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                                    INTRODUÇÃO




Na atual conjuntura socioeconômica, a busca pelo conhecimento e informação tem

sido continua. Neste sentido, destacamos a importância da leitura para a formação

de sujeitos críticos, reflexivos e socialmente incluídos.


Mediante as necessidades educativas do modelo social vigente, compreendemos a

biblioteca pública como espaço privilegiado de produção e construção do

conhecimento, através da ação e interação dos sujeitos, uma vez, que é através das

práticas de leitura na biblioteca pública, que os eventos sociais de letramento se

dão.


Tendo em vista estas questões, o presente trabalho tem o objetivo de conhecer as

práticas de leitura na biblioteca pública municipal e suas contribuições para a

formação de sujeitos letrados, verificando o que a biblioteca oferece para os

usuários e para a comunidade em geral.


Esta pesquisa foi motivada pela necessidade de refletir sobre a biblioteca pública

municipal Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias, como mediadora da construção

do conhecimento. Para tanto, traçamos o perfil histórico da biblioteca pública na

Brasil e no mundo, da antiguidade ao dias atuais, trazendo teóricos como Martins

(1998), Milanesi (1983; 1997; 2000), Suaiden (1980; 2000). Assim como,

percorremos o caminho da leitura nas suas diversas concepções, fundamentados

em Freire (1990; 2002) Silva (1991; 2005), Solé (1998), Morais (1996), Koch (2007),

Olson (1997), Orlandi, (1993). E finalmente, perpassamos os conceitos e práticas de
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letramento embasados em Kleiman (1995; 1998), Zilberman, (2007), Tfouni (2006),

Soares (1995; 1998; 2003), Di Nucci (2008), Barbato (2007).


Neste sentido, considerando a relação dinâmica entre universo real e sujeito, este

trabalho compreende elementos de pesquisa qualitativa. Utilizando dos seguintes

instrumentos de coleta de dados: observação participante, entrevista semi-

estruturada, questionário fechado, análise documental, e pesquisa bibliográfica. E

para a organização dos dados levantados, ao longo da pesquisa, este trabalho esta

dividido em quatro capítulos, a saber:


No primeiro capítulo, apresentamos a movimentação para a proposta da pesquisa,

nossas interrogações e inquietações quanto à delimitação do tema, nossos objetivos

e a relevância do presente estudo.


O segundo capítulo compõe-se de um breve histórico das bibliotecas públicas, sua

origem, suas concepções, e transformações sofridas ao longo dos séculos. Alem

disso, apresenta considerações sobre as práticas de leitura necessárias para a

construção cidadã. E ainda, discute algumas concepções e práticas de letramento

no contexto social.


No terceiro capítulo, abordamos a trajetória da Biblioteca Pública Prof.ª Zenáurea

Terezinha Campos Dias, trazendo um resgate histórico, bem como a caracterização

dos sujeitos escolhidos para a pesquisa e os instrumentos utilizados para a coleta de

dados.


O quarto capítulo trata da análise e interpretação dos dados, mediante as

informações colhidas, acerca da Biblioteca Pública de Senhor do Bonfim. Apresenta
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o perfil do leitor-usuário, e as construções que foram possíveis de ser evidenciadas

através das nossas leituras a respeito do universo estudado e seus sujeitos.


Nas considerações finais, apresentamos reflexões tecidas acerca do papel da

biblioteca pública no contexto social, como mediadora do desenvolvimento individual

e coletivo.
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                                  CAPÍTULO I




 ALGUMAS INTERROGAÇÕES À REALIDADE: CONTORNANDO A PESQUISA


1.1 – Movimentação para a proposta de pesquisa




A sociedade contemporânea vem se tornando cada vez mais exigente no que diz

respeito à formação intelectual dos sujeitos, seja no campo social, econômico ou

cultural.    A busca pelo conhecimento e informação é crescente, na mesma

proporção da intensa necessidade do uso das novas tecnologias de informação e

comunicação, que por sua vez, tem exigido incessantemente sujeitos capazes do

uso competente destas tecnologias. Nessa perspectiva, a demanda educativa é

evidente, e também, cada vez mais crescente, estando presente nas mais diversas

esferas da vida do sujeito, desde o lazer, a participação política e social, às

oportunidades de desenvolvimento econômico e cultural do individuo, e da

sociedade.


Desse modo, vemos que um dos instrumentos absolutamente precisos para uma

formação que possibilite sujeitos-cidadãos competentes, críticos frente a sua

realidade, reflexivos e autônomos, é a leitura. Prática esta que se constitui

historicamente no processo civilizatório da humanidade, é incontestavelmente, um

elemento de suma importância para a formação, progresso social e econômico de

um país, e para a realização individual dos sujeitos, pois, a leitura enquanto

atividade humana e prática social permite ao leitor, não só compreende a sua
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sociedade com maior alcance intelectual, mas pode estender sua visão do mundo

como um todo, reconhecendo no texto escrito o que está além da palavra escrita,

passando a constituir o legado da história humana e a fazer parte desta história

(KLEIMAN,1989).


A leitura em sua natureza comunicativa e reflexiva permite ao sujeito abrir-se para

novos horizontes e experimentar outras alternativas de existência, e de maneira

direta ou indireta, refletir sobre o contexto social em que está inserido. Dessa forma,

o ato de ler é essencial à vida dos indivíduos em meio à sociedade em constante

evolução, é uma necessidade que leva o sujeito à aquisição de significados na vida

cotidiana repleta de oportunidades que requerem o uso da leitura, fazendo desta

uma prática cultural transformadora, (SILVA, 1997).


No âmbito escolar a formação de leitores, é sem sombra de dúvidas, um dos

principais objetivos, pois educar leitores para o convívio social, ou ainda, promover

os estudantes a leitores participantes e atuantes, é papel da escola em sua função

social e emancipadora. Pois, a nível de intenção, a instituição escola quer educar e

promover o progresso de um tipo de leitor que não seja conveniente, ou que se

ajuste ingenuamente à realidade que esta aí, mas que, pelos processos de leitura

(praticados e aprendidos na escola), participe ativamente da transformação social,

(SILVA, 1991). Uma vez que, é imprescindível, esta formação tomada como

finalidade básica estabelecida mediante as práticas de leitura na escola, provocando

o aluno a compreensões, reflexões e ações transformadoras.


A escola enquanto elemento básico para a formação e orientação de leitores,

constitui-se no ambiente mais favorável para o despertar do gosto pela leitura e à

promoção do hábito da leitura nas crianças e jovens, uma vez que sua importância
15

neste processo se deve, principalmente, ao fato de que nela os alunos adquirem a

habilitação inicial na prática de leitura. (ZILBERMAN, 1989). Porém, muito tem se

observado que o exercício da leitura, na escola, tem se restringido a mera

decodificação de símbolos em sons fonéticos, o que não desperta no aluno o gosto

e o prazer pela leitura, resumindo-a num ato puramente mecânico sem atribuição de

sentido, transformando-a num ato enfadonho, acrítico e mecânico.


                        O que se faz nas escolas é apropriação da decodificação mecânica de
                        símbolos. Deste modo os alunos apreendem a ler, mas não se tornam
                        leitores, o que contribui para afastar o aluno, sobretudo os das camadas
                        populares, do conhecimento (SOARES,1988).

O que se vê no meio escolar, é a colocação das práticas de leitura como verdadeiras

camisas-de-força nos estudantes (SILVA, 1991), agindo de maneira oposta,

afastando seu público de qualquer chance de gosto pela leitura, ao invés do que se

espera que é o favorecimento ao desenvolvimento das habilidades e competências,

e ao desenvolvimento do potencial de leitura dos alunos, sujeitos do processo.

Mediante esse contexto, o aluno acaba por afastar-se dos livros fazendo com que

desconheça        o   mundo    ao   seu    redor,    alienando-se     das    informações     e,

conseqüentemente omitindo sua participação na sociedade. Além disso, ele

distancia-se de descobrir o ato de ler como um momento de prazer, e a leitura como

fonte de lazer.


Nesta perspectiva, observando-se a necessidade da formação de leitores para a

participação social, que por sua vez está condicionada à visão de mundo do sujeito,

seus valores, seus conhecimentos, suas reflexões e visão crítica, enfim, está

condicionada ao uso e as práticas de leitura como instrumento de conhecimento,

destacamos a importância da biblioteca pública como meio de aquisição da leitura e

de acesso ao mundo letrado. A biblioteca assume lugar de prestígio no processo de
16

democratização da leitura, junto à escola, visto que, as práticas de leitura no âmbito

da biblioteca se amarram ao projeto de libertação das classes oprimidas (SILVA,

1991).


Num país como o nosso historicamente marcado pela desigualdade de classes,

onde as condições de leitura são visivelmente precárias, as escolas e bibliotecas

públicas são, sem dúvida, as duas instâncias mais diretamente ligadas à formação

do leitor, e ao acesso ao mundo da escrita (ZILBERMAN, 1989). Visto isso, é

inegável que a formação e sustentação do gosto pela leitura são fruto da

aproximação básica entre leitor e a biblioteca, pois a promoção da leitura e a

educação de leitores atravessam, indiscutivelmente, o contexto da biblioteca pública,

uma vez que partes das obrigações escolares são realizadas dentro deste espaço.


E ainda, a leitura tomada como prática social e de cidadania, construídas a partir das

práticas de leitura realizadas dentro do espaço da biblioteca pública, aqui

considerada como espaço de interação entre indivíduo e sociedade, promove o leitor

à ação participativa e reflexiva para o exercício da cidadania. Assim, do ponto de

vista educacional ―a biblioteca tem um papel importante na democratização do

saber, uma vez que facilita oportunidade de formação, oferecendo a cada individuo

condições de desenvolver suas aptidões particulares‖ (ZILBERMAN, pág. 18, 1989).


Em razão do contexto acima indicado, da dinâmica que se estabelece entre aluno

letrado, escola, biblioteca e sociedade, e das mais variadas formas que se

apresentam às necessidades educativas urgentes, consideramos oportuno o

desenvolvimento de uma pesquisa sobre o tema, por considerar primordial a análise

e compreensão da importância do acesso ao mundo da leitura e escrita, numa

sociedade que vem se tornando cada vez mais exigente no que diz respeito à
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formação intelectual dos sujeitos, seja no campo social, econômico ou cultural.

Embora contraditoriamente, a grande massa da população ainda seja mantida longe

do mundo letrado e da cultura escrita, de modo geral.


Tendo em vista todas estas questões, tornam-se fundamentais algumas reflexões no

tocante à leitura, formação de sujeitos letrados e a biblioteca pública municipal como

espaço de construção do conhecimento, através da ação e interação dos sujeitos.

Propusemo-nos, a conhecer quem seriam os sujeitos a fazerem uso deste espaço,

quais os anseios que os levam a freqüentar assiduamente ou não, a biblioteca

pública, o que esta biblioteca oferece para a comunidade, quais as práticas de

leitura e de letramento que acontecem ali, em que elas contribuem para a formação

destes sujeitos e para a comunidade de modo geral. Uma vez que, a biblioteca

pública tomada como produtora-condutora do conhecimento através das práticas de

leitura que acontecem no seu interior; é também, elemento básico no processo de

educação de leitores praticantes; e necessariamente, espaço legítimo de luta pela

democratização da leitura. Estaremos garantindo a sobrevivência mais digna aos

sujeitos-cidadãos,   numa    sociedade    onde    livros   e   bibliotecas   estiveram,

historicamente, presentes no cotidiano da vida das elites, excluindo as camadas

mais pobres do acesso ao mundo letrado.


Elegemos como elementos a constituírem o problema a ser pesquisado as práticas

de leitura na Biblioteca Pública Municipal Profa. Zenáurea Terezinha Campos Dias,

no município de Senhor do Bonfim, e suas contribuições para a formação de sujeitos

letrados. Além das indagações elucidadas, ainda uma pergunta que nos motivou

para a realização desta pesquisa: Quais os objetivos do leitor ao consultar o acervo

da biblioteca pública municipal?
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Reunindo todas as questões que norteiam esta discussão delimitamos como

objetivos compreender as práticas de leitura que ocorrem no interior da biblioteca,

seu uso e significados; verificar o que a biblioteca pública municipal oferece para os

usuários e comunidade em geral; conhecer quem é o leitor usuário deste espaço, de

onde provem esta demanda; e ainda analisar quais os usos da leitura e os

significados produzidos por esta prática.


A relevância desta pesquisa consiste em estudar a biblioteca pública municipal

Profa. Zenáurea Terezinha Campos Dias, como agente mediadora na construção do

conhecimento, compreender as práticas que ocorrem no seu interior, e analisar

fatores que contribuem para a formação de sujeitos letrados que possam atender a

estas novas demandas educativas impostas na vida cotidiana e no meio social

desses sujeitos. Contribuindo para o desenvolvimento de políticas públicas e ações

comunitárias que viabilizem um número cada vez maior de sujeitos interessados na

leitura e no desenvolvimento intelectual e social, possível através desta prática no

contexto da biblioteca. Visto que, a biblioteca pública, é porta de entrada para o

conhecimento,    proporcionando     condições    básicas    para   a   aprendizagem

permanente, autonomia de decisão e desenvolvimento cultural aos indivíduos e

grupos sociais. Tem papel importante no desenvolvimento e manutenção de uma

sociedade democrática, ao disponibilizar para o individuo acesso ao conhecimento.
19

                                  CAPÍTULO II




        EVENTOS E PRÁTICAS SOCIAS DE LEITURA E LETRAMENTO


                           NA BIBLIOTECA PÚBLICA




2.1 – A Origem das Bibliotecas no Brasil e no Mundo


2.1.1 – Bibliotecas da Antiguidade: do Sagrado ao Profano




A trajetória histórica da humanidade aponta diversas relações do homem com a

construção do conhecimento, nos seus múltiplos aspectos. A possibilidade do

registro do saber marca e define a sociedade humana, num fazer contínuo que se

transforma a cada instante, neste âmbito, muitos séculos depois da invenção da

escrita, a biblioteca surge como organismo de vital importância social na

preservação do conhecimento.


Na Idade Antiga, ou Antiguidade, período compreendido entre 4000 a.C. a 3500

a.C., fase da história em que surge a escrita, a humanidade passa a utilizar de

mecanismos e suportes materiais para o armazenamento do conhecimento

produzido. Deste período, há registros de escritos dos povos assírios, sumérios e

babilônicos datados por volta do século VII a.C. em conjuntos de placas de argila

que eram usados para registrar a escrita, o que pôde ser compreendida como
20

biblioteca (MILANESI, 1983). Além da argila, foram usados o papiro, pelos egípcios,

no terceiro milênio a.C., e posteriormente o pergaminho, como suporte da escrita.


Durante a Antiguidade, as bibliotecas foram uma espécie de ―depósito de livro‖,

templos e palácios não acessíveis ao público, tinha a função mais de esconder do

que divulgar seus escritos. Da antiguidade até a Renascença, o acesso ao livro não

esteve à disposição dos profanos, as bibliotecas eram como organismos mais ou

menos sagrados, ou pelos menos, religioso, pois somente os sacerdotes, igualmente

sagrados ou religiosos, detinham o saber (MARTINS, 1998).


Entre as bibliotecas deste período, está a mais antiga, datada do século VII a.C., a

grande biblioteca de Nínive, criada pelo Rei Assurbanipal. Entretanto, a mais celebre

da Antiguidade fora a biblioteca de Alexandria, datada do século IV a.C. Apesar da

existência desta biblioteca, a precariedade física do suporte material fez com que a

maior parte do registro do pensamento humano da época se perdesse, a exemplo, a

biblioteca de Alexandria que existiu mais de setenta mil volumes que se perderam

durante três incêndios sofridos. (MILANESI, 1983; FERNÁNDEZ ABAD, 2006).


Não muito diferente da Antiguidade, as bibliotecas da Idade Medieval conservaram

seu caráter religioso, e a concepção de biblioteca como conservatório e depositário

de livro. No reduto de conventos e mosteiros, ainda durante muitos séculos, foram

os religiosos que contribuíram para a conservação das obras literárias e Escrituras

religiosas, e por vezes, também os escritos profanos. No entanto, o acesso aos

livros e à bibliotecas medievais era restrito aos pertencentes à ordem religiosa, de

modo que o controle também se estendia ao trabalho dos monges escribas que se

ocupavam da transcrição de manuscritos clássicos. Contudo, durante este período

da história, ocorreu que:
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                     [... o livro medieval conservou os conhecimentos, guardou-os para a
                     Renascença, hibernou-os nos conventos, e preparou, em conseqüência,
                     sem o saber e, em certo sentido, sem o querer, o movimento intelectual que
                     substituiria a tábua medieval de valores. A Renascença não teria sido
                     possível, no que concerne às obras escritas, se a Idade Média não tivesse
                     possuído esses enormes silos que foram as suas bibliotecas monásticas,
                     universitárias e particulares...]. (MARTINS, p.96, 1998)

A antiga biblioteca medieval de um mosteiro beneditino, onde eram guardadas as

grandes e preciosas obras da sabedoria grega e latina conservada através dos

séculos pelos monges, foi descrita pelo crítico literário italiano Umberto Eco, em obra

―O Nome da Rosa‖:


                     Homens devotos trabalharam durante séculos, seguindo férreas regras. A
                     biblioteca nasceu segundo um desenho que permaneceu obscuro a todos
                     durante séculos e que nenhum dos monges é dado conhecer. Somente o
                     bibliotecário recebeu o segredo do bibliotecário que o precedeu, e o
                     comunica, ainda em vida, ao ajudante-bibliotecário, de modo que a morte
                     não o surpreenda, privando a comunidade desse saber. E os lábios de
                     ambos estão selados pelo segredo. (ECO, 1983, p. 53)

Essas bibliotecas, segundo Eco (1983), eram ―labirintos espirituais e labirintos

terrenos‖, por isso, não podia ser penetrada por qualquer mortal, e o saber

registrado nos livros eram valiosos segredos ―Porque nem todas as verdades são

para todos os ouvidos, nem todas as mentiras podem ser reconhecidas como tais

por uma alma piedosa... (ECO, 1983, p. 54)‖. Os monges, monopolizadores de fato

e de direito de toda a língua escrita, eram ao mesmo tempo, os monopolizadores de

todos os conhecimentos religiosos, literários, científicos (MILANESI, 1983;

MARTINS, 1998).


Todavia, foi a partir da Renascença, que as bibliotecas surgiram como fenômeno de

ordem social, sofrendo uma nítida e mais sólida laicização, pela perda do caráter

sagrado e secreto do livro, para se transformar num instrumento de trabalho posto

ao alcance de todas as mãos (MARTINS, 1998, p.323). Visto que, na história das

bibliotecas ocorre um grande marco, que foi o aparecimento das universidades e a

difusão do livro, no início da Renascença, que acelerou o processo de disseminação
22

democrática do livro, permitindo que o conhecimento humano registrado pela escrita

chegasse a um número de pessoas cada vez mais crescente, expandindo a

circulação das idéias, pois o livro (bem material) deixa os arredores dos conventos,

fazendo das bibliotecas um serviço (bem consumível), deixando de ser considerada

um tesouro. Desse modo, de acordo com Martins (1998):


                     Para que a Renascença, movimento laico por excelência, pudesse ocorrer é
                     necessário supor que os profanos tivessem acesso, um acesso cada vez
                     maior, às bibliotecas, ou, pelo menos, que tivessem conhecimento dos
                     manuscritos que somente nas bibliotecas existiam‖. (p.97)

Grandes bibliotecas fizeram parte da história neste período, exemplo, as do Monte

Atons, na Turquia, as italianas como a própria biblioteca do Vaticano datada do

século XV, a de Saint-Gall, na França, famosíssima pelo numero de volumes, e de

Fulda, na Prússia. Mas a que mais se destacou, sendo referência intelectual,

adjetivando trabalhos de grande valor, foi a biblioteca da ordem dos Beneditinos.

Logo, foi neste período da história, que os mosteiros salvaram, através das cópias

sucessivas, grande parte da riqueza literária da Antiguidade. Pois, ao lado da oração

com as regras dos mosteiros, estava o trabalho manual das infinitas cópias de

manuscritos antigos. (MORIGI, 2006).


Foi ainda na Renascença que as bibliotecas começaram a tomar seu sentido

moderno, passando a serem entendidas já como organismo democrático em seu

processo de evolução, de laicização, e de socialização, alargando o acesso ao livro,

e sua circulação geral na sociedade.        De modo que uma nova concepção de

biblioteca começava a ser delineada:


                     A biblioteca não é mais, por conseqüência, um mero depósito de livros:
                     esse o mais importante de todos os pontos característicos na evolução do
                     seu conceito. A sua passividade substitui-se um salutar dinamismo, a
                     iniciativa de uma obra que é, ao mesmo tempo, de socialização,
                     especialização, democratização e laicização da cultura. Ela desempenha
                     dessa forma por menos que pareça, o papel essencial na vida das
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                      comunidades modernas; é em torno dela que circulam todas as outras
                      correntes da existência social. (MARTINS, 1998, p. 325)

Porém, o acesso às bibliotecas permaneceu restrito a um grupo de privilegiados até

o século XX, pois as grandes coleções pertenciam ao Estado e à Igreja, a idéia de

biblioteca atendia a idéia de arquivo-museu. Somente após a Revolução Industrial

com a expansão do operariado, a biblioteca passou a ser oferecida como serviço

com determinada função educativa, acreditava-se no poder moralizador e educativo

das leituras, sobre a comunidade. Posteriormente, após a segunda metade do

século XX delineou-se uma nova função à biblioteca, a de sistematizar o acesso a

informação passando a ser considerado um centro cultural sendo anexado a seu

acervo novos suportes informacionais. (MILANESI, 1983; MARTINS, 1998;

BARRETO, 2008; AQUINO, 2004).




2.1.2 – História da Biblioteca Pública do Brasil: da Realeza à Popularização




O conceito de biblioteca pública é um conceito contemporâneo. O Congresso de

Bibliotecários, promovido pela UNESCO, de 03 a 12 de outubro de 1951, assim

definiu as bibliotecas públicas:


                      A biblioteca pública, criação da democracia moderna está na vanguarda da
                      luta encetada para assegurar plenamente a educação popular; seu papel
                      consiste em conservar e organizar os conhecimentos humanos a fim de
                      colocá-los ao serviço de toda a coletividade, sem distinção de profissão, de
                      religião, de classe ou de raça. Seus objetivos são os seguintes:

                      1.    Fornecer ao público informações, livros, material e facilidades
                      diversas em vista de melhor servir seus interesses e de satisfazer às suas
                      necessidades intelectuais;
                      2.    Estimular a liberdade de expressão e favorecer uma crítica
                      construtiva dos problemas sociais;
                      3.    Dar ao homem uma formação que lhe permita exercer uma atividade
                      criadora no quadro da coletividade e trabalhar no aperfeiçoamento da
                      compreensão entre os indivíduos, entre os grupos e entre as nações;
24

                     4.    Completar a ação dos estabelecimentos de ensino oferecendo à
                     população a possibilidade de continuar a se instruir. (UNESCO. Le
                     développement des bibliothèques publiques en Amérique latine, 1951, P.3,
                     tradução nossa)

No Brasil o documento que marca o início da história da biblioteca é datado de 05 de

fevereiro de 1811, foi quando Pedro Gomes Ferrão de Castello Branco encaminhou

um projeto ao Governo da Capitania da Bahia, solicitando a aprovação do plano

para fundação da biblioteca. Este documento representa o princípio do acesso ao

livro e das preocupações com a educação no Brasil. ―O plano foi aprovado, e a

Biblioteca inaugurada no Colégio dos Jesuítas, em 04 de agosto de 1811‖

(SUAIDEN, 2000, p. 52). No entanto, a Biblioteca Real trazida de Portugal por D.

João VI foi aberta ao público em 1814, a que viria a se transformar na Biblioteca

Nacional anos mais tarde.


Na República Velha como na Primeira República, as bibliotecas eram geralmente

improvisadas, grande parte do acervo era formado a partir de doações, as

instalações e os recursos humanos adequados eram precários (MARTINS, 1998).


Durante a Primeira República, foram criadas muitas bibliotecas, mas foi somente a

partir de 1937 que começaram a ser criadas políticas de incentivo à leitura. A criação

do Instituto Nacional do Livro (INL) ―alavancou contribuições expressivas ao

desempenho das bibliotecas públicas‖ (BARRETO, 2008, p. 30).


Pela primeira vez encontra-se uma iniciativa nacional de estruturação da biblioteca

pública, no ano de 1961 pelo Decreto Lei 51 223, foi criado o Serviço Nacional de

Biblioteca, a fim de incentivar a criação de bibliotecas públicas em todo o país.

Porém não é encontrado nenhuma menção à subsídios que favoreça o incentivo da

leitura, e nenhuma política voltada para o interesse da população. (CALDAS, 2005)
25

No entanto, não foram alcançados os objetivos propostos pelo Serviço Nacional de

Biblioteca, e em 1968 o Decreto Lei 62 239 incorporou o Serviço Nacional de

Biblioteca ao INL. No referido período,


                     Era necessário que a instituição biblioteca fosse dedicada à propagação de
                     uma política de leitura. Mas a preocupação predominante era a preservação
                     do material bibliográfico, e muitas se negavam a fazer o empréstimo
                     domiciliar com receio de o livro ser furtado, e assim o profissional teria de
                     dar conta do material permanente. (SUAIDEN, 2000, p. 54)

Em 1989, primeira vez em que o termo leitura é mencionado por uma Fundação, o

INL e a Biblioteca Nacional passam a integrar a Fundação Nacional Pró-Leitura, em

1990, o acervo e atribuições são transferidos para a Biblioteca Nacional.


No ano de 1992, instituído pelo Decreto Presidencial nº. 520, foi criado o Sistema

Nacional de Bibliotecas Públicas – SNBP, como objetivo principal de fortalecer as

Bibliotecas Públicas do país. Seguindo os seguintes objetivos:


                     I – incentivar a implantação de serviços bibliotecários em todo o território
                     nacional;

                     II – promover a melhoria do funcionamento da atual rede de bibliotecas,
                     para que atuem como centros de ação cultural e educacional permanentes;

                     III – desenvolver atividades de treinamento e qualificação de recursos
                     humanos, para o funcionamento adequado das bibliotecas brasileiras;

                     IV – manter atualizado o cadastramento de todas as bibliotecas brasileiras;

                     V – incentivar a criação de bibliotecas em municípios desprovidos de
                     bibliotecas públicas;

                     VI – proporcionar, obedecida a legislação vigente, a criação e atualização
                     de acervos, mediante repasse de recursos financeiros aos sistemas
                     estaduais e municipais;

                     VII – favorecer a ação dos coordenadores dos sistemas estaduais e
                     municipais, para que atuem como agentes culturais, em favor do livro e de
                     uma política de leitura no País;

                     VIII – assessorar tecnicamente as bibliotecas e coordenadorias dos
                     sistemas estaduais e municipais, bem assim fornecer material informativo e
                     orientador de suas atividades;
26

                      IX – firmar convênios com entidades culturais, visando à promoção de livros
                      e de bibliotecas. (FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Disponível em:
                      http://www.bn.br/snbp)




Foi a partir desse momento que se fortaleceram as iniciativas voltadas ao incentivo e

a disseminação da leitura, provocadas pelo interesse político e mais os contingentes

sociais (BARRETO, 2008).




2.1.3 – Biblioteca Pública no Brasil, hoje




A capacidade de gerar conhecimento é uma característica marcante da sociedade

contemporânea. No entanto, são claras as diferenças sociais e econômicas entre os

que têm acesso e os que não têm acesso a situações e espaços onde as

informações se fazem presentes. Nesse contexto, a biblioteca pública vem atuar

como    instrumento    democrático,      proporcionando        igualdade     de    acesso      e

disponibilidade de todo tipo de conhecimento para todos. (PERROTTI; 1990)


É evidente a relevância da existência da biblioteca na sociedade brasileira, dentro

dos preceitos da modernidade, em seu papel social e informativo de caráter

educacional e cultural, possibilitando a democratização do conhecimento e da

informação, e contribuir para a formação do leitor. A Biblioteca Nacional guardiã

máxima do registro do saber em nosso país (Fundação Biblioteca Nacional, 2000),

traz em seu manual Biblioteca Pública, princípios e diretrizes, o conceito de

biblioteca pública e suas características:
27

                      O conceito de biblioteca pública baseia-se na igualdade de acesso para
                      todos sem restrição de idade, raça, sexo, status social, etc. na
                      disponibilização à comunidade de todo tipo de conhecimento. [...] é um elo
                      de ligação entre a necessidade de informação de um membro da
                      comunidade e o recurso informacional que nela se encontra organizado e à
                      sua disposição [...]. Assim, as bibliotecas públicas caracterizam-se por: 1)
                      destinar-se a toda coletividade,ao contrário de outras que têm funções mais
                      específicas; 2) possuir todo tipo de material (sem restrições de assuntos ou
                      de materiais); 3) ser subvencionada pelo poder público (federal, estadual ou
                      municipal). Ela difere da biblioteca comunitária/popular, que surge da
                      comunidade e é por ela gerida, sendo o atendimento feito, geralmente, por
                      voluntários. (Fundação Biblioteca Nacional, 2000, p.17-18).




Suaiden (2000), traz discussões sobre os diversos segmentos da sociedade e as

diferentes expectativas em relação ao papel da biblioteca púbica. Os educadores

acreditam ser a biblioteca um alicerce do ensino-aprendizagem. Os intelectuais

enxergam um espaço rico em literatura de ficção. O trabalhador comum a vê como

um local para solucionar problemas cotidianos. O autor discute ainda, sobre a

utilização do termo ―biblioteca pública‖ e critica o parcial atendimento que realiza.


                      A própria denominação "biblioteca pública" pressupõe uma entidade
                      prestando serviços ao público em geral, independentemente das condições
                      sociais, educacionais e culturais. Nesse aspecto, reside a grande falha da
                      biblioteca pública, pois, até hoje, o único segmento da sociedade que é
                      atendido parcialmente, em pequena proporção, é o dos estudantes de
                      primeiro e segundo graus. (SUAIDEN, 2000, p.57)

E segue com a afirmativa, ―Na batalha que trava para responder às inquietações da

sociedade sobre o seu papel, a biblioteca pública perde cada vez mais prestígio e

poder, deixando de ser o grande centro disseminador da informação, por tentar ―ser

tudo para todos‖ (SUAIDEN, 2000, p.57).


Em novembro de 1994, a Federação Internacional das Associações de Bibliotecários

e de Bibliotecas (IFLA), junto com a UNESCO aprovam o MANIFESTO DA UNESCO

SOBRE BIBLIOTECAS PÚBLICAS acerca do papel e importância da biblioteca

pública, donde citamos um ponto básico:
28

                     A biblioteca pública é o centro local de informação, tornando prontamente
                     acessíveis aos seus utilizadores o conhecimento e a informação de todos os
                     gêneros. Os serviços da biblioteca pública devem ser oferecidos com base
                     na igualdade de acesso para todos, sem distinção de idade, raça, sexo,
                     religião, nacionalidade, língua ou condição social. Serviços e materiais
                     específicos devem ser postos à disposição dos utilizadores que, por
                     qualquer razão, não possam usar os serviços e os materiais correntes,
                     como por exemplo, minorias lingüísticas, pessoas com deficiências,
                     hospitalizadas ou reclusas. (Manifesto da IFLA/UNESCO Sobre Bibliotecas
                     Públicas, 1994. disponível em: http://archive.ifla.org/VII/s8/unesco/port.htm

Este Manifesto expressa ainda o caráter gratuito da biblioteca pública e quanto ao

seu financiamento e legislação, ―os serviços da biblioteca pública devem, por

princípio, ser gratuitos. A biblioteca pública é da responsabilidade das autoridades

locais e estatais. Deve ser objeto de uma legislação específica e financiada pelos

governos nacionais e locais‖. E assegura a formulação de políticas de

funcionamento e gestão dizendo ―Deve ser formulada uma política clara, definindo

objetivos, prioridades e serviços, relacionados com as necessidades da comunidade

local‖.


No entanto, o advento das novas tecnologias, e todas as questões e discussões

advindas desse contexto, têm mudado consideravelmente, alterando e ampliando, a

função da biblioteca pública. ―No início do século XXI, o cenário das bibliotecas é

alterado principalmente em relação às formas de acesso às informações; as

bibliotecas buscam encontrar novos caminhos na sociedade da informação‖.

(MARCELINO, 2009, p.87) na tentativa de garantir nesse espaço as oportunidades

para desenvolver o hábito e a difusão da leitura e informação.


Gradualmente as bibliotecas, que passam por transformações de estruturas físicas,

e de processos, vem se apropriando das inovações tecnológicas. ―A biblioteca deixa

de ser um tranqüilo depósito de livros para tornar-se o ponto focal de pesquisa

variada, acessada a qualquer hora por usuários virtuais de vários lugares do
29

mundo‖. (LEVACOV, 1997, p.126). Logo, o que pode se dizer, é que de fato cresce a

consciência de que a biblioteca não é mais única fonte de informação.


Através   das   tecnologias   de    informação,     pode-se     melhorar     em    muito    o

processamento de informação, a relação biblioteca e desenvolvimento intelectual e

social de seus usuários. Pois, a biblioteca pública em seu caráter social, é um

espaço democrático por excelência que pode minimizar as diferenças entre os que

têm acesso e usam as informações e os que estão excluídos desse processo,

garantindo a democratização da informação. Bem como diz Cunha (2003):


                     A sociedade da informação, nos diferentes espaços geográficos em que
                     vem sendo concebida, atribui à biblioteca pública a missão especial de
                     assegurar a democratização do acesso em rede, a oferta de produtos e
                     serviços de qualidade que contribuam para diminuir as desigualdades
                     sociais e estimular os usuários a utilizar a Internet como instrumento de
                     ampliação de conhecimento e convivência‖. (p.72)

Nesse sentindo, o novo cenário que desponta no âmbito da biblioteca pública,

favorece o desenvolvimento humano, permitindo a disseminação das informações,

através da adoção de novas medidas tecnológicas. No cenário tecnológico da

sociedade da informação, as bibliotecas passam por um avanço progressivo e

caminham para uma biblioteca que pode tornar-se totalmente digital. Seja como for,

a democratização e a socialização da biblioteca pública são em nossos dias, uma

realidade indiscutível (MARTINS, 1998, p. 331).
30

2.2 – Práticas de Leitura: Condição para Construção Cidadã




A sociedade moderna traz no seu bojo diversos meios e fontes que permitem o

acesso as informações e conhecimentos. Em meio a essa diversidade de

informações e tecnologias que avançam e se superam diariamente, estão presentes

as habilidades desenvolvidas pelo homem desde os primórdios, a leitura e a escrita.

Que correspondem às habilidades essenciais necessárias para que os sujeitos desta

realidade possam vivenciar um cotidiano repleto de mudanças, refletindo sobre

estas transformações que ocorrem no meio social, econômico e cultural num ritmo

muito acelerado.


Neste panorama, dentro de uma sociedade desenvolvida, a leitura se coloca como

via de acesso eficaz ao conhecimento – ainda que pelo intenso progresso da mídia e

dos diversos meios eletrônicos de comunicação – o acesso ao conhecimento,

depende    primordialmente   dos   livros   e   das   habilidades   e   competências

imprescindíveis do leitor. Por que ler pouco ou não ler numa sociedade letrada, torna

o ser humano inferiorizado, provocando desvantagens profundas entre os que

adquirem, e os que não adquirem essa aprendizagem. (ZILBERMAN, 1989; SOLÉ

1998)


Não nos restam dúvidas de que a leitura é uma questão pública e social. Pública, no

que diz respeito às informações que circulam no meio social, veiculadas através da

leitura e da escrita. ―A leitura é uma questão pública. É um meio de aquisição de

informação (e a escrita um meio de transmissão de informação), portanto, um

componente de um ato social‖ (MORAIS, 1996, p. 12). E social, quando o
31

desenvolvimento     intelectual    e   econômico      de    uma     sociedade      depende

primordialmente das oportunidades de acessos a estas práticas de leitura e escrita.


                     Leitura é indiscutivelmente um problema da sociedade. O desenvolvimento
                     econômico é condicionado pela possibilidade que terão os homens e
                     mulheres ativos (e não apenas certas camadas sociais), de tratar a
                     informação escrita de uma maneira eficaz. (MORAIS, 1996, p. 12).

Neste sentido, as necessidades de conhecimento e informação extrapolam as

situações cotidianas de ler o anúncio do jornal ou ler a bula do remédio. Tornou-se

uma exigência de grau elevado quando nos defrontamos com a vida profissional,

uma vez que as ofertas de bons empregos estão condicionadas ao nível de

formação intelectual do sujeito.


Assim, a formação intelectual disponibilizada pela prática de leitura oferece, além da

aquisição de habilidades necessárias para a vivência diária em sociedade, acessos

ao conhecimento organizado e acumulado por esta sociedade, através da escrita, ou

seja, acesso a informação e desenvolvimento tecnológico, acesso ao mercado de

trabalho, e as mais diversas possibilidades de ascensão profissional e pessoal. Na

perspectiva de Osakabe (1993),


                     Aprender a ler não corresponde simplesmente à aquisição de um novo
                     código ou de um simples desenvolvimento de um tipo de percepção através
                     do acréscimo de uma habilidade. Aprender a ler, é também, ter acesso a um
                     mundo distinto daquele em que a oralidade se instala e organiza: o mundo
                     da escrita. (p. 149)

Dentro da perspectiva de Koch (2007), a leitura é uma atividade interativa altamente

complexa de produção de sentido, que requer a mobilização de um vasto conjunto

de saberes no interior do evento comunicativo. É uma atividade que leva em conta

as experiências, as informações e os conhecimentos do leitor, o que propicia a

construção de sentido, pois permite que o leitor critique, avalie e chegue a um dos

vários significados do texto. Pois, ―considerar o leitor e seus conhecimentos e que
32

estes conhecimentos são diferentes de um leitor para o outro implica aceitar uma

pluralidade de leituras e de sentidos em relação a um mesmo texto‖ (p.21).


Visto isso, ao mesmo tempo em que leitura propõe sentido, provoca criticidade, pois,

o leitor crítico atenta não só o que o texto diz, ou quer dizer, mas também para a

intenção do autor, distinguindo o que o autor tenta fazer crer daquilo que ele, o leitor,

esta querendo acreditar (OLSON, 1997).


É nesse movimento que se dá a relação autor e leitor, no que se revela a partir da

interpretação do leitor, daquilo que não esta propriamente nas palavras do texto, que

não o compreende na sua literalidade. ―Quando se lê, considera-se não apenas o

que está dito, mas também o que está implícito: aquilo que não está dito e que

também está significado‖ (ORLANDI, 1993).


A leitura corresponde também, a um modo particular e individual de integração entre

os homens, a história e as gerações. Proporciona a experiência fundamental da

realidade, que permite a compreensão dos registros culturais que representam o

passado, e a compreensão do real, que significa utilizar do seu próprio

conhecimento proporcionado pelas diversas experiências pessoais. De acordo com

Kleiman (1989),


                      A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela
                      utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já
                      sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a
                      interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento
                      lingüístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue
                      construir o sentido do texto. E porque o leitor justamente utiliza diversos
                      níveis de conhecimento que interagem entre si, a leitura é considerada um
                      processo interativo. Pode-se dizer com segurança que sem o engajamento
                      do conhecimento prévio do leitor não haverá compreensão. (p.13)

Evidentemente através das experiências da leitura o sujeito encontra novas formas

de compreender o mundo, de interagir com as pessoas e o meio social. Neste
33

sentido, a leitura permite a construção e atribuição de significado ao mundo a partir

de pontos de vista elaborados e verificações permitidas por esta prática. Que para

Zilberman (1993), ―Compreendida de modo mais amplo, a ação de ler caracteriza

toda a relação racional entre o indivíduo e o mundo que o cerca‖ (p.17).


Silva (2004) propõe que o texto, é como tudo aquilo que provoca e possibilita

significados. Portanto, as habilidades de leitura e compreensão, desenvolvidas por

meio dos textos, dos símbolos, das imagens, proporcionam encontros com o

conhecimento, com as experiências e possibilidades de conhecer e compreender a

realidade que compõe o nosso cotidiano, que consistem a existência humana se

concretiza no ato de ler, pois ―é na e com a comunidade que se aprende a ler e a

atribuir significado aos textos nela contido‖, (SILVA, 2004, p.17).


Para perspectiva freiriana, inicialmente, experimentamos e aprendemos a ler o

mundo, na tentativa de compreender as múltiplas situações que permeiam o nosso

dia-a-dia. A leitura do mundo no seu sentido mais amplo condiciona o homem ao

convívio com os demais sujeitos, habilita-o para a compreensão do real e das

palavras. Assim, desenvolver a capacidade de ler e escrever a palavra, de modo que

alguém possa ler em outro momento, é como diz Freire (1990), ―precedidos do

aprender como ‗escrever‘ o mundo, isto é, ter experiência de mudar o mundo e de

estar em contato com o mundo‖ (p.31).


O ato de ler coloca-nos a refletir sobre a leitura em sua essência, mais que

decodificar símbolos. É, portanto, através da própria leitura em um processo

contínuo de reflexão que nos reconhecemos como seres humanos sociais dotados

de capacidades e entendimento.
34

                     Ler não é decifrar palavras, mas consiste num exercício de compreensão
                     que, talvez pela sua complexidade, se torna um fator atrativo envolto num
                     mundo cheio de mistérios, até porque o ato de ler é, antes de tudo,
                     compreender o mundo‖. (Santos-Théo, 2003, p.01)

Visto isso, compreendemos que o ato de ler transcende a decodificação daquilo que

está escrito, significa pensar e desenvolver posição crítica sobre valores e idéias, é

um processo contínuo de trocas entre o indivíduo e o mundo. Freire (2002), nos

ensina sobre o ator de ler:


                      [...] uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na
                     decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se
                     antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede
                     a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir
                     da continuidade da leitura daquele. (p.11)

Desse modo, podemos compreender a leitura como uma atividade essencialmente

humana. A leitura se constitui num processo de construção do leitor, que

proporciona compreensão e reflexões sobre os diversos textos e mundos que nos

cercam. Estas construções resultam da atividade comunicativa e da interação social

humana, pois a leitura de um texto, ou da palavra, exige uma análise, um

conhecimento, uma leitura dentro do conhecimento real/social que o sujeito se

insere. ―O ato de ler e escrever é um ato criativo que implica uma compreensão

crítica da realidade‖. (FREIRE, 1990, p. 105)


Sob este mesmo ponto de vista, Silva (2005), enfoca a leitura como uma forma de

encontro e comunicação entre os sujeitos. Pois, a relação dos homens entre si,

portanto, as experiências vividas a partir da participação da realidade sócio-cultural,

são garantidas através da mediação dos signos impressos. Visto que, a diversidade

de informações adquiridas através da leitura de diversos gêneros instiga o sujeito à

construção de diálogo e comunicação mais autênticos. Neste sentido, ―ler é

realmente participar mais crítica e ativamente da comunicação humana‖ (p. 41).
35

Desse modo, como instrumento social as práticas das leituras críticas e reflexivas,

desembocam     na    ação     libertadora     da    leitura,   mostrando-se        agente      de

democratização, cidadania e transformação social. Como afirma Silva (1991),


                     O cidadão, além de possuir consciência de responsabilidade e direitos
                     (equilibrados entre si), constitui-se pelas práticas de posicionamentos,
                     críticas, participação e autonomia. A linguagem indubitavelmente permeia
                     todas essas práticas à medida que elas são, no fundo, práticas
                     comunicativas, exigindo a interação entre os homens. E é exatamente aqui
                     que eu vejo a relação básica e fundamental entre a leitura, tomada como
                     prática social, e a cidadania. Para me situar nos diferentes contextos
                     sociais, tenho, necessariamente, de ver, ler ou ouvir [...]. A penetração e a
                     participação nos mundos da escrita das imagens e/ou dos gestos pela
                     leitura, percebendo e compreendendo a riqueza, a variedade e as
                     alternativas contidas nesses universos, são condições básicas para a
                     realização da cidadania. (p. 24)

Dentre as reflexões aqui apresentadas compreendemos que o ato de ler envolve um

sujeito ativo, que decodifica, analisa, processa informações levando em conta seu

meio social, suas necessidades intelectuais e seus objetivos de leitura. Pois, os

objetivos da leitura determinam à forma em que um leitor se situa frente ela e

controla a consecução do seu objetivo, isto é, a compreensão do texto, (SOLÉ,

1998).




2.3 – Letramento: Concepções e Práticas




O termo letramento, segundo Soares (1998), foi introduzido no Brasil a partir da

segunda metade da década de 80, por teóricos que buscavam definir a utilização do

termo, e distinguir a palavra letramento de alfabetização. E desde então o termo vem

sendo empregado no campo da Educação e das Ciências Lingüísticas. Porém as

discussões sobre a utilização ainda não se encerraram.
36

A palavra letramento trata-se da versão em português da palavra “literacy”, de

origem inglesa, que vem do latim ―littera” (letra), mais o sufixo “cy”, que designa

condição, qualidade (MICHAELIS, 1998). Embora várias posições teóricas tenham

sido tomadas quanto ao termo, discutiremos aqui o uso de letramento nas

perspectivas de Kleiman (1995; 1998), Zilberman, (2007), Tfouni (2006) e Magda

Soares (1995; 1998; 2003).


Na concepção de Kleiman (1995), o letramento é compreendido como ―uma prática

discursiva de um determinado grupo social, que está relacionada ao papel da escrita

para tornar significativa a interação oral, mas que não envolve, necessariamente, as

atividades específicas de ler e de escrever‖ (p.18).


Nesta concepção de letramento, considera-se o fato de estarmos constantemente

em contato com a leitura e a escrita, praticarmos essas habilidades no meio social,

ou seja, nos tornamos letrados ao posso que habilitamo-nos a utilizar o sistema

simbólico no meio letrado, nas palavras da autora, ―letramento como as práticas e

eventos relacionados com uso, função e impacto social da escrita‖ (KLEIMAN, 1998,

p. 181).


Outra teoria sobre letramento é discutida por Tfouni (2006), que conceitua o termo

em confronto com a alfabetização. De modo a entender o letramento como um

processo mais amplo que se diferencia do termo alfabetização, no entanto é

intimamente ligado ao código escrito, focalizando os aspectos sócio-históricos da

aquisição de um sistema escrito, enquanto que a alfabetização se ocupa da

aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos.
37

Ainda sob o ponto de visa da referida autora, o letramento são conseqüências

sociais e históricas da introdução da escrita em uma sociedade.


                     Entre outros casos, procura estudar e descrever o que ocorre nas
                     sociedades quando adotam um sistema de escritura de maneira restrita ou
                     generalizada; procura ainda saber quais práticas psicossociais substituem
                     as práticas ―letradas‖ em sociedades ágrafas. (TFOUNI, 2006, p. 9-10)

Para Zilberman (2007), o universo onde a criança está inserida dever ser repleto de

oportunidades que viabilizam o letramento, ela precisa estar exposta a iniciativas do

meio, das histórias infantis, sejam elas contadas oralmente, lidas por outra pessoa,

ou visualizada através de imagens, ou ainda através dos diversos meios

tecnológicos. Portanto, o letramento está sempre presente sob diversas perspectivas

seja na escola, antes da escola, dentro ou fora deste espaço.


                     O letramento é um processo que se inicia antes mesmo de a criança
                     aprender a ler, supondo a convivência com universo de sinais escritos e
                     sendo precedido pelo domínio da oralidade. Outros fatores associam-se ao
                     processo de letramento, já que a convivência com a escrita começa no
                     âmbito da família e intensifica-se na escola, quando o mundo do livro é
                     introduzido à infância. (p. 246)

Desse modo, Kleiman (1995; 1998), Zilberman, (2007), e Tfouni (2006) comungam

da concepção de letramento como práticas de leitura e escrita que extrapolam o

conceito de alfabetização.


No entanto, Soares (1995; 1998; 2003), ainda que no mesmo foco de práticas

sociais de leitura e escrita, compreende o letramento para além da alfabetização,

como ela mesmo se refere, e das concepções apresentados até aqui.


                     [...] é o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e
                     escrever. Implícita nesse conceito está a idéia de que a escrita traz

                     conseqüências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas,
                     lingüísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para o
                     indivíduo que aprenda a usá-la (SOARES, 1998, p.17).
38

A concepção argumentada pela autora é de que os indivíduos dominam o uso da

leitura e escrita desenvolvendo habilidades para a participação ativa em meio que se

fazem necessárias estas práticas. Letramento é, pois, ―o resultado da ação de

ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquiri um

grupo social, ou indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita‖

(SOARES, 1998, p.18).


Diante das discussões sobre o conceito e empregabilidade do termo letramento

pelas teóricas até aqui apresentadas, pareceu-nos que estas autoras convergem na

mesma direção no que se refere aos aspectos práticos e sociais do letramento. No

entanto, outros teóricos tem recentemente contribuído nas discussões deste termo.


Nas palavras de Di Nucci (2008), a leitura e a escrita trazem para o sujeito

conseqüências socioculturais, um novo modo de viver em sociedade e de se inserir

na cultura, e também conseqüências lingüísticas, uma vez que o sujeito sofre

influência da língua escrita sobre o modo oral de se expressar.


                     ―O letramento permite ao indivíduo participar efetivamente de uma cultura
                     letrada que exige diferentes usos da escrita no cotidiano. Assim, podemos
                     considerar que o letramento pressupõe e possibilita novas formas de
                     inserção cultural‖ (p. 55).

O processo de letramento envolve práticas de pensar o mundo e agir sobre o mundo

por meio de símbolos, palavras, contextos, e diversos instrumentos. Uma vez que, a

convivência com o universo letrado coloca a disposição do indivíduo situações de

aprendizagem que o levam ao desenvolvimento, exercício e amadurecimento de

competências que o direcionam ao letramento, em distintos momentos e em

diversos espaços da vida do sujeito.
39

Segundo a teórica Di Nucci (2008), o letramento permite ao indivíduo participar

efetivamente de uma cultura letrada que exige diferentes usos da escrita no

cotidiano. Assim, podemos considerar que o letramento pressupõe e possibilita

novas formas de inserção cultural.


Visto isso, o desenvolvimento da participação cidadã crítica consciente está

intimamente ligada ao processo de construção do conhecimento individual e

coletivo, viabilizado pelo letramento, que consiste no uso das habilidades de ler e

escrever, no cotidiano em função das necessidades sociais. (KLEIMAN, 1995;

SOARES, 1998; DI NUCCI, 2008)


As situações de convívio com a leitura e a escrita no cotidiano, condicionam o sujeito

ao letramento. Logo, estar envolvido em eventos de práticas de leitura e escrita no

ambiente familiar faz parte do processo social e individual de letramento.


Pois, ler o jornal, escrever um bilhete, entre outras situações fazem parte do

cotidiano dos indivíduos, podendo ser caracterizado como eventos de letramento,

pois ―[...] o letramento envolve a aprendizagem social e histórica da leitura e da

escrita em contexto informais e os usos contextualizados no cotidiano do individuo.‖

(DI NUCCI, 2008, p.54)


O indivíduo letrado vive momentos de socialização e interação com meio, que torna

viável o processo de significação produzido pelo sujeito. Existem caminhos

diferentes para o aprendizado da leitura e da escrita e diferentes processos de

letramento, definidos relativamente à história das práticas culturais de cada grupo e

às demandas dos diferentes contextos situacionais. (BARBATO, 2007). Portanto, as

situações de letramento são vivenciadas a partir de momentos de desenvolvimento
40

cultural e de identificação pessoal, e estão profundamente relacionadas com o

contexto histórico da vida do sujeito.
41

                                  CAPÍTULO III




          DIRETRIZES E PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA




A complexidade da organização da vida social do homem moderno esta

intrinsecamente ligada à pesquisa e ao conhecimento científico produzido ao longo

dos séculos. Compreendemos a pesquisa científica como suporte metodológico que

garante o processo de ampliação do conhecimento acumulado.


Estamos chamando de pesquisa o procedimento formal, com método de

pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho

para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais, (LAKATOS, 2005).

As ciências sociais no campo da educação, por sua vez, vêm através do tempo

desenvolvendo    instrumentos   teórico-metodológicos,   legitimando   sua   grande

diversidade de modelos próprios de fazer pesquisa e analogicamente constituindo-

se em rigor e confiabilidade, adequando métodos e técnicas de acordo com a

natureza dos fenômenos por ela estudados. No campo da ciência o primeiro

princípio é a pesquisa, que se estabelece numa atitude processual de investigação

diante do desconhecido e dos limites que a natureza e a sociedade impõem, e que

por objetivo fundamental compreender conhecimento humano em evolução.


Neste sentindo, o respectivo trabalho compreende elementos de pesquisa

qualitativa, por compreendermos que este tipo de abordagem considera a existência

de uma relação dinâmica entre universo real e sujeito, ouvindo e explorando as
42

idéias, compreensões e preocupações sobre determinado fato, ou fenômeno. Seu

foco principal é o processo. A investigação num enfoque qualitativo abrange um

conjunto de procedimentos para coleta de dados que permitem sistematizar os

diferentes componentes que expressam os fenômenos do mundo social, implica

alcançar dados descritivos, apanhados no contato direto do pesquisador com a

situação estudada, salientando mais o processo do que o produto e se preocupa em

representar a perspectiva dos participantes. (LUDKE e ANDRÉ, 1986).


A pesquisa numa abordagem qualitativa permite a análise dos resultados num

panorama contextualizado do sujeito pesquisado, no intuito de observar, registrar,

compreender e co-relacionar os fatores e fenômenos sem manipulá-los. Pois, nesta

perspectiva busca-se conhecer e compreender as diversas situações e relações que

ocorrem na vida social, política, econômica, (CERVO, 2007).




3.1 – Caracterizando o Lócus e Sujeitos de Estudo




A pesquisa foi realizada na biblioteca pública municipal Professora Zenáurea

Terezinha Campos Dias, localizada na cidade de Senhor do Bonfim, município da

Região Centro-Norte do Estado da Bahia.


A referida biblioteca pública é mantida pela Prefeitura Municipal de Senhor do

Bonfim, e administrada pela Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esportes.

Esta inclusa na Lei municipal nº. 1137/2009 de 02 de outubro de 2009, que trata do

Sistema Municipal de Cultura - SMC, com a finalidade de captar e canalizar recursos
43

para a área cultural, contando com um representante no Conselho Municipal de

Cultura regulamentado pela mesma Lei.


Para o desenvolvimento desta pesquisa tomamos como sujeitos de estudo os

usuários da biblioteca pública municipal. Foi analisado um grupo de amostragem

composto por vinte e sete usuários, escolhidos aleatoriamente, que participaram do

estudo respondendo a um questionário. Em seguida foi escolhido, também pelo

critério de aleatoriedade, um a cada três destes sujeitos que participaram da

segunda etapa do estudo, respondendo a uma entrevista.




3.2 – Os Instrumentos de Pesquisa




O momento de coleta de dados se configura numa etapa de verificação, que

necessita ser sistematizada através de instrumentos e técnicas. Os procedimentos

metodológicos aqui selecionados estiveram diretamente relacionados ao objeto de

estudo, afim de melhor atender as necessidades do pesquisador de forma ordenada

e completa.


Em função dos objetivos propostos esta pesquisa empregou a entrevista semi-

estruturada e pesquisa bibliográfica como principais técnicas de coleta de dados,

além de outros métodos complementares, como a observação participante, o

questionário fechado, e a análise documental a fim de alcançarmos o proposto e

melhor compreender os fenômenos estudados.
44

Justifica-se a escolha da técnica de entrevista por ser um dos principais

procedimentos de coleta de dados utilizada pelos pesquisadores em ciências

sociais, no intuito de obterem dados que não estão expressos em fontes

documentais, mas podem ser obtidos através da fala dos sujeitos. ―É uma conversa

orientada para um objetivo definido: recolher, por meio do interrogatório do

informante, dados para a pesquisa‖, (CERVO, pág. 51, 2007). Optamos pela

entrevista do tipo semi-estruturada, que se caracteriza numa série de perguntas

abertas feitas verbalmente em ordem pré-estabelecidas, mas que permite ao

investigador explorar mais adequadamente as questões, como numa conversa

informal na intenção de melhor atender as necessidades da pesquisa. Este

instrumento foi delineado cuidadosamente observando os objetivos propostos, pois

sua flexibilidade requer do pesquisador grande controle e direcionamento das

questões, no entanto permite obter informações mais ricas e fecundas mantendo a

qualidade da pesquisa (CERVO, 2007). A entrevista foi registrada com o auxilio de

um gravador digital para garantia da fidelidade e veracidade das informações

colhidas, com prévia autorização dos entrevistados, que posteriormente foram

transcritas para a categorização e análise dos dados.


Outra relevante categoria de procedimentos de coleta que utilizamos foi a pesquisa

bibliográfica, que se constitui num suporte de extrema importância na coleta,

manipulação e análise das informações, propiciando maior rigor na abordagem do

estudo, pois estivemos em contato direto com as possibilidades já estudadas sobre

a temática.


A escolha pela observação participante se deu por permitir a participação real do

pesquisador na comunidade ou grupo estudado (LAKATOS, 2005). O pesquisador
45

integra-se a situação e participa da vida do grupo em estudo, no intuito de

compreendê-lo no sentido de dentro, de fazer parte daquele meio, é uma

participação direta e pessoal.


A pesquisa fez uso do procedimento denominado questionário, que é um

instrumento de coleta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas,

que devem ser respondidas por escrito na ausência do entrevistador. Sua natureza

impessoal garante a uniformidade na avaliação e possibilita a coleta de informações

e respostas mais concretas. Justificamos sua utilização por viabilizar o levantamento

de dados referentes aos aspectos sócio-culturais dos sujeitos e por atender a

finalidade do estudo. O questionário foi do tipo fechado, pois permite respostas mais

rápidas e precisas, facilidade na aplicação, manipulação e analise das informações

obtidas.


Os procedimentos metodológicos adotados para a instrumentalização desta

pesquisa foram aqui empregados, de modo, a se tornarem suportes de comunicação

favoráveis entre o investigador e sujeito investigado. Pois, entendemos que a

operacionalização da pesquisa e o alcance dos objetivos estão intimamente ligados

a escolha das técnicas e procedimento de coleta, logo os instrumentos devem ser

adequados aos objetivos da pesquisa a fim de alcançar seus propósitos,

(TRIVINOS, 1987).
46

                                         CAPÍTULO IV




                  A ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS




Este capítulo apresenta a análise e interpretação dos dados obtidos durante a

pesquisa. Destacamos que, as interpretações foram norteadas pelos nossos

objetivos, tendo como ponto de referência o quadro teórico.


No intuito de proteger a identidade dos entrevistados, utilizaremos um código para

identificar os discursos aqui transcritos. Será utilizada a letra ―L‖ (que é uma

abreviação da palavra ―Leitor‖), seguida de um numeral (01, 02, 03, etc.).


Para apresentação dos resultados organizamos os dados em categorias

estabelecidas levando-se em consideração as informações colhidas. Uma vez que,

as categorias são modos de organizar os conteúdos dos discursos que nos

permitem encontrar os ―sentidos‖ que nos auxiliam na interpretação, como explica o

autor:


                     A categorização é uma operação de classificação de elementos
                     constitutivos de um conjunto, por diferentes e, seguidamente, por
                     reagrupamento segundo o gênero (analogia) com critérios previamente
                     definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúne um grupo
                     de elementos (unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob
                     um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão dos caracteres
                     comuns destes elementos (BARDIN, 1977, p.117).

Neste sentido, apresentaremos os nossos resultados nas seguintes categorias: A

primeira categoria, Biblioteca pública de Senhor do Bonfim, Subdividida em
47

subcategorias: a) Breve Histórico de Senhor do Bonfim; b) Trajetória Histórica da

Biblioteca Municipal de Senhor do Bonfim.


A segunda categoria, Traçando o Perfil do Leitor-Usuário, traz o perfil dos usuário

da biblioteca pública de Senhor do Bonfim.


A terceira categoria Os Significados que a Leitura Produz, analisa a compreensão

que os sujeitos têm sobre leitura. Deste modo, as informações estão organizadas

em subcategorias: a) Ler é conhecimento; b) Ler é interagir, é construção de sentido

e visão de mundo; c) Leitura para a alfabetização e o letramento; d) Aspectos sociais

da leitura.


A quarta categoria, As Possibilidades de Leitura e de Letramento na Biblioteca

Pública, analisa as possibilidades de leitura e letramento que ocorrem no âmbito da

biblioteca pública. Apresentadas nas subcategorias: a) Objetivos dos usuários:

obrigações escolares, leitura e estudos; b) A importância da biblioteca para a

comunidade.


E por fim, A Biblioteca Pública como Espaço Mediador, analisa a biblioteca como

mediadora de leitura e eventos de letramento na sociedade. Apresentadas nas

subcategorias: a) Inclusão Social; b) Oportunidade...; c) Projetos de Incentivo a

Leitura?




4.1 – Biblioteca Pública em Senhor do Bonfim
48

4.1.1 – Breve História de Senhor do Bonfim




Na região baiana denominada Piemonte Norte do Itapicuru, está localizada a cidade

de Senhor do Bonfim, com uma população de 76.113 habitantes em 2009, de acordo

com o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.


Senhor do Bonfim distancia-se 374 quilômetros da Capital Salvador. Tem um relevo

constituído pelo Pediplano Sertanejo, seu clima é caracterizado pelos tipos semi-

árido, seco e subúmido, e sua vegetação possui características da caatinga arbórea,

florestas estacionais e grande variedade de vegetais, além das árvores frutíferas. O

município é banhado pela bacia do Itapicuru, e seus principais rios são o Itapicuru

Mirin, o rio da Prata, o Jaguarari, o Tamanduá e o Coité (MACHADO, 2007).


A história da cidade de Senhor do Bonfim teve início no Brasil Colônia, mais

precisamente no ano de 1697. Quando o local abrigava apenas rancharia de

tropeiros e mercantes, pois era ponto obrigatório destes que vinham do Piauí,

Longal, Maranhão e do rio São Francisco, ―em direção das terras onde se cavava o

ouro, aí descansavam e armavam os seus ranchos à beira da lagoa‖ (SILVA, 1970,

p. 13).


Na metade do século XVIII, os tropeiros e mercantes que por ali ficaram,

constituindo família e moradia, já se tornavam um pequeno povoado que em ―1750 a

rancharia se transformara em um arraial que tinha o nome de Arraial do Senhor do

Bonfim da Tapera‖ (MACHADO, 2007, p. 44).
49

Após receber oficialmente o nome de Arraial do Senhor do Bonfim da Tapera, a

localidade já contava com cerca de 600 habitantes, fato que contribuiu para a

elevação do arraial a vila. Pois em 8 de junho de 1796, foi encaminhado pelos

moradores ao Governo o pedido de criação da vila, mas só em 1º de outubro de

1799, através do Auto de criação especial é que a localidade foi elevada a vila

recebendo o nome de Vila Nova da Rainha (MACHADO, 2007). Nome que

homenageou Dona Maria I, rainha de Portugal, em nome da qual seu filho, o futuro

D. João VI, que dirigia o trono no impedimento da soberana homologou a nobre

causa (SILVA, 1970).


Em 28 de maio 1885, pela Lei provincial nº 2.499, a Vila Nova da Rainha foi elevada

à categoria de cidade, chamando-se dai para frente Cidade de Senhor do Bonfim.

Instalada em 7 de janeiro de 1887, pelo juiz de direito interino Dr. Aurélio Pires de

Carvalho e Albuquerque (MACHADO, 2007).




4.1.2 – Trajetória da Biblioteca Municipal de Senhor do Bonfim




A década de 30 é marcada pela entrada do Brasil no mundo capitalista de produção

e acumulação de capital, o que exigiu mão-de-obra especializada e investimentos na

área da educação. Dentre as ações do governo federal se destaca a criação do

Instituto Nacional do Livro, em 1937 que contribuiu expressivamente para o

desenvolvimento das bibliotecas públicas (SUAIDEN, 2000).
50

No mesmo período, em Senhor do Bonfim, ano de 1934, foi fundada no governo de

Mariano Ventura, a biblioteca ―Borges de Barros‖, que 70 anos depois, pela Lei nº

924/04, de 20 de julho de 2004, passou a se chamar ―Biblioteca Pública Profª

Zenáurea Terezinha Campos Dias‖.


Pouco se sabe sobre a trajetória histórica da Biblioteca Pública Profª Zenáurea

Terezinha Campos Dias, já que os documentos pertencentes a esta se perdedam no

tempo em meio a reformas e mudanças. Porém, Adolfo Silva (1970), faz mensão as

biliotecas que Senhor do Bonfim já possuiu ao longo de sua história, entre elas está

a ―Borges de Barros‖, hoje Biblioteca Pública Profª Zenáurea Terezinha Campos

Dias.


                     ―A primeira biblioteca foi instalada, em 1912, pela Soc. União e Recreio, na
                     sua sede na rua Cons. Franco, transferida para a rua 02 de Julho, com
                     1.928 volumes. A segunda ―Borges de Barros‖ foi fundada em 1934, com
                     3.916 volumes, pertencente à Prefeitura Municipal, em cujo prédio funciona.

                     Foram fundadas as bibliotecas ―União e Mocidade‖, em 1940, com 645
                     volumes, pertencentes à Igreja Presbiteriana; ―Manoel Quirino‖, em 1942,
                     com 439 volumes, na rua Rui Barbosa, pertencente à Associação
                     Beneficente e Cultural dos Artífices; ―Rui Barbosa‖, em 1948, com 1.344
                     volumes, na rua 2 de Julho, pertencente à agência do Instituto Brasileiro de
                     Geografia e Estatística; ―Pedro Calmon‖, em 1957, com 280 volumes,
                     pertencente às Escolas Reunidas; ―Pio XII‖, em 1959, com 1.200, volumes,
                     pertencente ao bispado, funcionado no Seminário N.S.de Lourdes. (p. 55)

Contudo, encontramos no arquivo da Biblioteca Pública Profª Zenáurea Terezinha

Campos Dias uma circular expedida pelo Instituto Nacional do Livro, no ano de 1988

(anexo 01), que confirma o cadastro desta biblioteca, no referido orgão Federal, hoje

Fundação Nacional do Livro.


Outros documentos também confirmam o registro desta biblioteca em outras

instituições como no Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (circular

datada de 06 de janeiro de 1999, remetida a então ―Borges de Barros‖ — ver anexo
51

02) e no Conselho Regional de Bibliteconomia - 5ª Região (ofício expedido em 19 de

março de 1996 — ver anexo 03)


No entanto, o mais importante documento encontrado nos arquivos da biblioteca

municipal, que comprova sua existência mediante os orgãos de administração

pública municipal, estadual e federal, foi um formulário do Serviço de Estatística da

Educação e Cultura – SEEC, do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE

(anexo 04). No documento datado de 27 de junho de 1984 constam as informações

de que a ―Biblioteca Borges de Barros‖ foi fundada em 1934 e que ficava localizada

na Praça Juracy Magalhães, reafirmando o que Silva (1970) já havia constatado. É

esclarecido ainda que a entidade mantenedora é a Prefeitura Municipal de Senhor

do Bonfim. O acervo bibliográfico, na época, era formado por 1.654 exemplares.


No verso do documento citado no parágrafo anterior, encontramos a seguinte

informação ―confirma-se o registro e esclarecemos que os funcionários existentes

não são bibliotecários formados e nem treinados. E sim, funcionários da prefeitura.‖

(IBGE, 1983). Logo, diante deste documento e de relatos de antigos funcionários

ouvidos ao longo desta pesquisa descobrimos que na história da Biblioteca Pública

Profª Zenáurea Terezinha Campos Dias nunca houve um profissional formado na

área. Ainda, no mesmo documento encontramos a informação de que em 1983,

houve uma reforma na biblioteca, mas nada se sabe sobre esta reforma.


Diante dos relatos de antigos usuários e funcionários observamos que o acervo da

biblioteca pública é mantido por doações de alguns órgãos, de usuários, e de

pessoas da comunidade local. Hoje a Biblioteca Pública Profª Zenáurea Terezinha

Campos Dias é a única biblioteca pública municipal em funcionamente na cidade de
52

Senhor do Bonfim, e fica situada no local conhecido como Pirâmide, à Praça

Alexandre Góis.




4.2 – Traçando o Perfil do Leitor-Usuário




O primeiro momento da coleta de dados foi realizado por meio de um questionário

estruturado formado por 8 questões, que teve como objetivo conhecer quem é o

leitor-usuário da Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias, e de

onde provem esta demanda. Dos 252 usuários-leitores que freqüentaram a

biblioteca pública no período de realização do trabalho de investigação,

compreendido entre os dias 01 a 30 de novembro de 2009, variando entre os

períodos matutino e vespertino, 27 responderam ao questionário. Número que

representa um índice de 11% do total dos freqüentadores. Para análise dos

questionários consideramos as características e hábitos dos usuários-leitores.


Em um país como o nosso onde ainda não se cultiva o hábito de leitura, mas que,

também, não deixa de ter práticas leitoras, a biblioteca como uma instituição

destinada ao ato de ler exerce um importante papel de mediação entre a leitura e a

formação do leitor, num contexto social em constantes mudanças e de inúmeras

exigências. Pois, todos independente de idade ou classe social têm livres acesso a

este espaço.


Em nossa pesquisa detectamos que, 33% dos respondentes relataram freqüentar a

biblioteca uma vez por semana, 30% freqüentam mais de uma vez por semana, 11%
53

freqüentam uma vez por mês, 26% raramente freqüentam. Com base nesses dados,

observa-se que mais da metade dos respondentes informaram ter usado

assiduamente os serviços e produtos oferecidos pela biblioteca. Os perfis desses

respondentes serão discutidos adiante.


No tocante as características do grupo respondente, constatamos que quanto à

idade, 33% encontram-se na faixa etária entre 11 e 15 anos, 30% entre 16 e 19

anos, 30% entre 20 e 25 anos, e 7% entre 24 e 30 anos. Estas informações indicam

que o público atendido na biblioteca pública de Senhor do Bonfim é primordialmente

de jovens, o que sinaliza serem alunos de ensino fundamental e médio, dados que

confirmaremos e discutiremos nas análises a seguir. Em relação ao gênero, 48%

são do sexo feminino, e 52% do sexo masculino.


Figura 1



                              Faixa etária

                 7%                          Entre 11 e 15 anos
                                    33%
   30%                                       Entre 16 e 19 anos

                                             Entre 20 e 25 anos

                                             Entre 24 e 30 anos
                        30%


         Fonte: dados da pesquisa




Quando perguntamos sobre a ocupação dos respondentes, 93% responderam não

trabalhar. A maioria dos usuários-leitores que responderam ao questionário, 74%

cursam ou tem o nível médio de ensino, 15% cursam ou tem o nível superior
54

incompleto, e 11% cursam ou tem o ensino fundamental, informação que reforça a

hipótese de que o público potencial da biblioteca pública em estudo é de estudantes.


Com os dados analisados e apresentados na figura 1 e figura 2 pudemos verificar

que a Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias, sofre o que

Suaiden (2000) chamou de fenômeno da escolarização das bibliotecas públicas.

Pois em um levantamento histórico feito pelo autor sobre o contexto social da

biblioteca pública entre as décadas de 30 e 50, demonstrou que a falta de biblioteca

escolar fez com que os alunos se utilizassem da biblioteca pública existentes, ―que

passou a dar prioridade para o atendimento estudantil em detrimento a outros

segmentos‖ (p.55). Fato que após 50 anos ainda é notado, pois entre os serviços

prestados ao público em geral, aqui reside a grande falha da biblioteca, até hoje, o

único segmento da sociedade que é atendido parcialmente, em pequena proporção,

é o dos estudantes do ensino fundamental e médio (SUAIDEN, 2000).


Figura 2



                       Nível de Escolaridade
                      74
                                                    Ensino Sup.
                                                    Incompleto

                                                    Ensino Médio

               15
                               11                   Ensino
                                                    Fundamental


        Fonte: dados da pesquisa




Das instituições públicas preocupadas com o processo de construção e

democratização do conhecimento, as bibliotecas públicas são consideradas um
55

espaço privilegiado e consagrado à prática de leitura, uma vez que, facilita

oportunidades de formação e condições de desenvolvimento individuais e coletivas,

pois as situações que ali se desenvolvem possibilitam a interação do leitor com o

que é lido, contribuindo para as construções e significações realizadas por meio da

prática da leitura (ZILBERMAN, 1989; SILVA, 1997).


Analisando o segundo aspecto verificado durante a pesquisa, os hábitos dos

usuários-leitores da Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias,

consideramos que a biblioteca tem favorecido ao desenvolvimento cognitivo e

cultural dos sujeitos, através das situações de práticas leitoras que surgem no

interior deste espaço, subsidio imprescindível para o desenvolvimento sócio-cultural

dos indivíduos participantes da relação leitura e biblioteca. Pois, no que diz respeito

à utilização de outra biblioteca, nota-se, que 56% não freqüentam outra biblioteca. E

do total de respondentes que freqüentam outras bibliotecas (44%), 75% declararam

utilizar de bibliotecas escolares, e 25% de bibliotecas universitárias.


Figura 3



                    Freqüência de outras bibliotecas

                                               Não freqüentam outras
              11%
                                               bibliotecas

                                               Freqüentam bibliotecas
                                               escolares
    33%                               56%
                                               Freqüentam bibliotecas
                                               universitárias



          Fonte: dados da pesquisa
56

Ao examinarmos as informações da figura 4, podemos destacar que o tipo de livro

que os usuários-leitores mais fazem uso é o de literatura (34%). Em segundo lugar,

aparece o livro didático (31%). Em terceiro, a poesia (19%). E finalmente o livro de

ficção científica (16%) como o menos citado. Esclarecemos que alguns usuários-

leitores optaram por mais de um tipo de livro.


Observando que o maior índice de preferência de livros recai sobre o livro de

literatura, indica que os usuários-leitores utilizam deste tipo leitura como fonte de

prazer. Uma vez que, a literatura é uma forma de apropriação lúdica do real, pois

dos textos escritos, o literário, introduz na dimensão da leitura o lado do prazer

desinteressado que outros textos não o fazem, liberando o leitor do peso da

realidade. (ZIBERMAN, 1989). Outra possível e importante indicação dos dados é de

que os livros de literatura, e os livros didáticos, tem sido preferência por exigências

dos vestibulares e de professores de língua portuguesa, o que reforça a hipótese de

que o público freqüentador da Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha Campos

Dias é de estudantes.


Figura 4



                        Preferência Literária
              34                                      Literatura
                     31
                                                      Didático
                              19
                                      16              Poesia

                                                      Ficção
                                                      Científica


        Fonte: dados da pesquisa
57

Ao perguntamos quantos livros os usuários-leitores haviam lido, no ano de 2009

(ano da pesquisa), excetuando os livros escolares, obtivermos o seguinte

percentual: 82% responderam ter lido mais de três livros, 7% dois livros, 7% um livro,

e 4% responderam nenhum.           Estes dados são de grande relevância, visto que,

pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Leitura, em 2007 revela que a média brasileira

de livros lidos é de 3,7 livros por habitantes/ano.


A comparação da média nacional com os 82% dos respondentes que afirmaram ter

lido mais de três livros no ano de 2009, sinaliza que o espaço da Biblioteca Pública

Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias tem sido utilizado para a formação do

hábito de leitura entre os freqüentadores daquele espaço, o que contribui para a

inclusão e participação desses sujeitos na sociedade. Visto que, para Silva (1986;

2004), sem dúvida o gosto pela leitura resulta de práticas de leitura, uma vez que o

texto é um modo de se inteirar das realidades e interagir com a coletividade, que

serve como instrumento de inserção das pessoas no mundo e para seus

relacionamentos como os grupos sociais com os quais estão envolvidas e que

constituem nosso cotidiano.


Figura 5



            Quantidade de livros lidos no ano de 2009

                        4%    7%
                                                  Um livro
                                    7%
                                                  Dois

                                                  Mais de três livros
      82%
                                                  Nenhum livro



        Fonte: dados da pesquisa
58

A leitura exerce papel fundamental no modelo de sociedade vigente onde são cada

vez mais fortes as necessidades de obter conhecimento e informação. O processo

de construção do sujeito enquanto cidadão, de desenvolver-se social e

intelectualmente, está diretamente relacionado com seus hábitos e práticas de

leitura, no entanto os dados da nossa pesquisa revelam que 63% dos respondentes

não realizam compra de livros, e o restante (37%) declara comprar livros, como

mostra a figura 6.


Figura 6



                         Compra de Livros


                          63
                                             Compram livros

                  37
                                             Não compram
                                             livros



           Fonte: dados da pesquisa




De acordo com a análise destes dados pudemos verificar que mais da metade dos

respondentes tem acesso restrito ao livro, portanto, de todo o conhecimento e

informação registrados pela escrita e significado pela leitura. O que para Silva

(1986), está diretamente relacionada com o poder aquisitivo das classes

trabalhadoras, uma vez que a falta de acesso ou acesso restrito torna empobrecida

as condições sócio-culturais do povo. Pois, a prática de leitura tem relação direta

com as condições econômicas das famílias e dos indivíduos.
59

4.3 – Os Significados que a Leitura Produz




Nos parágrafos seguintes pretendemos analisar, através das falas dos sujeitos

entrevistados que freqüentam a Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha

Campos Dias, os usos e significados que as práticas leitoras produzem no âmbito da

biblioteca, e suas contribuições para a formação do sujeito letrado.


Alguns exemplos das falas mostram como os sujeitos concebem a noção de leitura

em suas vidas e para as suas vidas. A recorrência aos termos utilizados para o

conceito do que poderia definir o ler possibilitou propormos as categorias que a

seguir apresentaremos.




4.3.1 – Ler é adquirir conhecimento




O ato de ler é conceituado por Silva (1986), como fundamentalmente um ato de

conhecimento. Possibilitando-nos a adquirir informações, elaborarmos sentidos e

desenvolvermos reflexões críticas sobre os mais variados assuntos que se

apresentam a nossa volta.


A idéia que os sujeitos expressaram sobre a leitura direciona-se à compreensão de

que a leitura é uma via de acesso ao conhecimento, aproximando-se do que o autor

acima citado expõe. Sejam conhecimentos de ordem informacionais, ou sobre

conhecimentos educacionais, sociais, políticos, ou do cotidiano.
60

                      “Leitura é conhecimento. É via de acesso ao conhecimento”.
                     (L. 06)

                      “É fonte de informação, conhecimento”. (L. 08)

Na resposta seguinte é expressa, mesmo que inconscientemente, a idéia de leitura

que afasta o sujeito do senso comum, uma vez que, os processos de leitura da

palavra proporcionam o acesso, a compreensão e a reflexão sobre os diversos

textos e situações, ao mesmo tempo em que propiciam o questionamento e a

transformação dos mundos que nos circundam. (SILVA, 2004)


                     “[...] sem a leitura a pessoa não vai a lugar nenhum, não
                     aprende nada”. (L. 04)

A idéia expressa a importância da leitura para a vida do sujeito na sociedade letrada,

onde o poder da palavra impressa é fator determinante nas relações existentes no

mundo dos dominantes exploradores e dos explorados oprimidos.




4.3.2 – Ler é interagir, é construção de sentido




Na perspectiva interacional da leitura onde leitor e autor interagem mutuamente

através do texto, as interpretações e reações do leitor são respostas previstas pelo

autor, ou seja, provocações intencionais. Esta também, é uma das concepções de

leitura apresentadas em uma das falas dos entrevistados.


                     “Leitura é uma forma de você interagir com o tema [...]”. (L 03)

                     “É abrir a mente, deixa a gente informado, trabalha a mente”.
                     (L. 07)
61

O ato de ler então não se constitui numa relação de leitor-receptor e de autor-

receptador. A atividade de leitura é uma interação a distância entre leitor e autor via

texto. O leitor constrói um sentido global para o texto, formula e reformula hipóteses,

aceita ou não aceita as conclusões do autor. (KLEIMAN, 1989)


A idéia de leitura interacional requer a participação efetiva e permanente do leitor na

construção de sentido. Pois, a interação e construção de sentido estão

condicionadas ao conhecimento do leitor, seus valores, suas vivências, e seu lugar

social. (SILVA, 2004; KOCH, 2007).


Essa construção de sentido significa, também, aprender a ler o mundo. Podemos

reconhecer que através do ato de ler estamos condicionados a conhecer valores,

princípios, idéias que estão presos a nossa realidade de acordo com o contexto de

cada sujeito. Isso significa que as reflexões que somos capazes de realizar, os

pensamentos que organizamos acerca das situações cotidianas, as opiniões que

emitimos de forma crítica e autônoma, são capacidades desenvolvidas a partir da

leitura, não necessariamente da leitura da palavra, mas da leitura do mundo.


Durante a análise das informações obtidas encontramos o conceito de leitura de

mundo explicitada nas respostas dos usuários-leitores.


                     “Ela me ajuda no estudo, é ver o mundo”. (L 09)

                     “É uma forma de se expressar melhor. De entender as coisas o
                     mundo. Com a leitura a gente consegue desenvolver certas
                     capacidades que até então não eram percebidas por nós e
                     pelos outro”. (L 02)

Em seu artigo A importância do ato de ler, Freire (2002, p.12), declara: ―A leitura do

mundo precede a leitura da palavra; a leitura desta implica a continuidade da leitura

daquele‖. Não nos resta dúvida quanto à pertinência de tal declaração. Pois, ler a
62

palavra implica compreender uma diversidade de realidades que permeiam os

envolvidos no processo da leitura e interpretação.


Nesse sentido, as diversas experiências e possibilidades de conhecer e de aprender

essas múltiplas realidades através da leitura, vão muito além da leitura dos signos.




4.3.3 – Leitura para a alfabetização e o letramento




Compreendemos que ser letrado, é ser um sujeito capaz de utilizar as habilidades

de ler e escrever em eventos de práticas sociais. Pois, segundo Kleiman (1995, p.

19): ―Podemos definir hoje o letramento como um conjunto de práticas sociais que

usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos

específicos, para objetivos específicos‖.


O termo letramento está implícito na fala do usuário-leitor L 02, ―[...] Com a leitura a

gente consegue desenvolver certas capacidades que até então não eram percebidas

por nós e pelos outro”. (L 02). Pois, os usos da escrita e a utilização das habilidades

de leitura estão ligados às práticas sociais, individuais e coletivas da leitura, e a

capacidade do indivíduo de participar ativamente em situações de práticas de leitura

e escrita na sociedade letrada. Ou seja: coerentemente com o conceito apresentado

em Soares (1998), letramento é o estado ou condição de indivíduos ou de grupos

sociais de sociedades letradas que exercem efetivamente as práticas sociais de

leitura e de escrita, participam competentemente de eventos de letramento.
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Práticas de leitura na biblioteca pública

  • 1. 10 INTRODUÇÃO Na atual conjuntura socioeconômica, a busca pelo conhecimento e informação tem sido continua. Neste sentido, destacamos a importância da leitura para a formação de sujeitos críticos, reflexivos e socialmente incluídos. Mediante as necessidades educativas do modelo social vigente, compreendemos a biblioteca pública como espaço privilegiado de produção e construção do conhecimento, através da ação e interação dos sujeitos, uma vez, que é através das práticas de leitura na biblioteca pública, que os eventos sociais de letramento se dão. Tendo em vista estas questões, o presente trabalho tem o objetivo de conhecer as práticas de leitura na biblioteca pública municipal e suas contribuições para a formação de sujeitos letrados, verificando o que a biblioteca oferece para os usuários e para a comunidade em geral. Esta pesquisa foi motivada pela necessidade de refletir sobre a biblioteca pública municipal Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias, como mediadora da construção do conhecimento. Para tanto, traçamos o perfil histórico da biblioteca pública na Brasil e no mundo, da antiguidade ao dias atuais, trazendo teóricos como Martins (1998), Milanesi (1983; 1997; 2000), Suaiden (1980; 2000). Assim como, percorremos o caminho da leitura nas suas diversas concepções, fundamentados em Freire (1990; 2002) Silva (1991; 2005), Solé (1998), Morais (1996), Koch (2007), Olson (1997), Orlandi, (1993). E finalmente, perpassamos os conceitos e práticas de
  • 2. 11 letramento embasados em Kleiman (1995; 1998), Zilberman, (2007), Tfouni (2006), Soares (1995; 1998; 2003), Di Nucci (2008), Barbato (2007). Neste sentido, considerando a relação dinâmica entre universo real e sujeito, este trabalho compreende elementos de pesquisa qualitativa. Utilizando dos seguintes instrumentos de coleta de dados: observação participante, entrevista semi- estruturada, questionário fechado, análise documental, e pesquisa bibliográfica. E para a organização dos dados levantados, ao longo da pesquisa, este trabalho esta dividido em quatro capítulos, a saber: No primeiro capítulo, apresentamos a movimentação para a proposta da pesquisa, nossas interrogações e inquietações quanto à delimitação do tema, nossos objetivos e a relevância do presente estudo. O segundo capítulo compõe-se de um breve histórico das bibliotecas públicas, sua origem, suas concepções, e transformações sofridas ao longo dos séculos. Alem disso, apresenta considerações sobre as práticas de leitura necessárias para a construção cidadã. E ainda, discute algumas concepções e práticas de letramento no contexto social. No terceiro capítulo, abordamos a trajetória da Biblioteca Pública Prof.ª Zenáurea Terezinha Campos Dias, trazendo um resgate histórico, bem como a caracterização dos sujeitos escolhidos para a pesquisa e os instrumentos utilizados para a coleta de dados. O quarto capítulo trata da análise e interpretação dos dados, mediante as informações colhidas, acerca da Biblioteca Pública de Senhor do Bonfim. Apresenta
  • 3. 12 o perfil do leitor-usuário, e as construções que foram possíveis de ser evidenciadas através das nossas leituras a respeito do universo estudado e seus sujeitos. Nas considerações finais, apresentamos reflexões tecidas acerca do papel da biblioteca pública no contexto social, como mediadora do desenvolvimento individual e coletivo.
  • 4. 13 CAPÍTULO I ALGUMAS INTERROGAÇÕES À REALIDADE: CONTORNANDO A PESQUISA 1.1 – Movimentação para a proposta de pesquisa A sociedade contemporânea vem se tornando cada vez mais exigente no que diz respeito à formação intelectual dos sujeitos, seja no campo social, econômico ou cultural. A busca pelo conhecimento e informação é crescente, na mesma proporção da intensa necessidade do uso das novas tecnologias de informação e comunicação, que por sua vez, tem exigido incessantemente sujeitos capazes do uso competente destas tecnologias. Nessa perspectiva, a demanda educativa é evidente, e também, cada vez mais crescente, estando presente nas mais diversas esferas da vida do sujeito, desde o lazer, a participação política e social, às oportunidades de desenvolvimento econômico e cultural do individuo, e da sociedade. Desse modo, vemos que um dos instrumentos absolutamente precisos para uma formação que possibilite sujeitos-cidadãos competentes, críticos frente a sua realidade, reflexivos e autônomos, é a leitura. Prática esta que se constitui historicamente no processo civilizatório da humanidade, é incontestavelmente, um elemento de suma importância para a formação, progresso social e econômico de um país, e para a realização individual dos sujeitos, pois, a leitura enquanto atividade humana e prática social permite ao leitor, não só compreende a sua
  • 5. 14 sociedade com maior alcance intelectual, mas pode estender sua visão do mundo como um todo, reconhecendo no texto escrito o que está além da palavra escrita, passando a constituir o legado da história humana e a fazer parte desta história (KLEIMAN,1989). A leitura em sua natureza comunicativa e reflexiva permite ao sujeito abrir-se para novos horizontes e experimentar outras alternativas de existência, e de maneira direta ou indireta, refletir sobre o contexto social em que está inserido. Dessa forma, o ato de ler é essencial à vida dos indivíduos em meio à sociedade em constante evolução, é uma necessidade que leva o sujeito à aquisição de significados na vida cotidiana repleta de oportunidades que requerem o uso da leitura, fazendo desta uma prática cultural transformadora, (SILVA, 1997). No âmbito escolar a formação de leitores, é sem sombra de dúvidas, um dos principais objetivos, pois educar leitores para o convívio social, ou ainda, promover os estudantes a leitores participantes e atuantes, é papel da escola em sua função social e emancipadora. Pois, a nível de intenção, a instituição escola quer educar e promover o progresso de um tipo de leitor que não seja conveniente, ou que se ajuste ingenuamente à realidade que esta aí, mas que, pelos processos de leitura (praticados e aprendidos na escola), participe ativamente da transformação social, (SILVA, 1991). Uma vez que, é imprescindível, esta formação tomada como finalidade básica estabelecida mediante as práticas de leitura na escola, provocando o aluno a compreensões, reflexões e ações transformadoras. A escola enquanto elemento básico para a formação e orientação de leitores, constitui-se no ambiente mais favorável para o despertar do gosto pela leitura e à promoção do hábito da leitura nas crianças e jovens, uma vez que sua importância
  • 6. 15 neste processo se deve, principalmente, ao fato de que nela os alunos adquirem a habilitação inicial na prática de leitura. (ZILBERMAN, 1989). Porém, muito tem se observado que o exercício da leitura, na escola, tem se restringido a mera decodificação de símbolos em sons fonéticos, o que não desperta no aluno o gosto e o prazer pela leitura, resumindo-a num ato puramente mecânico sem atribuição de sentido, transformando-a num ato enfadonho, acrítico e mecânico. O que se faz nas escolas é apropriação da decodificação mecânica de símbolos. Deste modo os alunos apreendem a ler, mas não se tornam leitores, o que contribui para afastar o aluno, sobretudo os das camadas populares, do conhecimento (SOARES,1988). O que se vê no meio escolar, é a colocação das práticas de leitura como verdadeiras camisas-de-força nos estudantes (SILVA, 1991), agindo de maneira oposta, afastando seu público de qualquer chance de gosto pela leitura, ao invés do que se espera que é o favorecimento ao desenvolvimento das habilidades e competências, e ao desenvolvimento do potencial de leitura dos alunos, sujeitos do processo. Mediante esse contexto, o aluno acaba por afastar-se dos livros fazendo com que desconheça o mundo ao seu redor, alienando-se das informações e, conseqüentemente omitindo sua participação na sociedade. Além disso, ele distancia-se de descobrir o ato de ler como um momento de prazer, e a leitura como fonte de lazer. Nesta perspectiva, observando-se a necessidade da formação de leitores para a participação social, que por sua vez está condicionada à visão de mundo do sujeito, seus valores, seus conhecimentos, suas reflexões e visão crítica, enfim, está condicionada ao uso e as práticas de leitura como instrumento de conhecimento, destacamos a importância da biblioteca pública como meio de aquisição da leitura e de acesso ao mundo letrado. A biblioteca assume lugar de prestígio no processo de
  • 7. 16 democratização da leitura, junto à escola, visto que, as práticas de leitura no âmbito da biblioteca se amarram ao projeto de libertação das classes oprimidas (SILVA, 1991). Num país como o nosso historicamente marcado pela desigualdade de classes, onde as condições de leitura são visivelmente precárias, as escolas e bibliotecas públicas são, sem dúvida, as duas instâncias mais diretamente ligadas à formação do leitor, e ao acesso ao mundo da escrita (ZILBERMAN, 1989). Visto isso, é inegável que a formação e sustentação do gosto pela leitura são fruto da aproximação básica entre leitor e a biblioteca, pois a promoção da leitura e a educação de leitores atravessam, indiscutivelmente, o contexto da biblioteca pública, uma vez que partes das obrigações escolares são realizadas dentro deste espaço. E ainda, a leitura tomada como prática social e de cidadania, construídas a partir das práticas de leitura realizadas dentro do espaço da biblioteca pública, aqui considerada como espaço de interação entre indivíduo e sociedade, promove o leitor à ação participativa e reflexiva para o exercício da cidadania. Assim, do ponto de vista educacional ―a biblioteca tem um papel importante na democratização do saber, uma vez que facilita oportunidade de formação, oferecendo a cada individuo condições de desenvolver suas aptidões particulares‖ (ZILBERMAN, pág. 18, 1989). Em razão do contexto acima indicado, da dinâmica que se estabelece entre aluno letrado, escola, biblioteca e sociedade, e das mais variadas formas que se apresentam às necessidades educativas urgentes, consideramos oportuno o desenvolvimento de uma pesquisa sobre o tema, por considerar primordial a análise e compreensão da importância do acesso ao mundo da leitura e escrita, numa sociedade que vem se tornando cada vez mais exigente no que diz respeito à
  • 8. 17 formação intelectual dos sujeitos, seja no campo social, econômico ou cultural. Embora contraditoriamente, a grande massa da população ainda seja mantida longe do mundo letrado e da cultura escrita, de modo geral. Tendo em vista todas estas questões, tornam-se fundamentais algumas reflexões no tocante à leitura, formação de sujeitos letrados e a biblioteca pública municipal como espaço de construção do conhecimento, através da ação e interação dos sujeitos. Propusemo-nos, a conhecer quem seriam os sujeitos a fazerem uso deste espaço, quais os anseios que os levam a freqüentar assiduamente ou não, a biblioteca pública, o que esta biblioteca oferece para a comunidade, quais as práticas de leitura e de letramento que acontecem ali, em que elas contribuem para a formação destes sujeitos e para a comunidade de modo geral. Uma vez que, a biblioteca pública tomada como produtora-condutora do conhecimento através das práticas de leitura que acontecem no seu interior; é também, elemento básico no processo de educação de leitores praticantes; e necessariamente, espaço legítimo de luta pela democratização da leitura. Estaremos garantindo a sobrevivência mais digna aos sujeitos-cidadãos, numa sociedade onde livros e bibliotecas estiveram, historicamente, presentes no cotidiano da vida das elites, excluindo as camadas mais pobres do acesso ao mundo letrado. Elegemos como elementos a constituírem o problema a ser pesquisado as práticas de leitura na Biblioteca Pública Municipal Profa. Zenáurea Terezinha Campos Dias, no município de Senhor do Bonfim, e suas contribuições para a formação de sujeitos letrados. Além das indagações elucidadas, ainda uma pergunta que nos motivou para a realização desta pesquisa: Quais os objetivos do leitor ao consultar o acervo da biblioteca pública municipal?
  • 9. 18 Reunindo todas as questões que norteiam esta discussão delimitamos como objetivos compreender as práticas de leitura que ocorrem no interior da biblioteca, seu uso e significados; verificar o que a biblioteca pública municipal oferece para os usuários e comunidade em geral; conhecer quem é o leitor usuário deste espaço, de onde provem esta demanda; e ainda analisar quais os usos da leitura e os significados produzidos por esta prática. A relevância desta pesquisa consiste em estudar a biblioteca pública municipal Profa. Zenáurea Terezinha Campos Dias, como agente mediadora na construção do conhecimento, compreender as práticas que ocorrem no seu interior, e analisar fatores que contribuem para a formação de sujeitos letrados que possam atender a estas novas demandas educativas impostas na vida cotidiana e no meio social desses sujeitos. Contribuindo para o desenvolvimento de políticas públicas e ações comunitárias que viabilizem um número cada vez maior de sujeitos interessados na leitura e no desenvolvimento intelectual e social, possível através desta prática no contexto da biblioteca. Visto que, a biblioteca pública, é porta de entrada para o conhecimento, proporcionando condições básicas para a aprendizagem permanente, autonomia de decisão e desenvolvimento cultural aos indivíduos e grupos sociais. Tem papel importante no desenvolvimento e manutenção de uma sociedade democrática, ao disponibilizar para o individuo acesso ao conhecimento.
  • 10. 19 CAPÍTULO II EVENTOS E PRÁTICAS SOCIAS DE LEITURA E LETRAMENTO NA BIBLIOTECA PÚBLICA 2.1 – A Origem das Bibliotecas no Brasil e no Mundo 2.1.1 – Bibliotecas da Antiguidade: do Sagrado ao Profano A trajetória histórica da humanidade aponta diversas relações do homem com a construção do conhecimento, nos seus múltiplos aspectos. A possibilidade do registro do saber marca e define a sociedade humana, num fazer contínuo que se transforma a cada instante, neste âmbito, muitos séculos depois da invenção da escrita, a biblioteca surge como organismo de vital importância social na preservação do conhecimento. Na Idade Antiga, ou Antiguidade, período compreendido entre 4000 a.C. a 3500 a.C., fase da história em que surge a escrita, a humanidade passa a utilizar de mecanismos e suportes materiais para o armazenamento do conhecimento produzido. Deste período, há registros de escritos dos povos assírios, sumérios e babilônicos datados por volta do século VII a.C. em conjuntos de placas de argila que eram usados para registrar a escrita, o que pôde ser compreendida como
  • 11. 20 biblioteca (MILANESI, 1983). Além da argila, foram usados o papiro, pelos egípcios, no terceiro milênio a.C., e posteriormente o pergaminho, como suporte da escrita. Durante a Antiguidade, as bibliotecas foram uma espécie de ―depósito de livro‖, templos e palácios não acessíveis ao público, tinha a função mais de esconder do que divulgar seus escritos. Da antiguidade até a Renascença, o acesso ao livro não esteve à disposição dos profanos, as bibliotecas eram como organismos mais ou menos sagrados, ou pelos menos, religioso, pois somente os sacerdotes, igualmente sagrados ou religiosos, detinham o saber (MARTINS, 1998). Entre as bibliotecas deste período, está a mais antiga, datada do século VII a.C., a grande biblioteca de Nínive, criada pelo Rei Assurbanipal. Entretanto, a mais celebre da Antiguidade fora a biblioteca de Alexandria, datada do século IV a.C. Apesar da existência desta biblioteca, a precariedade física do suporte material fez com que a maior parte do registro do pensamento humano da época se perdesse, a exemplo, a biblioteca de Alexandria que existiu mais de setenta mil volumes que se perderam durante três incêndios sofridos. (MILANESI, 1983; FERNÁNDEZ ABAD, 2006). Não muito diferente da Antiguidade, as bibliotecas da Idade Medieval conservaram seu caráter religioso, e a concepção de biblioteca como conservatório e depositário de livro. No reduto de conventos e mosteiros, ainda durante muitos séculos, foram os religiosos que contribuíram para a conservação das obras literárias e Escrituras religiosas, e por vezes, também os escritos profanos. No entanto, o acesso aos livros e à bibliotecas medievais era restrito aos pertencentes à ordem religiosa, de modo que o controle também se estendia ao trabalho dos monges escribas que se ocupavam da transcrição de manuscritos clássicos. Contudo, durante este período da história, ocorreu que:
  • 12. 21 [... o livro medieval conservou os conhecimentos, guardou-os para a Renascença, hibernou-os nos conventos, e preparou, em conseqüência, sem o saber e, em certo sentido, sem o querer, o movimento intelectual que substituiria a tábua medieval de valores. A Renascença não teria sido possível, no que concerne às obras escritas, se a Idade Média não tivesse possuído esses enormes silos que foram as suas bibliotecas monásticas, universitárias e particulares...]. (MARTINS, p.96, 1998) A antiga biblioteca medieval de um mosteiro beneditino, onde eram guardadas as grandes e preciosas obras da sabedoria grega e latina conservada através dos séculos pelos monges, foi descrita pelo crítico literário italiano Umberto Eco, em obra ―O Nome da Rosa‖: Homens devotos trabalharam durante séculos, seguindo férreas regras. A biblioteca nasceu segundo um desenho que permaneceu obscuro a todos durante séculos e que nenhum dos monges é dado conhecer. Somente o bibliotecário recebeu o segredo do bibliotecário que o precedeu, e o comunica, ainda em vida, ao ajudante-bibliotecário, de modo que a morte não o surpreenda, privando a comunidade desse saber. E os lábios de ambos estão selados pelo segredo. (ECO, 1983, p. 53) Essas bibliotecas, segundo Eco (1983), eram ―labirintos espirituais e labirintos terrenos‖, por isso, não podia ser penetrada por qualquer mortal, e o saber registrado nos livros eram valiosos segredos ―Porque nem todas as verdades são para todos os ouvidos, nem todas as mentiras podem ser reconhecidas como tais por uma alma piedosa... (ECO, 1983, p. 54)‖. Os monges, monopolizadores de fato e de direito de toda a língua escrita, eram ao mesmo tempo, os monopolizadores de todos os conhecimentos religiosos, literários, científicos (MILANESI, 1983; MARTINS, 1998). Todavia, foi a partir da Renascença, que as bibliotecas surgiram como fenômeno de ordem social, sofrendo uma nítida e mais sólida laicização, pela perda do caráter sagrado e secreto do livro, para se transformar num instrumento de trabalho posto ao alcance de todas as mãos (MARTINS, 1998, p.323). Visto que, na história das bibliotecas ocorre um grande marco, que foi o aparecimento das universidades e a difusão do livro, no início da Renascença, que acelerou o processo de disseminação
  • 13. 22 democrática do livro, permitindo que o conhecimento humano registrado pela escrita chegasse a um número de pessoas cada vez mais crescente, expandindo a circulação das idéias, pois o livro (bem material) deixa os arredores dos conventos, fazendo das bibliotecas um serviço (bem consumível), deixando de ser considerada um tesouro. Desse modo, de acordo com Martins (1998): Para que a Renascença, movimento laico por excelência, pudesse ocorrer é necessário supor que os profanos tivessem acesso, um acesso cada vez maior, às bibliotecas, ou, pelo menos, que tivessem conhecimento dos manuscritos que somente nas bibliotecas existiam‖. (p.97) Grandes bibliotecas fizeram parte da história neste período, exemplo, as do Monte Atons, na Turquia, as italianas como a própria biblioteca do Vaticano datada do século XV, a de Saint-Gall, na França, famosíssima pelo numero de volumes, e de Fulda, na Prússia. Mas a que mais se destacou, sendo referência intelectual, adjetivando trabalhos de grande valor, foi a biblioteca da ordem dos Beneditinos. Logo, foi neste período da história, que os mosteiros salvaram, através das cópias sucessivas, grande parte da riqueza literária da Antiguidade. Pois, ao lado da oração com as regras dos mosteiros, estava o trabalho manual das infinitas cópias de manuscritos antigos. (MORIGI, 2006). Foi ainda na Renascença que as bibliotecas começaram a tomar seu sentido moderno, passando a serem entendidas já como organismo democrático em seu processo de evolução, de laicização, e de socialização, alargando o acesso ao livro, e sua circulação geral na sociedade. De modo que uma nova concepção de biblioteca começava a ser delineada: A biblioteca não é mais, por conseqüência, um mero depósito de livros: esse o mais importante de todos os pontos característicos na evolução do seu conceito. A sua passividade substitui-se um salutar dinamismo, a iniciativa de uma obra que é, ao mesmo tempo, de socialização, especialização, democratização e laicização da cultura. Ela desempenha dessa forma por menos que pareça, o papel essencial na vida das
  • 14. 23 comunidades modernas; é em torno dela que circulam todas as outras correntes da existência social. (MARTINS, 1998, p. 325) Porém, o acesso às bibliotecas permaneceu restrito a um grupo de privilegiados até o século XX, pois as grandes coleções pertenciam ao Estado e à Igreja, a idéia de biblioteca atendia a idéia de arquivo-museu. Somente após a Revolução Industrial com a expansão do operariado, a biblioteca passou a ser oferecida como serviço com determinada função educativa, acreditava-se no poder moralizador e educativo das leituras, sobre a comunidade. Posteriormente, após a segunda metade do século XX delineou-se uma nova função à biblioteca, a de sistematizar o acesso a informação passando a ser considerado um centro cultural sendo anexado a seu acervo novos suportes informacionais. (MILANESI, 1983; MARTINS, 1998; BARRETO, 2008; AQUINO, 2004). 2.1.2 – História da Biblioteca Pública do Brasil: da Realeza à Popularização O conceito de biblioteca pública é um conceito contemporâneo. O Congresso de Bibliotecários, promovido pela UNESCO, de 03 a 12 de outubro de 1951, assim definiu as bibliotecas públicas: A biblioteca pública, criação da democracia moderna está na vanguarda da luta encetada para assegurar plenamente a educação popular; seu papel consiste em conservar e organizar os conhecimentos humanos a fim de colocá-los ao serviço de toda a coletividade, sem distinção de profissão, de religião, de classe ou de raça. Seus objetivos são os seguintes: 1. Fornecer ao público informações, livros, material e facilidades diversas em vista de melhor servir seus interesses e de satisfazer às suas necessidades intelectuais; 2. Estimular a liberdade de expressão e favorecer uma crítica construtiva dos problemas sociais; 3. Dar ao homem uma formação que lhe permita exercer uma atividade criadora no quadro da coletividade e trabalhar no aperfeiçoamento da compreensão entre os indivíduos, entre os grupos e entre as nações;
  • 15. 24 4. Completar a ação dos estabelecimentos de ensino oferecendo à população a possibilidade de continuar a se instruir. (UNESCO. Le développement des bibliothèques publiques en Amérique latine, 1951, P.3, tradução nossa) No Brasil o documento que marca o início da história da biblioteca é datado de 05 de fevereiro de 1811, foi quando Pedro Gomes Ferrão de Castello Branco encaminhou um projeto ao Governo da Capitania da Bahia, solicitando a aprovação do plano para fundação da biblioteca. Este documento representa o princípio do acesso ao livro e das preocupações com a educação no Brasil. ―O plano foi aprovado, e a Biblioteca inaugurada no Colégio dos Jesuítas, em 04 de agosto de 1811‖ (SUAIDEN, 2000, p. 52). No entanto, a Biblioteca Real trazida de Portugal por D. João VI foi aberta ao público em 1814, a que viria a se transformar na Biblioteca Nacional anos mais tarde. Na República Velha como na Primeira República, as bibliotecas eram geralmente improvisadas, grande parte do acervo era formado a partir de doações, as instalações e os recursos humanos adequados eram precários (MARTINS, 1998). Durante a Primeira República, foram criadas muitas bibliotecas, mas foi somente a partir de 1937 que começaram a ser criadas políticas de incentivo à leitura. A criação do Instituto Nacional do Livro (INL) ―alavancou contribuições expressivas ao desempenho das bibliotecas públicas‖ (BARRETO, 2008, p. 30). Pela primeira vez encontra-se uma iniciativa nacional de estruturação da biblioteca pública, no ano de 1961 pelo Decreto Lei 51 223, foi criado o Serviço Nacional de Biblioteca, a fim de incentivar a criação de bibliotecas públicas em todo o país. Porém não é encontrado nenhuma menção à subsídios que favoreça o incentivo da leitura, e nenhuma política voltada para o interesse da população. (CALDAS, 2005)
  • 16. 25 No entanto, não foram alcançados os objetivos propostos pelo Serviço Nacional de Biblioteca, e em 1968 o Decreto Lei 62 239 incorporou o Serviço Nacional de Biblioteca ao INL. No referido período, Era necessário que a instituição biblioteca fosse dedicada à propagação de uma política de leitura. Mas a preocupação predominante era a preservação do material bibliográfico, e muitas se negavam a fazer o empréstimo domiciliar com receio de o livro ser furtado, e assim o profissional teria de dar conta do material permanente. (SUAIDEN, 2000, p. 54) Em 1989, primeira vez em que o termo leitura é mencionado por uma Fundação, o INL e a Biblioteca Nacional passam a integrar a Fundação Nacional Pró-Leitura, em 1990, o acervo e atribuições são transferidos para a Biblioteca Nacional. No ano de 1992, instituído pelo Decreto Presidencial nº. 520, foi criado o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas – SNBP, como objetivo principal de fortalecer as Bibliotecas Públicas do país. Seguindo os seguintes objetivos: I – incentivar a implantação de serviços bibliotecários em todo o território nacional; II – promover a melhoria do funcionamento da atual rede de bibliotecas, para que atuem como centros de ação cultural e educacional permanentes; III – desenvolver atividades de treinamento e qualificação de recursos humanos, para o funcionamento adequado das bibliotecas brasileiras; IV – manter atualizado o cadastramento de todas as bibliotecas brasileiras; V – incentivar a criação de bibliotecas em municípios desprovidos de bibliotecas públicas; VI – proporcionar, obedecida a legislação vigente, a criação e atualização de acervos, mediante repasse de recursos financeiros aos sistemas estaduais e municipais; VII – favorecer a ação dos coordenadores dos sistemas estaduais e municipais, para que atuem como agentes culturais, em favor do livro e de uma política de leitura no País; VIII – assessorar tecnicamente as bibliotecas e coordenadorias dos sistemas estaduais e municipais, bem assim fornecer material informativo e orientador de suas atividades;
  • 17. 26 IX – firmar convênios com entidades culturais, visando à promoção de livros e de bibliotecas. (FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Disponível em: http://www.bn.br/snbp) Foi a partir desse momento que se fortaleceram as iniciativas voltadas ao incentivo e a disseminação da leitura, provocadas pelo interesse político e mais os contingentes sociais (BARRETO, 2008). 2.1.3 – Biblioteca Pública no Brasil, hoje A capacidade de gerar conhecimento é uma característica marcante da sociedade contemporânea. No entanto, são claras as diferenças sociais e econômicas entre os que têm acesso e os que não têm acesso a situações e espaços onde as informações se fazem presentes. Nesse contexto, a biblioteca pública vem atuar como instrumento democrático, proporcionando igualdade de acesso e disponibilidade de todo tipo de conhecimento para todos. (PERROTTI; 1990) É evidente a relevância da existência da biblioteca na sociedade brasileira, dentro dos preceitos da modernidade, em seu papel social e informativo de caráter educacional e cultural, possibilitando a democratização do conhecimento e da informação, e contribuir para a formação do leitor. A Biblioteca Nacional guardiã máxima do registro do saber em nosso país (Fundação Biblioteca Nacional, 2000), traz em seu manual Biblioteca Pública, princípios e diretrizes, o conceito de biblioteca pública e suas características:
  • 18. 27 O conceito de biblioteca pública baseia-se na igualdade de acesso para todos sem restrição de idade, raça, sexo, status social, etc. na disponibilização à comunidade de todo tipo de conhecimento. [...] é um elo de ligação entre a necessidade de informação de um membro da comunidade e o recurso informacional que nela se encontra organizado e à sua disposição [...]. Assim, as bibliotecas públicas caracterizam-se por: 1) destinar-se a toda coletividade,ao contrário de outras que têm funções mais específicas; 2) possuir todo tipo de material (sem restrições de assuntos ou de materiais); 3) ser subvencionada pelo poder público (federal, estadual ou municipal). Ela difere da biblioteca comunitária/popular, que surge da comunidade e é por ela gerida, sendo o atendimento feito, geralmente, por voluntários. (Fundação Biblioteca Nacional, 2000, p.17-18). Suaiden (2000), traz discussões sobre os diversos segmentos da sociedade e as diferentes expectativas em relação ao papel da biblioteca púbica. Os educadores acreditam ser a biblioteca um alicerce do ensino-aprendizagem. Os intelectuais enxergam um espaço rico em literatura de ficção. O trabalhador comum a vê como um local para solucionar problemas cotidianos. O autor discute ainda, sobre a utilização do termo ―biblioteca pública‖ e critica o parcial atendimento que realiza. A própria denominação "biblioteca pública" pressupõe uma entidade prestando serviços ao público em geral, independentemente das condições sociais, educacionais e culturais. Nesse aspecto, reside a grande falha da biblioteca pública, pois, até hoje, o único segmento da sociedade que é atendido parcialmente, em pequena proporção, é o dos estudantes de primeiro e segundo graus. (SUAIDEN, 2000, p.57) E segue com a afirmativa, ―Na batalha que trava para responder às inquietações da sociedade sobre o seu papel, a biblioteca pública perde cada vez mais prestígio e poder, deixando de ser o grande centro disseminador da informação, por tentar ―ser tudo para todos‖ (SUAIDEN, 2000, p.57). Em novembro de 1994, a Federação Internacional das Associações de Bibliotecários e de Bibliotecas (IFLA), junto com a UNESCO aprovam o MANIFESTO DA UNESCO SOBRE BIBLIOTECAS PÚBLICAS acerca do papel e importância da biblioteca pública, donde citamos um ponto básico:
  • 19. 28 A biblioteca pública é o centro local de informação, tornando prontamente acessíveis aos seus utilizadores o conhecimento e a informação de todos os gêneros. Os serviços da biblioteca pública devem ser oferecidos com base na igualdade de acesso para todos, sem distinção de idade, raça, sexo, religião, nacionalidade, língua ou condição social. Serviços e materiais específicos devem ser postos à disposição dos utilizadores que, por qualquer razão, não possam usar os serviços e os materiais correntes, como por exemplo, minorias lingüísticas, pessoas com deficiências, hospitalizadas ou reclusas. (Manifesto da IFLA/UNESCO Sobre Bibliotecas Públicas, 1994. disponível em: http://archive.ifla.org/VII/s8/unesco/port.htm Este Manifesto expressa ainda o caráter gratuito da biblioteca pública e quanto ao seu financiamento e legislação, ―os serviços da biblioteca pública devem, por princípio, ser gratuitos. A biblioteca pública é da responsabilidade das autoridades locais e estatais. Deve ser objeto de uma legislação específica e financiada pelos governos nacionais e locais‖. E assegura a formulação de políticas de funcionamento e gestão dizendo ―Deve ser formulada uma política clara, definindo objetivos, prioridades e serviços, relacionados com as necessidades da comunidade local‖. No entanto, o advento das novas tecnologias, e todas as questões e discussões advindas desse contexto, têm mudado consideravelmente, alterando e ampliando, a função da biblioteca pública. ―No início do século XXI, o cenário das bibliotecas é alterado principalmente em relação às formas de acesso às informações; as bibliotecas buscam encontrar novos caminhos na sociedade da informação‖. (MARCELINO, 2009, p.87) na tentativa de garantir nesse espaço as oportunidades para desenvolver o hábito e a difusão da leitura e informação. Gradualmente as bibliotecas, que passam por transformações de estruturas físicas, e de processos, vem se apropriando das inovações tecnológicas. ―A biblioteca deixa de ser um tranqüilo depósito de livros para tornar-se o ponto focal de pesquisa variada, acessada a qualquer hora por usuários virtuais de vários lugares do
  • 20. 29 mundo‖. (LEVACOV, 1997, p.126). Logo, o que pode se dizer, é que de fato cresce a consciência de que a biblioteca não é mais única fonte de informação. Através das tecnologias de informação, pode-se melhorar em muito o processamento de informação, a relação biblioteca e desenvolvimento intelectual e social de seus usuários. Pois, a biblioteca pública em seu caráter social, é um espaço democrático por excelência que pode minimizar as diferenças entre os que têm acesso e usam as informações e os que estão excluídos desse processo, garantindo a democratização da informação. Bem como diz Cunha (2003): A sociedade da informação, nos diferentes espaços geográficos em que vem sendo concebida, atribui à biblioteca pública a missão especial de assegurar a democratização do acesso em rede, a oferta de produtos e serviços de qualidade que contribuam para diminuir as desigualdades sociais e estimular os usuários a utilizar a Internet como instrumento de ampliação de conhecimento e convivência‖. (p.72) Nesse sentindo, o novo cenário que desponta no âmbito da biblioteca pública, favorece o desenvolvimento humano, permitindo a disseminação das informações, através da adoção de novas medidas tecnológicas. No cenário tecnológico da sociedade da informação, as bibliotecas passam por um avanço progressivo e caminham para uma biblioteca que pode tornar-se totalmente digital. Seja como for, a democratização e a socialização da biblioteca pública são em nossos dias, uma realidade indiscutível (MARTINS, 1998, p. 331).
  • 21. 30 2.2 – Práticas de Leitura: Condição para Construção Cidadã A sociedade moderna traz no seu bojo diversos meios e fontes que permitem o acesso as informações e conhecimentos. Em meio a essa diversidade de informações e tecnologias que avançam e se superam diariamente, estão presentes as habilidades desenvolvidas pelo homem desde os primórdios, a leitura e a escrita. Que correspondem às habilidades essenciais necessárias para que os sujeitos desta realidade possam vivenciar um cotidiano repleto de mudanças, refletindo sobre estas transformações que ocorrem no meio social, econômico e cultural num ritmo muito acelerado. Neste panorama, dentro de uma sociedade desenvolvida, a leitura se coloca como via de acesso eficaz ao conhecimento – ainda que pelo intenso progresso da mídia e dos diversos meios eletrônicos de comunicação – o acesso ao conhecimento, depende primordialmente dos livros e das habilidades e competências imprescindíveis do leitor. Por que ler pouco ou não ler numa sociedade letrada, torna o ser humano inferiorizado, provocando desvantagens profundas entre os que adquirem, e os que não adquirem essa aprendizagem. (ZILBERMAN, 1989; SOLÉ 1998) Não nos restam dúvidas de que a leitura é uma questão pública e social. Pública, no que diz respeito às informações que circulam no meio social, veiculadas através da leitura e da escrita. ―A leitura é uma questão pública. É um meio de aquisição de informação (e a escrita um meio de transmissão de informação), portanto, um componente de um ato social‖ (MORAIS, 1996, p. 12). E social, quando o
  • 22. 31 desenvolvimento intelectual e econômico de uma sociedade depende primordialmente das oportunidades de acessos a estas práticas de leitura e escrita. Leitura é indiscutivelmente um problema da sociedade. O desenvolvimento econômico é condicionado pela possibilidade que terão os homens e mulheres ativos (e não apenas certas camadas sociais), de tratar a informação escrita de uma maneira eficaz. (MORAIS, 1996, p. 12). Neste sentido, as necessidades de conhecimento e informação extrapolam as situações cotidianas de ler o anúncio do jornal ou ler a bula do remédio. Tornou-se uma exigência de grau elevado quando nos defrontamos com a vida profissional, uma vez que as ofertas de bons empregos estão condicionadas ao nível de formação intelectual do sujeito. Assim, a formação intelectual disponibilizada pela prática de leitura oferece, além da aquisição de habilidades necessárias para a vivência diária em sociedade, acessos ao conhecimento organizado e acumulado por esta sociedade, através da escrita, ou seja, acesso a informação e desenvolvimento tecnológico, acesso ao mercado de trabalho, e as mais diversas possibilidades de ascensão profissional e pessoal. Na perspectiva de Osakabe (1993), Aprender a ler não corresponde simplesmente à aquisição de um novo código ou de um simples desenvolvimento de um tipo de percepção através do acréscimo de uma habilidade. Aprender a ler, é também, ter acesso a um mundo distinto daquele em que a oralidade se instala e organiza: o mundo da escrita. (p. 149) Dentro da perspectiva de Koch (2007), a leitura é uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentido, que requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo. É uma atividade que leva em conta as experiências, as informações e os conhecimentos do leitor, o que propicia a construção de sentido, pois permite que o leitor critique, avalie e chegue a um dos vários significados do texto. Pois, ―considerar o leitor e seus conhecimentos e que
  • 23. 32 estes conhecimentos são diferentes de um leitor para o outro implica aceitar uma pluralidade de leituras e de sentidos em relação a um mesmo texto‖ (p.21). Visto isso, ao mesmo tempo em que leitura propõe sentido, provoca criticidade, pois, o leitor crítico atenta não só o que o texto diz, ou quer dizer, mas também para a intenção do autor, distinguindo o que o autor tenta fazer crer daquilo que ele, o leitor, esta querendo acreditar (OLSON, 1997). É nesse movimento que se dá a relação autor e leitor, no que se revela a partir da interpretação do leitor, daquilo que não esta propriamente nas palavras do texto, que não o compreende na sua literalidade. ―Quando se lê, considera-se não apenas o que está dito, mas também o que está implícito: aquilo que não está dito e que também está significado‖ (ORLANDI, 1993). A leitura corresponde também, a um modo particular e individual de integração entre os homens, a história e as gerações. Proporciona a experiência fundamental da realidade, que permite a compreensão dos registros culturais que representam o passado, e a compreensão do real, que significa utilizar do seu próprio conhecimento proporcionado pelas diversas experiências pessoais. De acordo com Kleiman (1989), A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. E porque o leitor justamente utiliza diversos níveis de conhecimento que interagem entre si, a leitura é considerada um processo interativo. Pode-se dizer com segurança que sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor não haverá compreensão. (p.13) Evidentemente através das experiências da leitura o sujeito encontra novas formas de compreender o mundo, de interagir com as pessoas e o meio social. Neste
  • 24. 33 sentido, a leitura permite a construção e atribuição de significado ao mundo a partir de pontos de vista elaborados e verificações permitidas por esta prática. Que para Zilberman (1993), ―Compreendida de modo mais amplo, a ação de ler caracteriza toda a relação racional entre o indivíduo e o mundo que o cerca‖ (p.17). Silva (2004) propõe que o texto, é como tudo aquilo que provoca e possibilita significados. Portanto, as habilidades de leitura e compreensão, desenvolvidas por meio dos textos, dos símbolos, das imagens, proporcionam encontros com o conhecimento, com as experiências e possibilidades de conhecer e compreender a realidade que compõe o nosso cotidiano, que consistem a existência humana se concretiza no ato de ler, pois ―é na e com a comunidade que se aprende a ler e a atribuir significado aos textos nela contido‖, (SILVA, 2004, p.17). Para perspectiva freiriana, inicialmente, experimentamos e aprendemos a ler o mundo, na tentativa de compreender as múltiplas situações que permeiam o nosso dia-a-dia. A leitura do mundo no seu sentido mais amplo condiciona o homem ao convívio com os demais sujeitos, habilita-o para a compreensão do real e das palavras. Assim, desenvolver a capacidade de ler e escrever a palavra, de modo que alguém possa ler em outro momento, é como diz Freire (1990), ―precedidos do aprender como ‗escrever‘ o mundo, isto é, ter experiência de mudar o mundo e de estar em contato com o mundo‖ (p.31). O ato de ler coloca-nos a refletir sobre a leitura em sua essência, mais que decodificar símbolos. É, portanto, através da própria leitura em um processo contínuo de reflexão que nos reconhecemos como seres humanos sociais dotados de capacidades e entendimento.
  • 25. 34 Ler não é decifrar palavras, mas consiste num exercício de compreensão que, talvez pela sua complexidade, se torna um fator atrativo envolto num mundo cheio de mistérios, até porque o ato de ler é, antes de tudo, compreender o mundo‖. (Santos-Théo, 2003, p.01) Visto isso, compreendemos que o ato de ler transcende a decodificação daquilo que está escrito, significa pensar e desenvolver posição crítica sobre valores e idéias, é um processo contínuo de trocas entre o indivíduo e o mundo. Freire (2002), nos ensina sobre o ator de ler: [...] uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. (p.11) Desse modo, podemos compreender a leitura como uma atividade essencialmente humana. A leitura se constitui num processo de construção do leitor, que proporciona compreensão e reflexões sobre os diversos textos e mundos que nos cercam. Estas construções resultam da atividade comunicativa e da interação social humana, pois a leitura de um texto, ou da palavra, exige uma análise, um conhecimento, uma leitura dentro do conhecimento real/social que o sujeito se insere. ―O ato de ler e escrever é um ato criativo que implica uma compreensão crítica da realidade‖. (FREIRE, 1990, p. 105) Sob este mesmo ponto de vista, Silva (2005), enfoca a leitura como uma forma de encontro e comunicação entre os sujeitos. Pois, a relação dos homens entre si, portanto, as experiências vividas a partir da participação da realidade sócio-cultural, são garantidas através da mediação dos signos impressos. Visto que, a diversidade de informações adquiridas através da leitura de diversos gêneros instiga o sujeito à construção de diálogo e comunicação mais autênticos. Neste sentido, ―ler é realmente participar mais crítica e ativamente da comunicação humana‖ (p. 41).
  • 26. 35 Desse modo, como instrumento social as práticas das leituras críticas e reflexivas, desembocam na ação libertadora da leitura, mostrando-se agente de democratização, cidadania e transformação social. Como afirma Silva (1991), O cidadão, além de possuir consciência de responsabilidade e direitos (equilibrados entre si), constitui-se pelas práticas de posicionamentos, críticas, participação e autonomia. A linguagem indubitavelmente permeia todas essas práticas à medida que elas são, no fundo, práticas comunicativas, exigindo a interação entre os homens. E é exatamente aqui que eu vejo a relação básica e fundamental entre a leitura, tomada como prática social, e a cidadania. Para me situar nos diferentes contextos sociais, tenho, necessariamente, de ver, ler ou ouvir [...]. A penetração e a participação nos mundos da escrita das imagens e/ou dos gestos pela leitura, percebendo e compreendendo a riqueza, a variedade e as alternativas contidas nesses universos, são condições básicas para a realização da cidadania. (p. 24) Dentre as reflexões aqui apresentadas compreendemos que o ato de ler envolve um sujeito ativo, que decodifica, analisa, processa informações levando em conta seu meio social, suas necessidades intelectuais e seus objetivos de leitura. Pois, os objetivos da leitura determinam à forma em que um leitor se situa frente ela e controla a consecução do seu objetivo, isto é, a compreensão do texto, (SOLÉ, 1998). 2.3 – Letramento: Concepções e Práticas O termo letramento, segundo Soares (1998), foi introduzido no Brasil a partir da segunda metade da década de 80, por teóricos que buscavam definir a utilização do termo, e distinguir a palavra letramento de alfabetização. E desde então o termo vem sendo empregado no campo da Educação e das Ciências Lingüísticas. Porém as discussões sobre a utilização ainda não se encerraram.
  • 27. 36 A palavra letramento trata-se da versão em português da palavra “literacy”, de origem inglesa, que vem do latim ―littera” (letra), mais o sufixo “cy”, que designa condição, qualidade (MICHAELIS, 1998). Embora várias posições teóricas tenham sido tomadas quanto ao termo, discutiremos aqui o uso de letramento nas perspectivas de Kleiman (1995; 1998), Zilberman, (2007), Tfouni (2006) e Magda Soares (1995; 1998; 2003). Na concepção de Kleiman (1995), o letramento é compreendido como ―uma prática discursiva de um determinado grupo social, que está relacionada ao papel da escrita para tornar significativa a interação oral, mas que não envolve, necessariamente, as atividades específicas de ler e de escrever‖ (p.18). Nesta concepção de letramento, considera-se o fato de estarmos constantemente em contato com a leitura e a escrita, praticarmos essas habilidades no meio social, ou seja, nos tornamos letrados ao posso que habilitamo-nos a utilizar o sistema simbólico no meio letrado, nas palavras da autora, ―letramento como as práticas e eventos relacionados com uso, função e impacto social da escrita‖ (KLEIMAN, 1998, p. 181). Outra teoria sobre letramento é discutida por Tfouni (2006), que conceitua o termo em confronto com a alfabetização. De modo a entender o letramento como um processo mais amplo que se diferencia do termo alfabetização, no entanto é intimamente ligado ao código escrito, focalizando os aspectos sócio-históricos da aquisição de um sistema escrito, enquanto que a alfabetização se ocupa da aquisição da escrita por um indivíduo, ou grupo de indivíduos.
  • 28. 37 Ainda sob o ponto de visa da referida autora, o letramento são conseqüências sociais e históricas da introdução da escrita em uma sociedade. Entre outros casos, procura estudar e descrever o que ocorre nas sociedades quando adotam um sistema de escritura de maneira restrita ou generalizada; procura ainda saber quais práticas psicossociais substituem as práticas ―letradas‖ em sociedades ágrafas. (TFOUNI, 2006, p. 9-10) Para Zilberman (2007), o universo onde a criança está inserida dever ser repleto de oportunidades que viabilizam o letramento, ela precisa estar exposta a iniciativas do meio, das histórias infantis, sejam elas contadas oralmente, lidas por outra pessoa, ou visualizada através de imagens, ou ainda através dos diversos meios tecnológicos. Portanto, o letramento está sempre presente sob diversas perspectivas seja na escola, antes da escola, dentro ou fora deste espaço. O letramento é um processo que se inicia antes mesmo de a criança aprender a ler, supondo a convivência com universo de sinais escritos e sendo precedido pelo domínio da oralidade. Outros fatores associam-se ao processo de letramento, já que a convivência com a escrita começa no âmbito da família e intensifica-se na escola, quando o mundo do livro é introduzido à infância. (p. 246) Desse modo, Kleiman (1995; 1998), Zilberman, (2007), e Tfouni (2006) comungam da concepção de letramento como práticas de leitura e escrita que extrapolam o conceito de alfabetização. No entanto, Soares (1995; 1998; 2003), ainda que no mesmo foco de práticas sociais de leitura e escrita, compreende o letramento para além da alfabetização, como ela mesmo se refere, e das concepções apresentados até aqui. [...] é o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever. Implícita nesse conceito está a idéia de que a escrita traz conseqüências sociais, culturais, políticas, econômicas, cognitivas, lingüísticas, quer para o grupo social em que seja introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la (SOARES, 1998, p.17).
  • 29. 38 A concepção argumentada pela autora é de que os indivíduos dominam o uso da leitura e escrita desenvolvendo habilidades para a participação ativa em meio que se fazem necessárias estas práticas. Letramento é, pois, ―o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquiri um grupo social, ou indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita‖ (SOARES, 1998, p.18). Diante das discussões sobre o conceito e empregabilidade do termo letramento pelas teóricas até aqui apresentadas, pareceu-nos que estas autoras convergem na mesma direção no que se refere aos aspectos práticos e sociais do letramento. No entanto, outros teóricos tem recentemente contribuído nas discussões deste termo. Nas palavras de Di Nucci (2008), a leitura e a escrita trazem para o sujeito conseqüências socioculturais, um novo modo de viver em sociedade e de se inserir na cultura, e também conseqüências lingüísticas, uma vez que o sujeito sofre influência da língua escrita sobre o modo oral de se expressar. ―O letramento permite ao indivíduo participar efetivamente de uma cultura letrada que exige diferentes usos da escrita no cotidiano. Assim, podemos considerar que o letramento pressupõe e possibilita novas formas de inserção cultural‖ (p. 55). O processo de letramento envolve práticas de pensar o mundo e agir sobre o mundo por meio de símbolos, palavras, contextos, e diversos instrumentos. Uma vez que, a convivência com o universo letrado coloca a disposição do indivíduo situações de aprendizagem que o levam ao desenvolvimento, exercício e amadurecimento de competências que o direcionam ao letramento, em distintos momentos e em diversos espaços da vida do sujeito.
  • 30. 39 Segundo a teórica Di Nucci (2008), o letramento permite ao indivíduo participar efetivamente de uma cultura letrada que exige diferentes usos da escrita no cotidiano. Assim, podemos considerar que o letramento pressupõe e possibilita novas formas de inserção cultural. Visto isso, o desenvolvimento da participação cidadã crítica consciente está intimamente ligada ao processo de construção do conhecimento individual e coletivo, viabilizado pelo letramento, que consiste no uso das habilidades de ler e escrever, no cotidiano em função das necessidades sociais. (KLEIMAN, 1995; SOARES, 1998; DI NUCCI, 2008) As situações de convívio com a leitura e a escrita no cotidiano, condicionam o sujeito ao letramento. Logo, estar envolvido em eventos de práticas de leitura e escrita no ambiente familiar faz parte do processo social e individual de letramento. Pois, ler o jornal, escrever um bilhete, entre outras situações fazem parte do cotidiano dos indivíduos, podendo ser caracterizado como eventos de letramento, pois ―[...] o letramento envolve a aprendizagem social e histórica da leitura e da escrita em contexto informais e os usos contextualizados no cotidiano do individuo.‖ (DI NUCCI, 2008, p.54) O indivíduo letrado vive momentos de socialização e interação com meio, que torna viável o processo de significação produzido pelo sujeito. Existem caminhos diferentes para o aprendizado da leitura e da escrita e diferentes processos de letramento, definidos relativamente à história das práticas culturais de cada grupo e às demandas dos diferentes contextos situacionais. (BARBATO, 2007). Portanto, as situações de letramento são vivenciadas a partir de momentos de desenvolvimento
  • 31. 40 cultural e de identificação pessoal, e estão profundamente relacionadas com o contexto histórico da vida do sujeito.
  • 32. 41 CAPÍTULO III DIRETRIZES E PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA A complexidade da organização da vida social do homem moderno esta intrinsecamente ligada à pesquisa e ao conhecimento científico produzido ao longo dos séculos. Compreendemos a pesquisa científica como suporte metodológico que garante o processo de ampliação do conhecimento acumulado. Estamos chamando de pesquisa o procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais, (LAKATOS, 2005). As ciências sociais no campo da educação, por sua vez, vêm através do tempo desenvolvendo instrumentos teórico-metodológicos, legitimando sua grande diversidade de modelos próprios de fazer pesquisa e analogicamente constituindo- se em rigor e confiabilidade, adequando métodos e técnicas de acordo com a natureza dos fenômenos por ela estudados. No campo da ciência o primeiro princípio é a pesquisa, que se estabelece numa atitude processual de investigação diante do desconhecido e dos limites que a natureza e a sociedade impõem, e que por objetivo fundamental compreender conhecimento humano em evolução. Neste sentindo, o respectivo trabalho compreende elementos de pesquisa qualitativa, por compreendermos que este tipo de abordagem considera a existência de uma relação dinâmica entre universo real e sujeito, ouvindo e explorando as
  • 33. 42 idéias, compreensões e preocupações sobre determinado fato, ou fenômeno. Seu foco principal é o processo. A investigação num enfoque qualitativo abrange um conjunto de procedimentos para coleta de dados que permitem sistematizar os diferentes componentes que expressam os fenômenos do mundo social, implica alcançar dados descritivos, apanhados no contato direto do pesquisador com a situação estudada, salientando mais o processo do que o produto e se preocupa em representar a perspectiva dos participantes. (LUDKE e ANDRÉ, 1986). A pesquisa numa abordagem qualitativa permite a análise dos resultados num panorama contextualizado do sujeito pesquisado, no intuito de observar, registrar, compreender e co-relacionar os fatores e fenômenos sem manipulá-los. Pois, nesta perspectiva busca-se conhecer e compreender as diversas situações e relações que ocorrem na vida social, política, econômica, (CERVO, 2007). 3.1 – Caracterizando o Lócus e Sujeitos de Estudo A pesquisa foi realizada na biblioteca pública municipal Professora Zenáurea Terezinha Campos Dias, localizada na cidade de Senhor do Bonfim, município da Região Centro-Norte do Estado da Bahia. A referida biblioteca pública é mantida pela Prefeitura Municipal de Senhor do Bonfim, e administrada pela Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esportes. Esta inclusa na Lei municipal nº. 1137/2009 de 02 de outubro de 2009, que trata do Sistema Municipal de Cultura - SMC, com a finalidade de captar e canalizar recursos
  • 34. 43 para a área cultural, contando com um representante no Conselho Municipal de Cultura regulamentado pela mesma Lei. Para o desenvolvimento desta pesquisa tomamos como sujeitos de estudo os usuários da biblioteca pública municipal. Foi analisado um grupo de amostragem composto por vinte e sete usuários, escolhidos aleatoriamente, que participaram do estudo respondendo a um questionário. Em seguida foi escolhido, também pelo critério de aleatoriedade, um a cada três destes sujeitos que participaram da segunda etapa do estudo, respondendo a uma entrevista. 3.2 – Os Instrumentos de Pesquisa O momento de coleta de dados se configura numa etapa de verificação, que necessita ser sistematizada através de instrumentos e técnicas. Os procedimentos metodológicos aqui selecionados estiveram diretamente relacionados ao objeto de estudo, afim de melhor atender as necessidades do pesquisador de forma ordenada e completa. Em função dos objetivos propostos esta pesquisa empregou a entrevista semi- estruturada e pesquisa bibliográfica como principais técnicas de coleta de dados, além de outros métodos complementares, como a observação participante, o questionário fechado, e a análise documental a fim de alcançarmos o proposto e melhor compreender os fenômenos estudados.
  • 35. 44 Justifica-se a escolha da técnica de entrevista por ser um dos principais procedimentos de coleta de dados utilizada pelos pesquisadores em ciências sociais, no intuito de obterem dados que não estão expressos em fontes documentais, mas podem ser obtidos através da fala dos sujeitos. ―É uma conversa orientada para um objetivo definido: recolher, por meio do interrogatório do informante, dados para a pesquisa‖, (CERVO, pág. 51, 2007). Optamos pela entrevista do tipo semi-estruturada, que se caracteriza numa série de perguntas abertas feitas verbalmente em ordem pré-estabelecidas, mas que permite ao investigador explorar mais adequadamente as questões, como numa conversa informal na intenção de melhor atender as necessidades da pesquisa. Este instrumento foi delineado cuidadosamente observando os objetivos propostos, pois sua flexibilidade requer do pesquisador grande controle e direcionamento das questões, no entanto permite obter informações mais ricas e fecundas mantendo a qualidade da pesquisa (CERVO, 2007). A entrevista foi registrada com o auxilio de um gravador digital para garantia da fidelidade e veracidade das informações colhidas, com prévia autorização dos entrevistados, que posteriormente foram transcritas para a categorização e análise dos dados. Outra relevante categoria de procedimentos de coleta que utilizamos foi a pesquisa bibliográfica, que se constitui num suporte de extrema importância na coleta, manipulação e análise das informações, propiciando maior rigor na abordagem do estudo, pois estivemos em contato direto com as possibilidades já estudadas sobre a temática. A escolha pela observação participante se deu por permitir a participação real do pesquisador na comunidade ou grupo estudado (LAKATOS, 2005). O pesquisador
  • 36. 45 integra-se a situação e participa da vida do grupo em estudo, no intuito de compreendê-lo no sentido de dentro, de fazer parte daquele meio, é uma participação direta e pessoal. A pesquisa fez uso do procedimento denominado questionário, que é um instrumento de coleta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito na ausência do entrevistador. Sua natureza impessoal garante a uniformidade na avaliação e possibilita a coleta de informações e respostas mais concretas. Justificamos sua utilização por viabilizar o levantamento de dados referentes aos aspectos sócio-culturais dos sujeitos e por atender a finalidade do estudo. O questionário foi do tipo fechado, pois permite respostas mais rápidas e precisas, facilidade na aplicação, manipulação e analise das informações obtidas. Os procedimentos metodológicos adotados para a instrumentalização desta pesquisa foram aqui empregados, de modo, a se tornarem suportes de comunicação favoráveis entre o investigador e sujeito investigado. Pois, entendemos que a operacionalização da pesquisa e o alcance dos objetivos estão intimamente ligados a escolha das técnicas e procedimento de coleta, logo os instrumentos devem ser adequados aos objetivos da pesquisa a fim de alcançar seus propósitos, (TRIVINOS, 1987).
  • 37. 46 CAPÍTULO IV A ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Este capítulo apresenta a análise e interpretação dos dados obtidos durante a pesquisa. Destacamos que, as interpretações foram norteadas pelos nossos objetivos, tendo como ponto de referência o quadro teórico. No intuito de proteger a identidade dos entrevistados, utilizaremos um código para identificar os discursos aqui transcritos. Será utilizada a letra ―L‖ (que é uma abreviação da palavra ―Leitor‖), seguida de um numeral (01, 02, 03, etc.). Para apresentação dos resultados organizamos os dados em categorias estabelecidas levando-se em consideração as informações colhidas. Uma vez que, as categorias são modos de organizar os conteúdos dos discursos que nos permitem encontrar os ―sentidos‖ que nos auxiliam na interpretação, como explica o autor: A categorização é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferentes e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia) com critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classes, as quais reúne um grupo de elementos (unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efetuado em razão dos caracteres comuns destes elementos (BARDIN, 1977, p.117). Neste sentido, apresentaremos os nossos resultados nas seguintes categorias: A primeira categoria, Biblioteca pública de Senhor do Bonfim, Subdividida em
  • 38. 47 subcategorias: a) Breve Histórico de Senhor do Bonfim; b) Trajetória Histórica da Biblioteca Municipal de Senhor do Bonfim. A segunda categoria, Traçando o Perfil do Leitor-Usuário, traz o perfil dos usuário da biblioteca pública de Senhor do Bonfim. A terceira categoria Os Significados que a Leitura Produz, analisa a compreensão que os sujeitos têm sobre leitura. Deste modo, as informações estão organizadas em subcategorias: a) Ler é conhecimento; b) Ler é interagir, é construção de sentido e visão de mundo; c) Leitura para a alfabetização e o letramento; d) Aspectos sociais da leitura. A quarta categoria, As Possibilidades de Leitura e de Letramento na Biblioteca Pública, analisa as possibilidades de leitura e letramento que ocorrem no âmbito da biblioteca pública. Apresentadas nas subcategorias: a) Objetivos dos usuários: obrigações escolares, leitura e estudos; b) A importância da biblioteca para a comunidade. E por fim, A Biblioteca Pública como Espaço Mediador, analisa a biblioteca como mediadora de leitura e eventos de letramento na sociedade. Apresentadas nas subcategorias: a) Inclusão Social; b) Oportunidade...; c) Projetos de Incentivo a Leitura? 4.1 – Biblioteca Pública em Senhor do Bonfim
  • 39. 48 4.1.1 – Breve História de Senhor do Bonfim Na região baiana denominada Piemonte Norte do Itapicuru, está localizada a cidade de Senhor do Bonfim, com uma população de 76.113 habitantes em 2009, de acordo com o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Senhor do Bonfim distancia-se 374 quilômetros da Capital Salvador. Tem um relevo constituído pelo Pediplano Sertanejo, seu clima é caracterizado pelos tipos semi- árido, seco e subúmido, e sua vegetação possui características da caatinga arbórea, florestas estacionais e grande variedade de vegetais, além das árvores frutíferas. O município é banhado pela bacia do Itapicuru, e seus principais rios são o Itapicuru Mirin, o rio da Prata, o Jaguarari, o Tamanduá e o Coité (MACHADO, 2007). A história da cidade de Senhor do Bonfim teve início no Brasil Colônia, mais precisamente no ano de 1697. Quando o local abrigava apenas rancharia de tropeiros e mercantes, pois era ponto obrigatório destes que vinham do Piauí, Longal, Maranhão e do rio São Francisco, ―em direção das terras onde se cavava o ouro, aí descansavam e armavam os seus ranchos à beira da lagoa‖ (SILVA, 1970, p. 13). Na metade do século XVIII, os tropeiros e mercantes que por ali ficaram, constituindo família e moradia, já se tornavam um pequeno povoado que em ―1750 a rancharia se transformara em um arraial que tinha o nome de Arraial do Senhor do Bonfim da Tapera‖ (MACHADO, 2007, p. 44).
  • 40. 49 Após receber oficialmente o nome de Arraial do Senhor do Bonfim da Tapera, a localidade já contava com cerca de 600 habitantes, fato que contribuiu para a elevação do arraial a vila. Pois em 8 de junho de 1796, foi encaminhado pelos moradores ao Governo o pedido de criação da vila, mas só em 1º de outubro de 1799, através do Auto de criação especial é que a localidade foi elevada a vila recebendo o nome de Vila Nova da Rainha (MACHADO, 2007). Nome que homenageou Dona Maria I, rainha de Portugal, em nome da qual seu filho, o futuro D. João VI, que dirigia o trono no impedimento da soberana homologou a nobre causa (SILVA, 1970). Em 28 de maio 1885, pela Lei provincial nº 2.499, a Vila Nova da Rainha foi elevada à categoria de cidade, chamando-se dai para frente Cidade de Senhor do Bonfim. Instalada em 7 de janeiro de 1887, pelo juiz de direito interino Dr. Aurélio Pires de Carvalho e Albuquerque (MACHADO, 2007). 4.1.2 – Trajetória da Biblioteca Municipal de Senhor do Bonfim A década de 30 é marcada pela entrada do Brasil no mundo capitalista de produção e acumulação de capital, o que exigiu mão-de-obra especializada e investimentos na área da educação. Dentre as ações do governo federal se destaca a criação do Instituto Nacional do Livro, em 1937 que contribuiu expressivamente para o desenvolvimento das bibliotecas públicas (SUAIDEN, 2000).
  • 41. 50 No mesmo período, em Senhor do Bonfim, ano de 1934, foi fundada no governo de Mariano Ventura, a biblioteca ―Borges de Barros‖, que 70 anos depois, pela Lei nº 924/04, de 20 de julho de 2004, passou a se chamar ―Biblioteca Pública Profª Zenáurea Terezinha Campos Dias‖. Pouco se sabe sobre a trajetória histórica da Biblioteca Pública Profª Zenáurea Terezinha Campos Dias, já que os documentos pertencentes a esta se perdedam no tempo em meio a reformas e mudanças. Porém, Adolfo Silva (1970), faz mensão as biliotecas que Senhor do Bonfim já possuiu ao longo de sua história, entre elas está a ―Borges de Barros‖, hoje Biblioteca Pública Profª Zenáurea Terezinha Campos Dias. ―A primeira biblioteca foi instalada, em 1912, pela Soc. União e Recreio, na sua sede na rua Cons. Franco, transferida para a rua 02 de Julho, com 1.928 volumes. A segunda ―Borges de Barros‖ foi fundada em 1934, com 3.916 volumes, pertencente à Prefeitura Municipal, em cujo prédio funciona. Foram fundadas as bibliotecas ―União e Mocidade‖, em 1940, com 645 volumes, pertencentes à Igreja Presbiteriana; ―Manoel Quirino‖, em 1942, com 439 volumes, na rua Rui Barbosa, pertencente à Associação Beneficente e Cultural dos Artífices; ―Rui Barbosa‖, em 1948, com 1.344 volumes, na rua 2 de Julho, pertencente à agência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; ―Pedro Calmon‖, em 1957, com 280 volumes, pertencente às Escolas Reunidas; ―Pio XII‖, em 1959, com 1.200, volumes, pertencente ao bispado, funcionado no Seminário N.S.de Lourdes. (p. 55) Contudo, encontramos no arquivo da Biblioteca Pública Profª Zenáurea Terezinha Campos Dias uma circular expedida pelo Instituto Nacional do Livro, no ano de 1988 (anexo 01), que confirma o cadastro desta biblioteca, no referido orgão Federal, hoje Fundação Nacional do Livro. Outros documentos também confirmam o registro desta biblioteca em outras instituições como no Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (circular datada de 06 de janeiro de 1999, remetida a então ―Borges de Barros‖ — ver anexo
  • 42. 51 02) e no Conselho Regional de Bibliteconomia - 5ª Região (ofício expedido em 19 de março de 1996 — ver anexo 03) No entanto, o mais importante documento encontrado nos arquivos da biblioteca municipal, que comprova sua existência mediante os orgãos de administração pública municipal, estadual e federal, foi um formulário do Serviço de Estatística da Educação e Cultura – SEEC, do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (anexo 04). No documento datado de 27 de junho de 1984 constam as informações de que a ―Biblioteca Borges de Barros‖ foi fundada em 1934 e que ficava localizada na Praça Juracy Magalhães, reafirmando o que Silva (1970) já havia constatado. É esclarecido ainda que a entidade mantenedora é a Prefeitura Municipal de Senhor do Bonfim. O acervo bibliográfico, na época, era formado por 1.654 exemplares. No verso do documento citado no parágrafo anterior, encontramos a seguinte informação ―confirma-se o registro e esclarecemos que os funcionários existentes não são bibliotecários formados e nem treinados. E sim, funcionários da prefeitura.‖ (IBGE, 1983). Logo, diante deste documento e de relatos de antigos funcionários ouvidos ao longo desta pesquisa descobrimos que na história da Biblioteca Pública Profª Zenáurea Terezinha Campos Dias nunca houve um profissional formado na área. Ainda, no mesmo documento encontramos a informação de que em 1983, houve uma reforma na biblioteca, mas nada se sabe sobre esta reforma. Diante dos relatos de antigos usuários e funcionários observamos que o acervo da biblioteca pública é mantido por doações de alguns órgãos, de usuários, e de pessoas da comunidade local. Hoje a Biblioteca Pública Profª Zenáurea Terezinha Campos Dias é a única biblioteca pública municipal em funcionamente na cidade de
  • 43. 52 Senhor do Bonfim, e fica situada no local conhecido como Pirâmide, à Praça Alexandre Góis. 4.2 – Traçando o Perfil do Leitor-Usuário O primeiro momento da coleta de dados foi realizado por meio de um questionário estruturado formado por 8 questões, que teve como objetivo conhecer quem é o leitor-usuário da Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias, e de onde provem esta demanda. Dos 252 usuários-leitores que freqüentaram a biblioteca pública no período de realização do trabalho de investigação, compreendido entre os dias 01 a 30 de novembro de 2009, variando entre os períodos matutino e vespertino, 27 responderam ao questionário. Número que representa um índice de 11% do total dos freqüentadores. Para análise dos questionários consideramos as características e hábitos dos usuários-leitores. Em um país como o nosso onde ainda não se cultiva o hábito de leitura, mas que, também, não deixa de ter práticas leitoras, a biblioteca como uma instituição destinada ao ato de ler exerce um importante papel de mediação entre a leitura e a formação do leitor, num contexto social em constantes mudanças e de inúmeras exigências. Pois, todos independente de idade ou classe social têm livres acesso a este espaço. Em nossa pesquisa detectamos que, 33% dos respondentes relataram freqüentar a biblioteca uma vez por semana, 30% freqüentam mais de uma vez por semana, 11%
  • 44. 53 freqüentam uma vez por mês, 26% raramente freqüentam. Com base nesses dados, observa-se que mais da metade dos respondentes informaram ter usado assiduamente os serviços e produtos oferecidos pela biblioteca. Os perfis desses respondentes serão discutidos adiante. No tocante as características do grupo respondente, constatamos que quanto à idade, 33% encontram-se na faixa etária entre 11 e 15 anos, 30% entre 16 e 19 anos, 30% entre 20 e 25 anos, e 7% entre 24 e 30 anos. Estas informações indicam que o público atendido na biblioteca pública de Senhor do Bonfim é primordialmente de jovens, o que sinaliza serem alunos de ensino fundamental e médio, dados que confirmaremos e discutiremos nas análises a seguir. Em relação ao gênero, 48% são do sexo feminino, e 52% do sexo masculino. Figura 1 Faixa etária 7% Entre 11 e 15 anos 33% 30% Entre 16 e 19 anos Entre 20 e 25 anos Entre 24 e 30 anos 30% Fonte: dados da pesquisa Quando perguntamos sobre a ocupação dos respondentes, 93% responderam não trabalhar. A maioria dos usuários-leitores que responderam ao questionário, 74% cursam ou tem o nível médio de ensino, 15% cursam ou tem o nível superior
  • 45. 54 incompleto, e 11% cursam ou tem o ensino fundamental, informação que reforça a hipótese de que o público potencial da biblioteca pública em estudo é de estudantes. Com os dados analisados e apresentados na figura 1 e figura 2 pudemos verificar que a Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias, sofre o que Suaiden (2000) chamou de fenômeno da escolarização das bibliotecas públicas. Pois em um levantamento histórico feito pelo autor sobre o contexto social da biblioteca pública entre as décadas de 30 e 50, demonstrou que a falta de biblioteca escolar fez com que os alunos se utilizassem da biblioteca pública existentes, ―que passou a dar prioridade para o atendimento estudantil em detrimento a outros segmentos‖ (p.55). Fato que após 50 anos ainda é notado, pois entre os serviços prestados ao público em geral, aqui reside a grande falha da biblioteca, até hoje, o único segmento da sociedade que é atendido parcialmente, em pequena proporção, é o dos estudantes do ensino fundamental e médio (SUAIDEN, 2000). Figura 2 Nível de Escolaridade 74 Ensino Sup. Incompleto Ensino Médio 15 11 Ensino Fundamental Fonte: dados da pesquisa Das instituições públicas preocupadas com o processo de construção e democratização do conhecimento, as bibliotecas públicas são consideradas um
  • 46. 55 espaço privilegiado e consagrado à prática de leitura, uma vez que, facilita oportunidades de formação e condições de desenvolvimento individuais e coletivas, pois as situações que ali se desenvolvem possibilitam a interação do leitor com o que é lido, contribuindo para as construções e significações realizadas por meio da prática da leitura (ZILBERMAN, 1989; SILVA, 1997). Analisando o segundo aspecto verificado durante a pesquisa, os hábitos dos usuários-leitores da Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias, consideramos que a biblioteca tem favorecido ao desenvolvimento cognitivo e cultural dos sujeitos, através das situações de práticas leitoras que surgem no interior deste espaço, subsidio imprescindível para o desenvolvimento sócio-cultural dos indivíduos participantes da relação leitura e biblioteca. Pois, no que diz respeito à utilização de outra biblioteca, nota-se, que 56% não freqüentam outra biblioteca. E do total de respondentes que freqüentam outras bibliotecas (44%), 75% declararam utilizar de bibliotecas escolares, e 25% de bibliotecas universitárias. Figura 3 Freqüência de outras bibliotecas Não freqüentam outras 11% bibliotecas Freqüentam bibliotecas escolares 33% 56% Freqüentam bibliotecas universitárias Fonte: dados da pesquisa
  • 47. 56 Ao examinarmos as informações da figura 4, podemos destacar que o tipo de livro que os usuários-leitores mais fazem uso é o de literatura (34%). Em segundo lugar, aparece o livro didático (31%). Em terceiro, a poesia (19%). E finalmente o livro de ficção científica (16%) como o menos citado. Esclarecemos que alguns usuários- leitores optaram por mais de um tipo de livro. Observando que o maior índice de preferência de livros recai sobre o livro de literatura, indica que os usuários-leitores utilizam deste tipo leitura como fonte de prazer. Uma vez que, a literatura é uma forma de apropriação lúdica do real, pois dos textos escritos, o literário, introduz na dimensão da leitura o lado do prazer desinteressado que outros textos não o fazem, liberando o leitor do peso da realidade. (ZIBERMAN, 1989). Outra possível e importante indicação dos dados é de que os livros de literatura, e os livros didáticos, tem sido preferência por exigências dos vestibulares e de professores de língua portuguesa, o que reforça a hipótese de que o público freqüentador da Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias é de estudantes. Figura 4 Preferência Literária 34 Literatura 31 Didático 19 16 Poesia Ficção Científica Fonte: dados da pesquisa
  • 48. 57 Ao perguntamos quantos livros os usuários-leitores haviam lido, no ano de 2009 (ano da pesquisa), excetuando os livros escolares, obtivermos o seguinte percentual: 82% responderam ter lido mais de três livros, 7% dois livros, 7% um livro, e 4% responderam nenhum. Estes dados são de grande relevância, visto que, pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Leitura, em 2007 revela que a média brasileira de livros lidos é de 3,7 livros por habitantes/ano. A comparação da média nacional com os 82% dos respondentes que afirmaram ter lido mais de três livros no ano de 2009, sinaliza que o espaço da Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias tem sido utilizado para a formação do hábito de leitura entre os freqüentadores daquele espaço, o que contribui para a inclusão e participação desses sujeitos na sociedade. Visto que, para Silva (1986; 2004), sem dúvida o gosto pela leitura resulta de práticas de leitura, uma vez que o texto é um modo de se inteirar das realidades e interagir com a coletividade, que serve como instrumento de inserção das pessoas no mundo e para seus relacionamentos como os grupos sociais com os quais estão envolvidas e que constituem nosso cotidiano. Figura 5 Quantidade de livros lidos no ano de 2009 4% 7% Um livro 7% Dois Mais de três livros 82% Nenhum livro Fonte: dados da pesquisa
  • 49. 58 A leitura exerce papel fundamental no modelo de sociedade vigente onde são cada vez mais fortes as necessidades de obter conhecimento e informação. O processo de construção do sujeito enquanto cidadão, de desenvolver-se social e intelectualmente, está diretamente relacionado com seus hábitos e práticas de leitura, no entanto os dados da nossa pesquisa revelam que 63% dos respondentes não realizam compra de livros, e o restante (37%) declara comprar livros, como mostra a figura 6. Figura 6 Compra de Livros 63 Compram livros 37 Não compram livros Fonte: dados da pesquisa De acordo com a análise destes dados pudemos verificar que mais da metade dos respondentes tem acesso restrito ao livro, portanto, de todo o conhecimento e informação registrados pela escrita e significado pela leitura. O que para Silva (1986), está diretamente relacionada com o poder aquisitivo das classes trabalhadoras, uma vez que a falta de acesso ou acesso restrito torna empobrecida as condições sócio-culturais do povo. Pois, a prática de leitura tem relação direta com as condições econômicas das famílias e dos indivíduos.
  • 50. 59 4.3 – Os Significados que a Leitura Produz Nos parágrafos seguintes pretendemos analisar, através das falas dos sujeitos entrevistados que freqüentam a Biblioteca Pública Profª. Zenáurea Terezinha Campos Dias, os usos e significados que as práticas leitoras produzem no âmbito da biblioteca, e suas contribuições para a formação do sujeito letrado. Alguns exemplos das falas mostram como os sujeitos concebem a noção de leitura em suas vidas e para as suas vidas. A recorrência aos termos utilizados para o conceito do que poderia definir o ler possibilitou propormos as categorias que a seguir apresentaremos. 4.3.1 – Ler é adquirir conhecimento O ato de ler é conceituado por Silva (1986), como fundamentalmente um ato de conhecimento. Possibilitando-nos a adquirir informações, elaborarmos sentidos e desenvolvermos reflexões críticas sobre os mais variados assuntos que se apresentam a nossa volta. A idéia que os sujeitos expressaram sobre a leitura direciona-se à compreensão de que a leitura é uma via de acesso ao conhecimento, aproximando-se do que o autor acima citado expõe. Sejam conhecimentos de ordem informacionais, ou sobre conhecimentos educacionais, sociais, políticos, ou do cotidiano.
  • 51. 60 “Leitura é conhecimento. É via de acesso ao conhecimento”. (L. 06) “É fonte de informação, conhecimento”. (L. 08) Na resposta seguinte é expressa, mesmo que inconscientemente, a idéia de leitura que afasta o sujeito do senso comum, uma vez que, os processos de leitura da palavra proporcionam o acesso, a compreensão e a reflexão sobre os diversos textos e situações, ao mesmo tempo em que propiciam o questionamento e a transformação dos mundos que nos circundam. (SILVA, 2004) “[...] sem a leitura a pessoa não vai a lugar nenhum, não aprende nada”. (L. 04) A idéia expressa a importância da leitura para a vida do sujeito na sociedade letrada, onde o poder da palavra impressa é fator determinante nas relações existentes no mundo dos dominantes exploradores e dos explorados oprimidos. 4.3.2 – Ler é interagir, é construção de sentido Na perspectiva interacional da leitura onde leitor e autor interagem mutuamente através do texto, as interpretações e reações do leitor são respostas previstas pelo autor, ou seja, provocações intencionais. Esta também, é uma das concepções de leitura apresentadas em uma das falas dos entrevistados. “Leitura é uma forma de você interagir com o tema [...]”. (L 03) “É abrir a mente, deixa a gente informado, trabalha a mente”. (L. 07)
  • 52. 61 O ato de ler então não se constitui numa relação de leitor-receptor e de autor- receptador. A atividade de leitura é uma interação a distância entre leitor e autor via texto. O leitor constrói um sentido global para o texto, formula e reformula hipóteses, aceita ou não aceita as conclusões do autor. (KLEIMAN, 1989) A idéia de leitura interacional requer a participação efetiva e permanente do leitor na construção de sentido. Pois, a interação e construção de sentido estão condicionadas ao conhecimento do leitor, seus valores, suas vivências, e seu lugar social. (SILVA, 2004; KOCH, 2007). Essa construção de sentido significa, também, aprender a ler o mundo. Podemos reconhecer que através do ato de ler estamos condicionados a conhecer valores, princípios, idéias que estão presos a nossa realidade de acordo com o contexto de cada sujeito. Isso significa que as reflexões que somos capazes de realizar, os pensamentos que organizamos acerca das situações cotidianas, as opiniões que emitimos de forma crítica e autônoma, são capacidades desenvolvidas a partir da leitura, não necessariamente da leitura da palavra, mas da leitura do mundo. Durante a análise das informações obtidas encontramos o conceito de leitura de mundo explicitada nas respostas dos usuários-leitores. “Ela me ajuda no estudo, é ver o mundo”. (L 09) “É uma forma de se expressar melhor. De entender as coisas o mundo. Com a leitura a gente consegue desenvolver certas capacidades que até então não eram percebidas por nós e pelos outro”. (L 02) Em seu artigo A importância do ato de ler, Freire (2002, p.12), declara: ―A leitura do mundo precede a leitura da palavra; a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele‖. Não nos resta dúvida quanto à pertinência de tal declaração. Pois, ler a
  • 53. 62 palavra implica compreender uma diversidade de realidades que permeiam os envolvidos no processo da leitura e interpretação. Nesse sentido, as diversas experiências e possibilidades de conhecer e de aprender essas múltiplas realidades através da leitura, vão muito além da leitura dos signos. 4.3.3 – Leitura para a alfabetização e o letramento Compreendemos que ser letrado, é ser um sujeito capaz de utilizar as habilidades de ler e escrever em eventos de práticas sociais. Pois, segundo Kleiman (1995, p. 19): ―Podemos definir hoje o letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos‖. O termo letramento está implícito na fala do usuário-leitor L 02, ―[...] Com a leitura a gente consegue desenvolver certas capacidades que até então não eram percebidas por nós e pelos outro”. (L 02). Pois, os usos da escrita e a utilização das habilidades de leitura estão ligados às práticas sociais, individuais e coletivas da leitura, e a capacidade do indivíduo de participar ativamente em situações de práticas de leitura e escrita na sociedade letrada. Ou seja: coerentemente com o conceito apresentado em Soares (1998), letramento é o estado ou condição de indivíduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que exercem efetivamente as práticas sociais de leitura e de escrita, participam competentemente de eventos de letramento.