizadas, quer dizer, pela lógica da abundância (17), mas sim pelo regime da escassez (e ao aceitarem tal condicionamento, de ter que funcionar em condições de escassez quando já há abundância, reproduziam desnecessariamente escassez, rendendo-se a um tipo de "economia política" onde a política é um modo de regulação não-pluriárquico). Não é outro o motivo pelo qual ativavam mecanismos de contagem de cliques, instituíam votações e atribuições de preferências baseadas na soma aritmética, que significam regulações majoritárias da inimizade política. Ora, isso ensejava a formação de oligarquias participativas que tentavam organizar a auto-organização (como ocorreu, por exemplo, na Wikipedia). Em terceiro lugar - e como conseqüência do seu fundamento p-based - as plataformas de articulação e animação de redes sociais (que já se encaravam, algumas delas pelo menos, como se fossem as próprias redes sociais), ainda estavam voltadas para organizar conteúdos (encarando, inevitavelmente, o conhecimento como um objeto e não como uma relação social). Esse é um problema porquanto a gestão do conteúdo, do conhecimento-objeto, ao tentar traçar um caminho para os outros acessarem tal conteúdo, cava sulcos para fazer escorrer por eles as coisas que ainda virão (na e da interação), com isso repetindo passado e trancando o futuro (como fazem, secularmente, as burocracias sacerdotais do conhecimento, mais conhecidas pelo nome de escolas e não é por acaso que boa parte dessas plataformas tenha sido pensada por professores ou construída para atender a objetivos educacionais, entendidos como objetivos de ensinagem e não de aprendizagem). Mas para uma plataforma i-based - adequada ao propósito de servir de ferramenta para o netweaving 2
  • 3. - não se trataria de pavimentar uma estrada para os outros percorrerem e sim de possibilitar que cada um pudesse abrir seu próprio caminho (posto que redes são múltiplos caminhos). Ademais, ao contrário do que acreditavam os supostos especialistas em redes sociais na Internet, não é o conteúdo do que flui a variável fundamental para explicar a fenomenologia de uma rede e sim o modo-de- interagir. Mas para compreender essas observações é necessário entender quais são, afinal, as diferenças entre comunicação e informação e entre interação e participação. São questões fundamentais porque, de certo modo, entende- las é entender as redes. 3
  • 4. Notas (16) Cf. FRANCO, Augusto (2009). Redes são ambientes de interação, não de participação. Slideshare [4.425 views em 22/01/2011] <http://www.slideshare.net/augustodefranco/redes-so-ambientes-de-interao-no- de-participao> (17) Cf. FRANCO, Augusto (2009). A lógica da abundância. Slideshare [2.171 views em 22/01/2011] <http://www.slideshare.net/augustodefranco/a-lgica-da-abundncia> 4