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São Paulo, segunda-feira, 14 de setembro de 2009



ENTREVISTA DA 2ª - LINDA WEISS
Linda Weiss, especialista em desenvolvimento e professora da Universidade de Sydney (Austrália)



Redução do papel do Estado na economia sempre foi mito
Para especialista em desenvolvimento, compras militares dos EUA são maior exemplo de
política industrial que gerou inovação tecnológica

A PESAR de todas as manchetes sobre a volta do Estado à economia, ele nunca se retirou, e os
EUA são o maior exemplo disso, afirma Linda Weiss, especialista em desenvolvimento e
professora do Departamento de Governo e Relações Internacionais da Universidade de Sydney
(Austrália). Weiss cita especificamente a política de inovação tecnológica americana, organizada
por meio de encomendas da área militar do governo, como exemplo do que chama de "ativismo
estatal" que nunca diminuiu nas economias mais ricas.


CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

Weiss afirma que a China está adaptando o modelo americano para começar a produzir
tecnologias próprias, e sugere que o Brasil estude o exemplo.
Ela deu entrevista à Folha depois de participar, no Rio de Janeiro, de seminário no Instituto de
Economia da UFRJ sobre Reposicionamentos Estratégicos, Políticas e Inovação em Tempo de
Crise. Abaixo, os principais trechos.



FOLHA - A senhora diz que não é possível falar em volta do Estado à economia porque ele
nunca foi embora. Pode explicar?
LINDA WEISS - A ideia predominante no debate sobre a globalização e a sua relação com as
opções de política econômica é que o Estado foi posto numa camisa de força e recuou da
economia.
Fez isso para atrair investimentos num mundo de capitais móveis. O melhor governo é o que
reduz impostos e regulações. O Estado atua nas margens da economia, sem presença ativa e
muito menos desenvolvimentista. Contesto essa ideia olhando para o que os Estados mais
poderosos vêm fazendo.

FOLHA - E quais são os principais exemplos?
WEISS - O primeiro é o paradoxo de que a desregulamentação requer rerregulamentação. Por
exemplo, o governo privatiza, mas acaba se tornando muito ativo na arena regulatória, criando
agências.
Isso de certo modo aumentou o envolvimento do Estado, sem necessariamente passar pelas
autoridades executivas, que têm que responder ao eleitorado.
FOLHA - Mas, no mercado financeiro, houve menos regulamentação, não? WEISS - Houve
uma opção por não regulamentar. Foi uma opção movida a razões nacionalistas, porque tanto o
Reino Unido quanto os EUA viam o setor financeiro como o que liderava a projeção do seu
poder na arena econômica internacional.
Com Wall Street de um lado e a City do outro, para eles fazia sentido ser liberais.
O Japão fez o mesmo, de modo diferente. Ao desregulamentarem o setor financeiro, os
burocratas quiseram manter sua presença e escreveram as regras com esse objetivo, sem permitir
mais autorregulamentação.
Além disso, há uma forma de ativismo que é a intervenção recorrente do Estado para resgatar o
sistema bancário em crises. O que vemos hoje não é excepcional, é parte do padrão da
internacionalização das finanças nos últimos 200 anos.

FOLHA - Que outros exemplos a senhora reuniu?
WEISS - Um fundamental é no campo da inovação e da tecnologia. Na OMC (Organização
Mundial do Comércio), os Estados líderes escreveram normas que lhes dão margem para
promover sua indústria nascente, ao mesmo tempo em que reduziram essa margem para países
em desenvolvimento.
As regras da OMC permitem políticas de subsídio à ciência e tecnologia, que é a forma da
indústria nascente nas chamadas economias de conhecimento intensivo.
Você vê intervenções muito focadas dos governos dos Estados Unidos, da Europa e do Japão no
setor de alta tecnologia, incluindo comunicação e informação, novos materiais, novas energias.
São áreas vistas como plataformas de sua prosperidade futura.

FOLHA - Como a senhora compararia o ativismo estatal nos EUA e na Europa com o na
Ásia?
WEISS - Eu diria que o ativismo asiático está acima do radar, os países da região não se
envergonham de mostrar que têm política industrial. As populações também apoiam o uso do
poder do Estado na economia.
No caso dos EUA, não há consenso sobre o ativismo estatal.
Então, ele aparece abaixo do radar. A área que explica de onde vieram as inovações nos EUA,
país que é líder em alta tecnologia, é a máquina de encomendas ligada ao setor militar.
Os EUA construíram um sistema formidável de inovação baseado no fato de responderem por
50% dos gastos militares mundiais. Dessa forma existe apoio popular e político, porque a
linguagem usada é a da segurança nacional. Esse sistema de encomendas públicas de inovações é
tão importante que os europeus agora estão vendo como podem adaptar a seu próprio setor civil.
A China está fazendo a mesma coisa.

FOLHA - Como a China está seguindo o exemplo dos EUA?
WEISS - A China, por exemplo, quer desenvolver sua própria indústria de software e está
usando encomendas de tecnologia para isso. Ela está definindo o que é uma empresa chinesa com
base no "Buy American" [cláusula do pacote de estímulo econômico aprovado nos EUA no
início deste ano].
Para o "Buy American", uma empresa americana tem pelo menos 50% de capital americano, está
baseada nos EUA e usa trabalhadores americanos. Essa é a definição que os chineses estão
usando em sua estratégia de compras governamentais, com o objetivo de construir sua própria
indústria de alta tecnologia. [No Brasil, a emenda constitucional nº 6 acabou em 1995 com a
distinção entre empresas de capital nacional e capital estrangeiro].
FOLHA - Apesar do ativismo estatal, o Estado de bem-estar social diminuiu?
WEISS - Quando olhamos os números da OCDE [Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico, que reúne cerca de 30 países industrializados], vemos que o
Estado previdenciário na verdade cresceu.
O gasto total aumentou em média de 26% para 40% do PIB entre 1965 e 2006. E o componente
social desse gasto aumentou de 15% para 22% em 30 anos. Houve reestruturações no destino do
dinheiro, mas não declínio.

FOLHA - Mas o Estado como produtor recuou, não?
WEISS - Sim, claro. Mas é enganoso ver isso como enfraquecimento do Estado. Quando os
serviços eram públicos, qual era o papel do Estado, afinal?
Mandar contas de luz e gás?
Não era exatamente um ator no sentido do desenvolvimento.

FOLHA - A resistência que vemos hoje nos EUA ao envolvimento estatal com o sistema de
saúde não é paradoxal?
WEISS - Esse debate mostra que o sistema político americano não legitima um programa civil de
tecnologia. O Programa de Tecnologia Avançada, civil, teve vida curta no governo Clinton
[1993-2001] e recentemente perdeu seu orçamento.
É principalmente por meio do setor militar que são criadas estruturas híbridas, agências com
função de investimento e que não são nem puramente públicas nem privadas em seu
comportamento. Elas fazem essas encomendas de alta tecnologia.

FOLHA - E como os produtos chegam ao mercado civil?
WEISS - Não há uma cerca entre a Defesa e o setor civil. A CIA (Agência Central de
Inteligência dos EUA), por exemplo, tem seu próprio fundo de investimento e assume
participações em empresas privadas. Financia tecnologia que é usada para objetivos militares,
mas também tem que ser viável comercialmente.

FOLHA - Que observações a senhora fez sobre a posição do Brasil nesse debate?
WEISS - Foi interessante ouvir outro dia que a política industrial brasileira tem dois pontos
problemáticos: a falta de uma política agressiva para a exportação de manufaturados e a política
de compras governamentais, que não teria decolado.
Sugiro trazer o caso americano para debate no Brasil. As compras governamentais são um
instrumento poderoso de desenvolvimento. O importante é separar as compras ordinárias, como
papel e mobília, das encomendas de tecnologia, de algo que ainda não existe.
Nisso você estabelece uma competição entre quem pode produzir tal coisa e como o Estado pode
ajudar. Não é só o governo dizendo como deve ser, mas há uma interação.
De um só programa americano, o Small Business Innovation Research Program, de onde vieram
nomes como a Microsoft, centenas de firmas receberam financiamento. Não são somas grandes,
poderiam ser US$ 750 mil, por exemplo, para levar a tecnologia da fase da ideia na cabeça ao
protótipo.
O programa foi lançado em 1982, quando nos EUA temia-se perder a corrida tecnológica para
Japão e Alemanha, e envolve muitas agências governamentais, incluindo o Instituto Nacional de
Saúde -que faz encomendas ao setor farmacêutico e de biotecnologia-, a Nasa e a Defesa.

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Redução do papel do estado... folha 14 09-09

  • 1. São Paulo, segunda-feira, 14 de setembro de 2009 ENTREVISTA DA 2ª - LINDA WEISS Linda Weiss, especialista em desenvolvimento e professora da Universidade de Sydney (Austrália) Redução do papel do Estado na economia sempre foi mito Para especialista em desenvolvimento, compras militares dos EUA são maior exemplo de política industrial que gerou inovação tecnológica A PESAR de todas as manchetes sobre a volta do Estado à economia, ele nunca se retirou, e os EUA são o maior exemplo disso, afirma Linda Weiss, especialista em desenvolvimento e professora do Departamento de Governo e Relações Internacionais da Universidade de Sydney (Austrália). Weiss cita especificamente a política de inovação tecnológica americana, organizada por meio de encomendas da área militar do governo, como exemplo do que chama de "ativismo estatal" que nunca diminuiu nas economias mais ricas. CLAUDIA ANTUNES DA SUCURSAL DO RIO Weiss afirma que a China está adaptando o modelo americano para começar a produzir tecnologias próprias, e sugere que o Brasil estude o exemplo. Ela deu entrevista à Folha depois de participar, no Rio de Janeiro, de seminário no Instituto de Economia da UFRJ sobre Reposicionamentos Estratégicos, Políticas e Inovação em Tempo de Crise. Abaixo, os principais trechos. FOLHA - A senhora diz que não é possível falar em volta do Estado à economia porque ele nunca foi embora. Pode explicar? LINDA WEISS - A ideia predominante no debate sobre a globalização e a sua relação com as opções de política econômica é que o Estado foi posto numa camisa de força e recuou da economia. Fez isso para atrair investimentos num mundo de capitais móveis. O melhor governo é o que reduz impostos e regulações. O Estado atua nas margens da economia, sem presença ativa e muito menos desenvolvimentista. Contesto essa ideia olhando para o que os Estados mais poderosos vêm fazendo. FOLHA - E quais são os principais exemplos? WEISS - O primeiro é o paradoxo de que a desregulamentação requer rerregulamentação. Por exemplo, o governo privatiza, mas acaba se tornando muito ativo na arena regulatória, criando agências. Isso de certo modo aumentou o envolvimento do Estado, sem necessariamente passar pelas autoridades executivas, que têm que responder ao eleitorado.
  • 2. FOLHA - Mas, no mercado financeiro, houve menos regulamentação, não? WEISS - Houve uma opção por não regulamentar. Foi uma opção movida a razões nacionalistas, porque tanto o Reino Unido quanto os EUA viam o setor financeiro como o que liderava a projeção do seu poder na arena econômica internacional. Com Wall Street de um lado e a City do outro, para eles fazia sentido ser liberais. O Japão fez o mesmo, de modo diferente. Ao desregulamentarem o setor financeiro, os burocratas quiseram manter sua presença e escreveram as regras com esse objetivo, sem permitir mais autorregulamentação. Além disso, há uma forma de ativismo que é a intervenção recorrente do Estado para resgatar o sistema bancário em crises. O que vemos hoje não é excepcional, é parte do padrão da internacionalização das finanças nos últimos 200 anos. FOLHA - Que outros exemplos a senhora reuniu? WEISS - Um fundamental é no campo da inovação e da tecnologia. Na OMC (Organização Mundial do Comércio), os Estados líderes escreveram normas que lhes dão margem para promover sua indústria nascente, ao mesmo tempo em que reduziram essa margem para países em desenvolvimento. As regras da OMC permitem políticas de subsídio à ciência e tecnologia, que é a forma da indústria nascente nas chamadas economias de conhecimento intensivo. Você vê intervenções muito focadas dos governos dos Estados Unidos, da Europa e do Japão no setor de alta tecnologia, incluindo comunicação e informação, novos materiais, novas energias. São áreas vistas como plataformas de sua prosperidade futura. FOLHA - Como a senhora compararia o ativismo estatal nos EUA e na Europa com o na Ásia? WEISS - Eu diria que o ativismo asiático está acima do radar, os países da região não se envergonham de mostrar que têm política industrial. As populações também apoiam o uso do poder do Estado na economia. No caso dos EUA, não há consenso sobre o ativismo estatal. Então, ele aparece abaixo do radar. A área que explica de onde vieram as inovações nos EUA, país que é líder em alta tecnologia, é a máquina de encomendas ligada ao setor militar. Os EUA construíram um sistema formidável de inovação baseado no fato de responderem por 50% dos gastos militares mundiais. Dessa forma existe apoio popular e político, porque a linguagem usada é a da segurança nacional. Esse sistema de encomendas públicas de inovações é tão importante que os europeus agora estão vendo como podem adaptar a seu próprio setor civil. A China está fazendo a mesma coisa. FOLHA - Como a China está seguindo o exemplo dos EUA? WEISS - A China, por exemplo, quer desenvolver sua própria indústria de software e está usando encomendas de tecnologia para isso. Ela está definindo o que é uma empresa chinesa com base no "Buy American" [cláusula do pacote de estímulo econômico aprovado nos EUA no início deste ano]. Para o "Buy American", uma empresa americana tem pelo menos 50% de capital americano, está baseada nos EUA e usa trabalhadores americanos. Essa é a definição que os chineses estão usando em sua estratégia de compras governamentais, com o objetivo de construir sua própria indústria de alta tecnologia. [No Brasil, a emenda constitucional nº 6 acabou em 1995 com a distinção entre empresas de capital nacional e capital estrangeiro].
  • 3. FOLHA - Apesar do ativismo estatal, o Estado de bem-estar social diminuiu? WEISS - Quando olhamos os números da OCDE [Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que reúne cerca de 30 países industrializados], vemos que o Estado previdenciário na verdade cresceu. O gasto total aumentou em média de 26% para 40% do PIB entre 1965 e 2006. E o componente social desse gasto aumentou de 15% para 22% em 30 anos. Houve reestruturações no destino do dinheiro, mas não declínio. FOLHA - Mas o Estado como produtor recuou, não? WEISS - Sim, claro. Mas é enganoso ver isso como enfraquecimento do Estado. Quando os serviços eram públicos, qual era o papel do Estado, afinal? Mandar contas de luz e gás? Não era exatamente um ator no sentido do desenvolvimento. FOLHA - A resistência que vemos hoje nos EUA ao envolvimento estatal com o sistema de saúde não é paradoxal? WEISS - Esse debate mostra que o sistema político americano não legitima um programa civil de tecnologia. O Programa de Tecnologia Avançada, civil, teve vida curta no governo Clinton [1993-2001] e recentemente perdeu seu orçamento. É principalmente por meio do setor militar que são criadas estruturas híbridas, agências com função de investimento e que não são nem puramente públicas nem privadas em seu comportamento. Elas fazem essas encomendas de alta tecnologia. FOLHA - E como os produtos chegam ao mercado civil? WEISS - Não há uma cerca entre a Defesa e o setor civil. A CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA), por exemplo, tem seu próprio fundo de investimento e assume participações em empresas privadas. Financia tecnologia que é usada para objetivos militares, mas também tem que ser viável comercialmente. FOLHA - Que observações a senhora fez sobre a posição do Brasil nesse debate? WEISS - Foi interessante ouvir outro dia que a política industrial brasileira tem dois pontos problemáticos: a falta de uma política agressiva para a exportação de manufaturados e a política de compras governamentais, que não teria decolado. Sugiro trazer o caso americano para debate no Brasil. As compras governamentais são um instrumento poderoso de desenvolvimento. O importante é separar as compras ordinárias, como papel e mobília, das encomendas de tecnologia, de algo que ainda não existe. Nisso você estabelece uma competição entre quem pode produzir tal coisa e como o Estado pode ajudar. Não é só o governo dizendo como deve ser, mas há uma interação. De um só programa americano, o Small Business Innovation Research Program, de onde vieram nomes como a Microsoft, centenas de firmas receberam financiamento. Não são somas grandes, poderiam ser US$ 750 mil, por exemplo, para levar a tecnologia da fase da ideia na cabeça ao protótipo. O programa foi lançado em 1982, quando nos EUA temia-se perder a corrida tecnológica para Japão e Alemanha, e envolve muitas agências governamentais, incluindo o Instituto Nacional de Saúde -que faz encomendas ao setor farmacêutico e de biotecnologia-, a Nasa e a Defesa. --------